EXPLORANDO FRONTEIRAS: O PAPEL DAS LINGUAGENS NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM EM GEOGRAFIA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411081911


Mayra Gomes Alves1


RESUMO  

Este artigo aborda a relevância das linguagens no contexto do ensino e aprendizagem de Geografia, destacando a complexa interação entre palavras, imagens e espaços geográficos. A pesquisa examina de que maneira diferentes formas de linguagem, como a verbal, visual e cartográfica, desempenham funções importantes na transmissão e compreensão de conceitos geográficos. O estudo destaca a importância da integração de múltiplas linguagens para proporcionar uma abordagem mais abrangente e participativa no ambiente educacional. Ao explorar as fronteiras entre as diversas formas de expressão, busca-se não apenas enriquecer a prática pedagógica em Geografia, mas também promover uma visão interdisciplinar que potencialize a experiência de aprendizagem dos alunos, estimulando a sua curiosidade e engajamento. Para atingir esse objetivo, emprega-se uma abordagem metodológica que combina revisão bibliográfica, análise de materiais didáticos, e observação de práticas pedagógicas. A coleta e análise de dados qualitativos visam fornecer percepções sobre como a integração de múltiplas linguagens pode aprimorar a compreensão dos alunos e enriquecer o processo educacional em Geografia. Ao explorar as fronteiras entre as diversas formas de expressão, este estudo pretende contribuir para a formulação de estratégias pedagógicas inovadoras que promovam uma aprendizagem mais eficaz e significativa nesta disciplina.

Palavras-Chave: Ensino e Aprendizagem, Práticas Pedagógicas, Linguagens.

ABSTRACT

This article addresses the relevance of languages in the context of Geography teaching and learning, highlighting the complex interaction between words, images and geographic spaces. The research examines how different forms of language, such as verbais, visual and cartographic, play important roles in the transmission and understanding of geographic concepts. The study highlights the importance of integrating multiple languages to provide a more comprehensive and participatory approach in the educational environment. By exploring the boundaries between different forms of expression, we seek not only to enrich pedagogical practice in Geography, but also to promote an interdisciplinary vision that enhances students’ learning experience, stimulating their curiosity and engagement. To achieve this objective, a methodological approach is used that combines bibliographic review, analysis of teaching materials, and observation of pedagogical practices. The collection and analysis of qualitative data aims to provide insights into how the integration of multiple languages can enhance students’ understanding and enrich the educational process in Geography. By exploring the boundaries between different forms of expression, this study aims to contribute to the formulation of innovative pedagogical strategies that promote more effective and meaningful learning in this discipline.

Keywords: Teaching and Learning, Pedagogical Practices, Languages.

INTRODUÇÃO

A interação entre linguagens no ensino de geografia é um tema cada vez mais  geográficos pelos alunos.  Este artigo explora as complexas relações entre palavras, imagens e espaços geográficos e destaca a importância das múltiplas formas de linguagem no processo educacional. A integração das linguagens, incluindo a oral, a visual e a cartográfica, é um fator importante para enriquecer a abordagem pedagógica, que proporciona uma compreensão mais completa e inclusiva no ambiente educacional.

A busca por estratégias inovadoras para estimular a curiosidade e o engajamento dos alunos leva a uma análise detalhada a partir de uma abordagem metodológica que combina revisão bibliográfica, análise de materiais didáticos e observação de práticas pedagógicas. 

O objetivo da coleta e análise de dados qualitativos é fornecer informações valiosas sobre como a integração de múltiplas linguagens pode não apenas melhorar a compreensão dos conceitos geográficos, mas também mudar o processo de educação geográfica.
Investigando os limites entre diferentes formas de expressão, o objetivo deste estudo é superar os limites tradicionais do ensino de geografia e promover uma visão interdisciplinar que enriqueça a experiência de aprendizagem dos alunos.

A Geografia Crítica é uma abordagem teórica metodológica que desafia as perspectivas tradicionais da Geografia, buscando compreender as complexas interações entre a sociedade e espaço. Seus percussores, David Harvey e Henri Lefebvre, desempenharam um papel significativo na definição e evolução dessa corrente de pensamento. Eles acreditavam que o espaço é um território em constante transformação, onde as relações sociais, econômicas e políticas se estabelecem. Esses pioneiros da Geografia Crítica desafiaram as ideias tradicionais de espaço neutro e criticaram as desigualdades espaciais e as lutas de classe.

Conforme Moraes (2005), a Geografia Crítica é caracterizada por uma postura de oposição a uma realidade social e espacial contraditória e injusta. Dessa forma, a Geografia Crítica não é apenas uma disciplina acadêmica isolada, mas também uma forma de envolvimento ativo com as questões sociais e espaciais que afetam o mundo em que vivemos.

A Geografia crítica, por sua vez, promove a participação ativa dos alunos em projetos, debates e discussões em grupo. Isso ajuda a aprimorar as aptidões de análise e pensamento crítico.

A geografia, como disciplina escolar, oferece sua contribuição para que alunos e professores enriqueçam suas representações sociais e seu conhecimento sobre as múltiplas dimensões da realidade social, natural e histórica, entendendo melhor o mundo em seu processo ininterrupto de transformação do momento atual da chamada mundialização da economia (Pontuschka et al., 2009, p. 38).

É perceptível que ainda é um desafio para professor de geografia, motivar seus alunos a se interessarem pela disciplina, a fim de que eles possam compreender o espaço. A integração entre o conhecimento prévio do aluno e a construção de seus próprios conceitos, favorecerá a formação de conceitos científicos.

Há uma controvérsia em relação à origem da Geografia Crítica no Brasil. Enquanto alguns autores afirmam que essa corrente surgiu na universidade, com alguns trabalhos de pesquisa desenvolvidos nos anos de 1970, outros sustentam que ela teve origem nos ensinos médio e fundamental, esforço de pesquisa realizado por professores insatisfeitos com a geografia escolar vigente. De acordo, com essa última perspectiva, alguns professores ingressaram em programas pós-graduação e tornaram professores universitários é que a Geografia Crítica se tornou oficializada na academia. Milton Santos é o nome mais conhecido da Geografia Crítica brasileira.

História dos historiadores, a natureza “natural” e a economia neoclássica, todas as três tendo substituído o espaço real, o das sociedades em seu devir, por qualquer coisa de estático ou simplesmente de não existente, de ideológico. É por isso que tantos geógrafos discutem tanto sobre a Geografia – uma palavra cada vez mais vazia de conteúdo – e quase nunca do espaço como sendo o objeto, o conteúdo da disciplina geográfica […] (Santos, 2004, p. 118-/119).

De acordo com santos (2004) é importante resgatar o espaço como objeto central da disciplina geográfica rejeitando a substituição por abordagens ideológicas. A Geografia deve ser revitalizada como uma disciplina que investiga e compreende as relações entre sociedade e espaço, o que contribuirá para uma análise mais abrangente e contextualizada do mundo em que vivemos.

A Geografia Humanística foi difundida a partir de 1967, no texto “china’’, de Yi-Fu Tuan que junto com outros autores, como Relph, Buttimer trabalharam no sentido de introduzir a perspectiva humanística, bem como para incorporar as experiências humanas na análise do espaço. Essa corrente de pensamento enfatiza a relevância das experiências individuais, das emoções e das relações pessoais com o meio geográfico. Carl Sauer foi um dos principais pioneiros da geografia Humanística. Ele defendeu a ideia de que o ambiente é influenciado tanto pelas ações humanas quanto pelas características físicas, afirmando que as culturas humanas e o ambiente natural estão relacionados, e a compreensão dessas interações requer uma análise aprofundada das percepções, históricas e valores das pessoas em relação ao espaço.

A Geografia Humanística procura um entendimento do mundo humano através do estudo das relações das pessoas com a natureza, do seu comportamento geográfico bem como dos seus sentimentos e ideias a respeito do espaço e do lugar  (Tuan, 1982, p. 143).

Outro importante precursor foi Yi-Fu Tuan. Sua pesquisa mostrou como as pessoas se relacionam emocionalmente com lugares e o ambiente. Tuan enfatizou que o espaço tem um significado subjetivo e que as percepções individuais interferem na maneira como as pessoas interagem e se relacionam com os lugares.

A geografia emocional reforça a importância do sentimento como característica essencial da existência humana no mundo, em conformidade às teorias científicas e filosóficas contemporâneas que se posicionam além da racionalidade científica, do positivismo lógico e dos pressupostos quantitativos (Azevedo; Furlanetto; Duarte, 2018, p. 203)

Na Geografia Humanística, a sala de aula pode se concentrar em projetos que incentivem os alunos a compartilharem suas histórias e experiências com os lugares, bem como explorar a relação entre cultura, identidade e espaço. Nesta abordagem, a interpretação subjetiva e as conexões emocionais são fundamentais, permitindo que os estudantes adquiram empatia e compreensão em relação aos lugares e indivíduos ao redor do mundo.

Essa abordagem se concentra na investigação das emoções e na interpretação sensível dos lugares, levando em conta as sensações e sentimentos que compõem o significado de um local em particular. Fundamentado em doutrinas filosóficas como a fenomenologia e o existencialismo, podendo abranger aspectos concretos do local, como a paisagem e a arquitetura, bem como elementos mais abstratos, como memórias, ideias, sons, imagens e narrativas culturais.

A Geografia Humanística se difere da abordagem positivista, pois foca nas experiências e percepções das pessoas valorizando a singularidade de cada experiência humana e a complexidade das relações entre as pessoas e o espaço geográfico como também e criticam a visão reducionista que exclui a subjetividade nas análises geográficas.

A Geografia da música emergiu neste contexto, no seio da Geografia Cultural anglo-americana e num momento em que se identificavam sérias fragilidades neste campo de estudos devido as tensões epistemológicas internas, à afirmação da Nova Geografia, dos métodos quantitativos de análise e à marginalização dos processos culturais pelas abordagens político-econômicas (Azevedo; Furlanetto; Duarte, 2018, p. 29).

Sendo assim, a Geografia Humanística é, antes de mais nada, uma geografia que liberta, pois envolve o homem, no sentido mais amplo da palavra, que planeja, sonha e conhece o espaço, transformando-o em um lugar, como principal produtor do seu meio.

A educação no Brasil ainda tem muitos problemas, como a falta de estrutura física, professores desmotivados e desvalorizados, mas não significa que o professor deixe de ser importante para transformar a sociedade e formar cidadãos críticos e autônomos. Dessa forma, os professores devem estar constantemente repensando sua prática, buscando metodologias que atendam a esses objetivos. Neste momento, o professor de Geografia, deve deixar de se limitar à metodologia tradicional, uma vez que esta não condiz com a realidade do aluno, empregando apenas técnicas mnemônicas.

De acordo com Cavalcanti (2010, p. 20)

O ensino de Geografia, assim, não se deve pautar pela descrição e enumeração de dados, priorizando apenas aqueles visíveis e observáveis na sua aparência (na maioria das vezes impostos à “memória” dos alunos, sem real interesse por parte destes). Ao contrário, o ensino deve propiciar ao aluno a compreensão do espaço geográfico na sua concretude, nas suas contradições.

Além disso, o professor deve levar em conta o estudante como parte do processo de aprendizagem. A Geografia crítica, por considerar o espaço como um sistema em constante transformação, tem uma grande contribuição para a formação de cidadãos críticos e conscientes de seus papéis na sociedade. Sendo assim, o professor é incentivado a procurar métodos que promovam a criticidade do aluno. Por isso, não deve se limitar apenas ao livro didático, material básico que precisa ser combinado com outros recursos. e, para atingir os objetivos propostos, é possível empregar diversas linguagens no ensino, tais como: música, poesia, histórias em quadrinhos, tirinhas, internet, televisão, filmes, vídeos, slides, entre outros.

AS LINGUAGENS NO ENSINO DE GEOGRAFIA

Ao longo dos anos, o ensino de Geografia tem se desenvolvido, incorporando diversas abordagens e técnicas para tornar o aprendizado mais eficiente e envolvente. Uma das abordagens fundamentais é a utilização das linguagens, que se estendem desde a linguagem verbal até as linguagens visuais tecnológicas e espaciais. Neste capítulo, examinaremos as diversas maneiras pelas quais as linguagens são empregadas no ensino de Geografia e como elas afetam a compreensão dos alunos em relação aos conceitos geográficos.

É interessante assinalar que o uso de linguagens na Geografia sempre esteve associado àquilo que é próprio da ciência geográfica: o trabalho com localização e diferenciação de lugares. E não poderia ser de outra maneira. Por outro lado, as imagens, os gráficos, as tabelas também foram incorporados na análise geográfica, incluída a análise de estruturas espaciais (Filizola, 2009, p. 87).

A linguagem verbal tem um papel crucial na transmissão de conhecimentos geográficos. Os professores empregam a linguagem oral e escrita para explicar conceitos, narrar histórias, conduzir debates e incentivar a análise crítica. Por meio da comunicação verbal e escrita, os docentes têm a chance de explicar, contextualizar e discutir os fenômenos espaciais.  No entanto, a efetividade da comunicação verbal, depende da habilidade do professor em adequar o discurso às demandas dos alunos, tornando os conteúdos acessíveis e relevantes.

O argumento comumente utilizado de que “não somos professores de Língua Portuguesa’’ não se justifica. Em qualquer disciplina, também em Geografia, é possível orientar os alunos para a melhor maneira de estudar um texto, desenvolvendo a capacidade de lidar com essa forma de comunicação e ampliando a possibilidade de compreender a realidade social com maior profundidade (Pontuschka, Paganelli, Cacete, 2009, p. 215).

A linguagem verbal, nesse contexto, não transmite apenas informações, como também auxilia os estudantes a desenvolverem habilidades críticas de análise espacial e compreensão das interações interpessoais. As palavras ajudam os alunos a expressar suas opiniões, fazer perguntas e discutir diferentes visões sobre a geografia. Ao participar de discussões coletivas, os estudantes tem a oportunidade de explorar diferentes perspectivas sobre o tema abordado. Isso aprimora a compreensão dos estudantes, também os estimula a refletir de forma crítica sobre as implicações geográficas.

Imersos em um universo audiovisual cada vez mais complexo, crianças e jovens devem assimilar e reacomodar seus códigos comunicacionais para captar o ritmo vertiginoso e as mudanças que a realidade lhes impõe. Expostos diariamente às linguagens audiovisuais, como novas formas de expressão e comunicação, as crianças e os jovens continuam recebendo, em contrapartida, uma educação verbalista e reprodutora que desconhece, ou não se aproveita das novas linguagens de uma escola paralela, representada pela tão amada tevê (Pacheco, 1991, p.09).

A comunicação visual é outra ferramenta de grande relevância para o ensino de geografia. Recursos visuais como mapas, gráficos, imagem de satélite e infográficos podem simplificar a compreensão de padrões geográficos complexos. A interpretação de mapas permitirá que os estudantes aprimorem a capacidade de analisar informações espaciais, compreender as relações entre lugares e interpretar fenômenos geográficos.

A descrição detalhada dos diferentes espaços e paisagens foi, durante um longo período uma das principais expressões da linguagem gráfica na Geografia. A outra, como sabemos, é o mapa. Aliás, não custa recordar que essas duas formas de linguagens caminham juntas há muito tempo comunicando os sentidos, os significados e as significações que a Geografia, ou melhor, que aqueles que fazem geografia atribuem ao mundo (Filizola, 2009, p. 87).

O advento dos sistemas de informação geográfica (SIG) e das ferramentas de mapeamento online trouxe uma revolução na forma como estudamos e ensinamos geografia. Permitem que os estudantes criem e visualizem informações espaciais de forma interativa.

A integração de geotecnologias ao ensino de geografia também apresenta dificuldades. Nem todos os alunos têm acesso igualitário a dispositivos e conexão confiáveis à internet, isso pode causar diferenças significativas na experiência de aprendizado, pois:

O ensino de geografia, como o de outras disciplinas, depara-se hoje com uma imensa oferta de produtos da indústria cultural (filmes, fotografias, músicas, charges, dentre outros), em virtude das novas tecnologias e do acesso a muitas informações. Cada vez mais, os saberes escolares são associados às mudanças da modernidade e têm de dialogar com inúmeras orientações pedagógicas contemporâneas, afim de desenvolver nos alunos a cooperação, a sociabilidade, a apropriação dos conteúdos e a construção do conhecimento (Buitoni, Santiago, 2010, p. 43).

A utilização de múltiplas linguagens pode contribuir para a melhoria da aprendizagem e estimular os discentes, contribuindo em seu engajamento. Não limitando-se apenas ao desenvolvimento da habilidade de análise espacial, mas também permitindo que os estudantes analisem questões complexas, conforme apontam (Santos, Costa e Kinn).

A utilização das formas de linguagens não verbal das imagens (em fotografias, desenhos, filmes, maquetes, mapas temáticos, além dos muitos usados gráficos, tabelas e mapas em diversas projeções), Dos sons (em melodias de músicas) e outras, associadas ou não à linguagem verbal escrita (em gêneros de textos como letras de músicas, poemas, crônicas, reportagens, romances, livros didáticos e paradidáticos etc.), em suportes impressos ou na internet, ou à não escrita (rádio, televisão, palestras, conversas etc.), utilizada de forma diferente da simples explanação em aula expositiva associada ao emprego do livro didático, não pode prescindir da leitura e da escrita. Elas continuam sendo habilidades e competências básicas no ensino, cujas formações devem também, ao mesmo tempo, ser reforçadas por esses outros meios e suceder-lhes como forma de expressão do experimentado (Santos; Costa; Kinn, 2010. p.46).

A música tem origem na pré-história, período em que os seres humanos começaram a produzir sons organizados utilizando a voz e instrumentos simples. As primeiras formas de músicas estavam relacionadas a rituais, cerimônias religiosas, eventos sociais e interações com o meio ambiente.

Os egípcios, gregos, chineses, mouros e outros utilizaram a música como uma forma poderosa de expressar emoções, espiritualidade e identidade cultural. Cada uma dessas sociedades desenvolveu suas próprias tradições musicais singulares, que refletem suas crenças, princípios e relações sociais. Essas civilizações antigas encontraram na música uma forma eficiente de se comunicar e transmitir mensagens.

A música foi importante para diversas civilizações, mesmo sem os conhecimentos científicos avançados que temos atualmente. Foi utilizada como um recurso valioso para conectar as pessoas, suas crenças, superando barreiras linguísticas e culturais.

A origem da música datada da Pré-história, nas antigas civilizações egípcias estabelecidas as margens do rio atual Rio Nilo por volta de 4.000 a 3.000 anos a.c. Porém ao longo da história da humanidade muitos povos se manifestarão através da música, os gregos, chineses, mouros, egípcios, bávaros e tantos outros. Essas civilizações mesmo sem grandes conhecimentos, já se manifestavam através da música, seus sentimentos emocionais, espirituais, social ou convivências com o meio natural para transmitir suas mensagens (Silva, 2015, P.13).

A música é uma forma de comunicação que vai além da língua e da escrita. Ela desperta emoções e é capaz de transmitir características geográficas através de sons. Elementos como o ritmo, a melodia e a harmonia podem ser associadas a diferentes paisagens e ambientes, proporcionando uma conexão emocional com os conceitos geográficos. Na cultura humana, a música é usada para explicar lugares, culturas e fenômenos naturais. Quando usada em um contexto geográfico, pode ajudar os alunos a entender melhor lugares, culturas e natureza.

Linguagem musical facilita a comunicação e a função pedagógica na geografia em sala de aula, além de favorecer abordagem empírica e aplicação das atividades, ressignificando os conteúdos geográficos, proporcionando o resgate das emoções, motivadas pelas canções escolhidas compartilhadas pelos alunos que concebem percepções e representações signo-imagéticas sistematizadas em textos e imagens configuradas em mapas mentais (Correia, 2009, p. 10).

As linguagens no ensino de geografia não são meros instrumentos, mas sim oportunidades para explorar as complexidades e maravilhas do mundo. A interação entre a linguagem verbal, as representações visuais, as tecnologias e a compreensão do espaço resultam em uma educação geográfica completa. Ao adotar e integrar essas diversas linguagens, os educadores podem enriquecer a experiência pessoal, capacitando os estudantes ase tornarem cidadãos globais informados e críticos, capazes de compreender e lidar com os desafios do mundo em constante transformação.

A escola, nesse contexto, deve apropriar-se das várias linguagens e meios de comunicação para ensinar a decodificação, a analise, a interpretação e o uso de dados e informações e desenvolver no aluno a capacidade de assimilar e conviver com outros e novas tecnologias, que provocam também novas formas de aprender, com poder de reflexão e visão crítica (Pontuschka, Paganelli e Cacete, (2007) apud Santos; Costa; Kinn, 2010.P 45).

Para avaliar os conteúdos no ensino de Geografia, levando em conta a perspectiva do uso da linguagem, é necessário adotar uma abordagem abrangente que atenda à variedade de linguagens envolvidas, incluindo linguagens escritas, verbais, visuais e musicais. Apresentamos algumas diretrizes para a avaliação dos conteúdos sob essa perspectiva:

  • Análises de Linguagens Escritas:

Avaliação da capacidade dos alunos de compreender textos escritos, tais como artigos acadêmicos, documentos geográficos e relatórios. Isso implica na identificação das ideias, conceitos e argumentos apresentados.

A análise crítica deve ser realizada pelos alunos, identificando os pontos fortes e fracos dos argumentos apresentados, bem como os relacionando com os conceitos geográficos aprendidos.

  • Análise de Linguagens Verbais:

Avaliação das competências dos estudantes em transmitir informações geográficas de maneira clara e coerente, empregando uma linguagem verbal eficiente para transmitir conceitos complexos.

Realização de discussões em grupo para que os alunos possam expressar suas opiniões sobre questões geográficas bem como fundamentar seus argumentos de forma verbal.

  • Análise de Linguagens Visuais

Avaliação das habilidades dos estudantes em interpretar mapas, gráficos, imagens de satélite, e outros recurso visuais para a obtenção de informações geográficas.

Solicitação aos estudantes para que criem mapas temáticos ou infográficos que mostrem informações geográficas de forma clara e objetiva.

  • Análise de Linguagens Musicais

Avaliação da capacidade dos alunos de examinar as letras de músicas relacionadas a conceitos geográficos e a incorporação de informações relevantes.

Composição de canções relacionadas a temas geográficos produzida pelos estudantes permite a avaliação de habilidades na transmissão de informações geográficas de forma criativa.

Seguindo essas análises, os educadores podem avaliar de forma mais eficiente os conteúdos abordados no ensino de Geografia, levando em consideração as diferentes linguagens envolvidas e incentivando uma compreensão mais ampla e abrangente dos conceitos geográficos. Filizola (2009) afirma que:

Sendo assim, a presença em sala de aula de formas de expressão das múltiplas linguagens, como um texto literário, dentre eles a poesia, uma fotografia aérea ou um filme deve atender àquilo que é próprio do ensino de Geografia. A leitura e interpretação dessas formas de expressão das linguagens nas nossas aulas devem estar a serviço do desenvolvimento do olhar geográfico, da interpretação geográfica do mundo que nos cerca, e não o inverso. Portanto, a utilização de linguagens pelo professor, pela professora de Geografia deve possibilitar uma ressignificação dos conhecimentos com os quais a criança e o jovem, chega às suas aulas (Filizola, 2009, p.88).

O objetivo principal dessas formas de expressão é facilitar o desenvolvimento de uma perspectiva geográfica nos alunos, em vez de simplesmente usar essas ferramentas por si só. Isso implica que os estudantes devem ser instruídos a examinar e interpretar o mundo ao seu redor de uma perspectiva geográfica, levando em conta aspectos geográficos, conexões entre regiões, padrões de distribuição, processos naturais e influências humanas na paisagem.

Abordar as diferentes linguagens não é apenas inseri-las no plano de aula, mas deixar claro qual seriam suas finalidades e objetivos que se pretende alcançar. Isso possibilita aos educandos uma aprendizagem significativa dos conteúdos curriculares, recriação, produção e construção de pensamento sobre o espaço (Santos; Chiapetti, 2011).

O propósito é proporcionar uma experiência de aprendizado que possibilite aos estudantes relacionar conceitos geográficos com as circunstâncias da vida e, dessa forma, dar significado aos conhecimentos adquiridos em sala de aula. Isso implica relacionar as expressões culturais, artísticas e midiáticas ao entendimento dos processos espaciais e das integrações entre sociedade e ambiente.

Diversos livros didáticos de Geografia adotam abordagens pedagógicas que incluem diversas formas de comunicação, além do texto escrito convencional. Essas formas podem ser encontradas em fotografias, letras de músicas, charges e desenhos. Essa variedade de recursos é usada tanto no conteúdo do livro quanto nas atividades propostas aos alunos. Além disso, os livros didáticos costumam fornecer materiais extras, como lista de livros, filmes e sites relacionados ao conteúdo ensinado. Santos (2009) afirma que:

Além das fotografias, mapas, gráficos e vídeos, a música na ciência geográfica pode ser abordada com sucesso para os temas em relação ao espaço; hidrografia; relevo; clima; conflitos mundiais; transportes, etc. A utilização da música pode trocar uma palestra na sala de aula por uma manifestação em ambiente público, substituindo uma exposição teórica por músicas que alertam e transmitem mensagens, incentivando o indivíduo a pensar e agir. Santos (2009).

A utilização de diferentes linguagens e recursos tem como objetivo aprimorar o ensino de Geografia e proporcionar aos estudantes uma experiência de aprendizado mais envolvente e diversificada. Ao empregar recurso visuais, musicais e artísticos, os livros didáticos buscam incentivar diferentes maneiras de compreender e conectar conteúdo geográfico. Essa variedade de abordagens pode contribuir para tornar os conceitos geográficos mais acessíveis e concretos para os alunos, permitindo que estes analisem de forma mais aprofundada os fenômenos abstratos discutidos em sala de aula.

De acordo com Aranha (1993) a linguagem é um sistema fundamental para a comunicação e expressão humanas, sendo indispensável para a transmissão de ideias complexas e abstratas entre indivíduos e grupos, através de uma variedade de formas linguísticas e simbólicas. A linguagem é um sistema de símbolos que foi estabelecido por uma comunidade social específica. Ela possibilita que os membros desse grupo se comuniquem e compartilhem significados através desses símbolos.

Para romper esse estigma, alguns professores buscam várias maneiras de renovar e inovar o ensino. Nas transformações por que passa a escola, com vista à reformulação dos métodos educacionais, os materiais didáticos são de fundamental importância no trabalho do professor. Eles constituem em instrumentos que possibilitam planejar boas situações didáticas, buscando promover a ampliação dos conhecimentos dos alunos, permitindo desenvolver conceitos, problematizarem questões e articular conteúdos. Para isso o professor deverá criar situações concretas de aprendizagem (Pereira, 2011 apud Pinheiro, 2004, p. 104).

Com o objetivo de superar preconceitos negativos em relação à educação, os educadores estão buscando métodos de ensino inovadores. Os materiais didáticos desempenham um papel crucial nesse processo, permitindo que os professores criem situações de aprendizado que aprimorem o conhecimento dos alunos. O professor é o principal responsável por criar situações de aprendizagem práticas e envolventes para os alunos.

À medida que as escolas estão se modificando e procuram repensar suas metodologias educacionais, os materiais didáticos têm um papel crucial no trabalho dos educadores. São instrumentos que permitem planejar situações pedagógicas eficientes, com o objetivo de ampliar os conhecimentos dos estudantes, permitindo o desenvolvimento de conceitos, a resolução de problemas e a integração de conteúdos.

A relevância de empregar diversas formas de linguagens, além da linguagem verbal, como meios para comunicar ideias, comunicar, interpretar produções culturais e se adequar a diferentes contextos de comunicação. Isso demonstra o reconhecimento da diversidade de formas de expressão e comunicação, reconhecendo que diferentes tipos de linguagem são mais adequados para objetivos e situações específicas, ou seja, são adaptados de acordo com as diferentes intenções e situações de comunicação.

Portanto, a metodologia possui um caráter político que lhe é inerente, uma vez que responde a uma posição política em nível da luta ideológica que se dá no interior da sociedade e, consequentemente, na prática educativa (Vasconcelos, 2011, p. 116).

Vasconcelos (2011) analisa a metodologia como um ato político, na prática educativa. A autora argumenta que a escolha da metodologia em sala de aula é política, refletindo uma visão de mundo e de sociedade. A abordagem em sala de aula não pode ser neutra, uma vez que, cada abordagem traz consigo uma perspectiva sobre o conhecimento, a aprendizagem e a interação entre o professor e o aluno. Dessa forma, a escolha da técnica se torna um ato político, já que implica na tomada de uma posição sobre a maneira como o conhecimento ser produzido e transmitido.

Dessa forma, a técnica deve ser capaz desafiar e modificar as relações de poder presentes na sociedade, incentivando a equidade e a justiça social. A escolha da metodologia deve ser fundamentada na necessidade de considerar a diversidades de experiências e saberes dos estudantes, valorizando suas culturas, identidades e trajetórias. Ou seja, a metodologia deve ser inclusiva e democrática, reconhecendo a diversidade e promovendo o respeito às diferenças.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante esta pesquisa, investigamos a complexa relação entre as linguagens no contexto do ensino de geografia, reconhecendo a importância de combinar palavras, imagens e representações cartográficas. A análise revelou que a diversidade de linguagens não só enriquece a compreensão dos conceitos geográficos, mas também altera o ambiente educacional, oferecendo uma abordagem mais abrangente e inclusiva.

A observação das práticas pedagógicas juntamente com a revisão bibliográfica e análise de materiais didáticos permitiram uma compreensão profunda dos efeitos do pluralismo linguístico no processo de aprendizagem. Os dados qualitativos recolhidos realçaram como a integração diversificada não só aumenta a curiosidade dos alunos, mas também promove um ambiente de aprendizagem mais dinâmico e colaborativo.

Ultrapassar as fronteiras das diversas formas de expressão não só  enriqueceu a prática pedagógica da geografia, mas também promoveu uma visão interdisciplinar. A promoção de conexões interlinguísticas através da exploração de novas abordagens e estratégias inovadoras é uma necessidade urgente de adaptação aos desafios de ensino atuais.

Concluímos, portanto, que valorizar e incluir diversas linguagens no ensino de geografia é crucial para o desenvolvimento de uma aprendizagem mais eficaz e significativa. Esta investigação não só contribui para a compreensão teórica do significado das linguagens, mas também fornece conhecimentos práticos que podem orientar a formulação de estratégias pedagógicas inovadoras. Portanto, propomos a adoção da integração diversa no processo de educação geográfica como uma prática contínua e importante que visa enriquecer a experiência de aprendizagem dos alunos e prepará-los para enfrentar os complexos desafios do mundo atual.

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1 Orcid: 0009-0002-7223-6525
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