CONSERVAÇÃO E REÚSO DE ÁGUA EM INDÚSTRIA COSMÉTICA – ESTUDO DE CASO BELA E CHIC INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE COSMÉTICOS ESPECIAIS LTDA.

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11488740


Marcela de Souza Pereira 1
Jéssica Ezidoro dos Santos 2
Daniel Rosa da Silva 3
Douglas Batista da Silva 4
Vicente Antonio de Senna Junior 5
Leonardo Guimarães de Andrade 6


RESUMO

A água é uma substância vital presente na natureza, é parte essencial de todas as matérias do ambiente natural ou antrópico. O consumo de água no mundo gera grandes debates na atualidade. Em uma média total, a maior parte da utilização da água é realizada pela irrigação, que detém 49,8% do consumo; seguida pelo Humano urbano, que detém 24,3% do consumo; seguida pela indústria, que detém 9,7%; uso animal 8,4%; termelétricas 4,5%; mineração 1,7% e humano rural com 1,6%. Por razões econômicas, estruturais e sociais, países desenvolvidos consomem muito mais água do que os subdesenvolvidos, tanto em práticas econômicas quanto em uso direto individual, o que revela as grandes desigualdades econômicas e sociais existem ao redor do globo. A medida que alguns países promovem uma relativa melhoria em suas economias e em suas estruturas sociais, o consumo de água se acentua, o que eleva a média global. Em um planeta com aproximadamente 8 bilhões de habitantes, 26% da população global não têm acesso a água potável, ou 2 bilhões de pessoas. Cerca de 46% dos habitantes do planeta não possuem serviços de saneamento seguro, o que equivale a 3,6 bilhões. (Organização das Nações Unidas – Conferência da ONU sobre a água). A crise hídrica, além de ser global, também tem alcançado os limites brasileiros. Apesar de ser um dos países com um dos maiores volumes de água do Planeta, a distribuição hídrica possui natureza desigual e sofre impactos das mudanças climáticas e do aumento dos múltiplos usos. Tendo em vista dados preocupantes em relação ao consumo e acesso à água potável, este trabalho tem o objetivo de apresentar um estudo de caso mostrando técnicas utilizadas na conservação e reúso de água no seguimento industrial de fabricação de cosméticos na Bela e Chic Indústria e Comércio de Cosméticos Especiais LTDA. O reúso da água, praticado individualmente pelas indústrias é de primordial relevância, considerando a qualidade e quantidades necessárias para seus processos de produção. A água é fundamental para o desenvolvimento econômico, social e ambiental, e o aumento da demanda por água tem gerado conflitos em diversas regiões do mundo. Dessa forma, é um desafio garantir água para o abastecimento humano e para a manutenção dos ecossistemas, para gerações presentes e futuras, especialmente em um cenário de crise hídrica que acirra disputas e ocasiona conflitos pelo seu acesso e uso.

Palavras chave: Reúso da água – Cosméticos – Indústria – Meio Ambiente – Conservação.

ABSTRACT

Walter is a vital substance present in nature, it is an essential part of all materials in the natural or anthropic environment. Water consumption in the world currently generates major debates. On a total average, the majority of water use is carried out by irrigation, which accounts for 49.8% of consumption; followed by Urban Human, which holds 24.3% of consumption; followed by industry, which holds 9.7%; animal use 8.4%; hermoelectric plants 4.5%; mining 1.7% and rural human with 1.6%. For economic, structural and social reasons, developed countries consume much more water than underdeveloped countries, both in economic practices and in direct individual use, which reveals the great economic and social inequalities that exist around the globe. As some countries promote a relative improvement in their economies and social structures, water consumption increases, which increases the global average. On a planet with approximately 8 billion inhabitants, 26% of the global population do not have access to clean water, or 2 billion people. Around 46% of the planet’s inhabitants do not have safe sanitation services, which is equivalent to 3.6 billion. (United Nations – UN Conference on water).
The water crisis, in addition to being global, has also reached Brazilian limits. Despite being one of the countries with one of the largest volumes of water on the Planet, water distribution is uneven in nature and is impacted by climate change and the increase in multiple uses. In view of worrying data regarding consumption and access to drinking water, this work aims to present a case study showing techniques used in the conservation and reuse of water in the industrial segment of cosmetics manufacturing in Bela e Chic Indústria e Comércio de Cosméticos
Especiais LTDA. The reuse of water, practiced individually by industries, is of primary relevance, considering the quality and quantities required for their production processes. Water is fundamental for economic, social and environmental development, and the increase in demand for water has generated conflicts in different regions of the world. Therefore, it is a challenge to guarantee water for human supply and for the maintenance of cosystems, for present and future generations, especially in a scenario of water crisis that intensifies disputes and causes conflicts over its access and use.

Keywords: Water reuse – Cosmetics – Industry – Environment – Conservation.

1 INTRODUÇÃO

Sustentabilidade e redução do impacto ambiental são as palavras mais faladas nos últimos anos, isso não quer dizer que são as mais praticadas. De acordo com um relatório emitido pela Organização das Nações Unidas (ONU) em março de 2023 no Dia Mundial da Água “Alerta para o risco eminente de uma crise global de escassez do recurso água, devido ao consumo excessivo e as mudanças climáticas”. Com isso pode se dizer que todas as relações entre homem e natureza tornam-se fatores importantes, pois a utilização do recurso água, não devem alterar as condições de equilíbrio ambiental no planeta.

A desigualdade no acesso à água fortalece a desigualdade social, sobretudo das populações pobres. Em geral, as cidades revelam as contradições e desigualdades sociais, com serviços garantidos a classes de maior renda e a precariedade de infraestrutura, falta de água potável, sujeição a inundações das populações em situação de vulnerabilidade social (SOARES; VIANA, 2022, p. 5).

A gestão dos recursos hídricos tem um grande desafio, equilibrar a necessidade dos usuários e a disponibilidade de água, surge assim a conservação e o reúso da água, atuando em dois aspectos importantes: instrumento para redução do consumo de água e recurso hídrico complementar.

São atribuições do farmacêutico a análise e o controle da qualidade de águas minerais e residuárias, para uso e consumo humano em todas as suas formas e padrão de potabilidade, bem como o controle de operação das estações de tratamento de água (ETA) e esgotos industriais. Coleta de amostras, análises físico-químicas e microbiológicas através de metodologia específica; e emissão e assinatura de laudos e pareceres técnicos. (Resolução nº 463/07 CFF).

1.1 SETOR INDUSTRIAL

Cosméticos, perfumaria e produtos de higiene pessoal são produtos que estão presentes no cotidiano de grande parte da população ao redor do mundo – hoje 95% dos brasileiros consideram os produtos dessa categoria como essenciais e indispensáveis. Essa constatação pode ser provada pelo número de empresas registradas na Anvisa, em 2018 era de 2.794, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC, 2018).

Esse aumento significativo pode ser justificado pela crescente popularidade em mídias sociais, sendo a maioria dedicado para o consumidor final com a proposta de ensinar a correta utilização e fornecer dicas, contribuindo assim para a criação de produtos específicos (Pereira, Luiz Guilherme Laino da Silva, 2018).

A indústria cosmética necessita de qualidade de água, sendo assim, os tratamentos utilizados visam produzir o insumo ideal para o processo, isto é, água com os padrões de qualidade adequados para o uso. O uso eficiente da água, abrangendo o reúso, garantem objetivos intangíveis, tais como, uma melhor reputação da indústria através da otimização dos recursos, diminuindo impactos ambientais e contribuindo para a sustentabilidade.(ANA – PNSH, 2019, p.2).

No ano de 2012, na cidade de São Paulo, concretizou-se a primeira experiência brasileira de reúso industrial de grande porte, o Aquapolo, que fornece 650 L/s de água de reúso para o Polo Petroquímico de Capuava, município de Mauá. Fruto de parceria entre a BRK Ambiental e a Sabesp, com contrato com validade de 41 anos, recebe o efluente tratado pela Sabesp na ETE ABC, faz tratamento complementar e o adequa a padrões de qualidade determinados pelas indústrias, que usam o insumo em torres de resfriamento, geração de vapor e caldeiras. (https://tratamentodeagua.com.br/2019/05/24/).

1.2 TRATAMENTO DE ÁGUA

Atualmente no Brasil, ocorre o estresse hídrico, condicionado por fatores naturais e por um padrão irracional de uso do solo e da água, afetando diretamente o abastecimento urbano e atividades econômicas de várias regiões. Essa situação tende a piorar face a diversas mudanças climáticas e exige um conjunto de ações consistentes de investimento, despoluição de corpos hídricos, armazenamento de água, reúso planejado, em suma, uma oferta de possibilidades de adução de novas fontes para a conservação e reúso da água. Sendo o Brasil um dos países com maior disponibilidade de água. Porém, grande parte desse recurso está concentrada em regiões onde há menor quantidade de pessoas. Nos grandes centros urbanos há elevada densidade populacional e forte demanda pelos recursos hídricos, que, em muitos casos, são atingidos pela poluição e, por consequência, há uma piora considerável na qualidade da água, tornando o abastecimento nas cidades um grande desafio.

Para solucionar essa situação é preciso lidar com a grande diversidade geográfica do país e com as consequências do intenso processo de urbanização ocorrido nas últimas décadas (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico – ANA 2024).

2 OBJETIVO GERAL

Considerando a importância do recurso água para o segmento industrial e seu esgotamento em função do consumo excessivo e seu uso insustentável, o presente estudo tem como objetivo descrever a maneira como o recurso é utilizado, como se dá a conservação e o reúso deste em indústria cosmética.

3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

  • Identificar as ações existentes, dentro da indústria cosmética (estudo de caso), a qual visam a economia de água (reaproveitamento, dosadores, equipamentos, ciclos…);
  • Descrever as práticas que resultam na redução do consumo de água na produção de cosméticos.
  • Especificar o reúso da água e seus processos;
  • Verificar os processos com consumo mais significativo;
  • Promover o uso sustentável de recurso hídrico, diminuindo a quantidade de esgoto lançado nos rios.

METODOLOGIA

Este trabalho foi baseado em um estudo de caso, sobre a conservação e o reúso de água na indústria cosmética a Bela e Chic Indústria e comércio de cosméticos especiais LTDA, CNPJ: 05.268.903/0001-71, situada à Estrada Adam Blumer, 8735, Lt. 33, Qd. D, Jardim Gandé, Magé – RJ 25914-213. A Empresa tem como propósito buscar novas tecnologias aperfeiçoando seus processos para resultados satisfatórios de produção, e não seria diferente com o tratamento de efluentes líquidos, visando reduzir custos e conscientização na geração de resíduos e economia de água.

A utilização do recurso água, bem como sua obtenção e tratamentos necessários como técnicas de conservação e reúso foram estudadas, sendo este desenvolvido seguindo algumas etapas:

a) Busca de informações e referências bibliográficas através de estudos científicos sobre o tema conservação e reúso de água, seus processos de obtenção e tratamento de água. O mesmo foi realizado com base de dados Google acadêmico, ScienceDirect, Scielo, Pubmed, teses e dissertações relacionadas ao recurso água com o objetivo de compreender e alcançar melhorias necessárias em todo o processo produtivo de indústria, levando em consideração a água como um recurso vital para a humanidade. Como critério de elegibilidade foram selecionados artigos dos últimos seis anos e o período de publicação, entre os anos de 2018 a 2024. Os critérios de exclusão envolveram estudos duplicados e incompatibilidade do tema em questão;

b) Visita técnica de campo nas instalações da indústria, acompanhando operações normalmente executadas;

c) Entrevistas com o pessoal de operação nas áreas de produção bem como o pessoal de engenharia de processos;

d) Elaboração de fluxogramas, diagramas e balanço de massa utilizando os dados obtidos dos hidrômetros. Descrição de operações e de processos, bem como descrição de equipamentos;

e) Acompanhamento das operações de fabricação de produtos cosméticos e demais atividades relacionadas nos setores de produção;

f) Descrição das práticas de conservação e reúso já aplicadas pela indústria.

JUSTIFICATIVA

O estudo mostra a comprovação da eficácia das atividades para a redução dos índices de consumo da água, através de conscientização e treinamento dos operadores. De acordo com a resolução nº 572/2013, do CFF que dispõe sobre a regulamentação das especialidades farmacêuticas, por linhas de atuação, (ítem IX, do Art. 2) o controle de qualidade e tratamento de água faz parte do conjunto de especialidades do farmacêutico. A implantação de um sistema de reúso deve contemplar diversas etapas a fim de que haja correspondência entre benefícios ambientais e econômicos.

“Não é correto cercear a atuação do farmacêutico no tratamento da água. O profissional possui a qualificação técnica e científica para a prática e pode contribuir para melhorar a saúde da população.” (Walter Jorge João, CFF, outubro/2014.)

Presentemente em nosso país, a água é utilizada principalmente para irrigação de lavouras, abastecimento público, atividades industriais, geração de energia, extração mineral, aquicultura, navegação, turismo e lazer. (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico – ANA).

Figura1: Uso da água.

Fonte: Agencia Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA)

No entanto, o estudo aponta dificuldades e limitações existentes por consequência do processo produtivo e das exigências de qualidade e normas sanitárias. Apesar dessas limitações, o presente estudo mostra a comprovação da eficácia das atividades para a redução dos índices de consumo da água, através de conscientização e treinamento dos operadores, bem como a modificação nos processos de lavagem de tanques e eliminação de desperdício. Ações como a de conservação e reúso da água, promovem reflexões dos hábitos de consumo da população despertando a consciência ecológica, contribuindo desta forma para a preservação ambiental.

A implantação de um sistema de reúso deve contemplar diversas etapas a fim de que haja correspondência entre benefícios ambientais e econômicos.

Desse modo, o controle ambiental na indústria deixará de representar um peso no orçamento transformando-se numa aplicação lucrativa de recursos.

6 DESENVOLVIMENTO

Os processos industriais apresentam impacto direto ao meio ambiente. O desenvolvimento do setor industrial e a preservação ambiental devem estar correlacionados, contribuindo de forma significativa para a redução do consumo de água e do risco de contaminação de corpos receptores.

6.1. UNIDADE DE ESTUDO – ESTUDO DE CASO

O levantamento de dados da ETA e da ETE, a caracterização das águas e efluentes foram obtidos por meio de entrevista com funcionários que trabalham na indústria e através de visita técnica supervisionada. Nas figuras 2 e 3, a seguir, poderá ser visualizado respectivamente, o fluxograma do mapa de águas da indústria e o fluxograma do processo da ETA.

Figura 2: Mapa de Águas presente na Indústria do estudo de caso.

Fonte: Adaptado pelo autor, 2024.

Figura 3: Fluxograma da ETE Estação de Tratamento e Efluentes da Indústria do estudo de caso.

Fonte: Adaptado pelo autor, 2024.

6.2. PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO PARA SANITIZAÇÃO DO SISTEMA DE PRODUÇÃO DE ÁGUA

Com o objetivo de estabelecer os procedimentos de sanitização de produção de água para consumo no processo produtivo através das áreas envolvidas: Controle da Qualidade executando o procedimento e Garantia da Qualidade, responsável pela implantação e monitoramento do procedimento.

6.2.1. MATERIAL NECESSÁRIO:

Mangueira de Silicone, álcool 70% e Ácido Peracético 17%.

6.2.3. PROCEDIMENTO

Sanitização da tubulação do sistema de produção de água. Esta sanitização deve ser realizada no primeiro dia da semana e tem a validade de sete dias. É necessário fechar o registro de alimentação do aquecedor, para não contaminar a água aquecida; Abrir a válvula 1 para abrir o fornecimento de água; Abrir o registro 1; Abastecer o sistema com 100 litros de água; Fechar o registro 1; Fechar a válvula 2 (Válvula do tanque de armazenamento); Conectar a mangueira de silicone previamente sanitizada com Álcool 70% no ponto 2; Introduzir a mangueira de silicone no recipiente contendo 2 litros de Ácido Peracético 17%; Abrir o ponto 2; Ligar a bomba para fazer a sucção do Ácido Peracético 17% para a tubulação do sistema de produção de água a partir do ponto 2; Após a sucção de toda solução do Ácido Peracético 17%, fechar o ponto 2, retirar a mangueira e encaminhar para área de lavagem; Abrir a válvula; Deixar recircular todo o sistema de produção de água durante 30 minutos; Após o tempo de circulação, descartar a solução por todos os pontos de saída de água deionizada do setor manipulação (Ponto 4 ao 8) para sanitização das próprias válvulas; Fechar todas as saídas de água deionizada; Abrir o registro 1 para abastecer o sistema com 50 litros de água; Fechar o registro 1; Ligar a bomba para a rinsagem do sistema; E em seguida descartar a água por todas as saídas de água deionizada da produção; Repetir o procedimento de rinsagem mais uma vez; Após rinsar o sistema duas vezes, abastecer o sistema com água deionizada, recircular a água, retirar uma amostra do ponto 5 e realizar a análise de condutividade.        Se for aprovada a análise, preencher o formulário de sanitização do sistema de produção de água deionizada; Se for reprovada a análise, realizar uma nova rinsagem e nova análise, até que seja aprovada a água. Para a Sanitização da bomba hidráulica, em todo final de expediente, desconectar a tubulação da bomba hidráulica; Adicionar 30 mL de Ácido Peracético 17% dentro da bomba; Conectar a tubulação na bomba hidráulica; No dia seguinte, abastecer o sistema com 25 Litros de água e rinsar o sistema. Todos os procedimentos possuem referências a RDC 48 de 25 de outubro de 2013 – ANVISA e ISO 9001:2015.

            Após todo o procedimento de sanitização é emitido um relatório de revisão constando a data e o operador o qual realizou a sanitização.

6.3. PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRÃO PARA PROCEDIMENTO DE TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS PARA A REUTILIZAÇÃO DA ÁGUA TRATADA

             Possui o objetivodepadronizar o procedimento de tratamento de efluentes líquidos para reutilização da água tratada, a fim de garantir total segurança em seu reúso; cumprir todas as normas regulamentadoras específicas; e contribuir para conscientização e proteção ao meio ambiente, reduzindo de forma sustentável a destinação de resíduos e o consumo de água. As áreas envolvidas neste processo são: Controle da Qualidade, responsável por executar o procedimento e analisar a água tratada. Serviços Gerais, responsável por utilizar a água de reúso. Manutenção, responsável por executar a limpeza e manutenção do sistema. Garantia da Qualidade, responsável por executar o respectivo procedimento e monitoramento do mesmo.

6.3.1 MATERIAL NECESSÁRIO:

CaO (Cal Virgem), Fecl 3 (Percolato de Ferro), NaCLO (Hipoclorito de Sódio) e EPI’s Específicos.

6.3.2 PROCEDIMENTO

Para o procedimento é necessário apenas um colaborador, a qual fará o tratamento da água. A frequência para o tratamento de reúso será feita sempre que achar necessário ou obrigatoriamente quando o tanque de efluentes líquidos de 10m 3 atingir 60% de sua capacidade (6m 3 ). Para dar início ao processo é indispensável que o reservatório de água tratada esteja 100% vazio, desta forma, será obtido rendimento máximo do processo de tratamento. Caso o reservatório esteja com determinada quantidade de água, e seja de urgência o tratamento de resíduo por ter ultrapassado do limite permitido, será necessário pedir autorização da garantia da qualidade para que a água seja descartada. Algumas etapas são realizadas em dias diferentes, é permitido a antecipação de alguma etapa enquanto espera o tempo de outra, desde que nenhuma etapa interfira no processo de outra.

Antes de inciar o processo, é necessário verificar se todas as válvulas do sistema estão fechadas e ter em mãos o Fluxograma – Estação de Tratamento de Efluentes Líquidos para melhor entendimento do processo.

Para iniciar o processo de tratamento dos resíduos de efluentes líquidos, abrir a válvula 1 e ligar a bomba de transferência no disjuntor para fazer a sucção dos resíduos levando até os decantadores (3x reservatórios de Floculação, Cloração e Decantação).

Figura 4: Croquis Tratamento de Efluentes Líquidos.

Fonte: Adaptada pelo autor, 2024.

A bomba desligará automaticamente após os decantadores atingirem seus limites, respectivamente 1m 3 ; 2 m 3 ; e 2 m 3 . Em seguida desligar o disjuntor da bomba por motivos de segurança. Nos decantadores, já com seus limites de resíduos, ligar o sistema de agitação por ar comprimido e abrir a válvula 2 dando passagem do ar no sistema, auxiliando desta forma a homogeneização dos reagentes, em seguida adicionar os reagentes vagarosamente na sequência: 0,3% de CaO (Cal Virgem); 0,1% de Fecl3 (Percloreto de Ferro) e 0,05% NaClO (Hipoclorito de Sódio) do limite total de cada decantador.

Figura 5: Reservatório de água 100% vazio.

Fonte: Adaptada pelo autor, 2024.

Figura 6: Reservatório em abastecimento para tratamento da água.

Fonte: Adaptada pelo autor, 2024.

Figura 7: Sistema de agitação por ar comprimido para homogeneização.

Fonte: Adaptada pelo autor, 2024.

Figura 8: Reagentes adicionados.

Fonte: Adaptada pelo autor, 2024.

Após adicionar todos os reagentes, desligar o sistema de agitação e tampar o decantador. Aguardar 24 horas para continuar o processo. Após o tempo de repouso o resíduo decantará, gerando 2 produtos: água tratada e resíduo sólido úmido. Processo A – Observar se o resíduo decantado está abaixo da saída do 2º nível de cada decantador, caso esteja continue o processo.

Caso contrário abrir a válvula 5 do decantador em questão e descer o resíduo úmido até que o nível fique abaixo da saída do 2º nível. Retirar uma amostra de 200mL da água tratada e encaminhar para o laboratório de controle de qualidade para realização das análises de água referente ao POP.CQ.PROD.034.

Figura 9: Amostra da água tratada.

Fonte: Adaptada pelo autor, 2024.

Se o controle de qualidade aprovar a água, colar uma fita verde no ponto 1 para indicar a liberação da água para o setor de serviços gerais o qual poderá utilizar a mesma para lavagem do pátio ou calçadas e continuar o processo. Se o controle de qualidade reprovar a água, cole uma fita vermelha para proibição do reúso da água, relate a garantia da qualidade para que possa ser investigado o motivo e tomadas a decisões cabíveis. Se for considerado um erro aleatório, a água deverá ser devolvida para o reservatório de efluente líquido para ser reprocessado o tratamento, desta forma, basta abrir a válvula 5 dos decantadores. Se for constatado um problema técnico, deverá ser interditado o sistema de tratamento e no período de revalidação do sistema, o resíduo deverá ser retirado através de caminhão a vácuo e destinado a uma tecnologia de coprocessamento por uma empresa terceirizada.

            Para o processo físico de filtração é necessário abrir a válvula 3(1º Nível) de cada decantador para iniciar o processo. A água tratada de cada decantador será direcionada para o reservatório de água tratada. Após a água tratada de cada decantador baixar do 1º nível, abrir a válvula 4(2º Nível) de cada decantador para que o processo dê continuidade. Após a transferência de toda a água tratada, fechar as válvulas 3 e 4de cada decantador. No reservatório de água tratada, toda água tratada passará por um filtro físico composto de areia e pedra no próprio reservatório. Quando for necessária a utilização da água de reúso, abra primeiro a válvula 8para direcionar a água tratada para o sistema de filtragem (Na sequência: filtro de carvão ativado de 10µ; filtro de polipropileno de 5µ). Processo B – Após a retirada de toda água tratada dos reservatórios, abrir a válvula 5para transferir todo resíduo úmido restante para o leito de secagem, em seguida fechar a válvula 5e abrir a válvula 9para o líquido escoar do leito de secagem de volta para o reservatório de efluentes líquidos. Aguardar o processo de filtragem/secagem durante 24 horas. Nota: Caso seja dia ensolarado, necessariamente no horário de expediente, deixar a tampa do leito de secagem aberta, o auxílio do sol fará o processo para a secagem do resíduo acelerar, evaporando a água. Após as 24 horas, fechar a válvula 9e retirar todo o resíduo seco retido no leito e transferir para o leito de secagem 2, em seguida abrir a válvula 10para o líquido escoar do leito de secagem 2. Aguardar o segundo processo de filtragem/secagem durante 24 horas. Após as 24 horas, fechar a válvula 10e retirar todo o resíduo seco retido no leito e transferir para um tambor de 200Kg para resíduos e armazenar na sala de resíduos sólidos dentro do dique de contenção. Esses tambores serão direcionados para coprocessamento ou incorporação através de uma empresa terceirizada. A capacidade de armazenamento na sala de resíduos sólidos são de 8 tambores (aproximadamente 1,6t). O filtro de carvão ativado de 10µ e o filtro de polipropileno de 5µ deverão ser substituídos a cada 12 meses, ou em caso de saturação, percebido pela queda de vazão. O reservatório do decantadordeverá ser lavado a cada 12 meses com água e sabão neutro. Os resíduos de lavagem poderão ser escoados seguindo o fluxo de tratamento da válvula 2.

            Para o processo de retro lavagem deverá ser utilizado o reservatório de água tratada em parceria com o filtro físico de areia e pedra. Verificar se a válvula 8do reservatório de água tratada está fechada, caso não esteja, fechar e conectar a mangueira de retro lavagem no ponto de entrada 2 e na alimentação de água corrente. A água de lavagem seguirá até o reservatório de efluentes líquidos através do fluxo do extravasor do leito de secagem. Após retirar os resíduos pela retro lavagem, desligar a alimentação de água corrente, fechar a válvula 6e desconectar a mangueira. Em seguida abrir a válvula 8para retirar o restante da água que ficou no sistema, após o escoamento, fechar a válvula 8. Os itens internos de filtragem que compõe o leito de secagem/filtração deverão ser trocados a cada 24 meses. Todos os procedimentos possuem referências a RDC 48 de 25 de outubro de 2013 – ANVISA e ISO 9001:2015.

Figura 10: Água de reúso a esquerda, após todo o processo físico de retenção e filtração.

Fonte: Adaptada pelo autor, 2024.

7 DISCUSSÃO

Os resultados obtidos no período do estudo de caso evidenciaram que as amostras de água analisadas encontravam-se em conformidade com os padrões estabelecidos pela legislação vigente e compêndios internacionais reconhecidos pela ANVISA. O sistema de purificação de água implantado na indústria do presente estudo colaborou positivamente para a obtenção de uma água com confiabilidade, o que satisfaz plenamente às especificações exigidas. A deionização é uma grande vantagem devido ao baixo custo e facilidade de operação, porém a remoção é apenas para compostos inorgânicos e não remove compostos orgânicos dissolvidos e nem de bactérias presentes na água, sendo necessário a sanitização, segundo a farmacopéia Americana (USP, 2023).

            O processo de sanitização consiste na eliminação das colônias de microrganismos que se desenvolvem nos componentes do sistema de purificação para a obtenção de água purificada. Diversos agentes sanitizantes podem ser empregados neste processo como: hipoclorito de sódio (0,5 ppm a 0,2% de cloro livre), o formaldeído (0,5% a 4%), peróxido de hidrogênio (0,2%), ácido peracético (0,2%), ácido clorídrico (pH 2,0) e hidróxido de sódio (pH 12,0). Técnica de filtração também são utilizadas, pois determina o tamanho das partículas que serão removidas, conforme o diâmetro dos poros dos filtros utilizados. Os filtros removem partículas suspensas (insolúveis) e microrganismos.

            Em consequência disso, é possível notar que o tratamento de água não é privativo do químico, mantendo íntegro e, portanto, em plena validade, os termos das Resoluções/CFF nº 463/07 a qual versa sobre as atribuições do farmacêutico no tratamento de água, dentre outros procedimentos.  Todavia o CFQ tenta restringir o exercício dessas atribuições pelos farmacêuticos,  neste sentido, a Juíza federal da 6ª Vara Federal de Brasília (DF), Ivani Silva da Luz, no mês de maio do ano corrente, sentenciou que o controle da água é uma atividade concomitante dentre diversos profissionais aptos ao seu mister. Por fim, dado que o farmacêutico tem a devida formação acadêmica e previsão legal para tal. Sendo esta uma grande conquista da Farmácia no âmbito do tratamento da água. (CFF, 2024).

CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Com o estudo de caso pode ser observado um potencial de redução de consumo de água por ano do abastecimento público (Águas do Rio) e uma economia no setor financeiro da empresa após primeiro mês de implantação do projeto o qual ocorreu no ano de 2013, desde então a Bela e Chic Indústria e comércio de cosméticos especiais LTDA., decidiu ajudar a melhorar o cenário, sendo uma pequena parcela na luta de preservação do meio ambiente, modificando seus processos, que anteriormente efluentes líquidos eram destinados a coprocessamento, sendo 95% do resíduo da água poderiam ser tratados e utilizados para reúso, destinado a lavagem do pátio e/ou calçadas. A mesma a cada vinte dias do mês elabora a Declaração do Relatório de Acompanhamento de Efluentes Líquidos – RAE, instrumento no qual os responsáveis pelas atividades poluidoras informam regularmente ao INEA, por intermédio do RAE, as características qualitativas e quantitativas de seus efluentes líquidos. As atividades devem ser vinculadas e estão sujeitas ao Programa de
Autocontrole de Efluentes Líquidos – PROCON ÁGUA atendendo à DZ-942.R-7 – Diretriz do PROCON ÁGUA. Legislação Estadual Aplicável: DZ-942.R-7 – Diretriz do Programa de Autocontrole de Efluentes Líquidos – PROCON ÁGUA. (CONEMA, 93/2021).

A partir do crescimento populacional houve um aumento na necessidade de água para abastecimento, a agricultura de maior escala para alimentar a crescente população e criação de mais indústrias que consomem mais água. Com o aumento do suprimento de água aumentou também a poluição no meio ambiente, seguido de escassez de água e a necessidade de se reutilizar a água. Através do tratamento dos efluentes pode-se fazer reúso de água, porém algumas observações devem ser pertinentes ao reúso da água, doenças veiculadas pela água podem contaminar usuários das águas residuárias, por isso é necessário ter ciência da legislação em vigor em relação ao reúso.

Mais estudos deverão ser realizados para determinar padrões de qualidade e usos corretos. O planejamento, a implantação e a operação correta de reúso trazem uma série de melhorias, como a diminuição da poluição ao meio ambiente e outros benefícios dispostos no estudo em questão. A legislação deve basear-se em questões éticas, sociais, econômicas e ambientais. A mesma deve abranger a realidade brasileira em relação a gestão dos recursos hídricos e aos usos múltiplos da água. A partir desse pressuposto, uma forma estruturada para a realização do reúso pode ser estabelecida. No momento não se pode estabelecer padrões. O acesso à água potável deve ser considerado um direito acessível a todos, indistintamente, e, articulado às práticas de boa
governança, participação e descentralização da gestão devem ser implementados como meio de fortalecer este direito, sendo este de suma importância para a sociedade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS E SANEAMENTO BÁSICO – ANA. Conjuntura dos
recursos hídricos no Brasil 2019. Brasília: ANA, 2019.

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS E SANEAMENTO BÁSICO – ANA. Conjuntura dos
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AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS E SANEAMENTO BÁSICO – ANA Manual de Usos
Consuntivos da Água no Brasil. 2019. Disponível em: file:///C:/Users/Usuario/
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dez. 2021.

BRASIL, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Farmacopeia Brasileira, 6ª Ed.
Brasília, 2023.
Farmacopeia Europeia 11ª edição 2023.

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1 Graduanda em Farmácia pela Universidade Iguaçu – UNIG, Nova Iguaçu/RJ, Brasil.
E-mail: msouzapereira@gmail.com
2 Pós-graduada em Tecnologia Farmacêutica – Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ/RJ, Brasil.
3 Doutor em Química – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ/RJ, Brasil.
4 Doutor em Ciências em Engenharia Nuclear – Universidade Federal do Rio de Janiro – COPPE / UFRJ/RJ, Brasil.
5 Orientador, Mestre em Saúde Pública – Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ/RJ, Brasil.
6 Co-Orientador do curso de Graduação em Farmácia – Universidade Iguaçu – UNIG, Nova Iguaçu/RJ, Brasil.