A IMPORTÂNCIA DO EXERCÍCIO FÍSICO NO TRATAMENTO DE TRANSTORNOS DE ANSIEDADE E DEPRESSÃO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411011552


Tuane Camara Rodrigues1
Prof. Me. Carlos Eduardo Vaz Lopes2
Prof. Me. Claudemir do Nascimento Santos3
Prof. Esp. Lucila Neves Cruz4


RESUMO

As demandas da atualidade com o avanço das tecnologias têm provocado alertas importantes a respeito da saúde física e mental das pessoas em escala mundial. Relatórios de órgãos especializados em saúde alertam a necessidade de uma rotina fisicamente ativa, não apenas como prevenção de diversas patologias, mas também como tratamento para boa parte delas. A prática regular de exercícios físicos vem sendo discutida em vários trabalhos que abordam tanto a prevenção, quanto o tratamento de várias doenças, dentre elas os transtornos de ansiedade e a depressão. O presente artigo teve como objetivo demonstrar os benefícios do exercício físico no tratamento de indivíduos acometidos por esses transtornos psicológicos, demonstrando através de uma pesquisa bibliográfica narrativa, os mecanismos pelos quais o exercício aeróbico e anaeróbico contribui na melhora dos sintomas desses indivíduos e na diminuição das taxas de ansiedade e depressão.

Palavras-chaves:

Ansiedade; Depressão; Exercício físico; Transtornos de humor.

  1. Introdução.

O avanço das tecnologias e do uso das redes sociais vem provocando mudanças significativas no ritmo de vida da população e exigindo comportamentos diversos na adaptação para essa realidade (Calvetti e Lenhardtk, 2017). O aumento das demandas e estímulos recebidos diariamente, além das expectativas e pressões decorrentes do mundo moderno, acabou levantando importantes alertas de saúde nos últimos anos. Dentre eles, um dos mais significativos é sobre patologias ligadas a Transtornos de Ansiedade e Depressão.

De acordo com um estudo feito pela OMS (Organização Mundial da Saúde) que foi divulgado em 2017, o Brasil é líder mundial quando se fala em casos de Transtornos de Ansiedade. Dados divulgados em junho deste ano confirmam a prevalência e apontam que 26,8% da população brasileira já recebeu diagnóstico médico da doença e 12,7% relatam já ter recebido diagnóstico médico de depressão.

Outro alerta importante divulgado pelos órgãos competentes nos últimos anos é sobre a prática de exercícios físicos regulares como prevenção para as patologias mais recorrentes da atualidade. No ano passado a OMS divulgou um documento intitulado “Status Global sobre Atividade Física 2022” com dados de 194 países, alertando que dentre os anos de 2020 e 2030 cerca de 500 milhões de pessoas desenvolverão doenças cardíacas, obesidade, diabetes ou demais doenças não transmissíveis relacionadas à inatividade física. Estudos apontam que tais comorbidades também podem atuar como potencializadores de sintomas em pessoas diagnosticadas com transtornos de ansiedade e depressão (Santos, 2018).

Considerando a seriedade dos alertas emitidos pelas autoridades nos últimos anos e a relevância da discussão a respeito das mazelas consequentes da modernidade, o objetivo do presente estudo é disseminar, através do embasamento científico, quais os efeitos do exercício físico regular quando aliado aos tratamentos mais comuns em indivíduos ansiosos ou depressivos e, consequentemente, os benefícios do exercício físico na promoção da saúde e do bem-estar.

2. Metodologia.

O presente estudo foi feito a partir de uma pesquisa bibliográfica de caráter narrativo, com as referências principais publicadas entre 2017 e 2023, com o objetivo de demonstrar e explorar, através de artigos científicos encontrados nas plataformas Google Acadêmico, sciELO.br e plataformas de publicações acadêmicas de universidades brasileiras, os benefícios do exercício físico na melhora dos sintomas e da qualidade de vida em indivíduos acometidos por Transtornos de Ansiedade e Transtornos Depressivos, quando aliado aos tratamentos mais comumente utilizados, como os fármacos e a psicoterapia.

Segundo GIL (2002), “A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos.”. Ou seja, a pesquisa bibliográfica possui grande relevância, já que sua principal característica é a facilidade de um tema ser abordado em estudo, considerando a vasta quantidade de conteúdo disponível e a praticidade de acesso aos livros e artigos para consulta por conta da acessibilidade que a internet proporciona neste sentido.

Os artigos e demais publicações utilizadas para a produção deste artigo encontram-se nas referências bibliográficas e suas respectivas citações devidamente marcadas ao longo do trabalho.

3. Revisão Bibliográfica.

Os Transtornos de Ansiedade e Depressão.

Apesar de a ansiedade ser uma manifestação natural e necessária para a sobrevivência dos seres humanos, em excesso ela se torna uma patologia (Baleotti, 2018). É ela a responsável por preparar o organismo para momentos de confronto e de perigo, mobilizando recursos físicos e psicológicos para que o indivíduo esteja alerta e pronto para reagir com o menor prejuízo possível em uma situação difícil, seja diante de uma prova, ou da iminência de uma queda ou acidente. Já a ansiedade patológica, ou seja, os Transtornos de Ansiedade, segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM – 5 (2014), “se diferenciam do medo ou da ansiedade adaptativos por serem excessivos ou persistirem além de períodos apropriados ao nível de desenvolvimento.” Isto é, quando a inquietação e a preocupação possuem intensidade e duração desproporcional à situação ou ameaça, causando sofrimento e prejuízos funcionais e sociais ao indivíduo.

Os sintomas dos transtornos de ansiedade variam de acordo com as situações que os desencadeiam e se apresentam tanto no aspecto cognitivo quanto fisiológico. Segundo Araújo, Mello e Leite (2007):

“No aspecto cognitivo, as reações e/ou sintomas podem ser caracterizadas por sentimentos subjetivos como apreensão, tensão, medo, tremores indefinidos, impaciência, entre outros; no aspecto somático, por alterações fisiológicas nos vários sistemas do organismo, como taquicardia, vômitos, diarreia, cefaleia, insônia e outros.”

Já a depressão, ainda segundo o DSM – 5, é caracterizada pela “presença de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo.” Seus sintomas são flutuantes e podem ter a intensidade alterada sem causa aparente e se apresentam com ênfase no campo cognitivo, marcados por apatia, letargia e sentimentos de inutilidade e culpa excessiva ou inapropriada; e no campo fisiológico com alterações do sono e do apetite.

Ambas as patologias podem estar associadas entre si, ou vinculadas à outras doenças, como obesidade e alterações hormonais. Para os transtornos citados o tratamento costuma envolver a utilização de fármacos, psicoterapia e como muitos estudos mostram nos últimos anos, a aplicação de terapias secundárias, como atividades artísticas e exercícios físicos.

4. Dados Populacionais e Possíveis Causas.

Segundo o artigo “Prevalência de ansiedade e fatores associados em adultos”, os transtornos de ansiedade são mais frequentes em adultos e são mais prevalentes entre mulheres, além de estarem associados a condições socioeconômicas e ao uso de substâncias lícitas, como o álcool e o cigarro. Segundo os autores, as altas prevalências encontradas para agorafobia, Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) e fobia social, podem estar relacionadas ao grupo social em que o indivíduo está inserido, às dificuldades de adaptação ao meio, problemas no trabalho ou no ambiente educacional, devido às experiências desagradáveis como desaprovações. (Costa et. al., 2019)

Nesse estudo foi constatado que, quando comparadas aos homens em todos os quadros investigados, as mulheres foram mais acometidas pelos transtornos de ansiedade. Provavelmente essa prevalência se dá pela pressão social que recebem e pela jornada de trabalho com renda inferior, fazendo com que muitas precisem trabalhar mais para manterem sua família, principalmente em casos em que elas são mães que precisam cuidar do(s) filho(s) com a alienação parental por parte dos pais. COSTA et. at. (2019) ainda realçam que outra justificativa pode ser a exposição à violência contra a mulher enfrentada cotidianamente, provocando uma constante sensação de medo, angústia e ansiedade. Reforçando esse estudo, há dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2017, apontando que os transtornos de ansiedade alcançam maiores proporções no continente americano quanto à relação por sexo: para as mulheres o número é de 7,7%, enquanto para os homens é de 3,6%.

          O estudo de COSTA et. al. (2019) demonstra que, apesar de não haver muitos estudos no Brasil correlacionando a raça/cor da pele com os transtornos emocionais, a questão

“pode interferir nas oportunidades educacionais, financeiras e sociais, influenciando a posição socioeconômica no contexto atual de quem vive no país. E as características socioeconômicas apresentam maior relação com os transtornos de ansiedade do que a própria raça do indivíduo.” (COSTA et. al. 2019)

            O estudo demonstrou que a idade mais vulnerável para a ansiedade é entre 18 e 35 anos, tanto para homens quanto para mulheres, pois é a fase em que se está em busca de reconhecimento profissional, construção do patrimônio financeiro e, muitas vezes, vivendo a experiência da maternidade e da formação familiar. Quanto a crianças e adolescentes, o estudo aponta uma variação de 3,3% e 32,3% nas taxas de transtornos de ansiedade, o que significa que, além dos danos no desenvolvimento durante essa faixa etária, pode haver consequências para a vida adulta, acarretando prejuízo funcional e social. Isso porque, muitas vezes, os problemas de baixa escolaridade surgem entre a infância e adolescência e costuma se refletir em uma situação de menor renda e piores condições básicas de vida e de oportunidades de trabalho.

          Com relação às questões socioeconômicas, COSTA et. al. (2019) dizem que:

“A exposição a condições socioeconômicas mais desfavorecidas e fatores relacionados (violência, dificuldade de acesso aos serviços de saúde, desemprego, má distribuição econômica, entre outros) pode ser potencializadora dos quadros de ansiedade, facilitando tanto o surgimento como o agravo daqueles já existentes.”

            As condições de vulnerabilidade citadas pelos autores costumam ser também fatores determinantes para o sobrepeso e a obesidade.

Sobre essa correlação fica evidente no estudo que:

“mais de 50% da amostra estava acima do peso, e 20% desses eram obesos. Apesar de a obesidade não estar classificada como um transtorno psiquiátrico, obesos apresentam maior incidência de psicopatologias. Entretanto, as complicações psiquiátricas são muito difíceis de ser caracterizadas nos casos de obesidade, ou seja, a obesidade pode gerar quadros psiquiátricos, mas também pode ser consequência deles.” (COSTA et. al. 2019).

            Em outras palavras, a presença de doenças crônicas, sejam elas de qualquer origem e a privação do acesso aos serviços de saúde, induzem um permanente estado de preocupação resultando em quadros de ansiedade crônica. Por outro lado, os transtornos de ansiedade e os transtornos depressivos, podem gerar traumas disparadores para outros problemas de saúde, como a obesidade. Em indivíduos com TAG e Transtornos Depressivos os sintomas podem aumentar o sedentarismo e desregular os hábitos alimentares, provocando doenças sistemáticas sérias como pressão alta, dislipidemias e diabetes.

3.3 Benefícios do exercício físico no tratamento de transtorno de ansiedade e transtornos depressivos.

A quantidade de pesquisas a respeito dos benefícios da prática constante do exercício físico tem crescido nas últimas décadas. Segundo Vaisberg et. al. (2010), o conhecimento a respeito das incapacitações funcionais proporcionadas pelas doenças mentais estimulou um maior número de pesquisas na área, o que permitiu mostrar cientificamente os benefícios das atividades físicas também no campo dos transtornos mentais. Os autores citam Frazer et. al. (2005), mostrando que desde o início dos anos 2000 já havia estudos preocupados com o tema.

“A atividade física regular ou a prática de exercícios físicos podem ser estratégias consideradas eficazes no tratamento da depressão, uma vez que ambas podem propiciar benefícios agudos e crônicos, como: melhora do condicionamento físico, diminuição da perda de massa óssea e muscular; aumento da forma, da coordenação e do equilíbrio; redução da incapacidade funcional, da intensidade dos pensamentos negativos e das doenças físicas; promoção da melhoria do bem-estar e do humor.” (Frazer et. al. (2005) apud Vaisberg et. al. (2010)).

            Do ponto de vista fisiológico, tanto o exercício físico quanto os transtornos de ansiedade e os transtornos depressivos costumam estar ligados ao funcionamento das monoaminas, ou seja, neurotransmissores e hormônios responsáveis pela regulação do humor e de outras funções importantes no organismo humano (Silva et. al., 2021). As principais monoaminas envolvidas nesses transtornos e relacionadas aos efeitos fisiológicos do exercício físico são:

  • Noradrenalina: responsável pelo aumento da disponibilidade de energia para uso imediato na quebra de glicogênio no fígado e no músculo esquelético, e pelo aumento da taxa de fornecimento de oxigênio;
  • Dopamina: responsável pelo movimento muscular e crescimento dos tecidos, além de atuar em comportamentos ligados à exploração, vigilância e busca pelo prazer;
  • Adrenalina: junto com a noradrenalina, está presente em importantes tecidos do organismo, como coração, músculo esquelético, tecido adiposo e células hepáticas. Suas funções envolvem o aumento do ritmo cardíaco, a degradação do glicogênio nos músculos, degradação de gordura no tecido adiposo, além da constrição de alguns vasos sanguíneos e o aumento das atividades metabólicas.
  • Serotonina: atua na regulação do humor, sono, apetite, ritmo cardíaco, temperatura corporal, no processamento de informações (percepção, atenção, memória, aprendizagem e raciocínio) e na regulação da saúde óssea.
  • Endorfina (mais especificamente a beta-endorfina): possui ação analgésica, pois age sobre as sinapses inibindo a transmissão da dor, alivia o estresse e acelera o crescimento de determinados órgãos e tecidos.

Vaisberg et. al (2010) abordam estudos nos capítulos “Exercícios e Transtornos Psiquiátricos” e “Endorfinas, adrenalina e neurotransmissores”, que sugerem que exercícios de predominância aeróbica realizados no limiar ventilatório 1 (LV-1) provocam aumento da serotonina no organismo que, como explicado acima, atua na regulação do sono, do humor e do ritmo cardíaco. Abordam ainda a diminuição do desequilíbrio no eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal, que atenua a resposta ao estresse, principalmente pela participação da beta-endorfina, que tem sua produção estimulada através do exercício físico, como uma resposta ao estresse gerado ao organismo.

“O aumento de endorfinas pelo exercício físico agudo ou crônico está diretamente ligado à redução da depressão, afirmação sustentada pelo fato de que o fenômeno “barato da corrida” é bloqueado quando se aplica naloxona, um antagonista opioide.” (Vaisberg et. al. 2010).

          Os autores também falam sobre uma proteína secretada em humanos, conhecida pela sigla BDNF (Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro, em português), responsável pela manutenção dos neurônios e pelo crescimento e diferenciação de novos neurônios e sinapses, que tem sua síntese aumentada também pelo exercício físico e sua ação influenciada pelos neurotransmissores aqui já citados, como a serotonina, e é encontrada também no músculo esquelético.

          Em resumo, de acordo com pesquisas voltadas para os efeitos fisiológicos do exercício e sua relação com transtornos de humor é correto dizer que:

“O exercício físico induz alterações significativas na homeostasia e possibilita, dessa forma, níveis ótimos de secreção, liberação e concentração de uma variedade de hormônios, neuro-hormônios e neurotransmissores no ser humano, capaz de criar uma nova organização fisiológica, morfológica e psicobiológica.” (Vaisberg et. al. 2010)

            Em relação ao exercício aeróbico, o artigo “O impacto positivo da atividade física na redução dos níveis de ansiedade: um estudo piloto”, demonstra através de uma pesquisa feita com 512 indivíduos entre 18 e 60 anos, sendo 256 deles fisicamente saudáveis e ativos, e 256 indivíduos igualmente saudáveis, mas sedentários; que a ocorrência de sintomas de transtornos de ansiedade é três vezes maior nos sedentários quando comparados com os fisicamente ativos. Alves et. al. (2018) evidenciam que nos dois grupos estudados houve uma prevalência dos sintomas no sexo feminino:

“Em ambos os grupos, mulheres tiveram níveis maiores de ansiedade quando comparados aos homens. Além disso, a prevalência de ansiedade severa em mulheres sedentárias é muito maior se comparada com as fisicamente ativas.” (ALVES et. al. 2018)

            De acordo com o gráfico apresentado pelos autores presente aqui na Figura 1, o resultado do estudo esclarece que, apenas a ansiedade leve, aquela considerada necessária para os seres humanos, se mostrou maior nos indivíduos ativos do que nos sedentários. Já os níveis patológicos de ansiedade, especialmente os mais severos, são muito mais comuns em indivíduos sedentários.

Figura 1: Prevalência de Ansiedade.

Fonte: The positive impact of physical activity on the reduction of anxiety scores: a pilot study.

Quanto ao exercício resistido, Oliveira (2021) expõe no artigo “Os benefícios do treinamento de força para controle da ansiedade e depressão em jovens e adultos”, a relevância da musculação, visto que o índice de lesões dessa modalidade é baixo e proporciona aumento das capacidades físicas de uma forma mais adaptativa ao praticante, sendo moldado de acordo com o nível de treinamento individual.

Silva et. al. (2021) apontam que “mesmo que a maioria dos estudos afirmem que o exercício físico aeróbico seja o que mais traga efeitos antidepressivos, novos estudos apontam que o exercício físico anaeróbico proporciona o mesmo efeito antidepressivo.”

Assim como os exercícios aeróbicos, o exercício resistido também estimula a produção dos hormônios e neurotransmissores ligados ao humor, promovendo bem-estar físico, relaxamento, redução nos níveis diários de estresse, melhora na qualidade do sono e a autoconfiança em função do progresso nas habilidades físicas, e muitas vezes até estéticas, contribuindo para uma autoestima mais elevada (Batista e Oliveira, 2015).

Segundo Guilger, Rúbia e Bastos (2017) apud Oliveira (2021) há também os benefícios sociais, pois os praticantes de musculação aos poucos se tornam mais seguros e estabelecem maior integração com a comunidade, mantendo assim as funções sociais preservadas, ou até mesmo conseguindo recuperá-las gradativamente, nos casos em que há isolamento social provocado pelos transtornos de ansiedade e/ou pela depressão.

3.4 Observações a respeito da frequência, do volume e da intensidade do exercício físico em indivíduos com Transtornos de Ansiedade e Depressão.

De acordo com o material utilizado para a produção deste trabalho, ficou claro os mecanismos fisiológicos, psicológicos e sociais pelos quais o exercício físico auxilia no tratamento de indivíduos que sofrem com transtornos de ansiedade e depressão. Mas para que essas respostas possam ser observadas, é necessário que a prática do exercício seja regular, independente das variáveis agudas do treinamento:

“quanto mais frequente é a prática de exercício, menor é a presença de transtornos psicológicos e muitos agentes estressores tendem a reduzir sua força na medida em que o hábito do exercício físico aumenta” (Krause e Liang, 2023 apud Silva et. al., 2021).

            Reforçando essa teoria, Weinberg e Gold (2017) dizem que os maiores efeitos do exercício físico são produzidos em treinamentos de pelo menos nove semanas e que todas as durações de exercícios reduziram significativamente a ansiedade, apesar dos efeitos maiores terem sido observados em períodos de até 30 minutos de duração, especialmente sob condições de intensidade moderada. Os autores afirmam ainda que “as reduções na depressão após exercício físico não dependem de níveis de condicionamento físico”, e reforçam que as

“reduções no estado de ansiedade e na depressão após o exercício aeróbico podem ser alcançadas com intensidades de exercício entre 30% e 70% da frequência cardíaca máxima. […] Se o exercício for anaeróbico (como a musculação), os efeitos de melhoria do humor parecem evidentes em uma faixa mais baixa (30% a 50%) da frequência máxima cardíaca.” (Weiberg e Gold, 2017)

          Quanto à intensidade, Oliveira (2021) ressalta que, para indivíduos que sofrem de transtornos de ansiedade, o ideal são exercícios de baixa a moderada intensidade, sejam eles aeróbicos ou resistidos. Segundo o autor, exercícios resistidos intensos e exercícios aeróbicos acima do limiar ventilatório 2 devem ser evitados para que não ocorra uma concentração grande de lactato e ácido lático na corrente sanguínea. Ainda segundo o autor, esse acúmulo pode provocar dores musculares intensas e cansaço excessivo, provocando alterações bruscas em algumas respostas fisiológicas, o que pode resultar em complicações na realização de tarefas cotidianas e assim desestimular indivíduos com transtornos de ansiedade e depressão, que têm por característica geral evitarem situações que gerem desconfortos bruscos e intensos.     

          De acordo com Souza (2019), a progressão da intensidade e do volume do treinamento de força (musculação) deve ocorrer através de uma periodização linear com intervalos de um minuto de descanso entre as séries.

4. Considerações Finais.

De acordo com a pesquisa aqui apresentada, infere-se que a saúde física está intrinsecamente ligada à saúde mental e que é necessário considerar o indivíduo como um todo, já que os mecanismos fisiológicos psicológicos que colaboram na prevenção e no tratamento das patologias de humor, como os transtornos de ansiedade e os transtornos depressivos, estão ligados também à manutenção de um organismo fisicamente saudável e ao desenvolvimento de diversas habilidades e competências físicas, cognitivas e sociais; que são acionadas e/ou desenvolvidas e exploradas com a prática regular de exercícios físicos, sejam eles aeróbicos ou anaeróbicos.

  Os estudos envolvidos mostraram o tamanho dos benefícios do exercício físico na manutenção da saúde emocional e física, e a forte influência na melhoria dos sintomas quando utilizado como auxiliar no tratamento de pessoas que sofrem com transtornos de ansiedade e depressão, independente do condicionamento físico do indivíduo ao iniciar a rotina de exercícios.

Por fim, é possível afirmar então a importância do profissional de educação física na promoção da saúde da população como um todo, já que o exercício tem a capacidade de prevenir e colaborar com a melhora de patologias sistêmicas e de ordem mental e emocional.

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1 Bacharel em Educação Física pelo Centro Universitário Augusto Mota (UNISUAM)
Instituição: (Centro Universitário Augusto Mota – UNISUAM)
Endereço: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
E-mail:tuane.camara@hotmail.com

2 Mestre em Ciências da Atividade Física pela Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO)
Instituição: (Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ)
Endereço: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
E-mail: efcarloslopes@gmail.com

3 Mestre em Ciências da Reabilitação Humana pelo Centro Universitário Augusto Mota (UNISUAM)
Instituição: (Centro Universitário Augusto Mota – UNISUAM)
Endereço: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
E-mail: claudemirsantostreinador@gmail.com

4 Especialista em tutoria Online
Instituição: (Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM)
Endereço: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
E-mail: lncruz@globo.com