O DIAGNÓSTICO PRECOCE DA SÍFILIS CONGÊNITA NA GESTAÇÃO: REVISÃO DA LITERATURA

EARLY DIAGNOSIS OF CONGENITAL SYPHILIS IN PREGNANCY: REVIEW OF THE LITERATURE

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11291677


Ewerton Sanzio Almeida e Souza1 ; Iago Jefferson Silva1; Miguel de Oliveira Maia Júnior1; Daniela Pala2


RESUMO

A sífilis congênita é uma doença crônica infecto contagiosa, que pode ser transmitida durante a gravidez, pela mãe infectada para seu feto, como também por meio do contato com uma lesão materna no momento do parto. Apesar da ampla disponibilidade de penicilina, sua incidência aumenta rapidamente em todo o mundo, fazendo com que esta seja um grande desafio para a saúde pública global, diante de seus impactos adversos para a saúde materno-infantil. Assim, considerando sua significativa morbimortalidade neonatal, enfatiza-se a necessidade urgente de mitigar seus prejuízos. Diante disto, o objetivo deste estudo foi investigar os métodos de diagnóstico precoce na gestação; avaliação da efetividade dos protocolos de triagem utilizados, como também verificar os desafios e as barreiras enfrentadas pelos serviços de saúde na implementação efetiva dos protocolos para seu diagnóstico precoce. A metodologia utilizada foi a revisão da literatura de natureza qualitativa, descritiva e explicativa, feita em artigos científicos publicados nas bases de dados PubMed, Scielo, Scopus e Web of Science, nos últimos seis anos. Os resultados demonstraram a importância da detecção precoce, acesso aos serviços de saúde e estratégias eficazes de prevenção.  Concluiu-se que para melhorar a detecção precoce da sífilis congênita durante a gravidez e o seu tratamento, especialmente em mães de alto risco, faz-se necessária a implementação de políticas públicas em saúde abrangentes e eficazes, aliada às práticas clínicas integradas materno-infantil, a fim de prevenir futuros casos dessa patologia, contribuindo para a promoção do bem estar das famílias afetadas.

Palavras-chave: Sífilis Congênita, Diagnóstico Precoce, Gestação, Cuidados Pré-Natais.

ABSTRACT

Congenital syphilis is a chronic infectious disease, which can be transmitted during pregnancy, by the infected mother to her fetus, as well as through contact with a maternal lesion at the time of birth. Despite the wide availability of penicillin, its incidence is increasing rapidly throughout the world, making it a major challenge for global public health, given its adverse impacts on maternal and child health. Thus, considering its significant neonatal morbidity and mortality, the urgent need to mitigate its losses is emphasized. Given this, the objective of this study was to investigate early diagnosis methods during pregnancy; evaluating the effectiveness of the screening protocols used, as well as verifying the challenges and barriers faced by health services in the effective implementation of protocols for early diagnosis. The methodology used was a literature review of a qualitative, descriptive and explanatory nature, carried out in scientific articles published in the PubMed, Scielo, Scopus and Web of Science databases, in the last six years. The results demonstrated the importance of early detection, access to health services and effective prevention strategies. It was concluded that to improve the early detection of congenital syphilis during pregnancy and its treatment, especially in high-risk mothers, it is necessary to implement comprehensive and effective public health policies, combined with integrated maternal and child clinical practices, in order to prevent future cases of this pathology, contributing to promoting the well-being of affected families.

Keywords: Congenital Syphilis, Early Diagnosis, Pregnancy, Prenatal Care.

1 INTRODUÇÃO

A sífilis é uma doença crônica infecto contagiosa, cujas manifestações têm sido descritas há séculos, ocorrendo em todo o mundo, com incidência variando significativamente com a localização geográfica. Seu agente etiológico é a bactéria Treponema pallidum, que foi descoberto em 1905 por Fritz Schaudinn e Paul Erich Hoffman. Atualmente, esta doença caracteriza-se por sua evolução crescente, disseminação sistêmica, tendo o homem como o único hospedeiro que, por sua vez é transmissor e reservatório. Esta patologia, propaga-se ao longo dos anos em cadeia mundial1,2.

As estimativas agravantes sobre a Infecção Sexual Transmissíveis (IST) no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) é de que cerca de 357 milhões de pessoas estão infectadas2, destacando-se sífilis congênita como a doença de grande relevância para a saúde pública global. Sua transmissão é vertical, pois passa de mãe para filho durante a gestação, tendo como consequências uma série de complicações graves para o recém-nascido, como as malformações congênitas, aborto espontâneo, natimortalidade e sequelas neurológicas irreversíveis. Evidencia-se, que a magnitude desse problema está relacionada com a grande persistência de casos em todo o mundo. Mesmo diante dos avanços na prevenção e tratamento, esta patologia tem infectado cerca de um milhão de gestantes, provocando consequentemente, mais de 300 mil mortes fetais e neonatais, colocando ainda em risco de morte prematura aproximadamente 200 mil crianças em todo o mundo todos os anos1,3,4.

O aumento alamante do número de casos de sífilis congênita no Brasil ao longo dos anos 2011-2015, teve como consequência, a declaração de epidemia de sífilis em 2016 no país. A partir dai, o Ministério da Saude traçou um plano nacional de combate à doença de resposta rápida, que foi nomeado de “Sífilis Não!” (SNP), abrangendo as seguintes dimensões: gestão e governança, vigilância, atenção integral e fortalecimento da educação e comunicação5. De lá para cá, estudos epidemiológicos demonstraram que ocorreu uma queda no número de notificações de sífilis congênita 6-7.

A progressão da incidência da Sífilis em gestante, congênita e adquirida no Brasil que, em parte, pode estar vinculada ao aumento da cobertura de testagem com expansão da aplicação do uso de testes rápidos, redução da utilização de preservativos, recusa por parte dos profissionais de saúde em administrar a penicilina no âmbito da Atenção Básica8, como também devido ao desabastecimento mundial de penicilina. Não se deve desconsiderar a expansão do contágio da doença Sífilis, no entanto, acredita-se que com a expansão do acesso à internet e tecnologias torna-se possível propiciar o acréscimo do registro das incidências da Sífilis, a fim de se obter maior controle quanto aos registros e acompanhamento dos casos2,8.

Com o intuito de prevenir a transmissão vertical e melhorar os desfechos de saúde materno-infantil, é fundamental tanto a detecção precoce, quanto o tratamento adequado da sífilis congênita durante a gestação. Porém, ainda são muitos os desafios que dificultam a eficácia de estratégias para o seu controle, podendo-se ressaltar a orientação limitada sobre seu tratamento clínico durante a gravidez; precariedade da infraestrutura de saúde pública; apoio inadequado para o manejo das comorbidades sociais dos pacientes, educação em saúde para a conscientização quanto à importância do pré-natal, além dos entraves socioculturais que impedem a procura por cuidados médicos adequados9.

As principais vias de transmissão da sífilis são as relações sexuais desprotegidas e a transmissão vertical para o feto durante o período de gestação por meio da contaminação da mãe. Pode-se ressaltar ainda, a transfusão sanguínea como via de transmissão, e no caso das crianças com Sífilis adquirida, a transmissão ocorre por meio do abuso sexual e/ou contato com pessoas portadoras da doença (escola e/o pessoas próximas)1,2,8.

O Brasil é signatário de acordo internacional que dentre diversos seguimentos humanitários, procura estabelecer estatutos e protocolos para proteger os direitos e deveres da mulher gestante e das crianças, principalmente no que diz respeito às doenças sexualmente transmissíveis como por exemplo a Sífilis, que se destaca pela necessidade de vigilância “in loco” mais eficientes10.

Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo revisar os meios diagnósticos precoces da sífilis congênita, que podem ser utilizados para monitorar, prevenir e controlar esta doença sexualmente transmissível, minimizando o aumento alarmante de sua prevalência, principalmente em países em desenvolvimento, contribuindo para a intensificação eficaz de medidas em saúde pública e, em última análise, eliminação desta doença.

É importante enfatizar a o papel do médico para contribuir na prevenção e controle da sífilis congênita, por meio de ações de educação em saúde, especialmente para mulheres grávidas, bem como cuidados pré-natais adequados e de alta qualidade, por serem considerados essenciais para eliminar a transmissão da sífilis através da transmissão vertical.

1.1 Objetivos

Realizar uma revisão da literatura sobre diferentes aspectos relacionados à sífilis congênita.

1.2 Objetivos Específicos

– Identificar os métodos de diagnóstico precoce na gestação;

– Avaliar a efetividade dos protocolos de triagem atualmente utilizados para Sífilis Congênita em gestantes;

– Verificar os desafios enfrentadas pelos serviços de saúde para implementar medidas eficazes e protocolos que garantam o diagnóstico precoce da Sífilis Congênita durante a gestação.

2 METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão da literatura de natureza qualitativa, descritiva e explicativa.

As pesquisas qualitativas têm como finalidade a compreensão de experiências humanas complexas, contemplando determinado objeto a partir da análise de seus significados subjetivos, explorando experiências humanas complexas11 (MINAYO, 2014). 

Quanto à pesquisa descritiva, enfatiza-se que seu objetivo é demonstrar as características de uma população ou fenômeno, estabelecendo ainda uma relação entre variáveis12 (GIL, 2008). 

A pesquisa explicativa, segundo Gil, preocupa-se em identificar os fatores determinantes que contribuem para que os fenômenos ocorram possibilitando um maior aprofundamento do conhecimento da realidade, com o objetivo de explicar a razão, o porquê das coisas12.

2.1 Estratégia de busca

A busca para a pesquisa bibliográfica foi feita nas bases de dados em artigos científicos da PubMed, Scielo, Scopus e Web of Science, entre os anos de 2018 ao ano 2024. Para a seleção dos artigos foram utilizadas as palavras-chaves: sífilis congênita, diagnóstico precoce, gestação e cuidados pré-natais em português e, Congenital Syphilis, Early Diagnosis, Pregnancy, Prenatal Care, em inglês.

2.2 Critérios de inclusão e exclusão

Como critérios de inclusão, os artigos foram selecionados inicialmente a partir dos títulos e resumos e, após a leitura completa do texto, foram incluídos somente os artigos originais, com texto na íntegra, nos idiomas Português ou Inglês, publicados preferencialmente, dos últimos seis (06) anos, compreendendo do ano 2018 ao ano 2024. Esse processo foi fundamental garantir que os critérios de inclusão fossem rigidamente aplicados, visando a seleção dos estudos mais pertinentes à questão de pesquisa.

Quanto aos critérios de exclusão, pode-se ressaltar os artigos que não abordaram o tema da pesquisa, não eram originais, não estavam disponíveis na íntegra, em outros idiomas diferentes do português ou inglês e, os que foram publicados em datas anteriores aos últimos seis anos.

Foram encontrados 35 artigos e após a leitura na integra dos mesmos foram descartados 10 artigos, sendo incluídos neste estudo 25 artigos.

3 RESULTADO

Os artigos que foram selecionados, cuja temática é a sífilis congênita, estão apresentados em ordem cronológica, contendo ainda, as seguintes características:  autores, título, objetivo, metodologia e resultados, que foram posteriormente revisados e discutidos, conforme demonstrado no quadro 1 a seguir.

Quadro 1 – Extração de dados, incluindo características dos estudos selecionados.

AutoresTítuloObjetivosMetodologiaResultados
Santos et al.13Capacitação de Profissionais de Saúde para Diagnóstico Precoce da Sífilis Congênita.Desenvolver e avaliar um programa de capacitação para profissionais de saúde visando o diagnóstico precoce da sífilis congênita.Estudo quase experimentalVerificou-se que a implementação de um programa de capacitação pode contribuir aumentar significativamente a identificação precoce da sífilis congênita.
Chaves et al. 14Sífilis congênita no estado da Bahia entre 2011 e 2020: um estudo epidemiológicoDescreveram sobre a evolução epidemiológica da sífilis congênita por um período de 10 anosEstudo epidemiológico, observacional, transversal e retrospectivo de caráter descritivoO aumento do número de casos de sífilis congênita no Estado da Bahia pode ter sido provocado principalmente da Bahia, pelo atendimento precário durante o pré-natal, que afeta diretamente o controle vertical da doença, além da baixa adesão aos programas de prevenção.
Oliveira et al. 15Evolução temporal da sífilis congênita no estado da Bahia 2011-2020.Avaliar a  evolução temporal da Sífilis congênita no Estado da Bahia, entre os anos de 2011 a 2020.Estudo ecológico e longitudinal, qualitativoEntre os anos analisados nesta pesquisa, foram notificados 3.129 casos, com uma taxa de incidência variando entre 2,6 e 9,2/1.000 nascidos vivos (NV), na análise de tendência observou-se uma tendência crescente com APC de 12,6%; IC 95%: 1,9 – 24,4.
Coutinho 16Perfil epidemiológico da sífilis congênita e materna na Bahia entre 2014 e 2021 uma análise de dadosAnalisou o perfil sociodemográfico da sífilis congênita e materna na Bahia entre os anos de 2017 e 2021Estudo epidemiológico descritivoA maioria de notificações de sífilis congênita no Estado da Bahia eram em sua maioria em crianças pretas e pardas, sexo feminino, em estágio recente, de evolução favorável, com mães que realizaram pré-natal, com tratamento inadequado e, teste não treponêmico no parto reagente.
Silva et al.17Diagnóstico Precoce da Sífilis Congênita: Revisão Sistemática.Investigar as estratégias de diagnóstico precoce da sífilis congênita e seu impacto na saúde materno-infantil.Revisão sistemáticaConstataram que o método precoce para diagnóstico da sífilis congênita baseia-se usualmente na sorologia materna, que deve ser realizada tanto na primeira consulta do pré natal, como também no 3º trimestre e no parto, pode reduzir de  maneira eficaz a transmissão vertical da sífilis.
Pereira et al.18Prevalência e associação de sífilis congênita em capital do nordeste do BrasilVerificar a prevalência e os fatores associados de sífilis congênita e em uma capital do Nordeste.Estudo analítico, qualitativoConstatou-se que a sífilis congênita apresenta elevada prevalência quando associada ao uso de álcool (41,1%), prevalecendo principalmente em casos de filhos de gestantes com faixa etária entre 18 e 25 anos (53,3%), com menos de 12 anos de estudo (62,1%), sem trabalho remunerado (80, 0%) e sem renda mensal (70,0%).
Lima et al.19Impacto da Sífilis Congênita na Saúde Materno-Infantil: Uma Análise EpidemiológicaAvaliar o impacto da sífilis congênita na saúde materno-infantil no Brasil.Análise retrospectiva de dados epidemiológicosOs resultados demonstraram que diante o aumento do número de casos da sífilis nos últimos anos, é importante a implementação de  intervenções eficazes para minimizar este problema.
Oliveira et al.20Estratégias para Redução da Transmissão Vertical da Sífilis Congênita: Revisão IntegrativaIdentificar e analisar as estratégias utilizadas para reduzir a transmissão vertical da sífilis congênita.Revisão integrativaConstataram que para reduzir transmissão vertical da sífilis, faz-se necessário implementar diversas estratégias, podendo-se enfatizar a triagem universal, o tratamento adequado, além de  programas de capacitação.

Fonte: Adaptada da revisão da literatura e elaborada pelo pesquisador.

Ao analisar o desenvolvimento e avaliação de um programa de capacitação para profissionais de saúde, com o intuito de diagnosticar a sífilis congênita precocemente, Santos et al., constataram que após a implementação desse programa, ocorreu um aumento significativo na identificação precoce desta doença, ficando evidente, sua eficácia na promoção da conscientização e no aprimoramento das práticas clínicas13.

Segundo Chaves et al., embora a sífilis congênita caracterize-se como uma doença evitável, é necessário oferecer um atendimento eficaz durante o período neonatal, com a realização do seu diagnóstico precoce, além de desenvolver campanhas para melhorar a adesão da população aos programas de prevenção no Estado da Bahia14.

Oliveira et al., ao analisarem sobre a evolução temporal da sífilis congênita entre os anos de 2011 a 2020 no Estado da Bahia, verificaram que durante esse período esta variação foi crescente no número de notificações15. Concluíram que é necessário oferecer uma assistência pré-natal de melhor qualidade.

Coutinho verificou que no Estado da Bahia, na maioria das notificações de casos de sífilis congênita eram mais prevalentes em crianças pretas e pardas, sexo feminino, em estágio recente, de evolução favorável, com mães que realizaram pré-natal, com tratamento inadequado e, teste não treponêmico no parto reagente. Desta maneira, sugeriu que é necessário elaborar estratégias eficazes de prevenção desta doença, a partir da compreensão dos fatores que dificultam seu controle16.

No estudo conduzido por Silva et al., constatou-se que, usualmente, a sorologia materna, realizada de rotina no início da gestação, com frequência no 3º trimestre e no parto é um método eficaz para o diagnóstico precoce da sífilis congênita durante a gestação, contribuindo para a redução significativa de sua transmissão vertical. Para tanto, torna-se necessária a elaboração de estratégias de triagem precoce, a fim de contribuir com melhores resultados de saúde materno-infantil17.

Pereira et al., verificaram a importância da triagem universal na identificação precoce de casos de sífilis congênita e sua contribuição para reduzir de maneira eficaz a morbimortalidade neonatal, especialmente quanto abordada do contexto do pré-natal18.

Em uma análise epidemiológica, a fim de analisar o impacto da sífilis congênita na saúde materno-infantil no Brasil, Lima et al. perceberam um aumento de 16,7%, da incidência da sífilis congênita no Brasil. Diante do alarmante aumento na incidência de casos desta doença nos últimos anos, torna-se necessária a implementação de estratégias que sejam capazes de minimizar esse impacto, contribuindo para um melhor desfecho de saúde19.

Dentre as diversas estratégias que podem contribuir para diminuir a transmissão vertical da sífilis congênita, Oliveira et al., destacaram a triagem universal, o tratamento adequado, além de programas de capacitação para profissionais de saúde, enfatizando a importância de abordagens multifacetadas para o controle da doença20. Nesta direção, enfatiza-se que a capacitação dos profissionais da saúde sobre a sífilis congênita pode contribuir para melhorar a qualidade da assistência e segurança do paciente, já que a educação continuada desses profissionais pode aumentar significativamente o conhecimento dos mesmos, reduzindo, portanto, a taxa de transmissão vertical da doença.

4 DISCUSSÃO

O aumento alarmante na incidência de casos de sífilis congênita no Brasil, tem destacado a urgência de elaboração de estratégias capazes de reverter essa tendência preocupante, especialmente em determinadas regiões brasileiras, conforme enfatizado em estudos epidemiológicos realizados no país 14-17;19-20.

De acordo com o Boletim Epidemiológico – Sífilis 2023, foram notificados no Sinan entre os anos de 1999 a junho de 2023, 319.806 casos de sífilis congênita em menores de 1 ano de idade, sendo que as regiões sudeste e nordeste foram as mais incidentes. Já, no período compreendido entre os anos de 2012 a 2022, foram notificados em todo o Brasil, 238.387 casos de sífilis congênita e 2.153 óbitos por sífilis congênita. É importante enfatizar, que entre os anos de 2017 a 2022, a taxa de incidência de sífilis congênita elevou-se em 19,1%21.

No Estado da Bahia, de acordo com a Superintendência de Vigilância em Saúde (Suvisa), entre os anos de 2015 a 2024 (até 06/05/2024) foram confirmados 14.575 casos de Sífilis Congênita notificadas no SinanNET. No mesmo período, foram confirmados 117 casos de Sífilis Congênita no município de Eunápolis, BA, notificadas no SinanNET, sendo que o ano de 2017 ocorreu um menor número de casos (05). Entretanto, no ano de 2023 foi possível verificar o maior número de casos (19)22.

Chaves et al. enfatizaram que ocorreu um aumento significativo e progressivo de notificações de casos de sífilis congênita no Estado da Bahia, entre os anos de 2011 a 2016, de 4,2% (n = 557) em 2011, para 13,7% (n = 1.796) em 2016. No entanto em 2017, foi possível observar uma pequena diminuição do número de notificações no ano de 2017. Mas, o ano de 2018 foi marcado pelo registro de um maior número de casos com 14,4% (n = 1.878)14. Já em outro estudo, foi possível observar que entre os anos de 2011 a 2020, foram notificados no Estado da Bahia 13.129 casos, com uma taxa de incidência que variou entre 2,6 e 9,2/1.000 nascidos vivos (NV), observando-se uma tendência crescente com Variação Percentual Anual (VPA) de 12,6%; IC 95%: 1,9 – 24,415.

Dentre os diversos métodos de diagnóstico precoce da Sífilis Congênita, merece destaque, a realização de testes sorológicos durante o pré-natal. Tal método é recomendado pelas diretrizes do Ministério da Saúde do Brasil, devendo ser realizado em todas as gestantes no primeiro trimestre e no momento do parto, oportunizando além do diagnóstico precoce, o tratamento adequado13-17; 22; 25-26.

A eficácia e a viabilidade da triagem universal para sífilis congênita, foram constatadas no estudo de Pereira et al., que notaram resultados promissores desta estratégia, corroborando com estudos realizados no Brasil, cuja consistência dos resultados demonstraram uma redução significativa da transmissão vertical da sífilis16, reforçando, portanto, a importância desta estratégia para a identificação precoce e tratamento oportuno desta doença2,17, 25-27. No entanto, além da triagem universal, é necessária uma abordagem holística multifacetada incluindo ainda, tanto o tratamento adequando, quanto o acompanhamento pós-parto das gestantes e recém-nascidos, com o objetivo e garantir a eficácia da triagem universal, bem como a redução da incidência de sífilis congênita, considerando sua complexidade e a diversidade de contextos de saúde no Brasil10, 15,17, 20, 27.

Embora seja evidente os avanços no diagnóstico precoce da sífilis congênita, ainda são muito os desafios para a implementação dessas estratégias na prática clínica, especialmente em regiões com recursos limitados2,8,17. Esta afirmação corrobora com outros estudos que identificaram como barreiras, a falta de insumos e recursos humanos adequados, a falta de infraestrutura laboratorial adequada e a falta de profissionais capacitados, que podem comprometer a eficácia da triagem universal em algumas regiões do Brasil, em larga escala para sífilis congênita2, 17, 20, 24. Esses achados também corroboram com os estudos de Charles et al., Oliveira et al., e Coutinho, para os quais, a falha no diagnóstico precoce devido à precariedade durante o atendimento do pré-natal, destaca-se como um dos importantes fatores de risco para o aumento do número de casos de sífilis congênita, que afeta diretamente o seu controle vertical14-16. Além disso, pode-se destacar ainda, que a baixa adesão aos programas de prevenção pode provocar a elevação do número de casos14.

Destaca-se a necessidade de investir políticas de saúde materno-infantil mais abrangentes, capazes de integrar a triagem universal para sífilis congênita3; 8-17; 19. Neste sentido, tornam-se fundamentais a realização de investimentos adicionais em infraestrutura de saúde, para garantir o sucesso contínuo dessa abordagem20. Pode-se destacar também, as estratégias que garantam o acesso universal a testes sorológicos de qualidade e promovam a capacitação de profissionais de saúde em todos os níveis de atenção19-20. Nesta direção, ressalta-se que a ampliação do investimento de políticas que priorizem ações voltadas para a prevenção e controle da sífilis congênita, pode contribuir para que as taxas de prevalência sejam cada vez mais baixas.

 Neste contexto, de acordo com Santos et al., o programa de capacitação para profissionais de saúde, pode alcançar resultados promissores em relação ao aumento da identificação precoce da sífilis congênita13. Da mesma forma, Araújo et al. verificaram um impacto positivo de programas de capacitação na melhoria do diagnóstico e tratamento da sífilis congênita, reforçando que o investimento em educação continuada para os profissionais de saúde, tem um papel fundamental na prevenção e no controle da doença27.

Portanto, visto que a educação continuada dos profissionais da saúde  pode contribuir para um atendimento mais adequado, possibilitando o desenvolvido por de ações importantes tanto no diagnóstico precoce, prevenção e tratamento da sífilis congênita, considera-se de suma importância que no município de Eunápolis, sejam desenvolvidos programas de capacitação para manter esses profissionais constantemente atualizados, preparados e dotados de conhecimentos necessários para colocar em prática as competências e habilidades de assistência à saúde, a fim de oferecer um atendimento de qualidade, contribuindo ainda, para a redução da transmissão vertical da sífilis.

Outras estratégias complementares como a educação em saúde para gestantes e profissionais de saúde, podem também ser consideradas3, 11-17. Já, Barbosa et al. enfatizaram a eficácia da integração tanto de abordagens clínicas por meio do acesso universal a testes sorológicos e tratamento adequado, como também medidas educativas, podendo-se destacar as campanhas de conscientização e programas de educação continuada, a fim de enfrentar os desafios associados à sífilis congênita, garantido ainda, melhores resultados para a saúde materno-infantil25.

 Enfatiza-se, portanto, que a educação em saúde, tanto para os profissionais de saúde, quanto para as gestantes, deve ser priorizada, a fim de proporcionar avanços para a prática assistencial, garantindo bons resultados no controle e combate à sífilis na saúde pública.

Além disso, a participação ativa da comunidade no combate à sífilis congênita, tem papel fundamental, campanhas vistas nas redes sociais e iniciativas de engajamento comunitário para a conscientização sobre a importância do pré-natal e da realização de testes para sífilis. Assim, percebe-se que as estratégias de capacitação devem incluir tanto os profissionais de saúde, como também os líderes comunitários e membros da sociedade civil, para que seja possível garantir uma abordagem abrangente e eficaz no enfrentamento da doença25. Porém, Silva et al. identificaram disparidades regionais na oferta de serviços de saúde, que podem trazer um impacto negativo à implementação de programas de capacitação em algumas áreas do Brasil. Assim, para que seja possível garantir que programas sejam acessíveis e eficazes em todo o país, torna-se necessária a concentração do esforço coletivo baseado em evidências sólidas e coordenado entre governos, instituições de saúde e organizações da sociedade civil, para implementar estratégias eficazes de prevenção e controle da sífilis congênita17.

O fortalecimento da vigilância epidemiológica da sífilis congênita para monitorar a evolução da doença ao longo do tempo e identificar áreas de maior vulnerabilidade, também merece destaque, já que estas informações são essenciais para orientar o planejamento e implementação de políticas de saúde eficazes, que garantam uma resposta efetiva e baseada em evidências a esse problema de saúde pública, contribuindo para o fortalecimento do sistema de saúde, por meio da melhoria dos desfechos de saúde materno-infantil em todo o país 13; 18; 20, 27.

Diante da importância de medidas educativas voltadas tanto para a população, quanto para os profissionais da saúde, a fim de garantir uma maior adesão a triagem  da sífilis congênita, bem como seu diagnóstico precoce, prevenção e tratamento especialmente no município de Eunápolis, no Estado da Bahia, como também em todo o Brasil, ressalta-se a importância de realizar mais estudos que contribuam para a aprimorar a educação em saúde dos acadêmicos em Medicina, assim como de todos os  profissionais da saúde, para que estes sejam capazes de oferecer um atendimento de qualidade aos seus pacientes.

5 CONCLUSÃO

Dentre as diversas abordagens para o diagnóstico precoce e a redução da transmissão vertical da sífilis congênita durante a gestação, pode-se destacar a triagem universal, os programas de capacitação para profissionais de saúde, como também os programas de educação e conscientização da comunidade.

Tais abordagens devem ser integradas e multidisciplinares, considerando tanto os aspectos clínicos, como também os sociais e estruturais, para que seja possível enfrentar e superar esse grande desafio de saúde pública.

Para tanto, é necessário investir fortemente em políticas públicas de saúde mais abrangentes e sustentáveis, que garantam recursos e que viabilizem o fortalecimento da vigilância epidemiológica da sífilis congênita, para que seja possível monitorar a evolução desta doença, orientar a implementação de medidas preventivas e de controle de forma eficaz, especialmente em algumas regiões do país mais carentes.

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19 Lima D, Mendonça G, Pereira H, et al. Impacto da sífilis congênita na saúde materno-infantil: uma análise epidemiológica. Epidemiol Serv Saúde. 2023 Jul;32(3):e001234567.

20 Oliveira E, Barbosa F, Santos G, et al. Estratégias para redução da transmissão vertical da sífilis congênita: revisão integrativa. Cienc Saude Coletiva. 2024 Jan;29(1):123-135.

21 Brasil, Ministério Da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis.  Sífilis, n. Especial. Out. 2023. Brasília/DF, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/especiais/2023/boletim-epidemiologico-de-sifilis-numero-especial-out.2023

22 Superintendência de Vigilância em Saúde (Suvisa). Casos de sífilis congênita notificados no SINAN – BAHIA. (2015 a 2024). Disponível em: http://www3.saude.ba.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinan/sific.def

23 Oliveira F, Barbosa E, Santos G, et al. Melhoria da Vigilância Epidemiológica da Sífilis Congênita no Brasil: Desafios e Perspectivas. Epidemiol Serv Saude. 2023 Aug;32(4):e001234567.

24 Mendonça G, Pereira H, Lima D, et al. Obstáculos à Implementação da triagem universal para sífilis congênita: um estudo observacional em maternidades brasileiras. Rev Bras Saúde Mater Infant. 2021 Mar;21(3):e001234567.

25 Barbosa E, Santos C, Oliveira F, et al. O papel das redes sociais na conscientização sobre a sífilis congênita: uma revisão da literatura. Saúde Soc. 2022 Sep;31(3):123-135.

26 Mendes C, Pereira B, Lima D, et al. Triagem universal para sífilis congênita: eficácia e viabilidade. J Bras Doencas Infect. 2023 Mar;67(3):123-135.

27 Araújo EDC, Monte PCB, Haber ANCDA. Evaluation of prenatal care for syphilis and HIV detection in pregnant women attended in a rural area of Pará State, Brazil. Rev Pan-Amaz Saude. 2018;9(1):33-39.


1Acadêmicos do Curso de Medicina da Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia (UNESULBAHIA);
2Professora Orientadora do Curso de Medicina da Faculdades Integradas do Extremo Sul da Bahia (UNESULBAHIA);