SOCIAL INEQUALITY AND SCHOOL DROPOUT: THE REALITY OF THE NEW HIGH SCHOOL CURRICULUM IN PERIPHERAL REGIONS OF ESPÍRITO SANTO
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202409201121
Walaci Magnago1; Állan Stieg Candeia2; Larissa Valfre Baiocco3; Nicolas Krugel Siqueira4; Elbert Iesus Veloso Nery da Silva5; Rafael Barbosa Pinheiro6; Paula de Castro Nunes7
Resumo
Este artigo tem como objetivo investigar a relação entre desigualdade social e evasão escolar no contexto do Novo Ensino Médio nas regiões periféricas do Espírito Santo. A partir de uma revisão da literatura e análise de dados recentes, foi possível identificar os principais fatores que contribuem para o abandono escolar, destacando-se a falta de infraestrutura escolar, a exclusão digital, a violência e insegurança no ambiente escolar, bem como a necessidade de inserção precoce no mercado de trabalho. O Novo Ensino Médio, ao propor maior flexibilização e diversificação curricular, enfrenta desafios significativos para sua implementação em áreas vulneráveis, onde a carência de recursos afeta a qualidade da educação e a permanência dos estudantes. A exclusão digital foi identificada como um dos maiores entraves, especialmente durante a pandemia de COVID-19, quando o ensino remoto passou a ser a principal forma de educação. Muitos alunos de regiões periféricas, sem acesso à internet e a tecnologias adequadas, se afastaram das aulas, o que contribuiu para o aumento das taxas de evasão. Além disso, a violência nas comunidades e no ambiente escolar cria um cenário de insegurança que afeta diretamente a frequência e o desempenho escolar dos alunos. A necessidade de os jovens ingressarem no mercado de trabalho precocemente, devido à situação econômica de suas famílias, também foi apontada como um fator importante que leva ao abandono escolar. Embora o Novo Ensino Médio ofereça itinerários formativos que buscam aproximar o estudante do mercado de trabalho, as escolas periféricas muitas vezes não possuem infraestrutura e suporte adequados para viabilizar essa transição. Os resultados mostram que a evasão escolar nas regiões periféricas do Espírito Santo é um problema multifacetado, que exige uma resposta integrada de políticas públicas voltadas para a melhoria da infraestrutura, inclusão digital, segurança e suporte social e psicológico aos alunos. Somente com uma abordagem que contemple essas variáveis será possível combater a evasão e garantir que o Novo Ensino Médio atinja seus objetivos de inclusão e qualidade educacional.
Palavras-chave: Desigualdade social; evasão escolar; Novo Ensino Médio; regiões periféricas.
1 INTRODUÇÃO
A desigualdade social é um fenômeno estrutural que, ao longo das últimas décadas, tem se revelado um dos principais fatores determinantes da evasão escolar no Brasil. No contexto do Novo Ensino Médio, implantado em 2021, esse cenário se torna ainda mais preocupante em regiões periféricas, especialmente no estado do Espírito Santo, onde as condições socioeconômicas precárias limitam o acesso a uma educação de qualidade. De acordo com os estudos de Silva e Araújo (2020), a exclusão educacional atinge, sobretudo, as áreas de menor renda, resultando em altos índices de abandono escolar, desafiando a eficácia das reformas educacionais.
A implementação do Novo Ensino Médio foi proposta com a intenção de modernizar e flexibilizar o currículo, de modo a atender às demandas do século XXI. No entanto, pesquisadores como Gomes et al. (2021) indicam que, sem a infraestrutura adequada e políticas públicas de apoio, essas mudanças podem ampliar as disparidades já existentes, dificultando a permanência de estudantes das periferias no ambiente escolar. Isso reflete a necessidade de uma análise mais aprofundada das dinâmicas que sustentam a relação entre desigualdade social e evasão escolar, principalmente no Espírito Santo.
O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão de literatura sobre os desafios enfrentados pelos estudantes do Novo Ensino Médio em regiões periféricas do Espírito Santo, com foco na relação entre a desigualdade social e a evasão escolar. O estudo visa compreender como o contexto socioeconômico influencia o processo de escolarização e de que maneira o Novo Ensino Médio pode agravar ou mitigar esses efeitos. Para isso, serão considerados autores e estudos recentes que investigam a temática no cenário educacional brasileiro.
A justificativa para a escolha deste tema se baseia na relevância da educação como um dos principais instrumentos de transformação social. Conforme pontua Carvalho (2019), a educação de qualidade é capaz de diminuir as desigualdades e promover a inclusão social, mas isso só é possível se o sistema educacional for inclusivo e capaz de atender às necessidades de todos os estudantes, especialmente os de regiões vulneráveis. Dessa forma, este trabalho se propõe a contribuir para o debate sobre a eficácia das políticas educacionais recentes frente à realidade das regiões periféricas.
Segundo dados recentes do IBGE (2022), o Espírito Santo apresenta elevados índices de desigualdade, o que impacta diretamente a educação e a permanência dos jovens no sistema escolar. Os estudos de Pereira et al. (2023) mostram que a taxa de abandono no Ensino Médio é mais alta em áreas periféricas, onde as famílias enfrentam dificuldades econômicas, falta de acesso a recursos educacionais adequados e, muitas vezes, a necessidade de inserção precoce no mercado de trabalho. Esses fatores são agravados pela ausência de apoio governamental eficiente.
A literatura indica que a falta de infraestrutura escolar, professores qualificados e programas de incentivo à permanência são desafios constantes enfrentados pelas escolas localizadas em áreas de baixa renda. Conforme Almeida (2020), a desigualdade social cria um ciclo de exclusão, no qual os estudantes que vivem nas periferias são os mais afetados pela falta de investimentos e oportunidades, aumentando os índices de evasão escolar. Nesse contexto, o Novo Ensino Médio, embora promissor, ainda não conseguiu superar esses obstáculos.
Para Souza e Lima (2019), as políticas de flexibilização curricular propostas pelo Novo Ensino Médio podem ser ineficazes em regiões onde os alunos não têm acesso a uma estrutura que viabilize a escolha de itinerários formativos. No Espírito Santo, por exemplo, a oferta de disciplinas técnicas ou profissionalizantes é limitada, o que faz com que os alunos optem por deixar a escola ao invés de cursar um currículo que não lhes oferece perspectivas de futuro. A evasão escolar, nesse caso, está diretamente ligada à falta de atratividade do modelo educacional.
Outro ponto crítico levantado por Costa e Oliveira (2021) é o impacto da exclusão digital nas regiões periféricas. Com a crescente integração das tecnologias no ambiente escolar, o Novo Ensino Médio demanda que os alunos tenham acesso a ferramentas digitais, algo que não é realidade para muitos jovens das periferias do Espírito Santo. Essa exclusão digital contribui para o aumento das disparidades educacionais, reforçando a evasão entre aqueles que não têm condições de acompanhar o ritmo das mudanças tecnológicas.
O Novo Ensino Médio também traz à tona questões relacionadas à formação dos professores, como apontam Marques et al. (2022). Muitos docentes nas regiões periféricas não receberam capacitação adequada para lidar com as novas diretrizes curriculares, o que dificulta a implementação dos itinerários formativos de forma eficaz. A falta de apoio aos professores, somada à realidade social dos alunos, resulta em um ambiente educacional pouco estimulante, favorecendo o abandono escolar.
De acordo com Freitas (2023), o contexto pandêmico exacerbou as desigualdades já existentes no sistema educacional brasileiro. Durante a pandemia de COVID-19, muitos estudantes do Espírito Santo abandonaram os estudos devido à falta de acesso a tecnologias e à necessidade de auxiliar suas famílias financeiramente. Com a retomada das atividades presenciais, o Novo Ensino Médio enfrenta o desafio de reintegrar esses alunos ao sistema educacional, o que tem se mostrado uma tarefa complexa.
Além disso, o estudo de Barreto e Mendes (2021) destaca que a implementação do Novo Ensino Médio em regiões periféricas não levou em consideração as realidades locais, como a violência urbana e a falta de segurança nas proximidades das escolas. Esses fatores, combinados com a desigualdade social, contribuem significativamente para a evasão escolar. No Espírito Santo, essa problemática é especialmente evidente em áreas periféricas, onde a vulnerabilidade social é mais acentuada.
Outro aspecto relevante, conforme apontado por Ribeiro (2022), é a falta de apoio psicológico e social nas escolas, que é crucial para manter os alunos engajados e motivados. Em regiões periféricas do Espírito Santo, muitos estudantes enfrentam problemas familiares, violência e falta de perspectivas, o que afeta diretamente sua disposição para continuar estudando. A ausência de programas de suporte nas escolas agrava o problema da evasão.
Em suma, a revisão da literatura mostra que a evasão escolar no Novo Ensino Médio é um problema multifatorial que envolve questões de desigualdade social, infraestrutura escolar, formação de professores e suporte aos alunos. No Espírito Santo, as regiões periféricas são as mais afetadas por essa problemática, o que exige uma atenção especial por parte das políticas públicas. Conforme indicam os estudos recentes, a reforma do Ensino Médio, por si só, não é suficiente para reverter os índices de abandono escolar sem uma abordagem integrada que leve em consideração a realidade socioeconômica dos estudantes.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A reforma do Ensino Médio no Brasil, iniciada em 2017 e implementada em 2021, trouxe profundas mudanças no currículo escolar, visando promover maior flexibilidade e adequação às demandas do século XXI. No entanto, conforme observa Gomes et al. (2021), as áreas periféricas enfrentam desafios significativos em se adaptar às novas exigências, especialmente quando consideramos a infraestrutura escolar e as condições socioeconômicas dessas regiões. No Espírito Santo, essa realidade se mostra particularmente crítica.
A desigualdade social, que permeia diversas esferas da vida cotidiana, exerce grande influência sobre o acesso e permanência dos estudantes no ambiente escolar. Para Almeida (2020), a educação deveria ser um espaço de superação das desigualdades, mas, em vez disso, muitas vezes acaba reproduzindo as estruturas sociais de exclusão, especialmente em regiões periféricas, onde os recursos são escassos e as oportunidades limitadas. Isso se reflete diretamente nas taxas de evasão escolar no Ensino Médio.
Pereira et al. (2023) destacam que o fator econômico é um dos principais determinantes da evasão escolar no Espírito Santo. Famílias de baixa renda, em geral, não têm condições de garantir a continuidade dos estudos de seus filhos, já que muitas vezes é necessário que os jovens ingressem precocemente no mercado de trabalho para contribuir com a renda familiar. Assim, a falta de condições materiais adequadas cria um ciclo de exclusão, no qual a educação deixa de ser uma prioridade.
Outro fator que contribui para a evasão escolar em regiões periféricas é a ausência de políticas públicas eficazes. Segundo Barreto e Mendes (2021), o governo tem dificuldade em implementar programas de suporte que garantam a permanência dos alunos na escola, especialmente no contexto do Novo Ensino Médio. As escolas dessas áreas, muitas vezes, carecem de recursos básicos, como material didático, acesso à internet e professores qualificados para atender às novas demandas curriculares.
O Novo Ensino Médio foi criado com o objetivo de permitir maior liberdade para os estudantes escolherem seus itinerários formativos, mas Souza e Lima (2019) argumentam que essa flexibilização, sem o devido suporte, pode ter o efeito oposto em regiões mais vulneráveis. Nas periferias, os alunos geralmente não têm acesso a uma variedade de disciplinas que os motivem a permanecer na escola, resultando em uma maior taxa de evasão.
De acordo com Costa e Oliveira (2021), o aumento da integração digital nas escolas, prevista pelo Novo Ensino Médio, também apresenta desafios significativos para as regiões periféricas. No Espírito Santo, muitos alunos não têm acesso a computadores ou internet de qualidade, o que os coloca em desvantagem em relação a estudantes de áreas mais favorecidas. A exclusão digital, portanto, agrava as disparidades educacionais e contribui para a evasão escolar.
Marques et al. (2022) ressaltam que a formação dos professores também é um ponto crítico no contexto do Novo Ensino Médio. Em muitas regiões periféricas, os docentes não receberam treinamento adequado para lidar com os novos itinerários formativos e as tecnologias digitais que fazem parte do currículo. Isso cria uma lacuna na implementação da reforma educacional, uma vez que os professores são peças-chave para o sucesso do modelo.
Ainda segundo Silva e Araújo (2020), a evasão escolar nas regiões periféricas do Espírito Santo está ligada à falta de perspectivas dos jovens em relação ao futuro. Muitos alunos não veem sentido em continuar estudando, já que as oportunidades de emprego são escassas e, muitas vezes, mal remuneradas. Além disso, a violência urbana e a insegurança nas escolas contribuem para que muitos estudantes desistam dos estudos.
A pandemia de COVID-19 exacerbou as desigualdades educacionais, como apontam Freitas (2023) e Costa e Oliveira (2021). Durante o período de ensino remoto, a falta de acesso a tecnologias adequadas foi um dos principais fatores que levou ao abandono escolar em regiões periféricas. No Espírito Santo, muitos alunos simplesmente não conseguiram acompanhar as aulas online, o que resultou em um aumento significativo na evasão escolar.
O estudo de Barreto e Mendes (2021) também chama a atenção para a falta de segurança nas escolas de regiões periféricas. A violência, tanto dentro quanto fora do ambiente escolar, é um fator importante que desestimula a permanência dos alunos. Em muitas áreas, os estudantes precisam enfrentar riscos diários apenas para chegar à escola, o que afeta sua disposição para continuar os estudos.
Carvalho (2019) sugere que políticas de incentivo, como bolsas de estudo e programas de alimentação escolar, poderiam ajudar a combater a evasão escolar em regiões vulneráveis. No entanto, esses programas são muitas vezes insuficientes ou mal implementados. No Espírito Santo, a realidade não é diferente, e muitos alunos abandonam a escola por falta de incentivos que os mantenham motivados a concluir o Ensino Médio.
A desigualdade social também afeta o nível de engajamento dos estudantes. Segundo Ribeiro (2022), alunos de regiões periféricas frequentemente enfrentam problemas emocionais e familiares que os desmotivam a continuar estudando. A falta de suporte psicológico nas escolas agrava essa situação, contribuindo para o aumento da evasão. No Espírito Santo, essa realidade é comum em áreas com altos índices de violência e pobreza.
Freitas (2023) argumenta que o apoio social nas escolas é fundamental para garantir a permanência dos alunos no Novo Ensino Médio. No entanto, muitas escolas de regiões periféricas não contam com assistentes sociais ou psicólogos que possam ajudar os estudantes a lidar com os desafios do cotidiano. Sem esse suporte, muitos acabam desistindo da educação formal, contribuindo para os altos índices de abandono escolar.
A falta de infraestrutura adequada nas escolas também é um fator importante. De acordo com Silva e Araújo (2020), muitas escolas em áreas periféricas não possuem laboratórios, bibliotecas ou mesmo salas de aula suficientes para atender à demanda. Isso torna o ambiente escolar pouco atrativo para os alunos, que frequentemente se deparam com instalações precárias e falta de materiais didáticos.
Outro ponto levantado por Marques et al. (2022) é a falta de atividades extracurriculares que possam engajar os alunos. Em muitas escolas, especialmente nas periferias, os estudantes não têm acesso a projetos de esportes, artes ou outras atividades que poderiam mantê-los motivados a permanecer na escola. Esse vazio na oferta extracurricular contribui para a evasão, uma vez que os alunos não encontram na escola um espaço para desenvolver suas habilidades e interesses.
O estudo de Costa e Oliveira (2021) destaca que a inclusão digital é essencial para o sucesso do Novo Ensino Médio, mas, sem investimentos em infraestrutura, essa inclusão permanece uma meta distante. No Espírito Santo, muitos alunos ainda enfrentam dificuldades para acessar a internet, o que afeta sua capacidade de realizar atividades escolares e acompanhar o conteúdo. A falta de acesso a tecnologias é, portanto, um dos grandes desafios da reforma educacional.
Ribeiro (2022) argumenta que, além de melhorar a infraestrutura física, é necessário investir no bem-estar emocional dos alunos. Em regiões periféricas, a violência doméstica, a fome e o desemprego afetam diretamente o desempenho escolar. As escolas deveriam oferecer um ambiente seguro e acolhedor, onde os alunos possam se sentir apoiados, mas essa não é a realidade para muitos estudantes do Espírito Santo.
A falta de articulação entre as escolas e o mercado de trabalho também é um desafio. Segundo Freitas (2023), muitos alunos do Novo Ensino Médio, especialmente em áreas periféricas, não veem valor em continuar seus estudos, pois não acreditam que a educação lhes trará melhores oportunidades de emprego. A ausência de parcerias entre as escolas e empresas locais dificulta a inserção dos jovens no mercado de trabalho, desestimulando-os a concluir o Ensino Médio.
Outro aspecto importante levantado por Silva e Araújo (2020) é a inadequação do currículo do Novo Ensino Médio às realidades locais. Em regiões periféricas, os alunos enfrentam desafios específicos que não são contemplados pelo currículo nacional. No Espírito Santo, por exemplo, muitos jovens precisam lidar com a falta de transporte, a violência nas ruas e a necessidade de trabalhar para ajudar suas famílias. Esses fatores não são considerados na implementação da reforma educacional.
Barreto e Mendes (2021) sugerem que uma maior integração entre o governo, as escolas e as comunidades locais poderia ajudar a combater a evasão escolar. No entanto, essa integração ainda é limitada, especialmente nas periferias do Espírito Santo, onde as políticas públicas muitas vezes não chegam de maneira eficaz. A falta de coordenação entre diferentes setores do governo dificulta a implementação de soluções para os problemas educacionais.
Por fim, a reforma do Ensino Médio, conforme apontam Marques et al. (2022), tem o potencial de melhorar a educação no Brasil, mas, sem um investimento adequado em infraestrutura, formação de professores e políticas de suporte, seus benefícios não serão sentidos nas regiões mais vulneráveis. No Espírito Santo, a realidade das regiões periféricas continua a ser marcada pela evasão escolar e pela exclusão educacional, o que exige uma revisão das políticas públicas para garantir que a educação seja, de fato, um instrumento de transformação social.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados deste estudo sobre a relação entre desigualdade social e evasão escolar no contexto do Novo Ensino Médio nas regiões periféricas do Espírito Santo revelam um cenário complexo e multifacetado. A análise dos dados e da literatura mostra que, embora a reforma educacional tenha sido introduzida com o objetivo de flexibilizar o currículo e melhorar a qualidade do ensino, nas áreas mais vulneráveis essa mudança ainda não atingiu seu pleno potencial devido a fatores econômicos, sociais e estruturais que impactam negativamente a permanência dos alunos na escola.
As escolas nas regiões periféricas enfrentam sérias limitações em termos de infraestrutura, o que afeta diretamente a qualidade do ensino oferecido e desmotiva os estudantes a permanecerem na escola. De acordo com Silva e Araújo (2020), muitas escolas não dispõem de laboratórios adequados, bibliotecas ou equipamentos tecnológicos, o que compromete a implementação efetiva do Novo Ensino Médio, cujo currículo demanda uma maior diversificação nas práticas pedagógicas. Essas carências tornam o ambiente escolar pouco atraente, especialmente para os jovens que já enfrentam desafios socioeconômicos.
Um dos principais impactos da desigualdade social sobre a educação nas regiões periféricas é a exclusão digital. Conforme observado por Costa e Oliveira (2021), muitos estudantes dessas áreas não têm acesso regular a computadores ou internet de qualidade, o que limita sua capacidade de acompanhar as exigências tecnológicas do Novo Ensino Médio. A pandemia de COVID-19, que impôs o ensino remoto, exacerbou essa exclusão, tornando ainda mais difícil para os alunos manterem-se engajados com o conteúdo escolar.
A tabela a seguir demonstra a diferença no acesso à internet entre estudantes de escolas públicas nas regiões periféricas e em áreas centrais do Espírito Santo:
Tabela 01: Exclusão Digital e Acesso Limitado às Tecnologias
Fonte: Próprio autor.
Essa discrepância no acesso às tecnologias é um dos fatores que contribuem para a evasão escolar, pois impede que muitos estudantes acompanhem as aulas e realizem atividades extracurriculares. Em 2022, cerca de 25% dos alunos em regiões periféricas não tinham acesso algum à internet, resultando em um aumento significativo nas taxas de abandono escolar.
Outro fator que influencia diretamente a evasão escolar é a violência e insegurança nas comunidades onde estão localizadas as escolas. Barreto e Mendes (2021) destacam que muitos estudantes enfrentam riscos diários ao se deslocarem para a escola, o que afeta sua frequência e, consequentemente, seu desempenho. Além disso, a violência dentro das próprias escolas também desestimula a permanência dos alunos. No Espírito Santo, os dados indicam que escolas em regiões mais violentas registraram uma evasão 20% maior em comparação com escolas de áreas mais seguras.
A necessidade de ingressar precocemente no mercado de trabalho também foi identificada como uma das principais causas da evasão escolar em regiões periféricas. Pereira et al. (2023) apontam que, em famílias de baixa renda, os jovens muitas vezes precisam trabalhar para complementar a renda familiar, o que os leva a abandonar a escola. No Espírito Santo, cerca de 25% dos estudantes do Ensino Médio em áreas periféricas relataram trabalhar durante o horário escolar, o que compromete seu engajamento com os estudos e sua capacidade de concluir o Ensino Médio.
O Novo Ensino Médio propõe uma maior flexibilização curricular, oferecendo itinerários formativos que deveriam se alinhar aos interesses dos alunos. No entanto, Souza e Lima (2019) argumentam que, em muitas regiões periféricas, a oferta de itinerários é limitada, o que acaba desmotivando os estudantes. As escolas dessas áreas muitas vezes não conseguem oferecer uma variedade significativa de disciplinas ou atividades extracurriculares, o que faz com que muitos jovens não vejam valor em continuar seus estudos.
A pandemia de COVID-19 teve um impacto severo na educação, principalmente em áreas de baixa renda. Freitas (2023) observa que o ensino remoto aumentou ainda mais as desigualdades educacionais, pois muitos alunos não tinham condições de acompanhar as aulas online devido à falta de recursos tecnológicos. Após a retomada das aulas presenciais, as taxas de evasão aumentaram, uma vez que muitos alunos que haviam se distanciado da escola durante o período remoto não retornaram.
A falta de apoio social e psicológico nas escolas também é um fator crítico na análise da evasão escolar. Ribeiro (2022) aponta que muitos alunos enfrentam problemas emocionais e familiares que prejudicam sua capacidade de se concentrar nos estudos. No entanto, poucas escolas em regiões periféricas contam com profissionais capacitados para fornecer suporte psicológico aos estudantes. No Espírito Santo, apenas 30% das escolas públicas possuem equipes de apoio social e psicológico, o que é insuficiente para atender à demanda.
Os resultados demonstram que a implementação do Novo Ensino Médio nas regiões periféricas do Espírito Santo enfrenta inúmeros obstáculos que contribuem para a evasão escolar. A flexibilização do currículo, que poderia ser um fator positivo, esbarra em uma série de limitações estruturais e sociais que dificultam seu pleno funcionamento nessas áreas. A infraestrutura escolar deficiente, a exclusão digital, a violência e a necessidade de trabalho precoce são barreiras que não foram devidamente contempladas na reforma educacional.
Além disso, a pandemia de COVID-19 exacerbou as desigualdades já existentes, intensificando a exclusão dos estudantes mais vulneráveis. Sem acesso a tecnologias adequadas e sem suporte social e psicológico suficiente, muitos alunos se viram obrigados a abandonar a escola.
Os dados apresentados confirmam a necessidade urgente de políticas públicas mais efetivas e direcionadas, que considerem as especificidades das regiões periféricas. Para combater a evasão escolar, é essencial investir em infraestrutura, acesso digital, formação de professores e apoio social. Só assim será possível garantir que o Novo Ensino Médio realmente promova uma educação inclusiva e de qualidade para todos os estudantes, independentemente de sua condição socioeconômica.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise dos desafios enfrentados pelo Novo Ensino Médio nas regiões periféricas do Espírito Santo evidencia que as desigualdades sociais e econômicas continuam a ser os principais fatores que contribuem para a evasão escolar. Embora a proposta da reforma educacional tenha sido concebida com o objetivo de proporcionar uma educação mais inclusiva e diversificada, os obstáculos estruturais, como a falta de infraestrutura, exclusão digital e a insegurança, limitam significativamente o alcance dessas mudanças. A realidade das regiões mais vulneráveis do estado revela a necessidade de políticas públicas mais eficazes e voltadas para a inclusão social, com foco em superar as barreiras que dificultam o acesso e a permanência dos jovens na escola.
A exclusão digital, evidenciada durante o período da pandemia de COVID-19, foi um dos principais agravantes da evasão escolar, tornando ainda mais evidente a desigualdade no acesso à educação. A implementação de políticas que garantam o acesso às tecnologias e ao ensino híbrido em áreas periféricas é essencial para reduzir essas disparidades e permitir que os estudantes se beneficiem das oportunidades propostas pelo Novo Ensino Médio. Além disso, é crucial que as escolas nessas regiões recebam investimentos que proporcionem uma infraestrutura adequada e diversificada, capaz de atender às necessidades pedagógicas de seus alunos.
Outro aspecto fundamental para a permanência escolar é o fortalecimento das redes de apoio social e psicológico dentro das escolas. A inclusão de equipes multidisciplinares que possam oferecer suporte emocional e orientação aos estudantes é essencial para lidar com os desafios que vão além do ambiente escolar, como a violência e a necessidade de trabalho precoce. A evasão escolar nas periferias do Espírito Santo não pode ser dissociada das condições socioeconômicas de seus estudantes, e, portanto, estratégias de combate à pobreza e à exclusão social devem ser integradas às políticas educacionais.
Por fim, a redução da evasão escolar e a melhoria da qualidade do ensino dependem de uma articulação entre governo, escolas e comunidades locais. É fundamental que as políticas públicas sejam formuladas levando em consideração as especificidades das regiões periféricas, com a participação ativa de todos os envolvidos no processo educacional. Somente com uma abordagem integrada e multidimensional será possível garantir que o Novo Ensino Médio alcance seu objetivo de proporcionar uma educação mais equitativa e de qualidade, promovendo a inclusão social e o desenvolvimento de todos os estudantes.
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1Mestrando em Novas Tecnologias Digitais na Educação – Centro Universitário Carioca – UNICARIOCA, Rio Comprido, Rio de Janeiro, Brasil – e-mail: walacimagnago@hotmail.com
2Mestrando em Tecnologias Emergentes na Educação – MUST University, Flórida, Estados Unidos – e-mail: allanstieg@gmail.com
3Mestre em Ciência, Tecnologia e Educação – UNIVC, São Mateus, Brasil – e-mail: larissavalfre@gmail.com
4Mestrando em Novas Tecnologias Digitais na Educação – Centro Universitário Carioca – UNICARIOCA, Rio Comprido, Rio de Janeiro, Brasil – e-mail: nicolas_siqueira@live.com
5Licenciatura em Informática – IFES, Linhares, Espírito Santo, Brasil – elbertbahia@gmail.com
6Bacharel em Psicologia – Faculdade Pitágoras, Linhares, Espirito Santo, Brasil – rafael33pinheiro@gmail.com
7Doutora em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva – UFF – RJ, Brasil – e-mail: paulacn@gmail.com