UMA IDEIA DE ÉTICA E EDUCAÇÃO DIANTE DAS NOVAS TECNOLOGIAS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202408151652


Agda Zampieri Stroebele


Resumo 

Este estudo investiga a relevância do ensino da ética na educação básica diante das transformações sociais e tecnológicas contemporâneas. A partir da compreensão dos conceitos de axiologia e valores, e de suas implicações nas relações sociais e morais, o trabalho destaca a importância de uma formação que integra reflexão ética e prática cidadã. Entende-se que a escola deve promover não apenas a transmissão de conhecimentos, mas também a formação de cidadãos críticos e responsáveis. A investigação baseia-se em referências filosóficas e educacionais, destacando a necessidade de uma educação que contemple conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. Conclui-se que a educação ética é essencial para a construção de uma sociedade mais justa e democrática, preparando os indivíduos para agir eticamente em um mundo em constante transformação. 

Palavras-chave: ética, educação básica, axiologia, valores, formação cidadã, transformação social, reflexão crítica. 

Introdução 

O ensino da ética na educação básica surge como um imperativo inegável entre educadores, sendo fundamental na construção de uma sociedade solidária e democrática. No entanto, essa tarefa nos obriga a compreender claramente o que são ética e moral, suas diferenças e relações, e como são percebidas na sociedade contemporânea. Moral e ética, embora frequentemente utilizadas como sinônimos, possuem distinções conceituais significativas que influenciam diretamente sua aplicação no contexto educacional. 

A ética pode ser entendida como a filosofia da moral, um pensamento reflexivo sobre os valores e normas que regem a conduta humana. Segundo essa perspectiva, ética e moral são inter-relacionadas, mas distintas. A moral refere-se a um conjunto de regras e normas de comportamento aceitas por uma sociedade em determinado tempo e lugar. Estas normas são internalizadas pelos indivíduos e orientam suas ações cotidianas. Já a ética, por sua vez, envolve a análise crítica e a reflexão sobre esses princípios morais, questionando sua validade, origem e aplicação. 

Valores, começando num nível mais básico, são definidos pelo dicionário Aurélio como “normas, princípios ou padrões sociais aceitos ou mantidos por indivíduos ou grupos”. A axiologia, disciplina que estuda os valores, preocupa-se com as relações estabelecidas entre os sujeitos e os objetos de valor. Essa disciplina revela que, diante do outro, somos mobilizados por sentimentos de afetividade ou repulsa, indicando que a relação com o outro é carregada de valor, o que impede a indiferença. 

Garcia Morente (1966, p.23) elucida essa questão ao afirmar que “os valores não são, mas valem”. Quando dizemos que algo tem valor, não estamos nos referindo ao seu ser, mas à sua capacidade de não nos ser indiferente. Essa não-indiferença constitui a essência do valor, diferenciando-o do simples ser. Os valores são, inicialmente, herdados culturalmente e, conforme atendemos ou transgredimos esses padrões, nossos comportamentos são avaliados como bons ou maus. 

A relação do homem com o mundo também é mediada por valores. Na busca pela sobrevivência, o homem atribui valor à natureza através do trabalho, transformando-a em algo útil. Esse processo de atribuição de valor e transformação é uma ação moral, ainda que não completamente ética, pois está inserida em um contexto histórico específico e não atinge uma universalidade plena. A moral, portanto, varia conforme o tempo, o lugar e as condições sociais, sendo inevitável em qualquer sociedade organizada. 

No contexto histórico, a moralidade evolui com as transformações sociais. Na Grécia antiga, a escravidão era considerada legítima, assim como até recentemente, as mulheres eram vistas como inferiores aos homens. A moral é constituída por regras que orientam o comportamento, e seu caráter contingente a torna sujeita a mudanças conforme as relações de produção se alteram. Contudo, a moral não se resume à herança dos valores recebidos; ela é também um conjunto de regras de conduta admitidas por um grupo social em determinada época. 

Essa distinção entre moral e ética é crucial para a educação. Enquanto a moralidade vivida é sujeita a mudanças circunstanciais, a ética oferece uma reflexão que busca a transcendência e a universalidade. A moral sem reflexão está sujeita a oscilações conforme os costumes, enquanto a ética, ao proporcionar ciência e consciência, busca respostas mais profundas para questões fundamentais sobre o bem e o mal. 

A formação ética no âmbito escolar se apresenta, portanto, como um desafio e uma necessidade. A escola, instituição central na formação dos cidadãos, deve ir além da mera transmissão de conhecimentos. Ela deve promover uma educação ética que fomente a reflexão crítica e a ação consciente. A ética na educação é não só um conjunto de normas, mas uma prática reflexiva que capacita os indivíduos a questionar e compreender os valores que orientam suas ações. 

Nesse sentido, o ensino da ética deve ser contextualizado nas rápidas transformações sociais e tecnológicas da contemporaneidade. A escola deve preparar os alunos para serem cidadãos críticos e participativos, capazes de agir eticamente em um mundo em constante mudança. A educação ética deve abordar não apenas os conteúdos curriculares tradicionais, mas também as novas realidades impostas pelas tecnologias e a globalização, promovendo uma formação que valorize a solidariedade, o respeito e a cidadania. 

Assim, a proposta de ensino da ética na escola básica busca integrar a reflexão filosófica com a prática pedagógica, preparando os indivíduos para enfrentar os desafios éticos da sociedade contemporânea. Essa perspectiva requer um esforço contínuo de adaptação e inovação por parte das instituições educativas, visando formar cidadãos conscientes e responsáveis, capazes de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e solidária. 

Axiologia, Valores e o Papel da Escola nas Relações Sociais e Morais 

A sociedade contemporânea enfrenta desafios éticos significativos, exacerbados pelo rápido avanço tecnológico e pela transformação das relações econômicas e sociais. O papel da escola na formação ética e moral dos indivíduos torna-se, portanto, crucial. Compreender os conceitos de axiologia e valores, e suas implicações nas relações sociais e morais, é fundamental para desenvolver uma educação que responda às necessidades da sociedade moderna. 

A axiologia, ou teoria dos valores, emerge no século XIX como uma disciplina que se preocupa não com os seres em si, mas com as relações estabelecidas entre os seres e os sujeitos que os apreciam. Valores são normas, princípios ou padrões sociais aceitos por indivíduos ou grupos, e são essenciais na formação da ética e moral. Garcia Morente ajuda a entender essa dimensão quando afirma a já citada frase “os valores não são, mas valem” (1966, p.23). Com isso ele distingue entre o ser e o valor, esclarecendo que os valores são caracterizados pela sua não-indiferença, ou seja, pela sua capacidade de mobilizar afetos e repulsas. 

No contexto das relações sociais, a moralidade é inevitável. Cada sociedade, em diferentes épocas e lugares, estabelece um conjunto de regras e normas que orientam o comportamento de seus membros. A moral é, assim, uma construção histórica e cultural, variando conforme as condições sociais e econômicas. Por exemplo, na Grécia Antiga, a existência de escravos era considerada legítima, enquanto que, em tempos mais recentes, as mulheres eram vistas como inferiores aos homens. Essas mudanças morais refletem as transformações nas relações de produção e na organização social (DURKHEIM, 2002). 

A ética, por outro lado, é a reflexão crítica sobre essas normas e valores. Enquanto a moral pode ser vista como um conjunto de regras vividas e seguidas, a ética envolve a análise e a questionamento dessas regras, buscando uma compreensão universal dos princípios que regem a conduta humana. Aristóteles (2001) já alertava para a relação entre moral e costumes, esclarecendo que a ética proporciona uma ciência e consciência dos valores, permitindo uma transcendência das normas meramente circunstanciais. 

Nesse contexto, a escola assume um papel central na formação ética e moral dos indivíduos. Historicamente, a educação formal não ocupava uma posição de destaque, sendo reservada aos nobres, ricos ou operários, cada grupo com suas próprias necessidades e expectativas. Contudo, a partir do século XIX e intensificando-se no século XX, a escola ganha centralidade como a instituição responsável pela formação do cidadão, indo além da simples transmissão de conhecimentos técnicos e culturais. 

A escola deve promover uma educação que integre a reflexão ética com a prática cidadã, preparando os alunos para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. Isso envolve não apenas a aquisição de conhecimentos, mas também o desenvolvimento de competências e habilidades que capacitem os indivíduos a agir eticamente em diversas situações. A UNESCO (1996), em seu relatório Educação: Um Tesouro a Descobrir, destaca a importância de uma educação que responda às necessidades educativas fundamentais, incluindo o desenvolvimento de valores e atitudes essenciais para viver e trabalhar com dignidade. 

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) do Brasil reforçam essa perspectiva, afirmando que a educação deve contemplar não apenas conteúdos conceituais, mas também procedimentais e atitudinais. A educação ética deve, portanto, ser integrada ao currículo escolar, promovendo o “saber”, o “saber ser” e o “saber viver juntos”. A escola deve ser um espaço de formação integral, onde os alunos aprendam a refletir criticamente sobre os valores e normas que orientam suas ações, desenvolvendo uma consciência ética que guie seu comportamento em diferentes contextos (BRASIL, 1997). 

A formação ética na escola básica deve, portanto, abordar as rápidas transformações sociais e tecnológicas, preparando os indivíduos para serem cidadãos críticos, responsáveis e solidários. A escola deve promover a reflexão ética e a ação cidadã, garantindo que os alunos não apenas compreendam os valores que orientam a conduta humana, mas também saibam aplicá-los de maneira consciente e responsável em suas vidas. 

Considerações Finais 

A investigação sobre a ética e a moral no contexto da educação básica revela a urgência de uma formação integral que prepare os indivíduos para enfrentar os desafios éticos da sociedade contemporânea. A escola, como instituição central na formação de cidadãos, deve não apenas transmitir conhecimentos técnicos e culturais, mas também promover uma educação ética que fomente a reflexão crítica e a ação consciente. 

A axiologia e a teoria dos valores nos ajudam a entender a complexidade dos princípios que orientam a conduta humana. Os valores, herdados culturalmente, mobilizam nossas ações e reações, sendo essenciais na formação de uma moralidade vivida e refletida. A ética, como filosofia da moral, oferece uma análise crítica dessas normas e valores, buscando uma compreensão universal dos princípios que regem a conduta humana. 

No contexto das relações sociais, a moralidade é uma construção histórica e cultural, variando conforme as condições sociais e econômicas. A escola deve ser capaz de adaptar-se a essas mudanças, promovendo uma educação que prepare os indivíduos para serem cidadãos críticos e responsáveis. A ética deve ser integrada ao currículo escolar, promovendo o desenvolvimento de competências e habilidades que capacitem os alunos a agir eticamente em diversas situações. 

As rápidas transformações sociais e tecnológicas impõem novos desafios à educação. A escola deve estar apta a oferecer uma educação contextualizada, que prepare os alunos para enfrentar as demandas do mundo moderno com uma postura solidária e cidadã. A Declaração Mundial sobre Educação para Todos e a Constituição Brasileira de 1988 reforçam a importância de uma educação que promova a dignidade humana, a solidariedade e a justiça social. 

A formação ética na educação básica deve, portanto, ser um processo contínuo e integrado, que contemple não apenas os conteúdos conceituais, mas também os procedimentais e atitudinais. A escola deve ser um espaço de formação integral, onde os alunos aprendam a refletir criticamente sobre os valores e normas que orientam suas ações, desenvolvendo uma consciência ética que guie seu comportamento em diferentes contextos. 

Referências 

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Martin Claret, 2011. 

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. 

Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais. Brasília: MEC/SEF, 1997. DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. 

MORENTE, Manuel Garcia. Fundamentos de filosofia; lições preliminares. 2.ed. São Paulo, Mestre Jou, 1966.

UNESCO. Educação: Um Tesouro a Descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 1996.