FERRAMENTAS DE GESTÃO EMPREGADAS EM UM LABORATÓRIO DE ANÁLISES DE EFLUENTES SOB UMA ABORDAGEM CRÍTICA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12676429


Damázio Daniel de Lima Santos;
Silvia Pereira da Silva Santos.


RESUMO

Este artigo apresenta uma pesquisa-ação realizada com o objetivo de diagnosticar as ferramentas de gestão utilizadas por um laboratório de análises de efluentes, localizado no Rio de Janeiro-RJ. A pesquisa revelou que o laboratório utilizava apenas duas ferramentas de qualidade em seus processos: 5W1H e cartas de controle. No entanto, essas ferramentas não foram eficazes na identificação das causas-raiz dos problemas. No emprego da técnica de brainstorming identificou-se falhas de gestão, como a ausência de Material de Referência Certificado (MRC), além da falta de padrões de verificação. A matriz de GUT priorizou a solução das falhas no uso de MRCs. Durante a aplicação da metodologia de análise e solução de problemas (MASP), outra ferramenta de gestão foi proposta, os “5 porquês”, para encontrar as causas-raiz dos problemas na elaboração do plano de ação. Na etapa de execução do plano de ação, foi recomendada a utilização de CheckList como solução potencial para os problemas identificados. As ferramentas de gestão propostas mostraram-se viáveis para aplicação em processos similares aos do laboratório estudado.

Palavras-chave: Ferramentas da Qualidade; MASP; Análise de Efluentes.

ABSTRACT

In this work, an action research was conducted to diagnose the management tools of a wastewater analysis laboratory, located in Rio de Janeiro-RJ. The action research demonstrated that the laboratory utilized only two quality tools in its processes, the 5W1H and control charts, and that their applications had not been able to identify the root causes of the problems occurring up to the completion of this work. The brainstorming technique revealed management failures, such as: i) the lack of Certified Reference Material (CRM); and ii) the lack of verification standards. Despite this, the GUT matrix indicated that the highest priority for resolution was the failures in the use of CRMs. During the use of QC Story, another management tool was proposed in addition to the GUT matrix, the “5 Whys”, which aided in finding the root causes of problems during the action plan development. Finally, in the execution phase of the Quality Control Story action plan, the use of a CheckList tool was also recommended as a potential solution to the problems identified in the laboratory. The management tools proved viable for application in the processes of others facing similar issues as the studied laboratory.

keywords: Quality tools; Quality Control Story; Effluent Analysis.

INTRODUÇÃO

A confiança que um cliente adquire ao obter bens e serviços conforme especificado pelo fornecedor pode ser resultado de uma organização que possui um Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) implementado. Assim, essas organizações buscam a melhoria contínua por meio de uma estrutura que gerencia questões específicas, coordenando suas diferentes áreas inter-relacionadas para atingir um objetivo definido (ABNT, 2015).

Organizações que almejam um melhor posicionamento no mercado devem utilizar com eficiência os recursos e insumos disponíveis, além de mitigar a geração de resíduos decorrentes de seus processos operacionais. Os laboratórios ambientais estão inseridos nesse contexto, buscando consolidar seus sistemas de gestão e aumentar sua visibilidade no mercado. Prestar serviços e atender a clientes de mercados cada vez mais exigentes é essencial para que essas organizações comprovem sua capacidade de garantir e manter as características de seus produtos e serviços (Gerônimo et al., 2020; Souza, 2012).

Por terem a finalidade de identificar e quantificar substâncias nocivas à saúde e ao meio ambiente, os laboratórios ambientais desempenham um papel importante na sociedade. Há uma responsabilidade implicada na emissão de resultados ou relatórios, que depende da capacitação técnico-científica dos envolvidos na geração desses dados. A ausência de uma gestão da qualidade implementada e consolidada em laboratórios pode resultar em análises com elevadas incertezas e resultados insatisfatórios, o que é indesejável (Gerônimo et al., 2020).

No estado do Rio de Janeiro, conforme regulação do Instituto Estadual do Ambiente (INEA), aplica-se aos laboratórios ambientais a norma operacional NOP-03. De acordo com essa norma, as amostras de águas e efluentes terão seus resultados aceitos apenas quando analisadas pelo laboratório próprio do INEA ou por laboratórios (públicos ou privados) credenciados pelo órgão (INEA, 2023). Esta norma está em consonância com a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) nº 430/2011, que dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes, e estabelece que:

Art. 26. Os ensaios deverão ser realizados por laboratórios acreditados pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia-INMETRO ou por outro organismo signatário do mesmo acordo de cooperação mútua do qual o INMETRO faça parte ou em laboratórios aceitos pelo órgão ambiental competente. § 1° Os laboratórios deverão ter sistema de controle de qualidade analítica implementado. § 2°Os laudos analíticos referentes a ensaios laboratoriais de efluentes e de corpos receptores devem ser assinados por profissional legalmente habilitado (grifo nosso) (CONAMA, 2011).

Adicionalmente, a Norma ABNT NBR ISO/IEC 17025:2017 contém requisitos específicos tanto para o sistema de gestão da qualidade do laboratório quanto para requisitos técnicos, visando garantir a confiabilidade dos resultados analíticos. Para tanto, exige-se a aplicação de métodos e procedimentos normalizados ou validados, a utilização de parâmetros de validação para verificação do desempenho dos métodos, o uso regular de materiais de referência, a participação em ensaios de proficiência, entre outras ações necessárias para assegurar a qualidade das medições (ABNT, 2017; Rodrigues et al., 2022).

A adoção de normas internacionais, como a ISO/IEC 17025, alinhada à aplicação das ferramentas básicas da qualidade, tem permitido o aperfeiçoamento dos processos de produção e prestação de serviços no Brasil (De Oliveira et al., 2019). Portanto, tratar anormalidades é uma das principais funcionalidades dessas normas nas organizações, sendo essencial para identificar e corrigir desvios que comprometem a qualidade dos processos de um laboratório ambiental.

Neste trabalho, busca-se diagnosticar as ferramentas de gestão utilizadas nos processos de um laboratório de análises de efluentes.

METODOLOGIA DE PESQUISA

Classificação da Pesquisa

Esta pesquisa é de natureza aplicada, pois busca gerar novos conhecimentos a partir de uma aplicação prática, visando objetivos reais e de interesses locais e específicos. Caracteriza-se como exploratória, pois tem como objetivo analisar as ferramentas de gestão da qualidade utilizadas em um laboratório ambiental de análise de efluentes, a fim de propor soluções para problemas que possam interferir no seu desempenho e resultados. Para essa finalidade, foi realizada uma pesquisa-ação. Em uma pesquisa-ação, os pesquisadores, ao investigar um problema, sugerem possíveis soluções de modo a melhorar o uso prático, ampliar o conhecimento sobre as questões em estudo e seu impacto na qualidade e produtividade do trabalho desenvolvido por um grupo ou instituição.

A pesquisa foi realizada em duas etapas. Na primeira, foi determinado o laboratório que seria objeto da pesquisa-ação. Na segunda, foi proposto o método MASP, com o auxílio das ferramentas da qualidade, para identificar e solucionar os problemas encontrados a partir das informações obtidas no laboratório.

Levantamento de Dados

Para este fim, utilizou-se uma base de dados reais de uma empresa. A pesquisa foi do tipo participante, pois houve aplicação de ferramentas e técnicas da qualidade na cidade do Rio de Janeiro – RJ, em um período delimitado de 6 meses, iniciado em fevereiro de 2023 e finalizado em agosto de 2023.

O estudo foi conduzido em um laboratório de análises de efluentes que, apesar de não possuir certificação do sistema da qualidade, é submetido periodicamente a vistorias baseadas nos requisitos das normas NBR ISO 14001:2015 e ISO/IEC 17025:2017, com o objetivo de verificar suas conformidades e condições operacionais para credenciamento pelo Instituto Estadual do Ambiente – RJ (INEA). Para manter o anonimato, o laboratório pesquisado foi identificado como “LAB”.

MASP – Método de Análise e Solução de Problemas

Aplicou-se no Laboratório LAB o Método de Análise e Solução de Problemas – MASP, com o objetivo de adotar ferramentas da qualidade ou aprimorar aquelas já em uso.

O MASP é um processo sistemático originado no Japão, desenvolvido pela JUSE (Union of Japanese Scientists and Engineers), também conhecido como QC Story. Foi criado para auxiliar na identificação, solução e monitoramento de problemas, com o propósito de eliminar a recorrência de problemas através de ações de melhoria contínua.

O MASP está distribuído dentro do ciclo PDCA e divide-se em oito etapas: 1) Identificação do problema; 2) Observação; 3) Análise; 4) Plano de Ação; 5) Ação; 6) Verificação; 7) Padronização; e 8) Conclusão. O Ciclo PDCA (Planejar, Desenvolver, Controlar e Ajustar) visa promover a melhoria contínua, facilitando a tomada de decisões através de suas quatro etapas: P (Plan), D (Do), C (Check), A (Act).

Neste trabalho, devido à limitação de tempo, foram desenvolvidas apenas as etapas 1 a 5 do MASP: 1) Identificação do Problema; 2) Observação do Problema; 3) Análise das Causas; 4) Plano de Ação; e 5) Execução do Plano de Ação.

Etapa 1 – Identificação dos Problemas

A ferramenta brainstorming foi utilizada para identificar os principais problemas do laboratório LAB, e a matriz GUT foi empregada para priorizar esses problemas, sob a ótica da equipe do laboratório. Para isso, foi realizada uma única reunião com toda a equipe do laboratório, considerando o tempo disponibilizado pelos integrantes e o prazo curto para a finalização deste trabalho. A partir dessa reunião, os problemas foram priorizados conforme sua gravidade, urgência e tendência, utilizando a matriz GUT.

Etapa 2 – Observação dos Problemas

A observação dos problemas foi realizada através da leitura dos procedimentos, formulários e registros aos quais o autor teve acesso. Os registros disponibilizados eram referentes ao ano de 2023, e optou-se por não interferir nas atividades ou fazer quaisquer comentários durante a observação dos problemas.

Etapa 3 – Análise das Causas

Após a observação e registro dos problemas, seguiu-se a análise das causas com o objetivo de compreender sua origem. Utilizou-se a ferramenta dos “cinco porquês” para cada um dos problemas identificados.

Etapa 4 – Elaboração do Plano de Ação

Após a análise das causas, elaborou-se um plano para solucionar os problemas, definindo as ações necessárias para reduzir ou eliminar as causas dos problemas no laboratório LAB.

Etapa 5 – Execução do Plano de Ação

Concluída a elaboração do plano de ação, foram executadas as ações destinadas a reduzir ou eliminar as causas dos problemas no laboratório LAB.

APLICAÇÃO DO MASP

O MASP foi aplicado nos processos do laboratório de análise de efluentes para verificar as possíveis ferramentas da qualidade que poderiam ser utilizadas na resolução dos problemas identificados no LAB.

Identificação dos Problemas

A ferramenta brainstorming foi utilizada para identificar os principais problemas do laboratório LAB, sob a perspectiva da equipe do laboratório. O Quadro 1, a seguir, apresenta os principais problemas identificados.

Quadro 1 – Relação de Problemas Identificados durante o Brainstorming no LAB.

PROBLEMAS RELATADOS
Resultados dos MRC com falhas nos ensaios de DBO e DQO.
Falta de MRC na realização dos ensaios de Fósforo Total, MBAS, Índice de Fenóis, Óleos e Graxas, SST e Sólidos Sedimentáveis.
Falta de padrões de verificação para os ensaios de pH e Condutividade elétrica.

Mediante os problemas identificados, a equipe do LAB deu uma nota variando de 1 a 5, conforme a sua gravidade, urgência e tendência. Dessa forma, utilizando-se a matriz de GUT apresentada na Tabela 1, a seguir, chegou-se à priorização em que seriam tratados os problemas.

Tabela 1 – Matriz de GUT dos Problemas do LAB.

PROBLEMAS RELATADOS PELA EQUIPE DO LABGRAVIDADEURGÊNCIATENDÊNCIATOTAL
BQT1T2BQT1T2BQT1T2
Resultados dos MRC com falhas nos ensaios de DBO e DQO.44444433333342
Falta de MRC na realização dos ensaios de Fósforo Total, MBAS, Índice de Fenóis, Óleos e Graxas, SST e Sólidos Sedimentáveis.44333333221132
Falta de padrões de verificação para os ensaios de pH e Condutividade elétrica.45441122111127
Nota: B = Biólogo, Q = Químico, T1 = Técnico em Química 1, T2 = Técnico em Química 2.

Foram relatados pela equipe do LAB os problemas listados e identificados na reunião de brainstorming como os que mais afetavam a qualidade e o prazo das atividades desenvolvidas no LAB. A priorização, fruto da matriz de GUT, definiu quais problemas deveriam ser avaliados e resolvidos por ordem decrescente, isto é, do maior para o menor problema. Na literatura foram encontrados registros da aplicação da matriz de GUT em laboratórios de controle de qualidade e em laboratórios de análises clínicas com resultados que otimizaram os processos envolvidos, especialmente na priorização das ações corretivas (Cruz, 2023; Lima, 2023).

Observação dos Problemas

As fontes de observação dos problemas que esse autor teve acesso foram os procedimentos, formulários e registros do ano 2023 do LAB. Os resultados dos MRC com falhas nos ensaios de DBO e DQO foram os problemas observados por esse autor, uma vez que a matriz de GUT indicou-os como sendo os de maior pontuação e, portanto, de priorização para se solucionar. Os demais problemas – a falta de MRC na realização dos ensaios de Fósforo Total, MBAS, Índice de Fenóis, Óleos e Graxas, SST e Sólidos Sedimentáveis, e a falta de padrões de verificação para os ensaios de pH e Condutividade elétrica – apesar de possuírem uma pontuação considerável, não foram estudados nesse trabalho, devido ao investimento de tempo que possivelmente seria empregado neles, pela quantidade de ensaios a ser abordada.

O LAB detinha procedimentos e formulários inerentes a sua rotina de atividades, contemplando: amostragem, armazenagem das amostras, validação de métodos, realização dos ensaios, utilização dos equipamentos, preparo de soluções, lavagem de vidrarias e descarte de resíduos.

Foram observados que o LAB detinha todos os seus procedimentos e formulários, inerentes a sua rotina de atividades, aprovados e válidos, e que todos os colaboradores envolvidos estavam treinados para a realização das tarefas.

Adicionalmente, os documentos disponíveis demonstraram que a empresa, onde o laboratório LAB está instalado, é certificada na NBR ISO 14001, desde 2015 e última certificação em 2023. Sendo assim, foi também disponibilizado o Manual do Sistema de Gestão Ambiental (SGA) para consulta a esse autor.

A ISO 14001 é uma norma que estabelece os requisitos da implementação e operação de um sistema de gestão ambiental (ABNT, 2015). Todos os procedimentos e formulários que foram encontrados no LAB estavam submetidos ao SGA implementado pela alta direção da empresa.

Em relação às falhas nos resultados dos MRC dos ensaios de DBO e DQO citadas nesse trabalho, foram possíveis de evidenciá-las nas cartas (gráficos) de controle registradas pelos Técnicos do Laboratório. Os registros das cartas de controle estavam elaborados no software Microsoft Excel®, e são apresentados nas Figuras 1 e 2.

Figura 1 – Carta de Controle de MRC de DBO 1000 mg/L.

Na Carta de Controle de DBO 1000 mg/L (Figura 1) observa-se que os resultados do MRC estão predominantemente acima do Limite Superior de Controle (LSC). Ao se verificar o certificado (fornecido pelo fabricante) do lote utilizado pelo LAB, observou-se a concentração de 1000 ± 31 mg/L. Os resultados encontrados na Carta de Controle de DBO 1000 mg/L variavam de 1303 a 918 mg/L com desvio padrão de 198 mg/L. Os Limites de Alerta, superior e inferior, adotados pelo LAB foram de dois desvios padrão (2 s) para mais e para menos, respectivamente. Porém, os Limites de Controle, superior e inferior, adotados pelo LAB foram de 3 desvios padrão (3 s) para mais e para menos, respectivamente.

Figura 2 – Carta de Controle de MRC de DQO 1000 mg/L.

Entretanto, na Carta de Controle de DQO 1000 mg/L (Figura 2) observa-se que, com exceção dos seis primeiros pontos, os outros resultados do MRC estão abaixo do Limite Inferior de Controle (LIC). Ao se verificar o certificado (fornecido pelo fabricante) do lote utilizado pelo LAB, observou-se a concentração de 998 ± 11 mg/L. Os resultados encontrados na Carta de Controle de DQO 1000 mg/L variavam de 1037 a 384 mg/L com desvio padrão de 99 mg/L. Da mesma forma que na DBO, os Limites de Alerta, superior e inferior, adotados pelo LAB foram de dois desvios padrão (2 s) para mais e para menos, respectivamente. No entanto, os Limites de Controle, superior e inferior, adotados pelo LAB foram de 3 desvios padrão (3 s) para mais e para menos, respectivamente.

As ferramentas da qualidade encontradas em uso pelo LAB foram 5W1H e cartas de controle. Segundo as informações colhidas, durante esse trabalho, com os responsáveis pelo LAB, o uso do 5W1H se devia ao tratamento (investigação) dado às não conformidades que eram identificadas na empresa e, por isso, aplicava-se essa ferramenta aos requisitos não conformes que porventura existissem no LAB.

Entretanto, a utilização das cartas de controle no LAB se dava pela necessidade de se atender ao NOP-03 do INEA, especialmente pelo acompanhamento da qualidade dos ensaios, através do uso dos MRC. Oliveira da Silva et al (2022) aplicaram cartas (gráficos) de controle para monitorar pH, DBO, DQO, Sólidos Suspensos Totais e Fósforo Total em uma ETE e verificaram que o uso dessa ferramenta é eficiente para detectar qualquer instabilidade nos resultados.

Análise das Causas

Após a etapa das observações e registros dos problemas, seguiu-se a análise das causas dos problemas, com o intuito de se compreender a sua origem e oferecer mais ferramentas para o bom funcionamento do laboratório de análises de efluentes.

Neste ponto, foram consideradas todas as informações repassadas durante o brainstorming pelos funcionários do LAB, sob a perspectiva das causas que teriam impacto sobre o que foi constatado como problema.

De maneira a se encontrar as causas raízes, utilizou-se a ferramenta dos “5 porquês”, de maneira a facilitar a elaboração do plano de ação. As investigações das causas dos problemas estão descritas nos Quadros 2 e 3.

Quadro 2 – Aplicação da Ferramenta dos 5 porquês para os resultados dos MRC com falhas nos ensaios de DBO.

PROBLEMAOs resultados obtidos do MRC de DBO estão com falhas
Por que?Os resultados estão acima do Limite Superior na Carta de Controle
Por que?Havia presença de bolha de ar no momento da leitura com a sonda de oxigênio dissolvidoA incubadora de DBO apresentava variação de temperatura superior a 1°C
Por que?Os Técnicos em Química não agitavam a sonda de oxigênio dissolvido para dispersar a bolha de arO local onde a incubadora estava, apresentava temperatura ambiente superior ao recomendado pelo fabricante do equipamento, especialmente nos finais de semana
Por que?Os Técnicos em Química desconheciam observar se havia bolha de ar na sonda de oxigênio dissolvidoNão havia um sistema de refrigeração automatizado no local aos finais de semana
Por que?Não estava escrito no procedimento de determinação da DBO para se verificar a presença de bolha de ar na sonda de oxigênio dissolvido e como dispersá-laA refrigeração no local ficava a cargo de aparelhos de ar condicionado de janela com ligação manual e sem programador
Enumeração das causas raiz12

Quadro 3 – Aplicação da Ferramenta dos 5 porquês para os resultados dos MRC com falhas nos ensaios de DQO.

PROBLEMAOs resultados obtidos do MRC de DQO estão com falhas
Por que?Os resultados estavam abaixo do Limite Inferior na Carta de Controle
Por que?A quantidade de MRC transferido estava menor do que o descrito no procedimentoHavia formação de fungos no frasco de armazenamento do MRC
Por que?Havia formação de bolsas de ar na micropipeta utilizada para transferência da alíquota do MRC para a cubeta de DQOA ponteira utilizada na micropipeta estava vazandoO MRC foi contaminado
Por que?A micropipeta estava com problemaO encaixe na micropipeta não estava ajustadoOs Técnicos em Química transferiam a alíquota, pipetando diretamente do frasco com o MRC
Por que?A má qualidade da micropipetaNão estava escrito no procedimento de determinação da DQO para se separar previamente uma fração do MRC em um recipiente limpo e dali retirar a alíquota para o ensaio
Por que?A compra do material mais barato e sem procedência de qualidade
Enumeração das causas raiz34

Elaboração do Plano de Ação

Após a etapa 3 – análise das causas –, ou seja, de avaliação dos problemas, elaborou-se um caminho a ser percorrido para solucioná-los, definindo as ações a serem tomadas para a redução ou eliminação das causas dos problemas do laboratório LAB. A importância de se criar um plano de ação se dá porque nele se desenvolve os alvos para ataque às causas raiz e que irão levar aos objetivos requeridos para esse fim. A estratégia do plano de ação envolveu toda a equipe do laboratório, de maneira a se facilitar o desenvolvimento das ações, delegando um responsável por cada ação e a melhor distribuição das atividades. Também, nesse momento, foram estabelecidos prazos e metas para cada solução, resumidos nos Quadros 4 e 5, a seguir.

Quadro 4 – Planejamento para redução das falhas nos resultados dos MRC nos ensaios de DBO.

CAUSAS-RAIZCONTRAMEDIDASQUEMPRAZO
1) Falta de verificação do estado da membrana do sensor de oxigênio dissolvidoCriar checklist para utilização do MRC do ensaio de DBOBiólogo11/2023
Criar plano de manutenção periódica para medidor de oxigênio de bancada, sensor e membranaQuímico12/2023
Revisar POP de operação do medidor de oxigênio de bancadaTécnico em Química 112/2023
Revisar POP do ensaio de DBOTécnico em Química 212/2023
2) Falta de sistema de refrigeração adequado ao laboratórioRevisar POP de monitoramento das condições ambientais do LABTécnico em Química 112/2023
Adquirir um sistema de ar condicionado que possa ser programado para ligar e desligarAlta Direção08/2024

Quadro 5 – Planejamento para redução das falhas nos resultados dos MRC nos ensaios de DQO.

CAUSAS-RAIZCONTRAMEDIDASQUEMPRAZO
3) Procedência de micropipetas de baixa qualidadeCriar POP de aquisição de reagentes, equipamentos e materiaisTécnico em Química 212/2023
Realizar benchmarking para aquisição de reagentes, equipamentos e materiaisQuímico02/2024
Mapear processo de aquisição de reagentes, equipamentos e materiaisQuímico04/2024
4) Falta de se separar previamente uma fração do MRC em um recipiente limpo antes do ensaioCriar checklist para utilização do MRC do ensaio de DQOBiólogo11/2023
Revisar POP do ensaio de DQOTécnico em Química 212/2023
Execução do Plano de Ação

Finalizada a etapa 4 – de elaboração do plano de ação – foram apresentadas parte das ações para a redução ou eliminação das causas dos problemas do laboratório LAB, por meio da ferramenta CheckList (Folha de Verificação), conforme os Quadros 6 e 7, a seguir.

Um estudo realizado por Peng, Li e Zhou (2019), a partir dos dados de segurança dos laboratórios da Southwest University, localizada na China, coletados por meio de uma lista de verificação de segurança, propôs um novo método para avaliar o gerenciamento de segurança laboratorial, baseado em aprendizado de máquina, buscando abordar as deficiências dos métodos tradicionais de avaliação de segurança laboratorial, abrangendo baixa precisão, grande influência de fatores humanos e falta de um sistema de avaliação unificado.

Sugeriu-se ao responsável técnico do laboratório a utilização do questionário para o Técnico em Química responder “Sim” ou “Não” a cada uma das perguntas, antes de realizar os ensaios de DBO e de DQO, em destaque com a utilização do MRC. Caso a resposta fosse “Não” para qualquer uma das perguntas, o ensaio, incluindo o com uso do MRC não deveria ser realizado, até que todos os requisitos (as perguntas) fossem respondidos com “Sim”.

Quadro 6 – Checklist para o ensaio de DBO no LAB.

PERGUNTASRESPOSTAS
SIMNÃO
Você é treinado para realizar o ensaio com esse MRC?  
O MRC está armazenado conforme informado na sua embalagem ou no seu certificado de análise?  
O MRC está na sua embalagem original?  
A quantidade do MRC é suficiente para o ensaio?  
Você separou todo o material necessário para a realização do ensaio com MRC?  
A pipeta ou a ponteira que você utilizará está limpa, seca e sem vazamento?  
Há um frasco limpo e seco para você transferir uma fração do MRC e retirar dali uma alíquota para o ensaio?  
A incubadora de DBO está ligada?  
A temperatura da incubadora de DBO está programada a 20°C?  
A temperatura local está adequada para o funcionamento da incubadora de DBO?  
O medidor de oxigênio de bancada está funcionando?  
A membrana do medidor de oxigênio está íntegra?  
Caso haja formação de bolhas de ar na superfície da membrana do sensor de oxigênio durante a leitura dos frascos de DBO, você está ciente de que será necessário agitar a membrana para dispersar as bolhas, até que a leitura se estabilize?  

Quadro 7 – Checklist para o ensaio de DQO no LAB.

PERGUNTASRESPOSTAS
SIMNÃO
Você é treinado para realizar o ensaio com esse MRC?  
O MRC está armazenado conforme informado na sua embalagem ou no seu certificado de análise?  
O MRC está na sua embalagem original?  
A quantidade do MRC é suficiente para o ensaio?  
Você separou todo o material necessário para a realização do ensaio com MRC?  
A pipeta ou a ponteira que você utilizará está limpa, seca e sem vazamento?  
Há um frasco limpo e seco para você transferir uma fração do MRC e retirar dali uma alíquota para o ensaio?  
O bloco digestor está ligado a 150 °C?  
O bloco digestor está programado para 2 horas?  
A quantidade de cubetas é suficiente para a realização do ensaio?  
Caso falte energia elétrica, você está ciente de que será necessário religar e reprogramar o bloco digestor?  

A maioria das ações requeridas foram simples e com custo baixo para execução, pois seriam utilizados e aproveitados recursos internos da organização, adicionalmente envolveria a criação e padronização de novos processos das atividades do LAB.

Nos Quadros 8 e 9 estão apresentados os estratos da execução do plano de ação proposto ao LAB.

Quadro 8 – Status das ações para se reduzir as falhas nos resultados dos MRC nos ensaios de DBO.

CAUSAS-RAIZCONTRAMEDIDASQUEMPRAZOPOSIÇÃO
1) Falta de verificação do estado da membrana do sensor de oxigênio dissolvidoCriar checklist para utilização do MRC do ensaio de DBOQuímico11/2023CONCLUÍDO
Criar plano de manutenção periódica para medidor de oxigênio de bancada, sensor e membranaQuímico12/2023NÃO INICIADO
Revisar POP de operação do medidor de oxigênio de bancadaTécnico em Química 112/2023EM ANDAMENTO
Revisar POP do ensaio de DBOTécnico em Química 212/2023NÃO INICIADO
2) Falta de sistema de refrigeração adequado ao laboratórioRevisar POP de monitoramento das condições ambientais do LABTécnico em Química 112/2023EM ANDAMENTO
Adquirir um sistema de ar condicionado que possa ser programado para ligar e desligarAlta Direção08/2024NÃO INICIADO

Quadro 9 – Status das ações para se reduzir as falhas nos resultados dos MRC nos ensaios de DQO.

CAUSAS-RAIZCONTRAMEDIDASQUEMPRAZOPOSIÇÃO
3) Procedência de micropipetas de baixa qualidadeCriar POP de aquisição de reagentes, equipamentos e materiaisTécnico em Química 212/2023NÃO INICIADO
Realizar benchmarking para aquisição de reagentes, equipamentos e materiaisQuímico02/2024EM ANDAMENTO
Mapear processo de aquisição de reagentes, equipamentos e materiaisQuímico04/2024NÃO INICIADO
4) Falta de se separar previamente uma fração do MRC em um recipiente limpo antes do ensaioCriar checklist para utilização do MRC do ensaio de DQOBiólogo11/2023CONCLUÍDO
Revisar POP do ensaio de DQOTécnico em Química 212/2023EM ANDAMENTO

Observa-se que, até a finalização desse estudo, a implementação da maioria das ações não havia sido iniciada. As informações a que esse autor teve acesso, através da equipe do LAB, foi a de que devido a uma falha no sistema informatizado da empresa, muitos projetos estavam em atraso e que a organização estava priorizando os dos seus processos fabris e os diretamente ligados a esses, como por exemplo, os dos laboratórios de controle de qualidade de matéria-prima e de produto acabado.

CONCLUSÕES

Nesse trabalho foram analisadas as ferramentas de gestão da qualidade utilizadas em um laboratório de análise de efluentes instalado em uma indústria, na cidade do Rio de Janeiro-RJ. Para isso, os documentos concernentes ao laboratório, denominado LAB, foram disponibilizados pela empresa e foram objeto da pesquisa-ação.

Baseando-se nos resultados apresentados, verificou-se que o laboratório aplicava somente duas ferramentas da qualidade em seus processos, 5W1H e cartas de controle, e suas aplicações não haviam sido capazes, até a realização desse trabalho, de identificar as causas raiz de alguns problemas que estavam ocorrendo nos ensaios, especialmente os com uso de MRC na DBO e na DQO.

Visando a melhoria dos processos do LAB, até a etapa de execução do plano de ação, o MASP foi utilizado para identificação, solução e monitoramento das falhas nos resultados dos MRC nos ensaios de DBO e DQO. Seu propósito foi de eliminar a possibilidade desses problemas se repetirem. Sendo assim, aplicou-se nesse trabalho as seguintes ferramentas da qualidade: brainstorming, matriz de GUT, “5 porquês” e Checklist, que se mostraram potenciais para solucionar as necessidades do LAB frente aos problemas que foram abordados.

Referências

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______. ABNT NBR ISO 14001:2015: sistemas de gestão ambiental – requisitos com orientações para uso. Rio de Janeiro: ABNT; 2015.

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______. Disponível em: <https://www.abnt.org.br/>. Acesso em: 22 out. 2023.

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