REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th102410041436
Ligia Leticia Montichel Freda [1]
RESUMO- O presente estudo tem por objetivo abordar o tema psicossomática e foi desenvolvido através de pesquisas bibliográficas Na abordagem existencial- fenomenológico, como se construiu esse conceito da dor do psique e juntamente a esse histórico apresentação sobre o ato de psicossomatizar está ligado diretamente as nossas vivências emocionais, quanto mais forte o evento emocional, mais fortes são as manifestações no corpo, expondo a visão da fenomenologia e existencialismo sobre a doença e como essa abordagem pode ajudar tantas pessoas que não acham uma solução para suas dores, procurando ajuda na terapia de teorias humanistas. A concepção de psicoterapia na abordagem existencial não se trata de uma técnica para “curar” as perturbações mentais, mas um meio de ampliar as possibilidades existenciais de cada um, de modo a assumir a sua existência mais livremente. O foco da psicoterapia existencial-fenomenológica é o indivíduo, e não suas perturbações mentais.
PALAVRAS-CHAVE: Psicossomática; Fenomenologia; Existencialismo.
1 INTRODUÇÃO
Esta pesquisa é destinada a compreender a visão existencial-fenomenológica sobre a psicossomática e seu desenvolvimento. Esta abordagem preocupa-se com a descrição direta da experiência tal como ela é, assim, busca atingir conhecimentos científicos válidos, a partir da interpretação dos fenômenos, descobrindo suas características fundamentais. Sua essência marca a psicossomática como um campo de convicções e pesquisas sobre a saúde, a doença e as práxis de saúde, sendo assim, um sentido sobre a correlação mente-corpo e os dispositivos de produção de enfermidades.
A psicossomática é um fenômeno relacionado à saúde integral e ultimamente vem apropriando-se mais objetivamente da integração multidisciplinar. A primeira vez que o termo psicossomático foi registrado, deu-se durante uma pesquisa sobre insônia do psiquiatra alemão chamado Heinroth, em 1808, algum tempo depois, em meados do ano de 1823, o termo somato-psíquico foi introduzido por ele na literatura para desenvolver a influência dos fatores orgânicos correlacionados com os fatores emocionais.
A conceitualização sobre a psicossomática na psicologia ampliou-se nos tempos modernos em três fases, sendo a primeira a psicanalítica, aquela que refletia o predomínio dos conceitos psicanalíticos usando o inconsciente como ponto de partida, na teoria de regressão por Freud e dos ganhos secundários do adoecer. A segunda fase seria a comportamental, que se empenhava na execução às pesquisas, cujas descobertas agregaram grandes contribuições aos estudos sobre o estresse. Ja na atualidade seu conceito refere-se a multidisciplinaridade que emergi a relevância do meio social com psicossomática, como atividade que exige relações entre variados profissionais de saúde sobre a doença.
A perspectiva daseinsanalítica defende que todo o adoecer é sempre psicossomático, pois atinge a abertura que é o Dasein “ser-aí” como um todo e representa uma restrição à determinada possibilidade, a doença com suas limitações em detrimento de outras.
A saúde é uma condição fundamental da nossa existência, ao nível da “Umwelt” (a dimensão física da nossa existência), a procura de significado exis-tencial é obtida através de uma inteiração satisfatória (através de uma percepção de eficácia) entre o nosso corpo e o mundo físico. Uma pessoa que se vê como doente ou incapaz, poderá se perceber sem um sentido existencial, a condição da doença cria uma incompatibilidade com o existir, o que causa um fechamento na própria experiência da doença) o que seria trabalho com psicoterapia com o cliente.
Mente e corpo funcionam em conjunto, quem tem um sofrimento no seu corpo, a mente participa e, na mente o seu físico participa. Psicossomática é uma área da medicina que busca compreender este processo na ligação existente entre o corpo e a mente e a mente e o corpo, funcionalidade normal e também na relação de tentar saber qual maneira as doenças que atingem a mente e quais possíveis coparticipações físicas, quando pensamos nisso, de psicossomática, pode-se entender o que significa esta palavra.
2 DESENVOLVIMENTO
Em inúmeras culturas antes da Idade Média, o sentido da dor era notado como resultante de uma ação de entidades sobrenaturais que se mantinham além do corpo. Os malefícios físicos de modo geral eram compreendidos na antiga Mesopotâmia como impureza/pecado. A doença era o castigo enviado pelos deuses e poderia atingir sobre todos os familiares ou sobre os heresios (Cataldo Neto et al., 2007). No Egito antigo acreditava-se que espíritos de mortos possuíam só os corpos dos doentes, assim provocando as doenças (Bonica, 1991).
Anteriormente a 2800 a.C. no Oriente, mais precisamente na antiga China, o uso fitoterápico de algumas ervas no tratamento da dor já era realizado. Galeno na Roma antiga e Hipócrates na Grécia histórica, deram os primeiros passos na investigação para uma explicação racional da dor, com a colaboração da medicina islâmica de Avicena, o termino da Idade sombria é referenciada pelo uso de uma nova categoria de substancias químicas no controle da dor e a eficácia do ópio tornou-se reconhecida. (Bonica, 1991).
No desenvolvimento histórico da medicina (Gimenes, 2003, Cataldo Neto et al., 2007) Hipócrates adentra nos conhecimentos vinculados a dor, abordando o sofrimento físico separado de ocorrências emocionais e sociais. Desde os primeiros achados sobre saúde e doença datando entre os anos 500 e 300 a.C., mente e corpo são compreendidos como entidades paralelas sem relação entre si (SERAFINO, 1991, p. 75).
Em suma, baseado nos achados sobre o corpo a esse respeito nos diz (Boss 1954, p. 31) “O corpo constitui uma condição importante, mas em nenhum caso a condição suficiente da existência humana”, Henry (1996, p. 18) também o fez com base naquilo que inspirado em Husserl, ele denominou de fenomenologia da vida procurando encontrar o lugar mais originário a partir do qual se estabelecem as dicotomias, refere-se ao que chamou de afecção da vida, ou seja, diz que os afetos têm papel originário na constituição do “Si” e na relação deste com o mundo. Esta afecção da vida é dada como afecção do corpo, o que ele denominou de corpo apropriação, isto é, a vida vem numa carne, num corpo subjetivo.
Kierkegaard (2015, p. 47) impõe-se contra o racionalismo, fala do ser humano singular e da aflição do ser, “o homem não pode ser explicado como objeto e a vida não tem muita ligação com a racionalidade” para ele, o existir humano só é revelado no movimento da vida, segundo a ele “é somente nessa vivência (intransferível) que se tem um real vislumbre do existir humano, pois questões como essas não podem ser explicadas por previsões lógicas, já que eles estão destinadas ao fracasso, os modelos científicos não são capazes de explicar as questões da própria vida […] parte mais da temática da liberdade humana, para ele é impossível querer determinar os atos dos homens, já que suas condições existenciais são construídas a partir de uma ação engajada no mundo”.
Existe uma visão de processo existencial que a pessoa nunca “é”, ela constantemente “está” (ALMEIDA, 2007, pag. 21). A concepção de psicoterapia na abordagem existencial não se trata de uma técnica para “curar” as perturbações mentais, mas um meio de ampliar as possibilidades existenciais de cada um, de modo a assumir a sua existência mais livremente.
O foco da psicoterapia existencial é o singular, os transtornos mentais e suas perturbações são entendidas como resultantes de dificuldades da pessoa em fazer escolhas mais autenticas e significativa em sua vida.
A psicossomatização é uma terminologia usada para especificar sintomas patológicos que surgem em nosso corpo através de algum estímulo psíquico muito forte, podendo ser ele um trauma, uma lembrança muito triste ou até uma constante onda de estresse que possamos estar passando. A psicossomatização acontece por meio dos impulsos elétricos que o cérebro está constantemente enviando e esses impulsos são enviados por todo corpo, portanto, se nosso cérebro estiver em desequilíbrio, nosso corpo tende a se apresentar também nesse estado.
Sendo assim, se por exemplo estivermos passando por uma grande carga de estresse, essa carga pode gerar a desarmonia psíquica, o que vai trazer uma dor de cabeça muito forte ou até mesmo dores musculares na região do pescoço. Psicossomatizar é algo muito comum em nossas vidas, dores de cabeça, dores no corpo, dores nas articulações, processos alérgicos e outros sintomas podem por vezes ser manifestações das cargas negativas.
O ato de psicossomatizar está associado as nossas experiências emocionais, quanto mais forte o evento emocional, mais fortes são as manifestações no corpo. Uma possível descarga emocional em nosso sistema nervoso podendo desencadear em disfunções na circulação de energia em nosso corpo, uma situação de muito estresse pode acarretar em vômito, uma carga de medo muito forte pode causar desmaio, e etc.
Os alvos mais comuns da somatização são pessoas que possuem intensas cargas emocionais diárias, como pessoas em estado de estafa e também sujeitos que são ansiosos ou com transtorno depressivo. Existem vários cenários do dia a dia que podem acarretar no desenvolvimento da psicossomatização, entre eles estão:
Âmbito de trabalho: É bem comum se estressar no trabalho, mas em alguns casos a pessoa pode não conseguir lidar com o estresse tão bem quanto seus colegas de serviço. O desemprego pode ser um fator de risco e vir a ocasionar uma exposição ao estresse dependendo da idade da pessoa, pois para adultos e muito mais difícil viver sem empregos do que para adolescentes.
Âmbito escolar: para crianças, o bullying pode gerar uma grande carga emocional negativa, o que além de afetar toda a infância da criança dentro da escola pode também gerar algum trauma nela. Os traumas da infância podem ser dos mais diversos, porem alguns pode ter relação com interações sociais o que dificulta muito a vivência de um adulto em meio a sociedade, em que o mesmo precisa trabalhar e começar a se relacionar mais com as pessoas.
Âmbito familiar: Até mesmo a nossa própria casa pode ser um ambiente de muito estresse, a relação em família é sem dúvidas, a relação mais importante que temos dentro de nossas vidas. Se uma relação familiar está adoecida, ela pode acabar por adoecer boa parte de nosso convívio diário, o que também tende a gerar uma carga negativa de emoções que podem trazer a psicossomatização.
Psico é mente e soma é corpo, uma definição de doença psicossomática pode se dizer em desordem física do corpo originada ou agravada pela psique ou por processos emocionais do indivíduo, ou seja, são doenças e às vezes são sintomas que aparecem, pode não ser uma doença estabelecida, mas pode ser um sintoma que tem no seu corpo que vai ter repercussões no corpo e na mente. Entende-se que as pessoas quando vivem conflitos sociais, conflitos familiares ou pessoais que se misturam com problemas na família, essas tensões e desgastes afetam o corpo e podem produzir alguma alteração somática.
Por isso, o corpo está sempre participando junto à mente em relação aos transtornos emocionais. Para Montagu (1988, pag. 78), um grande pensador desta área diz que pacientes com problemas dermatológicos, sofrem com problemas de estima e o sentimento de não pertencimento aos padrões da sociedade, para adaptar-se a doença, e com os julgamentos da sociedade, o stress e os fatores estressantes trazem consequências para o indivíduo. A pele conforme o autor descreve, seria o maior órgão e o mais visível desde o nascimento, tornando-se o meio de contato entre o corpo e para a comunicação de estado físico e emoções, ela seria vista como um sistema nervoso externo do ser e o sistema nervoso central interno efetiva essa ligação.
A terapia existencial- fenomenológica busca explorar as relações do indivíduo com o meio e com ele próprio, suas expectativas futuras a partir de suas vivencias atuais, a maneira que se dão as situações e a amplitude de consciência na perspectiva da sua história nesta trajetória e não deve impor ao indivíduo alguma visão do mundo, ainda que assim o terapeuta tenha uma perspectiva já definida, seu papel é encorajar o diálogo com o indivíduo no decorrer do tempo, no qual propicie o desenvolvimento dos seus próprios raciocínios e sentimentos.
O processo terapêutico tem no seu eixo principal a descrição da realidade, um relato da vivência, a fenomenologia é o modo como o conhecimento do mundo se dá e se realiza para cada pessoa, já para o existencialismo o homem tem primeiro a existência no mundo para somente após desenvolver sua subjetividade, sua essência. Quando essas duas linhas de raciocínio se aliam, passamos a ter uma abordagem onde o indivíduo tem a responsabilidade por aquilo que é não importando o que as circunstâncias fazem para o homem, facilitando a compreensão de que a pessoa é atuante por suas escolhas e ator de sua vida.
Propicia a busca pela elucidação dos dilemas existenciais com o intuito de superar as adversidades tomando-se de si mesmo para manejar suas as dores e angustias da existência, assim como a objetividade para decidir o que é mais importante vivenciar no percurso e tempo que se está no mundo. Empoderando-se da autoria da própria história, decidindo sobre a sua vida, praticando o poder das suas escolhas conscientes, elaborando de forma saudável as consequências de suas decisões e reconhecendo seus potenciais e novas possibilidades.
Sua base é filosófica e tem o foco na mente humana e a maneira de evidenciar o mundo pontuando as adversidades, angustias, fontes de prazer, vias de enfrentamento perante dificuldades, como já dito, o objetivo é auxiliar o indivíduo a perceber o sentido da sua vida, do mundo, o que essas correlações desenvolvem a ela e reconstruir este sentido no diálogo com o terapeuta. Utiliza o método catártico em que a pessoa confronta seus conflitos internos e contata a si mesmo percebendo a origem de suas angústias, inseguranças e sofrimento, tem por finalidade fortalecer a coragem do indivíduo para usufruir do seu poder de escolha, sua habilidade para tomar decisões, tolerar frustrações, compor seus vínculos relacionais com outros seres humanos para alcançar autoconfiança, a satisfação plena e o seu fim vai depender da singularidade de cada um e seu desenvolvimento terapêutico.
7 CONCLUSÃO
Dado o exposto, sobre a psicossomática na visão existencial-fenomenológica, a partir da constatação de que essa tem se tornando um dos modos de adoecimento muito representativos da sociedade contemporânea. O transtorno de somatização pode fazer com que o indivíduo sofra por muito tempo, meses ou até mesmo anos, geralmente, uma pessoa com doença psicossomática está constantemente em busca por auxílio médico, é um transtorno que dificulta o diagnóstico correto.
Para um indivíduo que não desenvolveu recursos de enfrentamentos emocionais a psicossomática se transforma em um dispositivo de fuga, tirando foco central e real sofrimento, pois por muitas vezes a dor física ou enfermidade é maior tolerada que uma dor emocional, tendo a possibilidade de ser facilmente controlado com fármacos. A abordagem Existencial-Fenomenológica nos possibilita “ser” no modo do crescimento pessoal e profissional, em sua subjetividade enquanto ser existencial, valorizando e se permitindo ser presença no lidar com-o-outro.
Desse modo, enfatiza a importância da visão/intervenção existencial-fenomenológica na psicossomática por ajudar a vermos como um fenômeno pode ocasionar doenças e poder fazer o uso da maiêutica para que o cliente se dê conta de certas atitudes ou ideologia de vida são prejudiciais para a sua saúde mental e assim refletindo na saúde física.
A terapia possibilita que a pessoa aflita com uma força psicossomática que chega até o terapeuta, seja acolhido e receba uma atenção maior e mais empática da sua situação, sendo levado a sério a sua dor e ajudando a lidar com ela e até mesmo a se livrar. O indivíduo que é recebido pelo terapeuta que segue essa abordagem, mantem uma convivência mais aberta, possibilitando que terapeuta e indivíduo tenham uma relação de “parceria” dentro da terapia, assim mantendo uma boa relação que possibilita um tratamento com maior eficácia.
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[1] E-mail: lilemofre@hotmail.com