NUTRITIONAL MANAGEMENT AND AWARENESS IN THE PREVENTION OF OBESITY IN CASTRATED CATS
REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/ni10202411031324
Caique Henrique Alves Santos;
Orientadora: Fernanda Borges Barbosa
RESUMO
A obesidade felina é um dos problemas de saúde mais prevalentes em gatos, especialmente após a castração, um método de controle da população de felinos. A castração é uma medida essencial para a saúde pública e o bem-estar animal, que também está relacionada ao aumento de consumo de alimentos pelo animal. A castração também causa uma diminuição hormonal, resultando em uma diminuição da necessidade energética do animal. Essa combinação leva ao ganho de peso caso o controle nutricional não seja realizado. Pensando nisso, o objetivo desse trabalho é avaliar o conhecimento de tutores de felinos, por meio de um questionário, sobre manejo nutricional de gatos castrados, destacando suas necessidades específicas, os desafios após a castração e as estratégias alimentares para garantir sua saúde e qualidade de vida. Foram incluídas 54 respostas, sendo observado que nenhum tutor realizou a oferta de ração de acordo com as recomendações do fabricante. A maior parte dos tutores apresentam conhecimento acerca da importância da nutrição, porém realizam o manejo de arraçoamento da forma incorreta, incluindo a oferta de petiscos. No entanto, todos informaram que estão dispostos a melhorar o manejo nutricional dos animais após recomendações. Para abordar essas questões, foi elaborado um informativo detalhado que fornece orientações sobre os cuidados e o manejo alimentar adequado para gatos após a castração. O material inclui informações sobre as necessidades nutricionais específicas, a importância do controle dietético, sugestões de atividades físicas e cuidados gerais para promover o bem-estar dos felinos. A iniciativa visa apoiar os tutores na implementação de práticas mais informadas e eficazes, ajudando a prevenir problemas como a obesidade e promovendo uma melhor qualidade de vida para os animais. A educação contínua dos tutores é fundamental para garantir que os gatos castrados recebam os cuidados adequados, contribuindo assim para sua saúde e felicidade.
Palavras-chave: Nutrição.Castração.Felinos.
ABSTRACT
Feline obesity is one of the most prevalent health issues in cats, especially following neutering, a method used for population control. Neutering is an essential measure for public health and animal welfare, which is also associated with increased food intake in cats. This procedure leads to a hormonal decrease, resulting in a reduced energy requirement for the animal. This combination often leads to weight gain if nutritional control is not implemented. With this in mind, the aim of this study is to assess the knowledge of cat owners, through a questionnaire, about nutritional management for neutered cats, emphasizing their specific needs, challenges following neutering, and dietary strategies to ensure their health and quality of life. A total of 54 responses were included, revealing that no owner follows the manufacturer’s feeding recommendations. Most owners understand the importance of nutrition but practice improper feeding, including the provision of treats. However, all respondents indicated a willingness to improve the animals’ nutritional management with appropriate guidance. To address these issues, an informational guide was developed to provide advice on appropriate feeding and care for cats post-neutering. This guide includes information on specific nutritional needs, the importance of dietary control, suggestions for physical activities, and general care to promote feline well-being. The initiative aims to support owners in implementing more informed and effective practices, helping to prevent issues such as obesity and promoting a better quality of life for their pets. Continuous education for owners is essential to ensure that neutered cats receive adequate care, thereby contributing to their health and happiness.
Keywords: Nutrition. Castration. Feline.
1. INTRODUÇÃO
A obesidade é uma das condições de saúde mais frequentes em gatos domésticos, representando uma preocupação crescente entre Médicos Veterinários e tutores de animais de estimação. A obesidade felina não apenas compromete o bem- estar e a qualidade de vida do animal, mas também está associada a uma série de complicações de saúde, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, osteoartrite e uma redução na expectativa de vida (Larsen & Villaverde, 2022).
Entre os fatores de risco que contribuem para o desenvolvimento da obesidade em gatos, a castração é uma das causas frequentemente identificada. A castração, procedimento comumente realizado em gatos para controle populacional e para mitigar comportamentos indesejados, como marcação territorial e agressividade, pode resultar em alterações hormonais e metabólicas que impactam diretamente o metabolismo do animal (Fettman et al, 2010).
No entanto, é importante reconhecer que a obesidade felina não é uma inevitabilidade pós-castração. Em vez disso, a gestão adequada da alimentação após a castração desempenha um papel crucial na prevenção e no controle de ganho de peso excessivo. Estratégias nutricionais específicas e um manejo alimentar consciente são essenciais para garantir que os gatos castrados mantenham um peso saudável e uma condição corporal ideal ao longo de suas vidas (Zoran, 2010).
Neste contexto, este trabalho tem como objetivo investigar os riscos de obesidade em gatos após a castração, enfatizando a importância de um manejo nutricional adequado para prevenir essa condição. Para isso, um questionário será aplicado para avaliar o conhecimento dos tutores de felinos sobre obesidade e manejo nutricional. Além disso, serão discutidos os efeitos da castração no metabolismo e no comportamento alimentar dos gatos, bem como estratégias práticas para orientar os tutores na escolha de dietas apropriadas e na promoção de hábitos alimentares saudáveis. Compreender esses desafios e implementar medidas preventivas eficazes visa contribuir para uma vida mais longa e saudável para os gatos castrados.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. CONTROLE DA POPULAÇÃO
O controle da população de felinos, especialmente por meio da castração, é uma medida essencial para a saúde pública e o bem-estar animal. A superpopulação de gatos é um problema crescente em muitas áreas urbanas, levando a um aumento no número de animais abandonados e em situação de vulnerabilidade. A castração é uma solução eficaz para reduzir a natalidade, prevenindo ninhadas indesejadas que frequentemente resultam em abandono e sofrimento. Ao impedir a reprodução descontrolada, a castração ajuda a estabilizar as populações de gatos nas comunidades, contribuindo para um ambiente mais saudável tanto para os animais quanto para os seres humanos (ANDRADE et al, 2012).
Além disso, a castração também traz vantagens significativas para a saúde dos próprios felinos. O procedimento reduz o risco de doenças reprodutivas, como infecções uterinas e câncer de mama nas fêmeas, e problemas prostáticos nos machos. Gatos castrados tendem a apresentar menos comportamentos agressivos e de marcação territorial, o que facilita a convivência com outros animais e com os humanos. Dessa forma, a castração não apenas melhora a qualidade de vida dos gatos, mas também promove uma relação mais harmoniosa entre eles e seus tutores (ANDRADE et al, 2012).
2.2. OBESIDADE EM FELINOS
A obesidade felina é uma condição complexa e multifatorial que afeta uma proporção significativa da população de gatos domésticos em todo o mundo. Embora diversos fatores possam contribuir para o desenvolvimento da obesidade em felinos, a castração é frequentemente identificada como um fator de risco importante nesse contexto. A literatura científica oferece insights valiosos sobre os mecanismos pelos quais a castração pode influenciar o peso corporal e o comportamento alimentar dos gatos, bem como estratégias eficazes para prevenir e gerenciar a obesidade pós- castração por meio do manejo alimentar (Alemão,2021).
Estudos têm demonstrado que a castração está associada a alterações hormonais e metabólicas que podem predispor os gatos ao ganho de peso. Case e colaboradores (2011) destacam que a redução dos níveis de hormônios sexuais, como estrogênio e testosterona, após a castração pode afetar o metabolismo basal e a distribuição de tecido adiposo no corpo do animal. Além disso, a diminuição da atividade física e mudanças no comportamento alimentar, como um aumento na ingestão de alimentos e uma redução na taxa metabólica, podem contribuir para o excesso de peso em gatos castrados (Laflamme, 2012).
No entanto, a obesidade felina pós-castração não é uma inevitabilidade e pode ser prevenida ou controlada com intervenções adequadas de manejo alimentar. Buffington e Westropp (2014) ressaltam a importância da seleção de dietas balanceadas e de alta qualidade, com teores calóricos adequados e proporções ideais de nutrientes para atender às necessidades específicas de gatos castrados. Estratégias nutricionais, como o controle de porções, a oferta de alimentos enriquecidos com fibras e proteínas de alta qualidade, e o uso de dietas prescritas especificamente para gatos castrados, têm demonstrado ser eficazes na prevenção e tratamento da obesidade em felinos. (Buffington & Westropp, 2024) Além disso, a conscientização e a educação dos tutores de gatos são fundamentais para garantir o sucesso do manejo alimentar pós-castração. Freeman e Michel (2011) afirmam que campanhas educativas e programas de orientação podem fornecer informações essenciais sobre as necessidades nutricionais dos gatos castrados, a importância do controle de peso e a implementação de práticas alimentares saudáveis em casa. O envolvimento ativo dos tutores na monitorização do peso corporal de seus gatos e na adesão a recomendações nutricionais específicas desempenha um papel crucial na prevenção e controle da obesidade felina (German, 2012).
2.3. DIAGNÓSTICO E AVALIAÇÃO DA OBESIDADE FELINA
2.3.1. Exame físico
Um exame físico completo é fundamental para identificar sinais visíveis de obesidade, como acúmulo excessivo de gordura corporal, principalmente ao redor do abdômen, região lombar e base da cauda. O veterinário também avaliará a condição corporal do gato utilizando uma escala de escore de condição corporal, que permite uma classificação objetiva do peso corporal em relação à estrutura física do animal (Laflamme, 2012).
2.3.2. Medição do Peso Corporal
A medição do peso corporal é um aspecto crucial do diagnóstico da obesidade em gatos. O veterinário utilizará uma balança adequada para determinar o peso atual do animal e compará-lo a um peso corporal ideal, levando em consideração fatores como idade, raça e estrutura física (German, 2021).
2.3.3. Cálculo do Índice de Massa Corporal
O cálculo do índice de massa corporal (IMC) é uma ferramenta útil para quantificar o grau de obesidade em gatos. O IMC é calculado dividindo o peso corporal (em quilogramas) pela altura ao quadrado (em metros). Um IMC elevado indica um maior acúmulo de gordura corporal e um maior risco de complicações associadas à obesidade ( Morris & Butterwick, 2020).
2.3.4. Avaliação da Composição Corporal
A avaliação da composição corporal, incluindo a proporção de massa gorda e massa magra, pode fornecer informações adicionais sobre a saúde metabólica e o estado nutricional do gato (Figura 1). Técnicas de avaliação da composição corporal, como a bioimpedância elétrica ou a mensuração da dobra cutânea, podem ser utilizadas para determinar a distribuição de gordura corporal e identificar áreas de preocupação.
Figura 1 – Escores de avaliação corporal de felinos.
2.3.5. Histórico Clínico e Comportamental
Um histórico clínico detalhado, incluindo informações sobre a dieta, atividade física, ingestão alimentar e comportamento alimentar do gato, é fundamental para compreender os fatores contribuintes para o desenvolvimento da obesidade. Além disso, é importante investigar a presença de condições médicas subjacentes que possam influenciar o peso corporal, como hipotireoidismo ou diabetes mellitus. (German, 2021).
2.3.6. Avaliação de Condições Associadas
O diagnóstico da obesidade em gatos também deve incluir a avaliação de condições médicas associadas, como osteoartrite, doenças cardiovasculares, diabetes mellitus e doenças do trato urinário inferior. Essas condições frequentemente coexistem com a obesidade e podem exigir intervenções específicas de manejo e tratamento. (Butterwick & Hawthorne, 2007).
2.4. MANEJO DA OBESIDADE
O manejo da obesidade é uma área crucial da medicina veterinária, pois a obesidade é uma condição comum e potencialmente prejudicial que afeta a qualidade de vida e a saúde dos felinos. O manejo eficaz da obesidade envolve uma abordagem multifacetada que visa reduzir o peso corporal do gato de forma segura e sustentável, ao mesmo tempo que promove a saúde metabólica e o bem-estar geral do animal. Em resumo, requer uma abordagem abrangente que combine modificação dietética, aumento da atividade física, monitoramento regular e educação do tutor. Ao adotar uma abordagem multidisciplinar e personalizada, é possível alcançar uma perda de peso saudável e sustentável, melhorando assim a saúde e a qualidade de vida do gato a longo prazo (Butterwick & Hawthorne, 2005).
2.4.1. Avaliação Nutricional
O primeiro passo no manejo da obesidade é realizar uma avaliação nutricional completa do gato. Isso inclui determinar as necessidades calóricas específicas do animal, avaliar a composição e qualidade da dieta atual e identificar quaisquer fatores dietéticos que possam contribuir para o ganho de peso excessivo. (Laflamme, 2012).
2.4.2. Plano Alimentar Personalizado
Com base na avaliação nutricional, é desenvolvido um plano alimentar personalizado para o gato, que visa reduzir gradualmente a ingestão calórica enquanto fornece todos os nutrientes essenciais para manter a saúde e o bem-estar. Isso pode envolver a transição para uma dieta com teor calórico reduzido ou uma dieta formulada especificamente para gatos com sobrepeso (Laflamme, 2012).
2.4.3. Controle de Porções e Frequência de Alimentação
Controlar cuidadosamente as porções de comida e a frequência das refeições é essencial no manejo da obesidade. Dividir a ingestão diária de alimentos em várias pequenas refeições pode ajudar a reduzir a fome e prevenir a compulsão alimentar, enquanto limita o risco de ganho de peso excessivo (Freeman & Michel, 2001).
2.4.4. Estímulo à Atividade Física
Promover a atividade física é fundamental para o sucesso do manejo da obesidade em gatos. Incentivar o gato a se exercitar regularmente por meio de brincadeiras interativas, sessões de jogo com brinquedos específicos para gatos e até mesmo a introdução de rotinas de treinamento simples pode ajudar a queimar calorias extras e melhorar a saúde geral do animal (Buffington, 2002).
2.4.5. Monitoramento do Peso
O manejo da obesidade requer monitoramento regular do peso corporal do gato e do progresso do plano alimentar e de exercícios. A avaliação periódica do peso, composição corporal e outros parâmetros de saúde é essencial para ajustar o plano de manejo conforme necessário e garantir resultados eficazes a longo prazo. (Alemão, 2021).
2.4.6. Educação do Tutor
É importante envolver ativamente os tutores no manejo da obesidade, fornecendo informações e orientações claras sobre a importância do controle de peso, as estratégias de manejo alimentar e a promoção da atividade física. Educar os tutores sobre os riscos da obesidade e os benefícios de um estilo de vida saudável pode ajudar a garantir a adesão ao plano de manejo e o sucesso a longo prazo (Freeman, 2011).
2.5. CONTROLE DE PESO EM FELINOS
O controle de peso em felinos é uma prática essencial para garantir a saúde e o bem-estar no longo prazo dos gatos, especialmente aqueles que são mais suscetíveis à obesidade. A implementação de estratégias de manejo, que incluem uma dieta equilibrada, controle de porções, promoção da atividade física e monitoramento regular do peso, é fundamental para prevenir complicações associadas ao excesso de peso, como diabetes, doenças articulares e problemas cardíacos (Laflamme, 2012).
3. MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi conduzida por meio de um questionário estruturado, disponibilizado em formato digital por meio da plataforma Google Forms. O questionário abordou questões relacionadas ao conhecimento dos tutores sobre os cuidados nutricionais necessários após a castração de seus gatos, bem como suas práticas alimentares atuais. A divulgação do questionário para tutores de felinos foi realizada nas redes sociais, grupos de WhatsApp e clínicas veterinárias de Guarulhos – SP. Foi realizada análise descritiva dos dados coletados, para identificar padrões e tendências.
Você tem gato? | Sim | Não |
O seu gato é castrado? | Sim | Não |
Você sabia que existe alimentação específica de gatos castrados? | Sim | Não |
Você segue a recomendação do fabricante descritos na embalagem da ração de quantidade diária? | Sim | Não |
Você oferece algum tipo de petiscos para o seu gato, fora ração? | Sim | Não |
Você já considerou conversar com um veterinário ou especialista em nutrição felina sobre a dieta do seu gato castrado? | Sim | Não |
Após a castração, notou que o seu animal ganhou peso? | Sim | Não |
Você sabia que se o seu gato não comer uma alimentação regrada e ideal para o tipo dele ele pode ganhar peso? | Sim | Não |
Você estaria disposto a mudar a alimentação do seu gato após saber das informações corretas? | Sim | Não |
Figura 2 – Questionário disponibilizado na plataforma Google Forms.
4. RESULTADOS
Foram obtidas 68 respostas, das quais 54 foram incluídas no estudo, pois 14 tutores não tinham gatos castrados. A análise descritiva, conforme apresentada na Figura 1, mostra que a maioria dos tutores (94,44%, n=51) percebeu ganho de peso nos gatos após a castração. Embora metade dos tutores tenha consciência do impacto de uma dieta inadequada no peso do animal, nenhum segue rigorosamente as recomendações de quantidade diária de ração indicadas pelo fabricante. Além disso, 53,7% dos tutores (n=29) também oferecem petiscos aos gatos, prática que contribui para o ganho de peso.
Outro dado relevante é que 53,7% (n=29) dos tutores sabem da existência de rações específicas para animais castrados, mas poucos controlam o peso dos gatos regularmente. Assim, embora a maioria tenha algum conhecimento sobre tipos de dieta, eles geralmente desconhecem as necessidades energéticas dos animais. Esse desinteresse é corroborado pelo fato de que 96,3% (n=52) dos tutores nunca buscaram ajuda de um veterinário ou nutrólogo para entender as necessidades nutricionais de seus gatos.
Contudo, há uma disposição positiva para a mudança: todos os tutores afirmaram que estariam dispostos a ajustar a alimentação dos gatos caso recebessem informações sobre suas necessidades nutricionais. Esses resultados destacam a falta de conscientização como um dos principais fatores que influenciam o manejo nutricional inadequado em felinos castrados, indicando que a educação sobre o tema pode ter um impacto significativo.
Figura 3 – Análise descritiva das respostas obtidas.
5. DISCUSSÃO
Atualmente, a obesidade felina é um dos problemas de saúde mais comuns em gatos, especialmente após a castração. A falta de informação e a ausência de um manejo adequado da alimentação são fatores que prejudicam essa condição, que impactam diretamente na qualidade de vida dos animais. Durante esta pesquisa, identificamos que muitos tutores enfrentaram dificuldades para definir a alimentação adequada para gatos castrados, o que pode levar ao excesso de peso e aos problemas de saúde relacionados.
Após a castração, ocorrem alterações metabólicas significativas nos gatos. A diminuição dos hormônios gonadais leva a um aumento na ingestão de alimentos e uma redução no gasto energético, resultando em um maior risco de obesidade. Os gatos castrados podem apresentar um ganho de peso considerável nos primeiros meses após o procedimento, podendo chegar a um aumento de 40% no peso corporal em fêmeas castradas dentro de três meses. Essa mudança no metabolismo, combinada com a prática comum de oferecer alimentos ad libitum, contribui para o surgimento da obesidade, frequentemente mal interpretada pelos tutores como um sinal de bem-estar (Kanchuk et al, 2003;Vendramini, 2020).
Durante a pesquisa realizada, foi constatado que muitos tutores enfrentaram dificuldades em identificar qual a alimentação ideal para seus gatos após a castração. A falta de informações claras e acessíveis contribui para que muitos acreditem que um gato obeso é sinônimo de um animal saudável e feliz. Essa percepção errônea pode resultar em escolhas alimentares confortáveis e na negligência das necessidades nutricionais específicas dos felinos castrados.
Como parte do projeto, foi elaborado e entregue aos tutores um informativo detalhado com orientações sobre os cuidados e o manejo adequado para gatos após a castração (Figura 4 e Figura 5). Esse material inclui informações sobre as necessidades nutricionais específicas, a importância de um controle específico da dieta, sugestões de atividades físicas e cuidados gerais para garantir o bem-estar e a saúde dos felinos. A iniciativa visa apoiar os tutores na implementação de práticas mais informadas e eficazes no cuidado com os gatos castrados, ajudando a prevenir problemas como a obesidade e promovendo uma qualidade de vida melhor para os animais.
Figura 4 – Folder de divulgação a respeito dos cuidados veterinários (frente).
7. CONCLUSÃO
Com base nos resultados da pesquisa, é evidente que uma parcela significativa dos tutores de gatos demonstra algum nível de conscientização sobre a importância da castração, visto que aproximadamente 79,41% (n=54/68) dos felinos analisados foram submetidos a esse procedimento. Entretanto, há lacunas alarmantes no conhecimento dos tutores em relação ao manejo nutricional pós- castração.
Embora a maioria dos tutores (53,7%) reconheça a existência de rações específicas para gatos castrados, observa-se que muitos ainda oferecem petiscos de forma indiscriminada, o que pode comprometer o equilíbrio nutricional e levar ao excesso de peso. Além disso, é preocupante constatar que nenhum dos tutores entrevistados segue rigorosamente as recomendações dos rótulos quanto à quantidade de ração a ser fornecida, o que pode contribuir para a obesidade e outros problemas de saúde.
Surpreendentemente, apenas 3,7% dos tutores consideraram buscar orientação junto a um veterinário especializado em nutrição felina. Esse dado ressalta a necessidade urgente de conscientização e educação dos tutores sobre a importância de consultar profissionais capacitados para garantir a saúde e o bem-estar de seus animais de estimação.
Diante desses achados, fica claro que a falta de conscientização é um fator determinante para o manejo nutricional inadequado dos gatos castrados. É fundamental implementar estratégias eficazes de educação e orientação aos tutores, visando promover uma melhor compreensão sobre as necessidades nutricionais específicas desses animais após a castração. Somente com um maior engajamento e colaboração entre tutores, veterinários e profissionais da área, será possível mitigar os riscos associados à obesidade e outras complicações decorrentes de uma alimentação inadequada.
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