INFLUENCE OF DIETARY HABITS AND PSYCHOSOCIAL STATE ON ACNE INCIDENCE
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11301980
Cíntia de Almeida Santos1;
Julia Salles Gava2;
Marcio Fronza2
RESUMO
Este artigo de revisão sistemática examina a influência interconectada dos hábitos alimentares, estado psicossocial e resposta inflamatória na incidência e patogênese da acne, uma condição dermatológica prevalente. A pesquisa, que percorre uma década de estudos científicos, sublinha uma correlação notória entre dieta inadequada, inflamação e fatores psicossociais, sendo a análise baseada em uma variedade de materiais acadêmicos, incluindo estudos clínicos, revisões e meta-análises. Utilizando bases de dados renomadas como PubMed, Scopus e Web of Science, e empregando descritores tais como “acne”, “alimentação”, “inflamação”, “maus hábitos”, “estilo de vida”, “estresse” e “ansiedade”, este estudo agrega evidências tanto de pesquisas em seres humanos quanto em animais. Os achados salientam que a complexidade da acne é tal que uma abordagem terapêutica holística, que englobe considerações dietéticas, manejo do estresse e atenção à inflamação, pode não apenas complementar os métodos de tratamento convencionais, mas também potencializar os resultados clínicos, indicando a imperatividade de um paradigma mais abrangente e personalizado no entendimento e manejo desta condição dermatológica.
Palavras-chave: terapêutica holística; distúrbios dermatológicos; estilo de vida.
ABSTRACT
This systematic review article examines the interconnected influence of dietary habits, psychosocial state, and inflammatory response on the incidence and pathogenesis of acne, a prevalent dermatological condition. The research, spanning a decade of scientific studies, underscores a notable correlation between inadequate diet, inflammation, and psychosocial factors, with the analysis based on a variety of academic materials, including clinical studies, reviews, and meta-analyses. Employing renowned databases such as PubMed, Scopus, and Web of Science, and using descriptors such as “acne”, “diet”, “inflammation”, “bad habits”, “lifestyle”, “stress”, and “anxiety”, this study compiles evidence from both human and animal research. The findings emphasize that the complexity of acne is such that a holistic therapeutic approach, which encompasses dietary considerations, stress management, and attention to inflammation, may not only complement conventional treatment methods but also enhance clinical outcomes, indicating the imperative of a more comprehensive and personalized paradigm in understanding and managing this dermatological condition.
Keywords: holistic therapy; dermatological disorders; Lifestyle.
INTRODUÇÃO
A acne, uma das afecções dermatológicas mais prevalentes globalmente, tem sua incidência acentuada entre adolescentes e adultos jovens. Mesmo não sendo classificada como uma condição severa, seu impacto na qualidade de vida de quem a enfrenta pode ser considerável, frequentemente relacionando-se a reduzida autoestima, ansiedade e depressão (Alemi et al., 2019, Meixiong et al., 2022).
A acne é reconhecida por suas manifestações visíveis e frequentemente incômodas na pele, tais como espinhas, cravos e nódulos, e sempre foi objeto de interesse e estudo na dermatologia, tanto pelo seu caráter prevalente quanto pelas consequências psicossociais que pode acarretar nos indivíduos afetados. A inquietante busca pela sua origem e pelos fatores que influenciam seu desenvolvimento revela um panorama complexo, no qual aspectos hormonais, inflamatórios, e de estilo de vida entrelaçam-se em um emaranhado de causas e efeitos (Alemi et al., 2019, Conforti et al., 2022).
A relação entre flutuações hormonais e acne é clara e bem fundamentada na literatura (Ju et al., 2017). O início da adolescência marca frequentemente o surgimento da acne, período que coincide com uma enxurrada de alterações hormonais no corpo humano. Os andrógenos, hormônios sexuais masculinos que estão presentes em ambos os sexos, desempenham um papel crucial neste cenário. Eles estimulam as glândulas sebáceas a produzir uma quantidade elevada de sebo, um óleo que ajuda a manter a pele hidratada. No entanto, a produção excessiva de sebo pode obstruir os poros, criando um ambiente propício para o desenvolvimento da acne (Ju et al., 2017).
A inflamação também é um fator importante no desenvolvimento da acne, conforme relatado por Zouboulis et al. (2014). A inflamação, embora possa parecer um mero sintoma da acne, está intrinsecamente ligada à sua origem. Mesmo antes de as lesões da acne tornarem-se visíveis, um processo inflamatório já está em andamento nas camadas mais profundas da pele. A presença de bactérias do tipo Propionibacterium acnes no folículo piloso pode provocar respostas inflamatórias, levando ao surgimento das temidas pústulas e pápulas. Estudos mostraram que a acne é uma doença inflamatória crônica, e o controle da inflamação pode ser um alvo terapêutico importante para o tratamento da acne. Além disso, os maus hábitos, como o tabagismo e a falta de exercício, também podem contribuir para o desenvolvimento da acne, como observado por Costa et al. (2018).
A ligação entre a dieta e a acne tem sido objeto de inúmeras pesquisas e debates (Baldwin et al., 2021). Estudos apontam para uma correlação entre o consumo de alimentos de alto índice glicêmico e a prevalência da acne, sugerindo que dietas ricas em açúcares e carboidratos refinados podem exacerbá-la. Paralelamente, alimentos como chocolate e laticínios também foram colocados sob o microscópio, com algumas pesquisas indicando uma possível ligação entre eles e a acne (Baldwin et al., 2021, Conforti et al., 2022). O estilo de vida não fica atrás quando se trata de influenciar a saúde da pele. Fatores como estresse, sono inadequado e tabagismo têm sido associados ao agravamento da acne, lançando luz sobre a importância de práticas de vida saudáveis para a manutenção de uma pele saudável.
Embora seja principalmente considerada uma condição dermatológica, estudos recentes têm sugerido que também existe uma relação entre o estado psicossocial, incluindo estresse, ansiedade e depressão, e o desenvolvimento de acne (Chiu et al., 2003). O estresse é conhecido por desempenhar um papel importante no desencadeamento e agravamento da acne. O estresse é uma resposta do corpo a situações de perigo ou ameaça, e pode ser desencadeado por diversos fatores, incluindo problemas pessoais, financeiros ou profissionais. O estresse crônico pode levar à produção excessiva de hormônios como o cortisol, que pode aumentar a produção de sebo na pele, contribuindo ao desenvolvimento de acne. Além disso, o estresse pode piorar a inflamação associada à acne, prolongando a duração e a gravidade dos surtos (Yosipovitch et al., 2007).
A ansiedade também pode estar relacionada ao desenvolvimento de acne. A ansiedade pode levar a comportamentos como coçar, espremer ou tocar frequentemente no rosto, o que pode irritar a pele e aumentar o risco de acne. Além disso, a ansiedade pode agravar os sintomas de acne existentes, uma vez que o estresse emocional pode influenciar negativamente o sistema imunológico e a resposta inflamatória do corpo (Chiu et al., 2003; Yosipovitch et al., 2007).
A relação entre depressão e acne é um tanto complexa. Estudos têm demonstrado uma associação bidirecional entre a acne e a depressão. Por um lado, a acne pode ter um impacto significativo na autoestima e na imagem corporal das pessoas, levando à baixa autoconfiança, isolamento social e até mesmo depressão. Por outro lado, a depressão pode piorar a percepção dos sintomas de acne, já que a pessoa deprimida tende a ter uma visão negativa de si mesma e do seu corpo. Além disso, alguns medicamentos antidepressivos podem ter efeitos colaterais que influenciam o desenvolvimento ou agravamento da acne (Yosipovitch et al., 2007).
É importante ressaltar que a relação entre o estado psicossocial e a acne pode variar de pessoa para pessoa. Nem todas as pessoas que sofrem de estresse, ansiedade ou depressão desenvolverão acne, e nem todas as pessoas com acne têm problemas psicossociais. No entanto, para algumas pessoas, existe uma relação significativa entre esses fatores.
Embora existam várias opções de tratamento para a acne, a maioria dos tratamentos convencionais podem apresentar efeitos colaterais indesejados e pode não ser eficaz em todos os casos. Além disso, muitos pacientes preferem abordagens naturais e menos invasivas para o tratamento da acne. A base do tratamento da acne está relacionada com diversos fatores como a alimentação adequada, a diminuição dos processos inflamatórios do corpo, o controle do estresse oxidativo, o controle do estado psicológico incluindo a ansiedade e depressão e o ajuste hormonal. Neste contexto, a influência da alimentação na acne tem sido objeto de estudo há décadas, e muitos trabalhos têm evidenciado uma relação positiva entre uma dieta inadequada e o desenvolvimento de acne. Portanto, uma dieta rica em açúcar, gordura, laticínios e alimentos processados podem aumentar a produção de sebo na pele, elevar o estresse oxidativo e a inflamação do corpo, promovendo o desenvolvimento da acne. Neste sentido, a base do tratamento da acne está na alimentação adequada, retirada da inflamação do corpo, controle do estresse, ajuste hormonal, mudança nos hábitos de vida e adequação de Skincare adequado para cada tipo de pele.
Portanto, entender os mecanismos subjacentes que levam ao desenvolvimento da acne pode ser de grande importância para o desenvolvimento de abordagens mais eficazes e personalizadas para o tratamento, bem como para a prevenção da doença. Assim, o estudo proposto pode fornecer informações valiosas sobre a patogênese da acne e ajudar a melhorar a qualidade de vida dos pacientes afetados pela doença.
Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão sistemática da literatura para fornecer informações importantes sobre a relação entre alimentação, inflamação, maus hábitos de vida e a incidência da acne e ajudar a identificar lacunas na literatura atual.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi conduzida através de uma revisão sistemática da literatura, englobando estudos clínicos, revisões e meta-análises publicadas no decurso dos últimos 10 anos. Recorreu-se a bases de dados eletrônicas renomadas, como PubMed, Scopus e Web of Science, para a identificação de artigos pertinentes. Os descritores empregados na busca incluíram “acne”, “alimentação”, “inflamação”, “maus hábitos”, “estilo de vida”, “estresse” e “ansiedade”. Foram incorporados à análise estudos que exploraram a relação entre alimentação, inflamação, maus hábitos e a incidência da acne em contextos humanos e animais, fortalecendo uma compreensão abrangente da temática.
Os artigos foram selecionados conforme critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos. Estabeleceu-se que os critérios para inclusão abrangeriam estudos publicados nos últimos 10 anos, disponíveis em inglês, espanhol ou português, e que investigassem a relação entre alimentação, inflamação, maus hábitos e a incidência da acne em humanos e animais. Por outro lado, os critérios de exclusão contemplavam estudos nos quais a acne não constituísse o principal desfecho de interesse, aqueles que não realizaram análises estatísticas e pesquisas que envolvessem amostras com menos de 10 indivíduos.
A extração de dados dos estudos selecionados foi conduzida de maneira rigorosa, abarcando os objetivos do estudo, a população investigada, as intervenções realizadas, bem como os respectivos resultados e conclusões, proporcionando uma síntese informativa e concisa da literatura analisada.
DESENVOLVIMENTO
INFLUÊNCIA DA ALIMENTAÇÃO NA INCIDÊNCIA DA ACNE
A correlação entre alimentação e a incidência de acne vem sendo foco de estudos por décadas, e uma multiplicidade de pesquisas tem revelado uma associação palpável entre uma dieta inapropriada e o surgimento da acne. Pesquisas indicam que uma dieta saturada com açúcares, gorduras saturadas, laticínios e alimentos processados pode exercer um papel notável no incremento da produção de sebo na pele, ampliação do estresse oxidativo e inflamação corporal, todos contribuindo para o desenvolvimento da acne (Bowe & Logan, 2011; Montagner et al., 2014; Alemi et al., 2019).
Um estudo conduzido por Bowe e Logan (2011) enfatizou a conexão entre dieta e acne, elucidando que uma alimentação inapropriada pode intensificar a produção de sebo, um fator de risco reconhecido para o desenvolvimento da acne. Adicionalmente, a pesquisa destacou que a dieta pode também afetar o equilíbrio da microbiota intestinal, o qual, por sua vez, pode influenciar a inflamação sistêmica e a resposta imune do organismo, apresentando assim uma ligação intrincada entre hábitos alimentares, saúde intestinal e condições dermatológicas. Outros estudos, como o de Ramos et al. (2019), demonstraram que hábitos alimentares e higiênicos inadequados podem aumentar a prevalência da acne em escolares.
Estudo realizado por Montagner et al. (2014) explorou igualmente a influência da dieta ocidental na patogênese da acne. A dieta ocidental, notoriamente caracterizada por um elevado consumo de açúcares, gorduras saturadas e alimentos processados, foi associada a uma prevalência aumentada de acne. A correlação entre dieta e acne pode ser atrelada ao incremento da produção de insulina e à resposta inflamatória induzida por tais alimentos, sublinhando o impacto potencial dos padrões alimentares no desenvolvimento e agravamento da acne.
Diversas pesquisas indicaram que pessoas que sofrem de acne vulgar podem experimentar uma deterioração de suas lesões quando consomem alimentos com alto índice glicêmico (IG). Uma vez que a dieta desempenha um papel importante no tratamento da acne vulgar, é crucial procurar evidências que possam contribuir para o manejo desta condição (Comin; Santos, 2011).
De acordo com Comin e Santos (2011), a equação utilizada para calcular a carga glicêmica de um alimento envolve o índice glicêmico do alimento multiplicado pela quantidade de carboidratos consumidos em uma porção de 100g. Uma carga glicêmica inferior a 10 é considerada baixa, enquanto valores acima de 20 são considerados elevados.
A adolescência representa um período em que os jovens consomem quantidades significativas de alimentos devido ao rápido desenvolvimento nessa fase. Os hábitos alimentares desses jovens são influenciados pelo ambiente em que vivem, e é fundamental implementar medidas preventivas nesse momento, uma vez que esses hábitos tendem a persistir na fase adulta (Anselmini, 2017).
Estudos demonstraram que indivíduos com acne vulgar frequentemente relatam uma piora nas lesões após o consumo de alimentos com alto índice glicêmico. Isso destaca a importância de buscar abordagens dietéticas no tratamento da acne vulgar (Comin; Santos, 2011).
Comin e Santos (2011) explicam que a comunidade científica tem demonstrado um interesse crescente na identificação de alimentos que promovam a saúde e o bem-estar, reconhecendo os benefícios da dieta na estética. Mudanças na alimentação podem afetar os aspectos bioquímicos e endócrinos envolvidos na patogênese da acne. Dietas com alta carga glicêmica estão associadas a um aumento na incidência de acne, enquanto aquelas com baixa carga glicêmica tendem a reduzir o número de lesões, indicando uma relação entre hiperinsulinemia e ocorrência da acne vulgar.
Observa-se que populações não ocidentais têm uma incidência menor de acne, o que levou a diversos estudos investigando essa possível correlação. A evidência mais substancial aponta para produtos derivados do leite e alimentos com alto índice glicêmico como fatores contribuintes para o aparecimento da acne, em virtude da estimulação da secreção sebácea e da queratinização hiperfolicular relacionada a um aumento nos níveis de hormônios andrógenos (Lauermann, 2016).
A alimentação desempenha um papel significativo no tratamento da acne, mas é importante notar que essa condição requer uma abordagem multidisciplinar para prevenção e tratamento. A prescrição adequada de dietas com baixa carga glicêmica pode proporcionar diversos benefícios, embora seus efeitos a longo prazo ainda não estejam totalmente esclarecidos (Silva; Paes, 2017).
As estratégias para prevenção e tratamento da acne estão fortemente relacionadas à alimentação, podendo ter um impacto positivo ou negativo na condição da pele (Kamizato; Brito, 2014). Dado que a patogênese da acne envolve processos inflamatórios, alimentos pró-inflamatórios, como produtos industrializados, embutidos, laticínios, alimentos fritos e trigo branco, podem contribuir para o aparecimento da acne (Vagula; Roque, 2019).
É relevante observar que níveis elevados de açúcar no sangue podem aumentar os níveis de testosterona, o que, por sua vez, pode afetar a produção de óleo pelas glândulas sebáceas. Mesmo alimentos de baixo índice glicêmico, como o leite, podem influenciar o conteúdo de fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1) devido à presença de estrogênio, progesterona, andrógenos e precursores de esteroides, o que pode contribuir para o desenvolvimento ou agravamento da acne (Levinske E Franceschini, 2010).
Um estudo transversal conduzido por Aksu et al. (2012), que envolveu 2.230 adolescentes com idades entre 13 e 18 anos, demonstrou que o consumo de gordura, açúcar e fast food está positivamente associado à acne entre os adolescentes. Observou-se que os indivíduos sem acne tendem a consumir alimentos mais saudáveis em comparação com aqueles que têm acne, com uma maior ingestão de gordura, açúcar, salsichas, hambúrgueres e bolos associada a um aumento do risco de acne.
Existem diferentes abordagens dietéticas, incluindo a dieta ECG típica da cultura ocidental e a dieta BCG, como exemplificada pela dieta mediterrânea. A dieta BCG é caracterizada por um consumo mais saudável, com ênfase em peixes, vegetais, legumes e frutas, evitando picos glicêmicos e hiperinsulinemia (Cordeiro, 2018).
Um estudo adicional conduzido por Skroza et al. (2012) revelou que a dieta mediterrânea, que possui um baixo índice glicêmico, pode desempenhar um papel protetor contra a acne vulgar. Essa dieta se destaca por incluir grandes quantidades de azeite de oliva, vegetais, legumes, grãos integrais, frutas e nozes, bem como uma ingestão moderada de peixes e baixo consumo de gordura saturada de origem animal. Os resultados indicaram que pessoas com uma dieta semelhante à dieta mediterrânea eram menos propensas a desenvolver acne em comparação com aquelas que consumiam alimentos com alto índice glicêmico.
Nos últimos anos, surgiu uma tendência de uso de suplementos nutricionais orais no cuidado com a pele, refletindo a conexão entre a saúde da pele e a saúde geral dos indivíduos. O consumo de substâncias como vitaminas e antioxidantes por via oral pode influenciar positivamente a saúde da pele (Draelos, 2010).
IMPACTO DO ESTADO PSICOSSOCIAL NA INCIDÊNCIA DA ACNE
O estado psicossocial, abrangendo fatores como estresse, ansiedade e depressão, tem sido identificado como um componente impactante tanto na incidência quanto na gravidade da acne. Pesquisas têm desvendado uma interação complexa entre o estado emocional e a saúde cutânea, fornecendo evidências de que o estado psicológico pode influenciar tanto a patogênese da acne quanto a resposta corporal a essa condição dermatológica (Chiu et al., 2003; Yosipovitch et al., 2007).
O estresse, por exemplo, é conhecido por desempenhar um papel significativo no desencadeamento e agravamento da acne. Quando uma pessoa está sob estresse, o corpo produz hormônios do estresse, como o cortisol. Essa resposta hormonal pode afetar o equilíbrio hormonal do organismo, estimulando a produção excessiva de óleo pelas glândulas sebáceas da pele, o que pode obstruir os poros e levar à formação de lesões de acne (Yosipovitch et al., 2007).
Além disso, o estresse prolongado pode exacerbar a inflamação associada à acne, resultando em surtos mais intensos e duradouros (Yosipovitch et al., 2007). Um estudo conduzido por Chiu et al. (2003) destacou a influência do estresse na acne, demonstrando que os níveis de estresse associados a exames acadêmicos contribuíram para um aumento na gravidade das lesões de acne em estudantes.
Estudos também demonstraram uma associação bidirecional entre a acne e a depressão. A acne pode impactar de forma significativa a autoestima e a imagem corporal, conduzindo a uma diminuição da autoconfiança, isolamento social e, em alguns casos, depressão. Por outro lado, a depressão pode exacerbar a percepção dos sintomas da acne, pois o indivíduo deprimido tende a albergar uma visão mais negativa sobre si mesmo e sua aparência física (Yosipovitch et al., 2007).
A ansiedade também pode estar relacionada ao desenvolvimento e piora da acne. Comportamentos como coçar, espremer ou tocar frequentemente no rosto, frequentemente observados em pessoas ansiosas, podem irritar a pele e aumentar o risco de inflamação e formação de lesões acneicas (Chiu et al., 2003; Yosipovitch et al., 2007). A ansiedade também pode piorar os sintomas da acne existente, pois o estresse emocional pode afetar negativamente o sistema imunológico e a resposta inflamatória do corpo (Chiu et al., 2003; Yosipovitch et al., 2007).
Para muitas pessoas, essa relação entre o estado psicossocial e a acne é significativa e pode contribuir para a manifestação ou agravamento da condição. No entanto, é importante ressaltar que nem todas as pessoas que enfrentam estresse, ansiedade ou depressão desenvolverão acne, e nem todos os casos de acne estão ligados a problemas psicossociais. A compreensão desses mecanismos subjacentes é crucial para o desenvolvimento de abordagens de tratamento mais abrangentes e personalizadas, que abordem tanto os fatores físicos quanto emocionais envolvidos na patogênese da acne.
Essa relação reciprocamente influenciadora enfatiza a complexidade das interações entre saúde mental e condições dermatológicas, evidenciando a necessidade de uma abordagem terapêutica holística no tratamento da acne.
PAPEL DA INFLAMAÇÃO NA PATOGÊNESE DA ACNE
A etiologia da acne vulgar é multifacetada e abrange fatores genéticos, nutricionais, fisiológicos e de higiene. Nesse contexto, destacam-se os quatro principais fatores fisiopatológicos da acne, conforme identificados por Mello e Leite (2020).
1. O primeiro elemento crucial envolve a hiperplasia das glândulas sebáceas, que resulta em hiperseborreia, sob a influência de fatores hormonais. Esse processo está relacionado à conversão dos hormônios andrógenos, como testosterona, DHEA-S e androstenediona, em dihidrotestosterona. A dihidrotestosterona, por sua vez, age nos receptores das glândulas sebáceas, desencadeando alterações nessas glândulas e, consequentemente, estimulando a produção de sebo.
2. A segunda característica significativa refere-se a anormalidades na diferenciação e adesão de queratinócitos, resultando no bloqueio dos folículos capilares e na formação de comedões. Essas anormalidades também são influenciadas pela estimulação androgênica.
3. A terceira característica distintiva diz respeito à colonização dos folículos capilares por microrganismos como Propionibacterium acnes, Staphylococcus albus e Staphylococcus epidermidis. Esses microrganismos modificam os lipídios presentes no sebo, gerando ácidos graxos livres com atividades pró-inflamatórias.
4. Por fim, o último processo envolve uma resposta inflamatória e imunológica que resulta na liberação de mediadores inflamatórios dos folículos pilosos e da derme adjacente, culminando na ruptura da parede das glândulas sebáceas. Esse desencadeamento estimula a formação de lesões inflamatórias (FIGUEREDO et al., 2011).
A inflamação desempenha um papel crucial na patogênese da acne, transformando a condição de uma simples obstrução dos folículos pilosos em um processo mais complexo e inflamatório. Vários estudos demonstraram a relação entre a inflamação e o desenvolvimento da acne, ressaltando a importância do controle da resposta inflamatória para a prevenção e tratamento dessa condição cutânea (Zouboulis et al., 2014; Bhate & Williams, 2013).
A acne é considerada uma doença inflamatória crônica, onde a interação entre fatores como a produção excessiva de sebo, a colonização bacteriana e a inflamação desempenham um papel central na formação das lesões. As glândulas sebáceas hiperativas produzem quantidades elevadas de sebo, que, quando combinado com células mortas da pele, pode obstruir os folículos pilosos, formando comedões. A colonização bacteriana por Propionibacterium acnes contribui para a inflamação subsequente, desencadeando uma resposta imune (Zouboulis et al., 2014; Bhate & Williams, 2013).
Estudos indicam que as células imunes presentes na pele, como os neutrófilos e linfócitos, também estão envolvidas na resposta inflamatória da acne. A ativação dessas células leva à liberação de citocinas inflamatórias, como interleucinas (IL-1, IL-6) e fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), que desencadeiam um ciclo inflamatório localizado. Esse processo pode resultar na formação de lesões inflamatórias características da acne, como pápulas, pústulas e nódulos (Zouboulis et al., 2014).
A pesquisa conduzida por Do et al., 2008, elucidou importantes aspectos da evolução da acne por meio de um estudo fotográfico envolvendo 25 participantes. Neste estudo, imagens digitais foram analisadas em termos de variações e surgimentos de lesões acneicas. Um total de 3.099 lesões foram contabilizadas e classificadas em diversas categorias: comedões fechados (37%), comedões abertos (12%), pápulas eritematosas (26%), pápulas inflamatórias (15%), pústulas (2%) e nódulos (1%). Interessante notar que das 219 lesões que surgiram no decorrer da investigação, 28% precederam uma pele de aparência saudável, enquanto 72% sucederam outro tipo de lesão ou cicatriz de acne, sustentando um modelo patogênico em que eventos inflamatórios ocorrem de maneira precoce, até mesmo antes da detecção clínica de lesões acneicas. Os autores confirmam a origem comedonal da maioria das lesões inflamatórias da acne. No entanto, um número considerável (28%) parece surgir da pele normal.
O papel central da inflamação na patogênese da acne foi enfatizado em estudos que exploraram a eficácia de tratamentos anti-inflamatórios no manejo da condição. Bhate e Williams (2013) discutiram a relevância dos anti-inflamatórios tópicos e sistêmicos, como os retinoides e antibióticos, que visam reduzir a inflamação e, assim, controlar a gravidade da acne. Esses tratamentos podem atenuar a resposta inflamatória localizada, contribuindo para a melhoria das lesões e prevenção de novas formações.
ABORDAGENS PERSONALIZADAS E EFICAZES NO TRATAMENTO DA ACNE
As diversas abordagens no tratamento da acne têm como objetivo considerar não apenas os aspectos físicos da condição, mas também os fatores individuais que contribuem para o desenvolvimento e agravamento da doença. Essas abordagens levam em consideração as características únicas de cada paciente, incluindo seu estado psicossocial, hábitos alimentares, estilo de vida e resposta à terapia, visando assim proporcionar resultados mais satisfatórios e duradouros (Bagatin et al., 2020; Gusmão & Bagatin, 2010).
Uma das principais áreas de foco nas abordagens personalizadas é a dieta. Estudos têm revelado a associação entre hábitos alimentares inadequados e a incidência da acne. Montagner et al. (2014) discutiram como a dieta ocidental, rica em açúcares, gorduras saturadas e alimentos processados, pode influenciar a patogênese da acne. Abordagens personalizadas podem incluir a orientação dos pacientes sobre uma dieta balanceada e rica em nutrientes que promovam a saúde da pele e reduzam o risco de inflamação (Bagatin et al., 2020).
Além disso, o controle da inflamação é uma parte crucial das abordagens personalizadas. Terapias anti-inflamatórias, como o uso de retinoides tópicos e antibióticos, podem ser ajustadas às necessidades de cada paciente com base na gravidade e no tipo de acne (Bowe & Logan, 2011). Essas terapias visam diminuir a resposta inflamatória localizada, reduzindo a formação de lesões e prevenindo a piora das condições.
A consideração do estado psicossocial do paciente também desempenha um papel significativo em abordagens personalizadas. A relação entre estresse, ansiedade e depressão e o desenvolvimento da acne foi documentada em vários estudos. Pacientes com altos níveis de estresse podem se beneficiar de estratégias de gerenciamento do estresse, como exercícios de relaxamento e atividades físicas regulares, para minimizar o impacto da resposta hormonal na produção de sebo (Yosipovitch et al., 2007).
Abordagens personalizadas também podem envolver o uso de terapias combinadas, adaptando-se às necessidades específicas de cada paciente. A combinação de terapias tópicas, como retinoides, antibióticos e tratamentos anti-inflamatórios, com mudanças na dieta e no estilo de vida, pode proporcionar resultados mais abrangentes e duradouros (Bagatin et al., 2020).
Assim, as abordagens personalizadas para serem eficazes no tratamento da acne, devem levar em consideração diversos fatores individuais, como dieta, inflamação e estado psicossocial. Ao adaptar as terapias de acordo com as necessidades específicas de cada paciente, é possível alcançar resultados mais satisfatórios e melhorar a qualidade de vida dos indivíduos afetados pela acne.
CONCLUSÃO
A pesquisa analisou a influência de uma dieta inadequada, da resposta inflamatória e dos fatores emocionais na incidência e na gravidade da acne. Tornou-se evidente que a acne é uma condição multifatorial, na qual esses elementos desempenham papéis interligados.
O papel da dieta na acne demonstrou a importância de escolhas alimentares saudáveis na prevenção e no tratamento. A dieta ocidental, rica em açúcares e gorduras saturadas, parece estar associada ao aumento da produção de sebo e à inflamação cutânea, agravando a condição. Portanto, abordagens que promovam uma alimentação equilibrada podem complementar os tratamentos convencionais e melhorar os resultados.
A inflamação emergiu como um fator-chave na patogênese da acne, desencadeando um ciclo complexo que contribui para a formação de lesões inflamatórias. Tratamentos anti-inflamatórios, incluindo retinoides e antibióticos, têm o potencial de controlar essa resposta inflamatória e aliviar os sintomas da acne. No entanto, abordagens personalizadas e multifacetadas podem ser mais eficazes, levando em consideração também a influência do estado psicossocial.
O impacto do estado psicossocial na acne revelou a interconexão entre fatores emocionais e dermatológicos. Estresse, ansiedade e depressão podem agravar a condição da pele por meio de respostas hormonais e comportamentais. Uma abordagem personalizada que inclui estratégias de gerenciamento do estresse e apoio emocional pode complementar os tratamentos tradicionais e melhorar a resposta clínica.
Esta pesquisa ressalta a necessidade de uma abordagem holística na compreensão e tratamento da acne. As estratégias terapêuticas mais eficazes provavelmente envolvem a combinação de tratamentos convencionais com intervenções personalizadas que considerem os hábitos alimentares, a inflamação e o estado emocional do paciente. Pesquisas futuras podem continuar a aprofundar essas relações e identificar novas abordagens terapêuticas que melhorem a qualidade de vida dos pacientes afetados pela acne.
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1Curso de Biomedicina, Universidade Vila Velha;
2Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas, Universidade Vila Velha