PRÉ-ECLAMPSIA: FATORES DE RISCO QUE IMPLICAM NA MORTALIDADE MATERNA

PRE-ECLAMPSIA: RISK FACTORS THAT LEAD TO MATERNAL MORTALITY

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11287082


Alfeu Fernandes Ribeiro Neto¹; Gustavo Antunes; Leonardo Monteiro Langhinotti; Ana Patrícia da Silva Arruda Cavalcante2.


RESUMO: 

Introdução: A pré-eclampsia ocorre após a 20ª semana de gestação, é um distúrbio multissistêmico progressivo com a presença de hipertensão arterial. Objetivos: O objetivo principal foi analisar os principais fatores de risco associados à pré-eclampsia que implicam na mortalidade materna. Para alcançá-lo, traçamos como objetivos específicos: investigar mecanismos fisiopatológicos envolvidos na pré-eclampsia e sua relação com a mortalidade materna; descrever as complicações do diagnóstico tardio que colocam à vida materna em risco; analisar dados epidemiológicos para identificar grupos de mulheres com maior risco de desenvolver pré-eclampsia no Estado do Tocantins. Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo transversal, com informações coletadas a partir do banco de dados DATASUS. Resultados: O perfil epidemiológico das mulheres tocantinenses com maior número de óbitos são pardas, solteiras, com faixa etária entre15 a 29 anos. Discussão: Causas obstétricas diretas são as principais responsáveis pelas mortes maternas, os números de mulheres com hipertensão gestacional estão aumentando, e quando esses casos não são tratados em tempo, a evolução para eclampsia é uma possibilidade. Considerações Finais: Os cuidados básicos auxiliam no tratamento dos sintomas da pré-eclampsia, por isso, a identificação de fatores de risco é importante para instituir intervenções profiláticas e inserção de protocolos consolidados no manejo das grávidas. 

Palavras-chave: Pré-eclampsia. Morbimortalidade. Hipertensão. Fatores de risco. 

ABSTRACT:   

Introduction: Preeclampsia occurs after the 20th week of gestation, a progressive multisystem disorder with the presence of arterial hypertension. Objectives: The main objective was to analyze the main risk factors associated with preeclampsia that imply maternal mortality. To achieve this, we set the following specific objectives: to investigate pathophysiological mechanisms involved in preeclampsia and its relationship with maternal mortality; describe the complications of late diagnosis that put the mother’s life at risk; analyze epidemiological data to identify groups of women at higher risk of developing preeclampsia in the State of Tocantins. Methodology: This is a cross-sectional descriptive study, with information collected from the DataSUS database. Results: The epidemiological profile of women in Tocantins with the highest number of deaths includes brown, single, aged between 15 and 29 years.  Discussion: Direct obstetric causes are the main cause of maternal deaths, the number of women with gestational hypertension is increasing, and when these cases are not treated in time, progression to eclampsia is a possibility. Final Thoughts: Basic care helps in the treatment of preeclampsia symptoms, so the identification of risk factors is important to institute prophylactic interventions and the insertion of consolidated protocols in the management of pregnant women. 

Keywords: Preeclampsia. Morbidity and mortality. Hypertension. Factors Risk. 

1 INTRODUÇÃO  

A pré-eclampsia é caracterizada por hipertensão gestacional após a 20ª semana de gestação e acompanha pressupostos como proteinúria ou edema generalizado, e possíveis manifestações de lesão de órgãos. Afeta entre 2% e 8% de todas as gestações, e é associada a um aumento significativo na taxa de mortalidade e morbidade tanto para a mãe quanto para o feto (Chang; Seow; Chen, 2023; Dimitriadis, et al., 2023).  

Estima-se que cerca de 4 milhões de mulheres em todo o mundo sejam diagnosticadas com pré-eclampsia a cada ano, resultando na morte de > 70.000 mulheres e 500.000 bebês (Dimitriadis, et al., 2023). A pré-eclampsia é um distúrbio multissistêmico progressivo, com a presença de hipertensão arterial ( ≥140 mm Hg sistólica ou ≥90 mm Hg diastólica) e proteinúria significativa de (≥0,3 g/24h), relação proteína: creatinina urinária (mg/dL) ≥0,3;  e nesse caso, resultado de fita reagente igual à 1+, além desses fatores, se houver ausência de proteinúria, é relevante considerar o surgimento da hipertensão relacionado a plaquetopenia (contagem <100.000m/m³), insuficiência renal Cr sérica ≥ 1,1mg/dL, lesão hepática, edema pulmonar ou sintomas neurológicos (Brasil, 2020; Parada-Niño; Castillo-León; Morel, 2022). 

Entre os principais fatores de risco estão as comorbidades maternas, doenças renais crônica, obesidade, gestações múltiplas, raça e etnia, reprodução assistida, intervalo de gravidez e idade materna (Chang; Seow; Chen, 2023).  Isto posto, outras causas como a diabete mellitus amplia a probabilidade de promoção do distúrbio. 

Apesar da detecção dos respectivos fatores, algumas gestantes não apresentam as características exigidas, porém desenvolvem a complicação, os marcadores bioquímicos são de grande importância para análise dessa predição (Peraçoli, et al., 2023). 

Evidencia-se na literatura pesquisas direcionadas a descoberta de biomarcadores sanguíneos para prevenção inicial da pré-eclampsia, é o caso do estudo de Danielli et al., (2022) por título “Blood biomarkers to predict the onset of preéclampsia: A systematic reviw and meta-analysis”, os autores buscaram determinar biomarcadores associados a pré-eclampsia na fase inicial, os resultados da metaanálise sFlt-1 apresentaram-se inconclusivos.  

Uma outra pesquisa de Hofmeyr et al., (2019) relaciona-se com a suplementação de cálcio pré gestacional intitulada “Prepregnancy and early pregnancy calcium supplementation among women at high risk of pre-eclampsia: a multicentre, double-blind, randomised, placebo-controlled trial”, os autores testaram a hipótese se a inserção de cálcio antes e no início gestacional poderia prevenir a evolução da préeclampsia. Os testes em comparação com o placebo não mostraram redução considerável. 

As experiências adquiridas durante o estágio na Unidade Básica de Saúde (UBS) com ênfase ao atendimento de gestantes com fatores de riscos são elementos norteadores para realização dessa pesquisa. A prática clínica nos proporcionou a percepção das vivências reais na área. Dito isso, compreender as causas de risco associadas à pré-eclampsia e mortalidade materna pode ajudar os profissionais de saúde a identificarem mulheres em maior risco e fornecer intervenções preventivas ou tratamento precoce.  

Apesar da significativa repercussão clínica da pré-eclampsia, a única maneira de resolver completamente a condição é através do término da gestação. No entanto, mesmo após o parto, persiste um elevado risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e metabólicas. Portanto, é crucial dedicar esforços à ampliação da compreensão dos mecanismos fisiopatológicos subjacentes à doença, à sua detecção precoce e ao desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas (Peraçoli, et al., 2023).  

Alguns pressupostos teóricos certificam que cuidados básicos auxiliam no tratamento dos sintomas da pré-eclampsia (Brasil, 2020). A respectiva patologia multissistêmica representa ameaça durante a gestação, por isso a identificação de coeficientes de risco é importante para instituir intervenções e inserir protocolos consolidados no manejo das grávidas.   

A hipertensão arterial sistêmica na gravidez pode gerar complicações no sistema cardiovascular (HAS grave, edema pulmonar, TEP, acidentes vasculares), renal (Oliguria), hematológico (Hemólise, plaquetopenia), neurológico (edema cerebral, AVC, PRESS), hepático (Disfunção, isquemia, hematoma, ruptura capsular) e placentário (Isquemia, trombose, DPP, hipoperfusão fetal) (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, 2017).  

Pesquisas direcionadas aos fatores de risco do distúrbio, são de grande relevância, pois fornecem informações detalhadas acerca desse processo que pode resultar na morbimortalidade materna. Apesar dos avanços na medicina, a préeclampsia continua a ser uma das principais causas de morbidade e mortalidade materna em todo o mundo (Brasil, 2020). No entanto, há uma lacuna significativa no entendimento das causas de risco específicos que estão diretamente associados à mortalidade materna. Mediante os pontos supracitados, surge a seguinte problemática: Quais fatores de risco da pré-eclampsia implicam na mortalidade materna? 

Assim, diante do contexto mencionado, o objetivo principal desta pesquisa consiste em analisar os principais fatores de risco associados à pré-eclampsia que implicam na mortalidade materna. Decorrem desse objetivo, os seguintes específicos: investigar mecanismos fisiopatológicos envolvidos na pré-eclampsia e sua relação com a mortalidade materna; descrever as complicações do diagnóstico tardio que colocam à vida materna em risco; analisar dados epidemiológicos para identificar grupos de mulheres com maior risco de desenvolver pré-eclampsia. 

2 METODOLOGIA  

Trata-se de um estudo descritivo transversal. O presente estudo utilizou as terminologias cadastradas nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCs) que são derivados do Medical Subject Headings da U.S. National Library of Medicine. Esses descritores facilitam o uso de terminologia comum em português, inglês e espanhol. Os termos utilizados foram: pré-eclâmpsia, fatores de risco, gestação, morbimortalidade e hipertensão.  

Em relação aos critérios de inclusão, os elementos chave escolhidos levaram em consideração artigos disponibilizados na íntegra, de acesso aberto entre os anos de 2017 – 2022. Os critérios nesse quesito foram: 1) estudos envolvendo mulheres hipertensas gestacionais, 2) mulheres entre 15 e 44 anos que tiveram pré-eclâmpsia na gestação, 3) gestante com parto realizado no Estado do Tocantins entre 2017 e 2022 e 4) mulheres que tiveram registro de pré-eclâmpsia ou hipertensão gestacional em seus prontuários médicos.  

Para a busca de dados, utilizou-se o banco de dados do DATASUS – Sistema de Informações sobre mortalidade (http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sim/cnv/mat10uf.def). A população estudada foi selecionada com base na classificação pelo CID-10 sob o código, “O13 – Hipertensão gestacional s/proteinúria significativa”, “O14 – Hipertensão gestacional com proteinúria significativa” e “O15- Eclâmpsia”. A partir desses dados, os resultados foram analisados sob os critérios de “cor/ raça”, “faixa etária”, “estado civil”. Foi realizada uma filtragem no banco de dados (2017-2022), após o processo, todas as informações foram exportadas via CSV/XLSX e analisadas no Microsoft Excel 2016®. 

Como critério de exclusão, considerou-se assuntos relacionados: a) mulheres sem diagnóstico de pré-eclampsia após a 20ª semana de gestação e b) estudos clínicos repetidos. Posteriormente à coleta de dados, as respostas foram examinadas de maneira rigorosa. Para essa fase, realizou-se estratégias que visaram garantir os princípios éticos impostos na Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) que normatiza o regulamento para pesquisas envolvendo seres humanos. Sobre os riscos, a revisão das informações via banco de dados das pacientes apresenta baixa possibilidade de danos à dimensão física, psíquica e moral. 

3 RESULTADOS 

Ao todo, foram registrados 25 óbitos por eclampsia e hipertensão arterial sistêmica (com/sem proteinúria) no Estado do Tocantins, no período de 2017 a 2022. Quanto a distribuição desses óbitos relativos aos fatores de hipertensão, os resultados podem ser acompanhados no quadro 1: 

Quadro 1: Relação dos óbitos com a presença de hipertensão gestacional

Classificação CID – 10201720182019202020212022
O13 – Hipertensão gestacional s/proteinúria significativa – 01 óbito 02 óbitos 01 óbito 01 óbito – 
O14 – Hipertensão gestacional com proteinúria significativa – – – 01 óbito 01 óbito 02 óbitos 
Fonte: DATASUS (2022), elaborado pelos autores (2024) 

Conforme exposto no quadro 1, a maior taxa de óbitos foi da hipertensão gestacional s/proteinúria significativa, com o total de (05) óbitos, na sequência, a hipertensão gestacional com proteinúria significativa totalizou (04) óbitos. 

O intervalo de idade no sistema do DATASUS varia conforme a classificação CID-10 selecionada, optamos por expor separadamente a idade dos óbitos maternos por eclampsia e hipertensão com/sem proteinúria. Entretanto, todas as análises compreendem o intervalo entre 15 a 44 anos.  

O gráfico 1 sinaliza os óbitos envolvendo pressão arterial com e sem proteinúria por faixa etária, a idade entre 15 a 24 anos possui seis(6) óbitos, 25 a 34 anos compreende dois(2) óbitos e a idade entre 35 a 44 anos (1)óbito.  

Gráfico 1: Óbito decorrente da pressão arterial com e sem proteinúria por faixa etária

Fonte: DATASUS (2021), elaborado pelos autores (2024) 

No que diz respeito a mortalidade por eclampsia no Estado do Tocantins, no ano de 2017, houve o equivalente a (2 casos – 13%), 2018 (1 caso – 6%), 2021 (1 caso- 6%), 2019 (5 casos – 31%), 2020 (4 casos- 25%), e 2022 (3 casos – 19%), os índices podem ser demonstrados no gráfico 2:  

Gráfico 2: Porcentagem dos óbitos por eclampsia no Estado do Tocantins entre 2017 e 2022

Fonte: DATASUS (2021), elaborado pelos autores (2024) 

Quanto a etnia dos óbitos maternos por eclâmpsia e pressão arterial sistêmica gestacional, a maioria das mulheres se consideram pardas (9 casos – 50%), 4 casos foram de etnia preta (22%), 3 casos indígenas (17%), 1 caso (6%) de etnia branca e 1 caso (6%) ignorado.  

Gráfico 3: Porcentagem da etnia dos óbitos por eclampsia e pressão arterial sistêmica gestacional no período de 2017 a 2022

Fonte: DATASUS (2022), elaborado pelos autores (2024) 

Em relação a idade materna de desenvolvimento da eclampsia, os resultados indicam que a faixa etária mais acometida foi de 25 a 29 anos (6 casos – 40%). O segundo intervalo maior foi de 15 a 19 anos, com 3 óbitos (20%), seguido de 30 a 34 anos (2 casos – 13%) e 40 a 44 anos (2 casos – 13%), posteriormente, 20 a 24 anos (1 caso – 7%) e 35 a 39 anos (1 caso – 7%), conforme se observa no gráfico 4:  

Gráfico 4: Óbito decorrente da eclampsia e pressão arterial com e sem proteinúria por faixa etária no período de 2017-2022

Fonte: DATASUS (2022), elaborado pelos autores (2024)

Com relação ao estado civil dos óbitos decorrente da eclampsia e pressão arterial com/sem proteinúria, treze (13) mulheres eram solteiras (52%), cinco(5) casadas (20%), quatro(4) categorizaram como “outro” (16%), e três(3) tiveram seu estado civil ignorado (12%). Esses dados podem ser acompanhados no gráfico 5: 

Gráfico 5: Porcentagem do estado civil dos óbitos decorrente da eclampsia e pressão arterial com/sem proteinúria no período de 2017-2022

Fonte: DATASUS (2022), elaborado pelos autores (2024)

4 DISCUSSÃO  

Conforme os dados analisados do DATASUS realizados por este artigo, o perfil epidemiológico das mulheres tocantinenses com maior número de óbitos em decorrência da pré-eclampsia engloba pardas (50%), solteiras (52%), entre 15 a 29 anos de idade. Os estudos de Menezes et al., (2021) analisou o perfil epidemiológico das mulheres falecidas por eclâmpsia em outros estados brasileiros através de dados disponíveis no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, os resultados apontaram que o perfil epidemiológico das mães que falecem por eclâmpsia são mulheres jovens, pardas (56,6%) e solteiras (45,3%). Esses dados corroboram com o fato da similaridade entre os domínios prevalentes. A desigualdade de acesso aos serviços de saúde é um dos fatores que contribuem para essa alta taxa de mortalidade materna. 

Estudos indicam que entre as condições para a respectiva ocorrência da préeclampsia estão a hipertensão e proteinúria (Phipps, et al., 2019; Poon, et al., 2020; Organização Mundial de Saúde, 2014). Conforme as Diretrizes Brasileira de Hipertensão Arterial impostas sob a supervisão de Barroso et al., (2020), a hipertensão arterial, é crônica, intransmissível e determinada pelos graus pressóricos, dependente de elementos epigenéticos, ambientais e sociais. Dada à gravidade da pré-eclampsia, métodos de predição têm sido desenvolvidos e os dados epidemiológicos auxiliam na constatação de mulheres com possibilidade de desenvolvê-la. 

Em pesquisa sobre o perfil da mortalidade materna em decorrência da da eclampsia do período de 2011 a 2021, a região Norte, na qual situa-se o Tocantins, registrou cerca de região norte 345 óbitos (20%) (Vieira, et al., 2023). A pré-eclampsia quando não tratada precocemente, poderá evoluir para eclampsia.  

Nos casos em que a ocorrência de hipertensão arterial sucede no primeiro trimestre de gestação, a condição é classificada como crônica. Após a incidência na 20ª semana da gestação, sem acompanhamentos de sinais evidentes, a classificação passa a ser de hipertensão gestacional. O diagnóstico diferencial está nos resultados pressóricos associados a proteinúria (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, 2017).  

Os resultados da presente pesquisa demonstram que a taxa de óbitos da hipertensão gestacional com/sem proteinúria significativa totalizou nove(09) óbitos. Em âmbito nacional, Santos e Santos (2023) investigaram o perfil epidemiológico da mortalidade materna por síndromes hipertensivas gestacionais utilizando o DATASUS e constataram que em relação a cor/raça, a prevalência foi de parda. No que diz respeito a regionalidade, o Norte é destaque na prevalência de óbitos de hipertensão gestacional. Além disso, os autores detectaram que entre os anos analisados, a mortalidade se concentrou em pacientes com pré-eclampsia e eclampsia.  

 De acordo com a literatura, a pré-eclampsia pode ser classificada entre leve e grave. Na maioria dos casos, a forma grave é detectada quando as condições da PA são iguais ou acima de 160/110 mmHg, teste de proteinúria de 5 g (relação P/C > 0,3; > 1,0 g/l em fita reagente), oligúria/diurese < 400 ml diário, sinais de iminência de eclampsia como cefaleia, dor epigástrica, vestígios de transtorno da visão, insuficiência renal aguda (creatinina > 1,1 mg/dl), coagulação intravascular disseminada, complicações neurológicas, hematológicas (plaquetopenia, CIVD < hemólise), edema pulmonar, cianose e síndrome de HELLP (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, 2017).  

 Os distúrbios hipertensivos são os agentes complicadores das gestações, o diagnóstico é desafiante, de etiologia desconhecida, as hipóteses são muitas, de predisposição genética a deficiência de cálcio. Um dos motivos das complicações do quadro da pré-eclampsia resulta sobretudo, da insuficiência placentária. Ocorrências de hipóxia placentária sucedem em esgotamento oxidativo e dispensa de produtos trofoblásticos, com excesso de elementos antiangiogênicos (PLGF < 36 pg/ml ou relação sFlt-1/PIGF > 85) (Chang; Seow; Chen, 2023). 

Dada à gravidade da pré-eclampsia, métodos de predição têm sido desenvolvidos e os dados epidemiológicos auxiliam na constatação de mulheres com possibilidade de desenvolvê-la. Condições como histórico de pré-eclampsia em gestação anterior é uma das probabilidades com maior eficácia. Nas análises clínicas, um dos testes mais utilizados é a doppler fluxometria das artérias uterinas e marcadores plasmáticos para verificação de desequilíbrio angiogênese/antiangiogênese.  

Estudos sugerem dois estágios da pré-eclampsia, o primeiro é ocasionado pela invasão aparente do trofoblasto, e a segundo é resultante da prrimeiro, logo, existe reação materna em resposta ao processo de disfunção endotelial, sucede-se nessa conjuntura a instabilidade entre os coeficientes angiogênicos e antiangiogênicos, esses desequilíbrios podem esclarecer o fato sobre algumas populações serem propensas a um risco maior de desencadearem o distúrbio (Chang; Seow; Chen, 2023; Parada-Niño; Castillo-León; Morel, 2022). 

 Casos de interrupção da gestação materna na pré-eclampsia grave < 34 semanas, envolve síndrome HELLP (hemolysis, elevated liver enzymes and low platelets), indicações à hemólise microangiopática, trombocitopenia e demais alterações hepáticas, eclampsia (convulsões nas pacientes com pre-eclampsia), PA descontrolada mesmo com uso de medicamentos, edema pulmonar e saturação (O2 < 94%), Cr sérica > 1,5 mg/dL e/ou oligúria (< 500 ml/ mL/24 h). Nos casos fetais, percentil abaixo de 5, morte fetal, ruptura prematura de membranas ou TPP (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, 2017).  

Após o diagnóstico de hipertensão crônica na gravidez, medidas como a antecipação deve ser cautelosa, será prudente avaliar as condições e riscos antes da interrupção da gestação, considera-se nesse momento como base primordial o histórico e manifestação clínica. Em relação a via de parto, o preferencial é vaginal, entretanto, não há contraindicações para cesariana (American College of Obstetricians and Gynecologistis, 2019). A única forma definitiva de tratamento da pré-eclampsia configura-se no parto. Entretanto, a depender de elementos fatorais como idade gestacional, complicações (ou não), gravidade e bem-estar do feto, a interrupção é a solução mais viável. Geralmente, quanto mais cedo a instalação da doença, maior a chance de prematuridade e consequentemente, mortalidade perinatal. 

A alta incidência de mortalidade materna devido à pré-eclâmpsia pode ser atribuída à inadequada provisão de cuidados pré-natais ao longo da gestação. Ademais, a insuficiente e ineficaz assistência em situações de urgência e emergência obstétricas e perinatais contribui substancialmente para o incremento nos índices de óbitos maternos. 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS  

Na presente pesquisa, o objetivo consistiu em determinar os fatores de risco de pré- eclampsia que implicaram na mortalidade materna a partir dos registros de dados, entre 2017 e 2022 no Estado do Tocantins. Para alcançá-lo traçamos, como objetivos específicos: a) investigar mecanismos fisiopatológicos envolvidos na pré-eclampsia e sua relação com a mortalidade materna; b) descrever as complicações do diagnóstico tardio que colocam à vida materna em risco; e c) analisar dados epidemiológicos para identificar grupos de mulheres com maior risco de desenvolver pré-eclampsia. 

Os dados observados evidenciam que eclampsia é destaque com o total de dezesseis óbitos(16), seguida da hipertensão gestacional sem proteinúria. Em um levantamento sobre a faixa etária, detectamos que as mulheres entre 15 a 29 anos são as mais acometidas. A etnia com maior índice é de mulheres pardas e em relação ao estado civil, as solteiras representam 52%. Esses dados corroboram com a justificativa que os cuidados básicos auxiliam no tratamento dos sintomas da pré-eclampsia, por isso, a identificação de fatores de risco é importante para instituir intervenções profiláticas e inserção de protocolos consolidados no manejo das grávidas, reduzindo a mortalidade materna. 

O diagnóstico tardio da pré-eclampsia pode levar a complicações graves que representam um risco significativo para a vida materna. Entre essas complicações estão a evolução para eclampsia; síndrome HELLP; insuficiência renal aguda; edema pulmonar; e hemorragia cerebral. Essas complicações podem representar sérios riscos à vida da mãe se não forem identificadas e tratadas prontamente. 

Diante do exposto, uma vez que o diagnóstico é realizado, a forma terapêutica mais viável consiste na análise individualizada, visando sempre o bem-estar fetal e materno. As recomendações a serem seguidas dependerá do ambiente, recursos, avaliações, condições e demais razões que implicam no manejo.   

Uma assistência do pré-natal ineficiente, caracterizada por uma qualidade inferior, incrementa significativamente o risco de mortalidade relacionada à préeclâmpsia. A ausência de políticas públicas direcionadas para os fatores de risco associados à pré-eclâmpsia e à mortalidade materna resulta em consequências sérias e multifacetadas. Essa falta de acesso a cuidados pré-natais adequados pode levar a uma detecção tardia da pré-eclâmpsia, aumentando o risco de complicações graves durante a gestação.  

As limitações deste estudo são as subnotificação dos casos. Os números indicam quedas quantitativas em determinados anos, entretanto, é importante considerar a viabilidade desses números serem subestimados, pois, a realidade da população brasileira tem demonstrado quantitativos mais elevados de óbitos materno em decorrência da eclampsia.  

REFERÊNCIAS  

American College of Obstetricians and Gynecologists. Gestational hypertension and preeclampsia: ACOG Practice Bulletin, Number 222. Obstet Gynecol 135 (6):e237e260, 2020. 

Barroso, Weimar Kunz Sebba; et al. Diretrizes Brasileira de Hipertensão Arterial. Arq Bras Cardiol. 2021; 116(3):516-658. Disponível em: http://departamentos.cardiol.br/sbc-dha/profissional/pdf/Diretriz-HAS-2020.pdf. Acesso em: 21 abr. 2024. 

Brasil. Atualização do rol de procedimentos e eventos em saúde/ resumo executivo. 2020. Disponível em: https://www.gov.br/ans/pt-br/arquivos/acesso-ainformacao/participacao-da-sociedade/consultas-publicas/ cp81/procedimentos/re_149_razao_do_teste_sflt_1plgf_pre_eclampsia.pdf. Acesso em: 18 fev. 2024.  

Brasil. DataSus – Tabnet. Óbitos de mulheres em idade fértil e óbitos maternos, 2022. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sim/cnv/mat10uf.def. Acesso em: 05 mai. 2024. 

Chang, Kain-Jung; Seow, Kok-Min; Chen, Kuo-Hu. Preeclampsia: Recent Advances in Predicting, Preventing, and Managing the Maternal and Fetal Life-Threatening Condition. International Journal of Environmental Researcg Public Health. 2023 Feb 8;20(4):2994. Doi: 10.3390/ijerph20042994. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC9962022. Acesso em: 18 fev. 2024. 

Danielli, Marianna, et al. Blood biomarkers to predict the onset of pre-eclampsia: A systematic review and meta-analysis. Heliyon. 2022 Nov 4;8(11):e11226. doi: 10.1016/j.heliyon.2022.e11226. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36387521. Acesso em: 15 fev. 2024. 

Dimitriads, Evdokia, et al. Pre-eclampsia. Nature Reviews Disease Primers 9, 8 (2023). https://doi.org/10.1038/s41572-023-00417-6. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41572-023-00417-6. Acesso em: 18 fev. 2024. 

Febrasgo. Pré-eclâmpsia nos seus diversos aspectos. — São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). n. 8, 2017. 

Hofmeyr, G. Justus. et al., Prepregnancy and early pregnancy calcium supplementation among women at high risk of pre-eclampsia: a multicentre, doubleblind, randomised, placebo-controlled trial. Lancet. 2019 Jan 26;393(10169):330-339. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30277579. Acesso em: 15 fev. 2024. 

Galvão, Taís Freire; Pereira, Maurício Gomes. Revisões sistemáticas e outros tipos de síntese: comentários à série metodológica publicada na Epidemiologia e Serviços de Saúde. Epidemiologia e Serviços de Saúde, Brasília, 31(3):e2022422, 2022.  

Menezes, Juliana Pereira de Lucena; et al. Perfil epidemiológico da mortalidade materna por eclâmpsia entre 2009 e 2019 no Brasil. Brazilian Journal of Health Review. Curitiba, v.4, n.6, p. 25137-25149 nov./dec. 2021. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/358229017. Acesso em: 14 abr. 2024. 

Moraes, Sandra Dircinha Teixeira de Araújo. Método científico e pesquisas em saúde: orientação para prática profissional. J Hum Growth Dev. 2019; 29(1): 5-9. http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.157742. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rbcdh/v29n1/pt_01.pdf. Acesso em: 10 mar. 2024. 

Organização Mundial da Saúde. Recomendações da OMS sobre cuidados prénatais para uma experiência positiva na gravidez. 2017. Disponível em: WHORHR-16.12-por.pdf;jsessionid=7DED047EFD06B11857D27BF9A7C9325A. Acesso em: 28 fev.2024.  

Parada-Niño, Laura, Castilho-Léon, Luisa Fernanda; Morel, Adrien.Preeclampsia, Natural History, Genes, and miRNAs Associated with the Syndrome. Hindawi Journal of Pregnancy. Volume 2022, Article ID 3851225, 12p. https://doi.org/10.1155/2022/3851225. Disponível em: https://www.hindawi.com/journals/jp/2022/3851225/?msclkid=f9999f0fb8bb11c27d81f addd43ac5d8&utm_source=bing&utm_. Acesso em: 18 fev. 2024. 

Peraçoli, J.C, et al. Pré-eclampsia – Protocolo 2023. Rede Brasileira de Estudos sobre Hipertensão na Gravidez (RBEHG), 2023. Disponível em: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/biblioteca/pre-eclampsia-protocolo-2023/. Acesso em: 15 fev. 2024. 

Phipps, Elizabeth. A ; et al. Pre-eclampsia: pathogenesis, novel diagnostics and therapies. Nat Rev Nephrol. 2019;15(5):275-289. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6472952/. Acesso em: 04 mai. 2024. 

Poon, Liona.C ; et al. The International Federation of Gynecology and Obstetrics (FIGO) initiative on pre-eclampsia: A pragmatic guide for first-trimester screening and prevention. Int J Gynaecol Obstet. 2019;145 Suppl 1(Suppl 1):1-33. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31111484/. Acesso em: 14 abr. 2024. 

Santos, Isabele de Moura; Santos, Marcos Antônio Almeida. Perfil Epidemiológico da Mortalidade Materna por Síndromes Hipertensivas Gestacionais. Research, Society and Development, v. 12, n.4, e21712441307, 2023. Disponível em: perfil+epidemiológico+da+mortalidade+materna+por+pré+eclampsia&form=. Acesso em: 14 abr. 2024.

Vieira, Anna Beatriz Alencar; et al. Perfil epidemiológico da mortalidade materna por eclampsia no Brasil entre 2011 a 2021. Ciências da Saúde. V. 26, 2023. Disponível em: https://revistaft.com.br/perfil-epidemiologico-da-mortalidade-materna-poreclampsia-no-brasil-entre-2011-a-2021/. Acesso em: 14 abr. 2024.


1Acadêmicos do Curso de Medicina – Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos
2Professora e preceptora do internato do curso de medicina ITPAC -Porto Nacional – Doutoranda em Ciências Biomédica/ Radiologia mamária