DESAFIO NO MANEJO E CONTROLE DE PARASITAS EM EQUINOS: REVISÃO DE LITERATURA.

CHALLENGE IN THE MANAGEMENT AND CONTROL OF PARASITES IN HORSES: LITERATURE REVIEW.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202409292159


Federico Cupello; Dayana Sharon da Silva Vilarim; Gisele Rosalini Nogueira; Lucas Duarte Fernandes Campos; Marcelo Pires Branco da Costa; Bianca Lisboa de Oliveira Marques; Gustavo Oliveira de Souza; Júlia Lima de Assis Barreto Calmon Monteiro; Matias Henrique de Moura Salema; Adlilton Pacheco.


Resumo

As infecções parasitárias em equinos são de grande importância devido aos danos que causam, acometendo os animais em todas as fases da vida. O estudo da prevalência dessas infecções gastrintestinais é crucial para a saúde dos cavalos, uma vez que afetam diretamente seu desempenho e qualidade de vida. As diretrizes de controle parasitário ressaltam a urgência em substituir a abordagem tradicional e estratégica por uma metodologia de desparasitação baseada na vigilância constante. Embora as doenças parasitárias em equinos tenham evoluído ao longo do tempo, as taxas de prevalência dos diferentes parasitas permanecem altas, causando prejuízos significativos tanto para a saúde animal quanto para a economia. Por serem muitas vezes silenciosas, essas infecções só podem ser detectadas por meio de exames coproparasitológicos realizados regularmente. Esses exames são práticos e altamente confiáveis, sendo a principal ferramenta no controle parasitário e na implementação de protocolos eficazes. É essencial que os proprietários e donos de cavalos entendam a importância desses exames, pois eles possibilitam o tratamento adequado, aumentando a eficácia dos medicamentos e diminuindo a resistência anti-helmíntica, que tem comprometido a eficiência dos princípios ativos. Além disso, os criadores precisam estar familiarizados com os métodos disponíveis para combater essas infecções parasitárias, garantindo a saúde e o bem-estar dos equinos.

Palavras-chave: equinocultura, parasitos gastrintestinais, exame coproparasitológicos, desparasitação.

Abstract

Parasitic infections in horses are of great importance due to the damage they cause, affecting animals at all stages of life. Studying the prevalence of these gastrointestinal infections is crucial for the health of horses, since they directly affect their performance and quality of life. Parasite control guidelines highlight the urgency of replacing the traditional and strategic approach with a deworming methodology based on constant surveillance. Although parasitic diseases in horses have evolved over time, the prevalence rates of the different parasites remain high, causing significant losses to both animal health and the economy. Because they are often silent, these infections can only be detected through regular coproparasitological examinations. These examinations are practical and highly reliable, and are the main tool in parasite control and in the implementation of effective protocols. It is essential that horse owners and horse owners understand the importance of these tests, as they enable appropriate treatment, increasing the effectiveness of medications and reducing anthelmintic resistance, which has compromised the efficiency of active ingredients. In addition, breeders need to be familiar with the methods available to combat these parasitic infections, ensuring the health and well-being of horses.

Keywords: equine farming, gastrointestinal parasites, coproparasitological examination, deworming.

INTRODUÇÃO

De acordo com Freitas (2023), a equideocultura é responsável pela geração de milhões de empregos, tanto diretos quanto indiretos, e exerce grande relevância econômica, abrangendo tanto o setor de serviços quanto o de produtos. Com o crescimento acelerado no rebanho brasileiro, a equinocultura tem se consolidado como uma verdadeira paixão nacional.

O mercado de equinos atrai cada vez mais adeptos, movimentando uma extensa cadeia produtiva que envolve equipamentos, medicamentos, nutrição, entre outros. Atualmente, o Brasil possui cerca de 5,77 milhões de cabeças de equinos, com Minas Gerais liderando em número de animais. Em 2015, o PIB da equinocultura alcançou a marca histórica de 16 bilhões de reais, com um crescimento anual de 11,3% ao longo de uma década, destacando-se como um dos setores de maior expansão econômica no país.

Os equinos sempre desempenharam um papel importante na sociedade, desde sua utilização como animais de tração para transporte e trabalhos agrícolas, até sua atual inserção em atividades esportivas, de lazer e reabilitação. Em alguns casos, ainda são utilizados por famílias de baixa renda como meio de sustento. Diante disso, é fundamental garantir a saúde e o bem-estar dos equinos. Ambientes inadequados e condições estressantes aumentam o risco de doenças, comprometendo não apenas o bem-estar dos animais, mas também seu desempenho nas atividades a que são destinados.

A criação de equinos é de extrema importância para a economia mundial devido o seu alto valor zootécnico. Os equinos são herbívoros por natureza, sendo que a alimentação à pasto predispõe os animais ao endoparasitismo (Viveiros, 2018). As diversas espécies de parasitas gastrintestinais são responsáveis por diferentes quadros clínicos, sendo na maioria das vezes sinais inespecíficos, como: pelagem opaca, enterite, cólica, anorexia, apatia, diarreia, baixo índice de crescimento, perda de peso e pode apresentar prurido perianal intenso com quebra de pêlos, áreas alopécicas e inflamação da pele sobre a anca e a parte superior da cauda (Urquhart et al., 1996).

OBJETIVO

O propósito desta revisão de literatura é examinar e compilar o conhecimento existente sobre a prevalência e o impacto dos principais endoparasitas que acometem os equinos, assim como as estratégias de controle baseadas no uso de antiparasitários. A revisão pretende abordar a eficácia dos tratamentos antiparasitários, os desafios ligados à resistência parasitária e as práticas recomendadas para o manejo integrado de parasitas, com o objetivo de promover a saúde e o bem-estar dos equinos. 

CLASSIFICAÇÃO E TIPOS DE PARASITAS GASTROINTESTINAIS EM EQUINOS

De acordo com Afonso (2016), os equinos abrigam uma ampla diversidade de parasitas, incluindo nematódeos (como Ascarídeos, Oxiurídeos, Estrongilídeos, Tricostrongilídeos), cestódeos (como Anoplocefalídeos). Entre eles, os nematódeos gastrointestinais se destacam como o grupo mais numeroso e relevante, tanto em termos de presença quanto de frequência e patogenicidade. Logo após o nascimento, os equinos que pastam são infectados por parasitas presentes no ambiente, resultando em uma infecção mista composta por diversos helmintos gastrointestinais de diferentes gêneros e espécies.

A epidemiologia dos helmintos de equinos é influenciada por uma combinação de fatores ambientais e individuais. Os principais fatores ambientais incluem temperatura, umidade e características da pastagem. Estudos demonstram que a temperatura ideal para o desenvolvimento larval dos estrongilídeos é de 25-33ºC, enquanto a umidade tem um efeito duplo: favorece o desenvolvimento das larvas nas fezes, mas uma umidade excessiva pode reduzir sua sobrevivência na pastagem (Nielsen et al., 2007; Mfitilodze & Hutchinson, 1987).

As condições climáticas variam amplamente entre diferentes regiões, como os climas temperado e tropical, o que afeta a dinâmica populacional dos helmintos. No clima temperado, a quantidade de larvas tende a diminuir no inverno, enquanto em climas tropicais e subtropicais, as larvas podem estar presentes durante todo o ano, embora com variações sazonais (Nielsen et al., 2007; Bezerra et al., 2007).

Família Strongylidae

De acordo com Afonso (2016), os adultos da família Strongylidae, que habitam o intestino grosso dos equídeos, produzem ovos que são liberados para o ambiente no estágio de desenvolvimento de mórula. Esses ovos, conhecidos como estrongilídeos, são ovais, possuem uma cápsula fina e estão embrionados. Eles são assim chamados porque são comuns às famílias Strongyloidea e Trichostrongyloidea, o que torna sua identificação difícil apenas pela observação microscópica. No ambiente, a mórula se desenvolve em uma larva de 1º estágio (L1), que eclode em 2-3 dias. A L1, após se alimentar, evolui para o segundo estágio larval (L2), com ambas se alimentando de bactérias presentes na massa fecal. A L2, então, se transforma no terceiro estágio larval (L3), mantendo a bainha de L2, que serve como proteção contra as condições ambientais, mas impede a larva de se alimentar até ser ingerida pelo hospedeiro. A L3 deixa a massa fecal e migra para o ambiente circundante. Os equídeos se infectam ao ingerir as L3, que, uma vez dentro do hospedeiro, liberam-se da bainha.

Subfamília Strongylinae

Depois de ingeridos estes parasitas, nomeadamente as L3, penetram a parede intestinal e migram através de diversos tecidos corporais como: o pâncreas, o fígado, as artérias e o peritoneu. Nesses locais, ocorrem as mudas para o quarto estágio larval (L4) e quinto estágio larval (L5), regressando, posteriormente, ao trato intestinal onde se fixam à mucosa e se reproduzem, efetuando a ovopostura. O tempo mínimo de período pré-patente é 6 meses. O período pré-patente não é mais do que o tempo que decorre desde que o animal se infecta, ao ingerir a forma larval L3, até se detectar a eliminação de ovos nas fezes.

Strongylus vulgaris

A infecção ocorre como resultado da ingestão de larvas L3, que inicialmente penetram na mucosa do ceco e do cólon ventral, e posteriormente na submucosa desses órgãos, onde evoluem para L4, cerca de 7 a 8 dias após a infecção. As larvas L4 alcançam o sistema arterial, especialmente a íntima dos vasos, pelos quais migram até atingirem a artéria mesentérica cranial, seu local preferido, e também seus principais ramos. Nesse local, elas podem ser encontradas entre 11 e 21 dias pós infecção, permanecendo até 120 dias pós infecção. Alguns parasitas podem ser encontrados em outros vasos, como na aorta e seus ramos, mas essas localizações erráticas podem não permitir que o ciclo biológico seja completado. As larvas L4 se desenvolvem para L5, preservando a cutícula do estágio anterior até penetrarem novamente na parede intestinal. Elas são transportadas pela corrente sanguínea para as artérias da subserosa do intestino, onde invadem a parede intestinal do ceco e do cólon ventral, formando nódulos. Finalmente, emergem dos nódulos, entram no lúmen intestinal do ceco e do cólon ventral, atingem a maturidade, se reproduzem e depositam ovos, que são eliminados para o ambiente. O período pré-patente é de 6 meses.

Strongylus edentatus

A larva infectante, L3, após ser ingerida, penetra na parede do ceco e do cólon ventral direito, alcançando as veias portais, através das quais chega ao fígado em 2 dias pós infecção. Em duas semanas, as larvas evoluem para L4, aumentando de tamanho e permanecendo no fígado por cerca de 2 meses. Posteriormente, elas migram pelos ligamentos hepáticos até os tecidos retroperitoneais, onde permanecem até 3 meses pós infecção e sofrem a transformação para L5. Finalmente, retornam ao ceco e ao cólon, penetrando no lúmen intestinal. O período pré-patente é de 11 meses, podendo, em alguns casos, ser de apenas 6 meses. Sabe-se que podem ocorrer migrações erráticas, como para a cavidade pleural e os testículos.

Strongylus equinus

A larva infectante, L3, penetra na parede do ceco e do cólon, onde evolui para L4. Após onze dias pós infecção, as larvas migram pela cavidade peritoneal e alcançam o fígado, onde permanecem por pelo menos 2 meses. Em seguida, as L4 chegam ao pâncreas e, posteriormente, retornam à cavidade abdominal, onde evoluem para L5 por volta dos 4 meses pós infecção. Finalmente, elas atravessam a parede intestinal, chegando ao lúmen. Nesse local, se reproduzem e depositam ovos, com um período pré-patente de 9 meses.

Triodontophorus spp.

Tem um ciclo de vida semelhante ao dos pequenos estrôngilos, sem migrações fora do intestino. Após a ingestão, as larvas L3, que são a forma infectante, penetram na mucosa do cólon, onde se encistam. Posteriormente, as L3 emergem no lúmen e evoluem para L4, que se tornam adultos. Os adultos se fixam na mucosa do ceco e do cólon ventral, reproduzem-se e liberam ovos para o ambiente externo. O período pré-patente é de 2 a 3 meses.

Subfamília Cyathostominae

Os parasitas desta subfamília são cosmopolitas, oligoxenos (com especificidade dentro da família Equidae) e monoxenos, ou seja, possuem um ciclo de vida direto. Os ovos são liberados nas fezes e, no ambiente, desenvolvem-se até a forma larval infectante (L3). Após serem ingeridas, as larvas se encistam na parede do intestino grosso (principalmente no ceco e no cólon ventral, na mucosa e, ocasionalmente, na submucosa), onde pode ocorrer uma interrupção no desenvolvimento, conhecida como hipobiose. Durante essa fase, as larvas podem permanecer na parede do intestino grosso por um período que varia de algumas semanas até 2 anos. Na parede intestinal, as larvas sofrem as transformações até o quarto estágio larval (L4). As L4 são então liberadas no lúmen intestinal, onde evoluem até a fase adulta. Os adultos reproduzem e depositam ovos. Os parasitas adultos fixam-se no intestino, alimentando-se de matéria orgânica presente nos alimentos, especialmente protozoários e elementos vegetais.

PATOGENIA

Família Strongylidae

A infecção por pequenos e/ou grandes estrôngilos causa uma doença conhecida como estrongilidose, uma das parasitoses mais frequentes em equinos. Os estágios larvares desses parasitas são os mais patogênicos e podem resultar em síndromes como cólica tromboembólica e ciatostominose larvar, causadas por Strongylus spp. e Cyathostomum spp., respectivamente. A infecção gera perdas econômicas diretas devido aos custos com o tratamento das complicações clínicas e indiretas, uma vez que causa: redução na produção e no crescimento, diminuição do desempenho e da fertilidade, mesmo em infecções leves e possível mortalidade dos animais afetados. No entanto, devido à ubiquidade desses parasitas, o aparecimento de sintomas clínicos é raro, sendo mais comum o impacto da infecção subclínica.

Subfamília Strongylinae

Durante suas migrações, as larvas causam lesões nos tecidos corporais, incluindo fígado, peritônio, artérias e intestino. Essas lesões também incluem irritação, resultante da fixação das larvas nos tecidos para se alimentarem. Os parasitas adultos também causam danos ao intestino devido à sua fixação e ao processo de alimentação. Essas lesões são particularmente comuns em potros. O processo de alimentação resulta em uma redução de sangue e plasma.

Strongylus vulgaris

A fase de migração das larvas é a mais significativa do ponto de vista patogênico. Durante sua permanência na artéria mesentérica cranial e seus ramos, as larvas causam endoartrite fibrinosa, formação de trombos ao redor, aumento do diâmetro dos vasos e espessamento das paredes arteriais. Os estágios L4 e L5 desse parasita estão associados a um aumento na frequência de cólicas devido a cólicas tromboembólicas, através de um mecanismo patofisiológico ainda não totalmente compreendido. Uma teoria é que a liberação de material trombótico leva à oclusão de pequenos vasos intestinais, resultando em infarto local e, consequentemente, isquemia, o que causa cólicas dolorosas e potencialmente fatais. No entanto, o infarto intestinal é considerado raro. Outras hipóteses incluem a interferência no controle neurológico local e alterações na motilidade intestinal. Além disso, a presença de L5 na parede intestinal pode levar ao desenvolvimento de pequenos abscessos. Os parasitas adultos têm um papel menos relevante na patogenicidade, causando lesões na parede intestinal ao se fixarem, ingerem proteínas do sangue e tecidos, o que pode resultar em anemia.

Strongylus edentatus

Este parasita causa gastroenterite eosinofílica, fleimão conjuntival, formação de granulomas no ceco e no cólon ventral direito, além de provocar hemorragias na subserosa.

Como consequência da infecção, ocorre inflamação local, que pode levar à formação de depósitos de fibrina e aderências nos órgãos abdominais. Nódulos surgem nos tecidos retroperitoneais e na parede intestinal. Além disso, há alterações na arquitetura do omento e linfadenopatia intestinal. A infecção também resulta em lesões hepáticas, com o desenvolvimento de hepatite.

Strongylus equinus

A infecção por S. equinus pode causar pancreatite e danificar o fígado, levando a disfunção pancreática e diabetes mellitus, respectivamente. Além disso, pode provocar peritonite, a sua presença na parede intestinal resulta na formação de nódulos. É o grande estrôngilo responsável pela maior perda de sangue.

Triodontophorus spp.

Embora Triodontophorus spp. seja menos patogênico do que os parasitas Strongylus spp., T. tenuicollis pode causar o surgimento de úlceras na mucosa do cólon dorsal.

Subfamília Cyathostominae

A infecção parasitária por esses parasitas pode causar quadros clínicos ou subclínicos que afetam cavalos de todas as idades. Enquanto as formas larvares permanecem enquistadas, elas provocam uma reação mínima, mas quando ocorre uma liberação maciça no lúmen intestinal, no final do inverno ou início da primavera, pode surgir uma síndrome conhecida como ciatostominose larval ou tipo II, associada a uma taxa de mortalidade de 50%. Nesse caso, desenvolve-se uma inflamação difusa do ceco e cólon e diversas alterações clínicas. A colite potencialmente fatal, com uma taxa de mortalidade de 50%, pode ocorrer mesmo com um OPG (ovos por grama de fezes) igual a 0, independentemente da gravidade da condição.

A ciatostominose tipo I é causada pela presença de adultos de Cyathostomum spp. no lúmen intestinal, o que geralmente não tem um grande impacto clínico, pois não causa danos significativos à mucosa. No entanto, a alteração na população de protozoários devido à ingestão desses parasitas pode resultar em cólicas, diminuição da performance, debilidade e má condição do pelo.

IMPORTÂNCIA DO USO DE ANTIPARASITÁRIOS

Nos últimos anos percebeu-se que a desparasitação dos animais deve ser realizada de forma seletiva, com base em monitoramento cuidadoso, pois o uso excessivo ou inadequado de antiparasitários pode resultar na diminuição de sua eficácia e no surgimento de resistências parasitárias. O tratamento antiparasitário deve ser feito com base no entendimento da epidemiologia e dos ciclos de vida dos parasitas, de modo a ser aplicado no momento mais adequado, quando os parasitas são mais suscetíveis. Além disso, é importante que a desparasitação seja realizada simultaneamente em todos os cavalos de uma determinada população e que todos os novos equinos adquiridos sejam desparasitados antes de serem integrados à população existente (Afonso, 2016).

Conforme dito por Kobayashi et al., (2022) a saúde dos cavalos nunca recebeu tanta atenção de profissionais da área e de seus tutores como nos tempos atuais, em que os esportes equestres e a equoterapia são aplicados de maneira interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação, com o objetivo de promover o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiências ou necessidades especiais.

Segundo Leizy (2017) as melhorias observadas podem ser explicadas pela redução da carga parasitária proporcionada pelo tratamento, uma vez que, ao eliminar os parasitas gastrointestinais, também são eliminados os danos à digestão dos alimentos e à absorção de nutrientes causados pelos parasitas. Isso favorece o aproveitamento nutricional e melhora a condição clínica dos animais. Dependendo do nível de infecção por nematódeos, pode ocorrer perda crônica de peso e condição corporal, anemia (alterando a coloração das mucosas) e comprometimento da hidratação dos tecidos corporais, devido às lesões intestinais que dificultam a absorção de nutrientes.

A vermifugação é um dos pontos relevantes para garantir a saúde dos equinos. Uma patologia com alta reincidência referente ao tipo de manejo de criação equina. O elevado valor de tratamento dos animais afetados por helmintos gera um gasto alto para o proprietário (Viveiros, 2018).

CATEGORIAS DE ANTIPARASITÁRIOS

Segundo Camargo (2020), entre os compostos disponíveis no mercado, quatro principais grupos químicos são os mais amplamente utilizados: benzimidazóis (como albendazole e oxibendazole), pirimidinas, imidazotiazóis (como pamoato de pirantel e levamisole) e, sobretudo, o grupo das lactonas macrocíclicas (como ivermectina, abamectina e moxidectina). A principal diferença entre esses grupos químicos reside em seu mecanismo de ação e nas maneiras de eliminar o parasita.

Os grupos se diferem no mecanismo de ação sendo comum associações buscando por maior grau de eliminação parasitária resultando em maior eficácia por períodos prolongados (Kava, 2017).

RESISTÊNCIA A ANTIPARASITÁRIOS

De acordo com Rocha (2022), é caracterizada pela redução da eficácia de um tratamento com uma formulação anti-helmíntica que anteriormente demonstrava sucesso contra a mesma espécie de parasita e estágio de desenvolvimento, no mesmo hospedeiro, utilizando a mesma dosagem e via de administração.

A resistência a anti-helmínticos é uma preocupação crescente, com várias classes de drogas sendo utilizadas para controlar os helmintos em equinos. Os benzimidazóis foram pioneiros, mas a resistência começou a ser relatada desde os anos 1960. As lactonas macrocíclicas, como a moxidectina e a ivermectina, têm uma alta eficácia, mas também estão começando a mostrar sinais de resistência (Lyons et al., 1999; Flores et al., 2020).

Com a intenção de determinar a eficiência de um anti-helmíntico, o teste de resistência realizado para analisar as classes medicamentosas disponibilizadas no mercado é o Teste de Redução da Contagem de Ovos nas Fezes (TRCOF). Os valores de OPG devem ser transformados em médias do grupo para que os resultados obtidos sejam mais próximos da distribuição normal. Os valores mínimos de eficácia sugeridos para as seguintes classes de anti-helmíntico é de 95% para lactonas macrocíclicas e 90% para benzimidazóis e pamoato de pirantel (Barbosa et al. 2018).

Mecanismos de resistência

Sob a perspectiva de Rocha (2022), a resistência ocorre pela seleção de parasitas capazes de suportar os efeitos tóxicos dos medicamentos, que, sob a pressão do tratamento, favorecem genes específicos responsáveis por essa resistência. Essa característica é então passada para as gerações seguintes, resultando no aumento das populações de parasitas resistentes.

Conforme Kobayashi et al., (2022), a resistência, sendo de natureza hereditária, manifesta-se quando há um aumento na proporção de indivíduos dentro de uma população capazes de suportar doses de um composto que não seriam suportadas por uma população típica da mesma espécie. Em nível global, o surgimento da resistência a antiparasitários tornou-se uma grave ameaça ao controle das infecções causadas por nematódeos. Esse fenômeno resulta do uso excessivo, além de dosagens inadequadas (seja subdosagem ou superdosagem) sem fundamentação epidemiológica, levando a uma crescente seleção de populações de parasitas resistentes.

PROTOCOLOS DE TRATAMENTO E MANEJO

Dada a resistência crescente, o controle da verminose deve ser adaptado para reduzir a pressão de seleção para parasitas resistentes.

Estratégias incluem: 1- Controle supressivo: Tratamentos a cada 4-8 semanas, mas pode aumentar a resistência (Molento, 2005); 2- Controle seletivo: Trata apenas animais com alta carga de ovos, mantendo a refugia para diluir alelos resistentes (Gomez & Georgi, 1991); 3- Controle estratégico: Baseado na epidemiologia do parasito, realizando tratamentos nas épocas de maior infecção, embora possa reduzir a refugia (Molento, 2005; Leathwick et al., 2019).

De acordo com o estudo de Martins et al. (2022), os principais grupos indicados para:

Oxyuris equi: Ivermectina, moxidectina, benzimidazóis (fembendazol, oxfendazol, oxibendazol) e pirantel. A região perianal e a face interna da base da cauda precisam ser higienizadas de quatro em quatro dias com a utilização de uma toalha de papel descartável para remoção dos ovos.

Parascaris equorum: Benzimidazóis (ex.: fembendazol, oxfendazol, oxibendazol), pirantel, ivermectina e moxidectina apresentaram-se eficientes contra estágios adultos e larvais com administração oral. Contudo, é descrito resistência de Parascaris spp. a moxidectina e a ivermectina. Vermifugação em potros de oito semanas de vida com intervalos adequados entre as aplicações, de acordo com o anti-helmíntico administrado.

Strongylus spp.: Benzimidazóis, pirantel e lactonas macrocíclicas são efetivos. É recomendado o isolamento de novos equinos, que devem ser vermifugados e introduzidos ao rebanho 48 a 72h depois da administração.

Strongyloides westeri: Benzimidazóis e as lactonas macrocíclicas são eficazes.

Trichostrongylus axei: Benzimidazóis (ex.: fembendazol ) e ivermectina. (Mattos, 2023). Acometem o estômago dos equinos. São mais frequentemente afetados quando partilham pastagens com ruminantes (Araújo, 2014).

PROGRAMAS DE MANEJO

Deve- se adicionar um programa de controle parasitário com a menor frequência de tratamentos efetivos, com a finalidade de aperfeiçoar o proveito dos compostos antiparasitários (Molento, 2005).

O conjunto de diferentes estratégias de manejo como controle integrado, rotação de pastagem e pastejo alternado, colabora para reduzir formas infectantes no pasto (Molento, 2005).

O controle integrado recomenda a obtenção de vários métodos de controle parasitário na criação de equinos, favorecendo a redução das infecções parasitárias e a frequência de tratamentos reduzindo as larvas infectantes nas pastagens. Objetivo estratégico visa reduzir o avanço da resistência parasitária (Molento, 2005). O tratamento químico deve ocorrer nas épocas de maior eliminação de ovos e maior abundância de larvas, a rotação de pastagens e pastejo alternado também é sugerido (Carvalho, 2006).

O esquema de vermifugação em equinos depende do sistema de criação, alimentação oferecida e risco de contaminação ambiental. Para animais criados em sistema intensiva, alimentados com ração, feno e suplementação mineral, com redução no risco de contaminação ambiental, a frequência é quadrimestral (de quatro em quatro meses), como forma preventiva (Tateishi et al. 2024).

Para criação semi intensiva, alimentação com ração, capim fresco cortado e suplementação mineral, com risco médio de contaminação ambiental, a frequência é trimestral (de três em três meses), como forma preventiva. Para animais criados de forma extensiva, alimentados com pastagem e suplementação mineral, com o aumento do risco de contaminação ambiental, a vermifugação é bimestral (de dois em dois meses), como forma preventiva (Tateishi et al. 2024).

Vermifugação seletiva com base em exames de OPG (Ovos Por Grama).

Conforme mencionado por Kobayashi et al., (2022), os exames parasitológicos de fezes são de fácil execução e altamente confiáveis, sendo a principal ferramenta utilizada para auxiliar no controle e na aplicação de protocolos eficazes. Para isso, é fundamental que o proprietário esteja ciente da importância da realização desses exames, possibilitando um tratamento adequado, aumentando a eficácia do medicamento e reduzindo a resistência anti-helmíntica, fator que tem comprometido a ação dos princípios ativos.

O método de Gordon & Whitlock modificado determina o OPG, sendo possível analisar e classificar o nível de infecção parasitária dos equinos. Considerando infecção alta quando o valor de OPG for superior a 1000, média entre 500 e 1000 e leve com o valor inferior a 500 (Martins et al., 2022).

ASPECTOS FARMACOCINÉTICOS E FARMACODINÂMICOS

Benzimidazóis

Os benzimidazóis, como o thiabendazole, foram os primeiros anti-helmínticos utilizados em equinos e atuam ligando-se à tubulina, bloqueando a formação de microtúbulos essenciais para a função celular (Lacey & Gill, 1994; Almeida & Ayres, 2011). Embora eficazes, a resistência a esses medicamentos tem sido relatada em várias regiões, incluindo Dinamarca e Brasil (Lyons et al., 1999; Canever et al., 2013).

Lactonas macrocíclicas

As lactonas macrocíclicas, como avermectinas e milbemicinas, atuam como agonistas de canais iônicos seletivos ao cloro, causando paralisia dos parasitas (Almeida & Ayres, 2011). A moxidectina, uma milbemicina, é eficaz contra formas larvais e adultas, mas a resistência já foi observada em algumas espécies (Cirak et al., 2010; Flores et al., 2020).

Tetrahidropirimidinas

O pirantel, um agonista colinérgico, é usado para tratar formas adultas e imaturas de helmintos, atuando no receptor nicotínico (Almeida & Ayres, 2011).

Avanços e Pesquisa Atual

Mudança de Estratégia: A partir da década de 2000, foi sugerido reduzir a frequência de tratamento para minimizar a seleção de parasitas resistentes (Nielsen, 2012).

Desenvolver modelos matemáticos que integrem variabilidade genética dos helmintos e práticas de manejo para prever a dinâmica da resistência e eficácia de estratégias de controle. Realizar estudos longitudinais para observar a evolução da resistência anti-helmíntica ao longo do tempo em diferentes populações de equinos, considerando variações genéticas e práticas de manejo. Essas áreas de pesquisa podem fornecer insights valiosos para o desenvolvimento de estratégias de controle mais eficazes e sustentáveis contra helmintos em equinos. (Leathwick et al., 2019)

CONCLUSÃO

O controle da verminose equina tem se tornado cada vez mais desafiador devido à resistência anti-helmíntica, que tem sido documentada em várias fazendas ao redor do mundo (Flores et al., 2020; Lignon et al., 2021; Martins et al., 2021; Abbas et al., 2021; Nielsen, 2022; Bull et al., 2023).

REFERÊNCIAS

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