REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11122936
Antônia Milene de Lima; Benunison Tavares dos Santos; Francisca das Chagas Sergio de Oliveira1; Jonas Batista da Silva; Nelcilene Braga Alfaia dos Santos; Wanderson Araújo de Almeida.
RESUMO
As expressões idiomáticas do inglês frequentemente encontram seu caminho para o português, especialmente em ambientes informais ou na internet. Exemplos notáveis incluem “keep calm and carry on” e “no pain, no gain”. Esse fenômeno não só enriquece nosso idioma com novas nuances e significados, mas também reflete a interconexão cultural entre diferentes línguas. Além disso, a exposição ao inglês pode impactar a pronúncia de palavras em português, particularmente entre os mais jovens ou em regiões com maior contato com a língua inglesa. Embora essa influência não deva ser automaticamente considerada prejudicial, é crucial manter um equilíbrio para preservar a integridade e a identidade da língua portuguesa. A língua inglesa, com suas raízes antigas e uma história rica, experimentou diversas transformações ao longo dos séculos. Neste artigo, propomos explorar a fascinante jornada da evolução do inglês, desde suas origens até as complexidades modernas. Ao mergulharmos nessas mudanças, podemos compreender melhor o idioma que hoje aprendemos e falamos.
PALAVRAS-CHAVE: inglês. Português. pronuncia. Influencia.
1. INTRODUÇÃO
A história do ensino de línguas inglesa no Brasil é marcada por uma evolução complexa, desde os primeiros passos dados pelos jesuítas até os tempos modernos de globalização e intercâmbio cultural. A trajetória revela não apenas mudanças nas políticas educacionais, mas também reflexos das transformações sociais, econômicas e tecnológicas que moldaram o país ao longo dos séculos. Neste texto, exploraremos essa jornada, desde os primórdios da colonização até o presente, destacando como o ensino de línguas estrangeiras, especialmente o inglês, ganhou destaque e influência significativa na sociedade brasileira. Ao mesmo tempo, examinaremos os efeitos dessa influência no vocabulário, na gramática e na identidade linguística do português moderno, em um contexto de interação cultural e globalização. O uso de termos estrangeiros é uma constante nos processos culturais em todo o mundo. A análise do papel da adoção de empréstimos linguísticos permeia os processos de colonização e as migrações, resultando em uma miscigenação cultural muitas vezes involuntária por parte dos habitantes locais. Ao longo dos séculos, as manifestações culturais dominantes têm recebido contribuições de outros povos, seja através da chegada de novos grupos, da importação de objetos ou da incorporação de termos estrangeiros em ações ou expressões. No entanto, não há uma uniformidade na quantificação dessa prática.
Quando ocorre a imposição de um termo de uma língua sobre outra, a coexistência entre ambas acaba por moldar o léxico da língua receptora. Isso resulta em um reflexo analógico do mundo objetivo, onde traços da língua-fonte são inseridos no contexto da língua receptora, mesmo que não sejam necessariamente espaciais, mas sim linguísticos. Essa influência de uma nação sobre outra, caracterizada pelo empréstimo linguístico, deixa marcas na língua e promove uma conexão entre identidades culturais distintas, entre indivíduos e estruturas sociais, muitas vezes associadas ao poder político e econômico
2. DESENVOLVIMENTO
Durante pouco mais de dois séculos após o descobrimento do Brasil, os jesuítas desempenharam o papel de educadores, enquanto o grego e o latim dominavam como línguas predominantes no país.
Esse período chegou ao fim com a expulsão dos jesuítas durante a Reforma Pombalina em 1759, quando o Estado assume a responsabilidade pela gestão da educação na colônia.
Em 1808, a chegada de Dom João e da família real marca um novo momento na história brasileira. No ano seguinte, em decorrência da necessidade de fortalecer e estabelecer acordos comerciais, especialmente após a abertura dos portos ao comércio estrangeiro, o Príncipe Regente promulgou um decreto criando as primeiras cátedras de línguas estrangeiras no Brasil: inglês e francês. Posteriormente, o padre irlandês John Joyce foi nomeado como o primeiro professor oficial da corte portuguesa.
Em novembro de 1838, foi inaugurado o Imperial Colégio de Pedro II, onde, no mesmo documento que instituiu sua abertura, foi incluído o ensino da língua inglesa no programa de estudos. Esse colégio, totalmente subsidiado pelo Estado, baseava-se nos estatutos dos liceus franceses e desempenhou um papel fundamental ao introduzir o ensino da língua inglesa no currículo escolar brasileiro.
Durante o período imperial, no entanto, o ensino da língua inglesa enfrentava um desafio significativo devido a uma metodologia inadequada, que se concentrava principalmente na tradução de textos e na análise gramatical.
Na época da primeira república, o ensino da língua grega foi abolido e as línguas alemã e inglesa tornaram-se disciplinas exclusivas. No entanto, devido à não obrigatoriedade, o ensino dessas línguas foi substituído pela realização de exames.
Devido ao aumento significativo da imigração no final do século XIX e início do século XX, muitas comunidades construíram suas próprias escolas para preservar sua cultura e língua materna. Por volta de 1917, um movimento nacionalista no campo educacional resultou no fechamento dessas escolas estrangeiras. Em 1920, foi decretada a proibição do ensino de línguas estrangeiras para crianças menores de 10 anos.
Em 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, e em 1931, uma reforma na educação proposta pelo ministro Francisco Campos beneficiou o ensino de línguas estrangeiras, adotando uma nova metodologia conhecida como método direto, no qual a língua era ensinada através do seu uso direto.
Com a Reforma Capanema de 1942, o ensino foi organizado em ciclos (ginásio, clássico e científico) e o Ministério da Educação passou a ser responsável pela educação. A reforma enfatizou o estudo das línguas estrangeiras e introduziu uma metodologia que não só abordava as habilidades ativas e receptivas (ouvir, falar, ler e escrever), mas também promovia o desenvolvimento da observação e reflexão, bem como o conhecimento e aceitação da cultura estrangeira. A partir dessa reforma, foram introduzidas ferramentas audiovisuais, como giz colorido, ilustrações, objetos, discos e filmes, no processo de ensino e aprendizagem.
Desde os tempos imperiais, a língua francesa ocupava um lugar de destaque no ensino brasileiro. No entanto, a chegada do cinema sonoro na década de 1920 contribuiu para uma maior aceitação e inserção da língua inglesa na cultura brasileira.
A demanda e a necessidade de aprender a língua inglesa aumentaram significativamente após a Segunda Guerra Mundial, devido à dependência econômica do Brasil em relação aos Estados Unidos.
A partir de 1960, o método áudio-oral começou a ser implantado no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos, como resposta à necessidade de aprendizado rápido de línguas estrangeiras durante a Segunda Guerra Mundial. Com esse método, os soldados estudavam entre seis e nove meses, com sessões diárias de sete a nove horas.
Com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1961, a língua francesa e o latim foram retirados da grade curricular ou tiveram sua carga horária significativamente reduzida, enquanto o ensino da língua inglesa permaneceu praticamente inalterado. O ensino de línguas estrangeiras tornou-se opcional no ensino médio, aumentando a preferência pela língua inglesa.
A LDB de 1971 enfatizou a formação profissional e resultou em uma redução significativa na carga horária dedicada ao ensino de línguas estrangeiras. Em 1976, as línguas estrangeiras tornaram-se obrigatórias no ensino médio, e em 1996, uma nova LDB tornou obrigatório o ensino de uma língua estrangeira moderna no ensino fundamental e médio, promovendo a hegemonia da língua inglesa na grade curricular.
O destaque do inglês começou a ganhar relevância por volta de 1930, um período de preocupação global devido à iminência da Segunda Guerra Mundial. Nessa época, os Estados Unidos e a Inglaterra reconheceram a importância do Brasil como aliado e buscaram estreitar relações. A visita do Príncipe de Gales, Edward, em 1931, foi um marco nesse sentido. Paralelamente, o poder econômico dos EUA estava em ascensão, resultando em um aumento significativo nos negócios entre brasileiros e americanos.
No âmbito educacional, uma reforma curricular favoreceu o ensino do inglês em detrimento do latim nas escolas públicas, refletindo as mudanças políticas, econômicas e comerciais da época. A fundação da Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa, em 1935, em parceria com o Consulado Britânico, e do Instituto Universitário Brasil-Estados Unidos, em 1938, com apoio do Consulado Americano, demonstram o fortalecimento do ensino da língua inglesa.
Outras escolas de inglês surgiram ao longo do tempo, como Yázigi e CCAA, seguidas por iniciativas empreendedoras como Wizard e Wise Up nas décadas seguintes. O mercado continuou a se expandir nos anos 2000, com o surgimento de novas redes. No entanto, cada uma dessas instituições tem sua própria versão da história, refletindo a diversidade e a evolução do ensino de inglês no Brasil ao longo do tempo.
A influência do inglês no português moderno é um fenômeno inegável e multifacetado, que se manifesta de diversas maneiras. Esse processo é impulsionado pela globalização, pela disseminação da cultura pop e pelo domínio econômico e tecnológico de países de língua inglesa.
Uma das manifestações mais evidentes dessa influência é a incorporação direta de palavras do inglês ao vocabulário do português. Termos como “marketing”, “software”, “startup”, entre outros, são comumente utilizados sem tradução, especialmente em contextos profissionais e tecnológicos. Além disso, expressões e gírias em inglês são adaptados para o português, como “like” (utilizado como interjeição), “cool” (legal) e “update” (atualização).
Essa influência se estende também à gramática, com estruturas de frase frequentemente seguindo padrões mais próximos do inglês do que do português tradicional. Por exemplo, é comum ouvir frases como “vou fazer o download do arquivo” em vez de “vou baixar o arquivo”, refletindo a estrutura do inglês.
Entretanto, é importante ressaltar que essa interferência não implica necessariamente uma perda da identidade linguística do português. Muitas vezes, as palavras e expressões do inglês são incorporadas de maneira criativa, adaptadas à fonética e à estrutura da língua portuguesa. Dessa forma, o português moderno reflete a interação cultural e linguística global, preservando sua riqueza e diversidade.
A influência do inglês na língua portuguesa é um fenômeno cada vez mais perceptível, especialmente devido à globalização e à predominância do inglês como língua franca em muitos contextos internacionais. Essa influência pode ser observada em várias áreas, desde empréstimos linguísticos até adaptação de termos e influência na gramática.
Embora o uso de empréstimos linguísticos não seja uma prática nova, é preciso salientar que, com as mudanças ocasionadas recentemente, houve uma modificação considerável no uso do estrangeirismo, pois, enquanto ferramenta, os aparatos tecnológicos de comunicação tornaram a troca de informações dinâmica em todo o mundo, mesmo entre as mais distantes nações. Para Hall “a ‘globalização’ se refere àqueles processos, atuantes numa escala global, que atravessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e organizações em novas combinações de tempo espaço, tornando o mundo, em realidade e em experiência, mais interconectado”. (2006, p. 67).
Uma vez que a economia e o mercado tenham se tornado globalizados os produtos e os processos tecnológicos, uniformizados, exigem a utilização de termos e de vocábulos de compreensão também global. Mas não se trata apenas de uma necessidade econômica ou de trabalho: as comunidades globais também interagem por meio de uma universalização de linguagem que certamente privilegia uma língua mais elitizada em detrimento de outra considerada menor expressiva. Zilles aponta:
No campo das mudanças linguísticas, os empréstimos de palavras ou expressões são em geral associados a atitudes valorativas positivas do povo que os toma em relação à língua e à cultura do povo que lhes deu origem. Muitas vezes são utilíssimos à elite, que assim se demarca como diferente e superior […]. Outras vezes, são felizes incidências na constituição identitária e cultural de um povo […] (Zilles, 2004, p. 156).
É de suma importância a abordagem da análise de discurso quando se observa a adoção dos empréstimos, tendo em vista que as considerações acerca da utilização do empréstimo linguístico estão intrinsecamente associadas ao universo simbólico inerente à linguagem cotidiana. Orlandi (2005, p. 87) ressalta que a “especificidade da Análise do Discurso está em que o objeto acerca do qual ela produz seus resultados não é um objeto só linguístico, mas um objeto sócio-histórico”. Um sujeito, nos mais distintos agrupamentos de que faz parte, emprega universos simbólicos na expressão de valores sociais, morais, culturais e políticos, de modo que se estabeleça entre ele e seu grupo uma coesão e uma interação permeada pela comunicação.
A facilidade de deslocamento e os avanços tecnológicos, enfaticamente nos meios de comunicação, tornaram essa troca constante e intensa, de modo que se passou a encontrar elementos de uma determinada cultura em outros locais ou em todo o mundo. Nesse ponto, a relação cambial não se processa igualitariamente, mas depende da influência que uma sociedade exerce sobre a outra.
O discurso, desse modo, torna-se elemento de disseminação de valores e de ideologias de uma sociedade, de modo que as sociedades receptoras não apenas aceitem, mas passem a adotar a influência desse grupo social. Para Barros:
A ideologia dominante é tão abrangente que torna as demais organizações do saber fragmentárias e muitas vezes contraditórias, pois incorporam elementos da representação dominante. O grau de coerência e abrangência dos sistemas ideológicos não é, assim, o mesmo nas diferentes concepções de mundo (Barros, 2001, p. 150).
Essa influência pode ter muitos significados, uma vez que as relações entre os grupos sociais se fazem não apenas por interesses econômicos. Mas em qualquer situação é a cultura que acaba se transformando, acrescentando ou modificando elementos. Embora a língua não sofra influência na mesma intensidade, modificações surgem – como é o caso dos empréstimos linguísticos ou do estrangeirismo.
A incessante busca por identificação, tão presente entre os seres humanos, é uma manifestação fundamental na história da humanidade. Ela reflete a necessidade humana de estabelecer e afirmar uma identidade, muitas vezes por meio da adoção de padrões específicos. Esse processo é intrínseco à criação de uma hierarquia de identidades e diferenças, onde certos padrões são privilegiados e dotados de características positivas, enquanto outros são implicitamente avaliados de forma negativa. Essa dinâmica revela não apenas a busca por distinção, mas também a tendência de valorizar uma norma socialmente aceita, destacando-a como referência para julgar outras identidades.”
3. CONCLUSÃO.
Em suma, a história do ensino de línguas estrangeiras no Brasil revela uma jornada complexa e multifacetada, permeada por uma série de influências e momentos determinantes. Desde a era dos jesuítas até os dias atuais, cada período foi marcado por mudanças estruturais e reformas que moldaram o cenário linguístico do país. A crescente globalização e o poderio econômico e tecnológico de nações de língua inglesa intensificaram ainda mais a presença do inglês na vida cotidiana brasileira, sublinhando a interação intricada entre fatores históricos, sociais e econômicos na evolução das línguas. No entanto, mesmo diante dessa influência marcante, a língua portuguesa mantém sua identidade e riqueza, adaptando-se criativamente e demonstrando uma resiliência linguística que preserva sua diversidade.
4. REFERÊNCIAS
Barros, Diana Luz Pessoa de. Teoria semiótica do texto. São Paulo: Ática, 2001.
Franco, T. História da Língua Inglesa no Brasil. 2019. Disponível em: https://tisbefranco.com.br/historia-da-lingua-inglesa-no-brasil. Acesso em: 03 de março 2024.
Hall, Stuart. Da Diáspora: identidade e modificações culturais. Belo Horizonte: UFMG, 2003.
Jucá, R. W. Q. A história da prática da língua inglesa no secundário brasileiro: um resgate histórico e moral [campinas]. Disponível em: <www.histerdb.fae.unicamp.br/>. Acesso em: 10 de março 2024.
Orlandi, Eni P. Discurso e texto: formação e circulação dos sentidos. 2ª ed. Campinas: Pontes, 2005.
Zilles, Ana Maria S. “Ainda os equívocos no combate aos estrangeirismos”. In: Faraco, Carlos Alberto (Org.). Estrangeirismos: guerras em torno da língua. 3ª ed. São Paulo: Parábola, 2004, p. 143-161.
1francisca9151@gmail.com