A AFETIVIDADE COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

AFFECTIVITY AS A PEDAGOGICAL TOOL IN THE LITERACY PROCESS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10248191511


Anadeje Ferreira de Almeida


Resumo:A afetividade é um sentimento fundamental entre as pessoas, pois, é a parir desse sentimento que estabelecemos conexões positivas entre os indivíduos. Nesse sentido, a presente pesquisa tem como finalidade principal, apresentar a afetividade como uma ferramenta pedagógica no processo de ensino e aprendizagem, especificamente, no âmbito da educação infantil. No entanto, essa pesquisa não defende a ideia de que na sala deve haver momentos excessivos de beijos ou abraços, porque a afetividade não está baseada apenas nessas ações, e sim, em entender, que a criança é um ser em fase de desenvolvimento, ou seja, não podemos cobrar dos pequenos aquilo que eles não podem dar no presente momento, e nem mesmo, podemos tratá-los como se fossem mini adultos. A pesquisa foi desenvolvida por meio da análise de documentos que tratam sobre o tema abordado, é um estudo de caráter bibliográfico, no entanto, além dessa base, também serão expostas algumas situações que ocorreram ao longo de minha experiência enquanto professora de pré-escolares. A fundamentação teórica é composta pelos seguintes tópicos: A afetividade, Relato de duas experiências vivenciadas em sala enquanto professora de pré-escolares e A afetividade como ferramenta pedagógica no processo de ensino e aprendizagem. Conforme o desenvolvimento da pesquisa e de acordo com as experiências relatadas, podemos perceber o quanto a afetividade é essencial no âmbito escolar, especificamente, na relação entre aluno e professor, além do mais, por meio desse sentimento os educandos sentem prazer em querer estudar.

Palavras-chave: Pré-escolares 1. Afetividade 2. Ferramenta Pedagógica 3. Educação Infantil 4.

Abstract: Affection is a fundamental feeling between people, as it is from this feeling that there is a connection between people. In this sense, the main purpose of this research is to present affectivity as a pedagogical tool in the teaching-learning process, specifically in the final years of early childhood education. However, this research does not support the idea that there should always be moments of kisses or hugs in the room, because affection is not based only on these actions but on understanding that the child is a being in the development phase, that is, not We can demand from little ones what they cannot give at the present moment, and we cannot even treat them as if they were mini adults. The research was developed through the analysis of documents that deal with the topic addressed, that is, it is a bibliographical research, however, in addition to this base, some situations that occurred throughout my experience as a pre-school teacher will also be exposed. -schoolchildren. The theoretical foundation is made up of the following topics: The affectivity, Report of two experiences lived in the classroom as a teacher of preschoolers and Affectivity as a tool pedagogical in the teaching and learning process. According to the development of the research and according to the experiences reported, we can see how essential affection is in the school environment, specifically in the relationship between student and teacher. Furthermore, through this feeling, students feel more pleasure in wanting to study and have more desire to go to school

Keywords: Preschoolers 1. Affectivity 2. Pedagogical Tool 3. Early Childhood Education 4.

1 INTRODUÇÃO

A presente pesquisa é fruto das experiências que vivenciei enquanto professora de pré-escolares em uma escola privada localizada no município de Campo Alegre localizado no estado de Alagoas. Ao longo de minha atuação sempre busquei entender o que se passa na mente das crianças e de que forma poderia tornar as aulas mais atraentes e prazerosas, pois, dessa forma, os pequenos estariam mais dispostos em querer aprender, no entanto, foi por meio de pesquisas e mais pesquisas que descobri o quanto é essencial a presença da afetividade no processo de ensino e aprendizagem, principalmente no âmbito da educação infantil, período em que as crianças devem adquirir habilidades precursoras que servirão de base para o processo formal da alfabetização nos anos iniciais do ensino fundamental.

É por meio de um ambiente afetivo que o professor passa a compreender o aluno, além disso, cria um vínculo positivo com a turma. Após formular o tema dessa pesquisa, diversos problemas foram surgindo, porém a problemática selecionada foi: Como podemos estimular a aprendizagem de pré-escolares por intermédio da afetividade?

Em 2018 ensinei um aluno que já havia passado por diversas instituições escolares do munícipio em que resido, a mãe cansada de tanto procurar uma escola que de fato ajudasse o filho falou os motivos pelos quais a criança havia saído dessas escolas. Pelo contexto descrito por ela, senti que de certa forma a criança estava sendo rejeitada devido suas atitudes relacionadas a personalidade forte.

Os professores no dia a dia lidam com diferentes tipos de crianças, algumas são mais calmas e outras ativas, porém, não podemos padronizar as crianças da nossa maneira, não podemos definir como elas devem ser. Confesso, que a primeira semana foi bastante difícil, pois eu e a nova criança estávamos nos conhecendo e ela sempre me rejeitava, após várias tentativas por meio de rodinhas de conversas, brincadeiras entre outras metodologias, a criança decidiu me dar uma chance, eu a abracei e iniciamos uma nova etapa.

Para essa criança, mudar de escola novamente foi mais um desafio, devido as situações que ocorreram nas antigas escolas certamente ela pensava que seria da mesma forma, no entanto, diante de um contexto como esse, cabe o docente decidir se vai querer fazer ou não a diferença.

 Após um mês de aula, descobri que essa criança tinha uma capacidade gigantesca de aprender, porém, lhe faltava aprender alguns conteúdos que seriam essenciais para a próxima série, pois o processo de alfabetização se inicia por etapas, ou seja, para ler e escrever a criança necessita passar por algumas fases conforme relata Ferreiro e Teberosky (1986), e algumas dessas etapas precisam se consolidar nos anos finais da educação infantil, garantido para a criança uma transição escolar preparatória.

No primeiro plantão pedagógico realizado em 2018 tive a oportunidade de conversar novamente com a mãe da criança, seu semblante havia mudado, pois ela estava muito feliz com o avanço do filho na aprendizagem e principalmente na adaptação, entretanto, uma ferramenta foi essencial para alcançar esse resultado, a afetividade.

Lidar com diferentes crianças não é fácil, principalmente quando elas demonstram não querer fazer parte do meio escolar onde estão inseridas, além de não estarem satisfeitas com as propostas metodológicas, acabam interferindo na aprendizagem da demais crianças.

Portanto, conforme as essas experiências que tive como professora de pré-escolares, a hipótese dessa pesquisar é justamente defender a afetividade como ferramenta pedagógica, pois foi essa ferramenta que utilizei para conquistar essa criança, no entanto, quando falamos em afetividade na educação infantil, não podemos associar apenas a beijos e abraços, para impactarmos as crianças positivamente é necessário uma infinidade de estratégias, como por exemplo, criar um ambiente acolhedor dentro da sala de aula e não focar apenas em atividades xerografadas e sim em atividades onde se possa utilizar recursos lúdicos.

Antunes (2006, p.5) afirma:

 “Um conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções que provocam sentimentos.  A afetividade se encontra “escrita” na história genética da pessoa humana e deve-se a evolução biológica da espécie. Como o ser humano nasce extremamente imaturo, sua sobrevivência requer a necessidade do outro, e essa necessidade se traduz em amor”.

Em outras palavras, Antunes (2006) nos revela o quanto é importante o uso da afetividade nas relações humanas, para o autor a afetividade faz parte do genoma humana, ou seja, não podemos tratar os pré-escolares como “robôs” onde escutam, absorvem o conteúdo e armazenam na memória, muito pelo contrário, temos que nos colocar no lugar delas, pois um dia fomos crianças.

Ao fazer uma retrospectiva de quando éramos crianças, podemos recordar diversas dificuldades que tivemos no âmbito escolar relacionadas a aprendizagem, pois não é fácil aprender conteúdos quando o cérebro está emocionalmente abalado devido a situações externas vivenciadas fora do ambiente escolar. A criança que acabou de presenciar uma cena de briga entre os pais estará preparada para absorver e compreender novos conteúdos? Claro que não. Como iremos perceber esse “abalo emocional”? Durante o decorrer da aula, a criança pode apresentar alguns sinais como falta de interesse em participar das atividades, desânimo, falta de apetite entre outros. E como podemos ajudar essa criança? Sendo afetivo, procurando entender os motivos pelos quais ela se encontra dessa forma, pois ela se sentirá acolhida e principalmente amada.

Existem uma infinidade de estratégias que os docentes podem adotar após recorrer a afetividade como uma ferramenta pedagógica, a primeira hipótese levantada é conhecer o que se passa na mente das crianças, porque o contexto fora do ambiente escolar acaba influenciando na aprendizagem da criança de forma positiva ou negativa.

 Por isso, o objetivo geral dessa pesquisa é justamente apresentar a afetividade como uma ferramenta pedagógica, e os específicos são:

  • Explicar o que é a alfabetização e os benefícios da afetividade nesse processo conforme o pensamento dos teóricos: Piaget, Wallon e Vygotsky
  • Descrever duas experiências que tive em sala, enquanto professora alfabetizadora, onde a afetividade foi uma grande aliada.
  • Mostrar como podemos utilizar a afetividade como ferramenta pedagógica por meio de algumas estratégias metodológicas.

A pesquisa foi desenvolvida por meio da análise de documentos que tratam sobre o tema abordado, ou seja, é uma pesquisa de caráter bibliográfico, no entanto, além dessa base, também serão expostas algumas situações que ocorreram ao longo de minha experiência enquanto professora alfabetizadora e estagiária, a fundamentação teórica é composta pelos seguintes tópicos: a alfabetização e os benefícios da afetividade no processo de ensino e aprendizagem, conforme o pensamento dos teóricos: Piaget, Wallon e Vygotsky, relatos de experiências que tive em sala enquanto professora alfabetizadora e enquanto estagiária, onde a afetividade foi uma grande aliada, e por término a afetividade como ferramenta pedagógica.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A afetividade

De acordo com a psicologia, afetividade é a capacidade individual de experimentar o conjunto de fenômenos afetivos, quando nos sentimos amados e acolhidos, independentemente da situação no qual nos encontramos, a afetividade nos impulsiona a continuar determinados processos. Além do mais, é por meio desse sentimento que surge uma relação positiva entre o educando e o professor, nesse sentido, a aprendizagem se desenvolve com mais prazer.

 Com os avanços da neurociência, descobriu-se o quanto é essencial trabalhar de forma afetiva com os pequenos, afinal o cérebro emocionado aprende muito mais rápido, no entanto, não podemos associar o conceito de afetividade com beijos ou abraços, pois seu significado é amplo e vai além do que podemos imaginar.

O termo afetividade foi objeto de estudo de grandes teóricos, como por exemplo, Piaget, Vygotsky e Wallom, em suas teorias apresentaram o conceito desse termo, que como dito antes, não está relacionado apenas a momentos de carinhos (beijos e abraços). Piaget em sua teoria demonstra o quanto o afeto é fundamental para aquisição do desenvolvimento humano, principalmente para o funcionamento da inteligência, para ele a:

Vida afetiva e vida cognitiva são inseparáveis, embora distintas. E são inseparáveis porque todo intercâmbio com o meio pressupõe ao mesmo tempo estruturação e valorização…. Assim é que não se poderia raciocinar, inclusive em matemática, sem vivenciar certos sentimentos, e que, por outro lado, não existem afeições sem um mínimo de compreensão… O ato de inteligência pressupõe, pois, uma regulação energética interna (interesse, esforço, facilidade) … (PIAGET, 1977, p 16).

Em outras palavras, para Piaget a afetividade é como se fosse o combustível que nos impulsiona, afinal, quando nos sentimos bem fazendo uma determinada atividade, motora ou cognitiva, a sensação de prazer presente durante a execução faz toda diferença.

Da mesma forma ocorre na sala de aula, pois quando a criança se sente amada e compreendida por todos que a rodeiam, a busca pelo conhecimento, o gosto por querer aprender e a interação entre os pares se tornam atividades agradáveis. Ensinar não é fácil, e não adianta apenas os docentes ter conhecimento e diploma, é preciso também, compreender que a aprendizagem acontece em torno do campo afetivo.

Quando na sala de aula ocorrem momentos significativos carregados de afeto, a criança chega em casa com um novo semblante e empolgada por tudo o que vivenciou durante sua estádia na escola. Os pais se emocionam, sentem mais segurança e confiança na instituição escolar escolhida para acompanhar o desenvolvimento do filho. Caso contrário, se a criança apresentar semblante entristecido, atitudes que revelem não gostar da escola, é preciso investigar as causas desse comportamento, pois futuramente a criança será ainda mais prejudica e o processo de alfabetização que será o objetivo da etapa seguinte (ensino fundamental) ocorrerá em torno de determinadas dificuldades, nesse sentido, a falta de afetividade pode se tornar um verdadeiro empecilho na vida estudantil de certos educandos.

Para Vygotsky (2003) só podemos compreender o pensamento humano quando compreendemos a base afetiva, para o autor, pensamento e afeto são dois termos inseparáveis, ou seja, o pensar apesar de ser oculto nos revela o quanto somos inofensivos diante a certas situações que podem até gerar medo.

Com a criança não é diferente, pois ao se adentrar em um ambiente cuja as características demonstram perigo, o cérebro da criança rapidamente processa as informações que estão em sua volta, e logo em seguida uma reação é apresentada.

Quem separa o pensamento do afeto nega de antemão a possiblidade de estudar a influência inversa do pensamento no plano afetivo. […] A vida emocional está conectada a outros processos psicológicos e ao desenvolvimento da consciência de um modo geral. (VYGOTSKY, 2000 apud ARANTES, 2003, p.18)

Em sua teoria Vygotsky (1998) afirma que a afetividade é de suma importância no processo ensino-aprendizagem no que diz respeito à motivação, avaliação e relação entre professores e alunos. Para Wallom a afetividade também não deve ser considerada como sinônimo de carinho e amor, pois podemos ser afetivos com as crianças de diversas formas, como por exemplo, quando paramos para ouvir a criança antes de tomar qualquer decisão em relação a determinados s conteúdos.

Conforme Salla (2011):

A afetividade, segundo Wallon, refere-se à capacidade do ser humano de ser afetado positiva ou negativamente tanto por sensações internas como externas. A afetividade é um dos conjuntos funcionais da pessoa e atua, juntamente com a cognição e o ato motor, no processo de desenvolvimento e construção do conhecimento.

Salla (2011) nos revela que para Wallon tantos as sensações internas ou externas podem afetar as crianças de forma positiva ou negativa, porém, a partir dessa reflexão de Wallon é preciso que os docentes analisem a forma de como passam os conteúdos evitando assim impactos negativos.

 Na antiguidade, as crianças eram vistas como seres inferiores, ou seja, o conceito que hoje atribuímos a infância não existia, pois, aos pequenos eram atribuídos os piores adjetivos, como criatura traiçoeira.

No período medieval, por exemplo, as crianças eram retratadas nas artes como minis adultos, com tamanhos reduzidos, as roupas eram iguais as roupas dos homens e das mulheres que faziam parte da sociedade na época. Como o passar dos anos e séculos, essa imagem que a sociedade tinha referente as crianças foi se modificando, pois, a sociedade passou a perceber o quanto esses “minis adultos” eram diferentes.

De acordo com o parágrafo anterior, nas civilizações passadas o termo infância era desconhecido, e certamente, a afetividade também. Como será que as crianças que faziam parte dessas sociedades se sentiam? E como será que as crianças seriam tratadas caso a afetividade estivesse presente? Certamente o olhar dos adultos para esse público seria bem mais acurado, pois, a afetividade faria uma reorganização interna e externa em cada pessoa, fazendo com que cada um apresentasse mais empatia, respeito, solidariedade e amor para com cada criança.

Nos dias que correm, houveram diversas transformações comparado com os anos anteriores, mas ainda precisa-se de ter cuidado e olhar diferenciado para as crianças, principalmente, quando se trata da educação infantil, conforme a neurociência, uma das formas da criança aprender é justamente pelo viés da afetividade, um ambiente acolhedor, carregado de amor, prazer e diversão é essencial durante o processo de ensino, ao sair de casa a criança precisa sentir segurança no lugar onde a família não está presente.

A cada ano o número de crianças especiais nas instituições escolares vêm crescendo, no entanto, grande parte dos docentes ainda não possuem especializações específicas para lidar com esses alunos, apesar dos grandes desafios a serem enfrentados, a escola tem buscado formas de ajudar essas crianças, pois nas salas de aulas podemos encontrar cuidadoras responsáveis por acompanha-las.

Lidar com crianças saudáveis num ambiente onde a afetividade permanece distante é bem desafiante, e quando nesses mesmos ambientes encontramos crianças atípicas, o desafio é duplicado, por isso, é essencial que os docentes enquanto mediadores do saber tenham esse sentimento como aliado, pois o processo de ensino e aprendizagem será mais leve e satisfatório.

Crianças autistas, por exemplo, amam rotinas e quando elas se apegam a algum profissional da sala (professor ou cuidador), sua relação com o meio institucional é beneficiada, pois elas passam a se sentirem seguras ao longo da fase de adaptação.

2.2 Duas experiências vivenciadas em sala enquanto professora de pré-escolares

Durante minha atuação na área da educação infantil, passei por diversos momentos que marcaram minha experiência, atualmente, ainda atuo como formadora de professoras alfabetizadoras na cidade onde resido, porém, devido a duas experiências que tive no ano de 2018 mudei completamente a minha forma de agir em sala fazendo uso da afetividade como principal ferramenta pedagógica.

Em 2018 fui professora de duas crianças que apresentavam muitas dificuldades em aprender, uma apresentava fortes sinais de autismo, no entanto, a mãe nunca procurou ajuda para realmente comprovar, e a outra, apresentava deficiência física, usava fraldas e não conseguia absorver os conteúdos.

Apesar dos grandes desafios que surgiam a cada semana, tive a ideia de utilizar algumas estratégias que pudessem ajudar esses dois alunos que também faziam parte do processo de ensino. A criança que apresentava fortes sinais de autismo era um menino de 5 anos de idade, costuma levar todos os dias para a escola um carrinho de brinquedo, além disso, sempre sentava no mesmo lugar e não gostava de barulhos, ele ainda não sabia escrever o primeiro nome, então, como ele gostava de carrinhos confeccionei um recurso lúdico contendo carrinhos de papel, em cada carrinho coloquei uma letra específica do nome dela. A criança amou o recurso, e após algumas semanas aprendeu a escrever o próprio nome, além disso, começou a sentir interesse em querer aprender todas as letras do alfabeto e seus respectivos sons.

A outra criança que possuía deficiência física era uma menina, ela também tinha 5 anos de idade, devido ao uso de fraldas e a dificuldade de andar, percebi que ela se excluía de alguns momentos, não participava das rodinhas de conversas, não interagia com as demais crianças e não gostava quando era convidada para ir ao quadro realizar alguns exercícios com foco na aprendizagem.

Devido a esse comportamento, tive uma breve conversa com ela, onde expliquei que todas as pessoas são diferentes desde bem pequenas, e que apesar das diferenças, todos nós somos capazes de aprender.

 Conversei com a mãe dela e a incentivei a sempre encorajar a filha, pois ela precisava sentir que era capaz de aprender, meses depois, após adquirir confiança houve um grande avanço na aprendizagem, pois antes de aprender é essencial que a criança sinta prazer. Piaget (1971, p. 271) afirma que:

A vida afetiva, como a vida intelectual é uma adaptação contínua e as duas adaptações são, não somente paralelas, mas interdependentes, pois os sentimentos exprimem os interesses e os valores das ações, das quais a inteligência constitui a estrutura”.

Para alcançar esses resultados foi essencial a presença de um ambiente afetivo, onde essas crianças e as demais, pudessem se sentir acolhidas, confortáveis e amadas independente de suas diferenças. A partir dessas duas experiências, percebi o quanto a presença da afetividade é importante no âmbito educacional, pois aprender conteúdos que necessitam de processos cognitivos envolve emoção e motivação.

2.3 A afetividade como ferramenta pedagógica no processo de ensino e aprendizagem

Na fase escolar as crianças passam por diversos processos, inicialmente, o primeiro é ter que lidar com o fato de estar longe de casa, nos anos seguintes a criança também precisa lidar com a troca de turma, de professora, de escola e até mesmo de colegas.

Para algumas pessoas, esses exemplos podem parecer insignificantes, no entanto, essas situações mencionadas podem interferir no processo de ensino e aprendizagem, pois a criança se apega muito fácil a rotina. Entender que esses fatores contribuem de forma positiva ou negativa, é essencial, pois é a partir dessa análise que a afetividade vai ganhando forma.

Como posso utilizar a afetividade como ferramenta pedagógica? O processo de ensino e aprendizagem é uma etapa muito importante na vida de qualquer indivíduo, porém, é uma fase cheia de sentimentos, às vezes, a criança está alegre e empolgada para aprender, mas também, pode apresentar medo e insegurança.

 Compreender essas mudanças comportamentais que ocorrem durante o esse processo é fundamental, pois a partir das análises realizadas o professor poderá conduzir as aulas de outras formas, para que todas as crianças sejam impactadas positivamente. Segundo Hillal (1985, p. 18):

A afetividade é o suporte da inteligência, da vontade, da atividade, enfim, da personalidade. Nenhuma aprendizagem se realiza sem que ela tome parte. Muitos alunos há cuja inteligência foi bloqueada por motivos afetivos; outros há cuja afetividade não resolveu determinados problemas, apresentando falha no comportamento. A afetividade constitui a base de todas as reações da pessoa diante da vida de todos os seus acontecimentos, promovendo todas as atividades.

Uma das formas de utilizar a afetividade como ferramenta pedagógica, é justamente, quando compreendemos que cada criança que compõe a sala de aula possui diferenças específicas, como por exemplo, físicas, comportamentais e cognitivas. Além disso, quando o docente realiza atividades conforme o nível de cada criança ele também está propondo um ambiente afetivo, pois independente das diferenças e dificuldades que surgirem ao longo do ano letivo, todas as crianças merecem aprender.

Entretanto, há outras maneiras de fazer uso da afetividade como ferramenta, por exemplo, conversar com as crianças para conhecer melhor cada uma, fazer uso dos conhecimentos prévios que cada criança adquiriu, reconhecer que o erro faz parte do processo, pois não podemos cobrar dos pequenos resultados positivos sendo que eles são apenas pequenos estrangeiros no mundo educacional.

3 METODOLOGIA

3.1 Classificação da pesquisa

Essa pesquisa teve como base experiências que vivi enquanto professora da educação infantil em 2018, além disso, é uma pesquisa de cunho bibliográfico, pois foram realizadas diversas pesquisas referentes ao tema desenvolvido, foram feitas a leitura de artigos e livros referente ao tema abordado.

3.2 Fontes de Busca da pesquisa

Segue abaixo um quadro com os autores que foram encontrados em nossas buscas sobre a temática apresentada:

Quadro 1– Fontes de buscas da pesquisa

PIAGET, J. A1976https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4082168/mod_resource/content/1/Psicologia%20e%20Pedagogia_Piaget.pdf
HILLAL, Josephina.1985https://www.webartigos.com/artigos/um-novo-olhar-sobre-as-relacoes-afetivas-entre-professor-e-aluno/48663
VYGOTSKY, L. S1989https://oportuguesdobrasil.files.wordpress.com/2015/02/a-formac3a7c3a3o-social-da-mente.pdf
PIAGET, Jean. Inteligência e afetividade. Buenos Aires: Aique, 2001.2001https://novaescola.org.br/conteudo/264/0-conceito-de-afetividade-de-henri-wallon
ARANTES, V. A.2003https://www.scielo.br/j/es/a/vq3qWsrwSBcQftRbDF8JsCK/?lang=pt

3.3 Instrumentos de coleta de dados e procedimentos

Conforme apresentado no quadro anterior, foram realizadas buscas nos seguintes bancos de dados: (scielo, periódicos, webartigos, nova escola, oportuguesdobrasil, edisciplinas ), no período de (01/06/2024 à 30/07/2024). Foram selecionados estudos do período de 1976 a 2003, os critérios para a escolha dos artigos escolhidos foram o ano de publicação, análise do resumo, palavras-chaves, resultados e relevância no meio social.

4 ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Conforme apresentamos na metodologia temos um estudo de característica bibliográfica com um total de cinco tantos trabalhos avaliados. Nesta seção vamos aprofundar a discussão sobre nosso objeto de estudo com base na literatura explicitada anteriormente.

O tema a afetividade como ferramenta pedagógica tem ganhado espaço em muitas instituições escolares, pois devido as grandes contribuições de Piaget, Vygotsky e Wallon os docentes puderam fortalecer ainda mais suas metodologias a fim de proporcionar às crianças um ambiente mais acolhedor e empático.

No entanto, infelizmente, ainda há àqueles que por ignorância tratam esse tema como se ele não existisse, e por causa disso, impõem limites nas crianças como se fossem adultos.

 Para Piaget (1977) a vida cognitiva e afetiva é diferente, porém ambas se relacionam entre si, ou seja, para que a cognição flua bem é preciso que a afetividade se faça presente durante o processo.

Vygotsky (1989) afirma que não podemos separar pensamento do afeto, ou seja, a cognição necessita da afetividade para também ser estimulada, crianças que crescem em ambientes onde os pais são separados, são usuários de drogas e consumem álcool chances de terem uma aprendizagem bem alicerçada serão pouquíssimas, pois o afeto não deve partir apenas da instituição escolar, e sim, primeiramente do meio familiar que é o lugar onde a criança passa mais tempo.

Conforme Salla (20011), para Wallon por meio da afetividade o ser humano pode ser impactado positivamente ou negativamente, seja por situações internas ou externas. Interna porque não sabemos o que se passa no interior da criança, e por qualquer empecilho sua aprendizagem pode ser afetada causando consequências que podem durar anos.

Arantes (2003) afirma que não é recente as discussões sobre a afetividade, e apresenta um breve histórico desse tema citando até os pensamentos de Aristóteles e Theodor Fechner. Para o primeiro, os sentimentos permanecem no coração, porém o cérebro recebe a missão de esfriar cada um deles, no entanto, Theodor Fechner em sua teoria tenta unir os termos razão e emoção, porem devido a grandes resistências de outros teóricos da época não conseguiu finalizar eu pensamento. Hillal (985), aborda a importância da relação professor e aluno por intermédio da afetividade, para que assim, a aprendizagem flua de forma significativa e prazerosa.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com as experiências citadas na presente pesquisa, enquanto professora de pré-escolares, acredito que a afetividade foi uma das ferramentas fundamentais durante o processo de aprendizagem das crianças envolvidas, ensinar não requer apenas ter o conhecimento específico de uma determinada disciplina, é preciso antes de tudo ir ao encontro do aluno a fim de analisar suas limitações.

Entender que situações externas e internas podem ser prejudiciais durante o processo de ensino e aprendizagem são estratégias que todos os professores deveriam adotar.

 O docente deve estar intimamente conectado com o termo afetividade, pois é a partir do olhar afetivo (empático) que é possível observar e entender como realmente processo de ensino precisa acontecer.

Há muito tempo esse tema era pouco abordado, pois como vimos nessa pesquisa as crianças eram vistas como adultos pequenos, porém, como os avanços das neurociências, atualmente, temos a certeza que uma das formas do cérebro aprender é por meio das emoções, ou seja, não adianta apenas pedir para a criança copiar e colar sem antes entender o que se passa em sua mente.

 Muitas crianças estudam em tempo integral, passam grande parte do dia na escola, longe de seus familiares, então para que a criança se sinta bem e confortável é preciso que o ambiente afetivo seja acionado, pois sem ele reações negativas podem acontecer, como o choro por exemplo.

Contudo, a partir do ponto de vista dos teóricos citados e das experiências vivenciadas, é inevitável falar em ensino sem antes compreender a importância das emoções, especificamente da afetividade, por isso o objetivo principal  foi justamente apresentar a afetividade como uma ferramenta pedagógica, pois o modo como lidamos com os pequenos e repassamos os conteúdos faz  toda a diferença e qualquer ação que gere uma reação negativa poderá ser a ponte para futuros traumas relacionados a aprendizagem, pois qualquer atitude vista pela criança como perigosa deve ser analisada e corrigida imediatamente.

6 REFERÊNCIAS

ARANTES, V. A. Afetividade na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Atlas, 2003.

HILLAL, Josephina. Relação professor – aluno: formação do homem consciente. São Paulo: Paulinas, 1985.

PIAGET, Jean. Inteligência e afetividade. Buenos Aires: Aique, 2001.

SALLA, Fernanda. O conceito de afetividade de Henri Wallon. Nova Escola, 1 de outubro de 2011. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/264/0-conceito-de-afetividade-de-henri-wallon. Acesso em: 07 de jan. 2020.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.

PIAGET, J. A construção do real na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.