EVASÃO ESCOLAR APÓS A PANDEMIA DE COVID-19

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10248241144


Alessandra Cristina Carvalho de Oliveira
Marineusa Soares Goulart
Susan Krapp da Silva Possamai 
Ubiratan de Souza Lima


RESUMO

A evasão escolar sempre foi um problema para a educação pública brasileira. Além de ser um enorme prejuízo no aprendizado do aluno faltoso, por conta da grande quantidade de faltas, torna-se difícil que este aluno acompanhe o rendimento dos demais estudantes. A Pandemia de Covid-19 agravou esta situação, já que muitos estudantes não retornaram as aulas presenciais. Diante desta situação, percebe-se que o prejuízo se estende também à escola, ao professor e ao planejamento das aulas. Neste contexto, é preciso voltar o olhar de forma crítica-reflexiva, compreendendo que para enfrentar os desafios da educação, o educador terá que transcender o embate teoria-prática que permeia seu cotidiano. Assim, considera-se que diante das mudanças no mundo contemporâneo, torna-se cada vez mais complexa a tarefa de responder aos desafios de uma sociedade globalizada, com foco na informação e tecnologia. O objetivo principal desta pesquisa é discutir a evasão escolar após a Pandemia de Covid-19. Foi realiza uma pesquisa bibliográfica, qualitativa e descritiva em que foram utilizadas as bases Scielo, Portal de Periódicos CAPES e Google Academics para a investigação.  O período dos artigos pesquisados serão os trabalhos publicados nos últimos “10” anos.   As palavras-chave utilizadas na busca foram: “COVID-19”, “Pandemia de COVID”, “evasão escolar”, e “políticas educacionais”. A Pandemia acentuou a evasão escolar e o percurso da educação emergencial à distância, como produto da sistematização educacional abraça o contexto dos alunos vinculados à sua situação econômica, social e emocional em uma situação de pandemia global. A formação de professores relacionada ao uso significativo de ferramentas tecnológicas em seus encontros síncronos permitirá que eles disponibilizem recursos para gerenciar suas aulas, projetar suas atividades de aprendizagem e trabalhar de forma colaborativa com outros professores, conseguindo reduzir o ônus da transição para o não presencial, da educação presencial, manifestada por meio de princípios da pandemia do Covid-19 e identificando quais são as estratégias que mais favorecem o aprendizado dos alunos.

Palavras-chave: Evasão Escolar. Pandemia. COVID-19. Evasão escolar. 

ABSTRACT

School dropout has always been a problem for Brazilian public education. In addition to being a huge loss to the learning of the absent student, due to the large number of absences, it becomes difficult for this student to keep up with the performance of other students. The Covid-19 Pandemic worsened this situation, as many students did not return to face-to-face classes. Given this situation, it is clear that the damage also extends to the school, the teacher and lesson planning. In this context, it is necessary to look again in a critical-reflexive way, understanding that to face the challenges of education, the educator will have to transcend the theory-practice clash that permeates their daily lives. Thus, it is considered that in the face of changes in the contemporary world, the task of responding to the challenges of a globalized society, with a focus on information and technology, becomes increasingly complex. The main objective of this research is to discuss school dropout rates after the Covid-19 Pandemic. A bibliographic, qualitative and descriptive research was carried out in which the Scielo, CAPES Periodical Portal and Google Academics databases were used for the investigation.

The period of articles researched will be works published in the last “10” years. The keywords used in the search were: “COVID-19”, “COVID Pandemic”, “school dropout”, “school dropout”, and “educational policies”. The Pandemic has accentuated school dropouts and the path of emergency distance education as a product of educational systematization integrates the context of students linked to their economic, social and emotional situation in a global pandemic situation. Teacher training related to the meaningful use of technological tools in their synchronous meetings will allow them to provide resources to manage their classes, design their learning activities and work collaboratively with other teachers, managing to reduce the burden of the transition to non-face-to-face teaching. face-to-face education manifested through the principles of the Covid-19 pandemic and identifying which strategies most favor student learning.

Keywords: School Dropout. Pandemic. COVID-19. School dropout.

1 INTRODUÇÃO

A evasão escolar sempre foi um problema para a educação pública brasileira. Além de ser um enorme prejuízo no aprendizado do aluno faltoso, por conta da grande quantidade de faltas, torna-se difícil que este aluno acompanhe o rendimento dos demais estudantes. Diante desta situação, percebe-se que o prejuízo se estende também à escola, ao professor e ao planejamento das aulas.  A evasão escolar está circundada por motivos diversos, que envolvem tudo que o tangencia o aluno, ou seja, escola, professores, comunidade escolar, entre outros possíveis fatores que possam estar acoplados a este tema.  

De acordo com a legislação brasileira (BRASIL, 1996), a responsabilidade sobre o percurso socioeducacional da criança é da família e do Estado, sendo destas entidades o dever de orientar a criança para tal e que a educação básica é gratuita e obrigatória para crianças a partir dos 4 anos, porém nos deparamos com uma grande quantidade de crianças que deixam de frequentar a escola. Frente a este panorama contextual, eis que se espera que esta discussão possa contribuir para a reflexão sobre esta demanda, diminuindo, consecutivamente, a evasão escolar no bojo das práticas dos possíveis leitores e, assim, fazer valer o que diz a Constituição Federal Brasileira, no seu artigo 205, que de fato a “educação seja um direito de todos” (BRASIL, 1988).

Na busca por melhorar a qualidade da aprendizagem de crianças e jovens, nos últimos anos os Estados fizeram múltiplas iniciativas: projetar ou renovar os currículos, prover escolas com melhor infraestrutura e recursos didáticos, avaliar o desempenho das escolas. Os professores, influenciam a formação inicial de professores, aprimoram ou universalizam os chamados sistemas de mensuração da qualidade da educação, geram condições para a formação continuada de educadores e oferecem processos de especialização de educadores. 

A rápida e alarmante disseminação de COVID 19 causou um impacto sem precedentes no desenvolvimento populacional multidimensional em todas as nações, trazendo grandes impactos para a educação. Neste contexto, é preciso voltar o olhar de forma crítica-reflexiva, compreendendo que para enfrentar os desafios da educação, o educador terá que transcender o embate teoria-prática que permeia seu cotidiano. Assim, considera-se que diante das mudanças no mundo contemporâneo, torna-se cada vez mais complexa a tarefa de responder aos desafios de uma sociedade globalizada, com foco na informação e tecnologia.

De acordo com o princípio da equidade e particularmente em tempos em que a pandemia obrigou a implementação de aulas remotas, é imperativo que sejam dedicados tempo e recursos em uma proporção muito maior aos alunos que mais precisam: aqueles que se encontram em condições de maior vulnerabilidade , os que têm menos recursos de apoio em casa, os que têm menos autonomia / autorregulação na aprendizagem e/ou requerem maior contenção emocional, o mesmo no caso dos alunos que apresentam alguma deficiência ou maiores dificuldades de aprendizagem. Neste sentido, o objetivo principal desta pesquisa é discutir a evasão escolar após a Pandemia de Covid-19. Para esta finalidade, os objetivos específicos são: 1) discutir os impactos da Pandemia de COVID-19 na educação; 2) analisar o combate a evasão escolar; 3) construir orientações pedagógicas para combater à evasão escolar.

Desta forma, apontamos a relevância desta pesquisa a partir das modificações na organização do Trabalho Docente no Ensino Remoto devido a Pandemia, no conteúdo e na extensão da jornada de trabalho, têm significado um grande esforço intelectual, emocional e físico para os Trabalhadores da Educação. O tempo gasto trabalhando na frente da tela requer mais tempo dedicado ao processo de planejamento anterior. Além disso é de grande importância salientar que tecnologia e conectividade são dois obstáculos para uma porcentagem muito importante de professores e alunos, e exigiam um esforço financeiro adicional para trabalhadores da educação e famílias. A presença do Estado é fundamental para garantir a continuidade universal da tarefa pedagógica neste contexto de excepcionalidade e assim avançar para um novo piso tecnológico, conectividade e formação docente.

Foi realiza uma pesquisa bibliográfica, qualitativa e descritiva. O seguinte trabalho se classifica como uma revisão de literatura definida por Gil (2008) como aquela que utiliza textos (ou outro material intelectual impresso ou gravado) como fontes primárias para obter seus dados. Não é apenas uma coleção de dados contida em livros, mas, ao contrário, concentra-se na reflexão inovadora e crítica de certos textos e dos conceitos levantados neles, no qual foi realizada uma consulta a livros, dissertações e por artigos científicos selecionados através de busca nas seguintes bases de dados (livros, sites de banco de dados, etc….). Neste trabalho foram utilizadas as bases Scielo, Portal de Periódicos CAPES e Google Academics para a investigação.  O período dos artigos pesquisados serão os trabalhos publicados nos últimos “10” anos.   As palavras-chave utilizadas na busca foram: “COVID-19”, “Pandemia de COVID”, “evasão escolar” e “políticas educacionais”.

2 EVASÃO ESCOLAR E PANDEMIA DE COVID-19

No início do ano de 2020, a OMS (Organização Mundial de Saúde) decretou como pandemia a doença causada pelo vírus SARS-CoV-2, que ficou conhecida como a doença do coronavírus (Covid-19). Em decorrência disto, as escolas pararam suas atividades sem nenhum planejamento prévio, sendo necessário modificar o formato de ensino presencial, para o ensino remoto, o qual é feito de forma distante, onde o aluno não tinha contato com o professor, apenas através de apostilas, vídeo aulas ou até mesmo, aulas via celular e computador. Assim, neste capitulo foi realizada uma pesquisa sobre o impacto da pandemia de COVID-19 na educação, sobre o problema de evasão escolar e ações para evitá-lo.

2.1 Impactos da Pandemia de COVID-19 na educação

O Ministério da Educação emitiu um Parecer CNE/CP nº 5/2020, aprovado em 28 de abril de 2020, que delimitava a “Reorganização do Calendário Escolar e da possibilidade de cômputo de atividades não presenciais para fins de cumprimento da carga horária mínima anual, em razão da Pandemia da COVID-19.” (PEREIRA, at. al, 2020, p. 27). O Parecer exposto trazia algumas orientações às instituições de ensino sobre o ensino remoto, até mesmo, sobre os métodos de avaliação não presencial. No ano de 2021, foi desenvolvida uma vacina que prometia amenizar a proliferação do vírus, sendo assim, aos poucos, tudo foi voltando ao normal e as pessoas voltaram a circular, porém, sem muito contato. As aulas então, passaram a ser de forma híbrida, onde os alunos em dias específicos iam para a escola, de forma presencial e em outros dias, tinham aulas remotas.

Somente no ano de 2022, as aulas voltaram de forma totalmente presencial, ainda com alguns cuidados contra o vírus. Logo, as consequências do ensino remoto foram aparecendo, então, me surgiu a curiosidade epistemológica de saber como os professores estariam enfrentando essa volta as aulas? Quais as dificuldades por eles enfrentadas? A forma como eles apresentam os conteúdos foram mudadas? Esses e outros questionamentos me encaminharam para a realização desta pesquisa. 

A educação deve oferecer oportunidades significativas para que todos possam desenvolver a aprendizagem para uma formação integral, o que implica reconhecer e gerir a diversidade, parte inerente e constitutiva de qualquer grupo que aprende, pois é uma característica de toda a humanidade. Os estudantes têm realidades diferentes: vêm e se desenvolvem em contextos familiares diferentes, têm interesses e motivações diferentes, alcançaram o desenvolvimento de habilidades diferentes, mostram necessidade de aprender etc. Para avançar em uma educação de qualidade, deve-se reforçar a convicção de que todos podem e devem alcançar o melhor aprendizado possível e, assim, ter acesso ao pleno desenvolvimento.

A rápida e alarmante disseminação de COVID 19 causou um impacto sem precedentes no desenvolvimento populacional multidimensional em todas as nações. No discurso de abertura do Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) na coletiva de imprensa sobre o COVID-19 em 11 de março de 2020, foi notado que o vírus estava se espalhando de pessoa para pessoa em todas as partes do mundo, sendo considerada e declarada como uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2020).

Isso resultou em governos se manifestando a favor da adoção e implementação de medidas emergenciais de saúde, confinamento e isolamento social para prevenir a propagação do vírus por proposta dos órgãos globais e ministeriais de saúde dos diferentes países.

Os efeitos adversos que a pandemia trouxe foram devastadores em diversas áreas da vida humana, desde o campo da saúde física e mental até o econômico, cultural e social, segundo dados de organizações como a OMS (2020), a Organização Pan-Americana da Saúde

(OPAS, 2020), Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL, 2020) e Visão Mundial Internacional (2020).

À medida que a pandemia COVID-19 assolou o mundo, atender às necessidades educacionais de crianças e jovens durante esta crise de saúde global torna-se essencial. É justamente nesse nível que os governos adotaram medidas para suspender as atividades em sala de aula, atendendo às recomendações do setor saúde, a fim de prevenir a propagação e disseminação do vírus. Deve-se notar que, de acordo com os números da UNESCO (2020a), cerca de 1,2 bilhão de estudantes em todo o mundo foram afetados pelo fechamento de escolas e universidades devido ao surto COVID-19.

O inesperado colapso das atividades regulares em sala de aula trouxe como única alternativa de solução imediata a implantação do ensino remoto para dar continuidade ao processo ensino-aprendizagem. Isto tem implicado a adaptação de abordagens orientadas para a utilização das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC). Sem dúvida, foi um esforço institucional e humano que participou desse processo abrupto de mudança de uma modalidade de sala de aula para outra caracterizada pela não presença do ato docente.

Porém, surgem questionamentos desde a perspectiva do professor sobre a preparação e conhecimentos prévios na utilização de recursos e ferramentas digitais para o desenvolvimento de uma aula não presencial, mas também vale a pena questionar como está a ser desenvolvida a atividade de ensino-aprendizagem na modalidade não presencial. Para tratar desse tema, que se julga importante para educação, buscamos diálogo com autores que percebemos que têm proximidade com o tema. Mas, como diálogo, também iremos marcar nossas divergências, sobretudo em relação as potencialidades das novas tecnologias, que podem estar sendo também supervalorizadas, seja pela ânsia de soluções rápidas ou pelo encantamento pelos recursos das tecnologias, que são sem dúvida meios importantes, mas que precisam ter na formação humana o seu fim.

Analisando a inserção inicial das tecnologias de informação e comunicação na educação, podemos considerar que tiveram como objetivo principal informatizar as atividades administrativas, com a intenção de agilizar o controle e a gestão técnica. Posteriormente, as TIC começaram a ser inseridas no ensino e na aprendizagem como atividades extras, sem uma real associação às atividades de sala de aula. Com certa frequência, como aulas na sala da TV escola, como aula de informática, músicas ou, numa perspectiva mais inovadora, como projetos extraclasse desenvolvidos com a orientação de professores de sala de aula e apoiados por professores encarregados da coordenação e facilitação dos mesmos.

Uma vez que a TIC está adentrando de forma mais sistemática no sistema escolar, é necessário e urgente um aprofundamento a respeito das especificidades dessas novas tecnologias. Este artigo busca contribuir para o debate sobre o tema, a partir de uma análise dos recursos disponíveis, equipamentos e serviços tecnológicos, com a intenção de uma prática pedagógica com maior avanço no uso dessas ferramentas e sua contribuição para metodologia diária do professor em uma escola.

Assim, em busca do atendimento às novas demandas da sociedade, as instituições de ensino devem se adaptar ao uso de novos recursos de ensino, entre eles destacam-se as Tecnologias da Informação e da Comunicação, que podem ser sistematizadas para aplicação em práticas pedagógicas (SERAFIM e SOUSA, 2011). Os recursos impactam de maneira decisiva no processo de ensino- aprendizagem, facilitando a compreensão dos elementos para a construção do conhecimento, pois variam conforme o conteúdo a ser ensinado, os objetivos desejados e o tipo de aprendizagem a ser desenvolvida. As TIC’s são recursos que possibilitam:

[…] a dinamização e ampliação das habilidades cognitivas, devido à riqueza de objetos e sujeitos com os quais permitem interagir; a possibilidade de extensão da memória e de atuação em rede; ocorre a democratização de espaços e ferramentas, pois estas facilitam o compartilhamento de saberes, a vivência colaborativa, a autoria, coautoria, edição e a publicação de informações, mensagens, obras e produções culturais tanto de docentes como discentes (SERAFIM e SOUSA, 2011, p.22).

Importante notar que o uso das TIC’s depende de como o docente se porta diante delas. Muitas vezes, eles não têm o conhecimento necessário para desenvolver atividades com essas ferramentas. No entanto, ainda existem desafios a serem vencidos, tais como: ampliação da capacitação de professores; a inserção das TICs no da gestão; a ausência de ações gestoras que objetivam incentivar o uso efetivo das TIC’s; a inexistência de um Projeto PolíticoPedagógico (PPP) que traga em seu texto, de maneira inequívoca, a recomendação do uso das tecnologias. Podemos citar também, como desafio, o bloqueio proveniente da crença de que o método tradicional é mais eficiente. 

2.2 Evasão Escolar

Historicamente observamos que a educação no Brasil não teve o maior nem o melhor dos projetos, assim como, não atendia e/ou ainda hoje, não atende todos os sujeitos na mesma perspectiva. Para além disso, é preciso pensarmos como essa construção histórica, social e política do nosso campo educacional, tem influência na satisfação, interesse e perspectivas daquele que na atualidade, se encontra inserido no contexto das escolas públicas brasileiras. Partindo dessa reflexão, nos questionamos o que seria o desinteresse na educação? Como a escola pode ressignificar esse espaço? Os problemas voltados ao desinteresse do aluno estão fundamentados a partir de quê? Como os professores estão inseridos nesse contexto? O desinteresse parte do aluno, do professor e/ou do Estado?

Entre os problemas que se destacam dentro da sala de aula, como em todas as escolas secundárias, está o desinteresse dos alunos por múltiplos motivos. O desinteresse escolar, pode partir, como tal de um conflito mental do próprio aluno a partir de seus preconceitos que tem no campo educacional. No entanto, o professor tem que corrigir essas ideias de rejeição do estudo e direcionar o aluno para um ambiente de confiança e motivá-lo de diferentes maneiras para que o conhecimento possa ser gerado. É necessário preparar os alunos para que eles saibam como enfrentar e superar as dificuldades, dado que os sucessos e fracassos são inerentes à vida (ARAÚJO, SANTOS, 2012).

Durante a educação de um adolescente, há incerteza e comportamento rebelde, no entanto, o papel desempenhado pelos pais desde a infância do indivíduo está diretamente ligado ao seu comportamento em uma determinada instituição de ensino. A base educacional do aluno nasce no ambiente social familiar, portanto, o indivíduo que foi bem-educado em questões de disciplina e continuidade de processos será facilitado para funcionar adequadamente na escola. Por outro lado, os alunos que têm dificuldades a esse respeito não são completamente desviados, embora uma pequena parte deles deseje aprender e quando o professor é capaz de identificar seus pontos fortes é quando o aluno pode melhorar suas habilidades cognitivas.

Anuto (2013) menciona em seu trabalho que o comportamento do adolescente é suportado por suas memórias e sentimentos que ele teve em um determinado momento de sua vida. A partir daí, a importância de gerar uma orientação em uma idade precoce que permita aos participantes entenderem que um fracasso acadêmico em um determinado momento não é uma tragédia pessoal, que deve ser um momento de reflexão para entender e interpretar os erros cometidos, internalizá-los e gerar respostas de mudanças que permitam um novo começo em um dado momento.

Por outro lado, estudantes com baixo desempenho acadêmico também podem demostrar desinteresse e evasão acadêmica. Baseiam sua aprendizagem em estratégias e conhecimentos pouco desenvolvidos, demonstram maior dependência da aprendizagem, menor interesse em desenvolver novos conhecimentos, pouca percepção de si mesmos como aprendizes e dificuldade em lidar com situações de estresse na aprendizagem (ARAÚJO, SANTOS, 2012).

É muito importante que o educador perceba o aluno como um ser pensante, cheio de capacidade e portador de ideias multiculturais, que se apresentam espontaneamente, em uma conversação simples e em suas críticas aos fatos do dia-a-dia. Tem muito a contribuir para o processo de ensino aprendizagem, traz uma pluralidade não só por ser um trabalhador (aqueles que já estão no mercado de trabalho), mas pelo conjunto de ações que exerce na família e na sociedade.

Segundo Saviani (2009), a questão do preparo de professores no Brasil emerge explicitamente após a independência, momento em que se cogita da organização da instrução popular. Nesta perspectiva, o autor distingue os seguintes períodos na história da formação de professores no Brasil:

1. Ensaios intermitentes de formação de professores (1827-1890). Esse período se inicia com o dispositivo da Lei das Escolas de Primeiras Letras, que obrigava os  professores a se instruir no método do ensino mútuo, às próprias expensas; estendesse até 1890, quando prevalece o modelo das Escolas Normais. 2. Estabelecimento e expansão do padrão das Escolas Normais (1890-1932), cujo marco inicial é a reforma paulista da Escola Normal tendo como anexo a escola-modelo. 3. Organização dos Institutos de Educação (1932-1939), cujos marcos são as reformas de Anísio Teixeira no Distrito Federal, em 1932, e de Fernando de Azevedo em São Paulo, em 1933. 4. Organização e implantação dos Cursos de Pedagogia e de Licenciatura e consolidação do modelo das Escolas Normais (1939-1971). 5.

Substituição da Escola Normal pela Habilitação Específica de Magistério (1971- 1996). 6. Advento dos Institutos Superiores de Educação, Escolas Normais Superiores e o novo perfil do Curso de Pedagogia (1996-2006). (SAVIANI, 2009, pp. 143–144).

Conforme Saviani (2009) apresenta, a preocupação para com a formação de professores apareceu com a promulgação da Lei das Escolas de Primeiras Letras, embora voltada apenas para o preparo didático e à custa do próprio professor. Somente após a promulgação do Ato adicional de 1834 que a instrução primária passou a ser de responsabilidade das províncias, as quais iniciaram o processo de instauração das Escolas Normais.

O estabelecimento e expansão do padrão das Escolas Normais ocorrido a partir de 1980, traz a necessidade de desenvolver na formação o trabalho prático do professor, além do enriquecimento dos conteúdos curriculares que já vinham sendo trabalhados. “Os reformadores estavam assumindo o entendimento de que, sem assegurar de forma deliberada e sistemática por meio da organização curricular e preparação pedagógico-didática, não se estaria, em sentido próprio, formando professores.” (SAVIANI, 2009, p. 145).

Atualmente, diante das constantes transformações econômicas, política social, tecnológica e cultural da sociedade, cada a escola tem buscado uma adequação às exigências do mundo do trabalho, influenciando a educação. A partir dessas mudanças surgem novos desafios, e a escolarização passa a ser exigida no mundo do trabalho e consequentemente, aumentando a demanda da formação de professores na sociedade. 

Com a Lei n. 9394 (BRASIL, 1996), em seu artigo 38, determina que, no nível de conclusão do Ensino Fundamental e Médio, a idade seja entre 15 e 18 anos. A faixa etária atual, ainda em processo de discussão, exige várias alterações frente a essas mudanças, passando a exigir também um ensino voltado para o campo da pesquisa e ao trabalho criativo com esses grupos. O que dizer, então da formação de professores e das exigências de uma formação continuada de qualidade. As exigências de hoje para a atuação docente preveem uma sólida formação científica, técnica e política e ainda uma prática crítica e consciente.

 Esta afirmativa nos remete ao educador Paulo Freire não só em sua opção pela alfabetização de Jovens e Adultos, mas em nos remeter aos enfrentamentos necessários em relação à formação dos professores e aos saberes da prática pedagógica, ou seja, um processo de formação como uma possibilidade e tentativa de resgatar a figura do mestre, tão carente do respeito devido a sua profissão, tão desgastada em nossos dias. 

Ao dizer que “Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, a gente se forma, como educador, permanentemente, na prática e na reflexão da prática” (FREIRE, 2007, p. 58) nos convida ao enfrentamento político e crítico das condições de trabalho e ser colaborador no processo da identidade docente.       Para o autor, a formação é uma conquista da maturidade, da consciência de cada um ser, e é de fundamental importância que tanto o educando como os educadores estejam presentes em sala de aula de corpo e alma em uma troca constante de conhecimento, pois não existe aprendizagem sem simplicidade, isto leva a pensar a respeito das circunstâncias criadas pelos docentes da Educação de Jovens, Adultos e Idosos, tanto para o ensino como para a aprendizagem, e a necessidade das situações de ensino estarem voltadas para a emergência do processo de aprender, lembrando que a pedagogia das certezas e dos saberes pré-determinados ser substituída pela pedagogia das dúvidas temporárias como características de uma pedagogia complexa ou de uma eco pedagogia, ou seja, opensar ecossistêmico coloca como sendo inseparavelmente associados indivíduo e meio, ordem e desordem, sujeito e objeto e todos os fios que tecem os acontecimentos, as interações, as ações que constroem a nossa realidade e tecem a própria trama da vida (MORAES, 2004, p. 220)

Com isto se percebe que tanto a pedagogia quanto a realidade estarão sempre envolvidas com aprendizagem do mundo como relata este autor […] pedagogia que promove o sentido das coisas a partir do dia- a- dia do sujeito. É no cotidiano que se expressam as formas de viver/conviver e é aí que devemos criar novas formas de ser e estar no mundo, a partir de reflexões significativas sobre as realizações do aprendiz (MORAES, 2004, p. 319).

Quando a reflexão permear a prática, docente e de vida, a formação será exigência para fazer do homem atuante no seu espaço histórico, crescendo no saber e na responsabilidade. Ao refletir sobre a formação do docente para atuar na Educação atual do Brasil, é importante pensar que este docente está inserido em uma realidade especifica, onde os educandos trazem consigo contribuições de suas experiências que devem auxiliar e facilitar o trabalho do educador. 

Acredita-se que o desenvolvimento de uma ação voltada para uma prática transformadora possibilita que os alunos, particularmente em sua vida cotidiana, exerçam seus direitos e responsabilidades, resolvendo, além dos conteúdos atitudinais, identificando, criticando e repudiando as atitudes de discriminação e de injustiça que favorece a reprodução da pobreza e da desigualdade, desenvolvendo práticas que permitam o desenvolvimento de atitudes de respeito, de solidariedade e cooperação (MORAES, 2004).

Corroborando com este entendimento à compreensão das implicações nos conceitos na educação que são atribuídos ou estão relacionados ao pensamento complexo, Pinto (2007) destaca a dialogicidade, a complexidade, a interação, a transdisciplinariedade, a auto- organização, a circularidade, a recursividade, a flexibilidade e a autonomia, para que se possa melhor compreender as diferentes dimensões envolvidas no processo de aprender, ou seja:                          O educador deve ser o portador da consciência mais avançada do seu meio (conjuntamente com o filósofo, o sociólogo). Necessita possuir antes de tudo a noção de seu papel, isto é, refletir sobre o significado de sua missão profissional, sobre as circunstâncias que a determinam e a influenciam, e sobre as finalidades de sua ação (PINTO, 2007, p. 48)      

Da mesma forma, e confirmando com este autor, Bannel (2001, p.122) nos leva à reflexão de que “cada sala de aula está inserida em um contexto sociocultural, que é plural, marcado pela diversidade de grupos e classes sociais, visões de mundo, valores, crenças, padrões de comportamentos, etc., uma diversidade que está refletida na sala de aula”. Assim, a diversidade, a realidade desses educandos, deve também, nortear a prática do professor. 

Neste sentido, a educação se alicerça numa reflexão crítica sobre o capital cultural dos oprimidos como destaca Candau (2000). Ela se torna um veículo pelo qual os oprimidos são equiparados com instrumentos necessários para reapropriar-se de sua história, de sua cultura e de suas práticas linguísticas. É, pois, um modo de tornar os oprimidos capazes de reivindicar aquelas experiências que são desvalorizadas na vida cotidiana pela cultura dominante, a fim de que sejam, não só válidas, mas também compreendidas criticamente (CANDAU, 2000, p.97). 

E assim, podemos apresentar as diretrizes curriculares para a formação de professores no Brasil ao sustentarem que cabe aos professores evidenciar possíveis mudanças que apontem para uma nova relação entre ciência, trabalho e cultura, “por meio de uma base sólida de formação científica e histórica que ajude os educandos no seu desenvolvimento […]

Assim, conhecer significa a possibilidade de interferir socialmente (BRASIL, 2002, p. 29). 

2.3 Ações de combate à Evasão Escolar durante a Pandemia de COVID-19

Devido à pandemia global causada pela doença do coronavírus 2019 (COVID-19), muitas das atividades que eram realizadas diariamente tiveram que ser modificadas ou em outros casos completamente paralisadas. Algumas dessas atividades como estudo, trabalho, esportes, entre outras, mudaram muito porque não poderia haver contato físico devido a uma possível disseminação do vírus. A pandemia do COVID-19 forçou o fechamento de escolas e universidades, afetando todos os alunos em todo o mundo (SOUZA et al., 2020). 

Dessa foram, com a chegada do COVID-19 e o súbito confinamento que provocou, toda a comunidade educativa e os seus membros viram-se subitamente obrigados a realizar uma transição que envolvia a substituição do ensino presencial pelo virtual ou remoto. A pandemia significou o desbloqueio forçado e repentino da tecnologia para fornecer educação. A mesma situação de isolamento pode ser um choque para avaliar a importância da interação social face a face para o futuro (GATTI, 2020).

Essa transição representou um desafio inédito para todos os integrantes envolvidos no campo educacional, pois o ensino remoto rompe com três elementos do ensino principal: tempo, espaço e ação. Isso fez com que, inevitavelmente, alguns problemas surgissem, desde a formação em habilidades digitais para professores e alunos e a transformação dos papéis docentes, até a capacidade de garantir a paridade social no acesso à tecnologia (SOUZA et al., 2020). 

No entanto, a educação on-line requer um planejamento e um planejamento instrucional cuidadoso para seu desenvolvimento, que é conceituado como aprendizagem com suporte eletrônico, que conta com a Internet para interação professor-aluno e distribuição de materiais de aula. No entanto, o contexto vivenciado no ano de 2020 sem prazo para se preparar ou planejar é chamado de emergência (APPENZELLER et al., 2020). Gatti (2020, p.3): acrescenta que:

(….) manteve-se a proposta de educação em forma remota, com variações nas propostas, e com vários percalços. Caminhos variados foram encontrados com a utilização de diversas plataformas educacionais, com utilização da internet, solução que se mostrou, na situação, acessível a muitas redes, escolas e seus estudantes, mas não para todos. Em outras circunstâncias também se recorreu ao envio de material impresso aos alunos, com possibilidade de retorno à escola de atividades e tarefas propostas. Orientações a pais fizeram parte da ação de algumas propostas de redes de educação básica, muito especialmente no referente a crianças pequenas – creches e pré-escolas (GATTI, 2020, p. 3).

  A comunidade educacional teve que se adaptar com força e precipitação ao que foi chamado de Ensino Remoto de Emergência, que é definido como: Uma mudança temporária da entrega instrucional para um modo de entrega alternativo devido a circunstâncias de crise. Envolve o uso de soluções de ensino totalmente remotas para instrução ou educação que, de outra forma, seriam ministradas pessoalmente ou como cursos mistos ou híbridos e retornarão a esse formato assim que a crise ou emergência diminuir. De acordo com Souza et al., 2020, p. 2):

Os elementos e a experiência que compõem o processo de trabalho docente presencial precisaram, portanto, ser readaptados a essa nova realidade, já que não se trata de uma mera transposição da atividade, antes modulada no ambiente de sala de aula em contato direto com os alunos(a)s, que passou a ser realizada integralmente em meio digital. Em termos concretos, a atividade de trabalho, o objeto e os seus meios precisaram ser redefinidos num curto espaço de tempo, sendo os próprios docentes responsáveis por esse processo (SOUZA et al., 2020, p. 2).

Há professores que têm dificuldade em implementar a rota tecnológica para transmitir efetivamente o conhecimento, pois não se trata apenas de transmitir, mas de como fazê-lo efetivamente. E para isso, tentam replicar, pelo menos parcialmente, a forma que é utilizada presencialmente, mas à distância. A exclusão digital não se refere apenas ao acesso às tecnologias, mas também ao conhecimento sobre elas, bem como ao uso que lhes é dado como recurso. Se nos colocarmos no papel de professor, isso se traduz no que pode ser feito com as novas tecnologias em um momento de não comparecimento para dar continuidade ao processo de formação de seus alunos (ALVES et al., 2020).

Como resultado da pandemia, revelou-se a necessidade de considerar a concepção e implementação de programas de formação de professores para o ensino a partir de plataformas digitais. Ao mesmo tempo, espera-se que os novos projetos de melhoria educacional incluam as dimensões psicológica e social dos professores, suas crenças e representações cognitivas, com o objetivo de facilitar sua inclusão em mecanismos de atualização por meio da mudança conceitual (APPENZELLER et al., 2020).

Parece acertado afirmar que se trata de uma nova e complexa configuração do trabalho que se aprofunda no contexto de pandemia e faz uso exacerbado da tecnologia, articulando novos modos de controle, extração de sobretrabalho e do mais-valor social (SOUZA et al., 2020, p. 10).

Outro dos problemas detectados tem a ver com a falta de materiais e recursos didáticos digitais por parte das escolas. Escolas mais bem organizadas e com estratégias de cooperação e coordenação para lidar com uma emergência resolveram o problema de forma mais eficaz. Além disso, de acordo com os autores anteriores, evidenciou-se que os professores desenvolveram um sentimento de abandono por parte da gestão educacional, que não tem conseguido dar-lhes soluções para o desafio que tiveram que assumir. Isso os forçou a desenvolver práticas educativas inusitadas, caracterizadas pela improvisação. Tudo isso alimentou o surgimento de um panorama de desilusão e cansaço.

De acordo com Costin (2020), na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) realizada no ano de 2015 se definiram os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) que substituiriam os objetivos do milênio para o século XXI. 

Quando pensamos a educação para os próximos 25 anos, temos que considerar duas possibilidades de análise: a) como será e como deveria ser a educação daqui a 25 anos, e b) como preparar os alunos para a realidade que viverão daqui a 25 anos.(…) Há um arsenal de estudos prospectivos que tentam definir tendências em educação, mas não para um período tão longo. É difícil antecipar, por exemplo, se avanços na bioengenharia levarão à transferência de saberes por meio de chips ou manipulação genética. Evidentemente, isso traria consequências funestas para a riqueza que é a aprendizagem, como um processo construído socialmente (COSTIN, 2020, p. 5).

Para Oliveira; Gomes; Barcellos (2020) os professores precisam estar preparados e qualificados para uma ‘sociedade tecnológica’ e ser capazes de lidar com sucesso com uma situação semelhante em que o ensino presencial está exposto à transformação. Para isso, é preciso entender que não basta trazer para o plano digital a mesma coisa que se faz em uma aula presencial, mas que a formação contínua deve prevalecer em qualquer caso que permita a cada professor a alfabetização digital, competência digital e educação integral de seus alunos.  

Dada a evidência empírica a respeito do impacto de fechamento das escolas (planejados ou não) sobre a aprendizagem, permanecem incertos a ocorrência, a magnitude das perdas e os efeitos sobre diferentes grupos de alunos. Em face às incertezas, o mais intuitivo no retorno às aulas seria ampliar a jornada diária, de modo que a carga horária incorrida nos 200 dias letivos se encaixe nos dias letivos restantes pós-pandemia. Dessa forma, o currículo seria cumprido e não afetaria o ano letivo de 2021. Dependendo da duração da quarentena, isso poderia requerer um esforço equivalente a implementar o tempo integral em todas as escolas do país (OLIVEIRA; GOMES; BARCELLOS, 2020, P. 4).

Aquelas famílias que sofrem com a pobreza e a exclusão perceberam como, devido à crise de saúde, a função compensatória da escola foi reduzida. 

A isto junta-se a falta de recursos econômicos das famílias menos favorecidas que possuem menos condições para migrar para o ensino online. Em contra partida os alunos com melhores condições financeiras possuem totais condições para ter acesso ao ensino remoto ampliando assim a desigualdade social (OLIVEIRA; GOMES; BARCELLOS, 2020).

Com tudo mencionado, é inegável admitir que a crise colocou em primeiro plano todos aqueles aspectos negativos que, de alguma forma, vêm sendo deixado de lado há anos.

. Isso levou a uma negligência das bases fundamentais da educação. O fato de garantir que todos os alunos tenham igual acesso à educação significa atentar para as características dos centros educacionais em termos de propriedade, oferta educacional e recursos materiais e humanos disponíveis, entre outros. Nesse sentido, a estrutura do sistema educacional e seu desenho institucional constituem as efetivas oportunidades educacionais para os jovens, que vão além da igualdade formal de acesso à educação (ALVES et al., 2020).

As saídas consideradas mais óbvias para o período pós-pandemia – como o Ensino remoto, o uso de tecnologias e o aumento da carga horária – dificilmente constituem soluções robustas para enfrentar as consequências da interrupção do calendário escolar (…) embora estejam sendo incorporadas ao dia a dia da escola com maior intensidade, essas duas opções dificilmente consistem nos únicos elementos para ajudar na recuperação dos alunos mais prejudicados (OLIVEIRA; GOMES; BARCELLOS, 2020, p. 5).

Por outro lado, um fator que também influencia diretamente no aumento das desigualdades educacionais tem sido o maior envolvimento da família, pelo fato de nem todas possuírem os mesmos recursos ou estarem nas mesmas condições. A exclusão digital é um elemento crucial para entender a desigualdade dos impactos do confinamento sobre os alunos, mas acrescentam que a conexão com a escola está centralmente associada à geração de vínculos que possibilitam o aprendizado, além da conectividade (TRANIER et al., 2020).

Em suma, essas desigualdades não se devem apenas às diferenças entre os jovens que nem todos têm as mesmas oportunidades de acesso à educação virtual, elas também estão relacionadas à disparidade existente entre os centros educacionais, o que gera múltiplas dificuldades em conseguir desenvolver seus processos de ensino-aprendizagem (ALVES et al., 2020).

Tranier et al. (2020) fizeram uma pesquisa reflexiva por meio da qual destacaram seis elementos importantes para se pensar a educação remota emergencial: 

o que permanece e o que muda; os medos e como eles podem paralisar ou traçar novos horizontes; a possibilidade de pensar esta crise para reinaugurar a solidariedade social: as fronteiras entre normalidade e excepcionalidade; a condição da pedagogia em termos vitais e como gestos sensíveis, e o que nos salva? (TRANIER et al, 2020, p. 1)

É como se o planejamento tivesse se eternizado em um processo único e exclusivo, em um formato sectário. Mas a pandemia criou contextos que são individuais, para os quais os professores não estavam preparados. Os autores acreditam que a subjetividade oferecerá soluções para essa questão (TRANIER et al., 2020). Assim:

É neste ponto especial que nos deparamos com todo um conjunto de novas reconfigurações, nas quais apontamos a preeminência e a tensão de um dos dois momentos historicamente “cruciais” que nos permitem compreender os princípios fundadores de uma “classe”: o momento do planejamento e o ato pedagógico capaz de concretizá-lo ou sustentá-lo. Desse modo, se o analisássemos à luz de suas possibilidades síncronas e assíncronas, como está acontecendo nesta pandemia, poderíamos sugerir o seguinte: a identificação de uma espécie de excesso na eternização do momento do planejamento, como sintoma especial, capaz de expressar certas enfermidades na (sobre) atividade de ensino (TRANIER ET AL., 2020).

No que se refere aos docentes, esses também formados por grupos heterogêneos de indivíduos, ficaram responsabilizados individualmente por encontrar meios de promover a educação, tendo em vista que coube a eles construir estratégias de ensino, de produção de conteúdo educacional e de recursos que permitam aos alunos aprender de maneira remota. Em um país no qual o trabalho do professor é precarizado, não houve questionamento das instituições a respeito da capacidade desses professores fornecerem tais conteúdos, considerando que muitos deles também não possuem equipamentos tecnológicos ou espaços físicos que permitissem essa produção. Há a necessidade de ampliar formação docente para a execução de aulas remotas e um melhor entendimento do próprio conceito de “aulas remotas”, que talvez indique um formato híbrido entre a aula online e o ensino a distância.

Os recursos destinados ao financiamento da educação, já esvaziados ao longo do tempo, serão um problema para que a educação pública e gratuita se sustente no período pós pandêmico, sendo necessárias políticas públicas no âmbito do governo federal que contribuam com o custeio da educação nos municípios mais pobres. A educação pública em escala nacional, necessita de políticas públicas que, primeiro, permitam que as redes de ensino se sustentem e apoiem os alunos mais vulneráveis. A simples definição por decreto de que as aulas serão remotas e oferta de plataformas de ensino não dão conta de resolver o problema porque existe, por trás dessas plataformas, professores e alunos que sofrem com a individualização da responsabilidade pelo aprendizado. 

Quanto à formação, é importante dizer ainda que se faz necessário a ampliação da qualificação dos profissionais de ensino e é fundamental que a equipe docente esteja bem preparada, por este motivo é extremamente importante que, além da formação inicial seja oportunizado também a formação continuada, onde todos tenham a oportunidade de repensar a sua prática. Pois, a formação continuada é um processo possível para a melhoria da qualidade do ensino, dentro do contexto educacional da atualidade.

Vale frisar que a prática pedagógica é uma prática social, uma prática política, pois não se pode conceber a educação sem um vínculo sócio histórico, tendo o professor como agente de transformação. De acordo com Aranha (1996), a educação não pode ser compreendida fora de um contexto histórico-social concreto, sendo a prática social o ponto de partida e o ponto de chegada da ação pedagógica. Ou seja, […] a educação é uma prática humana direcionada por uma determinada concepção teórica. A prática pedagógica está articulada com uma pedagogia, que nada mais é que uma concepção filosófica da educação.

Tal concepção ordena os elementos que direcionam a prática educacional! (LUCKESI, 1994, p. 21).

Para garantir a qualidade de ensino, a Educação no Brasil terá que incorporar os mais recentes resultados sobre aprendizagem e assumir a função de propiciar oportunidades para que seus aprendizes possam gerar e não somente consumir conhecimento, desenvolvendo, assim, competências e habilidades para poder continuar a aprender ao longo da vida. Desta maneira, conforme este autor entende-se que o papel do educador consiste em mediar a aprendizagem, priorizando nesse processo, a bagagem de conhecimento trazida por seus alunos, ajudando-os a transpor esse conhecimento para o “conhecimento letrado”, ajudandoos no processo de aquisição de conhecimentos, tornando-os sujeitos de sua história e não um objeto.

É preciso compreender acima de tudo os aspectos sociais e culturais relacionados e inerentes ao público que está sendo ensinado, onde destacamos a vivência, o trabalho as histórias relacionadas a sua estrutura familiar e da herança cultural são como um pacote de informações que trazem com eles e que devemos respeitá-los. Dessa forma, pensar na formação do professor, no atual contexto socioeconômico, político e cultural, exige uma avaliação e uma revisão da prática educativa e da formação inicial e continuada desses educadores, principalmente se considerarmos as especificidades e particularidades dos estudantes atualmente, pra uma educação para todos.

Vivemos num período que exige a redefinição de alguns papéis em nossa sociedade, entre eles o do professor. O mundo contemporâneo está marcado por mudanças a cada dia colocando a profissão do professor em constantes desafios, questionando sua identidade no cenário atual, ora rompendo modelos ora impondo novas demandas. Dentre os elementos que marcam a contemporaneidade e trazem consequências para a profissão docente, destacamos: globalização e neoliberalismo, novas tecnologias de comunicação e informação, reestruturação produtiva e diversidade cultural. 

Outra característica marcante do mundo contemporâneo é a diversidade cultural que se opõe aos modelos estabelecidos. A diversidade está presente em nosso dia-a-dia, e, muitas vezes, o convívio com o diferente exige respeito e tolerância para aceitar o outro. O homem contemporâneo nesse sentido, precisa ver o diferente sem a pretensão de imaginar que todos devam ser iguais ou que seus costumes são melhores ou superiores aos outros. A globalização nos coloca em contato com outras culturas, é fundamental que saibamos compreender que o outro tem sua forma de pensar que é diferente do nosso pensamento. 

3 CONCLUSÃO

A Pandemia acentuou a evasão escolar e o percurso da educação emergencial à distância como produto da sistematização educacional integra o contexto dos alunos vinculados à sua situação econômica, social e emocional em uma situação de pandemia global; professores que exigem não apenas conhecimentos da área da saúde, mas também conhecimentos pedagógicos e tecnológicos e atividades de aprendizagem que precisam de planejamento, desenho e implementação para alcançar uma aprendizagem significativa e motivadora nos alunos em tempos de isolamento social e suspensão dos estudos presenciais. Conhecer as necessidades socioemocionais que os alunos têm, permitirá que contribuam para o bem-estar mental, incentivando-os a ter um bom desempenho académico, motivação e interesse no seu processo de aprendizagem; promovendo um espaço “virtual” que permita também a construção de relações interpessoais entre professor-aluno, aluno-aluno, professorresponsável.

A formação de professores relacionada ao uso significativo de ferramentas tecnológicas em seus encontros síncronos permitirá que eles disponibilizem recursos para gerenciar suas aulas, projetar suas atividades de aprendizagem e trabalhar de forma colaborativa com outros professores, conseguindo reduzir o ônus da transição para o não presencial da educação presencial manifestada por meio de princípios da pandemia do Covid19 e identificando quais são as estratégias que mais favorecem o aprendizado dos alunos. 

Para a mudança e melhoria da profissão docente, para que atuem como educadores sociais e combatam a evasão escolar, muitas coisas serão necessárias, mas acima de tudo, o papel transformador assumido pelos professores, para estabelecer os caminhos que lhes permitirão alcançar melhorias pedagógicas e sociais e, também aprofundar o debate. entre o próprio fazer profissional.

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