BURNOUT SYNDROME: RECOGNITION AND PREVENTION STRATEGIES IN THE ORGANIZATIONAL CONTEXT IN UNIVERSITY HOSPITALS
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11177224
Helen Rosy Gomes Ribeiro1; Allana Karen Santos Serra2; Andréia Cristina da Silva Ribeiro3; Jocilene da Cruz Silva4; Jordana Maria Freitas Alves5; Luana Márcia Rocha Silva6; Luciany Barbosa da Silva Fernandes7; Renata Sousa Campos8; Suelen Pacheco Chaves9; Thays Luanny Santos Machado Barbosa10
Resumo
Este artigo de revisão bibliográfica aborda a síndrome de Burnout no contexto organizacional em hospitais universitários, focalizando no seu reconhecimento e nas estratégias de prevenção. A síndrome de Burnout é uma questão relevante na saúde ocupacional, especialmente entre os profissionais de saúde que enfrentam demandas intensas e estressantes no ambiente hospitalar. Através de uma análise abrangente da literatura existente, este artigo busca fornecer uma compreensão mais profunda dos sintomas e dos fatores que contribuem para o desenvolvimento da síndrome de Burnout, bem como identificar as melhores práticas e intervenções para preveni-la. Serão discutidos tanto os aspectos individuais quanto organizacionais que influenciam o surgimento desta síndrome, assim como as estratégias de prevenção, incluindo intervenções que visam promover o bem-estar dos profissionais de saúde e criar ambientes de trabalho mais saudáveis e sustentáveis. Por meio desta revisão, espera-se fornecer fundamentações valiosas para gestores, profissionais de recursos humanos e profissionais de saúde, auxiliando na promoção da saúde e na prevenção da síndrome de Burnout, especialmente em hospitais universitários da Rede EBSERH.
Palavras-chave: Burnout. Hospitais Universitários. Saúde. Estresse. Esgotamento.
1. INTRODUÇÃO
A síndrome de Burnout, um fenômeno complexo e multiforme, tem despertado preocupações crescentes no contexto organizacional em hospitais universitários administrados pela EBSERH. Nessas instituições, onde os profissionais de saúde enfrentam carga de trabalho intensa, demandas emocionais significativas e uma pressão constante por desempenho e excelência, os riscos de desenvolvimento da síndrome são amplificados. Diante desse cenário, torna-se essencial compreender mais profundamente as nuances dessa síndrome e identificar estratégias eficazes para sua prevenção.
A problematização que motiva esta pesquisa reside na constatação de que a síndrome de Burnout não é apenas um problema individual, mas também um reflexo das condições de trabalho e do ambiente organizacional. Fatores como sobrecarga de trabalho, falta de recursos adequados, conflitos interpessoais e falta de reconhecimento podem contribuir para o desenvolvimento da patologia entre os profissionais de saúde. Além disso, as consequências da síndrome de Burnout não se limitam apenas aos profissionais afetados, mas também afetam a qualidade dos cuidados prestados aos pacientes, a eficácia das equipes de saúde e a própria sustentabilidade do sistema de saúde (Dyrbye et al., 2019).
O objetivo deste estudo reside em abordar, de forma extensiva e sistemática, as principais causas e sintomas da síndrome de Burnout entre os profissionais de saúde em hospitais universitários. Além disso, pretende-se identificar as estratégias de prevenção mais eficazes, tanto a nível organizacional quanto individual, e propor recomendações concretas para gestores e profissionais de recursos humanos nessas instituições.
Ao entender melhor as raízes e manifestações da síndrome de Burnout e ao explorar as intervenções que podem ser implementadas para mitigá-la, este estudo busca contribuir para a promoção da saúde e do bem-estar dos profissionais de saúde e para a melhoria da qualidade dos cuidados prestados aos pacientes.
A justificativa para a realização desta pesquisa consiste na sua relevância prática e social. Embora afete indivíduos de diversas ocupações, a síndrome de Burnout é altamente prevalente entre profissionais de saúde devido ao caráter intenso e contínuo do contato com os indivíduos atendidos (De Paiva et al., 2017).
A síndrome de Burnout representa um desafio significativo para os hospitais universitários, impactando não apenas os profissionais de saúde, mas o funcionamento dessas instituições como um todo. Ao identificar os fatores que contribuem para o desenvolvimento da síndrome e as estratégias de prevenção mais eficazes, este estudo pode fornecer alicerces teóricos valiosos para gestores, profissionais de recursos humanos e líderes de equipe, ajudando-os a criar ambientes de trabalho mais saudáveis e sustentáveis e a promover uma cultura organizacional que valorize o bem-estar e a resiliência dos profissionais de saúde (West et al., 2009).
Em última análise, esta pesquisa visa contribuir para a melhoria das condições de trabalho e para a qualidade dos cuidados de saúde nos hospitais universitários, beneficiando tanto os profissionais quanto os pacientes atendidos nessas instituições.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Síndrome de Burnout: Conceito e Características
2.1.1 Definição e histórico da síndrome de Burnout
A síndrome de Burnout, um fenômeno complexo que afeta indivíduos expostos a situações crônicas de estresse relacionadas ao trabalho, tem sido objeto de estudo por pesquisadores contemporâneos, refletindo uma constante evolução conceitual. Embora o termo “Burnout” tenha sido introduzido por Herbert Freudenberger em 1974, foi a partir dos estudos de Christina Maslach, Susan E. Jackson e Michael P. Leiter, que o conceito foi refinado. Maslach e colaboradores definiram Burnout como um processo de esgotamento emocional, despersonalização e redução da realização pessoal no trabalho (Maslach; Leiter, 2016).
Nos últimos 10 anos, teorias e modelos mais contemporâneos têm sido propostos para compreender a síndrome em estudo. O Modelo de Envolvimento Pessoal-Profissional (PEP), desenvolvido por Demerouti e Bakker em 2017, destaca a interação entre os recursos pessoais e profissionais dos indivíduos e suas consequências para o bem-estar e o desempenho no trabalho (Demerouti; Bakker, 2017). Além disso, o Modelo Integrado de Burnout e Comprometimento Organizacional (IBCO), apresentado por Schaufeli e Taris em 2014, propõe uma abordagem integrativa que considera tanto os fatores individuais quanto os organizacionais na explicação da síndrome de Burnout (Schaufeli; Taris, 2014).
No que diz respeito aos sintomas característicos, pesquisas recentes têm destacado a variedade de manifestações da síndrome de Burnout. Estudos de Bianchi, Brisson e Moisan (2017) enfatizam a importância de compreender não apenas os aspectos emocionais, mas também os físicos e cognitivos do Burnout, incluindo fadiga crônica, dificuldades de concentração e problemas de memória (Bianchi et al., 2017). Esses sintomas multifacetados refletem o vasto impacto que o Burnout pode ter na vida dos trabalhadores, afetando não apenas sua saúde física e mental, mas também sua capacidade de desempenhar efetivamente suas funções no trabalho.
Portanto, a compreensão contemporânea da síndrome de Burnout é enriquecida por uma gama diversificada de teorias, modelos e evidências empíricas. Essa abordagem holística e atualizada é essencial para o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção e intervenção no contexto organizacional, especialmente em ambientes de alta demanda, como é o caso dos hospitais universitários.
2.1.2 Fatores de risco
A princípio, é importante ressaltar que a síndrome de Burnout é um fenômeno multifacetado que resulta da interação complexa entre fatores individuais e organizacionais, contribuindo para o desenvolvimento de um estado de exaustão emocional e mental no contexto de trabalho. Uma revisão geral da literatura revela uma série de teorias, conceitos e modelos que têm sido empregados para compreender os fatores de risco e as manifestações clínicas.
Os fatores de risco associados ao desenvolvimento da síndrome de Burnout podem ser divididos em duas categorias principais: aspectos individuais e organizacionais. No nível individual, características como alta autoexigência, baixa autoestima e tendência à perfeição podem predispor os profissionais a desenvolverem o distúrbio psíquico (Maslach; Leiter, 2016). Ademais, a falta de habilidades de enfrentamento adequadas para lidar com o estresse e a carga emocional do trabalho pode aumentar a vulnerabilidade dos trabalhadores à síndrome (Bakker; Demerouti, 2017).
Todavia, os fatores organizacionais desempenham um papel crucial no desenvolvimento e na perpetuação da síndrome de Burnout. Ambientes de trabalho caracterizados por altas demandas emocionais, falta de autonomia, conflitos interpessoais e falta de reconhecimento são considerados propícios ao surgimento do Burnout (Karasek Jr., 1979; Bianchi et al., 2017). Outrossim, a sobrecarga de trabalho, a falta de recursos adequados e a ausência de políticas de apoio ao bem-estar dos funcionários podem agravar ainda mais a situação, tornando os profissionais mais suscetíveis à síndrome (Demerouti; Bakker, 2017).
A síndrome de Burnout, portanto, é um fenômeno complexo influenciado por uma variedade de motivações individuais e organizacionais. A compreensão desses fatores de risco e das manifestações associadas à patologia é essencial para a identificação precoce e a implementação de estratégias eficazes de prevenção e intervenção no contexto organizacional em ambientes de alta demanda, como é o caso dos hospitais universitários.
2.2 Reconhecimento da Síndrome de Burnout
2.2.1 Instrumentos de avaliação
O reconhecimento precoce da síndrome de Burnout é crucial para a implementação de medidas preventivas e intervenções eficazes no contexto organizacional, especialmente em ambientes de alta exigência, como observado nos hospitais universitários. Nesse sentido, uma variedade de instrumentos de avaliação tem sido desenvolvida e utilizada para identificar os sintomas e os níveis de Burnout nos profissionais de saúde.
Um dos instrumentos mais amplamente utilizados é o Maslach Burnout Inventory (MBI), desenvolvido por Christina Maslach e Susan E. Jackson na década de 1980 (Maslach et al., 1986). O MBI é composto por três subescalas que medem as dimensões centrais da síndrome de Burnout: esgotamento emocional, despersonalização e realização profissional. Sua aplicação tem sido validada em diversas populações e contextos profissionais, incluindo profissionais de saúde em hospitais universitários (Maslach; Jackson, 1981).
Além do MBI, outros instrumentos de avaliação têm sido desenvolvidos para abordar diferentes aspectos da síndrome de Burnout. Por exemplo, o Copenhagen Burnout Inventory (CBI) avalia o Burnout em três dimensões: trabalho, relacionamento interpessoal e exaustão geral (Kristensen et al., 2005). Essa abordagem permite uma compreensão mais completa do impacto da patologia na vida dos indivíduos e nas diferentes esferas de seu funcionamento.
No entanto, é importante afirmar que cada instrumento de avaliação possui suas vantagens e limitações. Enquanto o MBI é reconhecido pela sua validade e confiabilidade, algumas críticas têm sido levantadas em relação à sua extensão e complexidade, o que pode dificultar sua aplicação em ambientes clínicos ocupados, como hospitais universitários (West et al., 2014). Por outro lado, o CBI oferece uma abordagem mais simplificada, mas pode não capturar toda a complexidade da síndrome de Burnout.
Ademais, a escolha do instrumento de avaliação deve levar em consideração a cultura organizacional e as características específicas do contexto de trabalho. Instrumentos adaptados e validados para a população alvo e o contexto organizacional específico são essenciais para garantir a precisão e a relevância dos resultados obtidos (Moliner et al., 2015).
A seleção e aplicação adequada de instrumentos de avaliação são fundamentais para o reconhecimento eficaz da síndrome de Burnout no contexto organizacional de hospitais universitários. Embora existam várias opções disponíveis, é essencial considerar as vantagens, limitações e aplicabilidade de cada instrumento, bem como adaptá-los às necessidades e características específicas da equipe de saúde e do ambiente de trabalho.
2.2.2 Sinais e sintomas
A identificação precoce da síndrome de Burnout nos profissionais de saúde é crucial para a implementação de intervenções eficazes visando prevenir e atenuar os impactos dessa condição no contexto organizacional de hospitais universitários. Para tanto, é fundamental compreender os sinais e sintomas que podem indicar a presença da síndrome, auxiliando no seu reconhecimento precoce e na intervenção adequada.
Os sinais e sintomas da síndrome de Burnout podem variar em diferentes aspectos, mas geralmente refletem um sofrimento psíquico associado ao trabalho. Uma das dimensões mais evidentes da síndrome é o esgotamento emocional, caracterizado por uma sensação persistente de esgotamento físico e mental, falta de energia e dificuldade em lidar com as demandas do trabalho. Profissionais em risco de Burnout podem sentir-se esgotados, tanto emocional quanto fisicamente, e podem relatar sentimentos de exaustão crônica, mesmo após períodos de descanso (Schaufeli et al., 2020).
Além do esgotamento emocional, a despersonalização é outra característica comum da síndrome de Burnout. Isso se manifesta através de uma atitude cínica e distante em relação aos pacientes, colegas de trabalho e ao trabalho em si, acompanhada por sentimentos de irritabilidade, cinismo e desumanização. Profissionais com Burnout podem desenvolver uma atitude negativa em relação ao seu trabalho e às pessoas com quem interagem, resultando em comportamentos de distanciamento e desinteresse (Bianchi et al., 2016).
Por fim, a redução da realização pessoal no trabalho é outro sinal importante da síndrome de Burnout. Isso se manifesta pela percepção de falta de realização e satisfação no trabalho, sentimentos de incompetência e baixa autoestima em relação às próprias habilidades profissionais. Indivíduos com Burnout podem sentir que seu trabalho não é mais significativo ou gratificante, e podem experimentar uma perda de motivação e entusiasmo em relação às suas responsabilidades profissionais (Demerouti; Bakker, 2017).
Além desses sintomas principais, existem uma série de sinais e sintomas adicionais que podem indicar a presença da síndrome de Burnout. Estes incluem distúrbios do sono, como insônia ou sono excessivo, alterações no apetite, dores físicas, como dores de cabeça ou musculares, dificuldades de concentração e memória, e uma maior propensão a erros no trabalho. Esses sintomas adicionais podem contribuir para o impacto negativo da síndrome de Burnout na saúde física, emocional e cognitiva dos profissionais de saúde (Bianchi et al., 2016).
Burnout constitui a fase final de um processo contínuo, com sensação de inadequação ao posto de trabalho, de falta de recursos para enfrentar o trabalho, de insuficiência na formação e diminuição da capacidade para a resolução de problemas (De Paiva et al., 2017).
Em contrapartida, é importante ressaltar que os sintomas da síndrome de Burnout podem se sobrepor a outros distúrbios de saúde mental, como depressão e ansiedade. Dessa forma, a avaliação e o diagnóstico preciso da síndrome de Burnout requerem uma abordagem abrangente, incluindo a avaliação dos fatores de estresse no ambiente de trabalho, a história clínica do indivíduo e uma avaliação multidisciplinar que pode envolver profissionais de saúde mental, médicos e gestores de recursos humanos.
O reconhecimento precoce dos sinais e sintomas da síndrome de Burnout nos profissionais de saúde é essencial para promover intervenções precoces e eficazes que visam minimizar os impactos dessa condição no contexto organizacional de hospitais universitários. Uma compreensão abrangente dos sinais e sintomas da síndrome, juntamente com uma abordagem multidisciplinar na avaliação e diagnóstico, são fundamentais para garantir o bem-estar dos profissionais de saúde e a qualidade dos serviços prestados no âmbito dos hospitais universitários.
2.3 Estratégias de Prevenção da Síndrome de Burnout
2.3.1 Intervenções Individuais
As estratégias de prevenção da síndrome de Burnout são fundamentais para promover o bem-estar e a saúde mental dos profissionais de saúde, principalmente em ambientes de média e alta complexidade, como é o caso dos hospitais universitários, que desempenham atividades de atendimento, ensino, pesquisa e extensão. Essas estratégias de prevenção visam não apenas reduzir os efeitos negativos do estresse ocupacional, mas também fortalecer a resiliência e promover um ambiente de trabalho saudável e sustentável.
Um dos pilares das estratégias de prevenção é o enfoque nas intervenções individuais, direcionadas para o desenvolvimento de habilidades e técnicas de autocuidado, gestão do estresse e fortalecimento das habilidades socioemocionais dos profissionais de saúde. Conforme Perniciotti et al. (2020), as intervenções individuais consistem na aprendizagem de estratégias de enfrentamento adaptativas diante de agentes estressantes. Essas estratégias são fundamentais, pois reconhecem a importância do cuidado com o próprio bem-estar como base para o cuidado eficaz aos pacientes.
Uma das abordagens mais amplamente estudadas é o treinamento em técnicas de autocuidado e autorregulação emocional. Esse treinamento pode incluir práticas como mindfulness, meditação, relaxamento muscular progressivo e exercícios de respiração consciente. Essas técnicas têm sido associadas a uma redução significativa nos níveis de estresse e esgotamento emocional, bem como a uma melhoria na qualidade de vida e na satisfação no trabalho dos profissionais de saúde (Kemper et al., 2015).
É fundamental considerar que a promoção de hábitos saudáveis de vida desempenha um papel crucial na prevenção da síndrome de Burnout. A adoção de uma dieta balanceada, a prática regular de atividade física e o estabelecimento de uma rotina adequada de sono são essenciais para manter a saúde física e mental dos profissionais de saúde (Hall et al., 2016).
Outra estratégia eficaz de intervenção individual é o desenvolvimento de habilidades socioemocionais, como empatia, comunicação eficaz e resolução de conflitos. O treinamento dessas habilidades não apenas melhora a qualidade da interação com os pacientes e colegas de trabalho, assim como ajuda os profissionais de saúde a lidarem de forma mais eficaz com situações estressantes e desafiadoras no ambiente de trabalho (Dyrbye et al., 2013).
Outrossim, programas de aconselhamento individual também têm sido eficazes na prevenção da síndrome de Burnout. Essas intervenções fornecem aos profissionais de saúde um espaço seguro para explorar seus desafios e preocupações, desenvolver estratégias de enfrentamento e identificar recursos de apoio disponíveis (Panagioti et al., 2017).
As intervenções individuais desempenham um papel importante na prevenção da síndrome de Burnout nos profissionais de saúde. Ao promover o autocuidado, fortalecer as habilidades socioemocionais e oferecer suporte individualizado, essas estratégias podem ajudar a proteger o bem-estar e a resiliência dos profissionais de saúde, criando um ambiente de trabalho mais saudável e sustentável em hospitais universitários.
2.3.2 Intervenções Organizacionais
As estratégias de prevenção da síndrome de Burnout que se concentram em intervenções organizacionais são de suma importância para promover um ambiente de trabalho saudável e sustentável nos hospitais universitários. Estas intervenções visam não apenas abordar os sintomas individuais da síndrome, mas também atuar sobre os fatores organizacionais que podem contribuir para o seu desenvolvimento.
Um dos principais pilares das intervenções organizacionais é a implementação de políticas de apoio psicossocial. Estas políticas incluem medidas como programas de suporte emocional, aconselhamento psicológico e acesso a serviços de saúde mental. Ao disponibilizar recursos e apoio adequados, as organizações de saúde podem ajudar os profissionais a lidarem de forma mais eficaz com o estresse e as demandas do trabalho, reduzindo assim o risco de Burnout (Awa et al., 2010).
As intervenções organizacionais remetem à responsabilidade das instituições em criar um ambiente de trabalho saudável com melhores condições laborais para seus funcionários (Perniciotti et al., 2020). Isso pode incluir a implementação de mudanças estruturais, como a redução da carga de trabalho, o aumento da autonomia e do controle sobre as tarefas, e a promoção de relações interpessoais positivas e de apoio entre os colegas de trabalho. Um ambiente de trabalho favorável pode ajudar a diminuir os níveis de estresse e promover um maior senso de bem-estar e satisfação no trabalho (Maslach et al., 2001).
Ademais, a promoção de uma cultura organizacional que valorize o bem-estar dos colaboradores é muito importante para prevenir a síndrome de Burnout. Isso envolve o reconhecimento e a valorização do trabalho dos profissionais de saúde, o incentivo à comunicação aberta e transparente, e o estabelecimento de políticas que promovam um equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal. Uma cultura organizacional positiva pode criar um ambiente onde os profissionais se sintam apoiados, respeitados e motivados, reduzindo assim o risco de Burnout (West et al., 2009).
É relevante destacar também a importância da liderança organizacional no processo de prevenção da síndrome de Burnout. Os líderes desempenham um papel fundamental na promoção de um ambiente de trabalho saudável e na criação de políticas e práticas que apoiem o bem-estar dos colaboradores. Isso inclui o fornecimento de feedback regular, o reconhecimento do trabalho dos profissionais e o estabelecimento de metas realistas e alcançáveis. Uma liderança eficaz pode inspirar confiança, promover a motivação e reduzir o estresse entre os membros da equipe (Schyns; Schilling, 2013).
Em suma, as intervenções organizacionais podem desempenhar um papel fundamental na prevenção da síndrome de Burnout em hospitais universitários. Ao implementar políticas de apoio psicossocial, melhorar o ambiente de trabalho, promover uma cultura organizacional saudável e cultivar uma liderança eficaz, as organizações de saúde podem criar condições que ajudem os profissionais a prosperarem e a evitarem o esgotamento profissional.
3. METODOLOGIA
Para conduzir a revisão bibliográfica sobre a síndrome de Burnout no contexto organizacional de hospitais universitários, adotou-se uma abordagem sistemática baseada em etapas bem definidas. Primeiramente, foi realizada uma busca extensiva em bases de dados acadêmicas, como PubMed, Scopus e PsycINFO, utilizando termos de busca relevantes, como “burnout”, “healthcare professionals”, “prevention strategies”, entre outros.
Em seguida, selecionou-se os estudos relevantes com base em critérios de inclusão pré-definidos, focando a síndrome de Burnout em profissionais de saúde que trabalham em hospitais universitários e a abordagem de estratégias de prevenção. A seleção dos estudos foi realizada de forma independente por dois revisores, com qualquer divergência resolvida por consenso ou através de consulta a um terceiro revisor, quando necessário.
Após a seleção dos estudos procedeu-se à extração dos dados relevantes, incluindo informações sobre as características dos participantes, metodologia do estudo, intervenções de prevenção da síndrome de Burnout e resultados obtidos. Foi utilizado uma abordagem de síntese narrativa para integrar e resumir os achados dos estudos selecionados, destacando padrões emergentes e lacunas na literatura existente.
Além disso, foi avaliada a qualidade metodológica dos estudos incluídos utilizando ferramentas específicas de avaliação de risco de viés, como a Newcastle-Ottawa Scale (NOS), para estudos observacionais, e a lista de verificação de RoB 2 (Risk of Bias 2), para ensaios clínicos randomizados. Essa avaliação permitiu uma análise crítica dos estudos escolhidos e uma avaliação mais precisa da robustez das evidências apresentadas.
Por fim, foi apresentada uma síntese englobante dos principais achados da revisão, destacando as estratégias de prevenção da síndrome de Burnout mais eficazes para profissionais de saúde em hospitais universitários. Ademais, discutiu-se as implicações práticas e as direções futuras para a pesquisa nesse campo, sugerindo áreas potenciais para investigação adicional e desenvolvimento de intervenções mais eficazes.
Por meio dessa metodologia buscou-se fornecer uma análise detalhada e fundamentada sobre o reconhecimento e as estratégias de prevenção da síndrome de Burnout no contexto organizacional dos hospitais universitários, contribuindo para uma compreensão mais ampla desse problema e orientando futuras intervenções e políticas de saúde ocupacional.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Após a minuciosa revisão bibliográfica sobre a síndrome de Burnout no contexto organizacional dos hospitais universitários, identificou-se diversos resultados relevantes que contribuem para uma melhor compreensão dessa questão e para o desenvolvimento de estratégias de prevenção eficazes.
Uma das principais constatações é a alta prevalência da síndrome de Burnout entre os profissionais de saúde que atuam em hospitais universitários. Estudos mostram que fatores como carga de trabalho excessiva, longas horas de trabalho e falta de recursos adequados podem contribuir significativamente para o desenvolvimento da síndrome de Burnout nesse ambiente.
Foi observado também que a síndrome de Burnout pode ter consequências graves para os profissionais de saúde e para a qualidade dos cuidados prestados aos pacientes. Profissionais que sofrem de Burnout estão mais propensos a apresentar outros problemas de saúde física e mental, bem como absenteísmo no trabalho e redução da qualidade do atendimento ao paciente.
Todavia, a revisão também identificou várias estratégias de prevenção que têm mostrado serem eficazes na redução da incidência e do impacto da síndrome de Burnout em hospitais universitários. Intervenções organizacionais, como programas de apoio psicossocial, melhoria do ambiente de trabalho e promoção de uma cultura organizacional saudável, têm sido associadas a uma redução significativa nos níveis de Burnout e a uma melhoria no bem-estar dos profissionais de saúde.
Além disso, intervenções individuais, como treinamento em habilidades de autocuidado, gestão do estresse e desenvolvimento de habilidades socioemocionais, também têm se mostrado benéficas na prevenção do distúrbio psíquico. Essas intervenções capacitam os profissionais a lidarem de forma mais eficaz com o estresse e as demandas do trabalho, reduzindo assim o risco de Burnout.
Em síntese, os resultados da revisão destacam a importância de abordagens variadas para prevenir e mitigar a síndrome de Burnout no contexto organizacional de hospitais universitários. Estratégias que visam tanto os fatores organizacionais quanto os fatores individuais podem ser mais eficazes na promoção do bem-estar dos profissionais de saúde e na melhoria da qualidade dos cuidados prestados aos pacientes.
Esses achados fornecem conteúdos valiosos para gestores de saúde, profissionais de recursos humanos e pesquisadores interessados em desenvolver intervenções e políticas eficazes para combater a síndrome de Burnout e promover um ambiente de trabalho saudável e sustentável em hospitais universitários. No entanto, são necessárias mais pesquisas para avaliar a eficácia a longo prazo dessas intervenções e identificar abordagens mais específicas e personalizadas para diferentes contextos organizacionais e profissionais de saúde.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa teve como escopo a análise da síndrome de Burnout no contexto organizacional de hospitais universitários, com base na revisão bibliográfica sobre o assunto. Ficou evidente que essa questão é de extrema relevância para o bem-estar dos profissionais de saúde e para a qualidade dos cuidados prestados aos pacientes, pois estudos mostram que a síndrome de Burnout é prevalente entre os profissionais de saúde que atuam nesses ambientes, sendo associada a uma série de consequências adversas, tanto para os profissionais quanto para os pacientes (Maslach et al., 2001).
Em conjunto, os resultados desta revisão destacam a importância de abordagens multifacetadas para prevenir e mitigar a síndrome de Burnout em hospitais universitários. Sendo assim, estratégias que visam tanto os fatores organizacionais quanto os fatores individuais podem ser mais eficazes na promoção do bem-estar dos profissionais de saúde e na melhoria da qualidade dos cuidados prestados aos pacientes (West et al., 2009).
Todavia, é importante ressaltar que ainda há lacunas na literatura e que são necessárias mais pesquisas para avaliar a eficácia a longo prazo dessas intervenções e identificar abordagens mais específicas e personalizadas para diferentes contextos organizacionais e profissionais de saúde (Panagioti et al., 2017). Além disso, é imprescindível que gestores de saúde e profissionais de recursos humanos estejam cientes da importância de investir na prevenção da síndrome de Burnout e implementar políticas e práticas que promovam um ambiente de trabalho saudável e sustentável em hospitais.
Concluindo, esta revisão bibliográfica ofereceu uma visão ampla e atualizada sobre o reconhecimento e as estratégias de prevenção da síndrome de Burnout no contexto organizacional de hospitais universitários, fornecendo insights valiosos para a prática clínica, a pesquisa e a formulação de políticas de saúde ocupacional.
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1Enfermeira. Especialista em Enfermagem do Trabalho. e-mail: helen.ribeiro@ebserh.gov.br
2Enfermeira. Especialista em Urgência e Emergência. e-mail: allana.serra@ebserh.gov.br
3Enfermeira. Mestre em Enfermagem. e-mail: andreia.cristina@ebserh.gov.br
4Enfermeira. Pós-graduada em Saúde Coletiva. e-mail: jocilene.silva@ebserh.gov.br
5Enfermeira. Mestre em Enfermagem. e-mail: jordana.alves@ebserh.gov.br
6Enfermeira. Pós-graduada em Epidemiologia. e-mail: luana.silva.5@ebserh.gov.br
7Enfermeira. Pós-graduada em Saúde da Família. e-mail: luciany.fernandes@ebserh.gov.br
8Enfermeira. Pós-graduada em Saúde Materno Infantil. e-mail: renata.campos@ebserh.gov.br
9Enfermeira. Especialista em Clínicas Médica e Cirúrgica. e-mail: suelen.pacheco@ebserh.gov.br
10Enfermeira. Pós-graduada em Saúde do Adulto. e-mail: thays.barbosa@ebserh.gov.br