RECUPERAÇÃO DA DVO COM TABLE TOP E FACETAS EM PACIENTE COM BRUXISMO SEVERO: RELATO DE CASO

VDO RECOVERY WITH TABLE TOP AND FACETS IN A PATIENT WITH SEVERE BRUXISM: CASE REPORT

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11406874


Eurides Almeida Vasconcelos Santos Neta1;
Gisele Silva De Jesus1,
Rafaella Sampaio Mattos1;
Indira Oliveira Almeida Assis Mota2;
Karolina Santos Mota3


RESUMO

O bruxismo é caracterizado pelo contato dentário repetitivo, proveniente do apertamento ou ranger dos dentes, e normalmente é desencadeado pela ansiedade. A consequência habitual do bruxismo crônico é a diminuição da Dimensão Vertical de Oclusão (DVO), podendo gerar desgaste severo dos dentes e consequentemente causar alterações funcionais e estéticas na face do indivíduo. O restabelecimento da DVO e da condição estética do paciente, com um planejamento minucioso, considerando todas as particularidades, faz-se necessário para traçar o melhor plano de tratamento, a fim de obter sucesso e longevidade. Os table tops, que são restaurações diretas ou indiretas que recobrem apenas a superfície oclusal dos dentes posteriores, e as facetas em resina composta, que são restaurações diretas para cobrir a face vestibular dos dentes anteriores, podem ser uma opção para a reabilitação estética e funcional destes casos. Paciente faioderma, 50 anos, sexo masculino e brasileiro, buscou atendimento odontológico com a queixa principal de “bruxismo e dentes desgastados”. Foi realizada anamnese detalhada, exames extra e intraoral, além das imagens do paciente. O planejamento foi obtido com o intuito de reabilitação total das arcadas dentárias. Iniciou-se o tratamento reabilitador pelo levantamento da mordida nos dentes posteriores, com os table tops, em seguida foram realizadas as facetas em resina composta nos dentes anteriores e pré-molares superiores e a finalização com ajustes, polimentos e instalação da placa estabilizadora. Foi alcançado um restabelecimento da DVO de maneira satisfatória e duradoura, englobando estética e funcionalidade, além de atender as expectativas do paciente.

Palavras-chave: Bruxismo. Dimensão Vertical. Resinas Compostas. Reabilitação Bucal. Prótese Dentária.

ABSTRACT

Bruxism is characterized by repetitive dental contact, arising from clenching or grinding of teeth, and is usually triggered by anxiety. The usual consequence of chronic bruxism is the decrease of the Vertical Dimension of Occlusion (VDO), which can generate severe wear of the teeth and consequently cause functional and aesthetic changes in the face of the individual. The restoration of VAD and the aesthetic condition of the patient, with a thorough planning, considering all the particularities, is necessary to draw the best treatment plan in order to achieve success and longevity. The table tops, which are direct or indirect restorations that cover only the occlusal surface of the posterior teeth, and the composite resin veneers, which are direct restorations to cover the vestibular face of the anterior teeth, may be an option for aesthetic and functional rehabilitation of these cases. Patient faioderma, 50 years old, male and Brazilian, sought dental care with the main complaint of “bruxism and worn teeth”. Detailed anamnesis, extra and intraoral examinations, and patient images were performed. The planning was obtained with the intention of total rehabilitation of dental arches. The rehabilitation treatment was initiated by lifting the bite in the posterior teeth, with the table tops, then the composite resin facets were performed in the anterior and upper premolars teeth and the finishing with adjustments, polishing and installation of the stabilizer plate. A satisfactory and lasting restoration of VAD was achieved, encompassing aesthetics and functionality, in addition to meeting patient expectations.

Keywords: Bruxism. Vertical Dimension. Composite Resins. Oral Rehabilitation. Dental Prosthesis.

1. INTRODUÇÃO 

Uma das principais desordens psiquiátricas que aflige o ser humano é a ansiedade, conhecida como um transtorno que pode ocasionar em práticas parafuncionais, como o bruxismo, que é definido como um hábito não funcional do sistema mastigatório, e que promove o desgaste dentário devido ao ato de ranger ou apertar os dentes (ATTANASIO, 1991; DINIZ et al., 2009).

O bruxismo é classificado em bruxismo do sono e bruxismo diurno. O bruxismo diurno é uma atividade muscular mastigatória durante a vigília, que é caracterizada por contato dentário repetitivo ou apertamento dos dentes (LOBBEZOO et al., 2018. Já o bruxismo do sono é definido por uma atividade muscular mastigatória durante o sono, caracterizada pelo ranger dos dentes (MACEDO, 2008). 

O resultado habitual do bruxismo crônico é a diminuição da dimensão vertical e oclusão (DVO) como consequência ao desgaste severo dos dentes. A DVO pode ser entendida como a distância entre os pontos de referência nas arcadas superior e inferior, quando os dentes estão em oclusão (MUKAI et al., 2010), e a sua perda pode ocorrer não apenas pelo bruxismo severo, mas também por fatores como erosão, atrição, abrasão e perda de elementos dentários. A diminuição da DVO pode causar alterações funcionais e estéticas na face do paciente, como flacidez muscular, envelhecimento precoce, dificuldade de mastigação e dores articulares e musculares (ALVES et al., 2012).

O restabelecimento da DVO e da condição estética do paciente pode ser realizado por meio da confecção de table tops em resina composta, que são restaurações diretas ou indiretas que recobrem apenas a superfície oclusal dos dentes posteriores, sem envolver as faces cervical ou proximais (MESKO et al., 2016). Eles são indicados para casos de erosão, desgaste dentário severo e perda de estrutura dentária (ALVES et al., 2012).

A faceta em resina composta é uma alternativa de restauração direta para recobrir a face vestibular dos dentes anteriores, restaurando a forma, a cor, a função e o alinhamento deles (MOURA et al., 2022).

A combinação de tables tops e facetas em resina composta pode ser uma opção de escolha para a reabilitação estética e funcional de pacientes com perda da DVO por bruxismo, desde que a manutenção do tratamento seja realizada com o uso de placa estabilizadora de proteção dentária, além da possibilidade de terapia comportamental, técnicas de relaxamento e, em alguns casos, terapia medicamentosa (RODRIGUES et al., 2010). Existem poucos estudos a respeito do método table top para restabelecimento da DVO e o presente trabalho tem como objetivo descrever um caso clínico de recuperação da DVO por meio do uso de table tops, facetas em resina composta e PPR inferior, em um paciente com bruxismo severo.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Bruxismo

O bruxismo é uma desordem funcional em que a pessoa aperta, desliza ou bate os dentes. Ocorre principalmente durante o sono e possivelmente está relacionada a fatores genéticos, a situação de estresse, a tensão, a ansiedade ou a problemas físicos de oclusão ou fechamento inadequado da boca. Essa pressão pode provocar desgaste e amolecimento dos dentes. Em casos mais graves podem ocorrer comprometimento nos ossos, na gengiva, na articulação temporomandibular (ATM), além de fortes dores de cabeça, nos músculos faciais e desgastes nos dentes (VARELLA, 2022).

O bruxismo, por se tratar de uma condição que pode ser causada por diversos fatores, tem seu tratamento realizado de maneira multiprofissional, o que inclui dentista, psicólogo, médico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo e nutricionista. Cada profissional contribui com medidas terapêuticas mais adequadas e individuais para cada paciente e sua disfunção (TANUS, 2022).

Por não existir uma cura, o tratamento para essa disfunção se limita ao controle do apertar e/ou ranger dos dentes, podendo ser necessária a reposição de uma unidade dentária ausente, um alinhamento de dentes que migraram, além da placa oclusal que se faz indispensável nesses casos. A placa é um acessório feito sob medida, compatível com a oclusão do paciente, e deve ser utilizada durante o sono noturno e às vezes de dia, de acordo com a necessidade e a indicação do profissional de saúde (SANTOS, 2021).

2.2 Dimensão Vertical de Oclusão (DVO) 

A dimensão vertical é subdividida em DVO e dimensão vertical de repouso (DVR). A DVO é definida por muitos autores como a medida do terço inferior da face por meio de dois pontos estabelecidos na maxila e na mandíbula, quando há oclusão dos dentes superiores e inferiores. A DVR segue o mesmo princípio, porém não há oclusão dos elementos dentários, o que irá gerar um espaço interoclusal, denominado espaço funcional livre (EFL). Uma das formas para estabelecer a medida da DVO é por meio da subtração da medida da DVR pelo EFL, em que este corresponde de 2 a 4 mm (BUGIGA, 2017, RODRIGUES et al., 2010).

A perda da DVO é resultado de um desequilíbrio oclusal, em que não apenas a ausência dentária pode vir a ser responsável, mas também a cárie, a doença periodontal, o trauma de oclusão, e as parafunções, dentre elas, o bruxismo (MUKAI, 2010).

Atualmente é recorrente a necessidade do aumento da DVO na odontologia, sendo realizada, muitas vezes, por resinas compostas adesivadas na oclusal dos dentes posteriores. Essa técnica é utilizada também em pacientes com mordida em topo, mordida cruzada anterior, dentre outras patologias. As principais especialidades que frequentemente utilizam este recurso são a odontologia restauradora (prótese e dentística) e a ortodontia. Ao aumentar e restabelecer a DVO, é ideal que o paciente tenha a exposição dos incisivos de aproximadamente 3mm, quando jovem. Detalhes como esses são de suma importância, pois a não observância deles poderá trazer desarmonia na estética facial do paciente, como ausência do selamento labial ou sorriso gengival (RODRIGUES et al., 2010).

2.3 Resina Composta

A resina composta é um material utilizado diariamente por cirurgiões-dentistas de todo o mundo. A sua composição resulta em uma coloração bastante similar aos dentes, sendo indicada na reconstrução dentária para casos de traumas e bruxismo, além de ser fundamental na confecção de facetas estéticas. A resina composta pode ser utilizada em restaurações diretas e indiretas, tanto em dentes anteriores quanto posteriores, devido à vantagem de ser um material adesivo, que não necessita de desgaste excessivo na estrutura dental sadia para que o material restaurador permaneça no preparo cavitário (LEMES, 2021).

As principais vantagens do uso da resina composta é o impacto do sorriso natural. Este material pode proporcionar correções marcantes na cor e forma dos dentes, e consequente recuperação da autoestima do paciente com problemas severos, como portadores de bruxismo. A faceta em resina composta é uma das técnicas disponíveis para recuperar a harmonia do sorriso (LEITE MORATO, 2018).

Com o aumento da mídia acerca da estética bucal ideal, o número de procura por facetas dentárias tem crescido, sendo uma alternativa viável na transformação do sorriso. As facetas são próteses finas que recobrem os dentes e suas possíveis falhas, dando harmonia ao sorriso do paciente. Uma das vantagens da resina composta é dar maior resistência ao elemento dentário remanescente, apesar de sua resistência mecânica ser inferior às restaurações indiretas realizadas com cerâmica ou porcelanas (DE BRITO et al., 2022).

Todas as técnicas existentes apresentam vantagens e desvantagens que sempre devem ser levadas em consideração antes de traçar o melhor plano de tratamento. As principais vantagens no caso da resina composta é o seu preço comparado à cerâmica, a rapidez do procedimento e a redução do desgaste dentário, além do procedimento poder ser realizado em uma consulta única, dispensando o uso de provisório. No geral, os preços e o tempo hábil do procedimento costumam chamar mais atenção ao paciente no momento de decidir qual escolha a ser feita, mas não se pode esquecer os aspectos negativos da faceta em resina composta, como pequenas fraturas, devido sua resistência mecânica ser inferior a laminados cerâmicos, a perda do brilho e o amarelamento mais rápido, comparado a técnicas com porcelana, assim como, a limitação funcional em pacientes com bruxismo severo (LEITE MORATO, 2018).

O desgaste funcional dos dentes ao longo dos anos é compensado por meio do mecanismo de crescimento alveolar pela erupção contínua. Por outro lado, quando o desarranjo acelerado e o desgaste excessivo ultrapassam a taxa de erupção, resultam na diminuição da DVO, devido a anomalias congênitas, hábitos orais e parafuncionais intensos, erosão ácida ou associação dessas causas. O desgaste gradual por períodos longos, em um paciente apenas com bruxismo crônico, não provoca perda da DVO, comparado à rápida perda de esmalte de algumas anomalias congênitas, erosões ácidas e abrasões associadas ao bruxismo severo ou agudo (MOURA, 2011).

O tratamento restaurador estético bem-sucedido deve contar com uma abordagem multidisciplinar, organizada e coordenada, para estabelecer o correto diagnóstico e um plano de tratamento adequado para cada caso. A avaliação das necessidades periodontais, ortodônticas, cirúrgicas e restauradoras do paciente é essencial para um plano de tratamento completo e objetivo. Os pacientes com desgaste excessivo podem ser enquadrados em três categorias que consideram a DVO associada a um plano de tratamento apropriado. Primeira Categoria: desgaste excessivo e precoce sem perda de DVO e com distância interoclusal disponível. Segunda Categoria: desgaste excessivo gradual sem perda de DVO, mas com distância interoclusal limitada. Terceira Categoria: desgaste excessivo com perda de DVO (MADEIRA, 2011).

2.4 Facetas em Resina Composta

A faceta direta em resina composta surgiu com o intuito de preservar o máximo de estrutura dentária, e se constitui na aplicação de camadas de resina na superfície dental, permitindo assim, maior estética e função. Logo, o cirurgião-dentista controla a forma e a cor do dente restaurado. Este procedimento tem como vantagem a preservação da estrutura dental com o mínimo de desgaste, menor tempo clínico, baixo custo, juntamente à ótima estética e longevidade, excluindo longas etapas laboratoriais. São vantagens das facetas diretas a boa lisura superficial, a facilidade de polimento, a radiopacidade, o coeficiente de expansão térmica que é semelhante ao da estrutura dental, a técnica pouco invasiva, a boa resistência à compressão, o custo baixo, a durabilidade significativa, a rapidez na obtenção dos resultados e a reversibilidade do procedimento. As desvantagens são a contração de polimerização, que pode ocasionar trincas, e infiltração marginal, e a estabilidade baixa de cor, que pode ocasionar o manchamento superficial, além da descoloração interna (DE BRITO et al., 2022).

2.5 Table Top

Os table tops são restaurações que podem ser confeccionadas em laboratório ou por meio da técnica direta, com resina composta ou cerâmica, ultrafinas, com 0,6mm de espessura, que são instaladas em dentes posteriores. São indicadas para desgastes dentários causados por bruxismo, doenças sistêmicas, consumo excessivo de alimentos ácidos, dentre outras causas. Os table tops devolvem a função e a anatomia adequada para os dentes, restabelecendo a DVO (VIEIRA, 2022).

As restaurações tipo table top de 0,5 mm são mecanicamente mais favoráveis do que os tradicionais overlays de 1,5 mm, por se limitarem a face oclusal dos dentes (ABU-IZZE, 2017).

3. RELATO DE CASO 

Paciente L.B.A., do sexo masculino, 50 anos, faioderma, de nacionalidade brasileira, buscou atendimento em um consultório particular situado na cidade de Vitória da Conquista – BA, com a queixa principal: “Me sinto incomodado com o meu sorriso” (SIC). No primeiro atendimento foi realizada a anamnese detalhada do paciente, além dos exames extra, intraoral e os exames de imagem (figuras 1, 2, 3 e 4).

Após avaliação clínica e dos exames de imagem, o plano de tratamento foi elaborado e proposto ao paciente, que concordou em realizar clareamento dentário, cobertura dos dentes posteriores com table tops em resina composta, para recuperar a DVO, facetas diretas em resina composta nos dentes anteriores e pré-molares superiores, para recuperar a forma, a cor, e a harmonia do sorriso e instalação da placa estabilizadora, para conservar o tratamento realizado, minimizando possíveis fratura e desgastes futuros.

Figura 1 – Aspecto inicial: imagem frontal do paciente em máxima intercuspidação.

Figura 2 Aspecto inicial: imagem frontal do paciente em posição de repouso.

Figura 3 – Aspecto inicial: imagem da lateral esquerda do paciente em posição de repouso.

Figura 4 – Aspecto inicial: imagem da lateral direita do paciente em posição de repouso.

Figura 5 – Aspecto inicial:  imagem da arcada superior com desgaste incisal e oclusal. 

Inicialmente foram realizadas as três sessões de clareamento de consultório, com o gel clareador Potenza Bianco PRO SS 38% PHS®. Em cada sessão, o tempo de duração do produto foi de 30 minutos e o intervalo entre cada sessão foi de 7 dias. 

Em seguida, foi iniciada a etapa de reabilitação com o levantamento da mordida por meio da confecção de table tops nos dentes posteriores, em que foi utilizada a resina composta Harmonize Kerr® na cor A1E, o adesivo Single Bond universal 3M® e o ácido fosfórico 37% FGM®.

Na etapa seguinte foi realizada a confecção das facetas diretas nos dentes superiores, abrangendo todos os anteriores e os pré-molares. Nessa etapa, as resinas compostas utilizadas foram a Forma Trans Ultradent® na confecção da concha palatina, a Palfique Tokuyama® na cor OA1 para a confecção do corpo e a resina Estelite Ômega Tokuyama® de efeito MW na camada final.

Na sessão seguinte, foram realizados os ajustes oclusais e o polimento de todas as restaurações com a sequência de uso da broca multilaminada 12 lâminas Komet®; seguido da sequência de discos de polimento Kerr®; das borrachas de acabamento Jiffy Ultradent®; e por fim os discos de feltro Diamond flex FGM® com a pasta de polimento Ultradent®.

 Na etapa final, o escaneamento para a confecção da placa estabilizadora foi obtido por meio do scanner intraoral 3Shape®. Após transcorridos os cinco dias do prazo laboratorial para a confecção, a instalação da placa foi realizada e o tratamento do paciente foi concluído.

Figura 6 – Aspecto final: imagem frontal do paciente com as facetas diretas e os table tops finalizados.

Figura 7 – Aspecto final: imagem lateral esquerda do paciente com as facetas diretas e os table tops finalizados.

Figura 8 – Aspecto final: imagem lateral direita do paciente com as facetas diretas e os table tops finalizados.

4. DISCUSSÃO

Segundo Rodrigues et al. (2010), o bruxismo é definido como o contato estático ou dinâmico dos dentes, sendo este hábito parafuncional um dos mais difíceis desafios para a odontologia restauradora.

No caso relatado, o paciente possuía algumas perdas dentárias correspondentes aos molares inferiores, o qual já fazia uso de prótese parcial removível (PPR). No entanto, mesmo com a reabilitação, a perda da DVO estava presente, devido ao bruxismo severo que causava desgaste não apenas nos dentes naturais, como também nos dentes da PPR.

Para Macedo (2008), tanto o bruxismo noturno quanto o bruxismo diurno podem ter diversas causas, incluindo fatores psicológicos, genéticos e até mesmo anatômicos. O tratamento geralmente envolve uma abordagem multidisciplinar, que pode incluir medidas comportamentais, como o uso de protetores bucais, terapia cognitivo-comportamental e, em alguns casos, medicação.

O tratamento multidisciplinar nem sempre é realizado pelos pacientes portadores do bruxismo, pois, assim como o paciente relatado, muitos não buscam tratar o fator causal, ou mesmo o conhecem, apenas querem solucionar o que lhes afligem.  Mas é importante abordar o bruxismo não apenas para aliviar sintomas imediatos, como dor facial e desgaste dos dentes, mas também para prevenir complicações a longo prazo, como danos permanentes aos dentes e articulações temporomandibulares.

Em uma pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) cerca de 30% da população mundial é acometida por bruxismo (apud BRAGA, 2013).

Durante a pandemia houve um aumento significativo desta disfunção, e na opinião do cirurgião-dentista Gustavo Grothe Machado, chefe do serviço de cirurgia Bucomaxilofacial do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição: “A média seria de que em torno de 20% da população apresentaria bruxismo, uma prevalência muito elevada”. E ainda de acordo com ele, é difícil saber a causa exata do aumento, já que os possíveis pacientes podem não saber da existência da condição que possuem (MACHADO, 2021).

O isolamento social favoreceu o aumento de casos de bruxismo devido ao sofrimento psicológico após a pandemia do covid-19. A prevalência no Brasil se tornou significativamente alta também pela falta de atividade física e mudanças de hábitos. O bruxismo pode ser dividido em casos primários e secundários. O primário não está relacionado a outras condições de saúde e o secundário é consequência de alguma outra doença, como distúrbios ou apneia do sono, e abuso de drogas, como álcool. O bruxismo não tem cura, no entanto, existem tratamentos disponíveis para lidar com a doença (MACHADO, 2021).

A DVO é explicada por Cordeiro et al. (2021), como a medida do plano vertical da relação entre a mandíbula e a maxila quando ocorre a oclusão dos dentes posteriores. Já o estudo de Rodrigues et al. (2010), discute a respeito das causas e consequências extra e intrabucais da perda da DVO e propõe terapia para a recuperação desta distância, trazendo um relato de caso que evidencia a importância da documentação odontológica e anamnese para o fechamento do diagnóstico e correto plano de tratamento.

Em concordância com Rodrigues et al. (2010), o paciente relatado no presente estudo passou por uma anamnese detalhada, associada ao exame clínico e de imagem, em que foi identificado a perda da DVO devido desgaste acentuado dos dentes e da PPR inferior. Após devida avaliação, foi possível elaborar um plano de tratamento em que a estrutura perdida fosse reconstruída por meio de resina composta, para restabelecer a DVO do paciente, sem comprometer sua articulação temporomandibular. 

Com relação a resina composta, viu-se que ela possui características mecânicas e físicas coincidentes à estrutura dentária, sendo possível realizar o procedimento de facetas de resina, em uma única sessão, com o mínimo desgaste necessário, combinando cores e reconstruindo a estética e a função desejada, conforme cita NETO et al. (2013). 

As facetas diretas de resina composta possuem inúmeras indicações, de acordo com Gouveia et al. (2018), essas indicações vão desde corrigir alterações de cor, forma, escurecimento ou manchamento, amelogênese imperfeita, microdontias, alterações de posição, redução estruturais por desgaste patológico e fisiológicos, fraturas e entre outros. Sendo cada caso único e devendo ser analisado de acordo com a necessidade de cada paciente. 

A escolha da resina composta no tratamento proposto ao paciente deste relato, se baseou não apenas na necessidade de reconstruir as unidades dentárias comprometidas, devolvendo a estética e a função delas, mas principalmente na necessidade do paciente em realizar o tratamento com o mínimo de desgaste do tecido dentário sadio, bem como o mínimo de sessões. 

A técnica utilizada para os dentes posteriores, denominada table top, devolve a função e a forma adequada para os dentes, restabelecendo a DVO. As onlays, do tipo table top, são restaurações confeccionadas em laboratório, quando de cerâmica, ou em consultório, quando de resina, sendo ultrafinas e somente instaladas em dentes posteriores, como afirma Antônio et al. (2018). Coelho (2020), cita que são restaurações com envolvimento e recobrimento de todas as cúspides, e segundo Abu-Izze (2017), são consideradas mecanicamente favoráveis por receberem predominantemente forças compressivas no sentido axial. Quanto a sua indicação, Vieira (2022) informa que são para desgastes dentários por bruxismo, doenças sistêmicas e consumo excessivo de alimentos ácidos.

As restaurações do tipo table top, realizadas nos dentes posteriores do paciente deste relato de caso, foram confeccionadas em resina composta, no próprio consultório e em sessão única, de acordo com a escolha do paciente diante das opções de tratamento propostas. 

Estudos científicos, como o realizado por Lima et al. (2020), apontam que dentre várias alternativas terapêuticas, a placa oclusal miorrelaxante é a mais utilizada, uma vez que o seu uso induz o côndilo a adquirir uma posição estável na fossa mandibular, sendo imprescindível para o tratamento e controle do paciente bruxômano. Em concordância, Farias Neto et al. (2014), obtiveram resultado positivo para o uso da placa estabilizadora na primeira semana após o tratamento restaurador, em que a paciente relatou melhora no bruxismo, e após um mês, os sintomas praticamente desapareceram. Ainda no estudo de Farias Neto et al. (2014), apesar da melhora significativa, a paciente recebeu instruções do cirurgião-dentista a continuar usando a placa para dormir com o objetivo de proteger os seus dentes de um desgaste maior, mesmo que as dores cessassem completamente.

Para finalizar o tratamento realizado neste relato de caso, foi instalada na arcada superior do paciente, uma placa estabilizadora, a fim de proteger o tratamento restaurador realizado, promovendo durabilidade. Apesar da inexistência de tratamento curativo, o tratamento com placa estabilizadora apresenta-se como uma importante opção terapêutica no controle da dor muscular e prevenção dos desgastes dentários.

5. CONCLUSÃO 

No relato de caso descrito, foi obtido êxito com resultado imediato da recuperação da DVO. Portanto, concluiu-se que aumentar a DVO por meio de table tops e facetas diretas em resina composta é uma opção satisfatória para casos de pacientes com bruxismo severo associado a perda de DVO. No entanto, ainda é necessário um acompanhamento e proservação para conhecer a durabilidade deste tipo de tratamento, além de novos estudos que possam agregar a este conhecimento.

6. REFERÊNCIAS

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RODRIGUES, R. A.; BEZERRA, P. M.; SANTOS, D. F. S.; DUARTE FILHO, E. S. D. Reabilitação multidisciplinar utilizada na reabilitação da DVO durante a reabilitação estética e funcional: relato de caso. IJD International Journal of Dentistry [online], v. 9, n. 2, ISSN 1806-146x, p. 92-101, 2010.

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VIEIRA, L. N. Odontologia Estética – Odontologia Nogueirol, 2022. Disponível em: https://www.odontologianogueirol.com.br/odontologia-estetica/. Acesso em 20 nov. 2023.


ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

ANEXO B – NORMAS DA REVISTA

ANEXO C – PARECER CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ DE ÉTICA


1Graduandos em Odontologia, Faculdade Independente do Nordeste – FAINOR, Vitória da Conquista, BA, Brasil;
2Professora de Odontologia, Faculdade Independente do Nordeste – FAINOR, Vitória da Conquista, BA, Brasil;
3Especialista em Prótese e Implante, Clínica Studio Odontológico, Vitória da Conquista, BA, Brasil