A IMPORTÂNCIA DO MÉDICO VETERINÁRIO NO COMBATE A RAIVA NA SAÚDE PÚBLICA

THE IMPORTANCE OF THE VETERINARIAN IN COMBATING RABIES FOR THE PUBLIC HEALTH

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202411062025


Alicia Fernandes Leão; Beatriz Brunetti Damascena; Bruna Holanda dos Santos; Lucas Candido Angulo Gonçales; Luis Gustavo da Silva Nunes; Nicolle Oliveira dos Santos


RESUMO

Este estudo tem como propósito abordar uma das principais zoonoses preocupantes para a Saúde Pública: a Raiva. Trata-se de um vírus altamente letal, resultando em mortalidade próxima a 100% dos casos. Destaca-se o papel essencial do médico veterinário na abordagem da saúde única. Além disso, pretende-se avaliar o conhecimento acerca da doença tanto entre profissionais da medicina veterinária quanto na população em geral. O objetivo é compreender o grau de familiaridade com a enfermidade, seu modo de transmissão, os vetores envolvidos, as medidas preventivas e o papel desempenhado pelo médico veterinário no enfrentamento da raiva.

PALAVRAS-CHAVE: Medicina veterinária; Saúde pública; Raiva; Zoonoses.

ABSTRACT

This study aims to show the proper approach of the most worrisome zoonotic disease for public health: the Rabies. It’s a highly lethal virus, with a mortality rate close to 100% in all its cases. Looking to highlight the work of veterinarians in the approach of public health. Furthermore, it intends to evaluate the knowledge about this disease of professional veterinarians and the general population. The objective is to comprehend the degree of familiarity with the infirmity, how it’s transmitted, the vectors involved, the preventive measures and the role performed by the veterinarian in combating rabies.

KEY-WORDS: Veterinary medicine, Public health; Rabies; Zoonoses.

INTRODUÇÃO

A raiva é uma doença viral de alto índice mortal, pertencente ao vírus do gênero Lyssavirus, que faz parte da família Rhabdoviridae. Sendo uma zoonose, o que implica que pode ser transmitida dos animais para os seres humanos, essa enfermidade afeta principalmente mamíferos, incluindo seres humanos. Possui um alto índice de letalidade chegando a aproximadamente 100% dos casos, exceto em raros casos de cura, onde a doença acaba deixando sequelas nas vítimas (Ministério da Saúde, Raiva).

O vírus da raiva encontra-se no cérebro e em concentrações elevadas nas glândulas salivares do animal infectado, fazendo com que o vírus (RABV) seja transmitido pela saliva do animal principalmente através de mordedura e dificilmente por lambedura de mucosas ou até mesmo arranhaduras. Após o contato do infectante com o infectado, o vírus atinge o sistema nervoso central (SNC) e se espalha rapidamente causando uma encefalite aguda, gerando lesões em áreas como hipotálamo e troco encefálico, esses danos acabam gerando os principais sinais clínicos da raiva que são geralmente, agressão, hiperatividade, salivação excessiva, alucinações, aerofobia, fraqueza muscular, paralisia progressiva e dificuldade respiratória. Há quatro ciclos epidemiológicos dessa enfermidade: o ciclo aéreo disseminado por morcegos; o ciclo silvestre terrestre, no qual os vetores são animais selvagens; o ciclo rural, envolvendo animais criados, e o ciclo urbano, que se propaga principalmente por cães, e gatos. No Brasil são apresentadas algumas variantes antigênicas (AgV) da doença sendo as principais variantes encontradas nos cães (AgV1 – Canis familiaris e AgV2 – Canis familiaris) e nos morcegos (AgV3 – Desmodus rotundus; AgV4 – Tadarida brasiliensis e AgV6 – Lasiurus spp). Os seres humanos, por sua vez, podem contrair o vírus de qualquer reservatório desses ciclos, sendo a variante do morcego considerada a raiva paralítica. O período de incubação a raiva pode variar dentre dias ou meses, mas quando os sinais clínicos forem apresentados a doença pode ser fatal e um risco a comunidade por se tratar de uma zoonose (SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2016).

A raiva é uma doença que ainda acomete muitos lugares ao redor do mundo e com uma alta letalidade mesmo com vacinas disponíveis, cuidados profiláticos e conhecimento gerados em todos esses anos, é imprescindível o cuidado dos órgãos de saúde pública nesses casos. O médico veterinário possui uma importante atuação dentro da saúde pública juntamente com outros profissionais da área da saúde, isso foi garantido pelo Ministério da Saúde em 1973 juntamente com a Central de Medicamentos (Ceme) e Organização Pan-Americana de Saúde, o Programa Nacional de Profilaxia da Raiva marcou como papel fundamental da Medicina Veterinária na Saúde Coletiva (CRMV-SP).

O médico veterinário desempenha um papel crucial na prevenção da raiva e em seu diagnóstico (CRMV-ES). A profilaxia inicia-se dentro dos estabelecimentos veterinários, como clínicas, por exemplo. Em casos de animais vivos, como cães e gatos com suspeita de raiva e que apresentaram mudanças de comportamento compatíveis com a doença, os mesmos devem ser isolados e observados pelo profissional veterinário durante dez dias em local apropriado. Se houver conhecimento de que algum cão ou gato teve contato com outro animal raivoso, devem ser recolhidos e submetidos à eutanásia (SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2016). Na suspeita de raiva, o veterinário é responsável por coletar amostras laboratoriais do animal afetado, como amostras do cérebro de cães e gatos já eutanasiados ou que vieram a óbito, para diagnosticar possíveis danos neurológicos no sistema nervoso central (SNC). É importante ressaltar que esses procedimentos devem ser realizados apenas por profissionais capacitados, seguindo técnicas de biossegurança e a legislação em vigor. Em regiões com casos confirmados do vírus da raiva, é fundamental realizar um levantamento e uma investigação epidemiológica para identificar a variante antigênica envolvida. Esse procedimento é especialmente necessário em áreas rurais, onde morcegos, importantes transmissores da raiva, ainda são encontrados. Além disso, é crucial fornecer orientação educacional nessas áreas para prevenir a propagação da doença. A raiva acaba sendo relevante em regiões rurais, onde o acesso à profilaxia é mais restrito, ressaltando a importância da vacinação e de medidas preventivas para proteger tanto os animais quanto as comunidades locais contra a raiva. Medidas educativas devem enfatizar o cuidado com cachorros soltos nas ruas, os riscos de ferimentos causados por cachorros e felinos, e a disponibilidade de medidas preventivas.

Outras medidas protetivas contra a raiva que o médico veterinário é encarregado de realizar incluem o monitoramento da circulação viral em áreas de risco em colaboração com os órgãos de saúde. Além disso, é fundamental promover orientações não apenas para os tutores de animais, mas também para a comunidade em geral, destacando a gravidade da doença tanto para os animais quanto para os seres humanos (SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2016).

A vacinação é o ponto central no combate à raiva. O Ministério da Saúde disponibiliza vacinas por meio de campanhas anuais ou semestrais, em pontos fixos distribuídos nas cidades. Estas campanhas são organizadas de acordo com o risco epidemiológico da região, sendo que a vacina deve estar disponível o ano todo, independentemente da situação epidemiológica. É importante ressaltar que médicos veterinários, zootecnistas e estudantes dessas áreas devem receber a vacina antirrábica humana, devido ao elevado risco de exposição à doença (SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2016).

OBJETIVO

O objetivo deste estudo foi avaliar o conhecimento de profissionais veterinários, estudantes e o público em geral sobre esta doença de relevância em Saúde Pública, além de examinar o papel do médico veterinário no enfrentamento dessa zoonose, e também quantificar a eficácia das fontes de informação e programas de educação ambiental disponíveis.

MÉTODO

Esta pesquisa é uma investigação exploratória que emprega métodos de revisão de literatura da Biblioteca Virtual em Saúde – Ministério da Saúde e Unidade de Vigilância de Zoonoses, informes oficiais da Prefeitura e a aplicação de questionário online por meio da plataforma Google Forms, realizado em abril de 2024, divulgado nas redes sociais. O estudo adota uma abordagem quali-quantitativa e envolve médicos veterinários, estudantes de medicina veterinária e o público em geral. As perguntas abordam o conhecimento sobre a enfermidade, seus vetores, modos de transmissão, medidas de prevenção e o papel do médico veterinário diante dessa patologia. Foram registradas 51 participações, incluindo 1 profissional médico veterinário, 11 alunos de medicina veterinária e 39 indivíduos do público em geral, sem formação na área de saúde.

RESULTADO E DISCUSSÃO

Na avaliação do conhecimento sobre a enfermidade em questão, constatou-se que 92% dos participantes afirmaram ter conhecimento da doença, 70% indicaram estar cientes dos animais que podem atuar como vetores, 44,1% declararam ter conhecimento sobre os modos de transmissão da raiva, e 50% demonstraram familiaridade com o papel do médico veterinário na saúde pública para a prevenção e controle de zoonoses. Adicionalmente, 94% concordaram com a importância de realizar campanhas de conscientização e prevenção contra a raiva no estado de São Paulo.

Os resultados revelam um nível geral de conhecimento sobre a doença entre os participantes, mas há lacunas significativas em relação aos vetores e modos de transmissão da raiva. Embora metade dos participantes reconheça a importância do papel dos médicos veterinários na prevenção de zoonoses, ainda há uma falta de compreensão sobre a extensão desse papel. Os resultados ressaltam a importância de campanhas educacionais contínuas para preencher essas lacunas de conhecimento e promover uma compreensão mais abrangente sobre a raiva e outras zoonoses. A alta concordância com a importância das campanhas de conscientização destaca a necessidade de continuar investindo em programas educacionais para garantir uma população bem-informada e preparada para lidar com a raiva e outras doenças transmitidas por animais.

CONCLUSÃO

Através do estudo realizado, fica claro que a raiva representa uma ameaça significativa à saúde pública, com uma alta taxa de letalidade e uma ampla gama de reservatórios e modos de transmissão. O papel do médico veterinário emerge como crucial na prevenção, diagnóstico e controle dessa zoonose. Através de medidas como isolamento de animais suspeitos, coleta de amostras para diagnóstico, monitoramento epidemiológico e educação pública, os médicos veterinários desempenham um papel vital na proteção tanto dos animais quanto das comunidades humanas contra a raiva. Além disso, a pesquisa destaca a importância de programas de educação e conscientização para melhorar o conhecimento sobre a doença e suas medidas preventivas entre os profissionais de saúde animal, estudantes e o público geral.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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QUEIROZ, L. H., & RODRIGUES, M. (2018). Raiva: aspectos clínicos, epidemiológicos e prevenção. Revista de Medicina, 97(3), 137-146.

SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE (Brasília/DF). MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual de vigilância, prevenção e controle de zoonoses: Normas técnicas e operacionais. 1° Edição . ed. Brasília DF: Ministério da Saúde, 2016. 123 p. v. 1. ISBN 978-85-334-2239-1. Disponível em: www.saude.gov.br/svs. Acesso em: 1 maio 2024.