A COME E DORME…OPS,ATIVISTA DE SOFÁ!

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410161025


Yakini Sele Ferreira dos Santos Bomfim
Tânia Ferreira dos Santos Bomfim
Felipe Rodrigues Bomfim
Tâmara Rodrigues Pedro Bomfim
Fayola Nayla Ferreira dos Santos Bomfim
Kalid Diallo Ferreira dos Santos Bomfim
Taian Lopes de Oliveira Santos


Desde o enfrentamento à ditadura militar, na década de 60, os meios de comunicação e a liberdade de expressão tomaram outro rumo no Brasil. Não somente as televisões, que por ordem constitucional passaram a transmitir livremente as ideias e saberes não convencionais, mas também o advento dos celulares, possibilitou à população maior facilidade de se comunicar, principalmente por intermédio das mídias digitais, e até mesmo manifestar a sua luta.

É nas mídias sociais, independentemente da sua localização geográfica ou recursos financeiros, que as minorias podem se unir, compartilhar suas experiências e desafiar as narrativas impostas pelo poder dominante. Paulo Freire, em seu livro Pedagogia do Oprimido, por exemplo, enfatiza a importância da comunicação como um ato de liberdade e afirma que a capacidade de dialogar e expor as próprias realidades é crucial para a conscientização e a transformação social.

Hoje, ao contrário dos primórdios, há o debate sobre assuntos que antes eram suprimidos pela hegemonia brasileira. Questões como “Em qual categoria raça/cor eu me encaixo?”, “Indígenas ou Povos Originários?”, “Tranças em pessoas brancas: apreciação ou apropriação?” e o “Uso da linguagem neutra” são dialéticas importantes que rompem com o estigma de não pertencimento e de invisibilidade trazidos pelo olhar excludente do colonizador. Reafirmando assim que o corpo marginalizado tem voz, história, e deve ser respeitado em suas multiplicidades.

Por outro lado, há pessoas que negligenciam o poder das mídias sociais no ativismo contemporâneo, alegando haver um excesso de militância ou que o ativismo digital não possui efeito duradouro. Contudo, movimentos internacionalmente conhecidos, como #EleNão e #BlackLivesMatter, começaram nas redes sociais e rapidamente transcenderam o ambiente digital. Segundo dados do Twitter, o movimento #BlackLivesMatter gerou cerca de 26 milhões de menções em 2020, promovendo mudanças reais, como a reforma policial em várias cidades dos EUA e o aumento da conscientização global sobre questões raciais.

Já o #EleNão, em 2018, surgiu nas redes sociais como uma reação à candidatura de Jair Bolsonaro à presidência do Brasil. Milhões de brasileiros, principalmente mulheres, se uniram para protestar contra as declarações e posições de Bolsonaro, consideradas misóginas, racistas e homofóbicas. O movimento ganhou grande visibilidade, culminando em protestos de rua em diversas cidades do Brasil e do mundo.

Considerar toda a militância digital como “ativismo de sofá” ou “slacktivism”, termo utilizado por Malcolm Gladwell, é se opor aos avanços tecnológicos e às variações linguísticas da época. Nem todas as ações dos participantes se limitam a atividades de baixo esforço, como “curtir” ou “compartilhar” posts. Um estudo realizado pelo Pew Research Center em 2018 descobriu que 69% dos adultos americanos acreditam que as redes sociais são importantes para promover causas sociais, aumentando o engajamento inicial em campanhas online e em atividades offline, como protestos e doações.

Assim, evidenciam-se as transformações do ativismo digital. Contudo, pensamentos como “Quer resultado e tá militando na internet?!” ou “Hoje em dia não se pode mais falar nada que ofende alguma minoria”, e ainda “Esses jovens de hoje em dia estão cada vez mais sensíveis”, apenas corroboram com a disseminação de conteúdos polarizadores que reforçam preconceitos e criam uma “mentalidade de nós contra eles”, prejudicando a colaboração e o avanço de causas sociais. Esse é o cenário discutido no estudo “The best and worst of times: The paradox of social media and Ethiopian politics” (2021).

Ademais, se pararmos de militar na internet, abriremos espaço para grupos extremistas, cyberbullying e cancelamento digital. Nesse viés, haverá uma ruptura de movimentos como a Primavera Árabe, que demonstrou o poder das plataformas digitais, como Twitter e Facebook, na organização e coordenação de protestos que derrubaram regimes autoritários em países como Tunísia e Egito. Além disso, o aumento significativo de jovens que, de acordo com um relatório da UNESCO em 2020, relatam ter sido vítimas de cyberbullying, se deve à anonimidade e à falta de regulação, permitindo que o assédio ocorra em grande escala.

Portanto, é imprescindível discutir as questões consideradas, pelos conservadores, como “militância demais”, pois a partir da nomeação das problemáticas se começa a pensar nas possibilidades de transformações, ainda que, para as classes subalternas, o problema sempre foi latente e visível. Outrossim, na atualidade, mesmo que não haja a seleção da transitividade de informações como nos governos ditatoriais, mas ainda pelo controle de dados das empresas tecnológicas, o objetivo de ser militante na internet permanece o mesmo: subverter a repressão às classes subalternas da sociedade.

Logo, longe de ser “fraco”, o ativismo digital tem se mostrado uma ferramenta poderosa para a resistência e emancipação das classes oprimidas, com uma capacidade única de mobilizar, educar e promover mudanças sociais em grande escala. Infelizmente,  esse ativismo enfrenta desafios como a desinformação, interesses comerciais e a fragmentação dos grupos, mas também tem o potencial de construir coalizões globais e amplificar vozes marginalizadas, criando um impacto social que se estende além do mundo virtual.

Referências:

SILVA, João. O impacto do ativismo digital: uma nova forma de protesto ou apenas mais um clique? Revista Brasileira de Estudos Digitais, v. 12, n. 3, p. 45-67, 2022. Disponível em: http://www.revistabrasileiraexemplo.com/artigo. Acesso em: 29 ago. 2024.

OLIVEIRA, Maria. Liberdade na internet e seus descontentes: a luta pela liberdade de expressão na era digital. Revista de Mídia e Sociedade, v. 8, n. 2, p. 101-123, 2021. Disponível em: http://www.revistamidiaesociedade.com/artigo. Acesso em: 29 ago. 2024.

COSTA, Ana. O papel das redes sociais na mobilização política: um estudo sobre a Primavera Árabe. Revista de Mobilização Política, v. 5, n. 1, p. 78-94, 2020. Disponível em: http://www.revistamobilizacaopolitica.com/artigo. Acesso em: 29 ago. 2024.

COSTA, Ana. Divisões digitais e polarização política: o paradoxo do ativismo nas mídias sociais. Revista de Mídia e Sociedade, v. 9, n. 1, p. 102-121, 2023. Disponível em: http://www.revistamidiaesociedade.com/artigo. Acesso em: 29 ago. 2024.

GLADWELL, Malcolm. Small Change: Why the Revolution Will Not Be Tweeted. The New Yorker, 2010. PEW RESEARCH CENTER. Americans’ views of and experiences with activism on social media, 2018. Disponível em: https://www.pewresearch.org/internet/2018/07/11/social-media-activism/. Acesso em: 29 ago. 2024