PANORAMA DO INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO NO RIO GRANDE DO NORTE: MORBIMORTALIDADE E CUSTOS HOSPITALARES (2010 A 2023)

OVERVIEW OF ACUTE MYOCARDIAL INFARCTION IN RIO GRANDE DO NORTE: MORBIDITY AND MORTALITY AND HOSPITAL COSTS (2010 TO 2023)

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11188521


Silva, Jorge José Aguiar1; Aguiar, Paula Andréa Gurgel Amorim2; Morais, Rafael Otávio Bezerra de3; Freire, Amanda Santos Alves4; Amorim, Erico Gurgel5; Neta, Olivia Morais De Medeiros6


RESUMO

Introdução: O Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) representa uma das principais causas de mortalidade no Brasil, exigindo uma compreensão aprofundada de seus aspectos epidemiológicos e econômicos. Visando analisar a carga de morbimortalidade e os custos associados ao IAM no estado do Rio Grande do Norte (RN) no período de 2010 a 2023. Objetivos: Descrever a carga de morbimortalidade e custos associados ao IAM no RN durante o período mencionado. Os objetivos específicos incluem levantar dados estatísticos, traçar o perfil das vítimas de IAM analisar as ocorrências de custos e permanência hospitalar, entre outros. Justificativa: A pesquisa sobre o IAM no RN é essencial para subsidiar políticas de saúde, prevenção e tratamento eficaz da doença. Os resultados podem contribuir significativamente para a melhoria da saúde pública, reduzindo a morbimortalidade e os custos associados a doença. Metodologia: Utilizou-se uma abordagem epidemiológica, ecológica e retrospectiva, com análise de dados secundários das hospitalizações registradas no Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do DATASUS. Resultados e Discussão: Durante o período de 2010 a 2023, o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) emergiu como a décima principal causa de internações no Rio Grande do Norte, totalizando 25.512 casos. O número de internações cresceu de maneira significativa ao longo desses anos, passando de 807 em 2010 para 2.969 em 2023, representando um aumento alarmante de 267%. Homens foram mais frequentemente afetados (62%), especialmente na faixa etária de 60 a 69 anos. Apesar do aumento nas internações, foi observada uma redução notável na taxa de letalidade por IAM diminuindo de 13,51% em 2010 para 6,79% em 2023. O tempo médio de internação foi de 8,7 dias. Os custos totais das internações atingiram R$ 95.893.010,61. Conclusão: Conclui-se que o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) representa um desafio significativo para a saúde pública no estado do Rio Grande do Norte, evidenciado pelo aumento alarmante nas taxas de internações ao longo dos anos estudados. Embora tenha sido observada uma redução na taxa de mortalidade por IAM, os custos associados às internações permanecem elevados. Portanto, medidas preventivas, diagnóstico precoce e tratamento eficaz são cruciais para mitigar o impacto do IAM e para informar políticas de saúde mais eficazes, visando a redução da morbimortalidade e o uso mais eficiente dos recursos.

Palavras-chave: Fatores de Risco Cardiovascular, Diagnóstico Precoce, Carga de doença, Fatores de Risco Cardiovascular, Epidemiologia.

ABSTRACT

Introduction: Acute Myocardial Infarction (AMI) represents one of the leading causes of mortality in Brazil, demanding a profound understanding of its epidemiological and economic aspects. Aimed at analyzing the burden of morbidity and mortality and the costs associated with AMI in the state of Rio Grande do Norte (RN) from 2010 to 2023. Objectives: To describe the burden of morbidity and mortality and costs associated with AMI in RN during the mentioned period. Specific objectives include gathering statistical data, delineating the profile of AMI victims, analyzing cost occurrences, and hospital stay, among others. Justification: Research on AMI in RN is essential to support health policies, prevention, and effective disease treatment. The results can significantly contribute to improving public health, reducing morbidity, mortality, and associated costs. Methodology: An epidemiological, ecological, and retrospective approach was used, with analysis of secondary data from hospitalizations recorded in the Hospital Information System (SIH) of DATASUS. Results and Discussion: During the period from 2010 to 2023, Acute Myocardial Infarction (AMI) emerged as the tenth leading cause of hospitalizations in Rio Grande do Norte, totaling 25,512 cases. The number of hospitalizations significantly increased over these years, rising from 807 in 2010 to 2,969 in 2023, representing an alarming increase of 267%. Men were more frequently affected (62%), especially in the 60 to 69 age group. Despite the increase in hospitalizations, a notable reduction in the AMI mortality rate was observed, decreasing from 13.51% in 2010 to 6.79% in 2023. The average length of hospital stay was 8.7 days. Total hospitalization costs reached R$ 95,893,010.61. Conclusion: It is concluded that Acute Myocardial Infarction (AMI) represents a significant challenge for public health in the state of Rio Grande do Norte, evidenced by the alarming increase in hospitalization rates over the years studied. Although a reduction in the AMI mortality rate was observed, the costs associated with hospitalizations remain high. Therefore, preventive measures, early diagnosis, and effective treatment are crucial to mitigate the impact of AMI and to inform more effective health policies, aiming to reduce morbidity, mortality, and the more efficient use of resources.

Keywords: Cardiovascular Risk Factors, Early Diagnosis, Disease Burden, Cardiovascular Risk Factors, Epidemiology.

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, as doenças cardiovasculares (DCV) destacam-se como a principal causa de mortalidade no Brasil, ocupando o terceiro lugar entre os motivos de internação no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) (OPAS, 2019). Esse espetro nosológico engloba uma variedade de condições patológicas associadas ao funcionamento do coração e do sistema vascular. Dentre essas condições, destaca-se a síndrome coronariana aguda (SCA), caracterizada por um conjunto de manifestações clínicas relacionadas à obstrução das artérias coronárias, responsáveis pela perfusão sanguínea do miocárdio, constituindo assim um estágio precursor do Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) (Carvalho et al., 2022).

O Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), por sua vez, é uma condição caracterizada por uma interrupção abrupta do fluxo sanguíneo para o miocárdio, levando à morte das células cardíacas devido à isquemia. Conforme Oliveira et al. (2019), o infarto agudo ocorre devido à obstrução completa ou parcial da artéria coronária responsável por irrigar o miocárdio. O sintoma mais comum entre os pacientes com IAM é a dor torácica, que pode persistir por mais de 20 minutos e ser desencadeada por exercício físico ou estresse emocional. Essa condição é diagnosticada comumente por meio de exames como Eletrocardiograma (ECG), marcadores químicos de necrose tecidual e exames de imagem (Santos et al., 2023; Nicolau et al., 2021).

De acordo com Rosado et al. (2020), além da dor torácica, os pacientes com IAM podem apresentar outros sinais, como dispneia, náuseas, vômitos e sudorese fria e pegajosa. Durante a fase aguda do infarto, pode ocorrer o desenvolvimento de insuficiência cardíaca, o que representa um prognóstico desfavorável a curto e longo prazo, como destacado por Luz e Mallon (2020).

O IAM é considerado como a manifestação inicial das Doenças Isquêmicas do Coração (DIC) em aproximadamente 40% dos casos, com uma taxa de mortalidade variando entre 10 a 20% das ocorrências (Ferreira et al., 2013). Portanto, à luz desses indicadores epidemiológicos, a Doença Arterial Coronariana (DAC) emerge como um desafio significativo para a saúde pública.

Os fatores de risco específicos associados ao Infarto Agudo do Miocárdio incluem tabagismo, hipertensão arterial, diabetes mellitus, obesidade e hipercolesterolemia (Bussons; Espírito Santo; Gonçalves, 2022). Esses fatores, quando presentes, aumentam significativamente a probabilidade de desenvolvimento do IAM destacando a importância da prevenção e do manejo eficaz dessas condições para reduzir o risco cardiovascular.

Apesar dos esforços para identificar fatores de risco e promover medidas preventivas, a incidência da DAC permanece alta  (Neumann et al., 2020; Timmis et al., 2023). Isso sugere que, apesar dos progressos em andamento na cardiologia, persistem incertezas quanto às estratégias preventivas da patologia coronária, assim como possíveis lacunas nos estudos que definem os fatores de risco em diversas populações.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, estima-se que anualmente no Brasil ocorram entre 300.000 e 400.000 casos de IAM resultando em uma taxa de letalidade de aproximadamente um óbito para cada 5 a 7 casos (Santos et al., 2023). Essas estatísticas evidenciam o Infarto Agudo do Miocárdio como um desafio significativo para o Sistema de Saúde Brasileiro, levando a um impacto econômico considerável para o Sistema Único de Saúde (SUS).

Da mesma forma, o alto custo associado ao tratamento das Doenças Arteriais Coronarianas (DAC) é substancial, impactando significativamente o orçamento dos órgãos responsáveis pelo financiamento da saúde. O custo médio de uma hospitalização por IAM é de US$11,664, com uma variação de US$547 em Hungria a US$30,021 para pacientes diabéticos nos EUA. Além disso, o custo de seguimento durante um período de um ano após o evento é de US$32,379, com uma média de US$27,430 (Nicholson et al. 2016).

Apesar dos progressos no diagnóstico e na terapia conforme as recomendações internacionais, a disponibilidade de assistência médica pode ser restrita em regiões desprovidas de recursos adequados para cuidados de saúde. Diante desse senário, a investigação dos dados epidemiológicos relacionados ao IAM no estado do Rio Grande do Norte possibilita o desenvolvimento de estratégias preventivas e terapêuticas direcionadas, adaptadas às necessidades específicas da população local.

Ao identificar potenciais lacunas nas práticas clínicas e oportunidades de melhoria na assistência médica, este estudo contribui para aprimorar os cuidados com pacientes cardíacos e reduzir o impacto da DAC na saúde pública e na economia estadual. Assim, este trabalho visa não só preencher lacunas no conhecimento científico, mas também fornecer subsídios tangíveis para políticas de saúde mais eficazes e intervenções direcionadas no Rio Grande do Norte.

Além disso, a análise dos custos associados ao IAM permite identificar áreas de intervenção que possam otimizar o uso de recursos financeiros e melhorar o acesso a serviços de saúde de qualidade. Desta forma, tal análise é essencial para avaliar o impacto econômico da doença no estado e para informar políticas de saúde voltadas para a alocação eficiente de recursos.

Diante desse contexto, o objetivo do estudo é descrever a carga de morbimortalidade e custos associados ao IAM no estado do Rio Grande do Norte (RN) no período entre 2010 e 2023 com a finalidade de levantar parâmetros e indicadores para subsidiar as políticas de saúde no RN.

Desta maneira, ao realizar uma análise minuciosa dos dados epidemiológicos e dos efeitos econômicos relacionados ao Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) no estado do Rio Grande do Norte, esta pesquisa pretende oferecer uma visão mais abrangente dessa questão de saúde pública. Além disso, busca fornecer informações valiosas que podem subsidiar a elaboração de políticas e estratégias específicas voltadas para a prevenção e o controle do IAM, bem como de suas consequências.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Delineamento da Pesquisa

Este estudo adota uma abordagem metodológica fundamentada na pesquisa quantitativa, baseada na análise de dados secundários provenientes do Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do DataSUS. O escopo da investigação concentra-se na análise da morbimortalidade e nos custos associados ao Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) no estado do Rio Grande do Norte (RN), abrangendo o período de 2010 a 2023.

Logo, a pesquisa adota uma abordagem epidemiológica, ecológica, de séries temporais, retrospectiva e descritiva para explorar a carga de morbimortalidade hospitalar relacionada ao IAM. Esta metodologia permite uma análise ampla e detalhada dos padrões e tendências ao longo do período de estudo (Rouquayrol; Gurgel, 2018).

2.3 Fontes de dados utilizados e tratamento dos dados

Os dados foram coletados no primeiro trimestre de 2024, a partir do site do DATASUS, disponível em: https://datasus.saude.gov.br/informacoes-de-saude-tabnet/, considerando registros de internações hospitalares por IAM (CID-10: I21-I22) no estado do RN. Deste modo, o período de análise abrangeu todas as internações por IAM ocorridas entre 2010 e 2023, garantindo uma visão abrangente do fenômeno em estudo.

O DataSUS desempenha um papel fundamental como fonte confiável de dados secundários para a saúde pública no Brasil. Essa plataforma abrangente e atualizada oferece uma ampla gama de informações essenciais para a análise epidemiológica e o monitoramento da saúde da população. Além de permitir a investigação da morbimortalidade, o DataSUS facilita a avaliação dos custos hospitalares, o que é fundamental para a gestão eficaz dos recursos e para a tomada de decisões baseadas em evidências (Ministério da saúde, 2020).

2.3 Estatística empregada

As variáveis de interesse incluíram sexo, faixa etária, cor/raça, local de residência, tempo de internação, custos hospitalares e desfechos clínicos. Esses dados foram estratificados e analisados para identificar padrões e correlações significativas, visando uma compreensão abrangente do impacto do infarto agudo do miocárdio (IAM). A extração dos dados foi realizada em tabelas do Excel 2023, possibilitando a criação de gráficos para uma visualização mais clara e interpretativa.

A análise dos dados foi realizada inicialmente a partir da frequência de internações hospitalares por infarto agudo do miocárdio para as variáveis consideradas. Foram calculados os índices de internação hospitalar por IAM (IIH-IAM) e de mortalidade por IAM (IM-IAM), ambos por 10.000 habitantes, assim como o índice de letalidade intra-hospitalar por IAM (ILIH-IAM).

O presente estudo adere estritamente aos princípios éticos da pesquisa, utilizando apenas dados secundários anonimizados para garantir a confidencialidade dos pacientes. A utilização exclusiva de informações anonimizadas também resguarda a privacidade dos indivíduos envolvidos.

3 RESULTADOS

Entre os anos de 2010 e 2013, o estado do Rio Grande do Norte registrou um total 25.512 hospitalizações devido ao Infarto Agudo do Miocárdio (IAM). No entanto, foi em 2023 que essa condição atingiu seu pico, com um registro alarmante de 2.969 casos, destacando uma tendência preocupante de aumento da incidência ao longo dos anos. Deste modo, o IAM configura-se como a 10ª causa mais comum de internação hospitalar no estado do RN entre 2010 e 2023. Ao longo desse período, as internações hospitalares por IAM passaram de 807 em 2010 (menor valor registrado), para 2969 em 2023 (maior valor observado durante o período analisado). Esse aumento representa uma impressionante elevação de 267% ao longo desses anos, com uma média de internações de 1.822, com um desvio-padrão de aproximadamente 637 (DP +- 637) (Figura 1). 

Figura 1. Número total de internações hospitalares por Infarto Agudo no Miocárdio no Sistema único de Saúde no Rio Grande do Norte, no período de 2010 a 2023.

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), 2024.

Ao considerar a evolução demográfica do Rio Grande do Norte ao longo do período em estudo, observamos um aumento notável na população, passando de 3.168.027 habitantes em 2010 para 3.302.729 habitantes em 2022, conforme dados do IBGE (2022). Esse crescimento populacional representa um incremento de 4,25% em relação à população inicial, com uma média de 3.235.378 habitantes durante todo o período analisado. Paralelamente a esse crescimento populacional, o índice de internação por Infarto Agudo do Miocárdio (IIH-IAM) também apresentou um aumento expressivo, passando de 2,55 por 104 em 2010 para 8,99 por 104 em 2023, representando um crescimento de 252,9%.

Além disso, o índice de internação acumulada por IAM nesse período no RN foi de 78,85 por 104, posicionando o estado em oitavo lugar entre as unidades federativas do Brasil nesse indicador. Esse índice supera a média nordestina de 57,75 por 104, destacando o Rio Grande do Norte como líder em termos de internações por IAM (Tabela 01).

Tabela 1. Índice de internação hospitalar acumulado por IAM nos estados Brasileiros e regiões entre 2010 e 2023.

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), 2024.

Das internações por Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) registradas, observou-se uma predominância entre pacientes do sexo masculino, totalizando 15.840 casos (62%), enquanto 9.672 casos (38%) foram atribuídos a pacientes do sexo feminino (Figura 2). O índice de internação hospitalar proporcional por gênero de IAM em 2010 foi de 3,07 por 104 e aumentou para 11,63 por 104 em 2023 para o sexo masculino, representando um aumento de 279,36%, com uma média de 7,35 por 104. No caso do sexo feminino, o indicador aumentou de 2,05 por 104 em 2010 para 6,51 por 104 em 2023, um incremento de 217,41%, com uma média de 4,27 por 104. A razão entre os índices de internação hospitalar proporcional entre os sexos masculino e feminino resulta em 1,72, indicando que os homens apresentam 72% mais probabilidade de internação por IAM entre 2010 e 2023 em comparação com as mulheres no estado do RN.

Figura 2. Número de internações hospitalares por IAM no Rio Grande do Norte, de acordo com sexo, entre 2010 a 2023.

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), 2024.

Para o sexo masculino, observou-se uma predominância nas faixas etárias de 60 a 69 anos, representando 4361 casos (27,53%), seguida pelas faixas de 50 a 59 anos, com 4102 casos (25,89%), 70 a 79 anos, com 3258 casos (20,57%), e 40 a 49 anos, com 1866 casos (11,78%) (Figura 3). Essa distribuição etária reflete a tendência de maior incidência de IAM em homens entre a faixa etária de 60 a 79 anos, o que está em linha com a literatura científica, que destaca o envelhecimento como um fator de risco significativo para o IAM (Troncoso et al., 2018).

Figura 3. Número de internações hospitalares por IAM no Rio Grande do Norte, para o sexo masculino, de acordo com a faixa etária, entre os anos de 2010 a 2023.

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), 2024.

No sexo feminino, as faixas etárias predominantes foram de 60 a 69 anos, com 2619 casos (27,08%), 70 a 79 anos, com 2510 casos (25,95%), 50 a 59 anos, com 1918 casos (19,83%), e 80 anos ou mais, com 1574 casos (16,27%) (Figura 4). Esses dados reforçam a importância da idade como um fator de risco para o IAM, independentemente do sexo, e destacam a necessidade de estratégias de prevenção e cuidados específicas para diferentes grupos etários. Ao longo do período analisado, para o sexo masculino, as faixas etárias com os maiores incrementos foram as de 70 a 79 anos, com um aumento de 414 casos (4737%), 60 a 69 anos, com um aumento de 351 casos (3%), e 50 a 59 anos, com um aumento de 292 casos. Já para o sexo feminino, as faixas etárias que mais aumentaram foram as de 20 a 29 anos, com um aumento de 800%, 30 a 39 anos, com um aumento de 316,7%, e 60 a 69 anos, com um aumento de 287,0%.

Figura 4. Número de internações hospitalares por IAM no Rio Grande do Norte, para o sexo feminino, de acordo com a faixa etária, entre os anos de 2010 a 2023.

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), 2024.

Quanto à cor/raça, os dados revelaram uma distribuição desigual nas hospitalizações por IAM. A cor sem identificação destacou-se como a mais frequente, com 11.892 casos (46,61%), seguida pela cor parda, com 10.539 casos (41,31%), cor branca, com 2.372 casos (9,30%), e cor amarela, com 491 casos (1,92%) (Figura 5). Essa disparidade reflete a complexidade das questões socioeconômicas e de saúde que afetam diferentes grupos raciais no Brasil, com impacto direto nas taxas de internação hospitalar por IAM.

Considerando os dados populacionais do estado do RN conforme o censo do IBGE de 2022 (Brasil, 2022), o índice de internação hospitalar por cor/raça durante o período foi de 937,56 por 104 para a cor amarela, 62,70 por 104 para a cor parda, 18,19 por 104 para a cor branca, 7,17 por 104 para a cor preta, e 1,07 por 104 para indígena. Esses números destacam as disparidades no acesso aos serviços de saúde e nas condições socioeconômicas entre os diferentes grupos raciais, refletindo-se nas taxas de internação por IAM.

No que tange ao percentual de aumento no período, a cor amarela apresentou o maior crescimento (6200%), seguida pela preta (3393,22%), branca (2404%), e indígena (1400%). Por outro lado, o número de registros sem informação teve uma redução significativa de 75,9%, passando de 719 em 2010 para 173 em 2023. Por outro lado, o número de registros sem informação teve uma redução significativa de 75,9%, passando de 719 em 2010 para 173 em 2023. Essas mudanças indicam uma possível melhoria na qualidade dos registros de cor/raça ao longo do período analisado.

Figura 5. Número de internações hospitalares por IAM no Rio Grande do Norte, de acordo com a cor/raça, entre os anos de 2010 a 2023.

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), 2024.

Na análise da distribuição das internações por IAM por região de saúde, a 7ª região – metropolitana se destaca como a líder, registrando um total de 11.586 casos (45,41%), seguida pela 2ª região – Mossoró, com 9.113 casos (35,72%), a 4ª região – Caicó, com 2.382 casos (9,34%), e a 6ª região – Pau dos Ferros, com 1.160 casos (4,55%) (Figura 6). Em relação ao crescimento percentual de internações, observa-se um aumento expressivo na 1ª região, São José do Mipibu, com um aumento de 17.400%, seguida pela 5ª região – Santa Cruz, com um aumento de 10.000%, e pela 2ª região – Mossoró, com um aumento de 486,96%. Essa tendência é corroborada pela procedência dos usuários, onde a região metropolitana (7ª) continua sendo a mais frequente, com 6.940 casos (27,20%), seguida pela 2ª região – Mossoró, com 5.734 casos (22,47%), a 4ª região – Caicó, com 3.057 casos (11,98%), e a 6ª região – Pau dos Ferros, com 2.699 casos (10,58%). Esses dados destacam a importância de estratégias de saúde pública específicas para cada região, visando reduzir as disparidades na incidência de IAM.

Figura 6. Número de internações hospitalares no Rio grande do Norte, de acordo com as regiões de saúde, entre os anos de 2010 a 2023.

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), 2024.

Quanto ao caráter de atendimento, observou-se que 4.478 internações (17,55%) foram classificadas como eletivas, enquanto 21.029 (82,43%) foram identificadas como urgentes. Esse dado ressalta a urgência e a gravidade do quadro clínico associado ao IAM, demandando intervenção médica imediata para minimizar os riscos de complicações e óbito. Quanto ao regime de internação, verificou-se que 4.954 internações (19,42%) ocorreram no sistema público de saúde, 2.116 (8,29%) no setor privado, e uma parcela significativa de 18.437 casos (72,27%) não teve o regime de internação identificado. Quanto ao tempo médio de permanência hospitalar, constatou-se que foi de 8,7 dias (desvio-padrão ±0,99), com uma pequena variação entre homens e mulheres, sendo de 8,6 dias para homens (desvio-padrão ±1,00) e 8,8 dias para mulheres (desvio-padrão ±1,01).

Durante o período analisado, foram registrados 2.651 óbitos, com uma média anual de 189,36 (DP +- 37,87). Esses números revelam uma tendência preocupante de aumento na mortalidade por IAM ao longo dos anos, passando de 109 óbitos em 2010 para 202 em 2023, o que representa um aumento significativo de 85,32%. Dentre esses óbitos, 1.356 ocorreram em homens, com uma média anual de 96,86 (DP ± 18,62), apresentando um aumento notável de 56 em 2010 para 111 em 2023, representando um incremento de 98,2%. Já entre as mulheres, foram registrados 1.295 óbitos, com uma média anual de 92,5 (DP ± 21,69), aumentando de 53 em 2010 para 91 em 2023, o que representa um aumento de 71,7% (Figura 7).

Figura 7. Número de óbitos hospitalares por IAM no Rio Grande do Norte, por sexo, entre os anos de 2010 e 2023.

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), 2024.

Durante o período de 2010 a 2023, a taxa de mortalidade hospitalar por IAM no estado do RN foi de 8,20 por 104 habitantes, apresentando uma variação significativa ao longo dos anos. Em 2010, essa taxa foi de 0,34 por 104 habitantes, aumentando para 0,61 por 104 habitantes em 2023, o que representa um aumento expressivo de 80,30%. Analisando especificamente o sexo masculino, a taxa de mortalidade foi de 8,61 por 104 habitantes, começando em 0,35 por 104 habitantes em 2010 e atingindo 0,70 por 104 habitantes em 2023, refletindo um aumento de 97,28% ao longo do período. Já entre as mulheres, a taxa de mortalidade foi de 7,81 por 104 habitantes, com um aumento menos acentuado, começando em 0,33 por 104 habitantes em 2010 e alcançando 0,53 por 104 habitantes em 2023, representando um aumento de 63,15%.

Por seu turno, a taxa média de letalidade intra-hospitalar por Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) apresentou uma redução significativa ao longo do período analisado. De acordo com os dados, houve um decréscimo de 50,26%, passando de 13,51% em 2010 para 6,79% em 2023. Essa diminuição na letalidade reflete os avanços nos cuidados médicos, protocolos de tratamento e intervenções para pacientes com IAM ao longo dos anos, resultando em uma melhoria nos desfechos clínicos e na sobrevida dos pacientes. Essa tendência de queda foi evidente tanto nos homens, com uma redução de 50,55% (de 11,79% em 2010 para 5,96% em 2023), quanto nas mulheres, com uma diminuição de 51,32% (de 15,96% em 2010 para 8,19% em 2023. No entanto, é importante destacar que, apesar da redução observada, as mulheres apresentaram uma taxa de letalidade por IAM 56,13% maior do que os homens ao longo do período analisado (Figura 8).

Figura 8. Taxa de letalidade hospitalar média por IAM no Rio Grande do Norte por sexo, entre os anos de 2010 a 2023.

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), 2024.

A análise por grupo etário revelou padrões distintos de letalidade por Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) em diferentes faixas etárias. Os dados demonstraram que os grupos mais afetados foram os indivíduos com 80 anos ou mais, apresentando uma taxa de letalidade significativamente elevada de 23,45%. Surpreendentemente, os jovens adultos na faixa etária de 15 a 19 anos também foram afetados, registrando uma taxa de letalidade de 20,0%. Além disso, as faixas etárias de 70 a 79 anos e 60 a 69 anos também apresentaram taxas consideráveis, com 14,17% e 8,85%, respectivamente.

No que concerne à distribuição geográfica, observou-se variação nas taxas de letalidade entre as regiões de saúde do Rio Grande do Norte. A 4ª região – Caicó se destacou com a maior taxa de letalidade, alcançando 13,25%, indicando uma possível necessidade de intervenções específicas nessa área para melhorar os desfechos clínicos dos pacientes com IAM. Por outro lado, a 6ª região – Pau dos Ferros registrou a menor taxa de letalidade, com 8,04%, sugerindo que as condições de atendimento ou os fatores de risco podem variar entre as regiões e influenciar os resultados clínicos dos pacientes.

Analisando o cenário estadual e regional, observou-se que o Rio Grande do Norte se posicionou abaixo das médias nacional e regional em termos de letalidade. Com uma taxa de 10,55%, o estado ocupou a 19ª posição entre os estados brasileiros, enquanto na região Nordeste, onde a média foi de 11,82%, o estado figurou na 7ª posição. Nesse contexto regional, o Rio Grande do Norte superou apenas o estado do Piauí, que apresentou uma taxa de letalidade de 8,95% (Tabela 2).

Tabela 2. Taxa de letalidade por IAM nos estados brasileiros e regiões entre 2010 e 2023.

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), 2024.

Durante o período analisado, os custos totais com internações hospitalares no estado atingiram um montante significativo de R$ 95.893.010,61. Dessa quantia, R$ 34.639.239,66 (36,12%) foram destinados a internações eletivas, enquanto R$ 61.253.770,95 (63,88%) foram direcionados para internações de urgência. Além disso, observou-se um aumento significativo no valor médio por internação ao longo do período, passando de R$ 2.765,36 em 2010 para R$ 4.138,78 em 2023, representando um aumento de 49,66% (Figura 9).

Figura 9. Custos médios totais por internação hospitalar por IAM no Rio Grande do Norte entre os anos de 2010 a 2023.

Fonte: Ministério da Saúde – Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), 2024.

Em síntese, os resultados revelam um cenário preocupante em relação às internações por Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) no estado do Rio Grande do Norte entre 2010 e 2023. Observa-se um aumento notável tanto no número absoluto de internações quanto nas taxas de internação, principalmente quando consideradas em relação à população. O crescimento substancial das taxas de internação, aliado a uma expansão significativa dos custos totais, ressalta a urgência de medidas preventivas e de intervenção para mitigar o impacto do IAM na saúde pública do estado. Além disso, a análise detalhada por sexo, faixa etária, raça/etnia e região de saúde fornece subsídios valiosos para orientar políticas de saúde mais direcionadas e eficazes, visando à redução dessas ocorrências e à melhoria da assistência aos pacientes acometidos.

4 DISCUSSÃO

A análise detalhada dos resultados obtidos revela um panorama complexo e multifacetado do Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) no estado do Rio Grande do Norte – RN, ao longo do período de 2010 a 2023. Com um total de 25.512 internações registradas, o IAM desponta como uma das principais causas de hospitalização na região, exigindo uma abordagem abrangente e estratégias efetivas de prevenção e tratamento.

Uma das observações mais marcantes é a disparidade de gênero na incidência de IAM, com uma proporção significativamente maior de casos em homens do que em mulheres. Tal diferença foi corroborada no estudo de Anna et al (2021), que relacionou com a maior prevalência de tabagismo e ex-tabagista no sexo masculino. Além disso, essa diferença pode ser atribuída a uma variedade de fatores, incluindo diferenças nos padrões de comportamento de saúde, predisposição genética, resposta ao tratamento e até subnotificação de casos femininos (Rosa et al., 2016).

Além disso, a análise por grupo etário revelou padrões distintos de incidência, com uma concentração particular de casos nos grupos de maior idade, como também demonstrado por Paiva Neto et al. (2024), com dados brasileiros. Por outro lado, percebeu-se um aumento preocupante nos grupos etários mais jovens. Este último aspecto é particularmente alarmante e sugere a necessidade de intervenções precoces e direcionadas para prevenir a ocorrência prematura de EAM numa população cada vez mais jovem.

Ao estudar os fatores de risco para IAM em adultos jovens, os achados do estudo de Habib et al (2023) destacam o tabagismo como o principal fator de risco, seguido pela história familiar de doença cardíaca isquêmica. Ademais, escolhas de estilo de vida não saudáveis, como sedentarismo e hábitos alimentares inadequados, foram comuns, aumentando o risco de IAM em idade precoce. A predisposição genética, evidenciada pela alta prevalência de história familiar de DIC, e o início precoce da aterosclerose em jovens com fatores de risco, como tabagismo e dislipidemia, também foram destacados. Tais resultados enfatizam a necessidade de intervenções precoces e medidas preventivas para reduzir a incidência de infarto do miocárdio em adultos jovens.

A análise temporal das taxas de internamento revela uma tendência preocupante de aumento ao longo do período estudado. Embora seja tentador atribuir este aumento apenas a melhorias na maior detecção e diagnóstico, é essencial reconhecer que as mudanças nos padrões de vida, a urbanização e a prevalência cada vez maiores de fatores de risco cardiovascular também podem desempenhar um papel significativo.

De acordo com o estudo de Silva et al. (2023), alguns fatores de risco para infarto agudo do miocárdio vêm aumentando no Brasil. O estudo aponta que a prevalência de fatores de risco como hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia, obesidade e tabagismo têm se elevado na população brasileira nas últimas décadas. Esses fatores estão diretamente relacionados ao aumento do risco de eventos coronarianos graves, como o infarto agudo do miocárdio.

A compreensão das disparidades regionais na incidência de IAM evidencia a importância de alocar os recursos de saúde de forma equitativa e estratégica, especialmente em áreas com maior carga de morbidade. Adicionalmente, a análise da natureza dos cuidados e do modo de internamento reforça a necessidade de reforçar os sistemas públicos de saúde, garantindo o acesso universal e equitativo aos serviços de saúde.

O estudo conduzido por Marino et al. (2016) destaca que a alocação estratégica de recursos em áreas rurais do Brasil para o tratamento do infarto agudo do miocárdio resulta em melhorias significativas na qualidade do atendimento, na redução dos atrasos médicos, no aumento das taxas de reperfusão e na melhoria dos desfechos clínicos. Adicionalmente, os achados de Andrade et al. (2013) corroboram essa perspectiva, ao demonstrarem que a alocação estratégica de recursos para a criação de Centros de Cardiologia Intervencionista de Referência em áreas estratégicas pode contribuir para a redução das disparidades nas taxas de mortalidade relacionadas ao infarto agudo do miocárdio, promovendo assim um acesso mais equitativo aos serviços especializados de saúde no contexto brasileiro.

Apesar do aumento observado no número de internações hospitalares por IAM no RN, a redução observada na letalidade reforça a importância dos avanços terapêuticos bem como da investigação e inovação em saúde cardiovascular. Estratégias eficazes de prevenção primária e secundária, incluindo a educação da população, a promoção de estilos de vida saudáveis, o controle dos fatores de risco e o acesso qualificado ao tratamento médico, são essenciais para reduzir a carga de morbilidade e mortalidade associada ao EAM.

A redução na letalidade do infarto agudo do miocárdio no Brasil pode ser atribuída tanto à melhoria da eficácia dos cuidados quanto do financiamento do sistema de saúde público (Cruz et al., 2021), como também com o controle mais eficaz da hipertensão e aos esforços concentrados em prevenção primária (Mansur, 2022). A associação dessa redução com o passar do tempo também sugere significativos avanços na detecção precoce, tratamento médico aprimorado e progressos contínuos na terapia ao longo dos anos (Silva; Souza, 2021). Adicionalmente, o aumento na utilização da intervenção coronária percutânea primária (PCI) em detrimento de métodos não invasivos emerge como um fator relevante na redução das taxas de mortalidade (Minucci; Reis, 2021).

A análise da disparidade na letalidade por infarto do miocárdio entre os gêneros masculino e feminino revelou complexidades substanciais, exigindo uma compreensão abrangente dos determinantes envolvidos. Como evidenciado por Weizman et al. (2022), as mulheres apresentam taxas de letalidade hospitalar mais elevadas atribuídas à subutilização de intervenções cardíacas em comparação com os homens, implicando potenciais lacunas na otimização dos resultados clínicos. No entanto, os resultados de Duarte et al. (2022) destacam uma ampla variedade de fatores contribuintes, como idade avançada, maior carga de fatores de risco cardiovascular, atrasos na admissão hospitalar e suscetibilidade a eventos hemorrágicos.

Finalmente, os custos associados aos internamentos por IAM sublinham a importância do investimento em cuidados de saúde preventivos e da otimização dos recursos existentes. Assim, a abordagem integrada e colaborativa entre os setores público e privado é essencial para garantir a sustentabilidade financeira dos sistemas de saúde e o acesso equitativo aos serviços.

Embora este estudo tenha gerado insights valiosos sobre as complexidades do Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), é crucial reconhecer suas limitações inerentes. Primeiramente, os dados provenientes do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS) podem conter imprecisões de codificação e subnotificação, o que representa uma ameaça à precisão dos resultados. Além disso, a subnotificação de casos de IAM, especialmente entre determinados grupos demográficos ou em regiões geográficas específicas, pode distorcer a verdadeira incidência da doença, introduzindo viés tanto nos registros quanto nas análises.

Embora uma análise demográfica abrangente seja essencial para compreender a natureza multifacetada do IAM, este estudo encontrou limitações nesse domínio. Apesar de examinar as taxas de incidência por sexo, faixas etárias e categorias raciais/étnicas, outras variáveis pertinentes, como o status socioeconômico e fatores de risco, como hipertensão arterial, diabetes, etilismo e tabagismo, não foram devidamente analisados devido à falta de dados no SIH. Também se notou imprecisão nos dados referentes a cor/raça, com elevado registro de estado não identificado. Ademais, não foi possível realizar análise dos custos hospitalares comparando-os entre os setores público e privado por ausência destes dados.

Assim, é crucial direcionar os esforços futuros de pesquisa para mitigar essas lacunas e aprimorar nossa compreensão do IAM. Investigações subsequentes devem priorizar a validação dos dados e esforços para reduzir a subnotificação e os vieses no registro de dados. Além disso, há uma necessidade urgente de estudos mais abrangentes e multifacetados que investiguem os determinantes comportamentais, ambientais, genéticos e socioeconômicos da doença.

Em suma, os resultados deste estudo sublinham a necessidade premente de uma abordagem abrangente e holística para enfrentar o desafio do infarto agudo do miocárdio. Somente através de uma combinação de esforços multidisciplinares, políticas de saúde pública eficazes e investimentos contínuos em pesquisa e inovação, podemos esperar mitigar o impacto do IAM na população do Rio Grande do Norte e além desta.

5 CONCLUSÃO

A análise detalhada dos resultados apresentados neste estudo proporcionou conhecimentos valiosos sobre a carga de morbimortalidade e os custos associados ao Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) no estado do Rio Grande do Norte (RN) entre 2010 e 2023. Ao examinar os dados epidemiológicos e econômicos relacionados ao IAM, várias conclusões significativas emergem, destacando a importância de estratégias preventivas e intervenções direcionadas para enfrentar esse desafio de saúde pública.

Primeiramente, fica evidente que o IAM representa uma questão de saúde pública significativa no RN, com um aumento alarmante nas taxas de internações ao longo dos anos estudados. O número total de internações por IAM registrou um crescimento substancial, passando de 807 em 2010 para 2.969 em 2023, representando um aumento de 367%. Essa tendência ascendente nas internações reflete não apenas uma maior incidência de IAM, mas também possíveis mudanças nos padrões de diagnóstico e acesso aos serviços de saúde na região.

Além disso, a análise por sexo revela disparidades significativas, com os homens sendo mais frequentemente afetados pelo IAM do que as mulheres. A predominância de internações entre homens (62%) sugere a necessidade de estratégias de prevenção e intervenções direcionadas para esse grupo demográfico específico. Da mesma forma, a análise por faixa etária indica que os adultos mais velhos estão em maior risco, destacando a importância crucial de programas de triagem e intervenções preventivas direcionadas a essa população vulnerável.

A análise da letalidade por IAM também revela uma tendência encorajadora de redução ao longo do período estudado. A taxa média de letalidade diminuiu significativamente, caindo de 13,51% em 2010 para 6,79% em 2023. Esse declínio na letalidade sugere melhorias nos cuidados médicos, diagnóstico precoce e intervenções terapêuticas, que podem ter contribuído para uma melhor gestão e desfechos mais favoráveis para os pacientes com IAM.

No entanto, apesar desses avanços positivos, os custos associados às internações por IAM permanecem elevados. Os custos totais das internações atingiram quase 100 milhões de reais durante o período estudado, destacando a necessidade de medidas para otimizar o uso de recursos financeiros e melhorar o acesso a serviços de saúde de qualidade. O aumento do custo médio por internação ao longo dos anos indica desafios adicionais em termos de sustentabilidade financeira e eficiência no uso de recursos.

Diante da complexidade do Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) como um desafio de saúde pública, este estudo ressalta a necessidade de uma abordagem abrangente para prevenção, diagnóstico e tratamento. Medidas preventivas, como a promoção de estilos de vida saudáveis e a identificação precoce de fatores de risco, são cruciais para mitigar a incidência e os impactos do IAM. Além disso, investimentos contínuos em infraestrutura de saúde, capacitação de profissionais e pesquisa são fundamentais para melhorar os desfechos clínicos e econômicos associados ao IAM, não apenas no Rio Grande do Norte, mas em todo o contexto nacional. Assim, a implementação eficaz dessas estratégias é essencial para reduzir a morbimortalidade e promover uma melhor qualidade de vida para os pacientes afetados por essa condição.


LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Número total de internações hospitalares por Infarto Agudo no Miocárdio no Sistema único de Saúde no Rio Grande do Norte, no período de 2010 a 2023
Figura 02 – Número de internações hospitalares por IAM no Rio Grande do Norte, de acordo com sexo, entre 2010 a 2023.
Figura 03 – Número de internações hospitalares por IAM no Rio Grande do Norte, para o sexo masculino, de acordo com a faixa etária, entre os anos de 2010 a 2023.
Figura 04 – Número de internações hospitalares por IAM no Rio Grande do Norte, para o sexo feminino, de acordo com a faixa etária, entre os anos de 2010 a 2023.
Figura 05 – Número de internações hospitalares por IAM no Rio Grande do Norte, de acordo com a cor/raça, entre os anos de 2010 a 2023.
Figura 06 – Número de internações hospitalares no Rio grande do Norte, de acordo com as regiões de saúde, entre os anos de 2010 a 2023.
Figura 07 – Número de óbitos hospitalares por IAM no Rio Grande do Norte, por sexo, entre os anos de 2010 e 2023.
Figura 08 – Taxa de letalidade hospitalar média por IAM no Rio Grande do Norte por sexo, entre os anos de 2010 a 2023.
Figura 09 – Custos médios totais por internação hospitalar por IAM no Rio Grande do Norte entre os anos de 2010 a 2023.

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Índice de internação hospitalar acumulado por IAM nos estados Brasileiros e regiões entre 2010 e 2023.

Tabela 02 – Taxa de letalidade por IAM nos estados brasileiros e regiões entre 2010 e 2023.

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

DAC – Doença arterial coronariana
DCV – Doença cardiovascular
DIC – Doença isquêmica do coração
ECG – Eletrocardiograma
IAM – Infarto agudo do miocárdio
IIH – índice de internação hospitalar
SCA – Síndrome coronariana aguda
SUS – Sistema único de Saúde
RN – Rio Grande do Norte

REFERÊNCIAS

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1Graduando em Medicina pela Afya Faculdade de Ciências Médicas de Itabuna.
2Graduando em Medicina pela Afya Faculdade de Ciências Médicas de Itabuna.
3Especialista em Cardiologia e Clínica Médica. Professor orientador. Docente do Curso de medicina da Afya Faculdade de Ciências Médicas de Itabuna.
4Mestre em Letras. Professora orientadora. Docente do Curso de medicina da Afya Faculdade de Ciências Médicas de Itabuna.
5Doutor em saúde coletiva. Coordenador e Professor da Escola Multicampi de ciências médicas do Rio Grande do Norte (EMCM/UFRN).
6Doutora em Educação. Professora do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e atua como professora-orientadora no Programa de Pós-Graduação em Educação (UFRN).