SUSTENTABILIDADE NOS PROCESSOS ADMINISTRATIVOS: ADOÇÃO DE PRÁTICAS VERDES E SEU IMPACTO NA REDUÇÃO DE CUSTOS OPERACIONAIS

SUSTAINABILITY IN ADMINISTRATIVE PROCESSES: ADOPTION OF GREEN PRACTICES AND THEIR IMPACT ON REDUCING OPERATIONAL COSTS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch102024111129


Grasiele Maria da Hora;
Raphaella Patrícia César de Andrade;
Danieli Larissa da Silva;
Danilo Barbosa da Silva


Resumo

A pesquisa discute como a sustentabilidade, integrada à gestão empresarial, pode não só minimizar o impacto ambiental, mas também promover economias substanciais por meio de práticas eficientes no uso de recursos. A metodologia bibliográfica utilizada baseou-se na análise de obras e artigos científicos que exploram a relação entre sustentabilidade e desempenho econômico. Os resultados indicam que a implementação de práticas sustentáveis, como a digitalização de documentos e a otimização do consumo de energia, contribui significativamente para a redução de despesas operacionais, além de melhorar a competitividade das empresas. Conclui-se que a sustentabilidade, longe de ser um custo adicional, deve ser vista como uma estratégia inovadora que otimiza processos e gera valor a longo prazo, mesmo que seu sucesso dependa de investimentos iniciais e adaptação organizacional.

Palavras-chave: Sustentabilidade. Práticas verdes. Redução de custos. Gestão administrativa. Competitividade empresarial.

1. INTRODUÇÃO

A sustentabilidade tornou-se um dos principais pilares na administração moderna, impulsionada por uma crescente conscientização ambiental e a necessidade de práticas empresariais responsáveis. A incorporação de práticas sustentáveis nos processos administrativos pode resultar em economias substanciais a longo prazo, especialmente em relação à eficiência energética e ao uso responsável de recursos naturais (Hart & Milstein, 2003). 

A integração de práticas verdes nos processos administrativos tem se mostrado não apenas uma tendência, mas uma estratégia essencial para empresas que buscam reduzir seu impacto ambiental e melhorar a eficiência operacional. O conceito de práticas verdes envolve a implementação de políticas e processos que minimizam o uso de recursos naturais e reduzem a geração de resíduos, alinhando-se com os princípios da economia circular e da responsabilidade social corporativa. Empresas que implementam estratégias de sustentabilidade podem não apenas minimizar seu impacto ambiental, mas também obter vantagens econômicas, como redução de custos operacionais por meio de práticas como a gestão de resíduos e o uso eficiente de recursos (Porter & Kramer, 2011). 

Para a Matos & Hall, (2007), a eliminação de desperdícios e a reutilização de materiais são componentes essenciais das práticas verdes, permitindo uma redução direta nos custos operacionais Empresas que integram sustentabilidade em sua estratégia administrativa têm mostrado uma vantagem competitiva em relação àquelas que mantêm práticas tradicionais, visto que a sustentabilidade promove inovação e eficiência (Eccles, Ioannou & Serafeim, 2014).

A preocupação com a sustentabilidade no contexto administrativo não é recente, mas tem se intensificado nas últimas décadas devido a uma maior regulamentação ambiental e à pressão dos consumidores por práticas empresariais responsáveis. Estudos anteriores indicam que a adoção de práticas sustentáveis pode levar a uma significativa redução de custos operacionais, como resultado da maior eficiência no uso de recursos e na minimização de desperdícios. Entretanto, a implementação dessas práticas ainda apresenta desafios, incluindo a necessidade de investimentos iniciais e a adaptação dos processos administrativos existentes.

O problema central desta pesquisa é entender como a adoção de práticas verdes nos processos administrativos pode impactar a redução de custos operacionais nas empresas. A problematização surge da necessidade de evidenciar se e como essas práticas, frequentemente associadas a custos elevados e complexidade adicional, podem efetivamente contribuir para a diminuição das despesas operacionais e, ao mesmo tempo, promover um desempenho ambiental positivo.

A justificativa para este estudo reside na crescente importância da sustentabilidade como um diferencial competitivo e na necessidade de fornecer evidências concretas sobre os benefícios econômicos da adoção de práticas verdes. Com o aumento das regulamentações ambientais e a pressão social por maior responsabilidade corporativa, é crucial que as empresas compreendam os impactos reais das práticas sustentáveis na sua gestão financeira e operacional. Esta pesquisa busca preencher lacunas na literatura existente e fornecer orientações práticas para gestores que consideram implementar ou expandir suas iniciativas de sustentabilidade.

Os objetivos são: 

1) Identificar e analisar as práticas verdes implementadas nos processos administrativos das empresas; 

2) Avaliar o impacto dessas práticas na redução de custos operacionais;

3) Fornecer recomendações baseadas em evidências para a melhoria contínua das estratégias de sustentabilidade nas organizações;

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

A sustentabilidade nas organizações pode ser compreendida como a capacidade de uma empresa em conduzir suas operações de forma que atenda às necessidades atuais sem comprometer a capacidade das futuras gerações (Elkington, 1997). Segundo Barbieri e Cajazeira (2010), a gestão sustentável envolve não apenas o cumprimento de legislações ambientais, mas a adoção voluntária de práticas que promovam o uso racional dos recursos e a redução de desperdícios.

De acordo com Hart (1995), as empresas que incorporam estratégias ambientais em suas operações tendem a melhorar sua reputação e reduzir riscos operacionais relacionados a questões legais e de escassez de recursos. Estas práticas, que vão desde a redução no consumo de energia até a implementação de cadeias de suprimentos mais eficientes, contribuem para o aumento da lucratividade a longo prazo, ao reduzir custos associados a desperdícios e ineficiências.

A implementação de práticas verdes também pode resultar em economia de custos para as organizações. Porter e Van der Linde (1995) sugerem que melhorias ambientais podem levar à inovação, o que, por sua vez, pode reduzir custos de produção e aumentar a competitividade. Práticas como a reutilização de materiais e a gestão eficiente de resíduos reduzem a dependência de matérias-primas e diminuem os custos relacionados ao descarte de resíduos.

Empresas que adotam a sustentabilidade em seus processos administrativos são capazes de identificar oportunidades de otimização de recursos, como a economia de energia e água, que resultam em menor custo operacional. Além disso, a redução no uso de materiais e o incentivo à reciclagem contribuem para a minimização de despesas com insumos. O uso de ferramentas tecnológicas avançadas, como sistemas de gestão ambiental, tem facilitado a implementação de processos produtivos mais eficientes e menos dependentes de recursos não-renováveis. Essas inovações têm sido essenciais para a transformação de práticas administrativas convencionais em práticas verdes, que agregam valor tanto para a empresa quanto para a sociedade.

3. METODOLOGIA 

A metodologia adotada para esta pesquisa bibliográfica sobre sustentabilidade nos processos administrativos, com foco na adoção de práticas verdes e seu impacto na redução de custos operacionais, segue um rigor acadêmico baseado na seleção e análise de obras e artigos científicos relevantes para a área. A pesquisa bibliográfica é uma forma eficiente de explorar as contribuições teóricas e práticas sobre sustentabilidade organizacional, permitindo uma compreensão mais ampla sobre os efeitos das práticas ambientais no desempenho econômico das empresas.

O estudo enquadra-se como uma pesquisa exploratória e descritiva de natureza qualitativa. A pesquisa exploratória, segundo Vergara (2009), é apropriada quando há a necessidade de uma maior familiaridade com o problema, visando tornar o tema mais explícito ou construir hipóteses futuras. Por sua vez, a pesquisa descritiva, de acordo com Severino (2017), busca detalhar as características de determinado fenômeno, como é o caso das práticas verdes e sua correlação com a redução de custos operacionais.

A pesquisa também se caracteriza por ser bibliográfica, conforme assinala Sampieri, Collado e Lucio (2013), pois utiliza fontes secundárias como livros, artigos científicos e documentos técnicos para fundamentar a investigação. Tal abordagem é adequada para estudar temas amplos como sustentabilidade e gestão, permitindo a coleta de informações atualizadas e pertinentes.

Diferente de pesquisas empíricas que envolvem a seleção de indivíduos ou empresas, neste estudo, a “população” é constituída pela literatura acadêmica disponível. A seleção de fontes seguiu critérios de relevância, atualidade e credibilidade das publicações. Para garantir a representatividade dos trabalhos analisados, foram selecionados materiais conforme os critérios de seleção sugeridos por Souza et al. (2010). Essa escolha possibilitou uma visão abrangente dos avanços nas áreas de gestão sustentável e redução de custos operacionais.

A coleta de dados baseou-se na pesquisa sistemática de artigos científicos, livros e relatórios técnicos de instituições de referência na área de sustentabilidade e administração. De acordo com Sá-Silva, Almeida e Guindani (2009), a coleta de dados em pesquisa bibliográfica deve ser criteriosa e seguir uma metodologia clara para garantir a consistência das informações. A pesquisa abrangeu fontes em português e inglês para garantir uma maior diversidade de abordagens e estudos de caso internacionais.

A análise dos dados foi conduzida de forma qualitativa e interpretativa. Segundo Minayo (2012), a análise qualitativa visa entender o conteúdo de maneira crítica, permitindo a extração de significados que vão além da simples leitura dos textos. Os materiais coletados foram organizados em categorias temáticas que englobam os benefícios econômicos da sustentabilidade, desafios na implementação de práticas verdes e estratégias para a redução de custos.

A técnica de análise temática descrita por Flick (2009) foi utilizada para identificar padrões e tendências na literatura revisada. A partir dessas categorias, foram estabelecidas correlações entre a adoção de práticas sustentáveis e o impacto financeiro nas organizações. Essa abordagem interpretativa permitiu evidenciar como as práticas verdes contribuem para a melhoria do desempenho econômico das empresas ao reduzir custos com energia, materiais e processos produtivos.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

A sustentabilidade empresarial, entendida como a incorporação de práticas que respeitam o meio ambiente e promovem o desenvolvimento econômico, sem comprometer as gerações futuras, tem ganhado relevância em virtude de uma maior conscientização sobre as mudanças climáticas e a necessidade de uma economia mais verde.

De acordo com Porter e van der Linde (1995), a introdução de práticas verdes nas organizações não apenas reduz o desperdício, mas também pode melhorar a eficiência dos processos produtivos, levando a uma economia significativa de custos. No contexto dos processos administrativos, isso se reflete, por exemplo, na redução do uso de papel, energia e outros recursos materiais. Essas mudanças, além de contribuírem para a preservação ambiental, podem resultar em menores despesas operacionais, como demonstrado em diversos estudos.

Uma pesquisa realizada por Hart (1997) destaca que empresas que adotam práticas sustentáveis têm maior probabilidade de se destacarem em termos de competitividade, justamente por conseguirem alinhar suas operações com demandas crescentes por responsabilidade ambiental. Nesse sentido, a implementação de estratégias como a digitalização de documentos, o uso de energia renovável, e a otimização de processos administrativos se apresentam como soluções que não apenas reduzem custos, mas também melhoram a imagem da empresa junto aos seus stakeholders.

A utilização de tabelas e gráficos é essencial para ilustrar o impacto econômico dessas práticas. Por exemplo, em um estudo realizado por Rennings (2000), empresas que adotaram a digitalização de seus processos administrativos observaram uma redução de até 30% em custos operacionais relacionados ao consumo de papel e impressão. Isso demonstra claramente como práticas sustentáveis podem trazer retornos financeiros significativos, além de promoverem um ambiente corporativo mais responsável.

No que diz respeito à comparação com outros achados de pesquisas, Elkington (1999) introduz o conceito de “tripé da sustentabilidade”, que defende que as empresas devem buscar o equilíbrio entre três pilares: o econômico, o social e o ambiental. A análise dos processos administrativos sob essa ótica revela que, além de gerar economia, a adoção de práticas verdes pode melhorar a satisfação dos funcionários, uma vez que eles percebem que a empresa está comprometida com questões ambientais. Este é um fator importante para retenção de talentos, o que, por sua vez, também tem impacto nos custos operacionais, especialmente aqueles relacionados ao turnover e à contratação de novos profissionais.

Por fim, ao confrontar os dados obtidos com a literatura específica, é possível afirmar que a adoção de práticas verdes nos processos administrativos é uma tendência irreversível e necessária para que as empresas se mantenham competitivas no longo prazo. Conforme destaca Freeman (1984), ao atender às expectativas dos diversos stakeholders, as empresas não apenas reduzem custos, mas também fortalecem sua legitimidade no mercado. Esse impacto é amplificado quando as organizações são transparentes em suas práticas e comunicam de forma eficaz os resultados alcançados por meio dessas iniciativas.

5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa demonstra que a adoção de práticas verdes nos processos administrativos das empresas impacta positivamente a redução de custos operacionais, confirmando os objetivos estabelecidos no início do estudo. As análises indicam que a sustentabilidade, ao ser incorporada nas operações empresariais, não apenas contribui para a preservação ambiental, mas também resulta em maior eficiência e competitividade. As hipóteses de que as práticas sustentáveis podem gerar economia de recursos e otimização de processos foram validadas, evidenciando uma relação direta entre sustentabilidade e redução de despesas.

O estudo apresenta contribuições teóricas ao reforçar que a sustentabilidade não deve ser vista como um custo adicional, mas como uma estratégia de inovação e gestão eficiente. A pesquisa também destaca as limitações relacionadas à necessidade de investimentos iniciais e adaptação cultural nas empresas, sugerindo que futuros estudos abordem métodos para superar esses desafios. Conclui-se, portanto, que os objetivos da pesquisa foram atingidos, oferecendo tanto uma base teórica sólida quanto recomendações práticas para a implementação de estratégias sustentáveis nas organizações.

REFERÊNCIAS

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