IMPLANTAÇÃO DE UM AMBULATÓRIO DE FISIOTERAPIA EM CIRURGIAS UROGINECOLÓGICAS – RELATO DE EXPERIÊNCIA

IMPLEMENTATION OF A PHYSIOTHERAPY OUTPATIENT CLINIC FOR UROGYNECOLOGICAL SURGERIES – EXPERIENCE REPORT

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11375278


Thaismária Alves de Sousa1; Rafael Gomes da Silva2; Silvana Nascimento Soares3; Felype Hanns Alves de Medeiros4; Dhonnel Oliveira da Silva5; Pedro Miranda da Silva Neto6; Antonio Ricardo Rodrigues de Almeida Conceição7; Anderson Batista Nunes8; Anderson Bentes de Lima9; Ivete Furtado Ribeiro Caldas10


RESUMO

Introdução: A Uroginecologia é uma subespecialidade que se refere aos distúrbios e intervenções cirúrgicas nas áreas de urologia e ginecologia, sendo a Fisioterapia em Uroginecologia uma subespecialidade que possui atuação no pré e pós-operatório. É considerada padrão ouro no tratamento das disfunções pélvicas, pois oferece baixo risco de efeitos colaterais. Objetivo: Relatar a experiência de implantação e desenvolvimento de um serviço de ambulatório de Fisioterapia em Cirurgias Uroginecológicas em Caxias, Maranhão. Método: Constitui um relato de experiência, de caráter descritivo sobre a implantação e atendimentos do serviço de Ambulatório de Fisioterapia em Cirurgias Uroginecológicas. Visando a efetivação dos serviços e zelar pelas boas práticas quanto à qualidade e segurança foram desenvolvidos nove Procedimentos Operacionais Padrão (POPs). Os atendimentos foram realizados a partir do mês de novembro de 2023. Resultados: Um total de sete pacientes em pré e pós-operatório em cirurgias uroginecológicas foram atendidos e possuíam entre 38 a 73 anos de idade. Com 14,24% casos de pós-operatório de histerectomia; 14,24% de pré-operatório de prostatectomia radical; 14,24% de pré-operatório de prolapso de parede de bexiga; 42,85% de pós-operatório de prostatectomia radical, e 14,24% de pós-operatório de miomectomia. Conclusão: A criação do Ambulatório representa, sobretudo, um avanço para o município de Caxias e região, pois além de viabilizar a redução dos gastos de procedimentos cirúrgicos, permite oferecer um serviço pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Descritores: Procedimentos operatórios; Assoalho Pélvico; Serviços de fisioterapia; Ambulatórios; Sistema Único de Saúde.

ABSTRACT

Introduction: Urogynecology is a subspecialty that refers to disorders and surgical interventions in the areas of urology and gynecology, with Physiotherapy in Urogynecology being a subspecialty that operates pre- and post-operatively. It is considered the gold standard in the treatment of pelvic dysfunction, as it offers a low risk of side effects. Objective: To report the experience of implementing and developing an outpatient Physiotherapy service for Urogynecological Surgeries in Caxias, Maranhão. Method: It constitutes an experience report, of a descriptive nature, on the implementation and care of the Physiotherapy Outpatient Service in Urogynecological Surgeries. Aiming to provide services and ensure good practices regarding quality and safety, nine Standard Operating Procedures (SOPs) were developed. The services were carried out from November 2023 onwards. Results: A total of seven pre- and post-operative patients in urogynecological surgeries were treated and were between 38 and 73 years old. With 14.24% post-operative hysterectomy cases; 14.24% preoperative radical prostatectomy; 14.24% preoperative bladder wall prolapse; 42.85% post-operative radical prostatectomy, and 14.24% post-operative myomectomy. Conclusion: The creation of the Outpatient Clinic represents, above all, an advance for the city of Caxias and the region, as in addition to making it possible to reduce the cost of surgical procedures, it allows the provision of a service through the Unified Health System (SUS).

Keywords: Operative procedures; Pelvic Floor; Physiotherapy services; Outpatient clinics; Health Unic System.

INTRODUÇÃO

O assoalho pélvico é composto por camadas de músculo, fáscia e ligamentos que provem o suporte e a sustentação dos órgãos pélvicos e abdominais. Os músculos do assoalho pélvico são essenciais para manter o funcionamento harmonioso dos órgãos da pelve. Entre as funções mais importantes, destaca-se a manutenção da posição anatômica, o desempenho sexual satisfatório e a prevenção de disfunções pélvicas (Carvalho et al., 2021).

A Uroginecologia é uma subespecialidade que se refere aos distúrbios e intervenções cirúrgicas nas áreas de urologia e ginecologia (Silva e Fabris 2019). As cirurgias uroginecológicas compreendem aquelas nos rins, ureter, bexiga, próstata, uretra; além daquelas no sistema reprodutor que podem causar impactos sobre as estruturas adjacentes e trazer prejuízos à anatomia funcional do assoalho pélvico (Brito, Castro e Juliano, 2019). Um estudo realizado em Porto Alegre (RS) foram analisados 413 prontuários dos pacientes do Ambulatório de Fisioterapia Pélvica, 43,6% apresentaram o diagnóstico médico de pelo menos um tipo de prolapso de órgãos pélvicos, 48,4% realizaram pelo menos uma cirurgia ginecológica e 11,1% fizeram histerectomia (Mello, 2019).

No Brasil, entre os anos de 2013 a 2023 foram realizados aproximadamente 1,5 milhão de procedimentos cirúrgicos de urologia e ginecologia, que se concentram em intervenções ginecológicas de histerectomia e colpoperineoplastias, cistectomia, incontinência urinária, no sexo feminino, e Prostatectomia Radical (PR), no masculino (Santo et al., 2023). A PR consiste na retirada de toda a glândula prostática, vesículas seminais e outros tecidos, tendo como função ressecar o tumor presente na próstata, com o enfoque na cura (Silva et al., 2021). Segundo o INCA (Instituto Nacional do Câncer), o câncer de próstata é o mais incidente no Brasil, com estimativa de 65.840 novos casos em 2020, correspondendo a um risco de 62,95 casos novos/100 mil homens. 

Seguido dos procedimentos cirúrgicos citados acima, destacam-se as complicações, tais como: incontinência urinária (IU), disfunção erétil (DE) e hipotonia da musculatura do assoalho pélvico (Gonçalves, 2016). Tanto a função urinária quanto a erétil dependem de um bom funcionamento da musculatura do assoalho pélvico (MAP) (Santo et al., 2023).

Outra disfunção de grande impacto no sexo feminino é o prolapso genital, condição ginecológica caracterizada por uma hérniação do conteúdo pélvico e/ou intraperitoneal no canal vaginal (Silva e Fabris 2019). É disfunção comum que pode afetar intensamente a qualidade de vida dos pacientes, causando impacto psicológico, social e financeiro. Possui prevalência estimada de 21,7% em mulheres entre 18 a 83 anos, alcançando 30% naquelas entre 50 e 89 anos (Gomes et al., 2021). Aos 80 anos, 11,1% das mulheres têm ou tiveram indicação cirúrgica para a correção do prolapso genital ou de incontinência urinária (Brito, Castro e Juliato, 2018).

Nesse contexto, segundo a Agência Nacional de Saúde (ANS), a Fisioterapia é considerada padrão ouro no tratamento das disfunções pélvicas, pois oferece baixo risco de efeitos colaterais.  É um tratamento conservador e não invasivo, sem prejuízos a tratamentos subsequentes, além de possuir baixo custo financeiro quando comparado ao tratamento cirúrgico (Gonçalves, 2016; Moreno, 2019). No âmbito multidisciplinar a fisioterapia em uroginecologia é uma subespecialidade relativamente nova, atuante no pré e pós-operatório (Silva e Fabris 2019).

A fisioterapia atua também no tratamento de complicações cirúrgicas logo após o procedimento com o intuito de proporcionar uma melhor qualidade de vida (Silva e Fabris, 2019). Seus objetivos incluem ainda, aumento na resistência dos músculos do assoalho pélvico, prevenção da evolução da incontinência urinaria, redução da frequência ou gravidade dos sintomas e prevenção ou retardo da necessidade de cirurgias (Dumoulin e Cacciari, 2018). Dentre os principais recursos fisioterapêuticos utilizados, têm-se: educação e mudanças de hábitos comportamentais, treinamento vesical, biofeedback, eletroestimulação, cones vaginais e treinamento muscular do assoalho pélvico (TMAP) (Dias et al., 2020).

Embora essas cirurgias possam trazer benefícios à saúde e qualidade de vida, é importante considerar as consequências operatórias que podem ter um impacto significativo no bem-estar geral, como por exemplo, alterações na função sexual, incontinência urinária, disfunção intestinal e limitações na mobilidade (Santo et al., 2023). Antes da intervenção cirúrgica são necessários tratamentos e condutas auxiliares, na tentativa de reduzir os impactos (Lins et al., 2021).

Com o avanço das pesquisas em fisiologia do trato urinário e o aprimoramento das técnicas de diagnóstico, a fisioterapia uroginecológica tem assumido um importante papel na reabilitação dos pacientes acometidos. Seus objetivos incluem aumento na resistência dos músculos do assoalho pélvico, prevenção da evolução da incontinência urinaria, redução da frequência ou gravidade dos sintomas e prevenção ou retardo da necessidade de cirurgias (Dumoulin e Cacciari, 2018).

O Sistema Único de Saúde (SUS) está orientado e estruturado para uma atenção integral, numa perspectiva de promoção da saúde, necessidades de saúde da população, controle de patologias mais prevalentes e garantia do direito à saúde. Faz-se necessário ampliar essa abordagem às disfunções do assoalho pélvico, que muitas são condição de saúde crônica, altamente prevalente, que levam a limitações físicas, emocionais sociais, sexuais, causando impacto negativo na qualidade de vida (Dias et al., 2020).

Baseado nisso, Dias et al (2020) implantaram o primeiro serviço de Fisioterapia uroginecológica com atendimento pelo SUS no Estado do Piauí. Abordando como importância principal, recomendar o tratamento conservador como a primeira linha de tratamento para disfunções pélvicas. O ambulatório foi marcado pelo aumento progressivo da demanda, que iniciou com três pacientes/dia e finalizou esse período com 10 pacientes/dia.

A criação de um Serviço Ambulatorial de Fisioterapia Pélvica em Cirurgias uroginecológicas com atendimento pelo SUS, segue com os preceitos de humanização e com o objetivo de melhorar qualidade de vida e oferecer ao paciente uma assistência de qualidade, de forma integral, preventiva, conservadora para uma população mais vulnerável aos serviços públicos, reduzindo gastos, melhorando o sistema de saúde local, e assim reduzir o número de cirurgias uroginecológicas. Dessa forma, objetiva-se relatar a experiência de implantação e desenvolvimento de um serviço de ambulatório de Fisioterapia em Cirurgias Uroginecológicas em Caxias, Maranhão.

2. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo de descritivo, acerca da implantação e desenvolvimento de um Ambulatório de Fisioterapia em Cirurgias Uroginecológicas em Caxias, Maranhão.

2.1. Idealização do projeto e implantação do serviço

O Ambulatório de Fisioterapia em Cirurgias Uroginecológicas surgiu a partir de uma grande demanda de pacientes atendidos nos consultórios particulares em Caxias, Maranhão, encaminhados por cirurgiões da região, como Teresina – PI e Aldeias Altas – MA, sendo prioritariamente tratamento pós-cirúrgico. Além do mais, durante as avaliações, diversas situações evidenciaram a necessidade desse serviço, tais como: ausência de tratamento pré-cirúrgico, desconhecimento sobre tratamentos conservadores e presença recorrente de complicações cirúrgicas, como dores, aderências pélvicas, uso prolongado de sondas e quadro severo de incontinência urinaria.  

Ainda assim, a maioria dos pacientes possui baixo nível socioeconômico e os valores das sessões fisioterapêuticas particulares estimula a interrupção do tratamento antes da alta planejada, ou até, nem as iniciam, optando por aceitar conviver com as consequências.  Dessa forma, diante desses relatos e crescente números de cirurgias uroginecológicas na região surgiu a necessidade de um espaço no setor público com atendimento pelo SUS destinados a pacientes no pré e pós-operatório de cirurgias uroginecológicas.

O Ambulatório atualmente está localizado na Policlínica do município de Caxias, Maranhão, situado na mesorregião do leste maranhense e na microrregião do Itapecuru. Caxias possui uma área de 5.313.10 Km², situada a 365 quilômetros da capital do Maranhão, São Luis, com uma população de 156 mil habitantes (Figura 1). Atualmente a Policlínica atende demandas de Caxias e cidades vizinhas, oferecendo serviços médicos e multididiciplinares, além de possuir convênios e outras parcerias com o Governo do Estado do Maranhão, Prefeituras, Secretaria da mulher, Secretaria de saúde do homem e Instituições privadas, como a Casa de Saúde de Caxias e Clínica Nayara Xavier.

É o primeiro espaço destinado a saúde pélvica no âmbito do SUS, em Caxias-MA. E surgiu com a finalidade de garantir as ações de cuidado continuado e integrado à rede de atenção à saúde, buscando fornecer melhoria na qualidade de vida, no cuidado, na prevenção de intercorrências, complicações, além de reduzir o número de cirurgias uroginecológicas (Moreno, 2019). O ambulatório também traz a proposta de atender casos no pré e pós-operatório de cirurgias uroginecológicas do sexo masculino.

O ambulatório foi implantado no mês de setembro de 2023, porém os atendimentos só iniciaram no mês de novembro, devido a divulgação e espera da instalação de alguns aparelhos. Na Figura 2 verificam-se a estrutura do ambulatório e os equipamentos oriundos da parceria com a Prefeitura de Caxias, MA. Atualmente possui um fisioterapeuta em regime de contrato pelo município de Caxias, especialista em fisioterapia pélvica funcional, e um estagiário graduado. Os atendimentos funcionam quatro vezes na semana, nos turnos matutino e vespertino.

Figura 01: Policlínica onde o ambulatório está localizado em Caxias, Maranhão.

Figura 02: Espaço interno e equipamentos do ambulatório

2.2. Inserção social

A Fisioterapia em uroginecologia é considerada uma subespecialidade nova e ainda pouco expandida, além de ser muito confundida como tratamento apenas para disfunções sexuais. É por vezes considerada elitizada, restringindo-se a consultórios particulares e a serviços de saúde conveniados por rede privada, sem acesso à população de baixo nível socioeconômico (Mello, 2019). Geralmente, quando os pacientes apresentam disfunções e/ou alterações na integridade dessa região já são encaminhados diretamente ao setor cirúrgico, sem tratamento conservador e sem orientações prévias (Carvalho et al., 2018).

Dessa forma, o desenvolvimento e implantação desse ambulatório possui grande relevância social, principalmente na tentativa de minimizar a incidência de procedimentos cirúrgicos de casos reversíveis, uma vez que tais procedimentos podem desencadear riscos a curto prazo, como hemorragias e má cicatrização, e a longo prazo, a retirada de órgãos (Lins et al., 2021). Além do mais, o ambulatório traz a proposta de um trabalho educativo em relação aos cuidados, como contribuição na educação continuada, busca do bem-estar como um ser integral, atendendo as necessidades físicas, psicológicas e sociais (Luft e Vieira, 2020).

2.3. Desenvolvimento dos Procedimentos Operacionais Padrão (POP´s)

Visando a efetivação dos serviços junto à sociedade, seja de forma individual, familiar ou coletiva, de modo a zelar pelas boas práticas quanto à qualidade e segurança das atividades e seguindo os direcionamentos para o funcionamento correto do ambulatório, foram criados 14 Procedimentos Operacionais Padrão (POPs).

De acordo com o Ministério da Saúde, todos os serviços de saúde devem seguir normas e diretrizes determinadas por critérios técnicos. Com isso, o Procedimento Operacional Padrão (POP) é essencial para garantir da padronização e melhorar o atendimento ao usuário, aprimorar as tarefas a serem realizadas com os pacientes, usuários e equipe nas dependências do ambulatório (Oliveira et al., 2024). Tem como objetivo oferecer ao paciente uma assistência de qualidade, de forma integral e pautada em evidências científicas e sistematização de rotinas (Soares e Araujo, 2022).

Foram desenvolvidos 9 Procedimentos Operacionais Padrão (POPs) e publicado em formato de livro digital (Figura 3) disponível no link de acesso: https://doi.org/10.29327/5362106. Foi disponibilizado a equipe da Policlínica para que todos possam trabalhar em constante sintonia (Quadro 01).

Figura 3 – Manual de Procedimentos Operacionais Padrão (POP) do Ambulatório de Fisioterapia em Cirurgias Uroginecológicas

Quadro 01: Distribuição dos PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS PADRÃO (POPs).

3. RESULTADOS

Após o desenvolvimento e publicação dos POPs foram iniciados os atendimentos. No Quadro 2 é demonstrado informações relacionadas ao perfil dos pacientes atendidos no Ambulatório de Fisioterapia em Cirurgias Uroginecológicas. O início dos atendimentos ocorreu em novembro de 2023, sendo contabilizados a princípio sete pacientes.

Os pacientes eram de ambos os sexos, atendidos no período pré e pós-operatório, com idade entre 38 a 73 anos, sendo a protatectomia radical a mais prevalente entre os homens. Já as patologias registradas no sexo feminino incluem: histerectomia total, prolapso de parede de bexiga e miomectomia. A média de atendimentos no ambulatório foi de 6,71 consultas por paciente.

Quadro 2- Perfil de pacientes atendidos no Ambulatório de Fisioterapia em Cirurgias Uroginecológicas, Caxias-MA.

Nota: M (masculino), F (feminino)

No Quadro 2 verifica-se ainda que cinco pacientes foram atendidos no pós-operatório, sendo a maioria do sexo masculino. Um paciente (14,24%) com diagnóstico de histerectomia em pós-cirúrgico com total de 6 atendimentos. Um caso de pós-cirúrgico de miomectomia (14,24%) apresentando aderências e dores na região pélvica. E um paciente (14,24%) em pré-operatório de prostatectomia radical, na ocasião foi orientado sobre as disfunções possíveis de ocorrer, tais como incontinência urinária e disfunção sexual.

Outro caso atendido no ambulatório foi de um paciente (14,24%) com prolapso de parede de bexiga, no estágio pré-operatório, com sintomas secundários, como a incontinência urinaria. Neste caso, optou-se pelo uso do pressário, dispositivo para sustentação do órgão e com intuito de retardar a evolução do prolapso. Quanto a prostatectomia radical, no pós-operatório imediato, foi possível observar um maior número, total de 3 pacientes (42,85%) com o sintoma de incontinência urinária e uso prolongado de dias com sonda vesical (10 dias).

Avaliados e tratados de forma individualizada e com protocolo personalizado, todos os pacientes fizeram uso da eletroestimulação via intra e extra cavitário com eletrodos de borracha, biofeedback e eletroestimulação associado com educador perineal, com objetivo de fortalecer do assolho pélvico, estimular circulação sanguínea local, liberação de musculatura uni digital e reduzir pontos dolorosos e aderências. Além do mais, foi realizado plano de tratamento de fortalecimento de assolho pélvico, abdome e conscientização muscular através de exercícios personalizados e orientação.

Ainda assim, todos os pacientes atendidos no ambulatório seguiram a padronização e direcionamento de fluxo para a avaliação, que consistiu em: (1) Agendamento de consultas: através do encaminhamento médico, acompanhado de exames e laudo médico. Nessa ocasião, o paciente já recebe as informações de como será o exame físico e os atendimentos; (2) Avaliação: Dividida em duas etapas: anamnese e exame físico, nesta ordem, para posterior elaboração do plano de tratamento. Após a definição do diagnóstico cinesiológico funcional, um tratamento especializado era definido.

3. DISCUSSÃO

O Ambulatório de Fisioterapia em Cirurgias Uroginecológicas também traz proposta de um trabalho preventivo, na tentativa de não evoluir ao procedimento cirúrgico ou caso aconteça a evolução para a cirurgia, esse paciente esteja com musculatura preparada, fortalecida, além das orientações sobre a conduta e como proceder no pós-cirúrgico (Aoki et al., 2017). Já os pacientes em pós-cirúrgicos, o tratamento será de acordo com necessidade de cada paciente com protocolos individualizados e personalizados. A eletroestimulação será usada como conduta imediata, seguidos de biofeedback, estimulação neuromuscular e plano de exercícios a serem executados em ambiente domiciliar orientados pela equipe.

Nesse contexto, para um satisfatório atendimento fisioterapêutico no pós-operatório, se faz necessário uma avaliação pré-operatória detalhada, com o objetivo de verificar as alterações pré-existentes, além de identificar os possíveis fatores de riscos para complicações pós-operatórias, além de promover orientações eficazes (Kowalski, Savage e Bradley, 2015; Santo, et al. 2023). O treinamento da musculatura do assoalho pélvico, independente do sexo quando executado regularmente, pode proporcionar melhora da função muscular, diminuição do número de perdas urinárias, melhora da consciência perineal, e consequentemente melhora da qualidade da vida (Fante et al., 2019; Latorreet al., 2020).

De acordo com a Sociedade Internacional de Continência (ICS), existem diversas opções terapêuticas disponíveis para o tratamento de disfunções uroginecológicas, como medicamentos, cirurgias e intervenções conservadora (Fusco, 2017). Recomenda-se também que a fisioterapia especializada em saúde pélvica interligada com as intervenções conservadoras, sejam realizadas antes das intervenções cirúrgicas, uma vez que possibilitam melhora ou cura em 80% dos casos (Stein et al., 2018; Luft e Vieira, 2020).

Baseado no exposto acima, a Implantação do Ambulatório de Fisioterapia em Cirurgias Uroginecológicas em Caxias, MA, possui semelhanças ao Serviço de Fisioterapia uroginecológica implantado por Dias et al (2020), o primeiro com atendimento pelo SUS no Estado do Piauí. Marcado pelo aumento progressivo da demanda, que iniciou com três pacientes/dia, seguido por 10 pacientes/dia. Seis meses após o início dos atendimentos, o público se diversificou entre homens, mulheres, crianças e gestantes. Com diversas patologias uroginecológicas, coloproctológicas, sexuais e mamárias, provenientes de outros hospitais públicos da cidade de Teresina e de outros municípios do Piauí.

O Ambulatório de Fisioterapia em Cirurgias Uroginecológicas de Caxias traz uma proposta diferente, sendo direcionada a pacientes do sexo masculino, feminino e em pacientes submetidos a cirurgias de transgenitalização. Todos os atendimentos são âmbito do SUS, trazendo além de uma proposta de reabilitação, tratamento conservador, de forma intima e individualizada.

Um estudo com uma amostra por conveniência de 167 mulheres com queixas de disfunções musculares do assoalho pélvico mostrou que mulheres com queixas de disfunção pélvica submetidas à histerectomia apresentaram 2,22 vezes mais chance de falta de força muscular pélvica, em comparação com aquelas que não realizaram esse procedimento (Carvalho et al., 2021).  Torrei (2022) relata também a presença de sintomas pélvicos, dentre eles, incontinência urinária em mulheres.  O tratamento constituiu-se de 12 sessões com 30 minutos realizadas duas vezes na semana, totalizando seis semanas, com exercícios de mobilidade pélvica, alongamento, fortalecimento e relaxamento. Após o tratamento, houve redução de 80% de queixas de perda de urina ao esforço, redução de 40% na sensação de vontade de urinar em situações de estresse e frio.

Outro estudo realizado em um ambulatório especializado em Fortaleza (CE), revelaram que, das 85 pacientes com disfunção do assoalho pélvico (DAP), 58,8% possuíam prolapso estádio II, 14,1% estádio III e 2,4% estádio IV, com mais da metade (55,3%) apresentou defeitos da parede anterior da vagina (Ferrreira et al., 2018). Dentre os tipos de tratamentos, a abordagem cirúrgica é a mais frequente (Gomeset al., 2021).

Os tratamentos fisioterapêuticos para o assoalho pélvico incluem treinamento vesical, treinamento dos músculos do assolho pélvico com ou sem biofeedback, cones vaginais, eletroestimulação e outros recursos que auxiliam no tratamento. Essas modalidades podem ser usadas de forma isolada ou associadas e o tratamento pode ser individual ou em grupo (Pereira e Sena, 2021). É importante ressaltar que no trabalho desenvolvido por Dumoulin e Cacciari (2018) e Silva e Fabris (2019) aborda os mesmos recursos fisioterapêuticos usados nos atendimentos do referido trabalho.

Nesse contexto, as doenças do aparelho geniturinário, do sexo masculino e feminino, são responsáveis por um elevado número de procedimentos cirúrgicos em todo o mundo.  As disfunções como a incontinência urinária, incontinência fecal, prolapsos dos órgãos pélvicos, constipação e disfunções sexuais, causam importantes repercussões na população acometida, muitas vezes necessitando de procedimentos invasivos (Carvalho, Silva e Silveira, 2018; Dumoulin e Cacciari, 2018).

Historicamente, a incontinência urinária vem sendo tratada por meio de cirurgias e medicamentos, ainda que, em 1948, Arnold Kegel já houvesse proposto uma série de exercícios da musculatura perineal com o objetivo de minimizar os sinais e sintomas. Essa abordagem vem sofrendo transformações, tendo em vista que o tratamento cirúrgico é um recurso invasivo, podendo trazer complicações, com tempo de recuperação demorado, além do sucesso não ser totalmente garantido e de existirem chances de recidivas (Malinauskasa e Torrelli, 2022). Por outro lado, os efeitos da terapia medicamentosa dependem de uso contínuo e podem causar efeitos colaterais indesejáveis. O tratamento fisioterapêutico foi indicado pela Sociedade Internacional de Continência como a opção de primeira linha para incontinência urinária, devido ao baixo custo, baixo risco e eficácia comprovada (Gonçalves, 2016).

Por fim, os principais resultados da intervenção fisioterapêutica relatados na literatura apontaram ganhos na consciência da contração muscular perineal e que a fisioterapia pélvica pode ser uma estratégia efetiva e de baixo custo para o tratamento e recuperação de pacientes com disfunção de assoalho pélvico. Os pacientes atendidos conseguem manter continuidade ao tratamento, as orientações quanto ao pré e pós-operatório, além de retardar/retirar pacientes da fila de cirurgias, reduzindo assim os gastos do procedimento cirúrgicos.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Frente às necessidades da implantação do Ambulatório de Fisioterapia em Cirurgias Uroginecológicas de Caxias (MA), faz-se necessário seguir todo um processo desde sua idealização, passando por sua estruturação, até o momento de funcionamento já realizando atendimentos junto aos seus usuários. Além disso, a produção dos POPs publicados em formato digital podem contribuir como material de referência para posteriores procedimentos de implantação e viabilização de demais serviços do mesmo caráter, os quais visam trazer benefícios à população.

Dessa forma, a presença do ambulatório em funcionamento no município faz diferença na vida dos pacientes, trazendo melhor e mais rápida recuperação, assim, melhor qualidade de vida.  Espera-se incentivar com o Ambulatório de Fisioterapia em Cirurgias Uroginecológicas de Caxias (MA) o tratamento de outras patologias associadas, seja em ambulatório, hospitalar ou na atenção básica, além de que inúmeras destas disfunções sejam resolvidas no atendimento ambulatorial, seguidas de adequada orientação e resultados satisfatórios com menor número de atendimentos.

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1 Fisioterapeuta; Mestranda do Programa de mestrado profissional em Cirurgia e Pesquisa – CIPE (UEPA).

2 Médico; Mestrando do Programa de mestrado profissional em Cirurgia e Pesquisa – CIPE (UEPA).

3 Psicóloga; Mestre do Programa de mestrado profissional em Cirurgia e Pesquisa – CIPE (UEPA).

4 Enfermeiro; Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Pesquisa e Cirurgia Experimental (CIPE)

5 Enfermeiro; Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Pesquisa e Cirurgia Experimental (CIPE)

6 Enfermeiro pela Universidade Estadual do Maranhão

7 Graduando Enfermagem Bachareladopela Universidade Estadual do Maranhão

8 Fisioterapeuta; Mestrando do Programa de mestrado profissional em Cirurgia e Pesquisa

9 Docente da Universidade do Estado do Pará, Campus Cametá.

10Fisioterapeuta, docente da Universidade do Estado do Pará, Campus Cametá.