ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS DE VIOLÊNCIA SEXUAL EM FORTALEZA – CEARÁ, NO PERÍODO DE 2016 A 2022: VARIÁVEL PESSOA 

EPIDEMIOLOGICAL STUDY OF CASES OF SEXUAL VIOLENCE IN FORTALEZA – CEARÁ, FROM 2016 TO 2022: PERSON VARIABLE 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11194650


Bruna Vital Pereira Moreira1; Aline Soares de Santana Dutra2; Nicole Stephanie Silva Santos3; Natan Joter da Silva4; Francisca Samila Pinto Romão5; Lilian da Silva Almeida6; Yale Janguiê Valgueiro Diniz7; Maria Eduarda Dorneles Ferraz8; Lara Emanuely Resende Coelho9; Vanessa Araújo Viana10


Resumo 

A definição de violência sexual dada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é a seguinte:  qualquer ato sexual, tentativa de ato sexual ou insinuações de natureza sexual não autorizadas;  ações para comercializar ou usar a sexualidade de uma pessoa de qualquer outra forma através  da coerção de outra pessoa; relação entre o indivíduo e a vítima em qualquer ambiente, inclusive  em casa e no trabalho. O estudo teve como objetivo avaliar os casos de violência sexual em  Fortaleza – Ceará, no período de 2016 a 2022 utilizando a variável pessoa. Realizou-se um  estudo epidemiológico do tipo ecológico, de abordagem quantitativa, a partir de dados  preexistentes, gerados do Sistema de Informações de Agravo de Notificação (SINAN) de  Violência Sexual, disponíveis no banco de dados do Departamento de Informática do Sistema  Único de Saúde (DATASUS), plataforma Tabnet. Os dados gerados são originados do  preenchimento das fichas de notificações dos casos de violência sexual ocorridos em Fortaleza  – Ceará. Nos anos de 2016 a 2022 foram notificados em Fortaleza – Ceará um total de 4.368  casos de violência sexual, com prevalência do sexo feminino, que notificou 94,7% de casos, e  o sexo masculino 5,3% do total. Foi possível observar que na cidade de Fortaleza, Ceará, Brasil  as violências sexuais mais relatadas durante o período de 2016 a 2022, acometeram mulheres  com a faixa etária entre 10 e 14 anos de idade que apresentavam a escolaridade de ensino  fundamental incompleto. 

Palavras-chave: Violência sexual. Políticas públicas. Ceará. Fortaleza.

Abstract 

The definition of sexual violence given by the World Health Organization (WHO) is as follows:  any sexual act, attempted sexual act or unauthorized insinuations of a sexual nature; actions to  commercialize or use a person’s sexuality in any other way through the coercion of another  person; relationship between the individual and the victim in any environment, including at  home and at work. The study aimed to evaluate cases of sexual violence in Fortaleza – Ceará,  from 2016 to 2022 using the person variable. An ecological epidemiological study was carried  out, with a quantitative approach, based on pre-existing data, generated from the Sexual  Violence Notifiable Disease Information System (SINAN), available in the database of the  Information Technology Department of the Unified Health System. (DATASUS), Tabnet  platform. The data generated comes from filling out notification forms for cases of sexual  violence that occurred in Fortaleza – Ceará. In the years 2016 to 2022, a total of 4,368 cases of  sexual violence were reported in Fortaleza – Ceará, with a prevalence of females, who reported  94.7% of cases, and males, 5.3% of the total. It was possible to observe that in the city of  Fortaleza, Ceará, Brazil, the most reported sexual violence during the period from 2016 to 2022,  affected women aged between 10 and 14 years old who had incomplete primary education. 

Keywords: Sexual violence. Public policy. Ceará. Strength. 

INTRODUÇÃO 

A violência sexual é definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como:  qualquer ato sexual, tentativa de cometer um ato sexual ou insinuações de natureza sexual não  autorizada; ações para comercializar ou usar de qualquer outra forma a sexualidade de uma  pessoa através da coerção de outra pessoa; relacionamento da pessoa com a vítima, em qualquer  ambiente, inclusive em casa e no local de trabalho (OMS, 2024).  

É crucial destacar que a violência sexual não tem uma causa específica, mas impacta  diversos fatores, incluindo a classe social, o gênero, a idade, o estado civil, a religião e a cultura.  Esta é uma questão de saúde pública, uma vez que é das principais formas de violação dos  direitos humanos que afetam a mortalidade populacional (FONSECA et al., 2018). 

Para combater a violência sexual no Brasil, políticas públicas foram implementadas,  como o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), desenvolvido pelo  Ministério da Saúde em 2004 em parceria com diversos setores da sociedade (BRAZIL, 2011).

Também foi desenvolvido em maio de 2013, O Plano Nacional de Enfrentamento da  Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, com o objetivo de assegurar que os jovens  menores de 18 anos, visto que são mais vulneráveis e possuem uma dificuldade maior em buscar  ajuda quando se trata de violência, frequentemente por não compreender que estão em realidade  sofrendo um abuso (VIEIRA et al., 2015). 

De acordo com a Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (SESA), assim como em  outros estados brasileiros, o Ceará também conta com diversos órgãos, programas e projetos  que apoiam as vítimas acometidas pela violência sexual. O projeto, nomeado Pontos de Luz,  acolhe e oriente mulheres, jovens, crianças e todas as pessoas que sofreram algum tipo de  violência sexual ou tentativa. O projeto conta com equipamentos que atuam em articulação  intersetorial, como: hospitais, policlínicas e delegacias, para auxiliar na proteção e prevenção  de novas situações de agressão (SESA, 2024). 

Além disso, existem outros principais equipamentos que compõem a rede de proteção e  atenção violência sexual, um exemplo seria: a Casa da Mulher Brasileira (CMB), que acolhe a  vítima e encaminha a denúncia aos órgãos competentes; a Defensoria Pública do Estado, é mais  um órgão da rede de proteção, que por meio do Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a  Mulher (NUDEM), presta assistência jurídica e acompanha todas as etapas do processo judicial,  seja ele civil ou criminal (ALECE, 2024). 

Para mais, as vítimas de violência sexual apresentam frequentemente sinais de medo,  insegurança e melancolia ao retornar o incidente violento. É importante destacar que o resultado  desses casos tem um impacto direto na saúde psicológica e física das vítimas acometidas.  Destacando isso, pode-se afirmar que os danos resultantes da violência sexual são muitas vezes  irreparáveis (BRANCO et al., 2020). 

OBJETIVO 

Avaliar os casos de violência sexual em Fortaleza – Ceará, no período de 2016 a 2022  utilizando a variável pessoa.  

METODOLOGIA

Foi realizado estudo epidemiológico do tipo ecológico, de abordagem quantitativa, a  partir de dados preexistentes, gerados do Sistema de Informações de Agravo de Notificação  (SINAN) de Violência Sexual, disponíveis no banco de dados do Departamento de Informática  do Sistema Único de Saúde (DATASUS), plataforma Tabnet. Os dados gerados são originados  do preenchimento das fichas de notificações dos casos de violência sexual ocorridos em  Fortaleza – Ceará. 

Para delimitar o estudo utilizou-se os seguintes critérios: a) total de registros de  notificações de Violência sexual no período de 2016 a 2022 no município de Fortaleza – Ceará;  b) sexo das vítimas; c) faixa etária; d) raça/cor; e) escolaridade. Quanto ao período da ocorrência  da violência, foram selecionadas as variáveis: a) sexo; b) faixa etária; c) escolaridade; d) raça;  e) ano de ocorrência. 

Todos os dados coletados foram primeiramente extraídos da plataforma Tabnet e  inseridos no Software Excel com o intuito de agrupar as informações apuradas, para realização  da análise descritiva. 

Para a pesquisa bibliográfica foram utilizadas bases de dados como; PubMed; Scielo e  Periódicos Capes. Para que houvesse uma busca mais assertiva acerca dos artigos escolhidos  para embasamento deste trabalho, foi preciso usar as palavras chaves; “violência sexual”,  “estupro”, “política pública” e “fortaleza”. Na seleção de filtros para uma busca mais avançada  foram selecionadas as opções “artigos”; “português” e “2016 a 2022”. 

Por se tratar de um estudo no qual são usados apenas dados de domínio público, é  dispensável a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos de acordo com a  resolução n. 510/2016. 

RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Nos anos de 2016 a 2022 foram notificados em Fortaleza – Ceará um total de 4.368  casos de violência sexual, com prevalência do sexo feminino, que notificou 94,7% de casos,  e o sexo masculino 5,3% do total (Gráfico 1).  

Esse estudo se assemelha com o de Viana et al., (2021), no qual afirma que nos anos  de 2011 a 2018, teve um aumento crescente de violência sexual com mulheres, estimando  cerca de 66,9% de notificações no ano de 2018. Esse aumento pode estar associado a  quadros de melhor estruturação organizacional das unidades notificadoras, assim como o  aumento da informatização das vítimas, que passaram a realizar a denúncia. 

Gráfico 1: Percentual de pessoas vítimas de violência sexual na cidade de Fortaleza, CE, Brasil, de 2016 a 2022, de acordo com o sexo. 

Fonte: Autoria própria (2024). 

No Gráfico 2 é possível verificar que a violência sexual atinge em maior proporção,  crianças e adolescentes que possuem entre dez à quatorze anos de idade, compondo,  aproximadamente, 34,1% das notificações que informaram a ocorrência da violência sexual.  Esses indivíduos, são pessoas que estão entrando na fase da adolescência e exigem um maior  cuidado e atenção, pois não são capazes de impedir a agressão, devendo-se considerar a  incapacidade perante a força física do agressor, e do desequilíbrio de poder do menor, em  face de tratar-se de pessoas em desenvolvimento. Nesse contexto, Paixão e Deslandes 2010,  em seu estudo dizem que as crianças e os adolescentes necessitam de rede de cuidados com uma atenção integral e especializada, a fim de combater à violência sexual ou auxiliar as  vítimas após os abusos. 

Em segundo lugar, representando 20,2% do total de casos, estão as pessoas com  idade entre 20 a 29 anos de idade, e em terceiro (12%) pessoas com 15 a 19 anos de idade.  

Gráfico 2: Percentual de pessoas vítimas de violência sexual na cidade de Fortaleza, CE, Brasil, de  2016 a 2022, de acordo com a faixa etária. 

Fonte: Autoria própria (2024). 

Em relação à evolução dos casos (Gráfico 3) de vítimas de violência sexual em  Fortaleza, CE, foi possível observar que o maior percentual de notificação de casos foi no ano  de 2022 (24,1%), sendo notório a evolução dos casos ao decorrer dos anos de forma crescente,  com algumas variações, o que se torna preocupante, tendo em vista que mesmo com a  implantação de programas governamentais, leis, assim como campanhas contra a violência  sexual, ainda não é suficiente para a redução dos casos.  

Gráfico 3: Percentual de pessoas vítimas de violência sexual na cidade de Fortaleza, CE, Brasil, de 2016 a 2022,  de acordo com o ano de notificação.

Fonte: Autoria própria (2024). 

Em relação à escolaridade (Gráfico 4), no período estudado foi possível observar que  25,3% dos indivíduos encontravam-se entre a 4ª e a 8ª série incompleta do ensino fundamental,  o que fortalece a teoria de que crianças e adolescentes são as vítimas mais prevalentes em casos  de violência sexual, geralmente não conseguindo dar continuidade a o ciclo de educação básica.  Essa baixa escolaridade pode estar diretamente interligada a um baixo nível socioeconômico.  

Segundo Hackman, Farah e Meaney (2010), o fato de crescer em um ambiente com  baixo nível socioeconômico pode estar associado a prejuízos no bem-estar psicológico, bem  como no desenvolvimento cognitivo e emocional ao longo da vida. Além disso, os  mesmos autores afirmam que pessoas que cresceram em ambientes com baixo status socioeconômico, tendem a apresentar mais problemas de conduta com comportamentos internalizantes  (como depressão e ansiedade) e externalizantes (como agressividade e impulsividade).

Gráfico 4: Percentual de pessoas vítimas de violência sexual na cidade de Fortaleza, CE, Brasil, de 2016 a 2022,  de acordo com a escolaridade. 

Fonte: Autoria própria (2024). 

O Gráfico 5 mostra que pessoas pardas foram as que apresentaram o maior percentual  de vítimas de violência sexual entre os anos de 2016 a 2022 na cidade de Fortaleza, CE,  representando 69,5%; em segundo as pessoas brancas (15,3%) e em terceiro casos ignorados  ou em branco (7,3%), seguida de preta (6%), amarela (1,5%) e indígena (0,3%). 

Gráfico 5: Percentual de pessoas vítimas de violência sexual na cidade de Fortaleza, CE, Brasil, de 2016 a 2022,  de acordo com a raça. 

Fonte: Autoria própria (2024). 

5. CONCLUSÃO

Por meio desse estudo foi possível observar que na cidade de Fortaleza, Ceará, Brasil  as violências sexuais mais relatadas durante o período de 2016 a 2022, acometeram mulheres  com a faixa etária entre 10 e 14 anos de idade que apresentavam a escolaridade de ensino  fundamental incompleto. Contudo, faz-se necessário políticas de saúde pública para prevenir a  violência, como também se faz necessário divulgar a existência das redes de apoio para as  vítimas da violência.

REFERÊNCIAS 

ARAGÃO, Francisca Bruna Arruda; MARINHO, Rita de Cassia Oliveira; SANTOS,  Frederico Bianchini Joviano dos; SANTOS, Floriacy Stabnow; BRANDÃO, Luzinete Pontes;  AGUIAR, Josuel Alves; LOPES, Gilvado de Jesus Pinheiro; ARAGÃO, Janaina Arruda;  PIMENTEL, Clice Cunha de Sousa; OLIVEIRA, Karla Conceição Costa; SANTOS,  Gerusinete Rodrigues Bastos dos; SANTOS NETO, Marcelino. Perfil de mulheres vítimas de  violência sexual no Brasil: antes e depois da pandemia de COVID -19. Research, Society  and Development, v. 9, n. 10, p. e2289108114, 24 set. 2020.  

ALECE, Assembleia legislativa do estado do Ceará. Prevenção e atendimento à mulher de  violência: apoio e acolhimento. Disponível em: <https://www.al.ce.gov.br/noticias/prevencao-e-atendimento-a-mulher-vitima-de-violencia apoio-e-acolhi nto>. Acesso em 01 março 2024. 

BRANCO, July Grassiely de Oliveira; VIEIRA, Luiza Jane Eyre de Souza; BRILHANTE,  Aline Veras Morais; BATISTA, Maxmiria Holanda. Fragilidades no processo de trabalho na  Atenção à Saúde à Mulher em situação de violência sexual. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25,  n. 5, p. 1877–1886, maio de 2020. 

BRAZIL (Org.). Política nacional de atenção integral à saúde da mulher: princípios e  diretrizes. 1a. ed., 2a. reimp. Brasília, DF: Editora MS, 2011a (Série C–Projetos, programas  e relatórios). 

FONSECA, Juliana Bezerra; LARA, Sonia Regina Godinho; LUPORINI, Juliana;  BARBIERI, Marcia. Assistência à mulher frente à violência sexual e políticas públicas de  saúde: revisão integrativa. Revista Brasileira em Promoção da Saúde, v. 31, n. 1, p. 1–12,  28 fev. 2018. 

SESA, Secretaria da Saude do Estado do Ceará. Pontos de Luz: rede de atenção a mulheres,  jovens e crianças em situação de violência é ampliada. Disponível em: https://www.saude.ce.gov.br/2021/03/01/pontos-de-luz-rede-de-atencao-a-mulheres-jovens-e criancas-em-situacao-de-violencia-e-ampliada/. Acesso em 05 março 2024. 

OMS, Organização Mundial da Saúde. OMS aborda consequências da violência sexual para  saúde das mulheres. Disponível em: https://brasil.un.org/pt-br/80616-oms-aborda consequ%C3%AAncias-da-viol%C3%AAncia-sexual-para-sa%C3%BAde-das-mulheres.  Acesso em 05 março 2024. 

VIEIRA, Luiza Jane Eyre de Souza; DA SILVA, Raimunda Magalhães; CAVALCANTI,  Ludmila Cavalcanti; DESLANDES, Suely Ferreira. Capacitação para o enfrentamento da  violência sexual contra crianças e adolescentes em quatro capitais brasileiras. Ciência &  Saúde Coletiva, 20(11):3407-3416, 2015.


1Graduanda em Medicina – CEUMA UNIVERSIDADE. Orcid: https://orcid.org/0009-0001-2074-9444. Email: brunavital@icloud.com 
2Bióloga – UFRPE. Orcid: https://orcid.org/0009-0007-4996-7000. Email: alinesantanabiologa@gmail.com 
3Graduanda em Enfermagem – Universidade Tiradentes – UNIT. Email: nicolester123@gmail.com 
4Graduação em Gestão em Segurança Pública – Estácio de Sá. Email: natanjoter1994@gmail.com 
5Enfermeira – Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Email: samilaromao@gmail.com 
6Pós-graduada em Enfermagem na Saúde da Família – UNESA Orcid: https://orcid.org/0009-0003-7165-4845 
7Graduanda em Medicina – UNINASSAU. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-9914-7907. Email: yalejanguie@gmail.com
8Graduanda em Medicina – Funorte – ICS. Orcid: https://orcid.org/0009-0009-6833-7332. Email: dudadornelesferraz@gmail.com 
9Graduando em Medicina – Universidade Estadual de Montes Claros. Email: laraemanuelyresende@gmail.com. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-2195-5423 
10Enfermagem com especialização em Enfermagem Obstétrica – Rede Cegonha. Faculdade Integral Diferencial – FACID. Email: vanessaviana_1987@hotmail.com