MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA EM ADULTOS COM DISCOPATIA LOMBAR: REVISÃO INTEGRATIVA PARA O TRATAMENTO MULTIMODAL DA DOR LOMBAR CRÔNICA

IMPROVEMENT IN QUALITY OF LIFE IN ADULTS WITH LUMBAR DISCOPATHY: INTEGRATIVE REVIEW FOR MULTIMODAL TREATMENT OF CHRONIC LOW BACK PAIN

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11186253


Ecliê Santos Ferreira Filho;
Jorge Maurilio Ferreira de Oliveira Neto;
Melicio Henrique de Almeida Machado;
Raul Bomfim Neto;
Arthur Mendonça de Novaes;
Denison Santos Silva


Resumo 

Introdução: A degeneração do disco intervertebral tem como sintoma predominante a dor em uma seção específica da coluna, ocorrendo em 70-90% de algumas populações com mais de 40 anos de idade. É uma das razões mais comuns de assistência médica. Tais questões reduzem a qualidade de vida em adultos, evidenciando a necessidade de uma abordagem multimodal para um melhor desfecho. Objetivo: Avaliar os tratamentos multimodais e seus respectivos impactos na qualidade de vida de adultos com dor lombar crônica decorrente de discopatia lombar. Métodos: Trata-se de uma revisão integrativa realizada através das bases PMC, BVS, LILACS e SciELO, através dos descritores associados ao operador booleano “AND”, de forma que fosse ampliado os resultados. Resultados: Foram identificados 550 artigos. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, restaram 18 artigos escolhidos. Constatou-se que a dor lombar crônica decorrente da degeneração do disco intervertebral é um problema que pode resultar em significativas perdas na qualidade de vida e grau de incapacidade. Os estudos selecionados demonstraram que o tratamento conservador é a primeira linha e mais importante. As terapias regenerativas são intervenções minimamente invasivas que provavelmente terão vantagens sobre as abordagens cirúrgicas atuais mais invasivas. O tratamento cirúrgico pode ser útil em alguns casos. Conclusão: Conclui-se que a dor lombar crônica pode reduzir de forma importante a qualidade de vida em adultos. O tratamento multimodal combina intervenções conservadoras, terapias regenerativas e abordagens cirúrgicas, que podem melhorar a qualidade de vida dos adultos portadores desta condição.

Palavras-chave: Discopatia Lombar; Dor Lombar Crônica; Tratamento Multimodal; Qualidade de vida.

Abstract

Introduction: Intervertebral disc degeneration has as its predominant symptom pain in a specific section of the spine, occurring in 70-90% of some populations over 40 years of age. It is one of the most common reasons for medical care. Such issues reduce the quality of life in adults, highlighting the need for a multimodal approach for a better outcome. Objective: To evaluate multimodal treatments and their respective impacts on the quality of life of adults with chronic low back pain resulting from lumbar disc disease. Methods: This is an integrative review carried out using the PMC, BVS, LILACS and SciELO databases, using the descriptors associated with the Boolean operator “AND”, in order to expand the results. Results: 550 articles were identified. After applying the inclusion and exclusion criteria, 18 articles remained chosen. It was found that chronic low back pain resulting from intervertebral disc degeneration is a problem that can result in significant losses in quality of life and degree of disability. The selected studies demonstrated that conservative treatment is the first and most important line. Regenerative therapies are minimally invasive interventions that are likely to have advantages over current more invasive surgical approaches. Surgical treatment may be useful in some cases. Conclusion: It is concluded that chronic low back pain can significantly reduce the quality of life in adults. Multimodal treatment combines conservative interventions, regenerative therapies and surgical approaches, which can improve the quality of life of adults with this condition. 

Keywords: Lumbar Discopathy. Chronic Low Back Pain. Multimodal Treatment. Quality of life.

1 INTRODUÇÃO 

A dor discogênica é multifatorial. Nesse sentido, sua origem envolve alterações degenerativas do disco intervertebral (DIV), que abrange defeitos estruturais resultando em instabilidade biomecânica e inflamação. Tais alterações nos DIV acabam se relacionando estreitamente com os sistemas nervosos periférico e central, causando sensibilização. Diante disso, tal sensibilização, eventualmente, resulta na condição de dor crônica. (Fujii et al., 2019).

A lombalgia é um problema de grande relevância no âmbito global. Sua prevalência relatada é de 31%, sendo que a prevalência ao longo da vida relatada varia entre 60% a 80%. É uma condição multifatorial que inclui fatores fisiológicos, cerebrais e psicológicos, em que a degeneração do DIV é uma causa importante de dor nos pacientes com lombalgia. É importante ressaltar que dor nas costas discogênica e dor nas costas axial são termos usados para descrever a dor relacionada à degeneração do DIV sem hérnia, deformidade anatômica ou outras causas alternativas claras de dor. Outrossim, a degeneração do DIV pode resultar em alterações morfológicas incluindo prolapso de disco, hérnia de disco, espondilose, espondilolistese, alterações Modic e nódulos de Schmorl. (Fujii et al., 2019).

Os discos intervertebrais, compostos pelo núcleo pulposo, anel fibroso e placas terminais vertebrais, desempenham um papel crucial como amortecedores na coluna vertebral. A degeneração desses discos, associada a mudanças estruturais e celulares relacionadas à idade, é influenciada por diversos fatores, resultando em instabilidade segmentar e dor nas costas. A lombalgia, uma combinação de dor nociceptiva e neuropática, é exacerbada por alterações degenerativas tardias, evidenciando a complexidade da condição. Nesse contexto, abordagens terapêuticas multidisciplinares são essenciais para o tratamento eficaz da dor lombar discogênica. (Fujii et al., 2019; Staszkiewicz et al., 2023; Soufi et al., 2023). 

A identificação da dor discogênica apresenta desafios diagnósticos complexos. A discografia provocativa ou por TC representa a principal modalidade diagnóstica segundo Fujii et al., (2019), apesar de suas limitações como o risco de degeneração discal acelerada e hérnia de disco. Embora a discografia tenha alta especificidade, ela também apresenta uma elevada taxa de falsos positivos, tornando seu uso clínico mais adequado para pacientes que estão se preparando para uma intervenção cirúrgica iminente. Portanto, outras ferramentas diagnósticas como exame clínico, questionários de dor e ressonância magnética, são consideradas importantes complementos para o diagnóstico da dor discogênica. A ressonância magnética, em particular, com foco em áreas como as alterações Modic tipo 1 e a zona de alta intensidade, tem se mostrado útil. No entanto, apesar dos avanços, a especificidade e sensibilidade das ferramentas atuais ainda não são ideais, destacando a necessidade contínua de desenvolvimento e validação de métodos diagnósticos mais precisos.

As diretrizes atuais para o tratamento da dor discogênica enfatizam a abordagem não operatória como primeira linha, incluindo atividade física, terapias psicológicas e tratamentos fisioterapêuticos. Opções como manipulação, acupuntura e reabilitação são consideradas tratamentos de segunda linha para pacientes sem resposta aos primeiros tratamentos. O uso de medicamentos é recomendado apenas após tentativas não farmacêuticas. Embora as injeções epidurais não sejam sugeridas, são consideradas para dores radiculares graves. As cirurgias são consideradas como alternativas secundárias, sendo indicadas quando outras formas de tratamento conservador não produzem resultados satisfatórios ou quando as mudanças degenerativas na coluna atingem um estágio em que a cirurgia é a abordagem preferencial.

Diante disso, o propósito desta revisão integrativa é examinar os efeitos dos tratamentos multimodais na qualidade de vida de adultos que sofrem de dor lombar crônica devido à discopatia lombar.

2 METODOLOGIA

Este estudo constitui uma revisão integrativa que tem como objetivo reunir as principais características do tratamento multimodal na discopatia lombar em adultos e como isso pode melhorar sua qualidade de vida, com base nos resultados de estudos relevantes previamente publicados nas bases de dados selecionadas. Para elaborar essa revisão, foram seguidos os seguintes passos: formulação de uma pergunta central e definição do objetivo da revisão, busca de estudos anteriores sobre o tema utilizando descritores e critérios de inclusão e exclusão, seleção dos artigos pertinentes e revisão detalhada de seus conteúdos para extrair informações relevantes que pudessem responder à pergunta central e alcançar o objetivo proposto. Por último, foi realizada uma análise e discussão dos dados obtidos, com o intuito de sintetizá-los e apresentá-los de forma coerente.

Para conduzir esta revisão, formulou-se a seguinte pergunta orientadora: “Quais são os tratamentos multimodais mais comumente utilizados para a dor lombar crônica decorrente de discopatia lombar e como esses tratamentos afetam a qualidade de vida dos pacientes?”. Para responder a essa pergunta, realizamos uma busca nas seguintes bases de dados: PubMed Central® (PMC), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO), utilizando Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Selecionamos os seguintes descritores: “Chronic Low Back Pain” (D1), “Disc” (D2) e “Treatment” (D3), juntamente com o termo “Adult” (D4), utilizando o operador booleano “AND” para ampliar a abrangência da busca. Com isso, combinamos os termos da seguinte forma: “D1” AND “D2” AND “D3” e “D1” AND “D2” AND “D4”.

Para a seleção dos estudos, foram estabelecidos critérios de inclusão que englobam artigos publicados nos últimos cinco anos, disponíveis gratuitamente e de acesso aberto, sem restrições de idioma. Por outro lado, os critérios de exclusão abrangeram estudos que não abordavam o tema proposto ou não forneciam dados suficientes para alcançar os objetivos da revisão integrativa, assim como artigos que avaliavam populações de pacientes que não eram relevantes para esta pesquisa em específico. Além disso, foram eliminados documentos como diretrizes, protocolos, duplicatas, dissertações, estudos de caso, editoriais, anais, relatos de caso, guias de prática clínica, manuais de saúde e teses.

Diante dessas considerações, em um primeiro momento, foram identificados 550 estudos. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, restaram 18 artigos que foram considerados para integrar a base de dados desta revisão integrativa. Em seguida, foi realizada uma análise minuciosa dos objetivos, resultados e conclusões dos estudos selecionados, realizando uma comparação entre eles.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Um total de 550 artigos foi identificado nas bases de dados selecionadas para esta revisão. Após a aplicação dos critérios de inclusão, dos 550 artigos selecionados, restaram 368 artigos para avaliação de título. Destes, 64 foram selecionados para análise adicional. Posteriormente, 29 duplicatas foram removidas, deixando 35 artigos para avaliação de resumo, dos quais 22 foram escolhidos para leitura completa. Finalmente, 18 estudos foram selecionados para integrar a base de dados desta revisão integrativa (Figura 1).

Figura 1. Fluxograma sobre o processo realizado para selecionar os artigos.

Fonte: dados do estudo, 2023.

É evidente, conforme mostrado no Quadro 1, que os artigos escolhidos para esta revisão foram publicados em revistas reconhecidas, com a maioria delas tendo um fator de impacto significativo, exceto 3, que tinham um fator de impacto inferior a 2,5. Em termos de origem dos estudos, o Reino Unido foi o local com o maior número de publicações, representando aproximadamente 44,4% (n = 8) do total, seguido pelos EUA, com cerca de 22,2% (n = 4).

Quadro 1 – Características dos estudos selecionados para revisão.

AutorTítuloRevista (FI)LocalTipo de estudo
Carta et al., 2023Investigação dos fatores relevantes na complexidade de pacientes com dor lombar crônica com prescrição de fisioterapia: Uma abordagem de análise de rede comparando indivíduos sem dor crônica e pacientes crônicosAmerican Journal of Physical Medicine & Rehabilitation (3.0)EUAObservacional
Keeffe et al., 2019 Efeitos da estimulação transcraniana por corrente contínua combinada com exercícios baseados em Pilates no tratamento da dor lombar crônica em serviço ambulatorial de reabilitação no Brasil: protocolo de ensaio clínico randomizado duplo-cegoBMJ Open (2,9)Reino UnidoEnsaio clínico randomizado
Fonseca et al., 2023Eficácia da terapia farmacológica e não farmacológica na intensidade da dor e incapacidade de idosos com dor lombar crônica inespecífica: um protocolo para uma metanálise em redeSystematic Reviews (3,8)Reino UnidoRevisão sistemática
Zhai et al., 2023Exercício de Baduanjin para dor lombar crônica inespecífica: protocolo para uma série de ensaios N-de-1BMJ Open (2,9)Reino UnidoEnsaio clínico randomizado
Jujjavara et al., 2023 Predição de cirurgia de descompressão aplicando aprendizagem profunda multimodal a dados de saúde estruturados e não estruturados de pacientesBMC Medical Informatics and Decision Making (3,9)Reino UnidoObservacional
Seo et al, 2023Aplicação da via crítica do serviço médico integrativo para núcleo pulposo com hérnia lombar: um protocolo para estudo observacional prospectivo unicêntricoMedicine (1,6)EUAObservacional
Yang et al., 2023Uma análise dos fatores prognósticos clínicos e radiológicos que afetam os resultados da biacupoplastia intradiscal lombarInternational Journal of Medical Sciences (3,6)ChinaObservacional
Saravi et al., 2023Análise de resultados baseados em características clínicas e radiônicas em cirurgia de hérnia de disco lombarBMC Medical Informatics and Decision Making (3,9)Reino UnidoObservacional
Choi et al., 2024Eficácia clínica da nucleoplastia para hérnia de disco lombar não contida: estudo retrospectivoBMC Medical Informatics and Decision Making (3,9)Reino UnidoObservacional
Isa et al., 2022Dor lombar discogênica: anatomia, fisiopatologia e tratamentos da degeneração do disco intervertebralMDPI (3,1)SuíçaRevisão
Gonçalves et al., 2021Tratamento conservador versus cirúrgico em pacientes com hérnia de disco lombarBrJP (1,2)BrasilRevisão integrativa
Fujii et al., 2019Dor nas costas discogênica: revisão da literatura sobre definição, diagnóstico e tratamentoJBMR Plus (3,8)EUARevisão de literatura
Soufi et al., 2023Papel potencial da terapia regenerativa com células-tronco como tratamento para doença degenerativa do disco e dor lombar: uma revisão sistemáticaMDPI (3,1)SuíçaRevisão Sistemática
Miranda et al., 2023Células-tronco e dor nas costas discogênicaBritish Medical Bulletin (6,7)Reino UnidoRevisão Sistemática
Peng et al., 2023Eficácia da injeção intradiscal de plasma rico em plaquetas no tratamento da dor lombar discogênica: uma meta-análise de braço únicoMedicine (1,6)EUARevisão Sistemática
Staszkiewicz et al., 2023 Avaliação da qualidade de vida, nível de dor e resultados de incapacidade após discectomia lombarScientific Reports (4,6)Reino UnidoObservacional
Pei et al., 2023Os graus de lesões da placa terminal da coluna vertebral lombar e a associação com distúrbios do disco lombar e a densidade mineral óssea lombar em uma população chinesa geral de meia-idadeBMC Musculoskeletal Disorders (3,9)ChinaObservacional
Oliveira et al., 2020Tratamento farmacológico da dor neuropática central: consenso da Academia Brasileira de NeurologiaAcademia Brasileira de Neurologia (1,4)BrasilRevisão Sistemática

Legenda: EUA – Estados Unidos; FI – Fator de impacto.

Fonte: Dados da pesquisa, 2024.

Isa et al., (2022) e Fuji et al., (2019) afirmaram em seus estudos que o manejo conservador da dor lombar crônica comumente abrange duas abordagens: farmacológica e não farmacológica. O tratamento não farmacológico se concentra principalmente em programas de reabilitação destinados a restaurar a função normal dos pacientes e prevenir recorrências. Esses estudos constataram que isso é alcançado através do fortalecimento muscular, melhora da resistência e coordenação muscular central, prática comumente realizada em escolas de postura. No entanto, possui evidências inconclusivas sobre sua eficácia. Atualmente, os programas de reabilitação multimodal, que combinam exercícios com treinamento cognitivo-comportamental, mostram-se mais eficazes na redução da incapacidade e do medo associado à dor do que na terapia por exercícios isoladamente. Diante do exposto, fica evidente nesta revisão que um programa de reabilitação bem-sucedido pode reduzir a necessidade de tratamento farmacológico.

Segundo o estudo de Gonçalves et al. (2021) Um estudo coorte retrospectivo com 277.941 pacientes diagnosticados com hérnia de disco lombar constatou que a maioria, 97%, teve sucesso com tratamento conservador, enquanto apenas 3% precisaram de cirurgia. Nesse contexto, o estudo relata que o manejo conservador não farmacológico engloba uma variedade de estratégias, incluindo fisioterapia, psicoterapia e acupuntura/agulhamento seco. Os fatores independentes que indicaram falha no tratamento conservador foram identificados como sendo o sexo masculino e o uso prévio de opioides. Portanto, a ideia central de que o tratamento conservador é mais indicado para as hérnias discais encontra evidência e foi reforçado nesta revisão.

Nesse raciocínio, os estudos de Fonseca et al., (2023) e Fujii et al., (2019), relatam que embora estudos em animais tenham indicado benefícios da terapia de tração, ensaios clínicos controlados em humanos não observaram diferenças significativas nos resultados clínicos. O Método McKenzie de Diagnóstico e Terapia Mecânica é amplamente reconhecido como uma abordagem popular para tratar a lombalgia, baseada em um sistema de classificação e terapia física específica. Contudo, a evidência sobre sua eficácia na lombalgia crônica ainda é limitada. 

Keeffe et al., (2019), relataram que a terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem demonstrado ser eficaz no tratamento de diversos problemas, incluindo a dor lombar crônica. Embora as TCC estruturadas tenham sido bem-sucedidas, é crucial combinar intervenções psicológicas com fisioterapia apropriada. Nesse sentido, Fujii et al., (2019) trouxeram em seu estudo que a acupuntura/agulhamento seco emerge como uma alternativa para o tratamento da dor discogênica, mostrando eficácia no alívio da dor e na melhora funcional quando comparada a nenhum tratamento ou simulações em curto prazo (6 a 12 semanas). Entretanto, não demonstrou superioridade em relação a outras modalidades de tratamento.Nesse sentido, fica evidente que alguns estudos não demonstram superioridade entre alguns métodos de tratamento conservador, o que ressalta a necessidade de análises comparativas para orientações clínicas mais eficazes e individualizadas para pacientes com esta condição.

A maioria dos artigos ressalta que o manejo da dor lombar, tem como foco principal as abordagens não cirúrgicas. Os pacientes são aconselhados a evitar repouso na cama e a manterem-se ativos ou a praticarem exercícios genéricos para as costas como primeira linha de tratamento. Terapias psicológicas, incluindo a terapia cognitivo-comportamental, são consistentemente recomendadas nessas diretrizes. Outras abordagens não cirúrgicas, como manipulação, acupuntura e reabilitação interdisciplinar (fisioterapia), são consideradas como segunda opção para pacientes que não respondem aos tratamentos de primeira linha. O uso de medicamentos por via oral é sugerido apenas após uma resposta insatisfatória aos tratamentos não medicamentosos de primeira linha. Diante disso, esta revisão reforça que o tratamento cirúrgico ganha força apenas em casos especiais de discopatia lombar.

Isa et al., (2022) constataram que em relação ao tratamento conservador farmacológico, os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) formam a base dos medicamentos usados para aliviar os sintomas da dor, reduzindo a inflamação nas vias da dor. Os inibidores seletivos da ciclooxigenase-2 (COX-2) são uma categoria específica de AINEs que visam diretamente as enzimas COX-2, proporcionando alívio da inflamação e da dor com menos efeitos colaterais gastrointestinais em comparação com os AINEs não seletivos. Os AINEs podem ser combinados com outros analgésicos, como paracetamol e opioides leves (por exemplo, tramadol), visando diferentes aspectos do processo doloroso. Contudo, devido à sua dependência física e tolerância o uso de opiáceos a longo prazo é desencorajado. Além disso, medicamentos para dor neuropática, como anticonvulsivantes e/ou antidepressivos (como gabapentina, pregabalina e duloxetina), são considerados. Quanto aos relaxantes musculares, seu papel ainda é objeto de debate, mas eles são frequentemente utilizados durante a fase aguda e de curto prazo para aliviar os espasmos musculares. Nesse sentido, esta revisão salienta a importância do uso cauteloso de opioides, pois a dependência destes vem se tornando um problema cada vez mais frequente em nosso meio. 

Com relação à dor neuropática, de origem central, Oliveira et al., (2020) categorizam as medicações em três linhas de tratamento. Na primeira linha, foram incluídas gabapentina, duloxetina e antidepressivos tricíclicos. Na segunda linha, foram colocadas venlafaxina, pregabalina para dor neuropática central (DNC) secundária a lesão medular e lamotrigina, que trouxe melhores resultados para pacientes com lesão medular incompleta, visto que houve reduções significativas no nível de dor, tátil, pressão e limiar de calor no nível ou abaixo dele, em comparação com lesão medular completa. Além disso, os opioides fortes são considerados uma terapia de terceira linha para o tratamento da dor neuropática crônica (CNP), especialmente quando outros tratamentos não foram eficazes. Embora alguns estudos tenham mostrado que os opioides podem proporcionar alívio significativo da dor em curto prazo para certos pacientes com CNP, a falta de evidências de alta qualidade torna necessário realizar mais pesquisas controladas para entender melhor seu papel no tratamento dessa condição. No Brasil, especialmente, onde medicamentos como a metadona e a morfina são acessíveis, eles têm sido usados em centros de dor como terapia complementar para pacientes refratários ao tratamento convencional. Portanto, esta revisão destaca que a falta de pesquisas controladas no entendimento do papel dos opioides, é um dos motivos que justifica a necessidade de um uso mais cauteloso.

Oliveira et al., (2020) mencionaram particularidades referentes ao uso de canabinoides, que, embora alguns estudos tenham mostrado resultados positivos em termos de redução da dor em pacientes com dor neuropática crônica, outros estudos não encontraram benefícios clinicamente relevantes. Portanto, eles são considerados como uma opção de tratamento de terceira linha, podendo ser utilizados como complemento ou alternativa aos opioides em pacientes selecionados. No entanto, a disponibilidade limitada e o alto custo desses medicamentos no sistema de saúde brasileiro atualmente limitam sua utilização generalizada, embora isso possa mudar no futuro à medida que esses medicamentos se tornem mais acessíveis. Por fim, a combinação de medicamentos de diferentes linhas tem sido usada para tratar a dor crônica neuropática, visando alívio da dor e tratamento de comorbidades. Embora essa abordagem seja comum, a falta de estudos robustos dificulta recomendações específicas. A segurança da combinação de certos medicamentos, como gabapentinoides e opioides, também é questionada devido ao risco aumentado de depressão respiratória e morte relacionada a opioides. Nesse contexto, esta revisão reafirma que tal condição exige um grande conhecimento para um manejo correto, visto que visto que interações medicamentosas equivocadas podem ser fatais.

Além disso, Fujii et al., (2019) abordaram tratamentos semi invasivos como injeções e procedimentos intradiscais que podem ser utilizados no manejo dessa condição. Como componentes desse grupo terapêutico, a estimulação elétrica é uma técnica terapêutica aplicada no tratamento de dores crônicas de origem nervosa que não respondem aos tratamentos convencionais. O método consiste na implantação de um eletrodo elétrico na região epidural da medula espinhal, juntamente com um dispositivo de bateria que gera impulsos elétricos. Esses impulsos visam criar uma sensação de formigamento não dolorosa que se sobrepõe às áreas dolorosas do paciente, proporcionando alívio. No entanto, é importante ressaltar que essa técnica pode estar associada a uma taxa considerável de efeitos adversos, numa taxa relativamente alta, de até 34,3%, como infecções, dor no local da cirurgia, punção na membrana que envolve a medula e problemas com o equipamento, como migração do eletrodo e necessidade de reoperação/reimplante. Além disso, os resultados obtidos com essa abordagem podem não ser duradouros. Nesse sentido, outra forma de terapia comum é a administração de injeções peridurais, que incluem a aplicação de esteroides e anestésicos. Essas injeções podem ser feitas através de diferentes abordagens anatômicas, como a caudal, interlaminar e transforaminal. Embora essa técnica seja frequentemente utilizada para tratar problemas de compressão nervosa na região lombar e até mesmo lombalgias, ainda não se sabe ao certo sua eficácia a longo prazo. Esta revisão destaca que a estimulação elétrica epidural é uma opção terapêutica, mas é importante considerar os potenciais efeitos adversos e a incerteza sobre sua eficácia a longo prazo, assim como acontece com as injeções peridurais.

Com relação ao tratamento invasivo, Jujjavara et al., (2023), Choi et al., (2024) Gonçalves et al., (2021), Fujii et al., (2019) e Staszkiewicz et al., (2023), abordaram pontos como a indicação deste, sendo a falha no tratamento conservador por pelo menos 2 a 3 meses a indicação mais comum. Outras indicações incluem interferência nas atividades diárias devido à claudicação neurogênica progressiva, síndrome da cauda equina e estenose espinhal degenerativa. As cirurgias de fusão são realizadas para remover o disco afetado e prevenir a recorrência da dor discogênica, estabilizando a coluna para evitar instabilidades futuras. No entanto, têm desvantagens, como sua natureza invasiva, o risco de complicações e o potencial distúrbio dos segmentos adjacentes. A substituição total do disco oferece uma alternativa com menor risco de distúrbios adjacentes, mas ainda apresenta preocupações, como ossificação anormal. A substituição total do disco é mais recomendada na coluna cervical, priorizando a preservação da mobilidade. Cirurgias minimamente invasivas, como endoscópicas ou descompressivas tubulares percutâneas, também são realizadas, embora alcancem resultados clínicos positivos inconsistentes no tratamento da lombalgia discogênica. Portanto, esta revisão ressalta que é essencial considerar as desvantagens e preocupações associadas, incluindo o potencial de complicações e distúrbios nas cirurgias mais invasivas.

Soufi et al., (2023), Miranda et al., (2023) e Peng et al., (2023) abordaram uma medida terapêutica relativamente recente que seria o campo da medicina regenerativa. Esta oferece potenciais avanços na degeneração do disco intervertebral, com foco em abordagens como células-tronco mesenquimais, plasma rico em plaquetas e condrócitos. Embora estudos clínicos piloto tenham mostrado viabilidade e segurança em algumas dessas terapias, como a injeção de células tronco mesenquimais, a eficácia a longo prazo permanece incerta. O plasma rico em plaquetas parece seguro, mas sua eficácia é ambígua, enquanto os transplantes de condrócitos mostraram resultados promissores, mas ainda carecem de estudos conclusivos. Além disso, os biomateriais para fechamento de anel e substituição de NP, como o dispositivo Barricaid AF, têm mostrado eficácia, mas preocupações de segurança persistem. Estratégias de engenharia de tecidos para a reconstrução completa do disco intervertebral representam uma alternativa promissora à fusão espinhal, com vários estudos em andamento. Neste cenário, esta revisão salienta que estudos adicionais de alta qualidade são necessários para avaliar adequadamente a eficácia e segurança dessas abordagens.

4 CONCLUSÃO 

Diante da análise dos estudos abordados nesta revisão integrativa, é possível concluir que a discopatia lombar e a dor lombar crônica representam desafios significativos para a qualidade de vida dos adultos, afetando uma proporção substancial da população global. A abordagem terapêutica multimodal surge como uma estratégia promissora para o manejo dessa condição, com ênfase no tratamento conservador como primeira linha de intervenção. Nesse sentido, esta revisão destaca a necessidade contínua de pesquisa e desenvolvimento de tratamentos que visem não apenas aliviar a dor, mas também restaurar a função e melhorar a qualidade de vida dos pacientes com discopatia lombar. Em suma, uma abordagem multimodal e individualizada, que integre diferentes modalidades de tratamento, parece ser a estratégia mais adequada para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar dos adultos com discopatia lombar e dor lombar crônica.

Referências

OLIVEIRA, Rogério Adas Ayres de et al. Tratamento farmacológico da dor neuropática central: consenso da Academia Brasileira de Neurologia. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, v. 78, p. 741-752, 2020.

PENG, Bing et al. Efficacy of intradiscal injection of platelet-rich plasma in the treatment of discogenic low back pain: A single-arm meta-analysis. Medicine, v. 102, n. 10, p. e33112, 2023.

STASZKIEWICZ, Rafał et al. Assessment of quality of life, pain level and disability outcomes after lumbar discectomy. Scientific Reports, v. 13, n. 1, p. 6009, 2023.

PEI, Jingzhe et al. The lumbar spinal endplate lesions grades and association with lumbar disc disorders, and lumbar bone mineral density in a middle-young general Chinese population. BMC Musculoskeletal Disorders, v. 24, n. 1, p. 258, 2023.

OLIVEIRA, Rogério Adas Ayres de et al. Pharmacological treatment of central neuropathic pain: consensus of the Brazilian Academy of Neurology. Arquivos de neuro-psiquiatria, v. 78, p. 741-752, 2020.

CARTA, Giacomo et al. Investigation of the Relevant Factors in the Complexity of Chronic Low Back Pain Patients With a Physiotherapy Prescription: A Network Analysis Approach Comparing Chronic Pain–Free Individuals and Chronic Patients. American Journal of Physical Medicine & Rehabilitation, v. 102, n. 7, p. 571-576, 2023.

FONSECA, Letícia Soares et al. Efficacy of pharmacological and non-pharmacological therapy on pain intensity and disability of older people with chronic nonspecific low back pain: a protocol for a network meta-analysis. Systematic Reviews, v. 12, n. 1, p. 205, 2023.

ZHAI, Jingbo et al. Baduanjin exercise for chronic non-specific low back pain: protocol for a series of N-of-1 trials. BMJ open, v. 13, n. 11, p. e070703, 2023.

JUJJAVARAPU, Chethan et al. Predicting decompression surgery by applying multimodal deep learning to patients’ structured and unstructured health data. BMC Medical Informatics and Decision Making, v. 23, n. 1, p. 2, 2023.

SEO, Joon-Won et al. Application of critical pathway of integrative medical service for lumbar herniated nucleus pulposus: A protocol for single-centered prospective observational study. Medicine, v. 102, n. 19, p. e33703, 2023.

YANG, Meng-Yin et al. An Analysis of the Clinical and Radiological Prognostic Factors Affecting the Outcomes of Lumbar Intradiscal Biacuplasty. International journal of medical sciences, v. 20, n. 8, p. 1115, 2023.

SARAVI, Babak et al. Clinical and radiomics feature-based outcome analysis in lumbar disc herniation surgery. BMC Musculoskeletal Disorders, v. 24, n. 1, p. 791, 2023.

CHOI, Yong Cheol; SEO, Jong Hun; KIM, Pius. Clinical efficacy of nucleoplasty for uncontained lumbar disc herniation: a retrospective study. BMC Musculoskeletal Disorders, v. 25, n. 1, p. 12, 2024.

MOHD ISA, Isma Liza et al. Discogenic low back pain: anatomy, pathophysiology and treatments of intervertebral disc degeneration. International journal of molecular sciences, v. 24, n. 1, p. 208, 2022.

ALVES FILHO, Arnon Castro; GONÇALVES, Allana Laís Furtado; BARBOSA, Amanda de Melo. Conservative versus surgical treatment in patients with lumbar disc herniation. BrJP, v. 4, p. 357-361, 2021.

FUJII, Kengo et al. Discogenic back pain: literature review of definition, diagnosis, and treatment. Journal of Bone and Mineral Research Plus, v. 3, n. 5, p. e10180, 2019.

SOUFI, Khadija H. et al. Potential role for stem cell regenerative therapy as a treatment for degenerative disc disease and low back pain: a systematic review. International journal of molecular sciences, v. 24, n. 10, p. 8893, 2023.

MIRANDA, Luca et al. Stem cells and discogenic back pain. British Medical Bulletin, v. 146, n. 1, p. 73-87, 2023.

O’CONNELL, Neil E. et al. Implanted spinal neuromodulation interventions for chronic pain in adults. Cochrane Database of Systematic Reviews, n. 12, 2021.

WILLIAMS, Alan L.; LEGGIT, Jeffrey C. Epidural Corticosteroid Injections for Lumbosacral Radicular Pain. American Family Physician, v. 103, n. 7, p. 405-406, 2021.

COSAMALÓN-GAN, Iván et al. Inflammation in the intervertebral disc herniation. Neurocirugia (English Edition), v. 32, n. 1, p. 21-35, 2021.