REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202410292240
Welington Mariano da Silva
RESUMO
Introdução: Ressaltar a importância de uma educação com educação. Que educa os indivíduos e não os “deseduca”, pautado num diálogo claro de retórica, escuta, compreensão e ação, como participantes ativos, vivos e pensantes, como pessoas reflexivas que sabem o que querem neste processo de tomada de decisões, em suas falas, pensamentos, escolhas e ações. Priorizando o respeito como alicerce de todas as relações humanas: sejam elas de gênero, política, religiosa, sociocultural, valores e costumes entre outros. O Objetivo é dialogar com corpo docente, com os discentes e toda a comunidade escolar sobre a necessidade e importância deste ensino voltado para a escuta e o respeito dos indivíduos em sua totalidade. A Metodologia foi um levantamento bibliográfico com autores pertinentes que possibilitaram um diálogo sobre a importância de uma escola reflexiva onde todos são autores/ protagonistas deste espaço. O Resultado que a pesquisa chegou foi que é possível educar todos os atores envolvidos neste processo educativo, porém se faz necessário educar o professor, ele é o elo principal que pode gerir/ mediar o aprendizado. Porém, as Considerações Finais é que nem sempre isso acontece, algumas vezes por insegurança do professor em relação ao conteúdo/ ou estudante, por falta de domínio ou comodismo do professor. E que é necessário um intenso processo de formação continuada.
Palavras chaves: Escuta ativa; educação; Formação de Professores; Escola Reflexiva.
1-Introdução: Processo Pandêmico
O mundo presenciou entre 2019 até os dias atuais, uma pandemia que alterou a rotina e vida de todos os seres humanos. E isso foi assustador, para todas as esferas da sociedade, ninguém se safou. O planeta gemeu em prantos, em dores, em internações, em sepultamentos e despedidas, noticiados 24 horas por dia pelos meios de comunicações. Sem mencionar inúmeros desastres naturais e guerras que aconteceram concomitantemente. Vivemos praticamente em estado de sítio disfarçado de branco, com máscaras e álcool em geral.
Muitos danos enfrentaremos agora com os ânimos diminuindo. É visível o caos instaurado numa São Paulo silenciada, apática e amedrontada. O que é externo, é mais fácil de se notar. Agora, pergunto: E o que interno? Como notamos? É fácil o corpo explica, ele fala, desenha as nossas dores, dores interiores que gritam numa sociedade surda. E este cenário se reflete nas escolas, nas salas de aulas, nas famílias, em todos os lugares que existem um mínimo de convívio social.
Todos fomos pegos de surpresa, ninguém esperava uma pandemia em pleno século XXI, do jeito que foi esta. Fomos e somos reféns de um vírus, e São Paulo pede socorro. As nossas emoções pedem socorro. A saúde pública pede socorro. As nossas famílias pedem socorro. As nossas escolas gritam por socorro, há anos.
No regresso escolar ficou nítido os grandes problemas que as escolas enfrentariam. Todos acreditavam que seria apenas uma defasagem nas aprendizagens, no ato de ler e escrever, sim também, mas o grande impacto foi nas relações interpessoais, no contato um com o outro. Dois anos isolados causou um caos nos relacionamentos entre os indivíduos, o ensino remoto/on-line como preferirem, permitiu que as relações se esfriassem e acontecesse um isolamento maior dos indivíduos inseridos no contexto escola.
Há de convir que essa balela que o ensino remoto deu certo, foi apenas mais um conto do vigário. Não deu certo, as classes mais abastadas, as periferias foram as mais atingidas com uma falsa política de inclusão social, pintada nos meios de comunicação como solução de tudo, só que não! Tablets com chips que não funcionavam, plataformas digitais que sofriam mais instabilidade do que qualquer outra coisa. Estudantes que nunca acessaram uma aula, famílias que se tornaram professores para salvar a educação de seus filhos. Professores adoecidos com o excesso de trabalho e com o descaso sofrido com a profissão. Os fones de ouvidos deixaram a população digital mais surda para o humano.
O que foi perceptível neste retorno e que é incontestável, uma política pautada na razão onde ninguém erra, advinda da internet, com o mesmo tom de coragem que é utilizada naquele ambiente virtual. Ninguém escuta ninguém. Estudante que não ouve o outro estudante; estudantes que não ouvem os professores; Professores que não ouvem os estudantes; professores que não ouvem os outros professores; professores que não ouvem os gestores; gestores que não ouvem nem os alunos e muito menos os professores; gestores que não ouvem os outros gestores. Uma comunidade que há muito tempo já não se escuta; as famílias mais perdidas mais do que “cego em tiroteio”, colocando nos ombros da escola uma obrigação que não é só dela, de educar seus filhos, porque eles também não ouvem seus próprios filhos. Ou seja, somos todos desconhecidos utilizando um falso perfil de felicidade plena, de educados, de bons, e está tudo bem. Não está tudo bem!
O diálogo precisa ser a base da sociedade. Reforço o diálogo verdadeiro, a trocas – o ouvir e o falar – respeitando um o momento do outro, e um se esforçando para entender o outro, assim aprendemos juntos como indivíduos pertencente a uma sociedade civilizada humanizada, e não desumana. Freire (2011) diz: “Não é falando aos outros, de cima para baixo, sobretudo, como se fôssemos os portadores da verdade a ser transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas é escutando que aprendemos a falar com eles. Somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele, mesmo que, em certas condições, precisa falar a ele”. O respeito e a empatia, precisam existir, sejam no ato de falar ou no ato de escutar, seja o momento que for. O outro é importante, ele existe! Assim como eu sou importante e existo!
Quando paro para ouvir o outro, me dedico a compreender a mensagem que ele emite, não perco tempo, ganho tempo, agrego um novo saber, a cumplicidade, aprendo e pratico valores que por vezes ficam guardados na gavetinha. É preciso girar a chavezinha de que dialogar é perder tempo, na sala de aula dialogar é ganhar tempo, é ganhar vidas. Paulo Freire diz que “ensinar exige saber escutar”. Sendo assim, “a ideia não é minimizar o que o estudante sabe, mas possibilitar uma expansão do aprendizado numa magnitude macro de conhecimento” (SILVA, 2020, p.247). Onde todos ganham, ninguém perde, ou seja, eu aprendo ao ouvir e você aprende também ao ouvir.
Não é difícil notar que esse problema de diálogo se tornou uma grande questão social. Com advento das grandes mídias sociais, o homem contemporâneo tem voltado para sua caverna tecnológica, é mais fácil tecer uma conversa com um estranho, do que com a minha própria família, na minha escola, tudo ficou efêmero. Somos estranhos para nós mesmos. É difícil conhecer alguém, saber o que o outro pensa sem tecer uma conversa/ dialogo.
Dentre essas pessoas se encontram muitos professores e pais, entre outros. Logo, muitos pais não sabem o que os filhos pensam, o que sentem, o que desejam. É de extrema importância estabelecer sempre um diálogo coerente com a criança desde a primeira infância para que esta relação de intimidade e confiança cresçam estimulando a entender-se, a entender o outro e assim entender o mundo (SILVA, 2020, p.246).
Conversar se faz necessário desde quando estamos no ventre de nossas mães. Nas primeiras fases da criança, na escolarização, na adolescência e na vida adulta. Como dizia Aberlado Barbosa – o Chacrinha: “Quem se não comunica se estrumbica”, é procurar pelo em ovo. A comunicação é necessária, o diálogo é necessário, lógico pautado no respeito entre as partes envolvidas neste dialogo.
Com isso, há uma necessidade da ampliação dos espaços de diálogo, com uma intencionalidade, que estimule e faça essa criança pensar suas ações no espaço comum, mesmo que ainda não exerça um pleno domínio sobre este espaço, mas age sobre o mesmo, transformando-o continuamente, ou seja, pensar-repensar- pensar é uma maneira de iniciar essa criança na tomada de decisões trazendo à tona seus anseios e vontades, para que resolva seus problemas de forma individual (decisão unilateral) ou coletiva (decisão tomada a partir do pensar e ouvir outros atores envolvidos – amigos/ educadores/ ele – não necessariamente nesta ordem ou com todos estes envolvidos), (SILVA, 2020, p.246).
Qual é a intenção de comunicar um fato? Falar, narrar, expor uma ação, um pensamento, uma dor, uma insatisfação, uma angústia, uma ideia, uma solução, trocar afetos, elogios, entre muitas outras ações emaranhas nesta pergunta. Isto é, toda comunicação tem uma intenção, uma intencionalidade por trás. Agregando ideias, atitudes, ações, conceitos, filosofias e pensamentos. SILVA (2020) diz que “existem algumas pessoas que realmente não dão importância ao pensamento da criança, adolescente e do adulto”, mas é necessário esse processo de escuta, e de diálogo em todas as etapas de nossas vidas. O diálogo é fonte de vida.
É necessário estabelecer formas de diálogos com todos os agentes inseridos no contexto educacional: estudantes, professores, gestores (coordenadores, diretores e supervisores), famílias, comunidade local, outros funcionários da escola (como equipe de limpeza, cozinha, inspetoria e secretaria). De modo que todos se escutem, se vejam, se olhem, assim teremos uma escola reflexiva, um território reflexivo e rico e muito potente na sua ação de ouvir.
2 – Uma escola reflexiva
Uma escola reflexiva é nada mais nada menos que uma escola pensante. Que observa, pensa, dialoga (fala e escuta), repensa ou pensa novamente e age. Todo esse processo é importante, não apenas o agir, como ato final, todo o processo é muito importante, não podemos desconsiderar nada! Cada processo é único e de extrema valia e com muitos aprendizados para todos atores envolvidos. Logo, a escola precisa ser considerada como um ambiente em construção permanente, e não acabado. É um espaço da construção, da produção do conhecimento, de partilhas de aprendizagens, sejam elas quais forem, e o professor é um pesquisador da sua práxis.
Um ensinar pautado na reflexão, não apenas de um conceito, mas também em ações práticas do cotidiano, resolução de problemas, compartilhamento de opiniões, o saber ouvir/escutar, o saber falar, a empatia e o companheirismo, atitudes inovadoras que causem reflexões, ações e reflexões em cada indivíduo. Ou seja, pensará numa coisa, criará estratégias para colocá-la em prática, depois que o processo estiver concluído, pensará novamente: “Como poderei aperfeiçoar essa ação?
Quais são os meios que precisam melhorar? Algo foi deixado para trás? É necessário alterar a ideia inicial?”. Essas perguntas farão toda a diferença neste processo de aprendizagem, nos abre caminhos para construção de novas ideias. O nascimento de novas ideias coerentes é resultante de novos pensamentos e novas maneiras de aprender, ressaltando que não existe uma única maneira de aprender como não existe uma única maneira de ensinar. (SILVA, 2020, p.247).
Sendo assim a escola, mas específico a sala de aula, é um grande laboratório, onde a ciência é produzida no seu chão, no campo de guerra, através das relações humanas, do contato interpessoal, de modo que a teoria do conteúdo que devem ser aplicadas pelo currículo precisam ser traduzidas na sua prática e do feedback dado pelos estudantes, não os mais inteligentes, e sim todos, já que todos tem o direito de aprender.
Dessa maneira, para saber o que de fato e como os estudantes aprendem se faz necessário estabelecer um processo de trocas justas entre professores e estudantes por meio de diálogos claros, aqui não falo de chamada oral, não que ela não seja importante como estratégias de avaliação, falo de rodas de conversas e processo de escutas ativas.
As rodas de conversas precisam ser um instrumento de ação nos ambientes escolares, como atividades avaliativas ou não (em todas as etapas da escolarização), como meio de comunicação, trocas, diálogos e aprendizagens significativas, onde todos sejam autores, protagonistas do discurso, do seu próprio discurso, participantes ativos e da escuta do discurso do outro. Tanto o ato de ouvir/ escutar como o ato de falar, respeitosamente são veículos da composição da democracia do ato de pensar.
Na escola faz necessário intervenções diárias no pensamento do estudante. O professor precisa conhecer o seu aluno, saber o que ele já sabe e aquilo que necessita saber, ou seja, o que ainda não domina. Este conhecer se dará por meio da observação e do diálogo com intervenções contundentes. Sendo assim, é muito importante dar voz e vez para as crianças, ouvi-las, saber o que pensam e dessa maneira questionar a sua forma de pensar, causando uma reflexão sobre aquilo que foi dito/pensado, com isso gera um novo pensamento ou outros processos do pensar, trazendo novas formas e estruturas de pensamentos. Há uma necessidade de quebrar o estigma de uma forma de pensar linear, única e moldada, pois cada indivíduo pensa de forma diferente. Partindo do pressuposto que os pensamentos são diferentes, únicos, individuais e ao mesmo tempo múltiplos, cada indivíduo é um ser plural e não singular. Assim, existem muitas coisas armazenadas no inconsciente que precisam vir à tona para dar vida à reflexão. (SILVA, 2020, p.246).
Vale a pena ressaltar que propor uma democracia do ato de pensar, significativa ir além de atividades engessadas impostas por um currículo, copiadas e coladas da internet, como meios únicos de aprendizagens para os estudantes de uma turma. Ressalto, nem todos aprendem da mesma maneira, aprendemos de formas diferentes. Reforço, que o ato de pensar deve ser um ato revolucionário, democrático, humano e real. Assim, ações que levam uma proposta viva para que cada estudante (sejam eles: bebes crianças, adolescentes ou adultos) traga significações diretas para a vida, mudam a vida, o modo de ver e ser, são ações e atitudes.
Repensar esse processo, para cada um, como sendo únicos é dar protagonismo e autonomia para cada indivíduo ser autor das suas aprendizagens. Já que sabemos que todos aprendem, segundo à sua maneira. Por esse meio de reflexão, a escuta atenta ou ativa ganha espaço para proporcionar novos desafios aos estudantes, já que é por ela que converso (processo de trocas – escutas e falas) com os estudantes e/ ou ouço conversar com seus pares, logo com eles, aprendo maneiras de propor ações e estratégias que possibilitam um aprimoramento de suas aprendizagens, descubro o que sabem e aquilo que necessitam saber, já que às vezes nem tudo é tão claro para o professor.
Nesta dinâmica, o estudante aprende ao conversar/ falar com o outro, aprende ao se colocar no lugar do outro, aprende ao ouvir o outro, aprende em todo o processo. Passa a entender o que é respeito na sua prática, na sua essência, na sua realidade. A utilização da escuta com meio pedagógico nos auxilia nesse processo de democratização do ato de estudar/ser/ aprender.
Sendo assim, a escuta ativa é instrumento de ação para a democratização do ato de aprender:
Escuta Ativa tem mais a ver com a postura de quem ouve, do que propriamente o fato de ouvir. Sabe aquela frase “entrou por um ouvido e saiu pelo outro”? Pois bem, a escuta ativa é o extremo oposto disto. Sendo assim, para pôr em prática a escuta ativa é necessário primeiramente se dispor a entender o outro – no contexto desse texto, o outro é a criança. É uma atitude que demanda atenção e disponibilidade de tempo e afeto. Além de se dispor a ouvir suas palavras, é importante ter sensibilidade com os sentimentos e até mesmo demonstrar corporalmente atenção. Olhar nos olhos, explicar o que for questionado e ter uma conduta respeitosa em uma atmosfera de tranquilidade são posturas que levam você a uma escuta ativa (GUINER, 2021).
Logo, todos aprendemos ao ouvir. Aprendemos como o outro vê o mundo do qual está inserido, independente de idade. Nos tornamos humanos para os humanos. Essa atitude ou ação precisa sair do eixo da sala de aula e atingir a sociedade como um todo. Todos precisam falar e todos precisam ser ouvidos, é uma troca onde todos ganham.
Esse respeito pelo outro se perde durante o processo. E porque se perde? Por que não é posto em pratica, tudo que não se pratica acaba ficando esquecido. E vamos nos tornando mais velhos e achamos que temos razão em tudo, e não é bem assim. Como dizia Paulo Freire: “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens educam-se entre si, mediatizados pelo mundo”. Ou, se preferir: “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Com esses dois pensamentos de Paulo Freire, precisamos repensar nossa pratica com educadores e como seres humanos. E entender de uma vez por todas: aprendemos em todo o processo!
Para estudantes e pais, o ato de ouvi-los pode ajudar a mostrar a importância das emoções e opiniões deles para a instituição e vai encaminhar o planejamento de retomada, prevenindo problemas como evasão escolar e desestímulo dos alunos (GUINER, 2021).
Muitos educadores se perdem nesse processo, pela falta de escuta. Na escuta, também aprendemos, sempre aprendemos. E assim como é importante ouvir a família também; é importante ouvir o que a escola tem a dizer sobre o processo do estudante; sendo neste contexto é muito fazer a experiência de ouvir o professor, como porta voz da escola e também da aprendizagem dos estudantes. E nas maiorias das vezes são calados por todos, inclusive pela instituição de ensino.
os educadores também têm seus próprios anseios e serão os agentes de linha de frente neste processo tendo o contato direto com os estudantes. Mais do que só repor todo o conteúdo pedagógico perdido, o professor vai precisar olhar para o aluno de forma individual e entender, mais do que nunca, seus limites e emoções. Mas como o educador pode ter essa sensibilidade se ele mesmo está fragilizado? Por isso, se torna ainda mais importante que a instituição lidere o diálogo com seus professores e faça a manutenção dessa relação (GUINER, 2021).
A partir deste pressuposto é de extrema importância cuidar da saúde emocional de todos os inseridos neste processo, em especial do professor, já que ele é o elo de ligação entre a família e a escola. Este suporte de escuta, seja de caráter psicológico ou na mediação de conflitos, devem aparecer em todos os processos para que nenhuma parte fique frustrado. Sendo assim, esta ação bem trabalhada, estudante ouvirá estudante; estudante ouvirá professores; estudante ouvirá equipe de apoio, estudante ouvirá a equipe gestora; professores ouvirão professores; professores ouvirão equipe de apoio; professores ouvirão a equipe gestora; equipe gestora ouvirá a própria equipe gestora. Logo, teremos uma escola ouvinte e que se preocupa realmente com a necessidade do outro e não será “coisa para inglês ver”. Teremos uma escola viva, que se escuta e não ensurdecida!
Só após a descrição do que penso e do que faço me será possível encontrar as razões para os meus conceitos e para a minha atuação, isto é, interpretar e abrir-me ao pensamento e à experiência dos outros para, no confronto com eles e comigo próprio, ver como altero – e se altero – a minha práxis educativa. Neste processo estou a descobrir-me e a conhecer-me a mim próprio como professor e a conhecer as condições em que exerço a minha profissão para poder assumir-me como profissional de ensino. Mas também neste processo estou a tomar consciência das semelhanças e das diferenças entre o meu processo reflexivo de formação e aquele que proponho aos meus alunos (Alarcão,).
Dar vozes a todos envolvidos nesse processo, é dar vida ao ambiente escola, transformação desta unidade em uma escola de resolução de conflitos, no sentido bom da palavra, na escola da escuta, na escola do pensamento, na escola da reflexão. Assim, cada um exercerá a sua função como realmente é dentro de uma escola reflexiva.
3 – Formação continuada e o ato de ler constantemente
A formação continuada é uma aprendizagem que não se esgota, necessita ser um ato constante. Uma busca incessante do professor pelo seu objeto de pesquisa – o estudante/ o aprender – e da escola de possibilitar meios e recursos para que esse aprendizado seja efetivo e eficaz.
a formação continuada é um instrumento para articular antigos e novos conhecimentos, teoria e prática, fundamentar a prática e reelaborá-la. Esses conhecimentos são construídos individualmente ou coletivamente nas práticas dos professores, à luz da teoria, possibilitando mudanças e transformações (SILVA, 2021, p. 73).
Logo, esse processo de estudo não poderá ser algo desconexo da realidade, é o ato de estudar, ler e reler, ir e voltar, registrar e observar, observar e registrar. Buscar autores que converse com a minha prática ou não, com a diretriz de pensamento da Unidade Escolar. Sendo assim, o coordenador pedagógico, ou o gestor que estará a frente desta ação, precisará de ter sensibilidade para prescrutar aquilo que necessita o processo formativo de seus membros. A formação terá sentido se oferecer acolhimento aos professores: compartilhar saberes e fazeres, ouvir e ser ouvido, estudar, ampliar olhares e possibilidades são desejos docentes que podem se converter em diretrizes para formulação de propostas de formação continuada significativas. (SILVA, 2021, p. 72).
Dar significado a formação é chamar esse professor a vida, abrir olhos às novas possibilidades de pensar, inventar, criar e recriar, de errar e também de acertar. A leitura tem papel preponderante neste processo, é por meio dela que esse conhecimento terá vida. Contudo, o mais interessado neste processo de amadurecimento profissional deve ser o professor.
No entanto, o professor também é autor da sua formação e na busca pelo conhecimento, pois precisa de ferramentas para suprir suas necessidades formativas, que emergem da prática, do contexto da sua ação pedagógica. Essa busca por conhecimento se concretiza, por meio de leituras, estudo e pesquisas que enriquecem e potencializam as práticas educativas dos professores. (SILVA, 2021, p. 73).
É essa vontade pelo aprender que norteará toda a evolução profissional do professor como docente e como ser humano, como elo de transformação entre conhecimento e o estudante, essa capacidade de dar forma ao objeto estudado, por a teoria em ação, ou ação na teoria. É de fato “vestir a camisa” como protagonista também deste processo já que ele é o primeiro interessado em aprender e refletir sobre o que aprendeu.
Mas o conceito de professor reflexivo não se esgota no imediato da sua ação docente. Ser professor implica saber quem sou, as razões pelas quais faço o que faço e conscientizar-se do lugar que ocupo na sociedade. Numa perspectiva de promoção do estatuto da profissão docente, os professores têm de ser agentes ativos do seu próprio desenvolvimento e do funcionamento das escolas como organização ao serviço do grande projeto social que é a formação dos educandos (ALARCÃO,).
A partir desse reconhecer-se professor, como agente transformador de realidades, sendo a sua a primeira a ser transformada, que vai além no seu processo criativo transubstanciando o conhecimento em ato vivo e palpável para o estudante. Neste contexto todos aprendem, um aprendem com o outro. Com isso o registro realizado do percurso feito pelo estudante potencializa o objeto estudado, pois me dará condições para refletir sobre a minha própria prática e olhar para o estudante com o foco de dar elemento para aprimorar aquilo que foi aprendido e rever meios de como foi ensinado. Deste modo, por meio da observação deste processo, é possível propor ações mais assertivas nesse processo ensino – aprendizagem.
O professor vendo isto, tem condições de planejar propostas desafiadoras aos estudantes, colocando em xeque aquilo que eles já sabem e aquilo que ainda precisam aprender, fazendo-os refletir sobre as atitudes/decisões que tomaram e que precisam ser repensadas para nascer novas abordagens do pensar. Sendo assim, a prática do pensar-repensar-pensar desde o início da escolarização faz com que a qualidade de ensino melhore porque teremos alunos mais reflexivos, que são mais atuantes em abordagens do pensar, na reflexão e na prática desta ação. A principal ação é dar significado à aprendizagem dando mais qualidade ao ato de ensinar. O pensar na forma de ensinar é um ato filosófico do professor, assim como o ato de aprender, que acontecem simbioticamente e não desconexo um do outro. Neste sentido, o ato de ensinar ocorre simultaneamente ao ato de aprender, ou seja, somos todos aprendizes deste processo, adultos e crianças (SILVA, 2020, p.248).
Um aprende com o outro, em todos os momentos, não são rivais, mas sim parceiros. É um processo de trocas justas. O professor é o elo de ligação entre a aprendizagem e a turma. É ele quem irá fazer as junções das linguagens adequando às realidades de sua turma. O professor é um pesquisador da Educação, aquele que consegue amarrar os conhecimentos, uni-los, fundi-los para que a apropriação do aprendizado aconteça. Observar a criança é o primeiro ponto (SILVA, 2020, p.248).
A observação é o primeiro meio para tudo. Observo, escuto, executo e ajo, são ações que se bem trabalhadas, evitam acidentes de percurso de ambas as partes. O registro desta ação possibilita a ampliação de ações para a evolução/ crescimento do meu objeto de estudo, não permitindo que esqueça ou perca alguma informação da ação do objeto, neste caso aqui, o estudante. Transformo o ato de ensinar em realidade, ambos saem satisfeitos, professores e estudantes. Alternando o ato/ação de ouvir e ser ouvido.
O ato de ensinar é um processo social, no qual o aprendizado se dá por todas as vertentes, ou seja, o indivíduo aprende no seu cotidiano em suas ações, que interfere na sociedade e por meio dela influenciando a vida de todos em seu entorno, derivado de suas escolhas pessoais. No entanto, também sofre com as escolhas dos outros indivíduos em sua volta. Isso se torna algo cíclico, para melhor dizer, que o aprendizado é algo constante. A educação, antes de tudo é um ato social, político e humano, cujo interesse principal é o mergulho no mundo do conhecimento. Preparar e informar. O aprender e o ensinar fazem parte do crescimento pessoal, individual e coletivo de cada indivíduo. Aprendemos e ensinamos constantemente e nunca deixamos de fazê-los. Contudo, a educação é muito mais uma aprendizagem socializada, uma necessidade social, todos ensinam e todos aprendem, deixando de lado a escola como principal responsável deste sistema (SILVA, 2020).
Faz necessário durante a formação dos professores prepará-los para os embates com os estudantes. O ato de ensinar nem sempre é calmo, com afinidades e sentimentos bonitinhos, muitas vezes é um parto, dolorido e repleto de máculas. No entanto, necessita ser um ambiente de respeito, de voz e vez, de tempos e espaços preservados, onde um escuta o outro, simbioticamente.
O aprender deve ser um processo gostoso, saboroso, no qual o aluno se delicia ao aprender e aprende com prazer, desta forma fazendo com o conhecimento ganhe significado em sua vida. Assim, não fica perdido, tudo é construído visando o pleno desenvolvimento do educando. Neste contexto, a relação professor/ aluno ganha novo sentido, sendo este sentido único, de respeito e cumplicidade, e as trocas acabam sendo muito produtivas, pois o conhecimento não tem dono, cada um aprende da sua forma, do seu jeito e ao seu tempo, ocorrendo uma valorização ao conteúdo aprendido. E a novidade gera novas vontades de aprender. Estimula ao conhecimento, aguça a curiosidade. (SILVA, 2020)
Na formação continuada, pouquíssimas vezes param para conversar sobre o emocional e o psicológico do professor, é como se não o tivessem. Assim, a escola grita. O corpo do professor também fala, e reafirma essa rejeição que sofre por falta de materiais e de espaço da instituição em propor ações que o ajudem, que o aliviem. É um espaço que carece de mais incentivos e fomentos para novos estudos. Eles, os professores, só precisam ser ouvidos. A escola pública só precisa ser ouvida. Assim se faz uma educação com Educação, sem silenciá-la.
4- Conclusão
A Educação brasileira sempre vem em segundo plano na esfera politica nacional, desde o suposto descobrimento e o encobrimento de falácias públicas dentro dos anais da história. Sucateada, desprezada e silenciada por este sistema fétido, vem se rastejando por mais de 500 anos. Se é que um tivemos uma educação, representasse a nossa nação. Sabemos, que não podemos contar com os nossos governantes e que muitas vezes precisamos lutar por nós mesmos. Uma luta solitária, vagarosa e desumana.
Porém, grandes nomes se levantam todos os dias no chão da escola, para marcar território e fazer história na vida desta nação, são os pensadores sem faces, que escrevem suas práticas pedagógicas na lousa com giz, que marcam a vida de seus estudantes de uma maneira única, onde que 2 ou 3 nomes destacam no estrelato da profissão, divulgando suas ações. E na verdade, todo profissional de qualquer área precisou um dia passar pelas mãos de um professor. Seja ele quem for.
A educação vem mudando, o mundo vem voando e os homens muitas vezes não acompanham essa dimensão do tempo e espaço, uma incorruptibilidade que não transcende, se estagna. Vimos neste processo pandêmico que iniciou em 2020, vários gritos de socorro desesperados que surgiram no contexto social de exclusão, onde escola para todos, teve que esquecer o “todos” e ser para “alguns”, e no seu muito, pouquíssimo atingiram o esperado, se é que podiam esperar alguma coisa, apenas que permanecessem vivos.
Muitas ações foram feitas neste país, foram apenas feitas. Nos deparamos com profissionais exaustos, cansados e sobrecarregado com o tempo e a ação do seu magistério. Porém, vimos educadores que entraram nas casas de seus estudantes e lecionaram da melhor forma que puderam. O professor é o grande mediador neste processo escolar. É ele que intervém dentre as expectativas das crianças, quem faz os ajustes necessários para que a intenção do conhecimento seja atingida, quem organiza o tempo e espaço no dia-a-dia da turma, buscando diálogos coerentes com cada criança. (SILVA, 2020, p.245). Em muitos casos esse diálogo se expandiu numa crescente, e isso foi muito bom. As trocas e o compartilhar as vivencias, ajudaram a compartilhar as dores sofridas.
Mas agora, como o retorno, vejo “com atitudes e ações de um educador ousado e incansável na prática da eficácia do ensinar, refletida na ação do pensar. É este professor quem faz a diferença num sistema educacional no Brasil nos dias de hoje (SILVA, 2020, p.245)”. Seja ele no ensino presencial, hibrido ou online, é a criatividade e a genialidade destes grandes nomes que fazem a diferença, lá no chão em que pisam.
A formação continuada precisa ser ofertada de maneira equitativamente, para todos. A leitura precisa ser de fato, impregnada na alma dos professores, para que seja transformadores de realidades. “A busca pelo conhecimento e a maneira de compartilhá-lo são as ferramentas necessárias para instrumentalizar o ofício do professor. É ele quem irá direcionar o olhar do educando numa perspectiva social, política, moral, filosófica, humana e sentimental, (SILVA, 2020, p.245)”.
Uma educação pautada no diálogo, no ato de ouvir e no ato de falar e o que merece todo estudante contido neste território. Sendo que todos aprendem em todos os momentos, cada criança, adolescentes e adultos aprendem em todo o tempo.
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