A MEDITAÇÃO PARA O ADOLESCENTE: UMA PESQUISA-CUIDADO

MEDITATION FOR ADOLESCENTS: A CARE-RESEARCH

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11116252


Gabriela Nogueira Cavalcante1; Michell Ângelo Marques Araújo2; Manuela de Mendonça Figueiredo Coelho2; Ricardo Hugo Gonzalez2; Leticia Nogueira Lima3; Noa de Vasconcelos Martins3; José Edmilson Silva Gomes4; Antônio Marcos Tosoli Gomes5; Liêta Patrícia Ildefonso Teixeira Martins6


Resumo

CONTEXTO: A pandemia do COVID-19 gerou mudanças que atingiram toda a população, mas é importante atentar-se em como prejudicou os adolescentes. Essas alterações ocasionaram a diminuição do bem-estar e da saúde mental da população adolescente.

OBJETIVO: O presente estudo objetiva conhecer a percepção do adolescente sobre a prática de meditação.

METODOLOGIA: Trata-se de um estudo do tipo pesquisa-cuidado que utilizou um método de análise qualitativa. A pesquisa-cuidado será o referencial metodológico. A população deste estudo é constituída por 13 adolescentes estudantes de escola em Fortaleza, Ceará. A coleta de dados se deu através da aplicação de questionário elaborado pela pesquisadora e de encontro com o ser estudado, no período de agosto a outubro de 2022. Esses momentos foram gravados por aúdio, os quais foram transcritos e realizado sua análise de conteúdo temática conforme Bardin (2016), considerando as unidades de sentido e, após isso, dividindo-as em categorias e subcategorias.

RESULTADOS: Os participantes do estudo apresentavam idade entre 15 e 17 anos, sendo 61,5% do sexo feminino, todos com estado civil solteiro, 76,9% não trabalha, maioria parda (61,5%). Ao realizar a análise das falas foram encontradas as seguintes categorias: benefícios emocionais, benefícios físicos, dificuldades e resistências e impressões sobre a experiência.

CONCLUSÃO: Diante dos resultados expostos, a meditação mostrou-se como uma ferramenta no cuidado à saúde do adolescente. Os adolescentes demonstraram através de seus relatos que a percebem como promotora de múltiplos benefícios, como os elencados ao longo do estudo.

Palavras-chave: Adolescente. Ansiedade. Meditação. Enfermagem.             

2 INTRODUÇÃO

Os transtornos ansiosos são definidos como um grupo de doenças caracterizadas pela ansiedade e o medo excessivos, segundo definição da Associação Americana de Psiquiatria. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) (2017), trazem que 264 milhões de pessoas vivem com essas patologias no planeta inteiro.

No ano de 2019, no mês de dezembro iniciou-se os casos de COVID-19 na cidade de Wuhan, na China. Em 2020 os casos se espalharam pelo mundo e a OMS declarou a pandemia. Nesse cenário pandêmico ocorreram alterações na rotina de vida diária, como medida de combate ao novo coronavírus. Essas modificações afetaram a população em muitas dimensões das condições de vida e de saúde e, de forma significativa, a saúde mental foi muito abalada (Barros; Azevedo, 2020). A ansiedade, segundo Ministério da Saúde (2020), apresentou um aumento na pandemia e foi o transtorno mental mais prevalente entre os brasileiros no período de avaliação, abril a maio de 2020.

Essas alterações também impactaram os adolescentes. As medidas de distanciamento e isolamento social colocou em risco a integridade física e mental dessa população (Neumann; Kalfels; Schmalz, 2020). Os estudos mostram que dentre adolescentes em fase de conclusão do ensino médio, 13,3% eram do sexo feminino, pontuaram nível grave de ansiedade, 20% moderado e 6,7% leve. E no gênero masculino, 10% apresentaram sintomas moderados e 22,5% em nível leve (Grolli; Wagner; Dallbosco, 2017).

No cuidado à saúde do adolescente, a Atenção Básica à Saúde caracteriza-se como um dos fatores de proteção, no espaço comunitário e sempre deve estar em parceria com as famílias e as escolas. Como ferramenta de cuidado, a Estratégia de Saúde da Família pode lançar mão das Práticas Integrativas e Complementares (PICS), regulamentadas no Brasil desde 2006. Dentre as PICS, a meditação pode também ser usada como tratamento para a ansiedade (Ministério da Saúde, 2018). 

Diante do cenário que vivemos, em que ainda podem ser percebidos os efeitos da pandemia, sobretudo na faixa etária adolescente, surge o questionamento: A meditação é uma ferramenta de cuidado eficaz da saúde do adolescente? Responder essa indagação faz parte do objetivo do presente estudo que é conhecer a percepção do adolescente sobre a prática de meditação.

3 METODOLOGIA

Como referencial metodológico foi utilizada a pesquisa-cuidado. Esse tipo de estudo indica que o pesquisador-cuidador deve traçar um caminho com algumas etapas para o encontro com o ser pesquisado-cuidado: aproximação com o objeto de estudo; encontro com o ser pesquisado-cuidado; estabelecimento das conexões de pesquisa, teoria e prática; afastamento do ser pesquisador-cuidador e ser pesquisado-cuidado; análise do apreendido, segundo Garbelini et al. (2021).

A população do estudo foi constituída por 13 adolescentes em escola de nível médio de tempo integral, localizada no município de Fortaleza- Ceará. A escola oferece os cursos profissionalizantes: Administração, Logística, Portos, Petróleo e gás, Informática e Mineração.

A escola possui os cursos de petróleo e gás, administração, informática e portos com turmas de primeiro ano, com cerca de 45 alunos matriculados em cada. Dentre os 13 participantes do presente estudo, 08 cursam petróleo e gás, 04 informática e 01 administração.

Foram considerados como critérios de inclusão do estudo estudantes interessados na temática meditação e que estivessem cursando o primeiro ano do ensino médio, pois, segundo relato de professores e coordenadores, é nessa série que os estudantes se inserem no sistema de ensino integral e ainda estão adaptando-se às mudanças. Enquanto alunos dos segundos e dos terceiros anos já demonstraram uma adaptação melhor ao modelo, os estudantes do primeiro ano ainda estão lidando com as alterações da rotina. Todos os adolescentes do primeiro ano foram convidados e os critérios de exclusão foram apenas os que não aceitaram participar do estudo.

Na primeira etapa da pesquisa-cuidado, a escolha dos autores para o objeto de estudo foi estudar os aspectos da meditação no público adolescente. A segunda etapa, o encontro com os estudantes, que ocorreu através de sessões de meditação em grupo, com frequência semanal, durante 12 semanas, com descrição elencada no quadro 1 abaixo.

Quadro 1- Descrição das sessões de meditação realizada semanalmente na escola com os participantes do estudo.

Fonte: diário de campo.

Além disso, houve a entrevista sobre estado geral do adolescente, de forma individual, ocorrendo em dois momentos, na primeira e última sessões, utilizando instrumento elaborado pelos autores, o qual contém dados sociodemográficos, aspectos relacionados à saúde e perguntas sobre a prática de meditação.

Quanto à técnica de meditação, existem vários tipos de abordagem, como a atenção plena e meditação budista. Para o presente estudo, a meditação cristã foi utilizada como base teórica para as sessões. Segundo a Comunidade Mundial para a Meditação Cristã (2022), essa é uma prática para um caminho de silêncio, simplicidade e quietude, a qual é considerada milenar. É válido ressaltar que não há cunho confessional ou proselitista nessa técnica, o nome diz respeito às raízes da prática.

Na terceira etapa ocorreu concomitante à segunda, realizando-se a coleta das informações por meio de gravação de áudio das sessões em grupo, da entrevista individual e anotações em diário de campo sobre todos os momentos de contato com os participantes.  

A quarta etapa marca o fim da fase de pesquisa e cuidado, ocorrendo o distanciamento necessário para que a análise seja realizada. A quinta etapa é o momento de análise dos dados obtidos através da análise de conteúdo da transcrição das falas, segundo Bardin (2016).

Após a exploração das transcrições, foi realizada a análise de conteúdo temática conforme Bardin (2016). Inicialmente, foi feita a codificação das falas, separando-as em unidades de sentido. Posteriormente, foram divididas as unidades em categorias e subcategorias, a fim de investigar quais os pontos em comum de cada elemento dentro da categoria e responder à questão da pesquisa.

A pesquisa foi submetida e aceita pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Saúde Pública do Ceará, sob parecer de número 5.445.369, em conformidade com a Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional da Saúde.

4 RESULTADOS

Perfil dos participantes

Os participantes do estudo apresentavam idade entre 15 e 17 anos, sendo 61,5% do sexo feminino, todos com estado civil solteiro, 76,9% não trabalham, maioria parda (61,5%). 30,8% não tem crença e 30,8% são evangélicos. 66,7% com renda familiar entre 2 a 3 salários mínimos. Sobre as informações escolares, 61,6% eram estudantes do curso Petróleo e Gás; e 69,2% pretendiam realizar o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em 1 ano. Quanto aos dados relacionados à saúde, 92,3% afirma não usar álcool ou outras drogas; todos têm acesso a algum serviço de saúde, 76,9% afirma não ter doença ou problema de saúde.

Análise das Categorias

Ao realizar a análise das falas dos participantes nos momentos de partilha em grupo e na entrevista individual, foram encontradas as categorias e subcategorias elencadas na tabela 1 abaixo.

Tabela 1- Categorias e subcategorias resultantes da análise de conteúdo das sessões.

Fonte: própria

Benefícios emocionais

Múltiplos foram os benefícios percebidos relacionados às emoções, os participantes relataram sensação de relaxamento, tranquilidade, leveza e calma.  Fala do Participante 9: “Relaxante, calmante, um tempo para que você tire para descansar e relaxar”.

Alguns adolescentes, ao longo das 12 semanas de sessões de grupo, afirmaram sentirem-se menos ansiosos e menos estressados. O Participante 7 falou: “Menos estresse, eu me senti menos ansiosa também”.

Foi percebido também o aumento do foco e da concentração, o Participante 10 relata: “Eu consegui me concentrar mais, assim, senti mais foco”. A Participante 13 afirma que recorreu ao mantra para ajudá-la a se concentrar: “Eu consegui, sempre quando vinha um pensamento eu conseguia me concentrar, focava no mantra”.

Além disso, alguns participantes afirmaram sentir-se mais confortáveis e sentirem-se menos cobrados por si mesmos. Por exemplo, a Participante 13: “Diminuiu a culpa que eu sentia por não conseguir fazer tudo”.

Ademais alguns adolescentes reconheceram a meditação como promotora de autoconhecimento, como o Participante 10: “Quando eu consegui meditar, eu meio que consegui me conhecer melhor”.  O Participante 11 cita que aprendeu como lidar melhor com as situações do cotidiano: “A meditação me ajudou a lidar muito mais com esses sentimentos, mesmo na aula nós não sabendo nada ou falando poucas palavras já me ajudaram a me entender melhor”.

Benefícios físicos

Quanto aos aspectos físicos, houve relato de melhora do sono pela entrevistada 6: “Sono, relaxamento, porque tenho muita dificuldade de dormir.” A Participante 13 também falou: “Eu durmo melhor”.

Além disso, foi percebido pelo Participante 7 a diminuição de dores: “Tipo as dores no corpo meio que relaxa”. Outro benefício foi mais energia e disposição física relatada pela Participante 13: “Mas depois eu me sentia mais ativa na aula, mas sem ser agitada”.

Dificuldades e resistências

Ao longo da aproximação entre pesquisador-cuidador e pesquisado-cuidado, existiram algumas dificuldades, como trouxe a Participante 1: “É porque eu sou muito inquieta, aí, ontem eu senti uma dor de cabeça muito forte, só que aí passou. Agora tá de novo”.

Cansaço e sono foram apontados como barreiras para a execução da prática, segundo a Participante 7: “Quando eu pratiquei, eu senti um, dá um efeito depois meio que um cansaço mental e até físico”.

Dores, sensações e parestesias atrapalham a concentração para a meditação. A Participante 1: “Uma dor muito forte no peito”. O Participante 6: Um formigamento no pé mas só quando eu ia saindo”.

A maioria dos participantes nas primeiras sessões afirmaram apresentar dificuldade de concentrar-se devido às distrações, como cita o Participante 2: “Eu acho um pouco difícil de me concentrar”.

Alguns adolescentes relataram estranhamento com a atividade meditativa, como fala o Participante 5: “A meditação é uma coisa estranha para mim”. Já na última sessão a opinião do Participante 5 mudou bastante: “A meditação para mim é uma experiência incrível, eu consegui me conhecer melhor (…)”

Impressões sobre experiência

Muitos relatos demonstraram que os participantes estavam muito satisfeitos com a prática, o Participante 11 trouxe: “A meditação é uma coisa que eu não acreditava fazer tanta diferença antes. Porém agora eu acho algo bem fascinante”.

Além disso, muitos adolescentes falaram sobre seu entendimento sobre a meditação, a Participante 13: “A meditação deve ser tratada como uma área da saúde, na área da saúde mental e deveria ter mais nas escolas”.

Pesquisa- cuidado

É válido ressaltar também que a metodologia da pesquisa-cuidado possibilitou a criação de um vínculo terapêutico, que foi muito oportuno, inclusive relatado pela fala de alguns participantes, como responde, ao ser indagada sobre a experiência de meditação, a Participante 1: “Foi ótima em cada semana ia evoluindo e tá me ajudando muito, principalmente a pesquisadora. obrigada por tudo. sinto que mudei demais”.

É válido destacar também a diferença dos relatos sobre a experiência antes da primeira sessão e após a última sessão, por exemplo, o Participante 11 na primeira sessão afirmou: “Foi estranho, eu pensei mais nas coisas”. Me senti mais, como diz o nome da pessoa que sente mais emoção? Emotivo né, mais emotivo”. Já na última sessão o mesmo disse: “A meditação me ajudou a lidar muito mais com esses sentimentos, mesmo na aula nós não sabendo nada ou falando poucas palavras já me ajudaram a me entender melhor”.

5 DISCUSSÃO

Ao analisar os dados do questionário sobre o estado geral de saúde dos participantes, percebeu-se que a maioria são do sexo feminino (61,5%), Ribeiro, Fernandes, Carvalhal e Nascimento (2019) também demonstrou predominância de 82,06% do público feminino.

A respeito da etnia, 61,5% se reconhecem como pardo, enquanto Schuh, Cabral, Hildebrant, Cosentino e Colomé (2019) afirmam que todos os participantes se reconhecem com pele de cor branca, devido a região diferente onde foram feitos dos estudos.  Sobre o estado civil, todos solteiros, resultado semelhante de Schuh et al. (2019).

A despeito da crença, nota-se que parcela importante é evangélica (30,8%)., Reichow, Sais e Fernandes (2020) reforça a importância da religiosidade e espiritualidade para a resiliência e proteção à saúde, mas pode ser um empecilho para práticas integrativas em saúde, devido ao desconhecimento e ao preconceito religioso associado a essas práticas.

Quando indagados sobre trabalharem, apenas 3 (23,1%) participantes conciliavam trabalho e estudo, não se configurava um problema para o grupo, mas os três participantes tinham que administrar essas duas atividades.  Schuh et al. (2019) traz um dado que adolescentes que conciliam trabalho e estudo possuem 3 vezes mais chance de desenvolver estresse.

Sobre algumas informações sobre moradia, 38,5% reside com mais de 5 pessoas, o que tanto pode ser uma rede de apoio, como pode ser uma sobrecarga de responsabilidade para os provedores da família. Nóbrega et al., (2020) traz que famílias numerosas podem ser consideradas fator de risco para o sofrimento psíquico e níveis sociais baixos, devido a pouca disponibilidade socioeconômica.

Foi percebido uma maior participação no estudo da turma de petróleo e gás, seguida por informática e administração. Alguns alunos de portos demonstraram interesse na temática, mas não persistiram frequentando os encontros, entrando nos critérios de exclusão do estudo.

Quanto aos dados relacionados à saúde, 76,9% afirma não ter doença ou problema de saúde, mas 84,6% relatam sentirem-se ansiosos e 15,4% tem sintomas de depressão. Ribeiro et al. (2019) traz que 51,2% dos adolescentes sentem sintomas de ansiedade em seu cotidiano, oq eu demonstra ser comum sofrimento psíquico entre adolescentes.

Quase metade da população do estudo, 46,1%, não realiza atividades de promoção à saúde. Nóbrega et al. (2020) reforça que brincar, jogar e praticar esportes é direito do adolescente e deve ser incentivado, pois é essencial para seu crescimento e desenvolvimento.

A despeito dos benefícios emocionais, alguns participantes relataram sentirem mais tranquilos e relaxados.  Ribeiro et al. (2019) relata que muitos dos participantes sentiram-se mais calmos, pois a prática os ajudou na sua percepção corporal e no comportamento pessoal e coletivo.

Ademais, foi percebido redução da ansiedade e estresse, Díaz-González et al. (2018) encontrou diminuição do estado de ansiedade no grupo que recebeu a intervenção de meditação associado ao tratamento usual. Houve também redução do estresse, segundo pontuação na escala de percepção de estresse.

Foi muito relatado também aumento do foco e concentração, resultado semelhante foi percebido por Zhang, et al. (2018), os participantes do estudo afirmaram que receberam habilidades eficazes de atenção plena para reduzir o pensamento habitual e o excesso de pensamento.

Zhang, et al. (2018) relata que após a meditação, o público conseguiu lidar com as emoções de forma pacífica e manter uma atitude amigável consigo mesmo, respeitando suas próprias habilidades sem julgamento ou competição (Zhang; Ji; Meng; Cai, 2018). Fala da Participante 13 demonstra semelhança com esse resultado.

O participante 11 relatou que a meditação o ajudou no autoconhecimento. Estudo realizado na Espanha demonstrou que intervenção meditativa ajudou os adolescentes a lidar com seus pensamentos e julgamentos a respeito de si mesmos (Díaz-González; Dueñas; Sánchez-Raya; Elvira;Vázquez, 2018).

Alguns participantes afirmaram que a prática os ajudou a lidar melhor com as situações do dia a dia. O estudo de Schuh et al. (2019) corrobora que a prática mudou a mentalidade de alguns adolescentes, a forma como ver determinadas situações, por exemplo processos avaliativos.

Quanto aos benefícios, houveram relatos de melhora do sono, pois muitos participantes sofriam com problema de insônia. Estudo realizado no Rio Grande do Sul com jovens demonstrou melhora na qualidade do sono (Schuh et al., 2019).

Alguns participantes afirmaram sentirem diminuição das dores que sentiam. Essa mesma pesquisa realizada na região sul do Brasil, traz que um dos participantes sofria com dores de enxaqueca, mas na hora da prática não sentia dor, pois naquele momento esquecia de todas as preocupações (Schuh et al., 2019).

Houve uma participante que disse sentir-se com mais energia para realizar suas atividades do quotidiano.  Buscando na literatura, encontrou-se Ziegler et al. (2019), que realizou ensaio clínico randomizado com população jovem, teve resultados indicando aumento da atenção sustentada no grupo da intervenção.

Nos momentos de partilha em grupo, principalmente, pode ser visto que existiam algumas barreiras para que os participantes realizassem a prática de meditação. Dentre elas foram citadas que a agitação atrapalhou a prática pois não conseguiam se concentrar. Trouxeram também sensações, dores e parestesias como exemplos dessas dificuldades.

Além disso, alguns adolescentes relataram que se sentiam muito cansados e às vezes nas sessões de meditação chegavam a dormir. Situação parecida encontrou Roges (2019), que traz o relato de estudante de ensino médio, afirmando ainda sentirem-se cansados, mesmo reconhecendo os benefícios da atividade, como o relaxamento.

A maioria dos adolescentes consideraram bastante difícil conseguir se concentrar, sobretudo quando não estavam no ambiente que propiciava realizar a atividade. Schuh et al. (2019) cita a dificuldade que um dos adolescentes encontrou de concentrar-se ao realizar a prática em sua casa.

Um dos estudantes disse sentir estranhamento em relação à atividade de meditação. Furlan e Kayasima (2021) trouxeram que alguns jovens se assustarem com sensações de profundo relaxamento que sentiam, pois nunca haviam vivido a experiência do estado meditativo.

Ao longo de todo o processo do estudo, foram feitos muitos comentários sobre a meditação, os adolescentes avaliaram positivamente a atividade, um exemplo de fala. Estudo realizado no Canadá cita que os jovens consideram a meditação uma prática extremamente válida, pois ajudou-os a lidarem com questões do cotidiano (Ribeiro; Fernandes; Carvalhal; Nascimento, 2019).

Outros comentários que se deve evidenciar são a respeito da importância da meditação para os participantes, falaram que é essencial uma atividade como essa acontecer nas escolas, pois auxilia nas questões de saúde mental. Ribeiro et al. (2019) demonstrou que os adolescentes solicitam ajuda e veem nas práticas integrativas uma opção válida.

6 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse estudo teve como objetivo conhecer a percepção do adolescente sobre a prática de meditação. Diante dos resultados expostos, a meditação mostrou-se como uma ferramenta no cuidado à saúde do adolescente, reconhecida por eles.

A maioria dos adolescentes afirmaram sentirem-se ansiosos, por isso a saúde mental da população em questão deve receber a devida atenção. E a meditação demonstrou ser um auxílio, sobretudo em questões relacionadas à saúde mental, como a ansiedade.

Os adolescentes demonstraram através de seus relatos que a percebem como promotora de múltiplos efeitos benéficos. Ao comparar as falas sobre a experiência antes da primeira sessão e após a última sessão, foram percebidas mudanças a respeito do conceito, importância e efeitos da meditação.

O referencial pesquisa-cuidado foi essencial pois possibilitou a criação de vínculo, tão importante para estabelecimento de confiança entre pesquisador e pesquisado. A meditação é uma prática integrativa e complementar em saúde que pode ser utilizada no ambiente escolar, a qual deve ser espaço de atuação não somente da educação como também da saúde. Com o Programa de Saúde na Escola, a Atenção Básica à Saúde tem grande contribuição nessa ação intersetorial, de importância para a integralidade na atenção à saúde do adolescente.

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1 Profissional-Residente da Escola de Saúde Pública do Ceará

2 Professor Doutor da Universidade Federal do Ceará

3 Acadêmico de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará

4 Tutor da Saúde da Família e Comunidade da Escola de Saúde Pública do Ceará

5 Professor Doutor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro

6 Mestre em Saúde da Família