REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/cl10202410231305
Daniela Dias de Araújo1
Luciano da Silva Buiati2
RESUMO
A violência contra a mulher está profundamente arraigada em uma sociedade tradicionalmente marcada por um machismo estrutural de dominação masculina nas relações entre gêneros, o que vincula a essas mulheres uma exposição a agressões subjetivas e objetivas, trazendo consequências que se concretizam em danos biológicos, sociais e psicológicos, que dificultam em um viver pleno e igualitário. As diversas formas de manifestações da violência contra a mulher que persistem ao longo da história, corroboram com a necessidade de averiguar quais são os impactos causados na saúde e vida de quem as sofre. Nesse estudo de caráter qualitativo descritivo, analisou-se as causas da permanência dessas mulheres em situação de risco, e quais são os impactos na saúde física e mental dessas mulheres. A análise dos artigos selecionados apontou diversos fatores que contribuem com a dificuldade em romper o ciclo violento, onde destacou-se a dependência emocional e financeira, e a necessidade de uma rede de apoio mais enfática e menos burocrática. Em relação a saúde mental a exposição contínua a violência doméstica causa um alto impacto emocional que está diretamente ligado a alterações cognitivas e estão associados aos transtornos mentais, em relação a violência contra a mulher os transtornos depressivos apareceram em destaque. A violência doméstica afeta negativamente a qualidade de vida e os aspectos sociais de quem as vivencia, o papel do profissional em saúde mental é extremamente importante no processo de escuta e acolhimento no intuito de transformar e fortalecer a autonomia dessas mulheres.
Palavras-chave: Acolhimento; Agressão; Feminicídio; Psicopatologia; Políticas Públicas.
1. INTRODUÇÃO
A violência doméstica e familiar contra as mulheres é um grave problema global, que se apresenta de diversas formas, que se configura nas relações entre os sexos, toda e qualquer situação que possa motivar vulnerabilidade ou risco de violência (EVANGELISTA, 2017).
Os conflitos e desentendimentos no âmbito de convivência familiar são intrínsecos às relações humanas, a sociedade ainda tem enraizada uma construção sócio histórica patriarcal que compreende a falta de entendimento que se perfaz em atos de violência e agressividade cujo as mulheres são o alvo principal (ALVES; OPPEL 2021). De acordo com Lucena et al.(2016) a exposição das mulheres a agressões objetivas e subjetivas tanto no espaço privado quanto no público, faz parte de uma relação social historicamente marcada, espontaneamente legitimada, que traz consequências biológicas, psicológicas e sociais, que dificultam a experiência de um viver pleno e igualitário.
De fato, são várias as hipóteses que culminam na permanência do ciclo da violência doméstica, dependência financeira ou emocional, os filhos, o medo, a vergonha, a insegurança, compreende-se que seria necessária uma rede de apoio mais enfática e menos burocrática, que muitas vezes deixam as vítimas com medo da morte (Lucena et al. 2016).
A violência de gênero é de caráter social, advindo de suas construções culturais, são produtos da sociedade não derivados da natureza, logo passíveis de mudança. Tendo em vista esse panorama, esse artigo científico de caráter qualitativo e descritivo analisou o porquê as vítimas de violência doméstica, permanecem nesse ciclo, porque é tão difícil romper o ciclo de violência mesmo após vivenciar constantemente algum tipo de situação de vulnerabilidade, incluído a violência física. objetivou-se conhecer as consequências e quais são os impactos causados na saúde física e mental dessas mulheres, explorando a relevância das informações trazidas dentro da pesquisa científica em suas dimensões Psicológicas e sociológicas. Ademais, o presente artigo irá destacar a importância do papel do Psicólogo no contexto terapêutico preventivo e efetivo, e quão fundamental é esse papel no intuito de compreender, acolher e ressignificar o sofrimento dessas mulheres.
É irrefutável que existe uma complexidade no ciclo da violência doméstica, considerando essa temática a pesquisa propôs a seguinte problemática: por que a permanência dessas vítimas em situação de risco? E quais são os impactos na saúde física e mental das vítimas de violência doméstica.
O objetivo geral da pesquisa foi compreender e analisar o ciclo de violência doméstica, as causas da permanência dessas vítimas em situação de risco, apontar os impactos na saúde física e mental das mulheres vítimas de violência doméstica. E os objetivos específicos foram apresentar o ciclo, os tipos e como se manifesta a violência contra a mulher, conceituar a necessidade de políticas públicas, e compreender as consequências e os impactos na saúde física e mental das mulheres vítimas da violência doméstica, bem como a importância do acompanhamento psicológico durante e após o ciclo de violência.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 Metodologia
O presente artigo foi desenvolvido de acordo com os princípios da pesquisa bibliográfica de caráter qualitativo e descritivo. Isto é, foi fundamentada a partir de material já elaborado sobre o tema. Foram levantados livros e artigos científicos, em bases de dados como: Scielo (25 resultados), Pubmed (14 resultados) e Google acadêmico (16 resultados). Conduziram os artigos referenciais publicados nos últimos 10 anos, os critérios de inclusão foram os materiais publicados em língua portuguesa. Os critérios de exclusão foram a violência sofrida fora do âmbito intrafamiliar. As palavras-chave utilizadas para filtrar a seleção dos referenciais foram: Violência doméstica, ciclo da violência doméstica, saúde mental, feminicídio, medidas de proteção, Lei Maria da Penha, políticas públicas, psicopatologia. Esta pesquisa foi fundamentada a partir da leitura, registro e análise dos referenciais coletados.
2.2 Resultados e Discussão
Conforme a análise do material pesquisado, o ciclo da violência doméstica contra as mulheres segue um padrão tipificado que se repete ordenadamente, e estão classificadas em cinco tipos. O estudo ainda apontou que não existe um perfil de mulher predefinido para quem sofre ou já sofreu algum tipo de violência intrafamiliar. Em geral a vítima de violência doméstica não discerne a violência no início do relacionamento, presumindo que as manifestações violentas fazem parte de uma super proteção de seu parceiro, e quando identificam acreditam poder comedir essas ações e em uma possível mudança do parceiro, o que acarreta em anos de sofrimento e de implicação psicoemocional como parte da degradação da auto estima, trazendo implicações psicológicas graves quando não tratadas adequadamente (Lucena et al. 2016).
Sobre os fatores de riscos associados à ocorrência da violência doméstica incluem características socioeconômicas e sociodemográficas, como histórico de violência no âmbito intrafamiliar na infância e adolescência, associados ao uso de substâncias químicas, o que corrobora com a perspectiva de que a violência doméstica resulta de uma heterogênea acerca de uma concepção sociológica (BERNADINO et al. 2016).
Ainda sobre a análise do conteúdo estudado muitos são os impactos na saúde física e mental das mulheres que vivenciaram o ciclo da violência doméstica, além das lesões físicas, gravidez indesejada e doenças sexualmente transmissíveis, ao experienciar continuamente a violência doméstica essas mulheres são expostas a um alto impacto emocional onde os estudos apontaram que esses estressores estão diretamente associados aos transtornos mentais, dentre eles os que mais se manifestam são: Transtornos depressivos, estresse pós traumático, transtornos do sono e alimentares e ainda, abuso de substâncias como álcool e drogas (BERNADINO et al. 2016; ROCHA, DESIDÉRIO, OLIVEIRA 2020).
Paralelamente esse comprometimento do estado emocional com conjunto com a incerteza relacionada ao sentimento por esse parceiro entre afeto e desafeto, configura esse processo de adoecimento psíquico trazendo o apego emocional e a dificuldade em se desvencilhar do relacionamento violento (EVANGELISTA 2017 BATISTA; MARQUES 2020).
Entre os artigos analisados, três utilizaram a abordagem quantitativa, e oito a abordagem qualitativa. Os métodos utilizados na abordagem quantitativa foram: Testes psicométricos (1), entrevista aberta não diretiva (1), boletins de ocorrência das polícias civis (1). As produções de abordagem qualitativa utilizaram os seguintes métodos: Entrevista semiestruturada (2), pesquisa exploratória bibliográfica (6). Todos os artigos foram publicados no Brasil em diversas áreas como, saúde, desenvolvimento humano e ciências biológicas (WAISELFIZ 2015; LUCENA et.al 2016; MELO & PEDERIVA 2016; BERNADINO et.al 2016; LAZZARI & ARAUJO 2018; EVANGELISTA 2018; SOUZA & SILVA 2019; BATISTA & MARQUES 2020; ALVES & OPPEL 2021; CARVALHO et.al 2022).
Tabela 1 – Apresentação dos estudos selecionados.
Autores | Título | Periódico | Metodologia | Ano |
WAISELFIZ | Mapa da Violência 2015 | Segurança Pública | Quantitativa | 2015 |
LUCENA et.al | Analise do Ciclo de Violência Contra a Mulher | Crescimento e Desenvolvimento Humano | Quantitativa | 2016 |
MELO & PEDERIVA | Violência Contra a Mulher Permanência da Mulher na Relação Violenta após Denuncia e Retirada da Queixa | Unoesc & Ciência | Qualitativa | 2016 |
BERNADINO et.al | Violência contra as Mulheres em Diferentes Estágios do Ciclo da Vida Estudo Exploratório | Ciências da Saúde | Qualitativa | 2016 |
LAZZARI & ARAUJO | Ciclo da Violência e as Memórias de dor das Mulheres Usuárias do CRM/CANOAS- RS | Psicologia Ciência e Profissão | Quantitativa | 2018 |
EVANGELISTA | Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar sob Risco de Morte | Fazendo Gênero Mundo de Mulheres | Qualitativa | 2018 |
SOUZA & SILVA | Estratégias de Enfrentamento de Mulheres Vítimas de Violência Doméstica: Uma Revisão de Literatura Brasileira | Casal e Família | Qualitativa | 2019 |
BATISTA & MARQUES | Reflexões sobre o Ciclo de Violência Doméstica a partir do CREAS Paranavaí/PR | Desenvolvimento Humano | Qualitativa | 2020 |
ROCHA et.al | Violência Doméstica na Clínica Psicológica Estudo Documental em um Serviço Escola do Rio Grande do Norte | Revista Científica Multidisciplinar | Qualitativa | 2020 |
ALVES & OPPEL | Violência Doméstica: Histórias de opressão as mulheres | Saúde e Família | Qualitativa | 2021 |
CARVALHO et.al | Sistema de Informação sobre a Violência Contra as Mulheres- Revisão integrativa | Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde | Qualitativa | 2022 |
As primeiras pesquisas no que concerne violência contra a mulher destacou que a violência se manifesta sob a forma de ciclo. Sendo assim os episódios são compostos por quatro fases que se repetem sucessivamente: a tensão; a agressão; o pedido de desculpas e a reconciliação. Vale ressaltar que depois de algum tempo, dias, meses até mesmo anos, o ciclo se repete e na maioria das vezes de forma mais grave (LAZZARI; ARAUJO, 2018).
De acordo com a lei 11.340, de 07 de agosto de 2006 ficou definido cinco os tipos de violência doméstica: (ALVES; OPPEL, 2021).
Violência física: Em um entendimento mais direto se caracteriza por ameaças à saúde e integridade física como: bater, sacudir, empurrar, morder, puxar os cabelos, espancar.
Violência psicológica: é reconhecida pela ação nociva à autoestima e saúde mental da mulher, comando e humilhação mediante a insultos, ameaças ou manipulações.
Violência sexual: Caracteriza se por realização de sexo sem consentimento, impedir ou forçar gravidez ou uso de preservativos, incluir a mulher em situações sexuais contrárias a sua vontade.
Violência patrimonial: Controle ou destruição de bens econômicos ou afetivos, privação de capital ou de objetos essenciais à ocupação da mulher.
Violência moral: é descrita pela difamação, calúnia, injúria ou a diminuição da mulher em ambiente social.
São muitas as retenções e privações que dificultam o rompimento do ciclo de violência, é possível considerar que existe um envolvimento afetivo emocional com esse agressor, não obstante as pesquisas mostram que são vários os motivos que se contrapõem a esse rompimento, entre eles estão: medo de sofrer uma retaliação como consequência uma violência ainda maior, vergonha de expor a situação e não saber o que a sociedade vai dizer ou pensar, o conflito do sentimento em prejudicar o agressor, esse conflito fica maior quando se tem filhos com o mesmo, no geral elas não querem que o pai de seus filhos vá preso, a culpabilidade e responsabilidade sobre a violência sofrida, não possuir condições financeiras adequadas são alguns dos motivos que aparecem nas pesquisas quando se fala em romper esse ciclo (EVANGELISTA, 2017; SOUZA; SILVA 2019; BATISTA; MARQUES 2020).
De fato, a suscetibilidade social e econômica fortalece os motivos que mais aparecem em relação a dificuldade em romper o ciclo de violência, as dependências afetiva emocional e financeira, estão listadas em primeiro lugar, esse cenário crítico faz com que as vítimas percam sua identidade e autoestima. Muitas dessas mulheres iniciam a busca de ajuda para romper esse ciclo em serviços institucionais especializados, o primeiro passo é o registro do boletim de ocorrência, mas infelizmente nesse primeiro passo na busca de resolver a situação a vítima se depara com a construção de um percurso longo em uma rede de apoio não muito enfática e burocrática, que vai trazer mais insegurança fazendo com que elas desistam logo no início e voltem a viver o ciclo. Diante do exposto é necessário enfatizar a importância de uma rede de apoio mais estruturada onde essas mulheres entendam que existe um apoio efetivo e o amparo da lei nesse momento tão difícil (EVANGELISTA, 2017; SOUZA; SILVA 2019; BATISTA; MARQUES 2020).
As pesquisas apontaram que não existe um perfil estabelecido das vítimas de violência doméstica apesar dos fatores associados englobados sociodemográficos ou socioeconômicos, ou histórico de vivenciar a violência na infância ou adolescência ou uso de substâncias, essa segregação gera a fragilização na interação multiforme entre as relações naturais construídas entre indivíduo e ambiente, o que concretiza o fenômeno, ou seja a violência atinge toda e qualquer mulher independente de sua condição social, etnia, religião e em sua maioria os violentadores são homens no qual havia um nível próximo de parentesco (BERNADINO et al. 2016; ROCHA, DESIDÉRIO, OLIVEIRA 2020).
Os impactos na vida e saúde de quem sofre a violência doméstica são inúmeros, além das lesões físicas, insônia, gravidez indesejada, doenças sexualmente transmissíveis, distúrbios gastrointestinais, perda ou ganho excessivo de peso, estresse e agressividade muitas vezes a vítima entra em um ciclo de abuso de substâncias químicas no intuito de esquecer aquele momento de dor e sofrimento. A exposição a violência devido à pressão psicológica severa, comumente se desdobra para problemas psíquicos maiores como a depressão, síndrome do pânico, transtorno de estresse pós-traumático, pensamentos suicidas, transtorno de ansiedade generalizada (TAG). Não se pode deixar de citar que além de todos esses impactos existe o risco iminente de morte dessas vítimas (BERNADINO et al. 2016; SOUZA; SILVA 2019; ROCHA et al. 2020).
Ao examinar sobre a mente do ser humano, compreende-se que a subjetividade é intrínseca a cada um em sua particularidade, muitas vezes é difícil discernir a violência psicológica fazendo com que ela progrida em problemas emocionais e psicossomáticos trazendo graves problemas de saúde, quando não identificável pode acabar em suicídio devido a sua imensa gravidade.
De acordo com Waiselfisz (2015) a violência psicológica aparece em segundo lugar nos atendimentos do SUS no mesmo ano. A violência psicológica é considerada um problema de saúde pública a necessidade de acompanhamento adequado por profissionais da saúde quando identificada antecipadamente pode ser de grande valia para que não evolua para o estágio de violência física (BERNADINO et al. 2016; ROCHA et al. 2020).
A prática da Psicologia como rede de apoio às mulheres que sofrem violência doméstica, aumentaram progressivamente e estão dispostas em diversas áreas de laboração, o profissional atuante em tal esfera, precisa estar embasado com as práticas e referências teóricas, bem como as técnicas elaboradas pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). (ROLIM;FALCKE 2018).
A atuação do Psicólogo para além do acolhimento permeia independente da abordagem ou metodologia escolhida, o desenvolvimento do vínculo terapêutico, resgatando a segurança e a confiança desta mulher, para que assim ela possa aos poucos dividir o sofrimento causado por suas experiências vividas.(RIBEIRO C, 2017).
A partir deste cenário a intervenção com foco na interação das relações buscam prevenir e combater a violência interconjugal, reforçando tal mudança nos padrões relacionais surge a desmistificação da mulher vista como vítima e do homem como agressor onde o foco passa a ser a modificação dessas disfunções relacionais, criando critérios para alcançar o entendimento assertivo livre de violência. (MACARINI; MIRANDA 2018).
Inicialmente para identificação da violência psicológica a clínica é um lugar extremamente importante onde o profissional capacitado com técnicas especializadas, com cuidado e ética pode proporcionar esse primeiro acolhimento e escuta, possibilitando a vítima de violência um lugar de livre fala sem julgamento ou impugnação, ressignificando o processo de dor e sofrimento apoiando essa vítima. A clínica através desse processo de escuta e resgate, será o lugar de transformação e fortalecimento da autonomia dessas mulheres (BERNADINO et al. 2016; ROCHA et al.2020).
O tema violência doméstica é um fenômeno que provoca graves consequências e compromete o exercício dos direitos humanos e de cidadania, a violência contra mulher não é mais uma questão privada, mas objeto de preocupação social (CARVALHO et al. 2022).
O combate à violência contra a mulher ganhou um poderoso instrumento no âmbito legislativo a partir da sansão da lei 11.340, de 07 de agosto de 2006, trata se da lei Maria da Penha assim denominada em homenagem a luta de vinte anos dessa cidadã vítima de duas tentativas de assassinato que lhe trouxeram graves sequelas, até conseguir a condenação de seu agressor, o próprio marido (ALVES; OPPEL 2021; CARVALHO et al. 2022).
Em paralelo o âmbito judiciário possui a resolução CNJ N° 254/18, como política judiciária nacional e enfrentamento a violência contra a mulher, essa resolução tem como objetivo a articulação interna e externa do poder judiciário com outros órgãos governamentais e não governamentais para concretização de programas de proteção e prevenção ao combate de todas as formas de violência contra a mulher (WAISELFISZ, 2015).
De acordo com Melo; Pederiva (2016) a efetividade de tais dispositivos legais na prevenção e combate contra o crime de violência doméstica, mediante a representação ou queixa evidencia uma incompatibilidade entre o tempo resposta para que se aplique de fato as leis e o ciclo iminente de violência, o que aponta uma incontestável falha em sua proteção efetiva.
3. CONCLUSÃO
Considerando o fenômeno da violência doméstica contra as mulheres como um problema global estruturado e culturalmente marcado, percebe-se a importância de aprofundamento sobre o tema. O processo de enfrentamento e o rompimento do ciclo violento vai além da decisão e dos recursos peculiares impulsionadores da própria vítima, muito já se avançou entre as articulações dos poderes legislativo e judiciário, em conjunto com esferas não governamentais no combate à violência doméstica, existe uma grande procura por apoio em instituições de saúde, no entanto o sistema não dispõe de um apoio completo que alcance uma reestruturação psicológica e social dessas mulheres.
É indispensável à consolidação das políticas públicas e a efetivação dos dispositivos já existentes, melhorando o tempo resposta em sua proteção, dando subsídios, suporte e acolhimento às vítimas. A violência contra as mulheres é um assunto grave de saúde pública, é preciso mudar o discurso que perpetua na desigualdade entre gêneros, rompendo progressivamente o machismo estrutural, um vez que os direitos igualitários darão subsídios para uma vida minimante estável e tranquila.
Com base na revisão sistemática elaborada ficou constatado que muitas são as dificuldades em se romper o ciclo de violência doméstica, existe uma correlação socioeconômica e sociodemográfica, que impulsiona a permanência dessa mulher em situação de risco, os problemas que mais aparecem como impedimento em romper a relação são: Dependência financeira e os anos de opressão e privação dessas mulheres em se relacionar socialmente, as colocam em uma rede fechada de convivência com seu agressor, fazendo com que se sintam vulneráveis acreditando que aquela vida é a melhor que se pode conseguir, culminando em um forte apego emocional consequentemente dificultando o rompimento da relação violenta. Ainda sobre os objetivos deste artigo científico os estudos apontaram que um alto impacto emocional é gerado através dessa conexão em experienciar continuamente a violência, e que os mesmos estão diretamente relacionados os transtornos mentais, entre eles os que mais se apresentam são os transtornos depressivos, alimentares e abuso de álcool e drogas.
Por conseguinte, para além dos objetivos desse artigo destaca se a importância do papel do Psicólogo para apoio e acolhimento dessas mulheres, a partir de uma visão multifuncional, auxiliar na identificação da violência em seu estágio inicial, ressignificando e fortalecendo a auto estima das vítimas e de alguma forma conter a propagação desse fenômeno lamentável
REFERÊNCIAS
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1Acadêmica do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera- Campus Osasco.
2Orientador. Docente do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera Campus Osasco.