REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10249301202
Thays Vitória Andrade dos Santos[1]
Fabrícia Gomes da Silva[2]
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo analisar se o Desenho Universal da Aprendizagem, articulado a uma boa relação entre professores e alunos, pode efetivamente contribuir para o processo de ensino-aprendizagem. Quanto à metodologia fez-se o uso da abordagem qualitativa, através da pesquisa bibliográfica. Para a realização do estudo dialoga-se com autores como Zerbato (2018), Zerbato e Mendes (2018, 2021), Duque (2015), Oliveira (2019), Góes e Costa (2022), entre outros. O estudo realizado mostra que a afetividade implícita no relacionamento entre professores e alunos é um impulsionador para boas práticas pedagógicas, consequentemente para a adoção do DUA como filosofia pertinente ao planejamento e práxis docente.
Palavras–chave: DUA; relação professor-aluno; ensino-aprendizagem.
INTRODUÇÃO
A Lei Brasileira de Inclusão (LBI), promulgada em 2015, assegura o direito à educação para pessoas com deficiência, garantindo-lhes um ensino de qualidade que promova seu desenvolvimento educacional. O art. 27 dessa legislação estabelece que “a educação constitui o direito da pessoa com deficiência, assegurado sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades” (Brasil, 2015, p.12). Para concretizar essa garantia, o Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA) tem muito a oferecer, ao propor estratégias que promovem a acessibilidade universal. Tais estratégias abrangem tanto a dimensão física quanto os serviços educacionais, de modo que todos possam progredir e alcançar desempenhos satisfatórios sem barreiras (Cast, 2019).
Nesse sentido, é pertinente também ressaltar a importância da relação entre professores e alunos no processo de ensino-aprendizagem. Essa relação transcende a simples transmissão de conteúdos ou a adoção de metodologias criativas. Conforme Mello e Rubio (2013), o afeto desempenha um papel crucial no favorecimento da aprendizagem. Além disso, a forma como o professor interage com seus alunos pode influenciar positivamente ou negativamente o desenvolvimento educacional, seja gerando obstáculos ou contribuindo para sua superação.
Diante desse cenário, emerge a necessidade de se correlacionar o DUA com a qualidade da interação entre professores e alunos. A articulação entre esses dois fatores pode favorecer significativamente o ambiente educacional, promovendo um processo de ensino-aprendizagem mais inclusivo e eficaz.
Partindo dessa premissa, problematiza-se de que maneira o Desenho Universal da Aprendizagem, aliado a uma relação positiva entre docentes e discentes, pode contribuir para o processo de ensino-aprendizagem? O objetivo desse estudo é analisar se o Desenho Universal da Aprendizagem, articulado a uma boa relação entre professores e alunos, pode efetivamente contribuir para o processo de ensino-aprendizagem. O estudo traz uma abordagem qualitativa, metodologia fez-se o uso da pesquisa de bibliográfica.
METODOLOGIA
O estudo apresentado faz uso da abordagem qualitativa, na qual “a análise dos dados […] passa a depender muito da capacidade e do estilo do pesquisador” (Gil, 2008, p. 175), de maneira que se faz a utilização de análise subjetiva do autor. Quanto aos métodos, foram utilizadas a pesquisa bibliográfica, caracterizada como […] aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dos textos (Severino, 2013, p. 106). É válido ressaltar que “em virtude da disseminação de novos formatos de informação, estas pesquisas passaram a incluir outros tipos de fontes, como discos, fitas magnéticas, CDs, bem como o material disponibilizado pela Internet” (Gil, 2017, p. 4-5). A sua principal vantagem está em ofertar ao pesquisador “a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente” (Gil, 2017, p. 5); no entanto, faz-se necessário uma análise cuidadosa, uma vez que estes dados podem ter sido coletados de forma inadequada, comprometendo a veracidade dos mesmos (Gil, 2008).
Dentre os nomes que deram suporte à pesquisa, destacam-se: Zerbato (2018), Zerbato e Mendes (2018, 2021), Duque (2015), Oliveira (2019), Góes e Costa (2022), pelos estudos que veem realizando no Brasil sobre o tema aqui esboçado.
DESENHO UNIVERSAL DA APRENDIZAGEM: CONTEXTUALIZAÇÃO E POSSIBILIDADES
A origem do DUA se deu nos Estados Unidos, no ano de 1999, desenvolvido por David Rose, Anne Meyer, dentre outros pesquisadores do Center for Applied Special Technology (CAST), devido “ao desafio de transformar escolas de ensino comum em ambientes inclusivos favoráveis à aprendizagem de todos” (Zerbato, 2018, p. 55). É neste cenário que surge o conceito do Universal Designer Learning (UDL), do qual se traduz o Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA).
Apesar do DUA ser uma estratégia que pode proporcionar um avanço na qualidade da aprendizagem de escolas de ensino comum brasileiras, é uma abordagem que ainda possui um acervo limitado nas pesquisas científicas no Brasil (Zerbato; Mendes, 2018). No entanto, autoras como Nunes e Madureira (2015) apontam a necessidade da realização de estudos e aplicações de práticas inclusivas, visando à garantia do acesso e permanência, com qualidade, no processo de ensino-aprendizagem.
[…] Garantir o acesso à escola regular constitui a dimensão mais fácil de alcançar no processo de inclusão, pois depende sobretudo de decisões de natureza política. Já assegurar a aprendizagem e o sucesso na aprendizagem envolve mudanças significativas nas formas de conceber a função da escola e o papel do professor no processo de ensino e aprendizagem. Trata-se, portanto, de equacionar processos pedagógicos inclusivos que permitam o envolvimento efetivo de crianças e jovens com NEE na aprendizagem […] Tal necessidade está associada ao aparecimento do conceito Universal Design for Learning (UDL) nos anos 90 […] (Nunes; Madureira, 2015, p. 7).
E para que possibilite a qualidade no processo educacional, o DUA tem muito a contribuir, pois, o mesmo […] pressupõe que todos os indivíduos são diferentes e possuem estilos e maneiras variadas de aprender. Além disso, consiste num suporte para professores e outros profissionais especializados na elaboração de práticas e estratégias que visem à acessibilidade […] (Zerbato, 2018, p. 53).
Cada estudante possui a sua subjetividade, com pontos fortes e fracos. Assim, o objetivo do DUA, segundo Zerbato e Mendes (2018, p. 150), seria auxiliar, de maneira a permitir que educadores e quaisquer profissionais relacionados à adoção de “modos de ensino de aprendizagem adequados, escolhendo e desenvolvendo materiais e métodos eficientes, de forma que seja elaborado de forma mais justas e aprimorados para avaliar o progresso de todos os estudantes”.
Dessa forma, pensa-se em flexibilizar o currículo, propondo diversificados modos de ensinar e avaliar sem a necessidade de adequar uma atividade a um aluno em específico (Alves; Ribeiro; Simões, 2013). Tal abordagem proporciona ao aluno, ainda, o sentimento de equidade e capacidade de desenvolver-se no seu ritmo, sem sentir-se incapaz de alcançar os mesmos resultados dos seus colegas de classe.
Para melhor compreensão, dá-se o seguinte exemplo
Ao elaborar materiais concretos para o aprendizado de conteúdos matemáticos para um aluno cego, por exemplo, tal recurso, normalmente, é pensado e adaptado para os alunos-alvo da turma, porém, na perspectiva do DUA, o mesmo material pode ser utilizado por todos em sala de aula, podendo beneficiar outros estudantes na compreensão dos conteúdos ensinados (Zerbato, 2018, p. 56).
Tal afirmação nos leva a melhor compreensão sobre o propósito do DUA citado anteriormente: aquilo que se faz necessário para alguns, coopera positivamente para todos, uma vez que tais recursos contribuem para uma aula mais atrativa e consequentemente mais produtiva para todos os alunos. O objetivo de um currículo elaborado com os princípios do DUA não é
[…] simplesmente auxiliar os estudantes a dominar um dado campo do conhecimento ou um conjunto específico de habilidades, mas ajudá-los a dominar a aprendizagem em si mesma, ou seja, torná-los estudantes/aprendizes avançados. […] O planejamento do currículo usando o DUA permite que os professores eliminem possíveis dificuldades que podem impedir que os estudantes alcancem esse objetivo importante (Sebastián-Heredero, 2020, p. 738)
Vale ressaltar que é essencial que haja desafios, no intuito que estes agucem a vontade e determinação dos educandos, não devendo privá-los das possíveis dificuldades, mas auxiliá-los quando estas se fizerem presentes. O currículo pensado no DUA é composto por quatro componentes essenciais, sendo eles: objetivos, métodos, materiais e avaliação.
Os objetivos são determinados de modo a atingir a diversidade dos alunos, pois “enquanto os currículos tradicionais se concentram em objetivos relacionados a conteúdo e desempenho, um currículo DUA foca no desenvolvimento de estudantes/aprendizes avançados” (Sebastián-Heredero, 2020, p. 738-739). Os métodos em geral são definidos, por sua vez, visando à diversificação dos estudantes, de modo a serem flexíveis. Já os materiais referem-se aos meios utilizados para repassar os conteúdos, enquanto a avaliação refere-se aos variados métodos utilizados para a coleta de informações acerca do desempenho dos alunos (Sebastián-Heredero, 2020).
O DUA possui três princípios norteadores, os quais oferecem suporte à escola, em conjunto com os componentes citados anteriormente, pois “assumem objetivos e estratégias para uma proposta didática de ensino, que visa satisfazer as necessidades de aprendizagem de um maior número de alunos em sala de aula” (Prais, 2017, p. 71). Tais princípios segundo Góes e Costa (2022) são: Engajamento, Representação e Ação e Expressão.
O primeiro princípio está relacionado ao embasamento para a elaboração de planejamentos acessíveis, favorecendo a participação dos envolvidos, que se dá por meio de estratégias para estimular a participação destes durante a aula. O segundo princípio relaciona-se ao plano pedagógico da instituição, devendo atender às necessidades da classe, dado que o modo como são repassados os conteúdos, poderá auxiliar ou dificultar a aquisição de conhecimentos. Por fim, o terceiro princípio proporciona flexibilização dos métodos avaliativos, permitindo “o reconhecimento das especificidades de aprendizagens, por meio da expressão sobre o conhecimento a partir de um texto escrito ou de forma oral, por exemplo” (Góes; Costa, 2022, p. 29-30). O DUA contribui para a minimização de possíveis barreiras existentes no progresso do aluno, e
[…] com o tempo compreendemos que a aprendizagem implica um desafio específico na área concreta de atuação e para que isso aconteça devemos eliminar as barreiras desnecessárias mantendo os desafios necessários. Por isso, os princípios do DUA, além de focar no acesso físico à sala de aula, concentram-se no acesso a todos os aspectos da aprendizagem. Esta é uma distinção importante entre o que significa DUA e o que se pode considerar uma simples orientação sobre o acesso do estudante à aprendizagem (Sebastián-Heredero, 2020, p. 734).
Percebe-se, então, que o DUA visa o progresso satisfatório de crianças com ou sem deficiência, revendo suas práticas em sala de aula, no intuito de minimizar as dificuldades existentes no progresso educacional. Tal perspectiva reflete o que é exposto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), capítulo IV, Art. 53° (Brasil, 1990, p.43), afirmando que “a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho”.
O inciso I deste artigo vai além, ao afirmar que deverá desenvolver integralmente os alunos em “igualdade de condições para o acesso e permanência na escola”, sem que aqueles com NEE sejam prejudicados ou taxados, quando se referem a instituições privadas. A LBI (Brasil, 2015, p.13) reafirma tal sentimento, “sendo vedada a cobrança de valores adicionais de qualquer natureza em suas mensalidades, anuidades e matrículas no cumprimento dessas determinações”. Logo, entende-se, que o acesso à educação deverá ser ofertado em igualdade de condições para aqueles que constituem o meio.
No entanto, o DUA em alguns momentos poderá não ser o suficiente para determinado aluno, e para lhe dar suporte, a Tecnologia Assistiva (TA) poderá complementar e proporcionar apoio ao discente, sendo este um tema para pesquisas futuras, e questionamentos tais como: DUA e TA, aliados ou não?
A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO: UMA VIA DE MÃO DUPLA
O processo de ensino-aprendizagem possui suas implicações, dentre elas a relação existente entre professores e alunos para a sua efetivação. Dentro dessa perspectiva, “se evidencia a necessidade da construção da afetividade na relação professor aluno, já que esse fator é essencial para o crescimento e desenvolvimento do ser de forma integral” (Nunes, 2017, p.15), e percebe-se, ainda, “nesta dinâmica relacional, o sucesso ou o insucesso do professor e do aluno, assim como o prazer e o desprazer em aprender ou ensinar. Levando em conta estes aspectos, está posto o maior e mais instigante desafio da profissão, relacionar-se com os alunos” (Duque, 2015, p. 115).
Uma vez que a boa relação entre ambos se faz necessária para a evolução dos alunos, caso ocorra o contrário, estes serão afetados, resultando muitas vezes na falta de interesse pelo aprender, e, ainda, em frequentar a escola (Alves, 1994). Fala-se de afetividade como
[…] um sentimento que está baseado na confiança, no carinho, no respeito na admiração e que faz com que nossa autoestima eleve, assim em sala de aula o aluno consegue mostrar se gosta ou não de estar na escola. A falta desse sentimento traz problemas e consegue que a criança fique totalmente negada a tudo. É dever dos pais e dos professores levarem em consideração a afetividade durante o processo de ensino-aprendizagem (Ricciolli, 2020, p. 29).
Fica explícita a contribuição assertiva da afetividade em sala de aula, não se limitando ao carinho físico ou toque, mas, muitas vezes, incluindo elogios, palavras de reforço positivas, proporcionando à criança o sentimento de autoconfiança, para que essa sinta-se capaz de executar suas atividades com desempenho (Mello; Rubio, 2013). Em concordância, enfatiza-se que “o aluno deve estar motivado a sentir-se capaz de realizar o que lhe é proposto, descobrindo novas experiências, com sentimento de autonomia” (Nunes, 2017, p.18).
Ao conceder o desafio da resolução de determinada incógnita pelo estudante, este será instigado a conhecer novos meios para alcançar determinado objetivo, lhe proporcionando o estímulo à aprendizagem. Durante as tentativas é imprescindível o apoio do docente caso a criança encontre dificuldades para solucionar a atividade proposta.
Nunes (2017) afirma ainda que a relação positiva entre as duas partes é fundamental, devido a fatores emocionais, sendo este um aspecto contribuinte para o bom desempenho do alunado. Para Wallon,
a afetividade é das dimensões do ser humano e também uma das fases mais antigas do desenvolvimento cognitivo humano, pois deixou de ser orgânico e passou a ser afetivo, e da afetividade passamos a ser mais racionais. A afetividade e a inteligência estão estreitamente ligadas, [sic] pois, [sic] sempre uma terá domínio sobre a outra, mesmo que haja uma diferenciação entre elas (Wallon, 2010 apud Ricciolli, 2020, p. 30).
O processo está diretamente ligado aos fatores emocionais presentes na sala de aula, ou seja, como se dá a relação entre educandos e educadores. Esta relação afetará diretamente o processo de ensino desta classe, da mesma forma que poderá desencadear um entrave durante a aquisição dos conhecimentos, pois o estado emocional do sujeito interfere em outras áreas da sua vida, como biológico e social.
Constata-se que as relações construídas pelos professores e alunos são um forte fator de evolução ou desconstrução dos indivíduos, pois a insatisfação, em algum ponto específico da vida de ambos, pode gerar alguns problemas para ambas as partes e cada uma reagirá de modo bem particular, mas que serão, certamente, prejudiciais tanto na prática pedagógica quanto na aprendizagem dos alunos (Medeiros, 2017, p.1174).
Quando há uma boa interação e convivência entre os componentes de uma sala de aula, ambos saem favorecidos: alunos com maior vigor e determinação a novos conhecimentos, e professores mais confiantes e entusiasmados em trabalhar os conteúdos abordados. Assim, Rubem Alves afirma que “toda experiência de aprendizagem se inicia com uma experiência afetiva” (2004, p.20). Em concordância, Medeiros (2017, p. 1174-1175) reitera que “se essa relação for baseada na afetividade, obviamente, tanto o professor como os alunos terão mais facilidade de construir valores essenciais para uma boa convivência em sociedade e de entendimento das diferenças comuns a todo ser humano”.
No entanto, Alves (1994, 2004) relata que pouco se vê diálogos sobre os alunos, e muito se percebe sobre aulas, reuniões, colegas, salários, mas nada sobre os alunos, sobre a aprendizagem. Estes são tidos como a classe subordinada, que devem submeter seus pensamentos e ações de acordo com os seus superiores, a classe dominante: seus professores. Este complementa ainda que sonha com “o dia em que os professores, em suas conversas, falarão menos sobre os programas e as pesquisas e terão mais prazer em falar sobre os seus alunos” (2004, p. 29).
Fica evidenciado então, que “para o professor conseguir junto com seus alunos um ensino de qualidade, ele precisa estar motivado e motivar o aluno na aprendizagem. Outro fator que cabe ao professor, é ter uma condução da aprendizagem voltada ao respeito e a disciplina, que não pode ser esquecida” (Barbosa; Bublitz; Baruffi,2016, p.80). Uma vez que estes alunos estão se construindo e constituindo para o agir em sociedade, e a escola se faz parte contribuinte para este processo,
[…] dessa forma a responsabilidade do professor em sua caminhada pedagógica possui um envolvimento tanto cognitivo como afetivo. Dando assim, a possibilidade de ocorrer dentro desta interação professor x aluno, aluno x aluno, um desenvolvimento em todos os níveis: social, pessoal e de grupo (Barbosa; Bublitz; Baruffi,2016, p.78).
E a integração destes aspectos é essencial, pois “o ser humano necessita viver em sociedade e adaptar-se constantemente ao meio e para que possam garantir a estabilidade e satisfação pessoal, precisam estar em continua interação com os outros seres” (Nunes, 2017, p. 17). É necessário que esta relação harmoniosa seja trabalhada desde os anos iniciais, e durante a Educação Infantil, sendo está um pilar fundamental para o desenvolvimento de todos os aspectos da criança.
Ressalta-se ainda que a Educação Infantil possui a mesma relevância do Ensino Fundamental e Médio (Brasil, 1996). É possível afirmar que nesta etapa se torna ainda mais necessário o bom desempenho dos docentes, levando em consideração a relação entre educadores e educandos visando o desenvolvimento da autonomia e autoconfiança das crianças, uma vez que a Educação Infantil é a base para os anos subsequentes.
A relação que se estabelece entre docentes e discentes nessas etapas irá refletir profundamente em todo o progresso da criança, pois, “se o professor deseja que seu aluno tenha um conhecimento sólido, deve articulá-lo a partir das emoções, da afetividade; isso proporcionará o aprendizado, já que fará parte das experiências significativas do aluno” (Duque, 2015, p. 282).
Vale ressaltar ainda que “quando a transferência é positiva e o professor é adequado em suas intervenções, a chance do sucesso da aprendizagem é maior” (Duque, 2015, p. 237). Isto se deve ao sentimento de confiança, pois com ele a criança se desenvolve com maior aptidão, uma vez que as emoções estão intimamente relacionadas com a aprendizagem (Mello; Rubio, 2013).
Uma boa relação faz-se fundamental em todas as instâncias educacionais, e em “se tratando da Educação Infantil, a relação do professor com os alunos é constante, dá-se o tempo todo, na sala, durante as atividades, no pátio, e por essa proximidade afetiva é que se dá interação com objetos e a construção do conhecimento” (Mello; Rubio, 2013, p. 7). Nesta etapa de ensino, o docente possui elevado contato com a criança, tornando-se companheiro desde o horário de entrada ao momento da saída, criando um laço afetivo entre professor e aluno.
Duque (2015, p. 282) apresenta reflexões sobre a ideia de Wallon, abordando que, segundo o autor “a emoção é tão importante para a aprendizagem quanto à cognição, pois ela indica os primeiros sinais de vida psíquica do sujeito”.Com isso, é essencial que o corpo docente esteja ciente de que as ações e atitudes em sala de aula afetarão, direta ou indiretamente, a aprendizagem dos alunos, visto que “o professor desempenha um papel de valor imensurável para um aluno e para a educação como um todo; por isso, é válido entender que, mesmo sem saber, um professor pode ter influenciado um aluno, seja na escolha da profissão, […] seja pra vida, como pessoa” (Duque, 2015, p. 1058).
O docente, ao apresentar atitudes como
[…] palavras de afirmação, pois são muitos os professores que apenas censuram e observam os pontos negativos dos seus alunos, contudo qualquer sujeito possui qualidades a serem exploradas; tempo de qualidade, sendo que a maioria do corpo docente está preocupada com o cumprimento do programa, relatórios e notas, não dando espaço aos alunos para exporem as suas dúvidas ou fazerem questões que possibilitem ampliar os seus conhecimentos; criação da expectativa, variando as suas aulas com vídeos, músicas, passeios ou lecionar noutro espaço da escola que não a sala de aula; atos de serviço, sendo que muitas vezes, uma palavra de conforto faz toda a diferença (Oliveira, 2019, p. 272-276).
Ao implementar tais ações, o docente poderá proporcionar ao aluno uma vasta contribuição para o seu desempenho e autoconfiança, pois, ao associar o cognitivo à afetividade, os seus benefícios serão ampliados.
No entanto, muitas escolas não dão o devido valor ao lado afetivo dos alunos, enfatizando o cumprimento do currículo acima dos demais fatores (Duque, 2015), ainda que estejam cientes que o intelectual e emocional estão diretamente relacionados e fazem parte de uma estrutura fundamental no processo do desenvolvimento educacional. A relação amigável torna o ensino mais prazeroso e, consequentemente, os conhecimentos serão fixados com maior facilidade, assim como “manter o carinho, o tratar com afetividade, importar-se genuinamente, pode potencializar a intervenção do professor na vida dos seus alunos, dando novos significados e qualificando a função transformadora da escola” (Oliveira, 2019, p. 261). Acredita-se ainda que
[…] os aspectos afetivos e cognitivos formam um par inseparável. No interior da vida escolar, principalmente na Educação Infantil, os alunos precisam vivenciar momentos que potencialmente geram crescimento, que vão ter implicações afetivamente marcantes em seu desempenho pedagógico. Numa época de crises, tragédias e separações como a nossa, é necessário começarmos a pôr em prática nas escolas, ideias mais humanistas, que valorizem desde cedo a importância das emoções (Mello, Rubio, 2013, p. 10).
Percebe-se então, que o professor afetuoso, precisa realizar três indagações, que devem estar presentes todos os dias da sua regência: “1. O que posso fazer hoje para apoiar o meu aluno?; 2. Como posso tornar a sua aprendizagem mais significativa?; 3. Como posso ser um professor melhor?” (Oliveira, 2019, p. 294), e, a partir destas perguntas devemos pensar e rever sobre a sua atuação docente. É válido, ainda, tomar as suas experiências como motivação para o seu aperfeiçoamento profissional, perceber como agiam seus professores e se estes contribuíram positivamente para o seu progresso, tomando a prática social sempre como ponto de partida e de chegada em seu fazer pedagógico.
CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTUDO
Assim como abordado ao longo do estudo, a educação é assegurada por lei como um direito de todos. Desse modo, as instituições devem estar aptas a receber os alunos, contemplando as suas especificidades, e propiciando uma aprendizagem satisfatória. Pode-se entender a ligação entre o DUA e a relação professor-aluno, como o elo essencial para um bom processo de ensino-aprendizagem. Do professor afetivo espera-se que conheça os seus alunos e suas particularidades, para a partir destas promover metodologias que os proporcionem confiança e o desejo em aprender. Pois, assim como abordado durante o estudo, o modo como o professor se porta perante os alunos interfere diretamente em seu desenvolvimento cognitivo e autoconfiança. A relação positiva, baseando-se na confiança e motivação, apresenta-se como base para o sucesso acadêmico e, também, pessoal dos alunos.
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[1] Especialista em Educação Inclusiva pela Faculdade de Ciências e Tecnologia de Teresina (FACET). Pedagoga pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Docente da Prefeitura Municipal de Santa Cruz do Piauí. E-mail: thaysv2000@gmail.com
[2] Mestre em Educação pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Especialista em Psicopedagogia pela Faculdade Kurius (FAK). Pedagoga pela Universidade Regional do Cariri (URCA). Docente da Universidade Estadual do Piauí (UESPI). E-mail: fabriciagomes@pcs.uespi.br