LEITURA E ESCRITA NA PERSPECTIVA DA ALFABETIZAÇÃO E DO LETRAMENTO: DESAFIOS E CONTEXTOS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202410060801


Vanessa do Carmo Rodrigues Lacerda1;
Sandra Karina Barbosa Mendes


RESUMO

O presente estudo propõe-se analisar a aprendizagem da leitura e da escrita na perspectiva da alfabetização e do letramento, destacando sua importância para o desenvolvimento cognitivo e social dos alunos, bem como o domínio das habilidades de leitura e escrita em diferentes contextos e situações. Para tanto, institui-se os seguintes objetivos específicos: investigar a importância da leitura e da escrita no processo de alfabetização e letramento, considerando seu papel na formação de sujeitos críticos e autônomos; analisar como o letramento influencia o domínio das habilidades de leitura e escrita em diferentes contextos sociais e educacionais e discutir as estratégias pedagógicas mais eficazes para promover a alfabetização e o letramento de forma integrada, garantindo o desenvolvimento pleno das habilidades de leitura e escrita.  A construção metodológica deste trabalho tem como base uma pesquisa bibliográfica, de abordagem qualitativa, com foco nos estudos de Ferreiro; Teberosky (1986), Soares (2004), Freire (1989), dentre outros que destacam a relevância da leitura e da escrita como ferramentas essenciais para o desenvolvimento escolar no ensino fundamental. Os dados da pesquisa demonstram que a leitura e a escrita são processos interdependentes, cuja eficácia depende de estratégias pedagógicas que levem em consideração o contexto social dos alunos. Nestes termos, a conclusão aponta que a aprendizagem da leitura e da escrita, integrada à alfabetização e letramento, é essencial para formar indivíduos críticos e autônomos.

Palavras-chave: Letramento; Habilidades de leitura e escrita; Contextos educacionais.

 1 INTRODUÇÃO

A aprendizagem da leitura e da escrita desempenha um papel central no desenvolvimento educacional, social e cognitivo dos indivíduos. No contexto escolar, os conceitos de alfabetização e letramento têm sido amplamente discutidos como processos complementares, sendo a alfabetização tradicionalmente relacionada à aquisição da capacidade técnica de ler e escrever, enquanto o letramento envolve o uso social dessas habilidades em diferentes contextos. Compreender essa interdependência é fundamental para a formação integral dos estudantes, permitindo que eles dominem a técnica e utilizem a leitura e a escrita de maneira crítica e significativa.

No entanto, muitos sistemas educacionais enfrentam desafios para integrar essas duas dimensões de forma eficaz, o que resulta em uma aprendizagem superficial ou desconectada da realidade vivenciada pelos estudantes. A falta de estratégias pedagógicas que promovam uma abordagem equilibrada entre a alfabetização e o letramento pode comprometer o pleno desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita, dificultando a inserção dos alunos em um ambiente social e profissional cada vez mais exigente. Diante desse cenário, surge a necessidade de investigar como esses processos interdependentes podem ser melhor articulados para favorecer a aprendizagem significativa. Assim, levanta-se a seguinte questão de pesquisa: Como a alfabetização e o letramento, enquanto processos interdependentes, contribuem para o domínio das habilidades de leitura e escrita em diferentes contextos, e quais estratégias pedagógicas podem ser utilizadas para promover esse desenvolvimento de forma eficaz?

Tem-se enquanto objetivo geral deste trabalho: analisar a aprendizagem da leitura e da escrita na perspectiva da alfabetização e do letramento, destacando sua importância para o desenvolvimento cognitivo e social dos alunos, bem como o domínio das habilidades de leitura e escrita em diferentes contextos e situações. Como objetivos específicos, pretende-se investigar a importância da leitura e da escrita no processo de alfabetização e letramento, considerando seu papel na formação de sujeitos críticos e autônomos; analisar como o letramento influencia o domínio das habilidades de leitura e escrita em diferentes contextos sociais e educacionais e discutir as estratégias pedagógicas mais eficazes para promover a alfabetização e o letramento de forma integrada, garantindo o desenvolvimento pleno das habilidades de leitura e escrita.  

O estudo consiste em uma pesquisa bibliográfica de abordagem qualitativa, que segundo Minayo (2010) se preocupa com o nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo de significados, de motivações, aspirações, crenças, valores e atitudes, ela trabalha com descrições, comparações e interpretações. Por outro lado, Fonseca (2002) ressalta que

[…] a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem, porém pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta (p. 32).

A análise bibliográfica envolve o estudo e a avaliação crítica de materiais já publicados sobre o tema em questão. Ao investigar as dificuldades de leitura e escrita a análise bibliográfica se torna especialmente crucial ao permitir a contextualização do problema, entendendo como as dificuldades de leitura e escrita tem sido abordado ao longo do tempo, quais aspectos foram mais estudados e quais lacunas ainda existem. Além disso, a análise bibliográfica ajuda a definir conceitos, teorias e termos relacionados, assegurando que o pesquisador tenha um entendimento claro e atualizado deles. Ao revisar trabalhos anteriores, o pesquisador pode identificar quais metodologias foram utilizadas para investigar as dificuldades de leitura e escrita.

Por fim, na análise dos dados adotou-se a análise de conteúdos, ancorados nas proposições de Bardin (1996). Durante a análise de conteúdo, os dados foram codificados, o conteúdo foi desmembrado em unidades, de acordo com certos critérios previamente definidos. E em seguida, o material foi analisado e interpretado. Esta fase envolveu a compreensão do significado dos dados e das categorias, bem como a inferência de conclusões.

1. A APRENDIZAGEM DA LEITURA E DA ESCRITA NA PERSPECTIVA DA ALFABETIZAÇAO E DO LETRAMENTO

Nas visões tradicionais, a leitura era simplesmente interpretar códigos. No entanto, nos dias de hoje, ler é um processo interativo entre o leitor e o texto, uma atividade em que o leitor busca alcançar os objetivos que guiam sua leitura. Envolve o estabelecimento de diálogos com o autor, compreendendo seus pensamentos e sobretudo, discernindo seus propósitos. De acordo com Foucambert (1998), ler implica na criação de significados que estão relacionados às informações que o leitor já possui. Por outro lado, Matta (2009), argumenta que a leitura é fundamental para a produção e acesso ao conhecimento, sendo essencial no mundo do trabalho, na participação social e no exercício da cidadania. A leitura é uma constante busca pelo conhecimento, proporcionando acesso à cidadania, oportunidades no mercado de trabalho e facilitando a compreensão e atuação do indivíduo na sociedade.

Assim sendo, Silva (2003), menciona que a escola desempenha um papel fundamental na construção de conhecimentos, devendo formar cidadãos críticos capazes de participar ativamente e com dignidade na sociedade. A leitura e a escrita são pilares essenciais para edificar uma sociedade democrática, baseada na valorização da diversidade e na construção do conhecimento para o exercício pleno da cidadania. Considerando esses aspectos, é evidente que os professores têm o dever de estimular os alunos a cultivar o hábito da leitura, criando ambientes propícios para o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita.

Por outro lado, a aprendizagem da linguagem escrita é um marco significativo na trajetória educacional de todo indivíduo, representando não apenas a capacidade de decodificar letras e palavras, mas também de acessar conhecimentos, interpretar mundos e se expressar criticamente. Esse processo, longe de ser meramente técnico, é complexo, multifacetado e enraizado em aspectos cognitivos, sociais e culturais. Para a compreensão dito traz-se para o diálogo, Emília Ferreiro (1986) que revolucionou o campo da alfabetização ao afirmar que as crianças são seres ativos que constroem hipóteses sobre a linguagem escrita muito antes do ingresso formal na escola. De modo que a escrita, mais do que um mero registro, torna-se uma ferramenta poderosa de expressão e comunicação, permitindo ao indivíduo manifestar seus pensamentos, sentimentos e ideias.

Emília Ferreiro, introduziu uma revolução no entendimento da aprendizagem da escrita ao identificar que as crianças não aprendem a escrever apenas replicando o que é ensinado, mas através de uma série de construções conceituais, por meio das quais, desde muito cedo criam hipóteses sobre a escrita, passando por estágios que vão desde a escrita pré-silábica até a alfabética (Ferreiro; Teberosky, 1986). Outro importante pensador que enfatiza o processo de aprendizagem da escrita é Lev Vygotsky (1978) que em seus estudos destacou a importância das interações sociais na aprendizagem. Para ele, a linguagem escrita é adquirida no contexto das relações sociais, sendo uma ferramenta cultural transmitida às novas gerações.

Como Vygotsky (1978) pontua, a escrita amplia as funções mentais superiores, permitindo uma reflexão mais profunda e o desenvolvimento do pensamento crítico. A internalização da escrita, segundo Vygotsky, ocorre em um processo mediado, onde os significados são compartilhados e construídos coletivamente, principalmente na chamada “zona de desenvolvimento proximal”, espaço onde a aprendizagem é mais efetiva com a ajuda de alguém mais experiente.     

Isto faz-se necessário pois segundo ele a aprendizagem da escrita, é um complexo processo que vai muito além da simples aquisição de um código simbólico. De acordo com Vygotsky, a escrita, assim como outras formas de linguagem, é intrinsecamente social e interativa e deve ser compreendida no contexto do desenvolvimento cultural e individual da criança. Para Vygotsky, a escrita é uma das ferramentas simbólicas que a cultura proporciona às crianças. Através da interação social, as crianças se apropriam dessas ferramentas e as internalizam, o que, por sua vez, influencia o seu pensamento e desenvolvimento cognitivo. Assim, aprender a escrever não é apenas aprender a formar letras ou palavras, mas adquirir uma nova forma de pensar e interagir com o mundo.

Assim, a escrita é, essencialmente, uma forma de linguagem externa. Vygotsky acreditava que as crianças começam a compreender e usar a linguagem primeiro em um contexto social e, em seguida, internalizam essa linguagem para usá-la em um contexto intrapessoal. Este processo de “internalização” é fundamental para a aprendizagem da escrita, pois as crianças começam a entender que podem usar a escrita para comunicar ideias, assim como fazem com a fala, modalidade que constroem paulatinamente desde o nascimento. 

A transição da fala para a escrita de acordo com Magda Soares (2004), não é simplesmente um processo de codificação da fala, mas envolve a compreensão das especificidades e complexidades da linguagem escrita. Enquanto a fala é efêmera e dependente do contexto imediato, a escrita é permanente e precisa ser mais explicitamente organizada e estruturada. O ambiente em que a criança está inserida desempenha um papel crucial na sua aprendizagem da linguagem escrita.

2. O DOMÍNIO DAS HABILIDADES DA ESCRITA EM DIFERENTES CONTEXTOS E SITUAÇÕES: DISCUSSÃO SOBRE COMO O LETRAMENTO.

De acordo com Franco (1995), o progresso da leitura e da escrita ainda está vinculado a métodos tradicionais que focam na reprodução literal dos textos dos livros didáticos. No entanto, reconhece-se que a evolução da leitura e da escrita requer novas abordagens, considerando que esses processos são simultaneamente distintos e complementares. A gramática só adquire significado como instrumento da produção escrita, e o sujeito só constrói conhecimento em interação com o objeto. Isso é evidenciado pelo trabalho de Piaget, Emília Ferreiro e seus seguidores, os quais destacam que por trás da ação de segurar o lápis, dos olhos

O processo de alfabetização não se refere apenas ao trabalho desenvolvido no terceiro período da pré-escola e na 1ª série do primeiro grau, mas a todo esforço da criança para aprimorar-se do sentido da leitura e da escrita, desde o seu ingresso na escola (estágio pré-operatório) até, pelo menos, à 6ª ou 7ª série, quando começa sua passagem para o estágio operatório- formal (Franco, 1995, p. 10).

A autora também ressalta que a leitura e a escrita devem ser encaradas não apenas como atividades escolares obrigatórias, mas valorizadas ao longo de toda a jornada educacional. A criança só terá sucesso nas tarefas de leitura se possuir a competência básica para lidar com a ideia de símbolos. Ferreiro (1993) destaca que “um aspecto importante no processo de construção da leitura e escrita é o problema cognitivo envolvido no estabelecimento da relação entre o todo e as partes que o constitui.” Assim, Santos (2015) ressalta que na medida em que a criança é exposta à leitura e à escrita, ela passa a fazer suposições, a organizar e a relembrar as experiências que vivencia tanto em casa quanto na sociedade, interpretando textos escritos mesmo antes de entender plenamente a conexão entre leitura e escrita, o que a ajuda a desenvolver suas próprias ideias e a aprimorar a compreensão da linguagem escrita.

A esse respeito, Soares (2010, p. 41) comenta:

Quanto mais a criança for estimulada a experimentar escrever e ler, quanto mais ela puder exercitar a leitura e a escrita livremente, sem pressões, sem censura ou correções constantes, maior a possibilidade de desenvolver uma atitude positiva em relação a esse processo. 

Desse modo ao ingressar na escola, é crucial que a criança seja estimulada a desenvolver habilidades de leitura e escrita, compreendendo a relevância desse processo na comunicação do seu cotidiano. Dessa maneira, a criança é introduzida a um universo desconhecido, a ser explorado por meio da leitura e da escrita, as quais transcendem a mera decodificação de símbolos gráficos. A leitura se torna uma experiência que vai além das letras, permitindo ao leitor criar e interpretar significados a partir do encontro com o texto. Conforme Ferreiro e Palacio (1987, p.15) afirmam, “toda leitura é interpretação, e o que o leitor é capaz de compreender através da leitura depende fortemente daquilo que o leitor conhece e acredita a priori, ou seja, antes da leitura”.

A compreensão de um texto está intrinsecamente ligada ao conhecimento prévio adquirido ao longo da vida do leitor, resultante da interação com diversos níveis de conhecimento linguístico, textual e de mundo. De acordo com Antunes (2003, p. 54), “a leitura é parte da interação verbal escrita, enquanto implica a participação cooperativa do leitor na interpretação e na reconstrução do sentido e das intenções pretendidas pelo autor.” Assim, percebe-se que a leitura e a escrita se complementam, constituindo uma atividade de interação na qual o leitor vai além da decodificação dos sinais gráficos. Para a autora, é fundamental que o sujeito interprete e compreenda a mensagem transmitida pelo texto.

Nesse sentido Paulo Freire (1989) destaca:

A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto […] (Freire, 1989, p. 09).

Assim, ressalta-se a importância fundamental do papel do professor ao proporcionar aos alunos o contato com uma variedade de gêneros textuais, incentivando-os por meio de atividades prazerosas de leitura e escrita. Essa abordagem visa estimular os alunos a buscar significado no que leem e escrevem, estabelecendo conexões com outras áreas do conhecimento, promovendo assim uma aprendizagem reflexiva e significativa.

De acordo com Santos (2015), diversos teóricos têm manifestado preocupações quanto ao processo de aquisição da leitura e escrita nas séries iniciais do ensino fundamental. Essa inquietação surge devido ao grande número de alunos que finalizam essas séries sem apresentar as habilidades necessárias de leitura e escrita, o que afeta profundamente o desenvolvimento do conhecimento de crianças, jovens e adultos, tanto no contexto escolar quanto na vida em sociedade.

Paulo Freire (1989) propõe um método que se concentra na realidade do aluno, seja criança ou adulto, que ainda não adquiriu plenamente as habilidades de leitura e escrita. Para o autor, é essencial primeiro compreender a realidade circundante antes de se iniciar na decodificação das letras. Segundo Freire, a leitura e a escrita são significativas apenas quando o que está sendo lido faz sentido e quando ocorre uma comunicação eficaz. Neste contexto, o professor desempenha um papel crucial na sala de aula, atuando como facilitador e mediador no processo de ensino-aprendizagem, conectando o conhecimento ao aluno. Teberosky (1993) declara que o processo é complexo, envolvendo múltiplos aspectos interconectados. Primeiramente, há o processo de aprendizagem dos alunos, que abrange a aquisição de conhecimentos, habilidades e atitudes. Em paralelo, ocorre a situação de ensino-aprendizagem em sala de aula, onde professores e alunos interagem dinamicamente. Por fim, há o processo de reflexão e aprendizagem contínua dos professores, que ajustam suas práticas pedagógicas com base nas experiências e resultados observados.

No processo de aprendizagem da língua escrita, o uso de materiais e objetos significativos para o aluno desempenha um papel crucial no desenvolvimento da alfabetização. De acordo com Vygotsky (1978), quando os textos estão relacionados a temas do dia a dia do aluno, seu interesse é naturalmente despertado, pois ele reconhece que a língua escrita possui relevância em seu contexto imediato. Independentemente do método utilizado, o professor deve garantir a criação de um ambiente que atenda aos interesses e às necessidades individuais dos alunos, promovendo assim um ambiente propício para a aprendizagem. Conforme Soares (1998, p. 16), há duas formas de acesso à escrita:

O acesso ao mundo da escrita, num sentido amplo, se faz basicamente por duas vias um através do aprendizado de uma técnica: relacionar sons com letras, fonemas com grafemas [….]. A outra porta de entrada consiste em desenvolver as práticas de uso dessa técnica nas práticas sociais, as mais variadas.

Considerando essa afirmação, o processo de alfabetização não se restringe apenas à associação de fonemas em grafemas e vice-versa, mas também abrange a compreensão e expressão de significados por meio de códigos escritos. Uma maneira de promover o desenvolvimento da escrita desde os primeiros anos escolares é integrar diferentes gêneros textuais às práticas de leitura e escrita em sala de aula. Quanto mais familiarizado o aluno estiver com diversos tipos de texto, maior será sua compreensão do universo da leitura. Dauster (1994, p. 24), em seu artigo, destaca que “as práticas de oralidade e escrita são moldadas pelos recursos presentes na sala de aula”. Assim, os livros didáticos e literários por si só não são suficientes para cultivar as habilidades de um leitor dinâmico e criativo.

A esse respeito, Santos (2015) alerta que o educador deve introduzir aos alunos uma variedade de textos amplamente conhecidos e disseminados na sociedade, que englobam diferentes tipos de discursos, visando permitir que os estudantes se familiarizem com esses modelos e desenvolvam suas competências comunicativas. Gêneros textuais como bilhetes, cartas, histórias em quadrinhos e propagandas podem ser encontrados em jornais, revistas e outros veículos de comunicação. Esses meios proporcionam variadas experiências de leitura, ao mesclar linguagens visuais e verbais na televisão ou utilizar os recursos expressivos da fala no rádio.

Contudo, ante a estas questões, os educadores enfrentam a tarefa de aprimorar suas abordagens pedagógicas para formar cidadãos competentes em leitura e escrita. É essencial que esses indivíduos desenvolvam a habilidade de interpretar os conteúdos apresentados por meio de diferentes códigos, como letras, ilustrações, figuras, entre outros, além de expressar suas ideias, percepções e criatividade de forma articulada na escrita (Santos, 2015).

Assim, para que a aprendizagem promova uma mudança efetiva de comportamento e expanda o potencial do educando, é crucial que ele perceba a conexão entre o que está aprendendo e sua vida. A leitura e a escrita são fundamentais para o sucesso tanto na escola quanto na vida. Cagliari (2009) argumenta que a leitura representa a continuidade da escola na vida das pessoas, sendo a concretização do propósito da escrita. Ele ressalta que quem escreve o faz com a expectativa de ser lido. Para este autor,

A leitura não pode ser uma atividade secundária na sala de aula ou na vida, uma atividade para a qual a professora e a escola não dediquem mais que uns míseros minutos, na ânsia de retornar aos problemas de escrita, julgados mais importantes. Há um descaso enorme pela leitura, pelos textos, pela programação dessa atividade na escola, no entanto, a leitura deveria ser a maior herança legada pela escola aos alunos, pois ela e não a escrita, será fonte perene de educação com o sem escola (Cagliari, 2009, p. 151).

É evidente a relevância de promover a leitura e a escrita para o desenvolvimento intelectual e social dos cidadãos, que estão em constante processo de transformação rumo a uma sociedade mais crítica e engajada. Nesse contexto, Freire (1989) enfatiza:

A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto (Freire, 1989, p. 09). 

Segundo Freire (1989), a leitura não se limita à mera identificação de palavras; ela é, primordialmente, uma reflexão sobre as questões do mundo, uma fonte de questionamentos que impulsiona a construção do conhecimento pessoal e social. A importância da leitura transcende os limites escolares e se estende ao sucesso tanto acadêmico quanto social da criança. Kleiman (2012) salienta que o aprendizado da criança na escola é fortemente baseado na habilidade de leitura. Interpretar e compreender são aspectos essenciais desse processo, sem os quais a criança não consegue se sair bem em nenhuma atividade apresentada a ela.

Ao longo do tempo, estudiosos da pedagogia têm enfatizado o papel crítico da leitura e escrita na formação integral do indivíduo e sua participação na sociedade. Para Paulo Freire (1987), “ler o mundo” é um pré-requisito para ler a palavra. A leitura, para Freire, não é apenas uma habilidade técnica, mas uma prática social que permite ao indivíduo interpretar e interagir com sua realidade. Como ele sugere, “a leitura do mundo precede a leitura da palavra” (Freire, 1987, p.78), enfatizando que a leitura oferece uma interpretação mais ampla da realidade e das experiências vividas.

Conforme Ferreiro e Teberosky (1986), a leitura e a escrita não são apenas meios de comunicação, mas também modos de interação, interpretação e transformação do mundo. Elas facilitam o diálogo, a reflexão e a construção de conhecimento, permitindo que os indivíduos se tornem protagonistas de suas próprias histórias. Magda Soares (1998) ressalta que o letramento, ou seja, as práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita, têm implicações profundas na participação dos indivíduos na sociedade. O letramento capacita o indivíduo não apenas a consumir informações, mas também a produzi-las, tornando-se um agente ativo em sua comunidade e no mundo. Assim, o ato de ler e escrever está intrinsecamente relacionado à cidadania e à participação social, tornando-se ferramentas poderosas que moldam a maneira como os indivíduos interpretam, interagem e influenciam o mundo ao seu redor. Reconhecer e valorizar a profundidade dessas habilidades é essencial para uma educação verdadeiramente transformadora.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo destacou a importância de integrar alfabetização e letramento no processo de ensino-aprendizagem da leitura e da escrita. A análise revelou que, embora a alfabetização e o letramento sejam frequentemente tratados como processos distintos, eles são, na verdade, interdependentes e essenciais para o desenvolvimento pleno das habilidades de leitura e escrita. A alfabetização fornece as bases técnicas necessárias, enquanto o letramento amplia o uso dessas habilidades em contextos diversos e socialmente relevantes.

Os dados obtidos indicam que uma abordagem integrada, que considere as especificidades dos diferentes contextos educacionais e sociais, é crucial para promover uma aprendizagem eficaz. Estratégias pedagógicas que promovam tanto a aquisição técnica quanto a aplicação crítica da leitura e da escrita são fundamentais para garantir que os alunos desenvolvam competências que vão além da decodificação de textos, envolvendo a capacidade de interpretar e utilizar a linguagem de forma significativa em suas vidas cotidianas.

A pesquisa reforça a necessidade de políticas educacionais e práticas pedagógicas que reconheçam e valorizem a interdependência entre alfabetização e letramento, adotando abordagens que considerem o contexto sociocultural dos alunos e integrem práticas de ensino diversificadas. Para alcançar uma educação mais inclusiva e eficaz, é imperativo que educadores e formuladores de políticas continuem a explorar e implementar estratégias que promovam o desenvolvimento integral das habilidades de leitura e escrita, garantindo que todos os alunos possam exercer plenamente seu potencial cognitivo e social.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro e interação. São Paulo: Parábola, 2003.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011, 229 p. bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996.

CAGLIARI, Carlos Luiz. Alfabetização e Linguística. São Paulo: Scipione, 2009. (Pensamento e ação na sala de aula).

DAUSTER, Tânia. O cipoal das letras. In: Leitura: teoria e prática. São Paulo, Associação de Leitura do Brasil / ALB, 13 (24), dez. 1994. 

FERREIRO, Emília – Com todas as letras. 4ª ed. Tradução de Maria Zilda da Cunha Lopes; retradução e cortejo de textos Sandra Tabuco Valenzuela. São Paulo: Cortez, 1993.

FERREIRO, Emília. Alfabetização em Processo. São Paulo: Cortez, 1986.

FERREIRO, Emília; PALACIO, Margarida Gomes. Os processos de leitura e escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987. 

FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1986.

FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila.

FOUCAMBERT, Jean. A criança, o professor e a leitura. Porto Alegre: Artmed, 1998.

FRANCO, Ângela: ALVES, Ângela Christina Souza. Construtivismo: uma ajuda ao professor. / . 2. Ed. – Belo Horizonte: Ed. Lê, 1995.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 23ª ed. – São Paulo: autores associados: Cortez, 1989.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

MATTA, Rosângela Schemim da – Português – Linguagem e Interação. Curitiba: Bolsa Nacional do Livro Ltda. 2009

MINAYO, Marília Cecília de Souza. Trabalho de campo: contexto de observação, interação e descoberta. In: DESLANDES, Suely Ferreira de; GOMES, Romeu; MINAYO, Marília Cecília de Souza (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 29ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010, p. 61-77.

SANTOS, Maria Antonia Ramos dos. Dificuldades na leitura e escrita no quinto ano do ensino fundamental / Maria Antonia Ramos dos Santos, Maria Raimunda Alves Froes. – Gurupá, PA, 2015.

SILVA, E. T. da. Conhecimento e cidadania: quando a leitura se impõe como mais necessária ainda?. Conferência sobre leitura: trilogia pedagógica. Campinas: Autores Associados, 2003.

SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação, n. 25, p. 5-17, 2004.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.

SOARES, Maria Inês Bizzotto. Alfabetização Linguística; da teoria à prática / Maria Inês Bizzotto Soares, Maria Luísa Aroeira, Amélia Porto. –Belo Horizonte: Dimensão, 2010.

TEBEROSKY, Ana; CARDOSO, Beatriz. Reflexões sobre o ensino da leitura e da escrita. 12ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1978.


1Mestranda na Facultad de Ciencias Sociales Interamericana/FICS, Linha de Pesquisa Currículo e Ensino. Assunción – Paraguay. vanessarodrigues32@bol.com.br