PREVALÊNCIA DE DOENÇAS CRÔNICAS EM IDOSOS PARTICIPANTES DA UNIVERSIDADE DA MATURIDADE

PREVALENCE OF CHRONIC DISEASES IN ELDERLY PARTICIPANTS OF THE UNIVERSITY OF MATURITY

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11391910


Daiane Aparecida Ribeiro Sarmento Pereira1; Déborah Alves Andrade2; Zelinda Pereira da Costa Montel3; Grazielly Mendes de Sousa4; Fabrícia Gonçalves Amaral Pontes5; Januário Neto Pereira Sarmento6; Karine Kummer7; Márcia Ferreira Sales8; Sara Janai Corado Lopes9; Daniele Pereira Ramos10


RESUMO:

Com o aumento da expectativa de vida a população idosa vem se tornando cada vez mais numerosa. As baixas taxas de natalidade e mortalidade favorecem esse fenômeno. O processo de envelhecimento é acompanhado por um aumento significativo de doenças crônicas não transmissíveis. O objetivo da pesquisa foi analisar quais são as doenças crônicas não transmissíveis mais prevalentes entre os idosos participantes da Universidade da Maturidade (UMA). METODOLOGIA: Trata-se de um estudo de campo, exploratório e descritivo, com abordagem qualiquantitativa e delineamento transversal. O estudo foi realizado com a população de idosos matriculados no programa (UMA) da Universidade Federal do Tocantins (UFT). O tratamento estatístico foi feito com o auxílio do Statistical Package for Social Science (SPSS, 26.0). RESULTADOS E DISCUSSÃO: Participaram do estudo 40 idosas com média de idade de 68 anos, onde maioria se declararam pardas e afirmaram ser viúvas. Observa-se que em relação à avaliação da qualidade de AVD´s (Atividades de Vida Diária), a maioria das idosas mantém preservadas a autonomia neste quesito. Em relação ao perfil de saúde mais da metade das idosas declararam que fazem uso de medicamentos diariamente. Dentre as doenças crônicas prevalentes na amostra destaca-se a hipertensão arterial.  CONSIDERAÇÕES FINAIS: Conclui-se que o trabalho também forneceu importantes percepções relacionados ao perfil sociodemográfico, perfil de saúde, AVD´s e prevalência de doenças crônicas nas idosas. Conclui-se também que as doenças crônicas mais prevalentes foram a hipertensão arterial, o colesterol alto e o diabetes. Já Asma, obesidade e DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) foram pouco representativas.

Palavras-chave: Doenças Crônicas não Transmissíveis. Envelhecimento. Idoso. Qualidade de vida.

ABSTRACT: With the increase in life expectancy, the elderly population is becoming increasingly numerous. Low birth and death rates favor this phenomenon. The aging process is accompanied by a significant increase in chronic non-communicable diseases. The objective of the research was to analyze which are the most prevalent chronic non-communicable diseases among elderly participants at the University of Maturity (UMA). METHODOLOGY: This is an exploratory and descriptive field study, with a qualitative and quantitative approach and a cross-sectional design. The study was carried out with the elderly population enrolled in the program (UMA) at the Federal University of Tocantins (UFT). Statistical treatment was carried out with the help of the Statistical Package for Social Science (SPSS, 26.0). RESULTS AND DISCUSSION: 40 elderly women with an average age of 68 years participated in the study, the majority of whom declared themselves mixed race and claimed to be widows. It is observed that in relation to the assessment of the quality of ADLs (Activities of Daily Living), the majority of elderly women maintain their autonomy in this regard. Regarding their health profile, more than half of the elderly women declared that they use medications daily. Among the chronic diseases prevalent in the sample, high blood pressure stands out. FINAL CONSIDERATIONS: It is concluded that the work also provided important insights related to the sociodemographic profile, health profile, ADLs and prevalence of chronic diseases in elderly women. It is also concluded that the most prevalent chronic diseases were high blood pressure, high cholesterol and diabetes. Asthma, obesity and COPD (Chronic Obstructive Pulmonary Disease) were not very representative.Keywords: Chronic Non-Communicable Diseases. Aging. Old. Quality of life.

1 INTRODUÇÃO

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), pode-se considerar idoso, todo indivíduo que possui 60 anos de idade ou mais (WHO, 2020). Ao caracterizar um idoso não existe um padrão “modelo” ou “típico”, uma vez que há uma diversidade de capacidades e/ou necessidades de saúde para diferentes tipos de idosos. Cada indivíduo possui suas generalidades em conformidade com a sua interação com o meio, podendo haver idosos de 60 anos com maior dependência que alguns outros de 80 anos. O processo de envelhecimento não é igual para todas as pessoas, uma vez que cada um envelhece de uma forma individualizada. Enquanto há idosos totalmente capazes de realizar suas atividades cotidianas por si só, ainda há aqueles que apresentam alguma doença crônica e que necessitam de adaptações ou apoio, mesmo com uma idade cronológica não tão avançada (Brasil, 2018).

A população idosa com 60 anos ou mais no Brasil, atingiu 32.113.490 (trinta e dois milhões, cento e treze mil e quatrocentos e noventa) em 2022 representando 15,8% da população total. Esse número representa um aumento significativo de 56,0% em relação a 2010, quando esse contingente era de 20.590.597 (vinte milhões, quinhentos e noventa mil e quinhentos e noventa e sete), isto é, 10,8% da população brasileira (IBGE, 2022).

O envelhecimento populacional é um fenômeno observado no âmbito mundial e está vinculado aos processos de transição demográfica e de transição epidemiológica. A diminuição acentuada das taxas de fecundidade nos últimos anos, bem como a baixa mortalidade e o aumento na expectativa de vida da população são componentes que intensificam o processo de envelhecimento populacional (Oliveira, 2019).

Considerando a progressão de Doenças Crônicas Não Transmissíveis, no ano de 2022, estima-se que a população envelheça, mudando o perfil epidemiológico. Assim, entende-se que o progresso das doenças seja caracterizado por fatores exógenos, e doenças já relacionadas com hábitos de vida enquanto adulto, não tratando das variáveis relacionadas com situações de condicionantes de saúde (Simões, 2022).

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cada dois segundos, no mundo, um indivíduo com menos de 70 anos morre de uma doença crônica não transmissível, e que cerca de 86% desses óbitos ocorreram em países de média e baixa renda (WHO, 2022).

A população idosa vem aumentado consideravelmente nos últimos anos e com isso faz-se necessário políticas públicas voltadas para uma melhor qualidade de vida dessa população. O Programa Universidade da Maturidade (UMA) é um programa de extensão da Universidade Federal do Tocantins (UFT) voltado para melhoria da qualidade de vida de adultos e idosos, que visa o resgate da cidadania desses indivíduos. A iniciativa busca promover o envelhecimento ativo, proporcionando oportunidades de aprendizado, trocas de experiências e desenvolvimento pessoal para os participantes (Costa; Osório, 2021).

A qualidade de vida da pessoa idosa depende de diversos fatores, tais como a questão relacionada aos fatores sociais (convívio na sociedade), atividades de recreação e satisfação, fatores ambientes, condições econômicas (independência financeira) e uso de tecnologias de informação (visando melhorar o convívio do idoso com outras pessoas), entre outros. Esses fatores contribuem para a diminuição do impacto de doenças diversas, a exemplo da depressão, ansiedade e síndrome do pânico (Cavalcanti et al. 2022).

Diante do exposto surgiu a seguinte problemática: Qual a prevalência de doenças crônicas em idosos participantes da UMA localizada no Município de Porto Nacional – Tocantins?

Sabendo-se que a população idosa está exposta ao risco de desenvolver doenças crônicas, entender quais são essas doenças mais prevalentes é uma tarefa essencial, para assim, viabilizar a criação de políticas públicas direcionadas à promoção de saúde e a prevenção dessas enfermidades no processo do envelhecimento. Nesse sentido, os resultados apresentados neste trabalho possibilitará, também, a criação de estratégias de intervenção que proporcionem melhor qualidade de vida aos idosos acometidos por tais doenças.

Este estudo objetivou analisar quais as doenças crônicas não transmissíveis são mais prevalentes entre os idosos participantes da Universidade da Maturidade, localizada no Município de Porto Nacional – Tocantins e caracterizar o perfil sociodemográfico e de saúde dos idosos.

2  PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Trata-se de um estudo de campo, exploratório e descritivo, com abordagem qualiquantitativa e delineamento transversal. A pesquisa foi realizada durante os encontros dos idosos participantes da UMA, no ITPAC em Porto Nacional- TO, que é instituição conveniada ao programa Universidade da Maturidade, da UFT. A população ou universo do estudo foi de 48 idosos participantes do programa (UMA). Da referida população, 40 idosos participaram, de fato, da pesquisa (amostra), representando 83,33% do total.

Os critérios de inclusão foram: ter idade igual ou superior a 60 anos; possuir capacidade cognitiva para responderem ao questionário e concordância em participar do estudo, com respectiva assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os critérios de exclusão foram: não comparecimento em pelo menos três encontros pré-agendados ou não aceitação em participar do estudo.

A coleta de dados ocorreu nos meses de outubro e novembro de 2023 e os encontros aconteceram no dia das atividades realizadas na UMA, em parceria com os alunos do ITPAC Porto. Essa coleta ocorreu em dois momentos distintos. No primeiro momento foi explicada a importância da pesquisa, os objetivos do estudo e o tempo que cada participante levaria para responder ao questionário. No segundo momento houve assinatura do TCLE e aplicação do questionário.

Após a coleta, os dados foram organizados e tabulados em uma planilha eletrônica do software Excel. O tratamento estatístico dos dados foi efetivado com o auxílio do Statistical Package for Social Science (SPSS, 26,0). A estatística descritiva utilizada na apresentação dos dados constituiu-se de frequência absoluta (n), frequência relativa (%), média, desvio padrão, mínimo e máximo. Em todas as análises o nível de significância adotado foi de 5% (p < 0,05).

Para a realização desse estudo, houve autorização por meio da Coordenadora do Programa da Universidade da Maturidade de Porto Nacional. Além disso, foi realizada a submissão ao Comitê de Ética do ITPAC Porto, através da Plataforma Brasil. Após o devido deferimento, o projeto aprovado recebeu o número de parecer CAAE:71607123.5.0000.8075, conforme as normas estabelecidas pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.

3  RESULTADOS

Após a seleção dos idosos, respeitando-se os critérios de inclusão e exclusão supramencionados, a amostra do estudo foi constituída de 40 indivíduos. Entre os participantes observou-se a predominância do gênero feminino, representando, neste caso, 100% da amostra.

A primeira parte do questionário abordou o perfil sociodemográfico das participantes da pesquisa. Em relação à faixa etária, prevaleceu o grupo com idade entre 60 e 70 anos, correspondendo a 28 pessoas, ou seja, 70% das participantes da pesquisa. A média geral das idades foi de 68 anos. Sobre o fator raça/cor da pele, as que se declararam pardas foi um total de 25 (63%), seguido das que se declararam negras, isto é, 12 (30%). No que se refere a situação conjugal, as viúvas somaram 17 mulheres (42,5%), as casadas ou que mantém união estável foram 12 (30%), 07 eram solteiras (17,5%) e 04 divorciadas (10%). Quanto a escolaridade, as que possuem ensino fundamental incompleto corresponderam a 14 (35%), enquanto as que afirmaram ter ensino médio completo foram 10 (25% da amostra). Considerando a ocupação das idosas, predominou-se as que se declararam aposentadas, o que correspondeu a 30 mulheres (75% da amostra). No tocante a religião, houve predomínio do Catolicismo Romano, que somou 31 participantes da pesquisa (70% do total). Referente a variável “companhia no lar” (morar ou não sozinhas), a maioria delas responderam que residem com outras pessoas em casa, representando 31 mulheres (77,5%). Sobre o tempo de participação no programa Universidade da Maturidade, 21 (52,5%) responderam que possuem entre 12 e 24 meses de participação. Os dados sobre o perfil sociodemográfico das idosas descritos acima, estão representados na Tabela 1.

Tabela 1 – Distribuição daamostra segundo o perfil sociodemográfico: sexo, faixa etária, raça, situação conjugal, escolaridade, ocupação, religião, mora sozinho e tempo de participação na Universidade da maturidade, dos idosos participantes do estudo em Porto Nacional – Tocantins no ano de 2023.

Variáveis do perfil sócio demográficon (40)(%)
FAIXA ETÁRIA  
60 – 70 anos2870%
71 – 80 anos1128%
81 – 90 anos012%  
RAÇA/COR DA PELE  
Amarelo012%
Branco025%
Negro1230%
Pardo2563%  
SITUAÇÃO CONJUGAL  
Solteiro0717,5%
Casado/união estável1230%
Viúvo1742,5%
Divorciado0410%  
ESCOLARIDADE  
Ensino fundamental incompleto1435%
Ensino fundamental completo0410%
Ensino médio incompleto037,5%
Ensino médio completo1025%
Ensino superior0410%
Não alfabetizado0512,5%  
OCUPAÇÃO  
Aposentado3075%
Empregado012,5%
Desempregado0615%
Auxílio-doença037,5%  
RELIGIÃO  
Católico3180%
Evangélico0717,5%
Espírita012,5%  
MORA SOZINHO  
Sim0922,5%
Não3177,5%  
TEMPO EM QUE PARTICIPAM DO PROGRAMA  
Menos que 12 meses0820%
Entre 12 e 24 meses2152,5%
Entre 25 e 36 meses025%
Mais de 36 meses0922,5%

Fonte: Construído pelas pesquisadoras.

O instrumento de coleta de dados abordou, também, o perfil de saúde das idosas. Observou-se que a maioria das idosas fazem uso de medicamentos regularmente, sendo que 31 delas (77,5%) responderam fazer uso sempre. Quanto à prática de atividade física, 18 idosas (45%) relataram praticá-la sempre, 19 (47,5%) praticam às vezes e 03 (7,5%) participantes afirmaram nunca praticar nenhum tipo de atividade física.

Em relação a internações hospitalares nos últimos 12 meses, 34 (85%) não passaram por nenhuma internação, 5 (12,5%) foram internadas duas vezes ou mais e apenas 01 (2,5%) foi internada uma vez. Quanto a quedas nos últimos 12 meses, 26 (65%) não sofreram quedas, 9 (22,5%) tiveram uma queda e 05 (12,5%) tiveram duas quedas ou mais.

Outro aspecto importante é a prevalência de dificuldades sensoriais entre as participantes da pesquisa. Verificou-se que a maioria delas, representado por 27 mulheres (67,5%) responderam ter dificuldade de enxergar, mesmo usando óculos regularmente. Quanto a possuir dificuldades para ouvir, 05 (12,5%) afirmaram ter dificuldade sempre, 17 (42,5%) às vezes e 18 (45%) nunca tiveram dificuldades para ouvir.

Sobre a saúde mental, 29 (72,5%) afirmaram que algum familiar já comentou que elas estão mais esquecidas, enquanto 11 (27,5%) responderam que nunca comentaram. Questionadas sobre terem sentimento de tristeza, desanimo ou desesperança nos últimos doze meses, 15 (37,5%) responderam que sim, 13 (32,5%) responderam que não e 12 (30%) relataram sentir, às vezes. Os dados anteriormente apresentados, referentes ao perfil de saúde das idosas participantes do estudo, estão sintetizados na Tabela 2.

Tabela 2- Distribuição da amostra o perfil de saúde das idosas do estudo em Porto Nacional – Tocantins no ano de 2023.

VARIÁVEIS     n (40)(%)
Faz uso de medicamentos  
Sempre3177,5%
As vezes037,5%
Nunca0615,0%
   
Pratica atividade física  
Sempre1845,0%
As vezes1947,5%
Nunca037,5%
  Ficou internada nos últimos 12 meses  
Nenhuma internação3485,0%
1 internação012,5%
2 ou mais internações0512,5%
   
Caiu nos últimos 12 meses  
Nenhuma queda2665,0%
1 queda0922,5%
2 ou mais quedas0512,5%
   
Possui dificuldade de enxergar (mesmo usando óculos)  
Sim2767,5%
Não1332,5%
   
Possui dificuldade para ouvir  
Sempre0512,5%
As vezes1742,5%
Nunca1845,0%
   
Algum familiar já comentou que está mais esquecida  
Sim2870,0%
Não1230,0%
   
No último mês percebeu que estava desanimada, triste ou desesperança  
Sim1537,5%
Não1332,5%
As vezes1230,0%

Fonte: Construído pelas pesquisadoras.

Foi questionado, ainda, sobre as possíveis dificuldades na realização das atividades de vida diária (AVD). A maioria delas responderam que não possuem dificuldades para se vestir e sair da cama, representando 39 participantes (97,5%).  Nenhuma das idosas apresentam a necessidade de ajuda para alimentar-se ou tomar banho. Porém, em relação à necessidade de ajuda para lidar com o dinheiro (pagar contas, conferir troco, ir ao banco), 14 (35%) relataram que sempre precisam de ajuda, 03 (7,5%) às vezes precisam e 23 (57,5%) afirmaram nunca precisarem de ajuda. Em relação a organizar a casa e preparar as próprias refeições, 32 (80%) responderam que sempre precisam de ajuda, 06 (15%) disseram que às vezes precisam de ajuda e 02 (5%) nunca precisam de ajuda.

 Outra parte do questionário buscou identificar a prevalência de doenças crônicas não transmissíveis entre as participantes do estudo. Entre as idosas respondentes da pesquisa verificou-se que: 24 possuem hipertensão arterial (60%); 16 possuem colesterol alto (40%); 07 possuem diabetes (17,5%); 03 possuem obesidade (7,5%); 01 possui asma (2,5%) e 03 possuem DPOC (7,5%). A síntese dos resultados ora apresentados consta na Figura 01.

Figura 01- Prevalência de doenças crônicas em idosas participantes do estudo em Porto Nacional- Tocantins no ano de 2023.

Fonte: Construído pelas autoras.

4 DISCUSSÃO

No presente estudo a amostra total constituiu-se tão somente de mulheres. Acredita-se que pode haver alguma relação com as características do perfil demográfico do envelhecimento (feminilização do envelhecimento) ou pelas mulheres serem mais engajadas no contexto dos cuidados com a saúde, busca do bem-estar e qualidade de vida. A “feminização na velhice”, é um fenômeno que caminha junto com o envelhecimento populacional e consiste na afirmação de que há mais mulheres do que homens na população idosa (Sousa, 2018). Em um estudo semelhante a este, as mulheres idosas formaram a maioria entre os entrevistados, os autores dão ênfase que a prevalência de sexo feminino pode estar relacionada ao processo de feminização da velhice (Pereira; Santos, 2020). Além disso, vale ressaltar que as mulheres, num contexto geral, demonstram maior preocupação com a saúde, aderindo à prevenção e mantendo a busca por melhor qualidade de vida (Cobo et. al, 2021).

Observou-se que a maioria delas possuem idade média de 68 anos e estão na faixa etária de 60 a 70 anos. Em todo o mundo, a proporção de pessoas com 60 anos ou mais está crescendo mais rapidamente se comparado com as faixas etárias inferiores. Os estudos apontam que isso ocorre devido à redução nas taxas de fertilidade, facilidade do acesso aos serviços de saúde, avanços na medicina, redução/controle de doenças infectocontagiosas, o que culmina no aumentando da longevidade e no consequente aumento do número de idosos na população.

Quanto ao fator raça/cor da pele, a maioria das idosas se declararam pardas, indicando uma certa associação com as características da população do norte do país. De acordo com dados do IBGE (2022) 939.260 da população especificamente no estado do Tocantins declara-se de cor/raça parda, o que corresponde a 62,14% da população do estado.

Em relação à respectiva situação conjugal, a maioria das participantes da pesquisa eram viúvas. Essa condição pode, muitas vezes provocar sentimentos de tristezas, mudanças na vida em relação processo do luto, além de problemas financeiros e de solidão. Um estudo recente com idosas viúvas, demonstrou que a ausência do companheiro também afeta significativamente a saúde das idosas, principalmente em relação a percepção de saúde (Carvalho, 2019).

Foi possível identificar através dos dados que a maioria das idosas vinculadas à UMA são alfabetizadas. Vale salientar que a escolaridade é um ponto importante a ser observado, visto que é um fator que pode influenciar na qualidade de vida e na saúde. A alfabetização tem influência direta no letramento funcional em saúde, no que diz respeito a gestão do seu próprio cuidado, compreendendo os requisitos necessários para a promoção da saúde e prevenção das doenças. Pois o letramento funcional em saúde inadequado pode contribuir para agravos na condição de saúde e doença dos idosos (Scortegagna, 2021).

No tocante à ocupação, a maioria das idosas da UMA são aposentadas. Esse tipo de benefício garantido na Constituição Federal de 1988 contribui para fazer frente às necessidades de alimentação, medicações e despesas gerais. Nesse estudo não foi possível avaliar a renda familiar, pois a questão inerente a esta variável não ocorreu o retorno esperado (questão sem resposta). Acredita-se que elas não se sentiram confortáveis em expor essa informação. Pesquisa recente ressalta que a aposentadoria, quando vista sob o enfoque da qualidade de vida, ainda é um tema recente no Brasil (Marques; Soler, 2021)

Quanto ao credo religioso das idosas, o catolicismo romano predominou. A crença religiosa é considerada extremamente importante na velhice, dando força para suportar os problemas, perdas e conforto espiritual. A espiritualidade contribui para que o idoso enfrente os problemas e dificuldades vividas, ajuda a procurar conforto e constitui um recurso para enfrentar as dificuldades sentidas e/ou uma estratégia que visa encarar os problemas do seu cotidiano, como as doenças crónicas (Costa; Humboldt, 2020).

Verificou-se que a maioria das idosas participantes da pesquisa eram viúvas, porém moram sozinhas. Isso pode ser visto como um fator positivo, pois o contexto familiar é um excelente ponto de apoio, proteção e cuidados. O convívio familiar saudável auxilia nos aspectos psicológicos dos pacientes. Marzola et.al (2020) enfatiza que a boa convivência familiar se associa à melhor percepção de saúde, à longevidade, à ausência de quedas e à ausência de depressão.

No que se refere ao tempo de participação na UMA, prevalecem as que têm entre um e dois anos. O curso apresenta um sistema curricular dinâmico e é organizado em quatro semestres, o que equivale a dois anos. Ele busca respeitar a cultura local e proporciona aos acadêmicos a oportunidade de explorar a interdisciplinaridade da gerontologia (Sampaio, 2023). O curso pode ser frequentado tanto por estudantes iniciantes quanto por aqueles que já concluíram outras etapas de estudo (Pereira, 2020). O curso promovido aos idosos tem como objetivo proporcionar ações efetivas para melhor qualidade de vida (SALES et al., 2023).

No que diz respeito ao perfil de saúde das idosas a maioria referiu fazer uso de medicamentos diariamente, e negou ter tido complicações de saúde como queda e internações. O envelhecimento não está necessariamente relacionado ao adoecimento e dependência física, no entanto a longevidade está fortemente associada ao aumento da ocorrência de doenças crônicas e, consequentemente, ao maior consumo de medicamentos (Correia, 2020).

Em relação a realização de atividades de vida diária (AVD), percebe-se que a maioria das idosas não possuem comprometimento para realizá-las. Isso sugere que as idosas conseguem em sua maioria ter autonomia sobre suas atividades e consequentemente não dependem de cuidadores para realizar atividades básicas. Mesmo em relação pequeno número das que afirmaram que possuem alguma dificuldade, não relataram impedimentos para a realização de ações básicas como: vestir-se, alimentar-se, tomar banho sozinha.

No estudo de Scherrer (2022), constatou-se que os idosos têm uma percepção positiva da sua qualidade de vida, a qual está correlacionada com a independência nas atividades básicas de vida diária. A capacidade de realizar essas atividades essenciais de forma autônoma contribui significativamente para o bem-estar e a satisfação dos idosos.

Em relação à prevalência de doenças crônicas podemos concluir que a doença mais evidente na maioria das idosas estudadas neste trabalho foi a hipertensão arterial sistêmica (HAS). A HAS, é uma doença crônica multifatorial, que depende de fatores genéticos, epigenéticos, sociais e ambientais. Os idosos são mais propensos a desenvolver a HA em decorrência do enrijecimento progressivo e da perda da capacitância das grandes artérias.  (Barroso et al., 2020). Cerca de 2/3 dos hipertensos vivem em condições de renda média e baixa, e cerca de metade convive com hipertensão sem ser diagnosticado (WHO, 2022).

A partir do instante que ocorre envelhecimento, é normal a pessoa idosa enfrentar pelo menos uma doença crônica (WHO, 2019). A idade avançada e a presença de doenças crônicas não transmissíveis, podem levar o indivíduo à dependência ou suporte para a realização das atividades de vida diária (Brasil, 2018).

5  CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho emergiu a partir de uma pesquisa cujo objetivo foi analisar quais as doenças crônicas não transmissíveis são mais prevalentes entre os idosos participantes da UMA, localizada no Município de Porto Nacional – Tocantins e caracterizar o perfil sociodemográfico e de saúde dos idosos.

Os resultados apresentaram importantes insights relacionados ao perfil sociodemográfico dos idosos, perfil de saúde, atividades da vida diária e prevalência de doenças crônicas.

A respeito das doenças crônicas mais prevalentes, a hipertensão arterial, o colesterol alto e o diabetes foram as que mais se destacaram entre as participantes da pesquisa. Asma, obesidade e DPOC foram pouco representativas entre as doenças crônicas prevalentes entre as idosas.

Em termos gerais, percebeu-se que o interesse pelo Envelhecimento Ativo, situação amplamente defendida pelo programa institucional (UMA), é muito apreciado pelo público feminino. Prova disto é que a amostra deste trabalho foi composta exclusivamente por mulheres. Isso pode se justificar pelo fenômeno de feminização do envelhecimento.

Esse estudo pode ser considerado referência para a busca de minimização das dificuldades enfrentadas pelas idosas nas atividades de vida diária. Também pode servir de base para o estabelecimento padrões visando a melhoria da qualidade de vida dos idosos, mesmo diante das doenças crônicas com as quais eles convivem diariamente.

Estudos futuros devem ser realizados para fins de comparação dos dados aqui expostos com outras realidades socioeconômicas. Sobretudo, esses estudos futuros devem focar o público masculino, visto que a atual pesquisa não conseguiu alcançar esse recorte populacional.

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WHO-World Health Organization. OMS lança portal com dados mundiais sobre saúde e bem-estar de pessoas idosas. 2020. Disponível em https://www.paho.org/pt/noticias/1-10-2020-oms-lanca-portal-com-dados-mundiais-sobre-saude-e-bem-estar-pessoas-idosas.


1Daiane Aparecida Ribeiro Sarmento Pereira- Graduanda de Enfermagem do ITPAC – Porto Nacional. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8078095636920720. ORCID: 0009-0001-6059-7238
2Déborah Alves Andrade- Graduanda em Enfermagem do ITPAC- Porto Nacional. Lattes: http://lattes.cnpq.br/5817830640657978
3Zelinda Pereira da Costa Montel- Graduanda de Enfermagem do ITPAC – Porto Nacional. Lattes: http://lattes.cnpq.br/6149853776133713
4Grazielly Mendes de Sousa. Enfermeira. Mestre em Ciências pelo Instituto de pesquisas energéticas e nucleares da Universidade de São Paulo – IPEN/ USP. Professora do ITPAC- Porto Nacional. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8270208469758194. ORCID: 0000-0003-1477-849X
5Fabrícia Gonçalves Amaral Pontes. Mestrado em Estudos literários pela UFT. Professora do ITPAC Porto Nacional. Lattes: http://lattes.cnpq.br/4106626749811427. ORCID: 0009-0006-5869-3534.
6Januário Neto Pereira Sarmento. Doutor em Economia, pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Professor do IFTO-Campus Porto Nacional. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3614344919859297. ORCID: 0000-0003-0845-9177.
7Karine Kummer – Enfermeira. Mestre em Ciências pelo Instituto de pesquisas energéticas e nucleares da Universidade de São Paulo – IPEN/ USP. Professora do Curso de Enfermagem do ITPAC- Porto Nacional. Lattes: Professora do Curso de Enfermagem do ITPAC- Porto Nacional.
8Márcia Ferreira Sales. Enfermeira. Mestranda no programa de pós-graduação em ensino, ciências e saúde – Universidade Federal do Tocantins, PPGECS/UFT.
Professora do ITPAC- Porto Nacional. Lattes: https://lattes.cnpq.br/4388397790314091.
ORCID: https://orcid.org/0009-0002-9122-4108
9Sara Janai Corado Lopes. Enfermeira. Professora do ITPAC- Porto Nacional. Lattes http://lattes.cnpq.br/3199193467116521. ORCID: 0000-0001-5814-6158.
10Daniele Pereira Ramos- Professora do Curso de Enfermagem do ITPAC- Porto Nacional. enf.dramos22@gmail.com. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8209123004378915. ORCID:0009-0005-4725-4299. ORCID: 0009-0001-6687-4769.