REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202409302348
Andrea Sterzeck Vittori, Ra 2206462
Junko Ogasawara, Ra 2201328
Laudiane da Costa Alves, Ra 2212293
Lucilene Jove Albino, Ra 1702471
Monica Franco Montans, Ra 2223605
Onilva Cavalcante Oliveira da Silva, Ra 2226838
Paloma Dias Rodrigues, Ra 2230201
Rejane Bezerra de Oliveira Bispo, Ra 2228901
RESUMO
O Projeto Integrador propõe o desenvolvimento de um plano de aula direcionado aos alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), focalizando na compreensão das contas de subtração com ênfase no conceito de “pegar emprestado”. A abordagem visa utilizar materiais concretos e simulações de situações do cotidiano em sala de aula para facilitar o aprendizado. Os objetivos específicos do projeto incluem pesquisa da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), entrevistas com a professora e os alunos para identificar possíveis dificuldades. Além disso, pretende-se adequar a temática da aula à realidade dos alunos, tornando o ambiente mais próximo do cotidiano e facilitando o entendimento dos conceitos matemáticos. A fundamentação teórica aborda a importância da educação ao longo da vida, destacando teóricos como Paulo Freire e Lev Vygotsky. Também se discute a relevância da matemática no cotidiano e a necessidade de tornar o ensino mais contextualizado e significativo para os alunos da EJA. A metodologia do projeto envolveu a compreensão do tema, contato com a professora e os alunos, realização de uma visita à sala de aula para identificar as dificuldades e necessidades dos alunos, e adaptação do plano de aula com base nos resultados obtidos. Foi proposta uma atividade prática de “mercadinho” para trabalhar a subtração, utilizando materiais concretos e contextualizados com as experiências e interesses dos alunos. A atividade prática proposta visa estimular a participação dos alunos e facilitar a compreensão dos conceitos matemáticos, utilizando-se de materiais concretos e situações do cotidiano.
PALAVRAS-CHAVE: EJA; subtração; concreto; cotidiano; adaptação.
1 Introdução
Tendo como tema norteador deste Projeto Integrador da Univesp: “Perspectivas sobre dificuldades de aprendizagem versus inadequação metodológica”, inicialmente, ao nos depararmos com a tarefa de escolher uma série educacional para aplicar nossos estudos, decidimos pelo desafio e pela grande aprendizagem que seria direcionar nossos esforços ao Ensino de Jovens e Adultos (EJA). Uma das integrantes do grupo que atua na educação da rede municipal de Vinhedo entrou em contato com a Secretaria de Educação solicitando autorização para realização do PI no Centro Municipal de Supletivo Fundamental e Médio de Vinhedo, Integração, situado na Rua Monteiro de Barros, n 351 – Centro.
Compreendemos que este cenário ofereceria uma rica oportunidade de explorar a interseção entre as dificuldades enfrentadas pelos alunos e as estratégias metodológicas utilizadas.
Nosso processo teve início com um contato inicial com a professora do EJA por meio do WhatsApp, dada a impossibilidade de um encontro presencial devido a questões pessoais que a afastaram temporariamente da sala de aula. Apesar das circunstâncias, sua colaboração foi valiosa, fornecendo insights preciosos sobre a diversidade de idades e níveis de aprendizagem presentes na turma, assim como as dificuldades enfrentadas no processo de alfabetização.
Ao realizarmos nossa primeira visita à sala de aula, pudemos vivenciar de perto as realidades e desafios dos alunos. A diversidade de experiências e expectativas presentes na turma nos fez repensar nosso enfoque inicial, inicialmente centrado na leitura e na escrita. Foi durante esse encontro que nos deparamos com uma demanda importante: a dificuldade dos alunos em compreender conceitos matemáticos, especialmente no que tange à subtração.
Diante desse insight e em diálogo com a professora, após uma nova reunião optamos por adaptar nosso plano de aula, priorizando uma abordagem flexível e centrada no aluno. Assim, propusemos uma atividade prática de “mercadinho”, que busca não apenas ensinar conceitos de matemática, especificamente “subtração”, mas também conectar o conteúdo com as vivências e interesses individuais dos estudantes, promovendo um ambiente de aprendizado estimulante e significativo para os alunos do EJA.
2 Desenvolvimento
2.1 Objetivos
O objetivo deste Projeto Integrador é elaborar um plano de aula que possa auxiliar os alunos do EJA na compreensão das contas de subtração envolvendo a questão do “pegar emprestado”, utilizando-se para isso, materiais concretos e simulação de situações do dia a dia em sala de aula.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Pesquisar a BNCC
- Entrevistar a professora da classe
- Entrevistar os alunos, conhecer as suas principais dificuldades e descrevê-las para que se possa determinar quais materiais seriam ideais para utilização no ensino da matemática
- Pesquisar materiais concretos e situações do dia a dia que possam envolver o uso da matemática e em específico o uso da subtração para desenvolver propostas de ensino da matemática em sala de aula
- Explorar temas do dia a dia das realidades dos alunos do EJA e utilizá-los como suporte para o ensino da matemática
- Avaliar o uso de materiais concretos como uma ferramenta útil para o ensino da subtração
- Adequar a temática da aula à realidade do aluno, considerando seus conhecimentos prévios
- Tornar o ambiente da sala de aula mais próximo da realidade do cotidiano, com propostas mais ativas para os alunos
- Auxiliar os alunos a identificarem a possibilidade de se desmembrar a dezena para se compor 10 unidades e assim facilitar o cálculo da subtração.
- Avaliar se os materiais e as situações vividas em classe contribuíram para o efetivo entendimento dos alunos da questão do “tomar emprestado” na subtração.
2.2 Justificativa e delimitação do problema
Através de uma sessão de conversa junto aos alunos do EJA, foram levantadas algumas dificuldades que eles nos informaram através de perguntas e respostas e a questão em comum entre a maioria dos alunos foi a dificuldade de se aplicar o “tomar emprestado” na operação matemática de subtração.
Diante dessa dificuldade apresentada pelos alunos e do tema norteador do PI, (Perspectivas sobre dificuldades de aprendizagem versus inadequação metodológica) nos surgiram as seguintes perguntas. Como poderíamos fazer um plano de aula que envolvesse materiais concretos e que utilizasse objetos e temas do dia a dia da vida dos alunos? Como o material concreto poderia ser utilizado no ensino da subtração?
A realidade específica dos alunos da turma em questão, uma turma multisseriada com alunos de diversas faixas etárias acima dos 38 anos e já inseridos no mercado de trabalho, nos direcionou para que a elaboração do plano de aula fosse feita com base nos conhecimentos prévios dos alunos, nas suas experiências de vida e em suas realidades sociais.
Os motivos da escolha do tema do nosso PI é de atender a uma demanda da maioria dos alunos que relataram dificuldade na subtração e desenvolver um plano de aula que abordasse uma situação do dia a dia para o ensino da matemática envolvendo materiais concretos como notas de mentira e material dourado e que proporcionasse uma aproximação dos alunos das contas básicas do dia a dia.
A sugestão visa contribuir para que se desenvolva um senso de confiança nos alunos no tocante a práticas cotidianas como ir ao supermercado e fazer contas.
O Currículo Paulista considera,
[…] que a aprendizagem compreende processos de mudança e transformação, todas as competências a serem desenvolvidas envolvem sentimentos e ações que se projetam na realidade social, consolidando a aprendizagem como um ato de aprender e continuar aprendendo. (SÃO PAULO, 2019, p. 59)
Ou seja, entendemos que essa dificuldade desses alunos na subtração não só deveria ser superada como também pudesse ser utilizada como recursos em tarefas do dia a dia, como por exemplo, fazer uma conta de subtração ao ir a um mercado fazer compras.
Tratando-se em específico do ensino da matemática, versa o Currículo Paulista que
Cada vez mais, os conhecimentos matemáticos tornam-se imprescindíveis para as diversas ações humanas, das mais simples às mais complexas, o que faz com que a Matemática assuma um papel fundamental para o pleno acesso dos sujeitos à cidadania. (SÃO PAULO, 2019, p. 221)
A nossa intenção foi elaborar um plano de aula que privilegiasse situações da realidade e que proporcionasse um aprendizado a partir de uma situação real vivenciada em sala de aula, ou seja, a simulação da vivência em um supermercado e o uso de materiais concretos para facilitar a aquisição do conhecimento matemático.
2.3 Fundamentação teórica
Com o mercado de trabalho cada vez mais exigente e com o avanço das tecnologias, novas áreas de trabalho vem surgindo com a mesma velocidade, onde a necessidade em adquirir conhecimento é primordial ao ser humano, difícil realidade para aqueles que deixaram de estudar em idade escolar por motivos diversos, pois é através da educação que oportunizamos a formação de sujeitos críticos, democráticos, autônomos e conhecedores dos seus direitos e deveres.
Na Declaração de Hamburgo sobre a Educação de Jovens e Adultos, de 1997, da qual o Brasil é signatário podemos citar que,
…a alfabetização, concebida como o conhecimento básico, necessário a todos, num mundo em transformação, é um direito humano fundamental. Em toda a sociedade, a alfabetização é uma habilidade primordial em si mesma e um dos pilares para o desenvolvimento de outras habilidades. (…) O desafio é oferecer-lhes esse direito… A alfabetização tem também o papel de promover a participação em atividades sociais, econômicas, políticas e culturais, além de ser um requisito básico para a educação continuada durante a vida.
Podemos enfatizar ainda que,
“A educação de adultos torna-se mais que um direito: é a chave para o século XXI: é tanto consequência do exercício da cidadania como condição para a plena participação na sociedade Além do mais, é um poderoso argumento em favor do desenvolvimento ecológico sustentável, da democracia, da justiça, da igualdade entre os sexos, do desenvolvimento socioeconômico e científico, além de um requisito fundamental para a construção de um mundo onde a violência cede lugar ao diálogo e à cultura de paz baseada na justiça”. (Conferência Internacional sobre a Educação de Adultos – V CONFINTEA, 1997, p. 19).
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) reconhecida como modalidade de ensino, fundamental e médio, foi instituída com a aprovação nas Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9394/96 (BRASIL, 1996b), antes disso a Constituição Federal de 1988 já garantia o direito à educação para todos, inclusive aos que deixaram de estudar no período da idade escolar conforme destacado:
Art.208 – O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria; (…) § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito subjetivo.
Pensa-se que o processo de aprendizagem acontece somente durante a infância ou na fase escolar, mas não é bem assim. Não existe uma idade “dita” certa para aprender, sendo assim, existem várias possibilidades do ser humano aprender no decorrer da vida.
[…]do ponto de vista da libertação, o processo de alfabetização é um ato de conhecimento, um ato criador, no qual o iletrado, tanto como o seu instrutor, desempenha o papel de sujeito conhecedor. Os iletrados não são considerados como” recipientes vazios” ou como simples recipientes. (PAULO FREIRE, 1997, p.24)
Segundo Vygotsky “o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas” (VYGOTSKY, 2008, p. 103)
Na Constituição Federal promulgada em 1988, o Art.205, ressalta que:
“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.” (BRASIL, [Constituição (1988)]
Mas apesar de ser um direito previsto por lei, no Brasil ainda existem milhões de brasileiros não alfabetizados, alguns por não terem tido oportunidade de frequentar uma sala de aula, outros por dificuldade em permanecer na escola durante a infância e adolescência.
Visando atender jovens e adultos que não tiveram acesso à escolarização na idade própria foi criado a “EJA- Educação de jovens e adultos”. Essa modalidade de ensino, Fundamental e Médio foi instituída legalmente, em 1996, com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n° 9394/96 (BRASIL, 1996)
A educação de jovens e adultos apesar de se fortalecer, para atingir um nível satisfatório requer mais investimentos em formação profissional, exigindo nitidez dos educadores, porque quando esses profissionais sem uma real preparação e percepção se inserem no âmbito da aprendizagem “podem, quando muito, ajudar os alunos a ler a palavra, mas são incapazes de ajudá-los a ler o mundo” (FREIRE, MACEDO, 2013, p. 156)
Por vezes os motivos que os obrigaram a se afastar da escola, são os mesmos que agora os trazem de volta, que são eles: o trabalho, o sustento da família, os sonhos ou simplesmente pelo anseio de aprender.
O processo de aprendizagem deve desenvolver e fortalecer a autonomia de cada aluno para recriar o que foi aprendido, capacitando-se no campo das relações humanas, sociais, políticas, econômicas, culturais, no direito ao trabalho, à terra, à educação etc. (BRASIL, 2002, p.203)
Pinheiro 2020, enfatiza que um dos pontos em comum entre os alunos que estão inseridos na modalidade da EJA são no aspecto de resistência, como muitos trabalham durante vários períodos do dia, encontram-se muito cansados com baixa resposta cognitiva, se comparados ao de crianças. “[…]esses jovens e adultos são tão capazes como uma criança, exigindo somente mais técnica e metodologia eficientes para esse tipo de modalidade.” (GADOTTI, 1996, p. 83)
Kuenzer (2006), sugere pluralidade de saberes e vivências na modalidade de jovens e adultos, e destaca que se faz necessário utilizar metodologias que impulsionam alunos a aprendizagem eficiente e continuada nos estudos. Uma vez que esses jovens e adultos já vem com uma bagagem, carregam uma história única de vida.
Diante da própria realidade dos educandos, o educador conseguirá promover a motivação necessária à aprendizagem, despertando neles interesses e entusiasmo, abrindo-lhes um maior campo para os que estão aprendendo e, ao mesmo tempo, precisam ser estimulados para resgatar sua autoestima[…] (GADOTTI, 1996, p. 83)
Para Dos Santos et al 2015, é muito importante oferecer uma segunda chance a essas pessoas para que elas retomem os estudos, assim concluindo e tendo uma melhor qualidade de vida.
Enquanto isso, Arroyo (2017), faz uma análise em relação aos conteúdos e métodos, identificando um grande problema da modalidade EJA, que tenta por vezes ser “contornada” de forma totalmente equivocada, sendo trabalhado conteúdo da escola convencional de forma condensada.
É preciso que se pense a educação de outra forma, que por muitas vezes veem os jovens e adultos como se fossem crianças ou incapazes, e que por conseguinte infantiliza os sujeitos e tematiza os conteúdos que não fazem sentido para suas realidades.
“…aprender a ler, a escrever; alfabetizar-se é, antes de mais nada, aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, não numa manipulação mecânica de palavras, mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade” (PAULO FREIRE, 1979).
Em se tratando do sistema nacional de ensino no Brasil, além da leitura e escrita podemos destacar a matemática como umas das grandes vilãs e apontadas como as áreas de maiores dificuldades enfrentadas pelos alunos na escola e pelos professores em lidar com essas dificuldades. Mas precisamos nos empenhar para quebrar essa barreira que tanto aflige educandos e educadores. Ubiratan D’Ambrósio (1993), renomado teórico brasileiro em Educação Matemática destaca,
A matemática é reconhecida pela múltipla importância por todos os governos de todos os países e é incluída, por conseguinte, como matéria obrigatória e universal, constante de todos os currículos, em todos os graus de instrução em todos os países do mundo. (D’AMBRÓSIO, 1993, p47).
De acordo com os objetivos do ensino de matemática citados por Albuquerque (2007) a matemática desempenha um papel decisivo e importante no dia a dia. Nos permite resolver problemas e enfrentar melhor as situações vividas no mundo de trabalho e em várias outras áreas da vida. O aluno da EJA conforme vai acumulando vivências, experiências pessoais, o conteúdo que lhe é ensinado será de um grande significado para ele. Deve ser baseado em sua própria realidade para que seja mais fácil a assimilação. Nos parâmetros Curriculares Nacionais sobre matemática (1997/2002, p.37) lemos a importância do professor de conhecer a história de vida dos alunos, vivência, aprendizagens, suas condições sociológicas, psicológicas e culturais.
Paulo Freire (1996) recomenda que ensinar exige respeito aos saberes do educando, auxiliando cada indivíduo a desenvolver suas habilidades. Através de sua própria metodologia uniu a Educação em relação a quem educar, para quê e como educar.
A dialogicidade é a capacidade das relações humanas numa perspectiva de direitos sociais e de igualdade sociais, que se buscam permanentemente, mas que só se estabelecem plenamente no rompimento desta estrutura social. O diálogo é este encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-los, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu. (FREIRE, 1999, p.78).
Os estudos de Freire e D’Ambrósio sobre educação matemática, dentre outros tantos estudiosos no nosso país, nos possibilitam uma visão simples e objetiva do quanto essa ciência faz parte do nosso cotidiano, do quanto nós vivemos matemática; não falamos apenas, “matematizamos” também. Cabe ao educador utilizar estratégias para explorar o raciocínio lógico do seu educando através da realidade que os cerca.
Ribeiro (1997) afirma que os educandos pouco escolarizados aprendem muito através da oralidade, por isso é extremamente importante que o educador crie estratégias para proporcionar-lhes “falar de matemática”.
A proposta curricular do 1° segmento da Educação de jovens e adultos discorre que,
A comunicação desempenha um papel fundamental para auxiliar os alunos a construírem os vínculos entre as noções informais e intuitivas e a linguagem abstrata e simbólica da matemática. Também desempenha uma função-chave para que estabeleçam conexões entre as ideias matemáticas e suas diferentes representações: verbais, materiais, pictóricas, simbólicas e mentais. Quando percebem que uma representação é capaz de descrever muitas situações e que existem formas de representar um problema que são mais úteis do que as outras, começam a compreender a força, a flexibilidade e a utilidade da linguagem matemática. (BRASIL – Proposta Curricular para a EJA – 1°segmento-/2001, p.10).
Por fim D’Ambrósio nos ensina que devemos trazer para a sala de aula o conhecimento social do educando e fazer com que a matemática tenha significado para ele. Porém não adianta termos conhecimento sobre a teoria se não a usamos na prática. Precisamos repensar, reformular e renovar o nosso fazer pedagógico para podermos efetivamente ensinar a linguagem matemática para nossos educandos.
2.4 Aplicação das disciplinas estudadas no projeto integrador
Disciplina: Alfabetização e Letramento I, Semana 4 – Texto-base: A importância do ato de ler em três artigos que se completam de Paulo Freire.
… é o da necessidade que temos os educadores e as educadoras de “assumir” a ingenuidade dos educandos para poder, com eles, superá-la.
Mas assumir a ingenuidade dos educandos demanda de nós a humildade necessária para assumir também a sua criticidade, superando, com ela, a nossa ingenuidade também.
A neutralidade da educação, de que resulta ser ela entendida como um que fazer puro, a serviço da formação de um tipo ideal de ser humano, desencarnado do real, virtuoso e bom, é uma das conotações fundamentais da visão ingênua da educação. Do ponto de vista de uma tal visão da educação, é da intimidade das consciências, movidas pela bondade dos corações, que o mundo se refaz. E, já que a educação modela as almas e recria os corações, ela é a alavanca das mudanças sociais. (Freire, p. 17 e 18)
Disciplina: Psicologia da Educação, Semana 4 – Texto-base: Fundamentos Psicológicos da Educação e suas principais abordagens teórica | Ana Lúcia Almeida, p.61,62 e 63.
Sociointeracionista, Vygotsky considera que é no ambiente social externo que acontece a construção do conhecimento. É na relação e interação com o outro que a aprendizagem se desenvolve e que se alicerça em três aspectos: o instrumental, cultural e histórico.
Segundo Oliveira (2008, p.99)
Como a atividade humana, resultado do desenvolvimento sócio-histórico é internalizado pelo indivíduo e vai constituir sua consciência, seus modos de agir e sua forma de perceber o mundo real, a compreensão do contexto cultural no qual ela ocorre é essencial para a compreensão dos processos psicológicos. Conforme se transforma a estrutura da interação social ao longo da história, a estrutura do pensamento humano também se transformará.
Vygotsky formulou o conceito da Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) que é a distância que existe entre o que conseguimos realizar sozinhos e aquilo que realizamos com a ajuda do outro, ou seja, quando o conhecimento está fora do alcance do aluno o professor faz a mediação para que o aluno atinja o objetivo. Para o professor chegar à ZDP o professor precisa realizar uma avaliação diagnóstica para saber em que parte do processo o aluno se encontra.
Através deste conceito e com o objetivo de encontrar a ZDP dos alunos da EJA realizamos a avaliação diagnóstica anotando suas dificuldades, suas frustrações e seus conhecimentos já adquiridos até então. Sendo assim, nos possibilitou conhecer em que parte do processo devemos atuar como mediador e qual o nível de desafio poderíamos lançar para que atinjam seus objetivos.
Disciplina: Alfabetização e Letramento I, semana 4, vídeo aula 4 – Paulo Freire: alfabetização na perspectiva da educação libertador.
A professora Silvia Colello entrevista a professora Lisete Arelo, professora titular da faculdade de educação e integrou a equipe de Paulo Freire na Secretaria Municipal de Educação. Nesta videoaula a professora Lisete Arelo fala que Paulo Freire mudou a concepção de educação, onde toda criança, jovens e adultos têm o direito de aprender e muito mais que isso, eles também nos ensinam. Como um grande defensor dos jovens e adultos que tinham perdido a oportunidade de se matricularem na chamada idade adequada, tiveram a chance de estudar e continuar estudando e, acima de tudo, se alfabetizassem. Do ponto de vista epistemológico, a relação dialógica não é só como tática de ensino para motivar quem está quase dormindo, mas em criar condições pra que de fato a curiosidade, o interesse seja processado por todos os alunos em diferentes situações o desejo de aprender. Para que isso ocorra é preciso entender que cada aluno tem a sua interpretação de mundo, tem a sua experiência de vida, a história que cada um carrega, poder contar, socializar e ensinar o outro.
Na aplicação do plano de aula uma aluna por já conhecer o material dourado demonstrou desinteresse na atividade, porém, com olhar atento de uma de nossas integrantes ofereceu-lhe o desafio em participar ajudando suas colegas de sala que nunca tinham visto o material. Desta forma, além de ajudar, interagiu e sugeriu outras atividades.
Disciplina: História da Educação, Semana 2, Texto-base: Maria Montessori e seu método | Magda Suely Pereira Costa.
Texto-base aborda o método Montessoriano que utiliza materiais pedagógicos e que são de suma importância, pois além de instruir, atendem às necessidades psíquicas, despertam a inteligência e são atrativas. Na matemática o material mais utilizado é o Material Dourado, com ele é possível trabalhar a noção de unidade, dezena e centena, composição e decomposição de numerais, ideia de quantidade, volume, tamanho etc.
Experienciamos o material dourado nos alunos da EJA e realmente este método pedagógico como método ativo foi extremamente significante para os alunos e para nós mediadores desses alunos. Na observação do manusear do material dourado de cada aluno pudemos perceber a interpretação, o interesse, o estímulo, a dificuldade encontrada em cada um e, através deste momento pudemos intervir e auxiliar na resolução do problema.
Disciplina: Projeto Integrador para Licenciatura III – Levantamento bibliográfico e estruturação.
Leitura do artigo: “Brasil no PISA 2003 E 2012: os estudantes e a Matemática”, de Cátia Maria Machado da Costa Pereira e Geraldo Eustáquio Moreira.
O PISA é um Programa Internacional de Avaliação de Estudantes aplicada a estudantes de países membros e parceiros econômicos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para avaliar o desempenho educacional dos estudantes de 15 anos nas modalidades Matemática, Leitura e Ciência. Infelizmente o Brasil ainda apresenta baixo desempenho principalmente na Matemática, necessitando mais investimento pelo Poder Público na formação de professores, pois acredito que é na qualificação docente que encontraremos caminho para a eficiência nos resultados de desempenho dos estudantes.
2.5 Metodologia
Tendo como base o tema norteador: Perspectivas sobre dificuldades de aprendizagem versus inadequação metodológica, o primeiro passo foi entendê-lo para definir uma série onde aplicá-lo e quais ações tomaríamos. Concluímos então, que seria um desafio e uma grande aprendizagem escolher o Ensino de Jovens e Adultos (EJA)
Através de uma integrante do grupo do PI, fizemos nosso primeiro contato com a professora do EJA através do WhatsApp. Inicialmente não foi possível contato de forma presencial, pois ela teve problemas pessoais e ficou de licença. Mesmo assim, gentilmente respondeu as questões que lhe enviamos.
Com as respostas da professora em mãos foi possível perceber que a turma é multisseriada, atendendo alunos com diferentes faixas etárias e níveis diferentes de aprendizagem da leitura e escrita, constando número relevante que ainda não alcançaram nível alfabético. No primeiro momento concluímos que nosso foco seria em usar a tecnologia como recurso pedagógico na aprendizagem da leitura e escrita no EJA.
Posterior a isso, definimos que nossa primeira visita a sala de aula teria como objetivo abordar as dificuldades que cada aluno tem enfrentado com os conteúdos propostos pela professora, também ouviríamos sobre os motivos que os fizeram abandonar os estudos e seus sonhos a partir da alfabetização.
Após alinharmos com a professora a data e horário da visita partimos para a execução. O dia da visita foi lindo, nos deparamos com uma sala de 10 alunos presentes na faixa etária de 30 a 65 anos. A professora deu total liberdade para o grupo atuar como desejasse, então iniciamos fazendo um semicírculo com as carteiras, nos apresentamos como alunas da UNIVESP, contamos um pouco sobre o trabalho que precisamos desenvolver e que eles fariam parte desse momento de aprendizagem conosco.
Colocamos um roteiro na lousa para que soubessem o que responder, as questões foram essas: nome, idade, o que tem enfrentado de desafio na aprendizagem e o sonho pós alfabetização. Depois, uma das integrantes do grupo deu seu testemunho enfrentado na alfabetização e até hoje em relação aos estudos, compartilhou sua dificuldade em se concentrar devido ao déficit de atenção. Esse momento fez parte da dinâmica para tentarmos deixar o momento mais leve para que eles se sentissem seguros em compartilhar.
Após esse primeiro contato com os alunos mudamos o objetivo inicial do trabalho que era focar na aprendizagem e leitura, para o estudo da matemática, especificamente subtração, pois todos aos alunos disseram ter dificuldade com este conteúdo, mudamos também o título projetado inicialmente baseado só nas informações da professora.
Percebemos e isso também nos foi relatado por eles, que o cansaço também é um grande problema para concluírem os estudos, pois todos são adultos e somam várias atividades durante o dia, o que dificulta na concentração a noite, sendo assim queremos uma atividade que possa mantê-los acordados e estimulados a participar e aprender.
Uma situação nos chamou a atenção e nos fez refletir: por que quase 100% dos alunos verbalizaram ter dificuldade com a matemática? Será a falta de diálogo dos alunos com a professora, a carga horária de aula reduzida, lacunas na formação do professor, métodos automáticos e mecânicos?
A EJA, não é só alunos, é história de vidas que se cruzam, aprendizados diversos, bagagens que a vida lhes entregou, só falta um estímulo maior e a dedicação do professor para buscar técnicas que encurtem esse caminho para a alfabetização.
Após essas observações, decidimos organizar uma atividade durante um segundo encontro com a turma, utilizando os conteúdos fornecidos pelos alunos no primeiro encontro. Os alunos foram divididos em grupos e, utilizando objetos como o material dourado e dinheiro fictício, avançamos para a realização dos cálculos de subtração.
O objetivo na aplicação da atividade com cálculos de subtração é proporcionar aos alunos a oportunidade de aplicar os conceitos de subtração de forma prática e interativa, utilizando os materiais acima citados, algo que eles ainda não tinham realizado.
3 Resultados: solução final
Antes mesmo de elaborarmos uma atividade que fosse dinâmica para a solução final, nosso objetivo também era de incentivá-los a dar continuidade aos estudos, não desistirem novamente, não deixarem que os desafios do EJA como: vergonha, críticas, preconceitos, cansaço fossem obstáculos para que seus sonhos se tornassem reais. Muitos haviam relatados que não concluíram os estudos porque seus pais os fizeram trabalhar ainda pequenos, ou na visão deles mulher não precisa de estudo e sim deve se casar e cuidar da casa, outros sofreram bullyng e não conseguiram lidar com o emocional e desistiram, nós também queríamos uma aula acolhedora, olhar no olho e mostrar que eles são capazes.
Após a primeira parte que foi de escuta e elaboração da atividade, partimos para a segunda fase: aplicação. Tínhamos em mente não apenas ensinar o processo de tomar emprestado como algo automático, mas sim, fazê-los entender essa ação, o que acontece quando emprestamos uma dezena para a casa da unidade? Como ficam essas casas depois de efetuar a operação? Frisamos que todo o desenvolvimento da operação tem que ser entendido, porque muitos professores que eles ainda conhecerão talvez não os façam rememorem matérias já aprendidas em anos anteriores.
Na data acertada com a professora fomos até a escola com alguns minutos de antecedência para organizarmos a sala de aula, fizemos 3 ilhas de estudos e vivências, 2 ilhas foram compostas por 4 alunos e 1 ilha por 2, cada ilha com duas integrantes do grupo e uma registrando com vídeo e foto de todo o momento da atividade, tivemos a presença de 8 alunas e 2 alunos.
Providenciamos o material dourado, dinheiro fictício, montamos uma mesa com fotos que simbolizavam suas vivências do dia a dia ou sonhos, captamos essas informações na nossa primeira visita, onde seria aplicado um valor em R$ (real) para cada foto e eles teriam que comprar ou vender esses objetos fictícios representados em imagem para quem estava como orientadora daquela ilha e assim trabalharem a conta de subtração com o uso do material dourado.
Imagem 1 -Material dourado
Imagem 2 – Material dourado e dinheiro de brinquedo
Imagem 3 – Mesa com fotos das vivências e sonhos dos alunos
Imagem 4 – Escolhendo as figuras que os representavam
No momento da escolha das fotos foi gratificante vê-los felizes porque lembramos de suas profissões e sonhos, para cada aluno foi impresso 4 fotos. Após a escolha eles foram para suas ilhas.
Depois que todos estavam sentados, contamos a história da ‘Casa do Lenhador’, uma narrativa do professor Sergio Morselli, 2021, onde demonstramos a unidade como um tronco de árvore inserido em um cômodo da casa. Após a inserção de 10 troncos no cômodo da unidade, formamos um feixe que foi transferido para o cômodo das dezenas, trabalhamos na ilustração somente com dezena e centena porque a maioria dos alunos ainda estavam nessa etapa. Essa representação foi realizada de forma interativa para garantir a compreensão dos conceitos de unidade e dezena.
Imagem 5 -Apresentação da história do lenhador e o simbolismo do material dourado
Após explicação geral, iniciamos a atividade nas ilhas de forma individual, onde tiramos as dúvidas e explicamos o que seria desenvolvido e a forma como ocorreria a atividade. Sentimos que os alunos estavam motivados com a atividade.
Após esta etapa, procedemos com a execução dos cálculos de subtração. Para facilitar o processo de aprendizagem, fornecemos o material didático necessário, incluindo materiais dourados e folhas para os cálculos. Além disso, estabelecemos uma colaboração com grupos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), onde dois membros do nosso grupo universitário estavam presentes em cada grupo da EJA para oferecer suporte e auxílio durante o processo de aprendizado. Essa abordagem permitiu uma interação direta e eficaz, promovendo uma compreensão mais profunda dos conceitos abordados e proporcionando um ambiente de aprendizado colaborativo e inclusivo.
Durante a realização desta atividade, pudemos observar diversas questões significativas:
- Alguns alunos expressaram gratidão ao perceberem que utilizamos seus sonhos ou profissões mencionadas no primeiro encontro, demonstrando uma conexão pessoal e valorizando sua individualidade no processo de aprendizado.
- Alunos que já possuíam conhecimento prévio sobre subtração foram incentivados a auxiliar os colegas com dificuldades, o que resultou em um ambiente colaborativo e no fortalecimento das relações entre os alunos, além de proporcionar um retorno positivo para aqueles que ofereceram ajuda.
- Houve destaque para a eficácia do material dourado no processo de aprendizado, evidenciando sua utilidade e eficiência como recurso didático.
- A contagem utilizando os dedos foi mencionada como uma estratégia adicional de aprendizado, mostrando a diversidade de abordagens que podem ser utilizadas para compreender os conceitos matemáticos.
- Um aluno demonstrou habilidade em contar mentalmente e, com incentivo, progrediu na centena, mostrando a importância do estímulo e reconhecimento das habilidades individuais dos alunos.
- Os alunos que não estavam familiarizados com o material dourado compreenderam sua utilidade na subtração, enquanto aqueles que já tinham conhecimento prévio puderam associar a explicação da ‘Casa do Lenhador’ com o algoritmo da subtração, facilitando sua compreensão e promovendo uma aprendizagem mais significativa.
- Uma aluna iniciou a leitura das palavras, associando-as com as imagens, o que despertou o interesse dos demais alunos pela leitura e escrita, evidenciando a interdisciplinaridade e a integração de diferentes habilidades no processo de ensino-aprendizagem.
Durante a elaboração e aplicação da atividade, procuramos estabelecer uma relação dialógica e horizontal com os alunos, onde suas vozes e experiências fossem respeitadas e incorporadas ao processo de aprendizado. A estruturação das ilhas de estudos e vivências proporcionou um espaço para a expressão e a participação ativa dos alunos, permitindo que eles se envolvessem de forma significativa com os conteúdos e conceitos apresentados.
A utilização de recursos como o material dourado e a contextualização das atividades com situações do cotidiano dos alunos foram estratégias fundamentais para promover uma aprendizagem significativa e crítica. Ao reconhecer e valorizar as diversas formas de conhecimento e expressão dos alunos, buscamos estimular sua autonomia e capacidade de reflexão, contribuindo para o desenvolvimento de habilidades cognitivas e socioemocionais essenciais para sua formação integral.
Solicitamos à professora que nos fornecesse um feedback sobre a atividade realizada. Ela gentilmente nos enviou as mensagens dos alunos através do WhatsApp, as quais transcrevemos abaixo:
“Eu quero agradecer a vocês pelo trabalho de vocês foi muito bom, foi maravilhoso, para mim foi uma experiência muito boa”
“boa noite, meninas, eu amei as suas aulas, da parte das viagens, contar dinheiro para viajar, amei! Boa noite para vocês”
Avaliação do professora do EJA sobre nossa aplicação em sala de aula:
“Pelo que eu percebi todos gostaram muito da experiência que tiveram, e conversando com os alunos, não vou falar que “todos”, mas a maioria compreendeu sim a proposta e estão aplicando!! Pois foi uma forma a mais de resolver a questão das contas de subtração! E sobre o uso do material dourado, eles gostaram muito e se identificaram. Ajudou também a identificarem a questão da ordem simples dos números!!”
Os feedbacks positivos recebidos dos alunos ao final da atividade são reflexos do impacto positivo que nosso trabalho teve em suas vidas. Mais do que apenas adquirir conhecimento, os alunos relataram terem se sentido valorizados, motivados e encorajados a continuar sua jornada educacional com confiança e determinação. Esses testemunhos reforçam a importância de uma educação centrada no aluno, que reconheça sua dignidade e potencial transformador.
Graça, talvez seja uma palavra que defina bem esse momento de vivência em sala de aula , EJA, se graça é favor que se dispensa ou recebe é essa sensação que nos envolveu, estudantes que somos sem experiência em sala de aula, pudemos nos motivar e acreditar ainda mais que somente a educação pode salvar uma sociedade que carece de informação e que apesar do professor não ser valorizado em nosso País, com certeza é nossa obrigação darmos o nosso melhor, irmos para além do educador que faz tudo igual todo dia, não pode ser a falta de material nas escolas que nos impeçam de tentar de várias formas fazer com que nossa aula seja compreendida por todos, porque somos criativos e quando há motivação no professor não há limites ou barreiras para ensinar.
4 Considerações finais
Primeiramente temos que entender o que nos levou a buscar o caminho escolhido para termos uma abordagem focada nos alunos e suas necessidades de aprendizado.
A experiência foi realizada em uma sala de aula de EJA com alunos possuindo diferentes idades e níveis de conhecimento bastante distintos.
Tivemos um contato inicial com a turma presencialmente. Após a observação e reflexão junto à professora da sala tornaram-se claras as maiores dificuldades do grupo: a compreensão dos conceitos matemáticos em especial a subtração.
Um novo encontro com a turma foi proposto e colocamos em prática as vivências planejadas. Dividimos a turma em três grupos disponibilizando o material dourado para um contato inicial. Também disponibilizamos uma estação, para o “mercadinho”, com imagens imprensas de objetos relacionados à vivência de cada um deles, além de dinheiro de “mentira” e o nome de cada objeto em separado.
Após esta etapa, os grupos já com os objetos, o dinheirinho e o material dourado disponíveis assistiram ao conto de uma estória para uma experiência lúdica e visual de conceitos matemáticos.
Contamos a estória da Casa do Lenhador e tal situação foi ilustrativa e realizada algumas vezes para não restar nenhuma dúvida em relação a unidade e dezena.
Então partimos para a realização dos cálculos de subtração. Deixamos na mesa dos grupos propostos o material dourado para sua utilização, bem como folhas para os cálculos, e em cada grupo de alunos do EJA ficaram dois integrantes do grupo da universidade para a facilitação do aprendizado.
Cada grupo teve sua vivência de modo particular para conseguir entender a conta apresentada. Alguns com mais facilidade do que outros e alguns na retaguarda absorvendo sem muita participação.
Em um dos grupos foi relatado que uma aluna tinha bastante dificuldade quando a conta era no papel, mas com a utilização do material dourado ficava mais fácil, tiveram que ser feitos várias subtrações; então eles começaram gostar e sentir segurança fazendo as contas com o material. Uma das alunas queria até adquirir o material para seu uso.
Tivemos outro momento ao desmembrar a dezena em unidades, então foi relembrada a estória do lenhador, explicando a transformação de 1 dezena em 10 unidades, assim conseguiram efetuar a conta.
Ressaltou uma outra situação na utilização das palavras escritas dos objetos de desejos dos alunos, uma aluna que tinha uma grande dificuldade de leitura ajudada por sua colega começou a juntar as sílabas e passou a ler estas palavras. Foi um momento vivenciado com muita emoção não só pela aluna que leu, mas por todas nós as alunas da universidade.
Utilizamos a abordagem metodológica adaptada às necessidades e realidades individuais, e conseguimos desenvolver o raciocínio, a criatividade e a compreensão dos alunos em relação aos conceitos de matemática, especialmente a subtração. Tal fato buscou aflorar a capacidade de investigação, facilitar na resolução de problemas e das questões que se apresentam na vida destes alunos.
Encerramos nossa aula com uma palavra motivacional, porque além de alunos são indivíduos com suas necessidades e todos estão se esforçando para completar o ensino, alguns até pensam em desistir no meio do caminho e precisam de incentivos para continuarem, o que muitas vezes não encontram entre os seus mais próximos.
Em conclusão atingimos o objetivo proposto com a superação no momento da vivência demonstrado pela alegria do grupo dos alunos do EJA em conseguir atingir e avançar nas propostas apresentadas
Referências
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BRASIL. Constituição, 1988.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais. Proposta Curricular para Educação de Jovens e Adultos, 2001.
D’AMBROSIO, Ubiratan. Ação Pedagógica e Etnomatemática como Marcos conceituais para o ensino da Matemática. In.Bicudo M.A.V. Org. Educação Matemática, São Paulo. Editora Moraes p.74-100, 1996.
FREIRE, PAULO – PEDAGOGIA DO OPRIMIDO. Ed. Paz e Terra. São Paulo, 1999.
MORSELLI, Sergio. Lições de matemática 1A (livro eletrônico) : primeiro ano: primeiro semestre. Curitiba, PR : Elementinhos, 2021.
RIBEIRO, Vera Maria Masagao. Educação para jovens e adultos: ensino fundamental: proposta curricular, 1ºsegmento/coordenação e texto final, São Paulo: Ação educativa, Brasília, MEC, 1997.
PARECER CNE/CEB 11/2000 – HOMOLOGADO-MEC – http://portal.mec.gov.br>cne>pdf>pceb01100 – Acesso online 08 de abril 2024.
Revista do Professor de Matemática. Rio de Janeiro, n. 92, p. 12-15, jan.-abr. 2017.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Currículo Paulista, 2019. Disponível em: < Curriculo_Paulista-etapas-Educação-Infantil-e-Ensino-Fundamental-ISBN.pdf (educacao.sp.gov.br) >. Acesso em 07 de abr. de 2024.
V CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE EDUCAÇÃO DE ADULTOS, 5.1977, HAMBURGO. Declaração de Hamburgo: agenda para o futuro. Brasília: Sesi; Unesco,1999.
Anexos 1 – entrevista com a professora renata
Essas questões tinham como objetivo entrevistar a professora da Educação de Jovens e Adultos, porém devido a impossibilidade da professora em nos atender pessoalmente foi enviada em forma de questionário e foi respondido conforme abaixo:
1. Quais são as principais dificuldades de aprendizagem enfrentadas por alunos no EJA?
Temos uma turma multisseriada, atendendo alunos com perfil de idade entre 17 e 60 anos, com diferentes graus de dificuldades. Com um número relevante de alunos que ainda não alcançaram o nível alfabético na escrita e leitura e uma parte com alunos alfabéticos e leitores. As principais dificuldades estão no desenvolvimento da escrita e leitura, seguidos de muitos erros ortográficos e trocas de fonemas. Além da dificuldade de compreensão e interpretação de textos.
2. Como o ambiente do EJA difere do ensino regular em relação ao tratamento das dificuldades de aprendizagem?
Os alunos da EJA têm objetivos e ritmos de aprendizado diferente do ensino regular, apresentam dificuldades em adquirir e reter informações, isso se deve ao tempo que ficaram fora da escola, e também as múltiplas funções que a vida adulta exige (tempo para o trabalho doméstico e trabalho formal, por exemplo), carregam consigo anos de experiências e uma diversidade de trajetórias, além de uma descrença em suas capacidades cognitivas.
3. Quais estratégias pedagógicas são mais eficazes para lidar com as dificuldades de aprendizagem no contexto do EJA?
Utilizamos de alguns recursos pedagógicos como: adaptação de materiais, jogos, letras móveis, palavras cruzadas, imagens e ilustrações, alfabeto e silabário, vídeos, material concreto e de vivência dos alunos, aulas interativas e com duplas produtividades.
4. Quais recursos adicionais estão disponíveis para apoiar alunos com dificuldades de aprendizagem no EJA?
Temos poucos recursos, a maioria das propostas são adaptadas, utilizamos de alguns jogos que são feitos pelos alunos ou impressos na própria escola. Não temos um material didático próprio para o segmento. Utilizamos os Chromebooks e dicionários para pesquisas.
5. Quais são os desafios específicos enfrentados pelos adultos que retornam à escola e têm dificuldades de aprendizagem no EJA?
Conciliar o trabalho e os estudos, dificuldade de concentração, cansaço físico, problemas de saúde, dificuldade de assimilação e reter informações, dificuldades de aprendizagem não diagnosticada durante a infância como dislexia, discalculia, TDHA etc.
6. Como o apoio da comunidade e da família pode influenciar o progresso dos alunos com dificuldades de aprendizagem no EJA?
Incentivando e ajudando nas obrigações/tarefas fora da escola para que o aluno não se sinta sobrecarregado, apoiando moralmente e na autoestima. Não desvalorizar os pequenos avanços do discente, cada aprendizado é importante.
7. Quais são os sinais de alerta que os professores do EJA devem observar para identificar possíveis dificuldades de aprendizagem em seus alunos?
Observamos a frequência do aluno, como age nas trocas de disciplinas, através de roda de conversas e feedback individual, apoiar e observar as atividades realizadas por cada um.
8. Com relação a assiduidade e a evasão, a taxa é alta no EJA?
Se sim, como isso pode impactar no cumprimento do conteúdo programático a se lecionar?
Em relação a sala EJA 1, temos uma boa assiduidade, com taxa de evasão pequena.
9. Qual a metodologia de ensino utilizada na EJA?
Não utilizamos apenas uma metodologia, mas mesclamos para atender a necessidade de cada aluno. São utilizadas metodologia tradicional, construtivista, freiriana e sociointeracionista.
10. Existe algum material tecnológico disponível para os alunos da EJA?
A escola possui televisão e Chromebooks, além de poderem utilizar o próprio celular para pesquisas.
11. Que habilidade o educador deve ter para atuar na EJA?
O professor deve saber respeitar a experiência, trajetória, idade e ritmo de cada aluno, cada um tem seu tempo e habilidades diferentes para adquirir e assimilar os conhecimentos. Saber motivar e compreender as diversidades da turma. Ter paciência para explicar e retomar os temas/conteúdos para que todos ao seu tempo possam ter avanços. Ter empatia e criar lações de confiança.
ANEXO 2 – PLANO DE AULA