EPIDEMIOLOGIA DOS ACIDENTES COM ANIMAIS PEÇONHENTOS NO ESTADO DE RONDÔNIA ENTRE 2012 A 2022: UMA ANÁLISE DE ONZE ANOS.

EPIDEMIOLOGY OF BITING ANIMAL IN THE STATE OF RONDÔNIA BETWEEN 2012 TO 2022: AN ELEVEN-YEAR ANALYSIS. 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11305979


Ana Clara Sá Figueiredo Mendonça1
Anny Beatriz Kayser Mariano2
Byanca Ysadora Borges Lérias3
Kendrick Oliveira Araujo Souza4
Flávio Aparecido Terassini5


RESUMO: 

A Amazônia Legal brasileira é reconhecida pela sua vasta biodiversidade, abrigando uma  variedade de animais peçonhentos responsáveis por frequentes acidentes ofídicos. Esses eventos  acarretam uma significativa morbimortalidade, sobretudo entre populações vulneráveis de países  tropicais em desenvolvimento, como o Brasil. Foi realizado um estudo transversal, documental e  descritivo, utilizando abordagens quantitativas e dados do Sistema de Informação de Agravos de  Notificação (SINAN), com objetivo de investigar e analisar a incidência e as características dos  acidentes por animais peçonhentos em Rondônia entre 2012 a 2022, abrangendo um período de 11  anos, com o objetivo de enfatizar a necessidade de aprimorar políticas de prevenção e tratamento.  Resultados: Foram registrados 10.598 acidentes no período, com predominância de serpentes  (56,32%) (destes, 43,23% provocados pela espécie Bothrops), seguido de 25,10% ocasionado por  escorpiões, 15,64% por aranhas e 2,94% por lagartas. Os grupos mais afetados são: homens (71,58%)  entre 20-59 anos (68%) e pessoas pardas (61,15%). Os pés (37,10%) foram a área corporal mais  atingida. A maioria dos pacientes (33%) procuraram atendimento médico entre 0-1horas após o  acidente e a taxa de cura foi de 90,95%, com apenas 0,28% de evolução para óbitos. Conclusão:  Conclui-se que os acidentes ofídicos representam um desafio significativo para a saúde pública em  Rondônia, demandando a implementação de medidas preventivas, diagnóstico precoce e tratamento  adequado para mitigar os impactos na morbidade e mortalidade. Políticas públicas são necessárias  para promoção da educação em saúde e garantia de acesso universal a serviços de qualidade, além  do desenvolvimento de soros específicos para a região.  

Palavras-chave: Acidentes por animais peçonhentos; Envenenamento; Rondônia; Ofídicos.

ABSTRACT: The Brazilian Legal Amazon is renowned for its vast biodiversity and is home to a variety  of venomous animals responsible for frequent snakebite accidents. These events cause significant  morbidity and mortality, especially among vulnerable populations in tropical developing countries such  as Brazil. A cross-sectional, documentary and descriptive study was carried out, using quantitative  approaches and data from the Notifiable Diseases Information System (SINAN), with the aim of  investigating and analyzing the incidence and characteristics of accidents by venomous animals in  Rondônia between 2012 and 2022, covering a period of 11 years, in order to emphasize the need to  improve prevention and treatment policies. Results: 10,598 accidents were recorded in the period, with  a predominance of snakes (56.32%) (of these, 43.23% were caused by the Bothrops species), followed  by 25.10% caused by scorpions, 15.64% by spiders and 2.94% by caterpillars. The groups most affected  were: men (71.58%) aged 20-59 (68%) and brown people (61.15%). The feet (37.10%) were the most  affected body area. The majority of patients (33%) sought medical care between 0-1 hours after the  accident and the cure rate was 90.95%, with only 0.28% progressing to death. Conclusion: It can be  concluded that snakebite accidents represent a significant public health challenge in Rondônia, requiring  the implementation of preventive measures, early diagnosis and adequate treatment to mitigate the  impacts on morbidity and mortality. Public policies are needed to promote health education and  guarantee universal access to quality services, as well as the development of specific serums for the  region.  

Keywords: Accidents by venomous animals; Poisoning; Rondônia; Ophidians.  

1. INTRODUÇÃO 

Localizada no Brasil, a Amazônia Legal possui a maior floresta tropical do  mundo, composta por nove estados: Amazonas, Acre, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins (IBGE, 2021). Amazônia legal  abrange 59% do território brasileiro com 5 milhões de quilômetros quadrados,  representando 67% das florestas tropicais do mundo (IMAZON, 2013). Devido aos  seus diferentes tipos de biomas, a Amazônia legal possui uma grande variedade  de espécies, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) descreve que  os dados são imprecisos pois é difícil mensurar em números exatos as espécies ali presentes, relacionado com o número de pesquisas diárias neste local. 

Os animais peçonhentos são representados com um aparelho inoculador contendo toxinas produzidas através de glândulas de veneno, com a intenção de  preservação de sua espécie ou ato de defesa. Posto isto, os meios de inoculação  da peçonha variam para cada espécie, os escorpiões utilizam o aguilhão, as aranhas pelo par de quelíceras e as serpentes com dentes inoculadores localizados na região anterior do maxilar superior (FERREIRA e BORGES, 2020).  

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), anualmente existem cerca de 5,4 milhões de vítimas de acidentes ofídicos no mundo,  provocando entre 1,8 a 2,7 milhões de envenenamentos. Os acidentes por  animais peçonhentos são de grande morbimortalidade e importância para saúde  pública, particularmente em países tropicais e subtropicais, como é o caso do  Brasil, uma vez que há aproximadamente 250 mil acidentes por animais  peçonhentos todos os anos, desde 2010 os acidentes com animais peçonhentos  foram incluídos na lista de notificação compulsória (SECRETARIA DE ESTADO  DE SAÚDE, sd.). 

Vale ressaltar que esses acidentes estão diretamente relacionados não  somente com a sobreposição do homem no meio que os animais vivem, seja através de moradia, trabalho, lazer ou afins, mas também trata- se de uma questão socioeconômica relevante, isso pois o mesmo afeta principalmente países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, além das populações mais vulneráveis  do país (BELMINO, 2015).

O ofidismo, em questão, é tratado pela Organização Mundial da Saúde  (OMS) como uma das doenças tropicais negligenciadas, e traz inúmeras consequências definitivas ou temporárias, sejam físicas, psicológicas e/ou socioeconômicas decorrentes do número de hospitalizações, mortes ou  aposentadorias precoces devido à invalidez, apesar dessas estarem ligadas com fatores epidemiológicos da vítima como a idade, sexo, local da picada, gênero do  animal, tempo percorrido entre o acidente e o atendimento e as condições fisiológicas da vítima,além desses, a quantidade de veneno inoculado (BOCHNER, 2003). 

Os acidentes por escorpiões, serpentes e aranhas são os mais comuns no  Brasil. Sendo principalmente os escorpiões do gênero Tityus; dentre as serpentes, as dos gêneros Bothrops (sedestacando com quase 85% dos casos), CrotalusLachesis e Micrurus, e nas aranhas as dos gêneros Phoneutria, Loxosceles e Latrodectus. Outros animais peçonhentos e venenosos, como abelhas e lagartas  são citados como causadores de acidentes em menor escala (OLIVEIRA, 2013). Sendo assim, o presente estudo tem como objetivo avaliar aspectos epidemiológicos dos acidentes por animais peçonhentos no estado de Rondônia, uma vez que estudos epidemiológicos na região são escassos, levando em  consideração a dificuldade do acesso, registro e realização destas pesquisas.  Embora indiscutivelmente necessárias para direcionar e criar políticas de  prevenção a grupo de riscos ou localidades suscetíveis, além da produção e distribuição de soros antivenenosos eficazes e disponíveis na saúde pública (ALMEIDA, 2013). 

2. REFERENCIAL TEÓRICO  

2.1 Estado de Rondônia em relação acidentes por animais peçonhentos.

Localizado na região Norte do Brasil, o Estado de Rondônia, possui área  territorial de 237.754,172 Km2, faz divisa com os estados do Amazonas, Mato Grosso,  Acre e o país vizinho, a Bolívia. Caracterizado por rica diversidade geográfica  envolvendo floresta amazônica até zonas de transição para o cerrado, composto por  52 municípios com população estimada de 1.581.196 pessoas (IBGE, 2022). 

Rondônia apresenta características geográficas e ambientais que favorecem a  ocorrência de acidentes com animais peçonhentos, no estado há registro de 118  espécies de serpentes, distribuídas por 109 espécies em floresta amazônica e 27 espécies no cerrado (BERNARDE, 2012). De acordo com o Sistema de Informação  de Agravos de Notificações (SINAN), os principais gêneros de serpentes notificados  são representados em maior ocorrência pelas Bothrops, Crotalus, Micrurus e  Lachesis

O termo “Araneísmo” é utilizado para descrever os casos de envenenamento  causados por picadas de aranhas. Na região de floresta amazônica é registrado  atualmente, 19 espécies de aranhas. No entanto, apenas algumas espécies de  aranhas são consideradas relevantes em termos de saúde pública, pertencendo a  quatro gêneros, sendo três deles encontrados no Brasil. De acordo com o Sistema de  Informação de Agravos de Notificação (SINAN), são representadas pelos gêneros  Phoneutria, Loxosceles, Latrodectus (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2022). 

O processo de desmatamento das florestas e urbanização representa uma  transformação radical das áreas naturais substituídas por áreas altamente  degradadas, provocando importantes alterações na distribuição e comportamento de  diversas espécies, favorecendo alta taxa de acidentes, principalmente por serpente,  aranha e escorpiões (BUTANTAN, 2017).  

A zona rural possui maior incidência com acidentes por animais peçonhentos,  apesar disso o perímetro urbano não está isento de animais peçonhentos, pois em  bairros afastados dos grandes centros possui uma prevalência significante,  principalmente em períodos de chuva, onde tem-se maior locomoção de serpentes,  escorpiões e aranhas para essas localidades. Sendo maior prevalência em períodos  de chuva as serpentes, sempre que se sentem ameaçadas possuem o instinto de  ataque (PENA, 2014). De acordo com Guimarães et al., (2015) quando se possui um  aumento no volume de água dos rios fazendo que ele transborde, as serpentes  tendem a ser arrastadas, onde precisam buscar abrigos em terra firme. É frisado pelo  autor que um aumento quantitativo de resíduos domésticos, acumulados e  armazenados de maneira incorreta, atraem a classe dos roedores, onde na cadeia  alimentar representam uma forte ligação com a alimentação das serpentes. 

2.2 Animais peçonhentos  

Os animais peçonhentos conhecidos pela sua capacidade de inoculação da  peçonha, popularmente nomeado como veneno, possuem glândulas especializadas  na produção e inoculação de toxinas em presas ou potenciais predadores, diferente  dos animais venenosos, que liberam suas toxinas de forma passiva, geralmente através da pele, quando outros seres entram em contato direto ou os consomem  (BUEHLER, 2020). 

No Brasil, os acidentes por animais peçonhentos são a segunda causa de  envenenamento humano, ficando atrás apenas da intoxicação por uso de  medicamentos. Constituem importante causa de morbidade e mortalidade, portanto,  a compreensão da epidemiologia desses acidentes é fundamental para o  desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção e controle (MINISTÉRIO DA  SAÚDE, 2019). 

Dentre os animais peçonhentos causadores de acidentes no Brasil destacam-se as serpentes e alguns artrópodes, particularmente escorpiões e aranhas. Em  menor escala, são notificadas as lagartas (OLIVEIRA, 2013). 

As serpentes são classificadas em serpentes peçonhentas e não peçonhentas,  os principais critérios para identificar em toda serpente peçonhenta no Brasil é através  de um orifício entre o olho e a narina, conhecido como fosseta loreal, empregado para  detectar a presença de calor, o que capacita a serpente a caçar presas de corpo  quente, como mamíferos e aves, especialmente durante a escuridão, exceto na cobra coral (Micrurus), por não possuir fosseta loreal, mas identificada através dos seus  anéis com coloração vermelho, preto e brancos ou amarelos. Na região amazônica,  também há corais pretos e brancos ou marrons (CANTER, 2008). 

As aranhas secretam a peçonha através de duas glândulas presentes na  região das quelíceras. A aranha armadeira (Phoneutria) espécie agressivas com  hábitos noturnos, ao ser ameaçada assume posição de defesa com visualização das  quelíceras, sua peçonha age principalmente no sistema nervoso, com evolução  importante (SANTOS,2019). A aranha- marrom (Loxosceles) é considerada uma  espécie de toxina perigosa e mais letal no Brasil, porém pouco agressiva, na região  do local da picada normalmente sem manifestação dolorosa. Já a aranha viúva negra (Latrodectus), da qual a fêmea causa envenenamento com alta toxicidade e  com quadro doloroso no local da picada é menos frequente no Brasil (SECRETARIA  DA SAÚDE DO ESTADO PARANÁ, s.d).

3. MATERIAL E MÉTODOS  

Esta pesquisa consistiu em analisar o perfil epidemiológico dos acidentes causados por animais peçonhentos no Estado de Rondônia, que faz parte da Amazônia Ocidental e abrange 2,6% do território brasileiro. Para isso, foram utilizadas fontes como revisão literária, estudo de artigos científicos e consulta a sites de organizações científicas e órgãos oficiais confiáveis tais como a plataforma  SCIELO/2024. 

Foi feito um estudo através de um levantamento de dados quantitativos com base nas notificações registradas no Sistema Nacional de Agravos e Notificação  (SINAN/AGEVISA/RO) do Estado de Rondônia entre os anos de 2012 a 2022. Tal análise considerou notificações detalhadas em relação a frequência por ano da  notificação segundo o município de ocorrência do acidente, espécie e gênero de animal peçonhento causador do acidente, faixa etária, sexo, região anatômica da  picada, classificação do caso e evolução do caso.  

Neste projeto foram trabalhados os casos de acidentes dos 52 municípios do estado  de Rondônia, além de ser visto que os acidentes epidemiológicos têm maior  prevalência em meses que há um aumento de temperatura e da umidade. Das  informações obtidas pelo próprio SINAN de notificação, foi feito gráficos e tabelas  comparativos para maior entendimento. Em nossa pesquisa não houve a necessidade  de ser avaliada pelo sistema CEP/COMEP visto que se trata de pesquisas com dados  nas quais as informações são agregadas sem possibilidade de identificação individual,  sendo de domínio público. 

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO  

4.1. Distribuição dos acidentes por animais peçonhentos pela espécie do animal. 

Com base no último censo, o estado de Rondônia é composto por 1.581.196  pessoas (IBGE, 2022). Obteve-se então uma amostra de 10.598 casos de acidentes  (963 casos/anos) por animais peçonhentos no estado entre o período de 2012 a  2022 (SINAN, 2022).  

Do total de casos, as serpentes contribuíram com 5.969 acidentes,  representando a maior parte dos acidentes, por 56,32%, seguida de escorpião por  25,10%, por aranha 15,64% e menor número de casos as lagartas por 2,94% visualizados no gráfico 1. 

Gráfico 1 – Distribuição dos acidentes por animais peçonhentos pelo tipo de animal e espécie nos  anos de 2012 a 2022 no estado de Rondônia. 

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN Net/2024. 

Entre os tipos de serpentes envolvidas no total de acidentes, juntas  correspondem a 5969 casos, predominando o gênero Bothrops (jararaca) 43,23%,  conforme Alcântara (2010) o veneno da serpente da citada é capaz de desencadear  lesões gravíssimas, pode-se citar o edema no local inicialmente e posteriormente  uma evolução para hemorragia, necrose se houver então agravamento corre-se o  risco de amputação do membro atingido pela mordida. 

A incidência dos acidentes pelas cobras não peçonhentas é de 4,33%, enquanto isso as espécies Micrurus (coral verdadeira), Crotalus (cascavel) e  Lachesis (surucucu pico de jaca), juntas representam 2,24% dos casos. Segundo os dados analisados é possível concluir que os acidentes por animais  peçonhentos se tornaram um problema para a saúde pública no Brasil,  principalmente em casos como os das serpentes, na qual há 6,52% dos casos não  é identificado o gênero do animal, gerando atraso ou falta de soros específicos para  determinadas regiões.  

No araneísmo, durante os 11 anos avaliados foram notificados no total  15,64%, dentre eles 2,18% casos pelo gênero Phoneutria (aranha armadeira),  2,20% pelo Loxosceles (aranha marrom), 0,12% pelo Latrodectus (aranha preta ou  viúva negra) e 5,62% casos por outras espécies de aranhas. Vale salientar que  5,52% (correspondente a 586 casos) das ocorrências envolvendo aranhas, não  houve informação sobre o gênero do aracnídeo. 

No que tange aos acidentes por lagartas representado por 311 (2,94%) casos,  não identificado gênero em 0,93%, enquanto 0,88% foram causados por lagartas  de outros gêneros e pelo gênero Lonomia 1,13%. 

Os acidentes registrados por escorpiões representam um total de 2661 casos  (25,10%), todos os casos foram classificados pelo SINAN, como ignorados por não  ter mencionado o gênero específico, porém na região norte de acordo com o  INSTITUTO BUTANTAN (2022), possui uma maior prevalência a classe Tityus  obscurus. Sua peçonha ocasiona alguns sintomas como dor, sonolência,  taquipneia, edema, eritema, alucinações, vômitos, sialorréia intensa. 

Gráfico 2 – Distribuição dos acidentes por animais peçonhentos pela espécie e gênero do animal  nos anos de 2012 a 2022 no estado de Rondônia.

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN Net/ 2024. 

4.1.1 Incidência dos acidentes por animais peçonhentos nos anos de 2012 a 2022.

Em termos de temporalidade, observa-se um panorama temporal significativo,  marcado por picos e quedas na incidência. Entre 2012 a 2022 (11 anos), é evidente  que o ano de 2020 concentrou o maior número de notificações do total de acidentes  por animais peçonhentos por 12,20%, enquanto 2016 apresentou a menor  quantidade de notificações por 6,89%.  

Embora a pandemia do COVID-19 tenha imposto um novo ritmo à vida em  2020, os acidentes por animais peçonhentos em Rondônia mantiveram-se  persistentes e alcançaram um pico de incidência importante. Diversos fatores  podem ter contribuído para esse cenário, sendo um deles consequência do  isolamento social, onde as pessoas buscaram refúgio em áreas rurais e silvestres,  aumentando o risco de contato com animais peçonhentos, e assim, aumentando  as notificações dos mesmos. Em contrapartida, a baixa incidência de acidentes em  2016 levanta suspeitas de subnotificação, sugerindo a necessidade de uma  investigação mais aprofundada.  

Vale ressaltar que a análise da temporalidade dos acidentes por animais  peçonhentos em Rondônia exige considerar cuidadosamente as flutuações ao  longo dos anos, uma vez que diversos fatores podem influenciar os dados, como a  subnotificação, as mudanças nos hábitos da população e as políticas públicas de  saúde.  

É fundamental destacar que a quantia de acidentes notificados vem  apresentando tendência temporal crescente nos últimos anos, somando os últimos  cinco anos do período analisado, corresponde de 2018 a 2022, registrando a maior  quantidade de 5.701 (53,80%) casos, em contraste com a soma dos seis primeiros  anos, corresponde de 2012 a 2017, por 4.897 casos (46,20%).  

Gráfico 3 – Incidência registrada no SINAN Brasil, conforme os acidentes por animais  peçonhentos entre os anos de 2012 a 2022 no estado de Rondônia.

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN Net/ 2024. 

4.1.2 Incidência dos acidentes por animais peçonhentos pelo sexo, raça e faixa etária. 

No período estudado, em relação ao perfil epidemiológico das vítimas, foram  divididos pelo sexo, faixa etária e raça. De acordo com Sistema de Informação de  Agravos de Notificação (SINAN), do total de casos registrados 10.598, o  predomínio das vitimas foi no sexo masculino 7.587 (71,58%) casos, em  comparação com o feminino 3.011 (28,42%) casos. O homem está ligado ao  trabalho do campo, possui maior ligação com agricultura, pecuária e outros  trabalhos pesados, o qual coincide com o deslocamento para zona rural por maior  contato com animais peçonhentos (GUIMARÃES et al., 2015). 

Verificou-se que o maior índice de acidentes foi entre indivíduos da faixa etária  de 20 a 59 anos por 7.207 (68%), faz-se um adendo sobre a relação da idade com a responsabilidade econômica, pois é nesta fase em que os homens se encontram  sob responsabilidade financeira sobre sua família (BERNADES e GOMES, 2012). Seguida pela faixa etária menor ou igual a 19 anos por 2.329 (21,97%), em menor  índice maior ou igual a 60 anos por 1.060 (10%) e dois casos (0,01%) não foi  identificada faixa etária.  

Em relação a raça das vítimas, nota-se que mais da metade dos indivíduos  são da raça parda 61,15%, seguindo de branca 23,08%, não identificados 6,44%,  preta 5,68%, indígenas 2,63% e em menor raça acometida por acidentes com  animais peçonhentos é amarela 1,02%.  

4.1.3 Incidência da região corporal afetada nos acidentes por animais  peçonhentos  

No que se refere a região corporal afetada, verificou-se que o pé foi a região mais  acometida, cadastrados 3.933 casos (37%), em sequência pela perna 1770 (17%),  nota-se que ambas regiões mais afetadas são de membros inferiores (MMII), visto  que os animais peçonhentos em sua maioria são terrícolas. 

As regiões de membros superiores (MMSS) mais afetadas são a mão por 1.545  (14%) casos e dedo da mão por 1.268 (12%) casos. As demais regiões afetadas  com menor frequência foram no dedo do pé por 806 (8%), braço por 303 (3%)  casos, ante -braço por 222 (2%), coxa por 214 (2%), cabeça por 197 (2%), tronco  por 179 (2%) e região afetada não informada por 161 (1%) (Gráfico 4). 

Gráfico 4 – Distribuição dos acidentes por animais peçonhentos pelo tipo de animal e espécie nos  anos de 2012 a 2022 no estado de Rondônia.

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN Net/ 2024. 

4.1.4 Tempo dos acidentes com animais peçonhentos até assistência médica. 

Com relação ao tempo do acidente com animais peçonhentos até o  atendimento médico em Rondônia, cerca de 619 (6%) pacientes foi desconhecido o  tempo de início do tratamento, em ficha de notificação compulsória assinalado Ign/  Em Branco, por este motivo não há conhecimento do tempo decorrido até o  atendimento médico ou paciente não soube relatar ao médico. A maior frequência de  tempo notificado do acidente até a assistência médica foram os 3.546 (33%)  pacientes que procuram por tratamento médico entre 0 a 1 horas, agindo  corretamente, para adequado tratamento com menor dano de efeitos gerados pela  peçonha.  

Seguido pelo início do tratamento médico entre 1 a 3 horas totalizando 3.314  (31%) dos pacientes. Verificou-se que 1.582 (15%) dos pacientes procuram por  tratamento médico entre 3 a 6 horas após o acidente. Dos 659 (7%) pacientes foram  à busca por atendimento médico entre 6 a 12 horas, com o passar das horas há piora no prognóstico da vítima 

Um menor número de pacientes procurou por atendimento e tratamento entre  12 a 24 horas do acidente, sendo um total de 341 (3%) casos. Por fim, 537 (5%)  pacientes iniciaram atendimento tardio com 24 horas ou mais, podendo gerar agravo  à saúde da vítima, resultando em pior prognóstico. Válido afirmar que quando se  possui um acidente com animais de peçonha, automaticamente se torna atendimento de urgência, devido ao alto risco de agravamento para o organismo como sequelas  definitivas. Levando em conta que animais como a coral verdadeira, apenas com  pouco tempo de inoculação da peçonha pode levar um indivíduo a óbito. 

De acordo com as fichas de notificações e o gráfico apresentado, foi visto que  mais de 60% dos pacientes procuraram o atendimento em até 3 horas após o  acidente, na qual resulta na chegada a unidade de saúde com quadro mais leve  comparado a casos da chegada do paciente com tempo maior da picada, com isso  menor uso de ampolas para o tratamento e uma maior chance de cura do paciente.  

Gráfico 5 – Incidência registrada no SINAN Brasil, conforme o tempo decorrido entre o acidente e o  do atendimento médico entre 2012 a 2022.

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN Net/ 2024. 

4.1.5 Evolução dos casos de acidentes por animais peçonhentos em Rondônia  de 2012 a 2022 

As notificações, conforme o Sistema de Informação de Agravos de Notificação  (SINAN), em relação à evolução dos casos em cura, óbito pelo agravo notificado e  óbito por outra causa.  

Como visto no estudo, 928 (8,75%) pacientes não foi identificado sua  evolução, destes, em grande maioria acidentes causados por serpentes (567 casos).  

Verificou-se que 9.638 (90,95%) dos pacientes evoluíram para cura, sendo  5.380 acidentes por serpentes, 1.525 por aranha, 2.437 por escorpião e 296 dos  acidentes por lagarta.  

Um total de 29 (0,28%) pacientes tiveram óbito pelo agravo notificado, sendo  20 casos de acidente por serpente, 4 casos de acidente por aranha, 5 por escorpião  e não há notificação em relação ao acidente por lagarta. 

Há forte relação entre o agravo e o tempo de início de tratamento, além do uso  indevido de torniquetes e perfurações no local da picada. 

Por último, 3 (0,02%) pacientes notificados tiveram óbito por outra causa,  destes 2 acidentes por serpente e 1 caso de acidente por aranha.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS  

Neste estudo, no período de 11 anos (2012 a 2022), foi registrado uma média  963 casos/ano, após pacientes buscarem atendimento médico e receberem  soroterapia, devido acidente por animal peçonhento. Com base nisso, este estudo  propôs pesquisar informações epidemiológicas visando auxiliar na prevenção e  conduta médica adequada. 

Através dos dados analisados pode-se concluir que a incidência por animais  no estado de Rondônia está concentrada em sua maioria nas áreas mais retiradas  do perímetro urbano, ou seja, zona rural. Sendo observado um leve aumento de  acidentes em épocas de chuvas e descartes irregulares de resíduos domésticos. 

Diante do que está sendo exposto, vale-se ressaltar a importância de  campanhas de prevenção que são realizadas através dos anos na atenção básica de  saúde, os quais usam estratégias para melhor cuidados e detecção. Assim, afirma se que o tempo esperado para atendimento está em sua maioria dentro do esperado  pelo ministério da saúde, porém para pessoas que possuem menos acesso a  informações tendem a evoluir o quadro de leve para moderado, pela demora na busca  pelo atendimento. 

Ressalta-se a importância das atividades de prevenção primárias, que  possuem como base uma boa orientação e informação. Tendo como base a  informação da importância de um atendimento precoce e não uso de torniquetes,  sugar manualmente a peçonha, não usar nenhum tipo de substância caseira, pois  pode desenvolver algum tipo de complicação atrasando o atendimento da vítima. 

Sugestivamente, a secretaria de saúde por meio de agentes comunitários pode  desenvolver mecanismos de orientações / ações tanto para moradores do perímetro  urbano quanto para zona rural, ressaltando a importância dos EPI e locais onde levar  as vítimas de acidente. Podem desenvolver folders, cartazes e vídeos informativos  com passo a passo e distribuir em áreas de maior incidência e escolas, procurando  atingir o maior número de pessoas possíveis.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

ALCÂNTARA, Alex Sander. Veneno da Jararaca tem mecanismo desvendado. São  Paulo: 2010. [citado em 17 ago. 2019]. Disponível:  http://www.agencia.fapesp.br/veneno-dajararaca-tem-mecanismo desvendado/12532/ 

ARAÚJO, K. A. M. DE . et al.. Epidemiological study of scorpion stings in the Rio  Grande do Norte State, Northeastern Brazil. Revista do Instituto de Medicina  Tropical de São Paulo, v. 59, p. e58, 2017. 

BARRETO BB, SANTOS PLC, MARTINS FJ, BARBOSA NR, RIBEIRO LC, LEITE  ICG, VIEIRA RCPA. Perfil epidemiológico dos acidentes ofídicos no município de Juiz  de Fora – MG no período de 2002-2007. Rev APS, Juiz de Fora. 2010;13(2):190-5. 

BARROSO, Lidiane; WOLFF, Delmira. Acidentes causados por animais peçonhentos  no 

Rio Grande do Sul. Engenharia Ambiental – Espírito Santo do Pinhal, v. 9, n. 3, p. 078- 086, jul/set. 2012. 

BELMINO, J. F. B. Epidemiologia dos acidentes ofídicos, estado do Ceará,  Brasil(2007- 2013). 2015. 116 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Naturais e  Biotecnologia) – Universidade Federal de Campina Grande, Cuité, 2015. 

BERNARDES, P. S.; GOMES, J. O. Serpentes peçonhentas e ofidísmo em Cruzeiro  do Sul, Alto Juruá, Estado do Acre, Brasil. Acta Amazônica, Manaus, v. 42, n. 1, p. 65- 72, 2012. BRASIL, Ministério da saúde. Acidente por animais peçonhentos – Escorpião. Brasília: Ministério da saúde. 2017b. [15 jul. 2019]. Disponível:  http://www.saude.gov.br/saude-de-az/acidentes-por-animais-peconhentos-escorpiao/ 

Bernarde, Paulo Sérgio et al. Serpentes do Estado de Rondônia, Brasil. Biota  Neotropica [online]. 2012, v. 12, n. 3 [Acessado 18 Maio 2024], pp. 154-182.Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1676-06032012000300018>. Epub  08 Nov 2012. ISSN 1676-0611. https://doi.org/10.1590/S1676-06032012000300018. 

BIZ, M. E. Z.; AZEVEDO, G. C. C.; JUNIOR, J. F.; PANHOCA, H. D.; SOUZA, T. M.  de C.; CROVADOR, M. C.; CAVELHEIRO, P. P.; REIS, B. C. C. Perfil epidemiológico  em território brasileiro dos acidentes causados por animais peçonhentos: retrato dos  últimos 14 anos. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 13, n. 11, p. e9210, 22 nov.  2021. 

BOCHNER, R.; STRUCHINER, C. J.. Epidemiologia dos acidentes ofídicos nos  últimos 100 anos no Brasil: uma revisão. Cadernos de Saúde Pública, v. 19, n. 1,  p.07–16, jan. 2003. 

GUIMARÃES, CD; PALHA, MC; SILVA, JC. Perfil clínico-epidemiológico dos  acidentes ofídicos ocorridos na ilha de Colares, Pará, Amazônia oriental. Pará: 2015  [citado em 02 ago. 2019]. Disponível: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/seminabio/article/view/20891 

IBGE. Amazônia Legal. 2021. Disponível em:  https://www.ibge.gov.br/geociencias/organizacao-do-territorio/estrutura territorial/15819- amazonia-legal.html?edicao=34299&t=acesso-ao-produto. Acesso  em: 26 de maio de 2023. 

Instituto Butantan. (s.d.). Animais Venenosos. Editora Butantan. Disponível em:  https://publicacoeseducativas.butantan.gov.br/web/animaisvenenosos/pages/pdf/animais_venenosos.pdf. Acesso em: 18 de maio de 2024. 

MATOS, R. R.; IGNOTTI, E.. Incidência de acidentes ofídicos por gêneros de  serpentes nos biomas brasileiros. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, n. 7, p. 2837– 2846, jul. 2020. 

Minas Gerais. Secretaria de Estado de Saúde. Licenciamento sanitário. Disponível  em: <https://www.saude.mg.gov.br/licenciamentosanitario/story/19061-animais peconhentos\>. Acesso em: 20 maio 2024.

Ministério da Saúde. Boletim epidemiológico 11, vol. 50, mar. 2019: Acidentes de  trabalho por animais peçonhentos entre trabalhadores do campo, floresta e águas  Brasil 2007 a 2017. [documento eletrônico]. Ministério da Saúde, 2019. Disponível em:  https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/animaispeconhentos/acidentes-por-abelhas/arquivos/boletim-epidemiologico-11-vol-50-mar 2019-acidentes-de-trabalho-por-animais-peconhentos-entre-trabalhadores-do campo-floresta-e-aguas-brasil-2007-a-2017.pdf. Acesso em: 18 de maio de 2024. 

Ministério da Saúde. Boletim epidemiológico, vol. 53, no. 31. Ministério da Saúde. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/edicoes/2022/boletim epidemiologico-vol-53-no31. Acesso em: 18 de maio de 2024. 

National Geographic Brasil. Qual é a diferença entre animais venenosos e peçonhentos? [Online]. Disponível em:  https://www.nationalgeographicbrasil.com/animais/2020/01/qual-e-a-diferenca-entre animais-venenosos-e-peconhentos. Acesso em: 18 de maio de 2024. 

OLIVEIRA, H. F. A. DE .; COSTA, C. F. DA .; SASSI, R.. Injuries caused by venomous animals and folk medicine in farmers from Cuité, State of Paraíba, Northeast  of Brazil. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 16, n. 3, p. 633–643, set. 2013. 

PENA, RFA. – Enchentes – Mundo Educação – 2014 – [citado em 23 mar. 2017].  Disponível em: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/enchentes.htm 

Portal do Butantan. Pesquisador do Butantan desenvolve lista de escorpiões nativos  que ajuda a identificar onde vivem espécies mais perigosas. Disponível em:  https://butantan.gov.br/butantan-educa/pesquisador-do-butantan-desenvolve-lista de-escorpioes-nativos-que-ajuda-a-identificar-onde-vivem-especies-mais-perigosas.  Acesso em: 14 de maio de 2024. 

Santos, Naila Amanda Souza dos. Título do Trabalho Acadêmico. Instituto Nacional  de Pesquisas da Amazônia, 2019. Disponível em: https://ppbio.inpa.gov.br/sites/default/files/Naila_Amanda_Souza_dos_Santos_IC_20 19.pdf. Acesso em: 18 de maio de 2024 

Secretaria de Estado da Saúde. Acidentes por Aranhas. [Online]. Disponível em:  https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Acidentes-por-Aranhas. Acesso em: 18 de maio  de 2024. SOUZA, T. C. DE . et al.. Tendência temporal e perfil epidemiológico dos acidentes  por animais peçonhentos no Brasil, 2007-2019. Epidemiologia e Serviços de Saúde,  v. 31, n. 3, p.


1Departamento de medicina do Centro Universitário São Lucas, Porto Velho, 2024. Email: anasafigueiredomendonca@gmail.com
2Departamento de medicina do Centro Universitário São Lucas, Porto  Velho, 2024. Email: annykayserm@gmail.com
3Departamento de medicina do Centro Universitário São Lucas, Porto  Velho, 2024. Email: leriasbyanca@gmail.com
4Departamento de medicina do Centro Universitário São Lucas, Porto  Velho, 2024. Email: kendricksouza@hotmail.com
5Orientador do Centro Universitário São Lucas, Porto Velho, 2024. Email:  flávio.terassini@saucas.edu.br