ASSOCIATION BETWEEN THE EXPRESSITY OF SYNDROME GUILLAIN-BARRÉ AND CONTAMINATION BY ZIKA: A SYSTEMATIC REVIEW
REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/cl10202410211616
Aíla Satyro Maciel1
Anderson Kaique dos Santos Moreira1
Aylla Cristina Oliveira Sena1
Geysla Mirella Andrade1
José Wedley Silva de Jesus1
Lívia Mariá Alves de Lima Santos1
Marcus Vinicius Moraes de Lira1
Raíssa Tínel de Melo Franco1
Raphael Maciel Barbosa Barros1
Orientadora: Tâmara Trindade de Carvalho Santos2
Resumo
A Síndrome de Guillain-Barré (SGB) é uma polineuropatia rara, mediada pelo sistema imunológico, que provoca fraqueza muscular progressiva e, em casos graves, paralisia. Objetivo: investigar a associação entre a SGB e arboviroses, com ênfase no vírus Zika (ZIKV) e sua potencial relação com o desencadeamento da síndrome. Metodologia: foram revisados estudos publicados entre 2019 e 2024 que exploraram a relação entre SGB e arboviroses, selecionando cinco artigos relevantes nas bases SciELO, BVS, ScienceDirect e UNIFAN. A análise dos estudos foi realizada considerando robustez metodológica, relevância dos achados e pertinência à questão de pesquisa, com foco na associação entre a infecção por ZIKV e o desenvolvimento de SGB. Resultados e Discussões: os achados indicam que o ZIKV pode desencadear a SGB por mecanismos autoimunes, como o mimetismo molecular, enquanto outros vírus, como dengue e chikungunya, também apresentam correlações com a síndrome, mas com intensidade variável. A revisão destaca a importância do diagnóstico precoce e intervenção para evitar complicações graves, como insuficiência respiratória. No entanto, a escassez de estudos e a limitação geográfica sugerem a necessidade de mais investigações sobre essa associação.
Palavras-chave: Síndrome de Guillain-Barré, vírus Zika, arboviroses, dengue, chikungunya, mimetismo molecular, resposta autoimune, doenças tropicais.
Abstract
Guillain-Barré Syndrome (GBS) is a rare, immune-mediated polyneuropathy that causes progressive muscle weakness and, in severe cases, paralysis. Objective: To investigate the association between GBS and arboviruses, with a focus on Zika virus (ZIKV) and its potential relationship in triggering the syndrome. Methodology: Studies published between 2019 and 2024 that explored the relationship between GBS and arboviruses were reviewed, selecting five relevant articles from the SciELO, BVS, ScienceDirect, and UNIFAN databases. The analysis of these studies considered methodological robustness, relevance of findings, and pertinence to the research question, focusing on the association between ZIKV infection and GBS development. Results: The findings suggest that ZIKV may trigger GBS through autoimmune mechanisms, such as molecular mimicry, while other viruses, such as dengue and chikungunya, also show correlations with the syndrome, though with varying intensity. The review highlights the importance of early diagnosis and intervention to prevent severe complications, such as respiratory failure. However, the scarcity of studies and geographical limitations suggest the need for further investigations on this association.
Keywords: Guillain-Barré Syndrome, Zika virus, arboviruses, dengue, chikungunya, molecular mimicry, autoimmune response, tropical diseases.
1. INTRODUÇÃO:
A Síndrome de Guillain-Barré (SGB) é uma polirradiculoneuropatia desmielinizante ou axonal, mediada imunologicamente, que causa fraqueza muscular progressiva e, em casos graves, pode evoluir para paralisia (Ansar & Valadi, 2015). Embora a etiologia exata da SGB não seja completamente compreendida, acredita-se que infecções virais e outros gatilhos, como vacinas, traumas e cirurgias, estejam envolvidos em seu desenvolvimento (Linden et al., 2010; Ansar & Valadi, 2015). Esses fatores desencadeiam uma resposta imunológica equivocada, atacando o sistema nervoso periférico por meio de um mecanismo de mimetismo molecular, no qual o sistema imune atinge estruturas nervosas semelhantes aos patógenos (Fokke et al., 2014).
Clinicamente, a SGB se manifesta por fraqueza muscular rápida, progressiva e simétrica nos membros. Além disso, os pacientes podem apresentar déficits sensoriais, dor, neuropatia craniana (incluindo paralisia facial bilateral) e disautonomia, variando em intensidade e distribuição. Sensações de formigamento ou diminuição da sensibilidade são sintomas comuns, e até 50% dos pacientes podem desenvolver neuropatia craniana, como dificuldades para engolir (Ministério da Saúde, 2019).
Reconhecida como a causa mais frequente de paralisia neuromuscular aguda no mundo, a SGB afeta predominantemente homens, com uma incidência crescente com a idade (Ansar & Valadi, 2015). Os sintomas característicos incluem fraqueza muscular simétrica de início agudo, perda de reflexos tendinosos profundos e, em alguns casos, disautonomia, que pode incluir diarreia, tontura e hipotensão ortostática (Lima Mes et al., 2019; Davies et al., 2022). Em cerca de 30% dos casos, a fraqueza muscular progride para insuficiência respiratória, exigindo ventilação mecânica (Fokke et al., 2014).
Diversos vírus têm sido associados ao desenvolvimento da SGB, incluindo o Epstein-Barr vírus (EBV) e o Zika vírus (ZIKV). O EBV, amplamente disseminado e pertencente à família Herpesviridae, está implicado em várias condições médicas. Estudos sugerem que infecções recentes pelo EBV podem aumentar o risco de SGB, embora haja lacunas no entendimento dessa relação e discrepâncias na prevalência dos casos (Wong et al., 2022; Fokke et al., 2014).
Nos últimos anos, as arboviroses – doenças causadas por vírus como dengue, zika, chikungunya e febre amarela – têm se tornado uma preocupação crescente devido ao aumento de epidemias, especialmente no Brasil e em outras regiões tropicais. Fatores como mudanças climáticas rápidas, desmatamentos, migração populacional e precariedade das condições sanitárias favorecem a amplificação e transmissão desses vírus (Donalisio et al., 2017; Lopes et al., 2014). Dentre essas doenças, o Zika vírus ganhou destaque não apenas por seus sintomas semelhantes à dengue, mas principalmente pelas complicações neurológicas associadas, incluindo a Síndrome de Guillain-Barré (SGB).
Nos últimos anos, o Zika vírus (ZIKV) emergiu como uma ameaça significativa à saúde pública, com evidências sugerindo uma forte associação entre a infecção pelo ZIKV e o desenvolvimento da SGB, particularmente em regiões tropicais e subtropicais (Davies et al., 2022). Embora os sintomas iniciais do ZIKV incluam febre, erupções cutâneas e dores musculares, em alguns casos a infecção precede a manifestação da SGB (Lima Mes et al., 2019). A detecção do RNA viral tem sido o principal método diagnóstico, dada a reatividade cruzada sorológica com outros flavivírus, como dengue e febre amarela (Chaves Filho et al., 2016).
Diante desse contexto, a SGB continua a representar um desafio clínico, com infecções virais, como EBV e ZIKV, sendo potenciais desencadeantes. A investigação contínua é crucial para esclarecer as interações entre vírus e sistema imunológico, visando aprimorar as estratégias preventivas e terapêuticas, pois o desenvolvimento dessa síndrome traz problemas além da saúde física do indivíduo, perpassando para problemas de saúde pública necessitando de um gasto maior do país com a Assistência à Saúde (Lima Mes et al., 2019; Wong et al., 2022). O presente estudo, portanto, tem como objetivo explorar a relação entre a infecção pelo Zika vírus e a SGB.
2. METODOLOGIA
Este estudo foi conduzido por meio de uma Revisão Sistemática, com o objetivo de obter uma compreensão abrangente e crítica da relação entre a Síndrome de Guillain-Barré (SGB) e as arboviroses, como dengue e zika. A Revisão Sistemática é uma metodologia de pesquisa rigorosa, voltada para identificar, avaliar e sintetizar todas as evidências disponíveis sobre uma questão de pesquisa específica, seguindo um protocolo bem definido que minimiza vieses e garante a objetividade dos resultados (Higgins & Green, 2011).
A busca por artigos foi realizada em agosto de 2024, nas bases de dados Science Eletronic Library Online (Scielo), Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e ScienceDirect, com o objetivo de cobrir a literatura mais atual e relevante sobre o tema. Utilizaram-se os descritores “Guillain-Barré AND (Dengue OR Zika)” e aplicaram-se filtros para incluir apenas estudos publicados a partir de 2019, nos idiomas inglês e português, garantindo assim a seleção de pesquisas recentes e acessíveis.
A seleção de artigos seguiu critérios claros de inclusão e exclusão. Foram incluídos estudos que investigavam diretamente a relação entre SGB e arboviroses, priorizando pesquisas primárias, como ensaios clínicos e estudos observacionais, além de revisões sistemáticas. Excluíram-se artigos que não abordavam essa relação de forma direta ou que apresentavam falhas metodológicas significativas, como amostras pequenas que pudessem comprometer a validade dos resultados. Trabalhos fora do escopo definido também foram descartados.
O processo de seleção foi realizado em duas etapas: inicialmente, os títulos e resumos dos artigos recuperados foram triados, e posteriormente, os textos completos dos estudos relevantes foram analisados criticamente. Na SciELO, a busca resultou em 1 artigo, que foi selecionado. Na BVS, 9 artigos foram encontrados, dos quais 2 abordavam a relação entre arboviroses e complicações neurológicas, sendo incluídos. Na ScienceDirect, dos 126 artigos encontrados inicialmente, 3 atenderam aos filtros de ano e idioma, e 1 foi selecionado.
Com um total de 4 artigos selecionados, foi realizada uma análise qualitativa dos estudos. Avaliaram-se a robustez metodológica, a relevância dos achados e a pertinência para a questão de pesquisa. A análise buscou identificar padrões nos sintomas da SGB associados a infecções por arbovirus, a relação temporal entre a infecção viral e o início dos sintomas, além das estratégias terapêuticas mencionadas. Essa abordagem permitiu sintetizar as evidências de forma crítica e identificar lacunas no conhecimento sobre a associação entre SGB e arboviroses.
Apesar do desenvolvimento metodológico, o número limitado de artigos encontrados pode influenciar as conclusões do estudo, sugerindo uma escassez de literatura atualizada sobre o tema, especialmente em diferentes contextos geográficos. Além disso, a restrição de estudos ao período a partir de 2019 e ao idioma inglês, embora justificada pela necessidade de atualização e acessibilidade, pode ter excluído pesquisas relevantes publicadas anteriormente ou em outros idiomas. Essas limitações serão consideradas na interpretação dos resultados e na formulação de recomendações futuras.
3. RESULTADO E DISCUSSÃO
A relação entre o Zika vírus e a SGB foi evidenciada pela primeira vez durante o surto brasileiro de Zika em 2015, quando um aumento no número de casos de SGB foi notificado à Organização Mundial da Saúde (OMS), levando à investigação de um possível nexo de causalidade (Araújo et al., 2016). Embora os mecanismos fisiopatológicos que ligam o Zika vírus à SGB ainda não estejam completamente esclarecidos, algumas teorias têm sido propostas. Uma delas sugere que a infecção pelo Zika pode desencadear uma resposta autoimune, semelhante àquela observada com outros patógenos, resultando em danos ao sistema nervoso periférico por meio de mecanismos como o mimetismo molecular (Rivera-Correa et al., 2019).
Estudos indicam que o Zika pode induzir a SGB através da produção de anticorpos dirigidos contra gangliosídeos presentes nas membranas dos nervos periféricos, o que resulta em desmielinização e lesão axonal. Este processo tem sido amplamente descrito em outras infecções, como a causada por Campylobacter jejuni, que também está associada à SGB. A hipótese de mimetismo molecular é apoiada por pesquisas que identificaram a presença de anticorpos contra gangliosídeos em pacientes com SGB associada ao Zika (Pinto-Díaz et al., 2017). No entanto, outras pesquisas sugerem que, além do mimetismo molecular, podem estar envolvidos mecanismos alternativos, como o aprimoramento dependente de anticorpos (Acosta-Ampudia et al., 2018). Nesse cenário, uma infecção anterior por outro vírus, como o da dengue, pode criar anticorpos que não neutralizam o Zika, mas, paradoxalmente, facilitam sua replicação.
Essa possibilidade levanta questões importantes sobre o papel dos co-fatores na SGB associada ao Zika. A OMS (2016) sugere que o Zika, por si só, pode não ser suficiente para causar complicações neurológicas, e que a presença de outros fatores, como infecções prévias por dengue, pode estar contribuindo para a gravidade dessas manifestações. Essa hipótese é corroborada pela sobreposição geográfica e temporal de surtos de dengue e Zika, já que ambos são transmitidos pelo mesmo vetor, o mosquito Aedes aegypti.
A presença de anticorpos anti-gangliosídeos (anti-GA1) em pacientes com SGB associada ao Zika que não podem ser atribuídos ao mimetismo molecular também sugere a existência de outros mecanismos para o desenvolvimento da doença (Rivera-Correa et al., 2019). Isso indica que a fisiopatologia da SGB relacionada ao Zika é mais complexa do que o inicialmente esperado, e que múltiplos processos imunológicos podem estar envolvidos.
O Quadro 1 reúne informações acerca dos artigos escolhidos para a realização da revisão sistemática, os quais discutem a síndrome de Guillain-Barré (SGB) e sua possível relação com arboviroses, como Zika, Dengue e Chikungunya. A inclusão desta tabela tem o objetivo de organizar e sintetizar os principais dados encontrados na literatura, facilitando a análise comparativa entre os estudos.
Quadro 1: Dados de análise dos artigos selecionados
Autor | Ano | Fonte | Objetivo | Principais Resultados |
Santos, Nilse | 2004 | Arquivos de Neuropsi- quiatria | O artigo visou explorar a associação entre a Síndrome de Guillain-Barré e o caso de dengue numa mulher de 45 anos. | O relato de caso presente neste artigo descreve as manifestações clínicas de uma mulher de 45 anos, a qual foi diagnosticada com dengue e, uma semana após os primeiros sintomas, desenvolveu fraqueza muscular, tetraplegia e insuficiência respiratória, achados que, somados a análises neuropáticas por meio da eletromiografia, sugeriram o diagnóstico de síndrome de Guillain-Barré. Assim, mediante a análise do caso, pode-se depreender uma associação entre a síndrome e a dengue, pois, como a síndrome é uma doença rara, é possível levantar a hipótese de que as duas patologias estão associadas. Por se tratar de casos isolados, são necessários mais estudos para considerar essa associação. |
HS Lima | 2023 | Science Direct | Este estudo tem como objetivo investigar a possível associação entre dengue e síndrome de Guillain-Barré. | A revisão bibliográfica presente neste artigo, a qual reuniu cinco estudos relevantes – publicados entre os anos de 2013 e 2023 – e devidamente selecionados, destaca que, apesar da associação entre dengue e SGB (síndrome de Guillain-Barré), complicações neurológicas são raras devido à menor tendência do vírus da dengue de afetar o sistema nervoso central, e que o entendimento dessa relação é crucial para o avanço do conhecimento e manejo clínico dessas condições. |
Lopes, Johnnathas | 2023 | Revista Baiana de Saúde Pública | O estudo examinou a relação entre Síndrome de Guillain-Barré (SGB) e arboviroses no Nordeste do Brasil entre 2014 e 2019. | Na conclusão do artigo destaca, portanto, que os surtos de Síndrome de Guillain-Barré (SGB) no Nordeste do Brasil mostram uma associação estatisticamente significativa com os surtos do vírus Chikungunya. Essa correlação sugere que a incidência de SGB está fortemente relacionada com a atividade do Chikungunya, indicando que a probabilidade de desenvolvimento de SGB pode ser substancialmente elevada durante os períodos de surto desse arbovírus na região. |
Matos, L. M. de . | 2022 | Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical | O estudo aborda a Síndrome de Guillain-Barré (SGB), uma condição neurológica aguda frequentemente desencadeada por infecção plasmaférese, e sua possível associação aos casos de dengue, zika e chikungunya. | O artigo descreve uma coorte clínica de pacientes admitidos com suspeita de Síndrome de Guillain-Barré, os quais foram submetidos a uma série de exames para diagnosticar a síndrome, bem como a entrevistas, exame físico e avaliação neurológica. Com base nessa análise, de 48 pacientes candidatos, 41 foram incluídos no estudo e acompanhados no período de 1 ano. O que se identificou, principalmente, entre o espaço amostral desses pacientes, foi que 4 deles apresentaram a infecção por dengue, um evento desencadeante potencialmente grave para a síndrome de Guillain-Barré. |
Fonte da tabela: autores, adaptado dos dados da pesquisa, 2024.
Os achados deste estudo destacam a necessidade urgente de aprimorar as estratégias de diagnóstico e manejo de complicações neurológicas em pacientes com infecções por arboviroses, especialmente em áreas endêmicas de dengue e Zika. A identificação precoce de sinais de SGB em pacientes com sintomas de arboviroses pode ser crucial para melhorar o prognóstico, uma vez que a fraqueza muscular progressiva, característica da síndrome, pode evoluir para insuficiência respiratória em casos mais graves. Além disso, a confirmação da relação entre o Zika e a SGB deve motivar uma maior vigilância epidemiológica e a implementação de protocolos clínicos para monitorar os pacientes infectados por arboviroses.
Além disso, o potencial de o Zika vírus desencadear uma resposta imune exacerbada, especialmente em indivíduos previamente expostos a outros flavivírus, como o da dengue, reforça a importância de uma abordagem de saúde pública que leve em consideração infecções anteriores. A vigilância ativa e a pesquisa sobre os mecanismos de interação entre diferentes vírus e o sistema imunológico devem ser prioridades em áreas afetadas por arboviroses.
Este estudo, embora tenha identificado evidências relevantes sobre a associação entre Zika e SGB, enfrentou limitações quanto ao número de artigos disponíveis e à restrição temporal da revisão. A escassez de literatura atualizada sobre o tema, especialmente em contextos geográficos distintos, pode ter impactado a abrangência das conclusões. Além disso, a exclusão de estudos anteriores a 2019 pode ter limitado o entendimento sobre o desenvolvimento histórico dessa associação.
Futuras investigações devem buscar esclarecer o papel de cofatores, como a infecção prévia por outros flavivírus, no desenvolvimento da SGB após a infecção por Zika. Estudos longitudinais e ensaios clínicos que analisem as respostas imunológicas detalhadas em diferentes populações podem fornecer uma compreensão mais profunda dos mecanismos que levam à SGB. Além disso, é fundamental expandir as pesquisas para além das áreas endêmicas, investigando também os efeitos a longo prazo em populações não expostas previamente a arboviroses.
4. CONCLUSÃO
A revisão sistemática realizada neste estudo reforça a complexidade da relação entre arboviroses, especialmente o Zika vírus, e a Síndrome de Guillain-Barré (SGB). Embora a SGB continue a ser uma condição neurológica rara, os achados sugerem que infecções virais, como o Zika, desempenham um papel relevante em seu desencadeamento, particularmente em áreas tropicais e subtropicais. A revisão revelou evidências de que a infecção pelo Zika pode provocar uma resposta autoimune, resultando em desmielinização e lesão axonal, mecanismos que, embora sugeridos pela hipótese de mimetismo molecular, ainda requerem maior compreensão.
Os dados indicam que, além do Zika, outros vírus, como o Chikungunya, também estão fortemente associados à SGB, enquanto a relação com a dengue parece ser menos frequente. Essas conclusões ressaltam a importância de um diagnóstico precoce e da implementação de estratégias de manejo clínico adequadas para evitar complicações graves, como insuficiência respiratória. O uso de imunoglobulina intravenosa (IVIg) e plasmaférese continua a ser crucial no tratamento da SGB, mas o reconhecimento precoce dos sintomas, especialmente em pacientes com histórico de infecções virais, pode melhorar significativamente os desfechos clínicos.
No entanto, as limitações encontradas, como o número reduzido de estudos disponíveis, indicam uma necessidade de mais investigações, particularmente em regiões geográficas menos exploradas. A inclusão de estudos anteriores e de diferentes idiomas poderia ampliar o entendimento da relação entre SGB e arboviroses ao longo do tempo.
Por fim, futuros estudos devem se concentrar na investigação de cofatores, como infecções anteriores por outros flavivírus, que podem potencializar o risco de desenvolvimento da SGB. Além disso, a análise de respostas imunológicas em diferentes populações e a avaliação dos efeitos a longo prazo em áreas não endêmicas serão essenciais para um entendimento mais profundo da síndrome. Essas investigações poderão orientar novas abordagens terapêuticas e políticas de saúde pública, mitigando os impactos das arboviroses nas complicações neurológicas, como a SGB.
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1Discente do Curso Superior de Medicina da Faculdade Ages Campus Jacobina
2Docente do Curso Superior de Medicina da Faculdade Ages Campus Jacobina Doutora em Biotecnologia e-mail: tamara.carvalho@ages.edu.br