A AMÉRICA INVERTIDA DE TORRES-GARCÍA: DO BOLIVARIANISMO DE CHÁVEZ AO SUL GLOBAL DE LULA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202410111613


Dario Andrés da Silva Pouso1


RESUMO

Este artigo analisa as relações entre a obra “América Invertida”, de Torres-García, e sua utilização como elemento didático nos contextos do integracionismo venezuelano bolivariano (Pátria Grande) e da mais recente diplomacia brasileira, ancorada no conceito de Sul Global. A comparação discursiva e conjuntural do bolivarianismo e do Brasil em fóruns internacionais, referenciando o lema da Escuela del Sur de Torres-García, “Nuestro Norte es el Sur”, permitiu concluir que existe um gradual abandono do mencionado lema por parte do chavismo pós-Hugo Chávez e uma ascendente e marcante presença da utopia integracionista do artista uruguaio na argumentação brasileira em defesa das vozes do Sul. Outra conclusão é a adaptabilidade da obra mais célebre de Torres-García, que, embora originada com fins artísticos e culturais, se adapta a distintas políticas exteriores, como as do Brasil e da Venezuela. O aspecto didático da obra de Torres-García possibilita a transição da máxima da Escuela del Sur no contexto do bolivarianismo para a reafirmação da presença brasileira nos debates internacionais sobre integração.

Palavras-chave: Pátria Grande; Torres-García; bolivarianismo; Nuestro Norte es el Sur; G-20

ABSTRACT

This article analyzes the relationships between Torres-García’s work “Inverted America” and its use as a didactic element in the contexts of Bolivarian Venezuelan integrationism (Pátria Grande) and the most recent Brazilian diplomacy, anchored in the concept of the Global South. The discursive and conjunctural comparison of Bolivarianism and Brazil in international forums, referencing the motto of the Escuela del Sur de Torres-García, “Nuestro Norte es el Sur”, allowed us to conclude that there is a gradual abandonment of the motto above by post-Chavismo. Hugo Chávez and a rising and striking presence of the Uruguayan artist’s integrationist utopia in the Brazilian argument in defense of the voices of the South. Another conclusion is the adaptability of Torres-García’s most famous work, which, although originated with artistic and cultural purposes, adapts to different foreign policies, such as those of Brazil and Venezuela. The didactic aspect of Torres-García’s work enables the transition from the Escuela del Sur maxim in the context of Bolivarianism to the reaffirmation of the Brazilian presence in international debates on integration.

Keywords: Big Homeland; Torres-García; Bolivarianism; Our North is the South; G20

INTRODUÇÃO

Enquanto a imagem internacional do bolivarianismo chavista sucumbe com Maduro, Lula busca reconstruir o protagonismo do Brasil nas relações internacionais manchados por pelo Presidente Bolsonaro, “vergonha brasileira”2.

A história brasileira não se caracterizou por iniciativas ou utopias de integração continental. As diferenças nos processos de formação política e identitária do Brasil em relação aos vizinhos hispano-americanos dificultaram aproximações integracionistas. Enquanto a independência brasileira deu origem a um Império, os vizinhos, ao se libertarem da coroa espanhola, constituíram as suas repúblicas já nas décadas de 1810-20. 

A nova tendência da busca pela integração regional brasileira nas últimas duas décadas foi uma das características dos governos do Partido dos Trabalhadores. Nos governos de Lula (2003-2010 e de 2023 aos dias atuais) o caráter carismático no diálogo nos foros internacionais tem angariado simpatia e popularidade. Exemplo mais recente dessa estratégia brasileira encontra-se na participação do Presidente Lula na II Cúpula Virtual Vozes do Sul Global, evento organizado pela Índia para fazer um balanço da presidência indiana do G-203 . No dia 17 de novembro de 2023, na parte introdutório do seu discurso o Presidente Lula dizia:

Eu começo a minha fala parabenizando o primeiro-ministro Modi por esta oportuna iniciativa de reunir o Sul Global em um contexto tão desafiador. Estar aqui me fez lembrar de uma obra muito famosa do artista uruguaio Joaquín Torres García, chamada “América Invertida”. Ele retratou a América do Sul de cabeça para baixo. “Colocou o cone sul –que costuma aparecer distorcido nos mapas tradicionais– no topo da imagem, e o norte na parte de baixo. Com isso, demonstrou como muitas vezes, adotamos, sem refletir, pontos de vista alheios, que não nos favorecem. Nossos países já foram chamados de 3º mundo e de países em desenvolvimento. Fomos divididos em países emergentes e países menos desenvolvidos; e em países de renda média e países de renda baixa. Há quem questione o conceito de Sul Global, dizendo que somos diversos demais para caber nele. Mas existem muito mais interesses que nos unem do que diferenças que nos separam.
Assumir nossa identidade como Sul Global significa reconhecer que vemos o mundo de uma perspectiva semelhante. Ao longo de décadas, trabalhamos juntos por um mundo mais equitativo. Enfrentamos o desafio da descolonização, assumimos o desafio do desenvolvimento e agora temos de abraçar o desafio da paz4.

De modo distinto à Chávez quando citou a frase de Torres-García, Lula não repetiu o lema Nuestro Norte es el Sur5, nem tampouco omitiu a autoria da obra, preferiu descrever a imagem do desenho América Invertida, identificar o criador, a sua nacionalidade e também o ofício: artista uruguaio Torres García .

A epistemologia da Escuela del Sur, atualizada duas décadas atrás pelos discursos de Chávez e pela logo da Telesur, ecoa novamente encontrando vigência na comunicação metafórica de Lula. Diversos fatores elucidam as razões da retomada de Torres-García em eventos públicos de envergadura política internacional.

Quando Lula resgatou a imagem da Inversão da América do desenho de Torres-García, o fez no primeiro ano do seu terceiro mandato, numa conjuntura em que a integração bolivariana já não tinha a menor relevância, a heterogeneidade política regional6, a consolidação da epistemologia do Sul em torno ao conceito de Sul Global cria uma nova perspectiva para os países até recentemente denominados pobres, subdesenvolvidos ou do 3º mundo. É nesse contexto de incorporação conceitual de epistemologias do Sul que Lula apresenta através de metáforas a sua defesa da integração mundial em uma visão mais ampla do que seria o Sul. Não se trata mais do Sul de Bolívar ou de Chávez apenas, mas desta Pátria Grande convergindo com outras regiões do mundo também identificadas com o Sul. Regiões da Terra distantes geograficamente, com idiossincrasias distintas entre si, mas com uma característica essencial que contribui para o aprofundamento do diálogo e das conversações integracionistas:

(…)a experiência colonial comum permite a constituição de um Sul global, onde a condição pós-colonial se impõe cada vez mais na análise e caracterização das condições políticas específicas. (Meneses, 2012, p. 7).

Para Lula, a mudança no vocabulário através do termo Sul Global, além de designar aproximadamente metade da população mundial, proporcionaria uma alteração positiva na auto-estima quando alguém vindo do Sul Global se apresenta em reuniões com representantes das potências ocidentais:

Hoje eu sou presidente de um país do sul global. Veja que é muito mais chique, muito mais poderoso e muito mais orgulhoso. A gente chegar em uma reunião, com um americano, com europeu, e a gente não se sentir o patinho feio, o mal vestido, o pobrezinho. Não. Nós, agora, somos pertencentes à família do sul global, que juntos formamos quase que 50% da população mundial7.

DA PÁTRIA GRANDE AO SUL GLOBAL

Tanto Maduro, em janeiro de 2023, quanto Lula, em novembro de 2023, propuseram união de forças entre blocos e nações para uma ordem econômica e social mais favorável aos países da periferia capitalista. Ambos recorreram à imagem da unificação latino-americana8 defendendo uma ampliação da integração pela qual a América Latina uniria forças com outras nações e continentes.

Apesar dessas semelhanças, alguns detalhes das imagens descritas nos discursos merecem atenção especial por oferecerem indícios de realidades não aprofundadas nas falas dos mencionados estadistas, sobretudo no que diz respeito à Pátria Grande, ao Sul, às alianças. Considerando a complexidade de intenções e interesses presentes em cada palavra dita por um estadista, que, após ouvir assessores, sofrer pressões de grupos econômicos e representantes de diversos setores da sociedade, tem ainda a liberdade de incluir os seus próprios pontos de vista, nesta parte a análise busca apoio no paradigma indiciário proposto inicialmente por Giovanni Morelli, no último quarto do século XIX, e resgatado por Carlo Ginzburg:O conhecedor de arte é comparável ao detetive que descobre o autor do crime (do quadro) baseado em indícios imperceptíveis para a maioria” (Guinzburg, 2007, p. 145):

(…)Morelli propusera-se buscar, no interior de um sistema de signos culturalmente condicionados como o pictórico, os signos que tinham a involuntariedade dos sintomas (e da maior parte dos indícios). Não só: nesses signos involuntários, “nas miudezas materiais – um calígrafo as chamaria de garatujas” comparáveis às “palavras e frases prediletas” que “a maioria dos homens, tanto falando como escrevendo introduzem no discurso às vezes sem intenção, ou seja, sem se aperceber.9” 

A fala de Lula no Fórum organizado pelo primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, contém as questões cruciais levantadas pelos debates sobre as epistemologias do Sul: “adotamos, sem refletir, pontos de vista alheios”, referindo-se à continuidade e vigência dos valores das nações colonizadoras; “existem muito mais interesses que nos unem do que diferenças que nos separam”, em alusão às consequências advindas dos séculos de colonização.

O discurso do Presidente Lula não se limita apenas à busca pela equidade e desenvolvimento dos povos, abarca a discussão acadêmica epistemológica do Sul Global e contribui para que esta ganhe popularidade. A metáfora torresgarciana do desenho da América confere um aspecto didático ao discurso, a visualidade da inversão preconizada pela ideia de Sul Global é introduzida pela descrição da imagem. Além disso, Lula extrapola a descrição do que seria inverter a América, também frisou que anteriormente o ConeSul aparecia distorcido nos mapas, o que sugere, nas entrelinhas do discurso, a consequência direta da invisibilidade com a perpetuação das epistemologias coloniais. Não se nota na fala sinais explícitos de protagonismo do Brasil na coordenação dessa agenda integracionista.

Implicitamente, qualquer análise retrospectiva do perfil da diplomacia brasileira com Lula à frente revelará uma liderança que se legitimou internacionalmente pelo perfil contemporizador, em detrimento das bravatas chavistas. 

Maduro, por sua vez, apresenta a Venezuela como estando à frente da construção de uma nova ordem ancorada no protagonismo do Sul. Quando Maduro se refere aos líderes russo e chinês como sendo os irmãos mais velhos, o sentido subjacente da imagem fraternal construída pela retórica, além de revelar esforços no aprofundamento de aliança entre pelo menos três governos com imagens desfavoráveis em termos democráticos, aponta para a defesa de uma aproximação da América Latina com o projeto eurasiano, ancorado no nacionalismo imperialista russo de Alexander Duguin10, e não com o Sul Global. Ao sinalizar nessa direção, Maduro corrobora com o projeto geopolítico russo implementado pela política externa de Vladimir Putin cujos rumos condizem com a reativação do imperialismo russo, ou Império Eurasiano, cujo caminho prevê:

Les manifestants américains seront une aile et les populistes européens seront l’autre aile. La Russie en général sera la troisième ; elle sera une entité angélique avec de nombreuses ailes – une aile chinoise, une aile islamique, une aile pakistanaise, une aile chiite, une aile africaine et une aile latino-américaine11

A oposição russa ao globalismo americano está mais para um esforço imperialista do que para a “entidade angelical” prometida por Duguin, caso a invasão da Ucrânia possa ser suficiente para tal inferência. O preço da associação discursiva e diplomática com os russos, em nome da Pátria Grande, expõe a utopia do Sul a um processo complexo global onde o linguajar oriundo da decolonialidade, através da sua crítica ao globalismo, pode aparecer tanto em discursos à esquerda, sob à epistemologia atrelada ao Sul Global, quanto em declarações da ultra-direitista Marie Le Penn“contre la mondialisation sauvage”12.

Ademais, à luz da origem do conceito de Sul Global, surgido no relatório da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) em dezembro de 2004) e das inúmeras imagens das representações disponíveis, por exemplo na internet, a Rússia não aparece:

The use of the term “South” to refer to developing countries collectively has been part of the shorthand of international relations since the 1970s. It rests on the fact that all of the world’s industrially developed countries (with the exception of Australia and New Zealand) lie to the north of its developing countries. The term does not imply that all developing countries are similar and can be lumped together in one category. What it does highlight is that although developing countries range across the spectrum in every economic, social and political attribute, they all share a set of vulnerabilities and challenges. The listings below (continued on the inside back cover) show some of the major groupings that constitute the global south13.

Do relatório da UNCTAD, na lista dos países asiáticos constam: Afeganistão, Bangladesh, Butão, Brunei Darussalam, Camboja, China, Índia, Indonésia, República Popular Democrática da Coreia, República da Coreia, República Democrática Popular do Laos, Malásia, Maldivas, Mongólia, Mianmar, Nepal, Paquistão, Filipinas, Cingapura, Sri Lanka, Tailândia, Timor Leste, Vietnã. Já não se sabe onde começa ou termina o Socialismo do século XXI que Maduro teria prometido a Chávez continuar

E me anima o juramento que fiz ao maior bolivariano deste século, o comandante Hugo Chávez. Escute bem, Trump. Jamais vou trair o juramento que fiz, de construir o socialismo do século 21.14

A falta de apoio interno na Venezuela, “detenções arbitrárias, tortura, desaparecimentos forçados e mortes (…) repressão seletiva de líderes sindicais, jornalistas, defensores dos direitos humanos, líderes políticos e seus familiares.”15, e também no meio internacional, faz com que a Pátria Grande seja apenas um termo para abrilhantar uma retórica repressiva que se mantém apenas pelo uso da força. Dos idealizadores de uma integração continental, apenas o Che Guevara e os libertadores da América tiveram as suas biografias marcadas por características centralizadoras e uso da violência. Quiçá esses exemplos de outrora sejam as fontes de legitimação (anacrônica) da base de apoio que ainda lhe resta, da persistência em reafirmar o ideal da Pátria Grande, no discurso, apenas nele.

A Pátria Grande e Socialista da Venezuela de Maduro, prestigiada por regimes autoritários como o da Nicarágua e da Rússia, tem pelo menos 5 milhões de Venezuelanos16. Os refugiados não constam nas imagens pretendidas pelos discursos do líder venezuelano. Ao não integrar o seu próprio povo, Maduro não tem condições reais e concretas para contribuir, ou gozar de credibilidade, com a construção de uma pátria maior que a sua própria e deteriorada Venezuela.

Frente a esse panorama, enquanto o ideal de inversão paradigmática estabelecido pela máxima Nuestro Norte es el Sur restringe-se apenas à inviável letra morta nas falas de Maduro, Lula habilmente consegue recuperar o potencial didático imagético da América Invertida, fazendo associações entre este com o resto do mundo como exemplo do que seria aplicar a inversão do hemisfério americano do mapa de Torres-García ao mapa-múndi.

A América Invertida passa então a ser um recurso didático da argumentação do que pode ser feito numa escala mundial, consolidando caminhos para a epistemologia do Sul, identificada no novo paradigma cultural, geopolítico e econômico sintetizado pelo conceito de Sul Global. Seguindo as pistas contidas nas declarações de Lula, se chega à repercussão do novo mapa-múndi lançado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no dia 8 de abril de 2024. De acordo com o presidente do IBGE, Márcio Pochman:

O novo IBGE mostra o Brasil no centro do mundo. Todos os países possuem seus Símbolos Nacionais, entre eles a Bandeira, o Hino, as Armas e o Selo. E são protegidos por lei. Seu uso, os padrões e modelos são compostos em conformidade com especificações e regras em Lei.

Representam a identidade de uma nação. O uso do Símbolo é obrigatório nos edifícios dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e pelas Forças Armadas. Também devem estar presentes em todos os prédios públicos, representando as características que compõem a República Federativa. Além dos Símbolos Nacionais, outros elementos constituem a imagem de um país. Entre eles estão os mapas que deveriam ser também obrigatórios, pois representam a própria face de uma Nação.17.

O mapa ainda não é obrigatório nos prédios públicos, como defende Pochman, mas a repercussão alcançada pela nova concepção, tendo o Brasil como referência central, gerou debate. Poucos dias após o lançamento da nova versão do mapa, no dia 12 de abril, Lula respondeu, via rede social X, a uma crítica feita por um perfil16 da mencionada rede caracterizado por publicar imagens bizarras da América Latina. O perfil oficial do Presidente Lula reagiu à crítica repostando a publicação e dando-lhe novo título: a terra é redonda19. O novo mapa-múndi do IBGE:

tem a marcação dos países que compõem o G20 e dos que possuem representação diplomática brasileira, além de algumas informações básicas sobre o Brasil (…) Essa divulgação ocorre em consonância com o momento especial em que o Brasil está presidindo o G20 e é uma oportunidade de mostrar uma forma singular do Brasil ser visto em relação a esse grupo de países e ao restante do mundo.20.

Tais eventos revelam a utilização da cartografia ultrapassando a mera orientação espacial; esta passa então a constituir uma matriz simbólica de ressignificação de valores compreendidos dentro das epistemologias do Sul que buscam, de acordo com Boaventura de Sousa Santos: “Daí que tenha proposto uma epistemologia do Sul assente em três orientações: aprender que existe o Sul; aprender a ir para o Sul; aprender a partir do Sul e com o Sul”. (De Sousa Santos, 2018, p. 591)

De forma análoga à utilização didática do slogan da Escuela del Sur pela Telesur, o pensamento de Torres-García, na citação de Lula, contribui para a popularização e atualização de um debate epistemológico cuja razão de existência é a de transformar a realidade de um modo mais favorável ao Sul após todas as consequências acarretadas pelos séculos de colonização, que vão do preconceito (disseminado pelas instituições legitimadas pelo establishment cultural e econômico dominado pelas potências mundiais) perante os pontos de vista e demandas do Sul, à desigualdade na distribuição da riqueza produzida pela humanidade.

A discussão epistemológica, antes restrita aos leitores das publicações de Torres-García ou aos estudantes, professores e pesquisadores dos círculos de intelectuais de autores como Boaventura de Sousa Santos, chega a milhões de brasileiros e estrangeiros com acesso à internet quando estes acessam desde suas redes sociais, voluntaria ou involuntariamente, as falas de representantes políticos e jornalistas contendo notícias sobre o Sul Global.

Guardadas as peculiaridades dos objetivos pessoais e artísticos de TorresGarcía ao desenhar a América Invertida e associar-lhe a expressão icônica, o autor uruguaio forneceu à posteridade uma matriz simbólica apta a qualquer formulação teórica que se apresente reivindicando o Sul como ponto de partida. Da Pátria Grande de Chávez ao Sul Global de Lula, o princípio da Escuela del Sur é atualizado. Existem indícios de que o novo mapa do IBGE possa ter sido inspirado na América Invertida. De acordo com o jornalista Ivan Longo, da Revista Fórum:

Aparentemente o IBGE utilizou um conceito parecido com o do artista uruguaio Joaquim Torres Garcia, que em 1943 desenhou a América do Sul “ao contrário”, com o Sul Global orientado ao topo do desenho. Se no presente mapa do IBGE o Sul não está orientado para cima, por outro lado, o fato de o Brasil figurar ao centro, aproxima as duas ideias.21

Conforme o exposto, enquanto o prestígio da Pátria Grande bolivariana, conquistado por Chávez, definha numa Venezuela noticiada pelas manchetes internacionais por meio de imagens de violência, corrupção e autoritarismo, a política exterior brasileira demonstra importante interesse pela renovação do potencial contido na América Invertida. Notoriamente, não existem condições no atual cenário como para viabilizar qualquer foro internacional onde a Venezuela possa ter algum tipo de protagonismo. O mesmo não se aplica ao sul de Pacaraima. 

Se os ventos da geopolítica estão desfavoráveis a Caracas, em Brasília o Itamaraty ensaia reencontrar o caminho a sua tradição de soft power perdida após uma temporada conservadora pouco amigável ao aprofundamento do diálogo internacional.

E, como a diplomacia não se realiza plenamente somente nas dependências das chancelarias, necessita sempre de uma ligação com o segmento propagandístico do governo de turno, de modo a informar a população transmitindo imagens em linguajares sintéticos cuja compreensão abarque a população em geral, os eleitores, o povo, abre-se um valioso front para a arte. 

A página oficial do governo brasileiro sobre o G20 ilustra esse sentido didático e simbólico da comunicação22. Além da logomarca da presidência do Brasil (1/12/2023 a 30/11/2024) representando o contorno geográfico do país através de traços nas cores verde, amarelo e azul, com o vermelho no centro, na aba notícias daquela página web, foi publicada, no dia 5 de fevereiro de 2024, matéria23 intitulada “Quebrando paradigmas: Sul Global lidera debates para desenvolvimento mais inclusivo”.

O texto institucional transcreveu um trecho da fala do presidente Lula, de novembro de 2023, sobre Torres-García, abordou a diversidade de realidades de países que compõem o Sul Global e a necessidade destes entoar voz conjunta em busca do desenvolvimento comum. A foto de uma versão da obra América Invertida, fixada num poste em frente a Galeria Sur, em Punta del Este, ocupa um considerável espaço no início da matéria. Ilustrando o restante do texto, aparecem outras duas imagens: primeiro uma foto da obra América Invertida, seguida por uma versão do mapa-múndi invertido destacando em vermelho os países do Sul Global. 

Além disso, essa evidente transição da metáfora torresgarciana do Sul bolivariano ao Sul Global pode ser corroborada pelo escopo da argumentação do artista contra a imitação, quando exortou os artistas do seu tempo a construírem, inovarem, a partir do que o mundo lhes oferecesse (Torres-García, 1946, p. 4) :

Y en posesión de la teoria, trabajemos, en todo caso, frente a lo real. Porque, hasta ahora, sélo se han hecho manzanas de California, y aún no muy lozanas […] Y bien: nosotros, progresistas, nosotros internacionalistas, ¿qué debemos hacer? La respuesta está dada: todo lo del mundo, que venga en tal sentido. ¡Lo nuevo! Y entonces, con las reglas que habremos aprendido, construyamos, configuremos una obra también nueva; nueva como todo lo nuevo que llega hasta nosotros24.

Tal postura para conduzir a “un mundo nuevo para este Nuevo Mundo25 adotando a perspectiva de inspiração, jamais de cópia:

Los que están en la rutina, mal que se prensen la cabeza, no encontrarán nada. Pues pensando en lo que fué, ¿harán nada nuevo? Y hay que hacer algo nuevo; sí, algo inédito y algo muy fuerte. ¿Acaso la motonave copia al barco de vela; o la locomotora, formidable, potente, al caballo? Y el avión, que copia?; ¿Y el artista no vé y siene todo eso? ¿Por qué no ha de darle forma, no ha de construir con ello? Pero a nosotros, americanos, hombres de este hemisferio, sin tradición (puesto que somos hombres nuevos) más que otros, ¿no hemos de maravillarnos de todo esto y transformarlo en obras plásticas, sin imitar nada, equivalente a todo eso?26

A utopia da Pátria Grande já ultrapassou os dois séculos de existência, não através desse termo, mas através do que ele designa: unidade continental política e cultural. Os primeiros ideólogos da Pátria Grande, Bolívar e Artigas, por exemplo, vistos anacronicamente desde os séculos XX e XXI, não conheceram a terminologia Pátria Grande, assim como jamais souberam que estavam defendendo a uma América dita Latina. Pátria Grande e América Latina foram nomeações posteriores, a primeira foi formulada por Manuel Ugarte, no começo do século XX, a segunda no contexto da intervenção francesa no México nos tempos de Napoleão III. 

Após examinar os aspectos comuns entre os sujeitos históricos relacionados pela literatura e tradição ao conceito de Pátria Grande, nota-se que a Pátria Grande diz respeito à fusão dos valores oriundos das iniciativas defensoras da descolonização latino-americana de viés integracionista. Somente a descolonização não explicaria e nem contaria muito sobre a Pátria Grande. A descolonização se refere à ruptura dos vínculos com as ex-metrópoles e à continuidade da luta por outros variantes de independência, como a de ordem cultural, a econômica e a estética, por exemplo. A descolonização de cada país, sem buscar estabelecer laços institucionais ou culturais de integração é justamente um dos obstáculos essenciais à utopia da Pátria Grande. Dessa forma, os libertadores da América, Manuel Ugarte, algumas experiências da guerrilha latino-americana, o bolivarianismo chavista, e o próprio Torres-García passaram ao que poderia ser concebido como um cânone das referências do conceito de Pátria Grande, justamente por conjugarem em suas metas maiores a continuidade das lutas pelo aprofundamento das independência de modo integrado.

Os meios para o avanço nessa empreitada hemisférica descolonizadora foram tão variados quanto o foram as transformações conjunturais dos últimos dois séculos. E, por terem sido caminhos heterogêneos, o caráter didático da América Invertida obtém êxito quando utilizado para sintetizar qualquer bandeira que se proponha a lutar pela integração e protagonismo do Sul no seu destino. Essa flexibilidade das possibilidades didáticas é coerente com o legado pedagógico de Torres-García. Como visto no capítulo reservado aos experimentos com brinquedos, o maestro Torres defendia a liberdade do aluno ao combinar as peças criadas pelo artista e professor uruguaio. A orientação “Démosle, pues, los juguetes a piezas, y que haga lo que quiera27pode ser aplicada às utilizações do seu mapa invertido ou frase, que neste caso não passam pelo controle do autor em qualquer tipo de orientação específico sobre quem pode utilizar e como deve utilizar a sua América Invertida. É possível concluir que a obra acaba se tornando uma “peça”, e que assim como as obras-brinquedo eram apenas peças e formas, sínteses de ideias de alguma coisa, será na realidade da criança ou do político ou de qualquer indivíduo do “público” que possa vir a “brincar”, contemplar, analisar ou fazer uso ideológico das peças, desenhos, esculturas que essa peça ideia de algo.

CONCLUSÕES

É notadamente marcante a vigência do apelo ao protagonismo do Sul em Torres-García nos discursos mais recentes de lideranças tão díspares como Lula e Maduro. Inverter a América para o bolivarianismo é basicamente reforçar os esquemas visuais e da propaganda anti-imperialista (sobretudo anti-americana). Com base na inexpressiva capacidade de liderança mais recente da Venezuela, constata-se que a breve fala de Lula sobre Torres-García em novembro de 2023 pode estar apontando para uma transição entre a associação de Torres-García com o bolivarianismo chavista e a sua atualização nas imagens sobre o paradigma geopolítico do Sul Global.

A ressignificação do Sul proposta por Torres-García apresenta-se sempre vigente em todas as agendas da descolonização pesquisadas, e a confluência entre a vertente artística iniciada em Montevidéu pelo grupo da Escuela del Sur e tais agendas políticas, de acordo com as mudanças na geopolítica da América Latina nas últimas duas décadas, revelam que a premissa unificadora da arte de TorresGarcía e política integradora e decolonial hemisférica, se por um lado renovam os seus discursos perante as alterações na conjuntura, não perderam as respectivas essências encontradas na integração continental.

Essa vigência do pensamento do maestro Torres, neste ano do 150º aniversário do nascimento do seu nascimento, pode de alguma maneira ter sido imaginada por ele quando escreveu o seu II Manifesto em Montevidéu, em 1938: (p.13)

finida esta primera etapa de exposición (podría decirse de siembra de la idea) ha de sucederle otra la de germinación y desarrollo. Ocultas bajo tierra las semillas; sin sospechar nadie su existencia, puede que un día sorprenda ver como dan testimonio de que ocultamente germinaron. Yo tengo absoluta fe en esto. Yo tengo fe de que esto es algo fatal28.


2 Em 20 de setembro de 2022, ocasião da viagem de Jair Bolsonaro à Nova Iorque para participar da Assembleia Geral da ONU, as palavras “vergonha brasileira” foram projetadas no prédio da ONU. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2022/09/20/projecao-na-onu-com-imag em-de-bolsonaro-chama-brasileiro-de-vergonha.htm

3 Fórum internacional composto pelas 20 maiores economias do mundo. O Brasil sucedeu a Índia na presidência do Fórum em 2024.

4 Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=ld_Ce54xhR8

5 Este artigo integra parte dos esforços da minha pesquisa de mestrado, que aborda as relações entre Torres-García e a utopia da Pátria Grande. Inicialmente, a pesquisa focou apenas na presença da obra de Torres-García no bolivarianismo. No entanto, durante o desenvolvimento do trabalho, o lema da Escuela del Sur emergiu no discurso oficial da política externa brasileira, revelando a necessidade de analisar a transição da utilização da frase “Nuestro Norte es el Sur” da Pátria Grande chavista para o Sul Global defendido por Lula.

6 Como exemplos dessa heterogeneidade citam-se: a ditadura populista de Maduro, o extremismo de direita do anarcocapitalista Javier Milei, a centro-direita de Lacalle Pou, o socialismo moderado de Gabriel Boric no Chile, o progressismo de coalizão inclinado à esquerda de Lula.

7 Discurso na abertura do 6º Brasil Investiment Forum, disponível em https://www.gov.br/planalto/pt-b r/acompanhe-o-planalto/discursos-e-pronunciamentos/2023/pronunciamento-do-presidente-lula-na-ab ertura-do-6o-brasil-investment-forum

8 Maduro utilizou a expressão Pátria Grande enquanto Lula recorreu ao desenho de Torres-García.

9 Ginzburg cita o historiador da arte italiano Giovanni Morelli para ilustrar o paradigma indiciário. Ibid., p. 171

10 Ideólogo russo ultra-nacionalista.

11 Alexander Duguin: “Os manifestantes americanos serão uma ala e os populistas europeus serão a outra ala. A Rússia em geral ficará em terceiro; ela será uma entidade angelical com muitas asas – uma ala chinesa, uma ala islâmica, uma ala paquistanesa, uma ala xiita, uma ala africana e uma ala latino-americana” Disponível em https://lvsl.fr/pourquoi-lextreme-droite-sinteresse-aux-theories-decolo niales/?

12 “Contra a globalização selvagem”. Disponível em https://www.lemonde.fr/politique/article/2013/01/0 8/marine-le-pen-veut-faire-de-2013-une-annee-contre-mondialisation-sauvage_1814227_823448.html

13 “A utilização do termo “Sul” para se referir coletivamente aos países em desenvolvimento tem feito parte do vocabulário das relações internacionais desde a década de 1970. Baseia-se no fato de todos os países industrialmente desenvolvidos do mundo (com excepção da Austrália e da Nova Zelândia) se situarem a norte dos seus países em desenvolvimento. O termo não implica que todos os países em desenvolvimento sejam semelhantes e possam ser agrupados num só. O que realça é que, embora os países em desenvolvimento variem em todos os aspectos económicos, sociais e políticos, todos partilham um conjunto de vulnerabilidades e desafios. As listagens abaixo mostram alguns dos principais agrupamentos que constituem o sul global. Disponível em Disponível em https://www.undp. org/sites/g/files/zskgke326/files/migration/cn/UNDP-CH-PR-Publications-UNDay-for-South-South-Coo peration.pdf

14 Discurso em Caracas no dia 22/02/2019. Disponível em https://operamundi.uol.com.br/politica-e-ec onomia/estamos-do-lado-certo-da-historia-leia-integra-do-discurso-de-maduro-em-caracas/

15 De acordo com a ONU News: https://news.un.org/pt/story/2023/09/1820882

16 De acordo com acordo com a agência da ONU para refugiados. Ver https://www.acnur.org/portugu es/venezuela/

17 Divulgado em https://x.com/MarcioPochmann/status/1778564331703083044

18 O perfil se chama “Momentos loucos na política da América Latina”: https://x.com/AssLatam/statu s/1778734561834238422

19 Ver perfil oficial de Lula no twitter: https://x.com/LulaOficial/status/1778832743347986742

20 Da agência de notícias do IBGE: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agen cia-de-noticias/noticias/39706-novo-atlas-do-ibge-traz-mapas-com-o-brasil-no-centro-do-mundo

21 Reportagem disponível em https://revistaforum.com.br/politica/2024/4/12/reao-de-lula-ao-perfil-grin go-que-tentou-ironizar-novo-mapa-mundi-com-brasil-no-centro-157223.html

22 Disponível em https://www.g20.org/pt-br/sobre-o-g20/tema-e-logo Acessado em 11/08/2024

23 Disponível em https://www.g20.org/pt-br/noticias/quebrando-paradigmas-sul-global-lidera-debatespara-desenvolvimento-mais-inclusivo Acessado em 11/08/2024.

24 “Em posse da teoria, trabalhemos, em todo caso, frente ao real. Porque, até agora, só foram feitas maçãs da Califórnia, e ainda não muito viçosas […] E bem: nós, progressistas, nós internacionalistas, o que devemos fazer? A resposta está dada: tudo que vem do mundo, que venha nesse sentido. O novo! E então, com as regras que teremos aprendido, construamos, configuremos uma obra também nova; nova como tudo o que é novo que chega até nós.”

25 Ibid., p. 4.

26 “Quem está na rotina, por mais que se esforcem, não encontrarão nada. Pois pensando no que foi, farão algo novo? E é preciso fazer algo novo; sim, algo inédito e algo muito forte. Será que a motonave copia o barco à vela? Ou a locomotiva, formidável, potente, copia o cavalo? E o avião, o que copia? E o artista não vê e sente tudo isso? Por que não deveria dar forma a isso, não deveria construir com isso? Mas nós, americanos, homens deste hemisfério, sem tradição (visto que somos homens novos) mais do que outros, não deveríamos nos maravilhar com tudo isso e transformá-lo em obras plásticas, sem imitar nada, equivalente a tudo isso?” Ibid., p. 4.

27 Presente no catálogo dos brinquedos produzidos pela fábrica de Francisco Rambla.

28 Terminada esta primeira etapa de apresentação (pode-se dizer a semeadura da ideia), deve seguir-se outra etapa de germinação e desenvolvimento. As sementes ocultas no subsolo; Sem que ninguém suspeite de sua existência, um dia poderá surpreender ao ver-se como testemunham que germinaram secretamente. Tenho fé absoluta nisso. Tenho fé que isso é algo fatal.


REFERÊNCIAS

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1Doutorando em Artes Visuais pela Universidade de Brasília na linha de pesquisa Teoria e História da Arte.