QUALIDADE DE VIDA E FATORES ASSOCIADOS EM IDOSAS PARTICIPANTES DE GRUPOS DA TERCEIRA IDADE DA UNICENTRO -PR, 2019

QUALITY OF LIFE AND ASSOCIATED FACTORS IN ELDERLY PARTICIPATING IN SENIOR GROUPS FROM UNICENTRO UNIVERSITY – PR, 2019

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10248281628


Marciane Conti Zornita Bortolanza
Claudio Claudio Shigueki Suzuki
Syndel Souza Stefanes


RESUMO

Este estudo teve por objetivo analisar os indicadores de Qualidade de Vida em mulheres idosas que participam de dois grupos de terceira idade vinculados à Unicentro, segundo as características sociodemográficas, comportamentais e relacionadas à saúde. É um estudo transversal e quantitativo. Realizou-se estatística descritiva das variáveis e, para identificar os fatores associados à Qualidade de Vida foram construídos os modelos de Regressão Linear, em modelos uni e multivariados, que foram estimados por pontos e por intervalos com 95% de confiança. As variáveis para as quais obtiveram valores p<0,25 (Teste de Wald) foram candidatas aos modelos multivariados. Nos modelos multivariados finais, permaneceram as variáveis que apresentarem valores p<0,05. Resultados: Os grupos foram compostos predominantemente por mulheres nas primeiras faixas etárias (59 a 79 anos) que viviam sem companheiro (62,96% UATI e 67,44% UNATI), e que se enquadrava em diferentes tercis de renda e escolaridade, sendo que no grupo Guarapuava predominaram mulheres com altos índices de renda e escolaridade. As idosas participantes do grupo UNATI demonstraram maior satisfação relacionada a qualidade de vida relacionada ao domínio relações sociais (88,18%) e maior insatisfação com o domínio psicológico (84,40%). As uatianas demonstraram maior satisfação com o domínio meio ambiente (87,04%) e menor satisfação com o domínio físico (82,28%). Quanto à auto avaliação da Qualidade de Vida (87,21%) das mulheres do grupo UNATI estão satisfeitas, enquanto do grupo UATI (78,70%) relatam satisfação com sua Qualidade de Vida. Os principais fatores que influenciaram negativamente a Qualidade de vida relatado no grupo Unati estão a pouca facilidade de aprender e memorizar coisas novas, bem como dificuldade de concentração, enquanto a queixa do grupo UATI relata algum tipo de dor ou desconforto.

Palavras Chave: Envelhecimento Populacional,Mulheres, Qualidade de Vida,UATIs.

 ABSTRACT

Analyzing the Quality of Life indicators in elderly women who participate in two senior groups linked to Unicentro University, according to sociodemographic, behavioral and health-related characteristics. Cross-sectional and quantitative study. Descriptive statistics of the variables were performed and, to identify the factors associated with Quality of Life, the Linear Regression models were constructed, in univariate and multivariate were estimated by points and intervals with 95% confidence with p values ​​<0.05 remained. The group were composed of women in the first age groups (59 to 79 years old) who were living without a partner, and who fit different income and education tertiles. The elderly participants in the UNATI group demonstrated greater contentment related to the Quality of Life relating to the social relations domain and greater discontentment with the psychological domain. The Uatianas demonstrated higher contentment with the environmental domain and lower contentment with the physical domain. Regarding self-assessment of Quality of Life  Women in the UNATI group showed greater satisfaction when compared to the other group. The main factors that negatively influenced the Quality of Life reported in the UNATI group are the poor ease of learning and memorizing new things, as well as difficulty concentrating, while the complaint of the UATI group reports some kind of pain or discomfort.

Keywords: Population Aging, Women, Quality of Life, UATIs.

1. INTRODUÇÃO

O século XX foi marcado por profundas transformações da estrutura populacional em diversos países, inclusive o Brasil. Resultados de conquistas sociais e políticas e da incorporação de novas tecnologias, o envelhecimento populacional ocupará posição de grande destaque1.

O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial que tem se manifestado de forma rápida e distinta em diversos países. Este fenômeno desperta grandes desafios para as políticas de saúde públicas e privadas, no sentido de assegurar a continuidade ao processo de desenvolvimento econômico2. “O envelhecimento populacional tem despertado interesse crescente no que se refere às questões ligadas ao bem-estar e à qualidade de vida”3.

A OMS sinaliza que a expectativa de vida das mulheres ultrapassa a dos homens, enquanto a expectativa de vida dos homens, em 2016 era de 72,9 anos, a das mulheres atingiu 79,4 anos4. Isso corrobora a imprescindibilidade de investir em estudos que possam melhor compreender como a longevidade feminina comporta-se. A maior sobrevivência feminina está associada a múltiplos fatores de natureza biológica e social5.

Na contemporaneidade, uma série de grupos que se voltam à convivência de pessoas de terceira idade está sendo formados espontaneamente por moradores de bairros, sindicatos ou até mesmo por iniciativas governamentais6.  Esses grupos surgem com o objetivo de promover atividades de preservação e potencialização das capacidades dessa população. As Universidades Abertas à Terceira Idade (UATIs) brasileiras tiveram interferência de suas similares europeias, que surgiram na França no final da década de 60, sendo nomeadas “universidades do tempo livre”7. As UATIs podem ser consideradas como um apoio e local de fortalecimento de vínculo contínuo entre as participantes.

Este estudo se propõe analisar os indicadores de Qualidade de Vida em mulheres idosas que participam dos grupos da UATI (Irati) e UNATI (Guarapuava) inseridos na Universidade Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO – PR.

MÉTODOS

Através de pesquisa de cunho descritivo, populacional8 e quantitativo9, a amostra final caracterizou-se por 70 mulheres idosas que estavam devidamente matriculadas nos dois Campi, sendo 43 do grupo da UNATI (Guarapuava) e 27 do grupo UATI (Irati), Para inclusão das participantes foram utilizados os seguintes critérios: idosas com 60 anos ou mais de idade, que fossem integrantes do grupo de referência a pelo menos três meses e que aceitaram participar do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Bem como, foram excluídas as que não aceitaram a participação no estudo proposto ou não atendessem aos critérios de inclusão.

ASPECTOS ÉTICOS

A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética e pesquisa da Universidade Estadual do Centro Oeste (UNICENTRO) de acordo com o previsto na resolução 466/2012 do Ministério da Saúde, sob parecer 2.907.

ENTREVISTAS

A coleta de dados foi agendada previamente de acordo com a disponibilidade de datas e horários das participantes e realizada nas sedes da UNATI e UATI, em ambiente previamente designado pelas coordenações do programa. As mulheres foram avaliadas por meio do exame físico (antropometria e Bioimpedância) pelo Roteiro de Avaliação que continham perguntas quanto às características sociodemográficas relaciondas à saúde e comportamentais, pelo Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) – Versão Curta, pelo Questionário Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT), pelo Algoritmo de Sarcopenia proposto pelo European Working Group on Sarcopenia in Older People (EWGSOP) e pelo instrumento WHOQOL-BREF, todos aplicados pela proponente do estudo com treinamento prévio, tendo como finalidade caracterizar os indicadores de Qualidade de Vida nas mulheres do presente estudo. Mediante o resultado buscou-se descrever aspectos sociodemográficos, comportamentais e relacionados à saúde.

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA

Para avaliar esta variável utilizou-se o instrumento WHOQOL – bref, o qual é constituído de 26 perguntas (sendo a pergunta numero 1 e 2 sobre a qualidade de vida geral), as respostas seguem uma escala de Likert (de 1 a 5, quanto maior a pontuação melhor a qualidade de vida). Os escores de cada Domínio são calculados por meio da soma dos escores da média das questões que compõem cada Domínio, e um escore “total” do respondente. Os Domínios avaliados no instrumento compreendem: Domínio Físico, Domínio Psicológico, Domínio das Relações Sociais, Domínio do Meio Ambiente, e o Domínio Relacionado à Qualidade de Vida Geral. Posterior a isso os Domínios foram convertidos para uma escala de 0 a 10010. A transformação dessa escala indica que 0 é considerado pior a Qualidade de Vida e 100 a melhor11.

ANÁLISE ESTATÍSTICA

O banco de dados foi transformado mediante o Software Stat Transfer, e analisado através do Software STATA 11.0 (StataCorp., CollegeStation, Estados Unidos). Realizou-se estatística descritiva das variáveis e, para identificar os fatores associados à Q.V foram construídos modelos de regressão L, em modelos uni e multivariados que foram estimados por pontos e intervalos de com 95% de confiança. As variáveis para as quais obtiveram valores p<0,25 (Teste de Wald) foram candidatas aos modelos multivariados. Nos modelos multivariados finais, permaneceram as variáveis que apresentaram valores p<0,05.

RESULTADOS

As características sociodemográficas das participantes, estratificadas por grupo de referência, são apresentadas na Tabela 1. O grupo estudado é composto por 70 idosos com idade entre 60 e 89 anos de idade.

O grupo UNATI apresenta maior porcentagem de participantes com idade entre 60 e 69 anos (46,51%) sendo que o grupo UATI apresenta maior número de participantes com faixa etária entre 70 e 79 anos (44,44%).

No que diz respeito ao tempo de participação junto aos grupos de referência, as pessoas estudadas apresentaram características distintas, uma vez que 41,86% das integrantes da UNATI participavam deste grupo por tempo igual ou menor que três anos, enquanto que 44,44% das Uatianas participavam a mais de 10 anos.

A renda individual das participantes chama atenção pela disparidade entre os grupos, sendo que o grupo UNATI (74,41%) apresentou renda igual ou superior a 2.500,00/mensal e no grupo UATI (48,15%) das mulheres apresentam renda inferior a 2.500,00/mensal. Tal divergência pode estar relacionada ao fato da alta prevalência da escolaridade encontrada entre os grupos. Ambos os grupos apresentam em maior representatividade, nenhum dependente de sua renda individual sendo 90,70% correspondente ao grupo UNATI e 92,31% ao grupo UATI.

Tabela 1. Características sociodemográficas da população do estudo classificadas de acordo com os respectivos grupos: Campus Guarapuava e Irati –PR. UNICENTRO, 2018.

Quanto às características relacionadas à saúde dos indivíduos o estudo demonstra segundo os resultados obtidos através dos questionários que as participantes apresentam estado nutricional exacerbado, sendo consideradas com sobrepeso e obesidade, as características são semelhantes em ambos os grupos, totalizando (74,42) da UNATI e (74,07%) das participantes da UATI. Quanto a variável Sarcopenia, houve uma prevalência de 41,86% e 33,03 nos grupos UNATI e UATI respectivamente, bem como se evidenciou Sarcopenia severa em 9,30 no grupo UNATI e 18,52 na UATI, totalizando em 51,16% de participantes sarcopênicas no grupo UNATI e 51,55% no grupo UATI.

No que tange as características comportamentais da amostra, avaliou-se a variável em relação ao hábito de fumar, destaca-se que 96,30% do grupo UATI e 72,09% do grupo UNATI nunca fumaram e que apenas duas mulheres, equivalente a 4,65% do total de participantes da UNATI que fumam ou são ex-fumantes excedem ou excederam a 20 cigarros/dia.  Sobre o hábito de beber todos os participantes declaram não apresentar dependência de álcool.

Quanto a variável prática de atividade física a prevalência na condição insuficientemente ativa é maior em ambos os grupos 55,81% do grupo UNATI e 74,07% do grupo UATI.

INDICADORES DE QUALIDADE DE VIDA (WHOQOL – BREF)

Os resultados obtidos com o WHOQOL-bref indicam que as participantes do grupo UNATI demonstraram maior satisfação com o domínio Relações Sociais (88,18%) e menos satisfeitas com o domínio Psicológico (84,40%). As principais facetas que contribuem para as satisfações no Domínio Relações Sociais correspondem ao suporte e apoio pessoal prestado pelos colegas, amigos e familiares (92,59%) e para o domínio Psicológico a principal queixa e insatisfação está relacionada a pouca facilidade de aprender, memorizar coisas novas, assim como a dificuldade de concentração (66,86%). Quanto à auto avaliação da qualidade de vida em geral, 87,21% estão satisfeitas.

Figura 1. Resultado dos Domínios analisados pelo WHOQOL-bref, 2018, UNATI.

A Figura 2 apresenta os resultados analisados segundo o WHOQOL – bref no grupo UATI. Estes domínios demonstraram relativamente que a maior satisfação das participantes deste grupo, está nas relações acerca do ambiente (87,04%) e a menor o domínio físico (82,28%). As facetas que nos reportam a prevalência de satisfação ao Domínio Ambiente diz respeito ao ambiente físico que frequentam (95,37%) essa evidência nos mostra a importância da convivência em grupo e da socialização na terceira idade. Em relação ao Domínio físico, (26,85%) relataram dor ou desconforto. A auto avaliação da qualidade de vida se mostra inferior quando comparada ao outro grupo participante (78,70%).

Figura 2. Resultado dos Domínios analisados pelo WHOQOL-bref, 2018, UATI.

          FATORES ASSOCIADOS À QUALIDADE DE VIDA

          Diferentes conjuntos de variáveis permaneceram associados à qualidade de vida nos modelos finais (Tabela 4), considerando as categorias, Domínio físico (1), Psicológico (2), Relações sociais (3), Meio ambiente (4) e auto avaliação da Q.V (5).

Tabela 2. Razões dos coeficientes Bruto e Ajustado com intervalo de confiança (95%), segundo os domínios do WHOQOL – Bref. Modelo final – UNATI, UNICENTRO,2018.

DISCUSSÃO

Esta pesquisa foi desenvolvida com idosas participantes de dois grupos da Universidade Aberta à Terceira Idade da UNICENTRO nos Municípios de Guarapuava e Irati – PR, no qual se buscou avaliar, por meio do questionário WHOQOL-Bref, a Qualidade de Vida e sua relação com os fatores sociodemográficos, relacionados à saúde e comportamentais das participantes.

Os fatores relacionados à qualidade de vida dos idosos participantes da pesquisa foram calculados separadamente para cada grupo. Fatores relacionados às variáveis sociodemográficas, relacionadas à saúde e comportamentais foram avaliados e comparados separadamente semelhante ao encontrado no trabalho de Vitorino et al12 que é uma investigação que utilizou dados secundários, a partir de dois estudos epidemiológicos transversais. A amostra foi de 288 idosos da comunidade e 76 institucionalizados a partir de estudos epidemiológicos transversais, desenvolvidos no município de Porto Alegre, RS, em 2004, e em Pouso Alegre e Santa Rita do Sapucaí, MG, em 2010.

O perfil encontrado é uma realidade comumente encontrada nos grupos de UNATIs, onde os participantes que mais frequentam são do sexo feminino. Lana e colaboradores13 ao avaliarem o perfil sociodemográfico de uma UNATI  no estado de Minas Gerais, também apontaram maior participação de mulheres no grupo, o que se evidencia em grande parte da literatura, sendo este fato relacionado a maior sobrevida e o maior cuidado e atenção com a saúde, quando comparadas aos homens. Inouye et al14, desenvolveram um estudo em uma  (UATI) o qual contou com a participação de 54 idosos todos os participantes residiam em uma cidade de porte médio localizada no interior do estado de São Paulo. Estes idosos foram divididos em dois grupos – o grupo observado formado por idosos que frequentam a UATI e outro com idosos da comunidade. O grupo participante desse estudo muito se assemelhava, em características sociodemográficas com o grupo UNATI, descrito no presente estudo. A faixa etária da maioria dos participantes estar entre 60 e 69 anos, a maior escolaridade e renda. Em geral pode-se relacionar o maior nível de instrução acadêmica e renda com acesso a maiores opções de laser e consequentemente tornar melhor a sua QV quando comparado à grupos que não tem acesso aos mesmos recursos.

O trabalho de Stival et al15, apresenta a característica de que o grupo com maior escolaridade (ensino superior), renda superior a quatro salários e que  não moram sozinhos apresentaram maiores escores de QV. Esse trabalho corresponde a uma pesquisa de abordagem quantitativa do tipo descritiva com delineamento transversal, realizada com 277 idosos, por meio de entrevista em Ceilândia-DF. Resultados semelhantes foram observados no presente estudo, ainda que os índices de QV sejam próximos, o grupo UNATI que possui essas características tem um índice levemente superior.

O envelhecimento trás consigo algumas peculiaridades, como modificação da composição corporal, alterações metabólicas que podem modificar negativamente o estado nutricional16.

Os achados do presente estudo apontam o sobrepeso como fator predominante nos dois grupos, o que corrobora com um estudo observacional e descritivo realizado em um Centro de atividades para idosos (CATI) em Colombo/PR que apresenta 57,1% dos seus entrevistados com sobrepeso. Os níveis de sobrepeso neste, estão relacionados ao baixo consumo de fontes alimentares proteicas, bem como baixa ingesta hídrica17.

A prevalência de sarcopenia exposto no presente estudo foi de 41,86% no grupo UNATI e 33,03% na UATI. Todavia, nas primeiras proposições apontadas por Baumgartner18, a prevalência pode variar de 13 a 24% na população até 70 anos, e que essa probabilidade pode chegar a 50% em pessoas com mais de 80 anos. A definição proposta em 2010 por Cruz-Jentoft e colaboradores19, compõe um grupo para definição e critérios de sarcopenia em pessoas idosas (EWGSOP). Eles apresentam uma definição clínica e prática dos critérios diagnósticos consensuais a respeito da sarcopenia, relacionada à idade e a definiram através de três componentes:
(1) índice de massa muscular esquelética baixo; (2) força muscular diminuída, e (3) baixo desempenho físico. Sendo  diagnóstico sarcopênico confirmado em indivíduos com pelo menos 2 dos 3 critérios, considerando o baixo índice de massa muscular um dos critérios indispensáveis. Essas características definem os estágios conceituais como “pré –sarcopenia”, “sarcopenia” e “sarcopenia grave” da população (8,90 kg/m² para homens e 6,37 kg/m² para mulheres) e encontraram  prevalência de sarcopenia em 16,1% das mulheres e de 14,4% nos homens. Os valores evidenciados no presente estudo se sobressaem quando comparados a outros relatos encontrados na literatura para esta mesma população. Como no estudo transversal de base populacional descrito por Alexandre et al20, que se propôs a estudar 1.168 idosos residentes na comunidade residentes no município de São Paulo pertencentes a terceira onda do estudo SABE (Saúde, Bem estar e Envelhecimento) em 2010. A média etária da população foi de 69,8, foi avaliada massa muscular, força muscular, atividade física pelos critérios do IPAQ o qual evidencia apenas 4,8% da população como sarcopênica.

A sarcopenia não compreende apenas fatores metabólicos e patológicos, mas é uma síndrome de múltiplas facetas que engloba condições sociodemográficas, comportamentais, econômicas e sócias21.

Em termos gerais os idosos entrevistados não possuíam vícios recorrentes de tabaco e álcool. Garbaccio et al22, a qualidade de vida de 182 idosos residentes da zona rural em 4 municípios da região centro oeste de Minas Gerais, o qual constatou que não receber ajuda financeira, morar acompanhado e não fumar associa-se a uma melhor qualidade de vida. O que reforça os achados neste estudo que a renda conjunta diminui a qualidade de vida e a renda individual é um fator de melhora, as idosas que vivem com companheiro (%) tem melhorar Q.V e 72,09% das participantes do grupo Unati, 96,30 do grupo UATI não apresentam dependência ao fumo.

A variável atividade física (insuficientemente ativos UNATI, 44,19% e UATI, 25,93%) pode se correlacionar a um estudo realizado em Palmas/PR, o qual analisou uma mostra de 497 idosos (358 residentes no meio urbano e 139 no meio rural), onde 51,7% dos idosos residentes no meio urbano são classificados como insuficientemente ativos ou sedentários23. Buscaram-se correlações em estudos que utilizaram o mesmo critério de avaliação que o estudo presente (IPAQ). Porém a grande maioria dos estudos encontrados diverge dos dados encontrados. Oliveira e colaboradores24 encontraram 88,9% da amostra avaliada como ativos.

Sabendo que é comum ocorrer diminuição de níveis de atividade física nessa faixa etária25. Diante desse fato evidente, as UATIs devem estimular a prática de atividade física, visto que um estilo de vida ativo tem tendência a proporcionar melhor qualidade de vida ao indivíduo26.

Além dos fatores individuais e heterogêneos característicos dos grupos, a participação dos idosos em um grupo de atividades permite melhor convivência e aumenta os índices de satisfação pessoal, tendo como efeito positivo a atividade física e a relação social15. As características levantadas pelas entrevistas evidenciam a correspondência das relações comportamentais com a satisfação dos entrevistados.

INDICADORES DE QUALIDADE DE VIDA (WHOQOL – BREF)

O WHOQOL- bref classifica-se como um instrumento de propriedades psicométricas satisfatória na investigação da qualidade de vida dos idosos brasileiros.

No presente estudo 48,84% das mulheres da UNATI e 62,96 das participantes do grupo UATI avaliaram seu estado de saúde como boa. Considerando que apenas 4,65% e 14,81% respectivamente dizem ter 3 ou mais patologias, para as quais fazem uso de medicamentos. Esse resultado, porém contradiz com o estudo desenvolvido por Vagetti e colaboradores27 que ao analisar um grupo de 450 idosas de Curitiba, PR demonstraram uma elevada prevalência (82,9%) das entrevistadas tinham uma percepção de saúde negativa. Tal fato pode ter sido evidenciado pelo fato das idosas terem uma condição socioeconômica precária e de baixa escolaridade.

No estudo supracitado também chama atenção que os domínios físico e meio ambiente tiveram associação de maior magnitude em percepção negativa, o que demonstra inversão no presente estudo quanto ao grupo UATI, o qual remete o domínio meio ambiente o mais elevado, sendo que este está diretamente interligado com a segurança física e a proteção, o ambiente do lar, os recursos financeiros, os cuidados de saúde e sociais, oportunidades de adquirir novas informações e habilidades e participação em recreação e lazer28.

A participação social mensura a satisfação com a participação em atividades rotineiras, e em comunidade29. Observa-se que idosos que apresentam escores inferiores de QV apresentaram menor autoestima. O envolvimento em atividades no meio social pode oferecer benefícios em aspectos físicos, cognitivos, funcionais e na própria longevidade30.  Observando os escores apresentados e as características dos grupos entrevistados, reforça-se o indício de que a participação nos grupos aumenta a QV, uma vez que os índices apresentados no presente estudo são altos e sua participação no grupo é contínua.

Considera-se que as redes de apoio social, como os grupos de convivência são muito importantes na velhice, corroborando com o estudo de Schoffen e Santos31 que analisaram um grupo de 15 idosos com 60 anos ou mais que participavam do programa Melhor Idade desenvolvido em uma instituição privada localizada em um município de Goiás (GO) e observaram que ter um grupo de referência, onde possam ser compartilhados sentimentos, conhecimentos, entre outros proporciona suporte emocional e motivação para traçarem objetivos de vida e poder realiza-los.

O trabalho do grupo promove autonomia e independência ao participante, nos grupo ocorrem ações pedagógicas e ao mesmo tempo terapêuticas, favorecendo a promoção de saúde.

Segundo Reppold, Serafini e Menda32 a Q.V inclui indicadores sociais a aspectos palpáveis da vida, envolvendo aspectos objetivos e subjetivos.

Nossos dados sugerem que grande parte dos idosos busca o grupo principalmente com o intuito de socializar. A importância do lazer para o idoso existe em virtude do aumento do tempo livre, pois é por meio deste que encontram motivação e satisfação em viver mais e com qualidade.  

Por meio dos encontros os idosos resgatam a autoestima, a capacidade de enfrentar problemas e veem a velhice com mais sentido, fazendo-os viver com mais intensidade. O vínculo criado é ingrediente fundamental na relação das idosas que frequentam o mesmo grupo. Dessa forma o grupo de convivência representa lugar de humanização e entendimento, uma vez que envelhecer faz parte do ciclo da vida. O ser humano não somente necessita envelhecer da maneira saudável, como também com segurança, sentindo-se ativo e fazendo parte do convívio social, são esses fatores que irão garantir qualidade de vida e uma velhice bem sucedida.

CONCLUSÃO

O perfil sociodemográfico das participantes aponta predominância de faixa etária entre 60 – 69 anos no grupo UNATI (46,51%) e 70 – 79 anos no grupo UATI (44,44%).

Os grupos se diferem entre si em relação ao nível socioeconômico e tempo de estudo.

Nas variáveis relacionadas à saúde destacaram-se taxas de sobrepeso e obesidade nos grupos UNATI e UATI (74,42%) e (74,07%) respectivamente.

Ambos os grupos apresentaram elevada prevalência de sarcopenia (51,55%) na UNATI (51,16%) e nas Uatianas apresenta essa condição.

Os resultados permitem verificar que as variáveis que tiveram maior associação ao desfecho Q.V foram as sociodemográficas e relacionadas à saúde e a que menos apresentou correlação foram as comportamentais.

Quanto às características comportamentais da população, apontam baixa prevalência de fumantes e ausência de dependentes de álcool. Em relação à prática de atividade física verificou-se que apenas 44,16% das participantes do grupo UNATI e 25,93% das do grupo UATI se enquadram na categoria suficientemente ativas.

Os principais fatores que influenciaram negativamente a Q.V relatado no grupo UNATI estão a pouca facilidade de aprender e memorizar coisas novas, bem como a dificuldade de concentração, enquanto a queixa do grupo UATI relata algum tipo de dor ou desconforto.

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