RELATO DE CASO: TRATAMENTO DE MASTOCITOMA CANINO COM STELFONTA®

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202410282330


Márcio Franco da Rosa Credidio; Tatiane Aparecida Correa dos Santos; Marcelle Lobato; Ana Carolina Ribas de Almeida; Vanessa Andrade Moreira dos Santos; Bruno Mateus Santos; Vrinda Ananda Garcia da Costa; Bianca Soares Cezario; Matheus Augusto de Paula Claudino; Gustavo Amaral de Souza Almeida


Resumo

O mastocitoma é uma neoplasia cutânea comum em cães, representando cerca de 20% dos tumores de pele dessa espécie. Seu comportamento biológico é variável, podendo ser benigno ou maligno. O tratamento principal é a ressecção cirúrgica, mas opções alternativas são necessárias quando a cirurgia não é viável. Este relato descreve o caso de uma cadela de 11 anos com mastocitoma recidivante na área do cotovelo, tratado com tigilanol tiglato (Stelfonta®), um novo tratamento intratumoral. Após uma única aplicação, o tumor necrosou e a área cicatrizou sem complicações. O uso de Stelfonta® mostrou-se eficaz, representando uma opção terapêutica promissora em casos onde a cirurgia é contraindicada.

Palavras-chave: Mastocitoma canino; Stelfonta; oncologia veterinária; tratamento não cirúrgico.

Abstract

Mast cell tumors are a common cutaneous neoplasm in dogs, accounting for about 20% of skin tumors in this species. Their biological behavior can vary, ranging from benign to malignant. Surgical excision is the primary treatment, but alternative options are needed when surgery is not feasible. This case report describes an 11-year-old female dog with a recurrent mast cell tumor in the elbow area, treated with tigilanol tiglate (Stelfonta®), a new intratumoral treatment. After a single application, the tumor necrosed, and the area healed without complications. The use of Stelfonta® proved to be effective, representing a promising therapeutic option for cases where surgery is contraindicated.

Keywords: Canine mast cell tumor; Stelfonta; veterinary oncology; non-surgical treatment.

1. Introdução

O mastocitoma está entre as neoplasias cutâneas que ocorrem com maior frequência em cães. Totalizando cerca de 20% de todos os tumores de pele caninos, é a neoplasia maligna com segunda maior incidência nessa espécie, atrás apenas do tumor de glândula mamária (de Nardi et al., 2022). Essa neoplasia é caracterizada pela hiperproliferação de mastócitos neoplásicos originários da derme e apresenta um comportamento biológico variável, podendo se mostrar numa forma benigna, que não compromete o estado clínico do animal ou apresentar comportamento maligno capaz de provocar óbito se não tratado (Prado et al., 2012; Melo et al., 2013).

Existe uma predisposição maior de aparecimento de mastocitoma em raças como Boxer, Bulldog Frances, Golden Retriever, Labrador e Dachshunnd, enquanto outras raças apresentam uma probabilidade menor de apresentarem esse tipo de tumor como Pastor Alemão, Poodle, Yorkshire e Cocker Spaniel. Não foi confirmada predileção sexual. Quanto à idade, o mastocitoma pode aparecer em qualquer idade, no entanto é mais comum em cães mais velhos (de Nardi et al., 2022).

Tem uma tendência maior de surgir na porção posterior do corpo, com maior incidência no flanco e escroto. Inicialmente o tumor se apresenta como uma massa cutânea saliente com dimensões de 1 a 3 centímetros de altura e 2 a 5 centímetros de diâmetro. Com frequência pode-se apresentar prurido, eritema, edema e úlceras (Goldschmidt, 2002 apud Lopes; Lot; Zappa, 2009).

O tratamento dessa afecção vai depender do estado clínico do animal e do grau histológico do tumor. A modalidade de tratamento de escolha ainda é a realização de ressecção cirúrgica do mastocitoma, respeitando as margens de segurança adequadas. Pode ser necessário realizar também tratamento medicamentoso, após o procedimento cirúrgico, com quimioterápicos antineoplásicos (Melo et al., 2013).

Em casos em que a cirurgia não é viável ou pode comprometer a qualidade de vida do paciente devem ser consideradas outras opções terapêuticas. O tigilanol tiglato (Stelfonta ®) é uma nova alternativa terapêutica veterinária aprovada para tratamento intratumoral de mastocitoma não metastático na Austrália, Estados Unidos, reino Unido e União Européia (Brown et al., 2022).

Tiglato de tigilanol é uma molécula sinalizadora celular potente com um modo de ação multifatorial que envolve a indução de uma resposta inflamatória aguda localizada, recrutamento de células imunes para o local de tratamento e a interrupção da vasculatura tumoral. Em doses intratumorais eficazes, esses processos causam necrose hemorrágica do tumor-alvo e sua destruição resulta na criação de um déficit tecidual no local do tratamento, que é deixado descoberto e geralmente cicatrizam sem complicações, sem a necessidade de intervenção veterinária direta (Brown et al., 2022).

2. Relato de caso

Uma cadela, sem raça definida, de 11 anos de idade foi encaminhada para clínica veterinária por apresentar três nódulos cutâneos em diferentes regiões do corpo.

Após avaliação foi decidido realizar remoção cirúrgica dos nódulos e realização de exame biohistoquímico para determinação precisa das características do tumor. O exame confirmou a suspeita de mastocitoma.

Um dos nódulos, localizado na área do cotovelo do animal, apresentou recidiva após a recuperação cirúrgica do paciente. Um novo procedimento cirúrgico se mostrava inviável pela impossibilidade de remoção do nódulo com margem cirúrgica apropriada devido ao seu local. Após conversa com os tutores foi decidido o uso de um tratamento novo, ainda indisponível de forma oficial no Brasil, mas de fácil aplicação e resultados muito positivos.

Esse tratamento consiste de uma droga chamada Stelfonta ®, produzida pelo laboratório Virbac ®, que possui como ingrediente ativo o tiglato de tigilanol, um éster de forbol proveniente da semente da Fontainea picrospena, um arbusto originário do norte do estado de Queensland, Austrália. Esse medicamento não requer uso de medicamentos a longo prazo e não exige anestesia geral, preservando a qualidade de vida do animal e facilitando a aplicação (Tavares, 2020).

Foi realizada uma única aplicação de Stelfonta ®, acompanhada de administração de 20mg de prednisona via oral, que já era administrada de forma recorrente para diminuição do inchaço local.

Como esperado, ocorreu necrose do tumor, com formação de crosta. Após alguns dias ocorreu queda dessa crosta, exibindo tecido de granulação que se formava por baixo. Após duas semanas o ferimento se apresentava fechado.

3. Discussão

O uso de Stelfonta® no tratamento de mastocitomas caninos representa uma alternativa promissora, especialmente para casos onde a cirurgia não é a melhor opção. O tigilanol tiglato atua diretamente no tumor, induzindo necrose e promovendo uma resposta inflamatória que resulta na destruição da massa tumoral. Neste caso, o paciente apresentou uma resposta rápida e eficaz ao tratamento, sem complicações significativas.

Estudos anteriores já demonstraram a eficácia de Stelfonta no tratamento de mastocitomas em cães. Este caso reforça esses achados, mostrando que a aplicação intratumoral foi suficiente para eliminar completamente o tumor.

4. Conclusão

O uso de Stelfonta® (tigilanol tiglato) para o tratamento de mastocitomas em cães pode ser uma alternativa eficaz, especialmente para casos em que a cirurgia é contraindicada. O caso relatado demonstra a segurança e eficácia do medicamento, resultando em regressão completa do tumor sem complicações significativas. Estudos adicionais são necessários para avaliar o uso em mastocitomas de diferentes graus e tamanhos, bem como para determinar o prognóstico a longo prazo.

5. referências

DE NARDI, Andrigo Barboza et al. Diagnosis, prognosis and treatment of canine cutaneous and subcutaneous mast cell tumors. Cells, v. 11, n. 4, p. 618, 2022. 

Lopes, Bianca Barbosa, R. E. Lot, and Vanessa Zappa. “Mastocitoma: revisão de literatura.” Revta Cient. Med. Vet. Garça. Disponível em: http://www. revista. inf. br/veterinaria/revisao/pdf/AnoVII-Edic12-Rev100. pdf. Acesso em 4 (2009).https://europepmc.org/article/MED/36387404#free-full-text

‌MELO, I. H. DE S. et al. Mastocitoma cutâneo em cães: uma breve revisão. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, v. 11, n. 1, p. 38–43, 1 jan. 2013.

PRADO, A. ; LEÃO, D. A. .; FERREIRA, A. .; MACHADO, C. .; MARIA, D. A. . MASTOCITOMA EM CÃES: ASPECTOS CLÍNICOS, HISTOPATOLÓGICOS E TRATAMENTO. ENCICLOPEDIA BIOSFERA[S. l.], v. 8, n. 14, 2012. Disponível em: https://conhecer.org.br/ojs/index.php/biosfera/article/view/3902. Acesso em: 19 out. 2024.

TAVARES, A. Virbac lança novo tratamento para tumores de pele caninos. Disponível em: <https://www.veterinaria-atual.pt/na-clinica/virbac-lanca-novo-tratamento-para-tumores-de-pele-caninos/#:~:text=Com%20tiglato%20de%20tigilanol%2C%20um,segundo%20a%20Virbac%2C%20preservar%20a>. Acesso em: 19 out. 2024.