A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DO POVO ALAGOANO: A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

THE SOCIAL REPRESENTATION OF THE PEOPLE OF ALAGOAS: THE INFLUENCE OF THE MEDIA IN THE CONSTRUCTION OF SOCIAL REPRESENTATIONS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202409302150


Marcus Roberto Santos1
Sara Neri Silva2
Micael Igor Elias da Silva Santos3


RESUMO

O presente trabalho buscou pesquisar a respeito da construção da representação social do povo alagoano e como a mídia influencia na forma que esta representação é construída. Para tanto decidiu- se realizar esta abordagem a partir da Teoria das Representações Sociais, visto que, a partir desta é possível reconhecer o trajeto de construção de uma representação e como esta se constitui enquanto instrumento de auto- percepção. Logo nos utilizamos de conceitos e categorias da teoria para nos guiarmos, como o de Ancoragem que trata- se de categorizar algo que até então era estranho, para que este se torne familiar, além disso o trabalho se baseou no próprio conceito de Representações sociais, enquanto conhecimento prático norteador das relações sociais  e na abordagem estrutural da Teoria das Representações Sociais que se desenvolve a partir dos conceitos de núcleo central e de sistema periférico e sua importância na dinâmica das Representações Sociais. Além desta abordagem teórica utilizamos o método hipotético dedutivo, por este permitir a resolução de um problema a partir da eliminação dos erros. Realizou- se também uma abordagem qualitativa, partindo de uma pesquisa bibliográfica, de organização de entrevistas virtuais e presenciais que foram examinadas a partir da análise de conteúdo, que permite perceber várias nuances no pensamento do entrevistado através de suas respostas. Em linhas gerais o que podemos verificar através desta pesquisa é que há uma diferença fundamental na forma como o povo alagoano se enxerga e como ele acredita que o povo de outros estados o percebe.

Palavras-chaves: Representação Social. Mídia. Alagoas.

ABSTRACT

The present work sought to research the construction of the social representation of the people of Alagoas and how the media influences the way this representation is constructed. To this end, it was decided to carry out this approach based on the Theory of Social Representations, since from this it is possible to recognize the path of construction of a representation and how it is constituted as an instrument of self-perception. We then use concepts and categories from theory to guide us, such as Anchoring, which is about categorizing something that was previously strange, so that it becomes familiar. Furthermore, the work was based on the very concept of Social Representations, as practical knowledge guiding social relations and in the structural approach of the Theory of Social Representations that develops from the concepts of central core and peripheral system and their importance in the dynamics of Social Representations. In addition to this theoretical approach, we use the hypothetical deductive method, as it allows the resolution of a problem by eliminating errors. A qualitative approach was also carried out, starting from a bibliographical research, organizing virtual and in-person interviews that were examined based on content analysis, which allows us to perceive several nuances in the interviewee’s thinking through their answers. In general terms, what we can verify through this research is that there is a fundamental difference in the way the people of Alagoas see themselves and how they believe the people of other states perceive them.

Keywords: Social Representation. Media. Alagoas.

INTRODUÇÃO

O estado de Alagoas não ocupa posição central na imprensa ou na mídia nacional. Muito raramente vemos reportagens a respeito do estado sendo veiculadas em âmbito nacional, porém durante um período mais ou menos recente da história brasileira, o estado, de certa maneira ocupou um grande espaço nos telejornais e nos periódicos do país. Esse período se deu justamente durante o governo do presidente Fernando Collor de Mello (1990- 1992). Durante esse período, além das notícias relacionadas aos aspectos políticos da nação e da vida diária do mandatário, coisa que é de praxe com todo governante, também voltou- se o interesse para aspectos relacionados ao estado de origem – origem política, já que Collor de Mello é nascido no Rio de Janeiro – do mesmo. Quais os grupos que dominavam politicamente o estado, quais suas características econômicas, geográficas, históricas e sociais. Deste modo uma das características divulgadas a respeito do povo alagoano estava relacionada à violência.

Uma característica que naquele período foi divulgada e atrelada ao comportamento, ao etos do povo alagoano. Este aspecto foi reforçado, à época, pelos fatos que se seguiram durante o governo deste presidente, além das denúncias de corrupção, temos também as notícias das relações tempestuosas entre Fernando e seu irmão Pedro Collor, que levou este a realizar denúncias de corrupção referentes ao tesoureiro de campanha de seu irmão nos meios de comunicação, desaguando no processo de impeachment de Fernando Collor. Após esse fato, ocorreu a morte de Pedro Collor de câncer em 1994 e mais tarde a morte do tesoureiro do ex-presidente, Paulo César Farias, que continua sem esclarecimento, essas mortes, mesmo com a de Pedro Collor tendo sido de câncer, levou à ideia de que a política no estado estava ligada diretamente à violência e a violência estava relacionada a política e essa forma de fazer política ligada ao atraso.

Após esse período, com a renúncia do presidente o estado foi esquecido até voltar de novo às manchetes agora com o caso que ficou conhecido como “Renangate”, no qual o senador Renan Calheiros foi acusado de ter suas despesas pessoais pagas por lobistas de empreiteiras, o que fez com que o senador deixasse o cargo de presidente do senado, mas não o de senador. Este caso teve repercussão à época, serviu para reacender algumas antigas memórias, porém sem a mesma intensidade do fato anterior, no entanto, o que vale ressaltar é que embora tenha havido um “esquecimento” dos fatos a ideia que se construiu do alagoano permaneceu “no ar”.

E foi justamente desta realidade que surgiram questionamentos que levaram a esta investigação. Como estas referências teriam contribuído para a construção das Identidades do povo alagoano? Como este povo se enxerga? Como ele acredita que ele é visto pelos outros? A mídia influencia na construção desta percepção até hoje? Percebemos que os trabalhos que abordavam a representação social dos alagoanos, eram bastante específicos e possuíam em seu recorte, principalmente uma abordagem ligada à questão da educação ou de grupos específicos, como estudantes e professores, sem que houvesse uma abordagem que visava abranger diferentes segmentos da sociedade alagoana de maneira mais ampla. A partir disto, percebemos a importância deste estudo e a contribuição que ele pode oferecer para a compreensão acerca do reconhecimento do povo alagoano e sua constituição identitária.

Logo, para que possamos entender como se dá a construção desta identidade, buscamos, a princípio realizar uma análise de produções midiáticas que porventura fizessem menção ao povo alagoano, verificamos que existem filmes que fazem essa menção, além de programas de televisão e novelas, que a princípio transmitem uma imagem do alagoano que acabou por se transformar em clichés, pois os “…clichês seriam causados pelas necessidades dos consumidores: e só por isso seriam aceitos sem oposição. Na realidade, é neste círculo de manipulações e necessidades derivadas que a unidade do sistema se restringe sempre mais. ” (ADORNO, 2002). Ou seja, a constituição de personagens alagoanos, que possuem como característica fundamental estarem ligados à violência, se relaciona, também com o fato de esta característica não só ser um cliché divulgado pela própria indústria cultural, como ser também uma certa demanda do público consumidor dessas obras, pois

 O consumo ou a recepção da mensagem (…) é, assim também ela mesma, um ‘momento’ do processo de produção no seu sentido mais amplo, embora este último seja ‘predominantemente’ porque é ‘o ponto de partida para a concretização da mensagem. (HALL, 2009).

 Há, então, uma dialética na formatação da mensagem midiática, na qual se faz necessário que haja uma relação entre o produtor e o receptor, que como já dissemos se realiza quando temos a produção gerando uma necessidade que a recepção molda a partir de sua demanda.

Agora, que produção é essa que gera um estereótipo do alagoano, mas que ao mesmo tempo seria aquilo que a audiência desejaria ver? Aqui temos alguns exemplos dessa produção, como os filmes “Guerra de Canudos”, drama de 1997, dirigido por Sérgio Rezende, que em uma breve cena na qual o exército se prepara para a invasão ao arraial, dois soldados conversam e quando um pergunta ao outro de onde ele era, o outro responde: “_ Sou alagoano, culhão de aço, fechador de feira!”, a princípio pode parecer algo sem muita importância, mas com uma melhor observação percebemos a descrição do alagoano como um indivíduo, corajoso (culhão de aço), mas violento (fechador de feira). Já a outra película se trata de “Lisbela e o prisioneiro”, comédia romântica de 2003, dirigida por Guel Arraes, no qual o personagem Frederico Evandro era um matador valentão e alagoano conhecido como “Vela de Libra”, por sempre acender uma vela para cada pessoa que matava.

Temos ainda um outro exemplo, menos lembrado, que não se enquadra no cinema, mas na TV, mais basicamente no programa humorístico dos anos 1990, “Escolinha do Professor Raimundo” (1990- 1995), a personagem Sandra Maceió, interpretada pela atriz Nádia Carvalho, que tinha como bordão a frase: “ _ Sou Sandra Maceió, pego as ‘tripas’ e dou um nó! ” Esta personagem teve curtíssima duração no programa, sendo substituída pela personagem Santinha Pureza, interpretada pela mesma atriz, mas de certa forma, também relacionava Alagoas, pois o sobrenome da personagem era o da Capital alagoana, com a violência, já que seu próprio bordão afirmava que ela era capaz de dar um “nó nas tripas” de uma suposta vítima. Além do Coronelzinho Malta, da novela da Rede Globo “Ti, ti, ti”, em seu remake de 2010, de autoria de Maria Adelaide Amaral, que era esposo de uma cliente de Jacques Leclair e que desconfiava de sua esposa e vivia ameaçando de morte o estilista em qualquer ocasião, vale dizer que Coronelzinho Malta era de Palmeira dos Índios, Alagoas. 

Estes são alguns exemplos de produções midiáticas da área do entretenimento que reproduzem a figura do alagoano como esse indivíduo violento. Logo podemos verificar que há uma certa sistemática no que concerne àquilo que é veiculado e aquilo que o público, pelo menos o público do sul do país quer ver com relação à estes personagens. E isso nos leva à questão da representação social do povo alagoano, visto que “…as representações sociais são percebidas como ‘uma forma de conhecimento’, socialmente elaborada e partilhada com um objetivo prático e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. ” (JODELET, 2001). Ou seja, há uma forma de reconhecimento de determinados grupos, a partir do que é veiculado pela mídia e da sua recepção pelo público. Esta forma de reconhecimento pode ser interpretada de acordo com a Teoria das Representações Sociais a partir de conceitos como o de ancoragem, este conceito como refere-se, de maneira bem básica, ao processo de familiarização de uma representação, que até então era desconhecida e que se torna normalizada na subjetividade de determinado grupo, logo se tem, em consequência a constituição de uma Representação, pois

…ao analisar o processo formador das representações, (..) o móvel desencadeante desse processo, ‘o propósito de todas as representações é o de transformar algo não familiar, ou a própria não familiaridade em familiar’ Essa seria a razão de por que as pessoas formam e constroem representações sociais.  (GUARESCHI, 2011)

A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES

 Percebe- se que o processo de construção de uma representação, então, parte desta familiarização, baseada no processo de ancoragem de algo que era estranho, não familiar em algo que se torna familiarizado, no caso do povo alagoano, o que se tem é justamente, um desconhecimento do que seria ser alagoano, e aí é que percebemos a influência da mídia no processo, pois a imagem que é veiculada em muitas produções da indústria cultural, produções voltadas para o entretenimento é justamente a do povo violento, que resolve seus problemas na base da violência. 

Assim, de uma maneira mais aprofundada, esta busca pela resolução dos problemas através da violência, através do “acerto de contas” denota uma questão que fica implícita na discussão, que é o fato de esta representação, de povo violento, nos termos acima citados indicaria a representação do alagoano como um povo não totalmente integrado à modernidade, ou seja, que sociedades como a alagoana, estariam, ainda impregnadas de uma dinâmica pré- moderna, na qual os modelos formais de justiça e a impessoalidade do Estado, não funcionariam a contento ou não seriam postas a funcionar a contento, resultando, assim em uma sociedade atrasada, se comparada com outros estados da nação, principalmente os situados no Centro- sul do país. Esta percepção é evidenciada quando se aborda a questão da representação do Nordeste nas produções da indústria cultural brasileira. 

A região Nordeste sempre é retratada como algo rural, atrasado, com vários conflitos entre famílias de proprietários de terra, que dominam a política local, transmitindo a imagem do coronelismo, como se essa realidade não existisse em outras regiões do país, inclusive no Sudeste, a região mais desenvolvida economicamente. Porém, quando se trata de Nordeste o que vemos é “… um discurso assertivo, repetitivo, é uma fala arrogante, uma linguagem que leva à estabilidade acrítica, é fruto de uma voz segura e autossuficiente que se arroga o direito de dizer o que é o outro em poucas palavras. ” (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2011) O que para Durval Muniz de Albuquerque Júnior no seu trabalho “A invenção do Nordeste e outras artes” seria a estereotipação, a construção de um estereótipo que segundo o autor “…nasce de uma caracterização grosseira e indiscriminada do grupo estranho, em que as multiplicidades e as diferenças individuais são apagadas, em nome de semelhanças superficiais do grupo” (ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2011).

Esse ponto de vista é difundido pela mídia, que, busca simplificar, massificar ou estereotipar o Nordeste e no nosso caso o alagoano, com o intuito de atingir o maior número possível de espectadores que por sua vez anseiam por esta imagem estereotipada do alagoano, revelando a dinâmica de codificação/decodificação desenvolvida por Stuart Hall em seu trabalho supracitado.

Percebemos que há uma lógica de difusão destas imagens estereotipadas do povo alagoano, que acabam gerando essas representações, da qual falamos aqui. Agora, essas representações realmente se constituem enquanto Representações Sociais, do povo alagoano? Elas criam, realmente, essa auto- identificação por parte do alagoano? Elas criam essa forma de ver e perceber o alagoano por parte de pessoas de outros estados? Esses questionamentos foram feitos à entrevistados alagoanos, como método aplicado, baseando- se numa análise qualitativa das entrevistas, que a princípio foram realizadas através de questionários elaborados no Google Forms, no qual obtivemos 68 respostas de pessoas de diferentes idades, locais e condições financeiras, 

Em uma das perguntas, foi questionado se os entrevistados se recordavam de algum personagem alagoano de alguma produção do cinema ou da TV brasileira, dos 68 entrevistados 65 afirmavam que lembravam e três afirmavam que não lembravam de nenhum personagem alagoano. Uma questão que se mostrou nesta pesquisa, foi que para 37 dos que responderam que se lembravam de algum personagem alagoano, o que foi lembrado foi Taoca, do filme “Deus é brasileiro”, produção dirigida por Cacá Diegues em 2003, sendo que não consta que esse personagem é alagoano, mas como o filme foi gravado em Alagoas, o personagem é entendido como alagoano. O segundo personagem mais lembrado, é o próprio Severino Evandro, o “Vela de Libra” de “Lisbela e o prisioneiro”, já citado anteriormente. Com 23 respostas, além de 5 que lembraram de Tenório Cavalcante, de “O homem da capa preta”.

Quando perguntados se essas produções contribuíam para que os entrevistados, construíssem uma imagem do alagoano a maior parte 52 disseram que não, enquanto 16 afirmaram que sim, situação que se inverteu quando a pergunta foi se essas produções influenciavam na constituição de uma representação do alagoano por parte de pessoas de outros estados, vemos que para a maioria dos entrevistados 60 disseram que sim, enquanto apenas 08 disseram que não.

Outra questão colocada foi a respeito de como os alagoanos se enxergam e como eles acham que os outros estados nos enxergam, percebemos, nas respostas que para o alagoano o povo do estado é visto como um povo trabalhador, para a maior parte dos entrevistados 35, visto como alegre para 16, como receptivo para 12, como atrasado para 03 e como miserável para 02 entrevistados. Essa percepção se inverte quando a pergunta é feita com relação à visão do habitante de outros estados. Para os entrevistados os naturais de outros estados nos veem, principalmente como pobres para 30 respostas, como atrasado para 22 entrevistados, como alegres para 10, receptivos para 04 e preguiçoso para 02.

Diante do exposto percebemos que os entrevistados compreendem que a visão que os habitantes de outros estados têm de nós é negativa, muito por conta do que é veiculado na mídia. Conseguimos chegar a esta conclusão cruzando dados destas respostas, mas não só, podemos verificar que nas entrevistas presenciais as respostas se confirmaram. Foram realizadas entrevistas com vinte pessoas diferentes das que responderam o questionário, no qual tivemos respostas às mesmas perguntas, entre as respostas, temos, quando perguntado a respeito de como o alagoano é representado pela mídia, temos como respostas, falas do tipo:

“…o alagoano, geralmente é mostrado como um cara que não se esforça muito…que não trabalha certo e que por isso é pobre. ”

“Se comparar com o pessoal do Sul, sudeste, o alagoano é mostrado como atrasado, sem cultura, que trabalha na roça, então eu acho que acaba fazendo com que as pessoas que não são daqui pensem que a gente é assim. ”

“Ah rapaz, eu vejo o alagoano muito mal visto pelo povo de fora, porque eles acham que aqui não tem nada, só tem sertão, um dia uma turista do Rio Grande do Sul falou que não achava que Maceió fosse tão grande, achava que era uma vila de pescador, não imaginava que tinha esses shoppings, mercado…”

Esses são alguns dos depoimentos colhidos nas entrevistas feitas pessoalmente, para os entrevistados a imagem veiculada do alagoano é de atraso, que cria nos habitantes de outros estados a representação de um povo pobre e atrasado, esse atraso, pode ser relacionado com a ideia que discutimos acima de uma sociedade que é retratada como pré-moderna, embora quando se trata da visão do próprio entrevistado sobre o alagoano, da mesma forma que nas respostas do Google forms, os entrevistados também enxergam o povo alagoano de forma positiva, como por exemplo:

“O povo alagoano é muito batalhador, não tem tempo ruim pra ele não é um povo que gosta de trabalhar, acorda cedo, sem moleza…”

“O alagoano é um povo alegre, receptivo, gosta de agradar, sabe receber bem, se esforça pra deixar todo mundo à vontade…trabalha muito, trabalha muito…”

“Aqui, o problema são os políticos, porque o povo é batalhador, mas se tá na miséria é por causa dos políticos que não são boa coisa. ”

Percebemos que uma característica que ficou explícita nas entrevistas é a de que o povo alagoano, para os alagoanos é trabalhador, mas se o estado é pobre e atrasado a culpa disso é dos políticos, que não pensam no povo, essas conclusões foram construídas através de uma ferramenta metodológica chamada análise de conteúdo que se trata de

um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores, (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. (BARDIN, 1979),

E dentro da análise de conteúdo, nos utilizamos da categorização que permite que possamos perceber aquilo que se repete nos discursos ouvidos nas entrevistas, afinal

 Podemos considerar a categorização como uma operação de classificação de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por reagrupamento segundo o gênero (analogia), com critérios previamente definidos. As categorias são rubricas ou classe, as quais reúnem um grupo de elementos (unidades de registro) sob um título genérico. (BARDIN, 1979)

Esta forma, as categorias concretas que se permitiram a construção destas analogias e que levaram ao reagrupamento de noções repetidas nos discursos foram as categorias de ”trabalhador”, “alegre” e “receptivo” no que se refere a visão dos próprios alagoanos sobre si mesmo e as categorias de “atrasado” e “pobre”, quando dá ideia que o alagoano faz à respeito do que os outros veem a seu respeito.

 Os entrevistados entendem, também que a mídia auxilia na construção desta representação social introjetada nos habitantes de outros estados, visto que

 Não existe uma realidade objetiva a priori, mas sim (…) toda realidade é representada, quer dizer, reapropriada pelo indivíduo ou pelo grupo, reconstruída no seu sistema cognitivo, integrada no seu sistema de valores, dependente de sua história e do contexto social e ideológico que o cerca.  (ABRIC, 2000).

 Isso é permitido a partir do contato destas pessoas com as informações passadas pela mídia de uma realidade que não é vivida por ela, mas que ela só tem contato por meio destas informações e que acabam por produzir estes valores, citados acima, que acabam se adequando ao contexto vivido pelo indivíduo ancorando, essa percepção que permite desenvolver a representação social de que  alagoano é um povo atrasado e que por ser atrasado e que por ser atrasado não é acostumado a resolver suas questões dentro das estruturas impessoais desenvolvidas pela modernidade, resultando neste comportamento violento, que acaba o caracterizando.  Desta feita nós percebemos que a mídia influencia sim na construção desta representação social do alagoano como este povo violento, atrasado e pobre, visto que desde os materiais jornalísticos, como reportagens até a produção cultural midiática voltada para o entretenimento. Mostra o alagoano desta forma, pelo menos aquelas que mais se fixaram na memória dos entrevistados.

 CONCLUSÃO

Conclui- se, após a construção desta pesquisa e das respostas que conseguimos averiguar das entrevistas, que o povo alagoano não se enxerga como um povo violento, que embora haja uma difusão de uma mensagem midiática fortemente direcionada neste sentido, e aqui o “direcionada” não indica que esta postura seja intencional, visto que a pesquisa não nos permitiu averiguar isso, o povo alagoano se enxerga prioritariamente de maneira positiva, como trabalhador, alegre e receptivo, pobre porque é enganado pelos políticos que não se importam com o povo, mas que se esforça para melhoria de vida. Já no que se refere às formas como os alagoanos acreditam que os outros o enxerguem, aí ele entende que a mídia influencia na construção desta representação social, visto que as informações que estas pessoas possuem do alagoano, são prioritariamente as informações divulgadas pela mídia e pelos produtos da indústria cultural, logo isso faz com que esta percepção que chega a ser estereotipada do alagoano acabe sendo familiarizada e entendida, muitas vezes como real.

REFERÊNCIAS

_ ABRIC, Jean-Claude. A abordagem estrutural das representações sociais. In: Estudos interdisciplinares de Representação Social. MOREIRA. Antônia S. P. & OLIVEIRA, Denise C. (orgs.). 2 ed. Goiânia: AB, 2000. (p. 27-38).

_ ADORNO, Theodor. Indústria Cultural e sociedade. Trad. Julia Elisabeth Levy [et. al.]. São Paulo: Paz e Terra. 2002. (coleção Leitura).

_ ALBUQUERQUE JR., Durval Muniz de. A invenção do Nordeste e outras artes. 4ª ed. Recife: FJN; Ed. Massangana; São Paulo: Cortez, 2009.

_ BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Trad. Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro.  Lisboa: Edições 70, 1979.

_ GUARESCHI, A. Pedrinho. “Sem dinheiro, não há salvação”: ancorando o bem e o mal entre neopentecostais. In: Textos em Representações Sociais. GUARESCHI, A. Pedrinho & JOVCHELOVITCH, Sandra. (orgs.). 12 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. (p. 153- 182).

_ HALL, Stuart. Codificação/Decodificação. In: Da Diáspora: Identidades e Mediações Culturais. Trad. Adelaine La Guardia Resende [et. al.] . Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.

_ JODELET, D. Representações Sociais: um domínio em expansão. In: As Representações Sociais. JODELET, D. (org.). Rio de Janeiro: UERJ, 2001. (p. 17-


1 Professor do Curso de Logística do Instituto Federal de Alagoas, Campus Benedito Bentes marcus.roberto@ifal.edu.br
2 É aluna do Curso de Logística do Instituto Federal de Alagoas, Campus Benedito Bentes sns13@ifal.aluno.edu.br
3 É aluno do Curso de Logística do Instituto Federal de lagoas, Campus Benedito Bentes miess01@ifal.aluno.edu.br