REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11182470
Sandrielli Letícia Zambrano Marcondes1
Rosa Maria Braga Lopes de Moura2
RESUMO
As competências comportamentais são a capacidade do indivíduo de se relacionar consigo mesmo e com outras pessoas, além de estabelecer objetivos, tomar decisões e enfrentar situações adversas. Elas se manifestam nos modos de pensar, de sentir e de reagir a estímulos de ordem pessoal e social. Dessa forma, o conceito de competência coaduna ambas as perspectivas, individuais e sociais, tendo em vista o papel ativo do sujeito enquanto agente que, em interação com meios socioculturais, precisa selecionar, mobilizar e aplicar tais recursos e habilidades, que propiciem a resolução de problemas nos cenários complexos em que vivemos. A complexidade do setor de saúde, com suas regulamentações em constante mudança, avanços tecnológicos e demandas crescentes dos pacientes, acrescenta um nível adicional de desafio à gestão clinica. As competências comportamentais referem-se aos fatores comportamentais que levam aos traços de personalidade de um profissional. Nesse sentido, a comunicação é uma competência comportamental. Por outro lado, as competências técnicas são aquelas que emergem do aprendizado formal ou casual. Dessa forma, as competências técnicas são fundamentais para o desempenho de uma atividade de competência específica denominada “hard skills”. Em contrapartida, as “soft skills” são competências comportamentais que têm impacto direto nas relações interpessoais relacionadas às experiências emocionais e psicossociais. De acordo com o exposto acima, é relevante considerar que o gestor necessita de “soft skills” para se adaptar ao ambiente de trabalho, sejam elas de comunicação, persuasão, proatividade bem como a capacidade de resolução de situações urgentes. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi investigar as principais competências comportamentais bem como a principal competência intitulada resiliência para contribuir de forma assertiva para gestão clínica. Para tanto, a metodologia de investigação foi de cunho bibliográfico nas bases de dados Scielo, PubMed e Medline.
Palavras-chave: Competências. Comportamental. Gestão. Resiliência.
INTRODUÇÃO
As organizações de saúde se comprometem em melhorar os seus serviços e manter elevados padrões de cuidados, criando um ambiente propício à excelência clínica (SCALLY, 1998).
Reid et al. (2002) definem a coordenação da gestão clínica como a prestação de cuidados sequenciais e complementares ao usuário, dentro de um plano de cuidados compartilhado pelos profissionais dos diferentes serviços e níveis de atenção, sendo composta por três dimensões: coerência da atenção, acompanhamento adequado do paciente e acessibilidade entre níveis assistenciais. A coerência da atenção implica na existência de aproximações e objetivos de tratamento comuns entre diferentes níveis de atenção. Em síntese, a gestão clínica requer um conjunto diversificado de competências que abrange conhecimentos, habilidades e atitudes.
De acordo com Magalhães (1997), competências são atributos necessários para executar uma atividade ou cargo, onde cargo é o conjunto de conhecimentos, habilidades e experiências adquiridas, o qual o colaborador deverá ter para exercer esta atividade de cargo. Dessa maneira, o desenvolvimento e a aplicação dessas competências são essenciais para o sucesso dos gestores que desempenham um papel crucial na promoção da saúde e do bem-estar da comunidade que servem, garantindo que a clínica continue sendo os pilares de excelência na prestação de cuidados de saúde.
A resiliência da equipe de saúde é um tema importante e requer mais pesquisas para diminuir a lacuna existente e ampliar o pensamento e o debate para projetar e implementar intervenções que visem os diversos profissionais de saúde. Existem evidências científicas dos danos causados pelo estresse vivenciado no ambiente de trabalho pela equipe de saúde, portanto é necessário prepará-los melhor para enfrentar as dificuldades e, assim, prevenir o adoecimento e manter a qualidade do cuidado às pessoas. em diferentes níveis de complexidade.
De acordo com as considerações elencadas acima, a questão de pesquisa é apresentada da seguinte forma: Qual é a relevância das competências comportamentais direcionada para gestão clínica? Qual é a importância da resiliência para gestão clínica? Para responder ao problema de pesquisa, o presente estudo investigou as principais competências comportamentais para contribuir de forma assertiva direcionada para gestão clínica bem investigar a principal competência intitulada resiliência.
Em outras palavras, a hipótese para responder ao problema de pesquisa centraliza-se em superar as barreiras que se apresentam no caminho para uma gestão eficaz bem como no aprimoramento das competências comportamentais em um ambiente de constante transformação. Diante dessa perspectiva, as contribuições deste estudo têm como escopo, auxiliar na melhoria dos programas de desenvolvimento de liderança através de uma gestão mais eficaz na área da saúde.
RESILIÊNCIA: PRINCIPAL COMPETÊNCIA
Em uma perspectiva evolutiva, os seres vivos com maior plasticidade adaptativa, ou seja, maior capacidade de se adaptar diante das mudanças ambientais, têm maiores chances de sobrevivência. Novamente, na nossa vida cotidiana, não nos deparamos frequentemente com grandes ameaças, contudo, estamos sempre lidando com desafios. A resiliência pode nos ajudar a enfrentar as adversidades, diminuindo as chances de desenvolvermos doenças e transtornos mentais.
Percebe-se que profissionais da saúde, ainda que expostos a situações adversas, demonstram-se fortes e desenvolvem devidamente suas tarefas, entretanto, há os que sofrem com as situações vivenciadas e, que inclusive evoluem para doenças ocupacionais, fato esse que requer atenção a fim de ampliar a capacidade de resiliência, para melhor enfrentamento das adversidades do cotidiano (SOUSA, 2020).
Cao (2019) em estudo com 345 Enfermeiros na China identificaram, a partir da análise das relações sociais, empatia, resiliência e envolvimento no trabalho, que a resiliência se destaca para o engajamento profissional dos trabalhadores. Os autores se reportam a necessidade de implementar programas de treinamento, para estabelecer um ambiente laboral de apoio e, dessa forma ampliar a capacidade de resiliência dos trabalhadores.
O conceito de resiliência foi introduzido na esfera das ciências psicológicas, tratando sobre os processos de superação (aprendizado e reinvenção) de adversidades profundas e toda a complexidade do desenvolvimento humano. Deste modo, a resiliência é apresentada como um dos temas mais significativos quando se trata sobre o desenvolvimento de crianças, seja a abordagem em termos preventivos, terapêuticos ou na promoção de condições promotoras de resiliência (MARQUES, 2011).
No início da década de 1970 foram realizadas pesquisas com relação aos fatores de risco, que seriam capazes de tornar as crianças vulneráveis às patologias, perceberam que, mesmo que expostas a situações muito desfavoráveis ao desenvolvimento, muitas crianças alcançaram bem adaptadas e competentes, a vida adulta. Prognósticos negativos esperados não se cumpriram na proporção estimada. A partir daí, teve início o esforço de traçar as características das crianças que cresceram em ambientes adversos e ainda assim tornaram-se adultos saudáveis, sem psicopatologias (ARAUJO, 2011).
De acordo com o autor acima citado, na década seguinte as pesquisas foram dedicadas a entender o motivo de muitas pessoas abaterem-se diante de situações adversas e outras pessoas não apenas resistirem, mas ainda se beneficiarem com o estresse. A literatura especializada da época passou a ver a resiliência como um constructo multidimensional e multideterminado, precisando ser compreendida como o resultado de múltiplos níveis sistêmicos ao longo do tempo.
Mello (2011) ressaltou que se tornou inconveniente pensar na resiliência apenas como uma característica que nasce com o ser humano, uma vez que se constitui como um processo individual, social, ambiental, espiritual vivido ao longo do desenvolvimento, sendo esse multifacetado, dinâmico e flexível.
A resiliência é muito mais que superar adversidades, pois envolve um processo constante de construção que é ativado, após um evento traumático. É um processo determinado pela construção de si, ao longo da vida, reconhecendo-se que existem fatores externos e internos que permitem a potencialização das capacidades que possibilitam o desenvolvimento de perspectivas positivas sobre si e sobre a realidade. O fato de estar nesse mundo implica viver situações difíceis e crescer requer resolver situações de conflito e de crise durante a existência. Assim, resiliência significa resignificar o evento danoso que causou o abalo, avaliando-o como uma oportunidade de desenvolvimento e individuação e como uma chance de fortalecer o elo com a vida (ARAUJO, 2011).
Para Davidson (2013), a resiliência é marcada por maior ativação no lado esquerdo do córtex pré-frontal em comparação com o direito. Segundo ele, o córtex pré-frontal é a sede da atividade cognitiva de mais alta ordem do discernimento, do planejamento e de outras funções executivas. Durante suas pesquisas foi levantada a possibilidade de que o córtex pré-frontal esquerdo talvez inibisse a amigdala, facilitando assim a recuperação após as adversidades.
Este pensamento surgiu com base nos grandes feixes de neurônios que ligam determinadas regiões do córtex pré-frontal à amigdala. A utilização da ressonância magnética permitiu que nos dias de hoje fosse entendido que, quanto maior for a massa branca (os axônios que conectam um neurônio a outro) que liga o córtex pré-frontal à amigdala, mais resiliente é a pessoa. Inibindo a amigdala, o córtex pré-frontal consegue acalmar os sinais associados às emoções negativas, permitindo que o cérebro planeje e atue de forma efetiva, sem ser distraído pelas emoções negativas (DAVIDSON, 2013).
Taboada (2006) explica que a resiliência é capacidade de ressignificação e superação diante das adversidades da vida, e trazendo assim, a adaptação mais saudável a esse contexto. Com relação ao estresse, por exemplo, os autores afirmam que a pessoa deixa de culpar os outros e passa a responsabilizar-se por aquilo que está acontecendo.
Segundo Guedes (2008) após o indivíduo compreender os seus traços de comportamento, chega o momento de trazer para si a responsabilidade pelos problemas e deixar de culpar os outros.
De acordo com Cordeiro (2014) qualquer mudança que aconteça no circuito neural traz consigo a probabilidade de adaptar o comportamento humano por meio de pensamentos positivos e afetos, que são de extrema importância para a sobrevivência da humanidade. O autor afirma ainda que quando algo é modificado há uma alteração na eficiência sináptica, podendo assim, aumentar ou diminuir a transmissão de impulsos, interferindo na modulação do comportamento, como em casos de doença, envelhecimento, morte, entre outros.
As abordagens relacionadas com exposição e reestruturação cognitiva produziram, além da redução de sintomas entre pacientes diagnosticados com transtornos do estresse pós-traumático, um aumento da atividade de estruturas cerebrais relacionadas com memória explícitas, tais como o córtex pré-frontal, o lobo temporal e o hipocampo, bem como uma redução da atividade da amígdala, estrutura relacionada com memórias implícitas de natureza emocional. Interessantemente, todas essas alterações no funcionamento de estruturas cerebrais produzidas pela intervenção psicoterapêutica foram observadas exclusivamente no hemisfério esquerdo (PERES et al., 2007 apud CALLEGARO, 2007).
Davidson (2013) pontua que alguns transtornos mentais, como a depressão, podem ter a sua causa neurofisiológica devido à baixa atividade em determinadas áreas do córtex pré-frontal e por uma hiperatividade da amígdala. A reflexão mental, que está presente em pessoas que se encontram deprimidas, pode ser explicada pelo fato dessa hiperatividade da amígdala surgirem em regiões relacionadas à antecipação.
Segundo Davidson (2013), graças a neuroplasticidade é possível perceber que o cérebro humano pode vir a sofrer determinadas alteração por conta dos tipos de estímulos, o primeiro é com relação às experiências vividas no mundo e o segundo com relação à atividade puramente mental, como por exemplo, métodos de meditação e terapia, onde ambas trazem o aumento ou a diminuição da atividade em determinados circuitos.
Cabe ressaltar que o cérebro tem uma propriedade chamada neuroplasticidade, que é a capacidade de modificar de forma considerável sua estrutura e seus padrões de atividade, não só na infância, mas também durante a vida adulta. Essa mudança pode resultar das experiências que temos e também da atividade mental puramente dos nossos pensamentos. (DAVIDSON, 2013).
Callegaro (2007), corroborando com essa ideia, esclarece que as alterações na atividade neural de forma duradoura está ligada a modificações na estrutura e no funcionamento da comunicação sináptica sendo que a produção sináptica fornece a ligação entre os neurônios em todas as partes do corpo, inclusive promovendo a comunicação entre à amigdala e o córtex préfrontal.
A avaliação dos fatos e eventos da vida começa no sistema límbico. Entendendo também que essa avaliação advém sempre de vários elementos, como, a personalidade prévia, a experiência vivida, as circunstâncias atuais e as normas culturais. Na execução dessa função, o sistema límbico tem várias estruturas que o compõe e interagem entre si e com o córtex pré-frontal.
A conexão do córtex pré-frontal com o hipotálamo e a amígdala, e a função específica de cada uma dessas estruturas, foi enfatizada pela importância que desempenham não só na emoção como também no fenômeno da resiliência. Por meio dos estudos compreendeu-se que a resiliência ocorre pela ligação do córtex pré-frontal com a amígdala, inibindo sua atividade. Tendo em vista que quanto maiores forem os axônios que conectam um neurônio a outro, que ligam o córtex pré-frontal à amigdala, mais resiliente é a pessoa. Inibindo a amigdala o córtex pré-frontal consegue acalmar os sinais associados às emoções negativas, permitindo que o cérebro planeje e atue de forma efetiva, sem ser distraído pelas emoções negativas. Dessa forma a pessoa tem maiores condições de recuperar-se após as adversidades.
A revisão sistemática da literatura científica confirma a importância da gestão comportamental para a expressão da resiliência e tal como sublinham Karreman et al., (2012) as competências comportamentais são de vital importância, em especial a resiliência, uma vez que está competência comportamental permite responder as situações de crise e/ou de necessidade de adaptação.
Brolese et al. (2017) em estudo com 40 profissionais de saúde evidenciaram que os mais jovens e com menor tempo de trabalho na instituição, alcançaram escores de resiliência superiores em relação aos demais participantes. Os autores referem que esse resultado pode estar associado ao prazer do início da vida profissional, motivação por novos desafios e afinidade pela área de trabalho.
Sousa et al., (2015) afirmam que a sensibilidade emocional é uma propriedade essencial aos profissionais de saúde, por favorecer o desempenho no trabalho e a relação com o paciente. Neste sentido, quanto às variáveis sociodemográficas, as autoras evidenciaram maiores escores de resiliência no fator sensibilidade emocional entre mulheres casadas e que possuem religião.
Em estudo posterior de Sousa et al., (2015) com 92 profissionais da saúde, pontuam que a profissão de técnico em enfermagem é vulnerável ao adoecimento, pelo elevado percentual de desgaste e trabalho passivo, resultante do contato direto com pacientes, além de expor os mesmos a patologias relacionadas à atividade laboral, refletem na sua vida social e familiar. Em contrapartida, afirmam que profissionais que exercem cargos de gestão, revelaram sensibilidade emocional abaixo da média, apesar de apresentarem níveis elevados de resiliência. Esses resultados sinalizam que os profissionais estão expostos no ambiente de trabalho a inúmeras situações estressantes, porém apresentam boa capacidade de resiliência o que, pode ser um fator contribuinte para a manutenção da saúde e prevenção de danos muitas vezes irreversíveis.
Brolese et al. (2017) asseveram que o menor nível de instrução e formação profissional, pode interferir negativamente no gerenciamento das adversidades advindas do cotidiano laboral. Os autores evidenciaram também que técnicos de enfermagem apresentaram médias de resiliência inferiores ao serem comparados com os demais profissionais de nível superior, que integram a equipe. Eles relacionam esse resultado à atuação dos técnicos de enfermagem no contato direto com o paciente, o qual requer elevada demanda física e psicológica.
Brolese et al. (2017) destacam que profissionais resilientes estarão ligados ao progresso de suas competências terapêuticas, ao reconhecimento do trabalho em equipe e o trabalho realizado. Além disso, os pesquisadores salientam que é necessário separar a vida profissional da pessoal, com o intuito de o profissional se tornar mais potente e resiliente, e que consiga lidar com desgastes cotidianos. Além de fatores de proteção,
Sousa et al., (2015), demonstraram os riscos presentes na atuação dos profissionais, os quais permitem refletir sobre o processo de saúde-doença dessa população, outrossim, evidenciar aspectos que necessitam ser fortalecidos mediante ações e intervenções educativas, que visem o bem-estar do trabalhador.
Conforme Brolese et al., (2017), o trabalho em equipe é fundamental para a solução e superação das adversidades encontradas no dia a dia Os autores, a partir dessa afirmativa, reforçam a importância de estabelecer boas relações interpessoais no ambiente de trabalho de maneira a favorecer um ambiente mais harmonioso com melhora da satisfação profissional.
Sousa e Colaboradores (2015), afirmam que além do alto índice de satisfação na atividade laboral, o trabalho em equipe é fonte de proteção para os profissionais, pois tem a oportunidade de compartilhar vivências e barreiras encontradas no decorrer de suas jornadas de trabalho, tornando-os mais resilientes, ou seja, as relações de afeto entre equipe ajudam no intuito de reduzir o impacto que altas demandas psicológicas podem causar na saúde física e psíquica desses trabalhadores.
A resiliência da equipe de saúde é uma temática importante e requer mais investigações no sentido de reduzir a lacuna existente e ampliar reflexões, discussões, com vistas ao planejamento e implementação de ações direcionadas aos diferentes profissionais de saúde que integram as equipes que cuidam na rede de atenção à saúde.
Tem-se conhecimento de evidências científicas sobre os danos causados pelo estresse vivenciado pela equipe de saúde no ambiente de trabalho, portanto, é fundamental prepará-los para melhor enfrentamento das adversidades e dessa forma, prevenir o adoecimento e manter a qualidade da assistência aos indivíduos nos diferentes níveis de complexidade.
Kortesluoma, (2011) afirma que uma vez que a ocitocina tem sido reportada enquanto modulador do comportamento humano em várias interações sociais, a qualidade da vinculação pode afetar a sensibilidade do sistema de regulação do estresse, através da modulação do desenvolvimento do sistema da ocitocina nos indivíduos.
Os estudos recentes demonstram que os sistemas mais relevantes relacionados são o déficit de gestão comportamental envolvendo o eixo hipotalâmico-pituitário-adrenal (HPA), com primordial destaque para a amígdala, permitindo compreender assim que os sistemas neurobiológicos mais importantes destas perturbações podem ser aqueles com maior impacto na expressão da resiliência.
Desse modo, é primordial compreender a participação da ocitocina, vasopressina, catecolaminas e serotonina, dehidroepiandrosterona, glicose e cortisol, uma vez que são os sistemas de maior relevância para fortalecer a resiliência.
Os indivíduos resilientes são capazes de olhar para as situações negativas de forma realista, mas sem se concentrar na culpa ou se preocupar com o que não pode ser mudado. Ao invés de ver a adversidade como intransponível, concentram-se em procurar maneiras de enfrentar o problema e fazer mudanças que ajudem em sua resolução. Dessa forma, ao invés de se prender em um ciclo de emoções negativas, é pertinente aprender a ver esses eventos como oportunidades para se desafiar e desenvolver novas habilidades.
Segundo Osório (2017), a resiliência é uma habilidade importante e que podemos melhorar com o tempo. Ao desenvolver uma perspectiva positiva, ter uma rede de apoio e tomar medidas efetivas para tornar as coisas melhores pode contribuir muito para se tornar mais resiliente diante dos desafios da vida.
De acordo com Walker (2017), os indivíduos resilientes são capazes de utilizar suas habilidades e pontos fortes para enfrentar e se recuperar de problemas e desafios. Esses problemas podem incluir perda de emprego, problemas financeiros, doenças, desastres naturais, emergências médicas, divórcio ou a morte de um ente querido. Ao invés de entrar em desespero ou se esconder dos problemas com estratégias prejudiciais à saúde, as pessoas resilientes enfrentam as dificuldades da vida de frente. Isso não significa que eles sentem menos angústia, tristeza ou ansiedade do que outras pessoas. Significa que eles transformam essas dificuldades em aprendizado e força. Em muitos casos, eles podem surgir ainda mais fortes do que eram antes.
Horn (2018), pontua a necessidade de nos conectarmos uns com os outros é representada no cérebro de uma forma semelhante a fome sugerindo que a necessidade de relacionamento poderá ser uma necessidade humana básica. Portanto, a indissociabilidade entre cognição e afeto refletem significativamente na constituição das competências comportamentais. De acordo com o exposto, algumas pessoas parecem permanecer calmas diante de um desastre, enquanto outras parecem se desestabilizar completamente sem capacidade de lidar com problemas e contratempos.
Para Shi (2018), a resiliência não elimina o estresse ou as dificuldades da vida. Os indivíduos que possuem essa habilidade não veem a vida através de lentes cor de rosa. Eles entendem que contratempos acontecem e que às vezes a vida é dura e dolorosa. Eles ainda experimentam a dor emocional, a tristeza e a sensação de perda que vêm depois de uma tragédia, mas sua perspectiva mental permite que superem esses sentimentos e se recuperem.
Alguns indivíduos adquirem essas habilidades naturalmente, ou já possuem em suas personalidades características que os ajudam a permanecer firmes diante do desafio. No entanto, esses comportamentos não são características inatas encontradas em alguns indivíduos especiais. De acordo com muitos especialistas, a resiliência é bastante comum e as pessoas podem aprender as habilidades necessárias para se tornarem mais resilientes (REID, 2016).
De acordo com a Associação Americana de Psicologia (APA), o termo resiliência é “o processo de boa adaptação diante de adversidades, traumas, tragédias, ameaças ou fontes significativas de estresse”. Dessa forma, estudos recentes mostram que a resiliência pode ser treinada ou facilitada por meio do exercício físico, do suporte social e do treinamento mental que contempla construtos relacionados, como por exemplo otimismo, proatividade, autoestima, auto-eficácia, flexibilidade, controle de emoções, controle de Impulsos, empatia, tenacidade, entre outros. Cabe problematizar que a resiliência, é o que oferece ao indivíduo a força psicológica para lidar com o estresse e as adversidades frente a gestão clínica.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As organizações de saúde prestam serviços a partir da tradução do conhecimento de seus profissionais em decisões clínicas, o grau de autonomia e de controle desses profissionais no processo decisório é um dos elementos mais sensíveis, tanto na governança clínica como na atenção gerenciada. Assim, os princípios da gestão da clínica expressam conexões que lançam uma nova luz sobre a gestão e atenção à saúde em sistemas integrados.
As competências comportamentais são importantes requisitos sob o viés cultural, produtividade e bom ambiente organizacional. Por esse motivo é tão importante atentar para esse assunto e levá-lo em consideração na gestão clínica. Por fim, conclui-se que os princípios da gestão da clínica expressam conexões que lançam uma nova luz sobre a gestão, atenção à saúde e educação em sistemas integrados e demandam uma consciência crítica em relação à simultaneidade de permanências e mudanças de práticas. Nesse sentido, gestores e profissionais de saúde deveriam construir objetivos comuns, para os quais compartilham conhecimento e esforço profissional e se implicam igualmente.
A resiliência da equipe de saúde é um tema importante e requer mais pesquisas para diminuir a lacuna existente e ampliar o pensamento e o debate para projetar e implementar intervenções que visem os diversos profissionais de saúde.
Existem evidências científicas dos danos causados pelo estresse vivenciado no ambiente de trabalho pela equipe de saúde, portanto é necessário prepará-los melhor para enfrentar as dificuldades e, assim, prevenir o adoecimento e manter a qualidade do cuidado às pessoas. em diferentes níveis de complexidade.
Conforme os modelos aqui apresentados, cabem ainda pesquisas mais aprofundadas que relacionem dominância de aptidões cerebrais e competências gerenciais com a performance organizacional. Por se tratar de ativos intangíveis, a gestão do capital intelectual é de difícil mensuração e avaliação. Por outro lado, a eficácia da gestão assistencial em desenvolver novos líderes e competências de gestão hospitalar está intrinsecamente ligada à capacidade de adaptação dos gestores aos desafios em evolução constante no setor de saúde, à promoção de uma cultura organizacional voltada para a formação de líderes e à integração de práticas de gestão inovadora, como a tomada de decisões fundamentadas em evidências.
O desafio do desenvolvimento de competências comportamentais direcionada para gestão clínica é uma jornada complexa e contínua. Desta forma, a pesquisa revelou que a eficácia nesse campo depende da capacidade de adaptação, da promoção de uma cultura de liderança e da integração de práticas inovadoras.
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