CONTRIBUIÇÕES DE UM ESTILO DE VIDA ATIVO NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO MOTOR INFANTIL A PARTIR DA FASE MOTORA FUNDAMENTAL

CONTRIBUTIONS OF AN ACTIVE LIFESTYLE IN THE PROCESS OF INFANT MOTOR DEVELOPMENT FROM THE FUNDAMENTAL MOTOR PHASE

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11115966


Fabrícia Raiane Meneses Lopes1
Maryslaine Sousa Fernandes2
Leyla Regis De Meneses Sousa Carvalho3


RESUMO

Introdução: O processo do desenvolvimento motor é crucial para a maturação do indivíduo ao longo da vida, junto a isso, as práticas de atividades físicas orientadas são eficazes para cada etapa da vida tornando-os adultos ativos. Objetivo: Destacar as contribuições de um estilo de vida ativo no processo de desenvolvimento motor infantil a partir da fase motora fundamental. Métodos: Trata-se de uma revisão bibliográfica do tipo integrativa, realizadas nas bases de dados: Google acadêmico, Lilacs, Scientific Electronic Library Online (SciELO), PubMed e MEDLINE. Utilizando de forma isolada e/ou conjugada os seguintes descritores: Atividade física e habilidades motoras fundamentais; Desenvolvimento motor; Desenvolvimento motor e atividade física; Desenvolvimento motor e estilo de vida ativo; Desenvolvimento motor e habilidades motoras fundamentais; Estilo de vida ativo e habilidades motoras fundamentais; Exercício físico e habilidades motoras fundamentais. Resultados: Os dados apontaram que manter um estilo de vida ativo é essencial para o desenvolvimento de habilidades motoras fundamentais como também para o pleno desenvolvimento das etapas seguintes. Considerações: Nesta perspectiva, crianças que mantêm um estilo de vida ativo mostraram-se com desenvolvimento motor superior quando comparadas às criança sedentária. Quanto às limitações da pesquisa, necessita-se de estudos que tratem essa abordagem de forma mais específica, comparando quais dessas atividades como: danças, esportes, ginástica, jogos e lutas podem de fato contribuir para o desenvolvimento dessas habilidades. Sugere-se estudos que investiguem outras variáveis como a importância do refinamento para as etapas seguintes do desenvolvimento motor e que esses estudos possam contribuir como base de pesquisas para estudos futuros.

PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento motor. Estilo de vida. Fase motora fundamental

ABSTRACT

Introduction: The process of motor development is crucial for the maturation of the individual throughout life, along with this, the early practice of oriented physical activities are effective for each stage of life, making them active adults. Objective: To highlight the contributions of an active lifestyle in the process of child motor development from the fundamental motor phase. Methods: This is an integrative literature review, carried out in the following databases: Google Scholar, Scientific Electronic Library Online (SciELO) using the following descriptors in isolation and/or in combination: Physical activity and fundamental motor skills; Motor development; Motor development and physical activity; Motor development and active lifestyle; Motor development and fundamental motor skills; Active lifestyle and fundamental motor skills; Physical exercise and fundamental motor skills. Results: The data showed that maintaining an active lifestyle is essential for the development of fundamental motor skills as well as for the full development of the following stages. Considerations: From this perspective, children who maintain an active lifestyle have shown superior motor development when compared to sedentary children. As for the limitations of the research, there is a need for studies that treat this approach in a more specific way, comparing which of these activities such as dances, sports, gymnastics, games and fights can actually contribute to the development of these skills. Studies that investigate other variables, such as the importance of refinement for the following stages of motor development, are suggested and that these studies can contribute as a basis for research for future studies.

KEYWORDS: Motor development. Lifestyle. Fundamental motor phase

1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento humano se caracteriza por meio da capacidade de movimentar o corpo, contudo, desde a era primitiva o homem já adquiriu essas capacidades motoras em prol de sua sobrevivência, com movimentos naturais do próprio corpo, como: saltar, pular, nadar, subir em galhos dentre outros.  O homem necessitava de sua força, velocidade e resistência para sua sobrevivência e essas habilidades naturais eram fundamentais para a caça, a pesca e a luta (AGÁPITO, 2015).

O processo de desenvolvimento motor abrange diversas etapas, desde o período neonatal até a vida adulta. As fases do desenvolvimento motor incluem a fase motora reflexiva, onde as respostas automáticas do bebê são dominantes, uma segunda fase denomina-se motora rudimentar que envolve o desenvolvimento de habilidades motoras como: engatinhar e andar, que se divide em dois estágios, onde o primeiro é o estágio de inibição de reflexos e o segundo estágio chama-se pré-controle, com características restritas de movimento e a terceira fase, proposta deste estudo, fase motora fundamental, em que a criança aprimora suas habilidades motoras básicas que se caracteriza com a aquisição de vários movimentos como: correr, chutar, arremessar, receber, saltar, entre outros nela acontece a idade escolar (3 a 7 anos) é uma fase crítica onde essas habilidades são aprimoradas e aplicadas em contextos educacionais e recreativos, que forma a base da construção do acervo motor e para finalizar a quarta e última etapa a fase motora especializada, nela vai ocorrer a lapidação, isto é, o aperfeiçoamento dos movimentos fundamentais com características mais específicas e complexas (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2005).

Segundo Castro (2018) com o avanço da tecnologia nas sociedades modernas diversos benefícios foram trazidos como: conforto e facilidades no cotidiano por meio da utilização deste recurso, porém, é importante ter em mente que o uso excessivo desses dispositivos eletrônicos para crianças pode causar impactos negativos no desenvolvimento motor. A substituição de atividades lúdicas por telas no cotidiano das crianças atrasa o desenvolvimento infantil e desencadeia o sedentarismo entre as crianças.  As brincadeiras ao ar livre, como pega-pega, esconde-esconde, queimada, danças e atividades esportivas são importantes para o desenvolvimento motor e social das crianças, promovendo a interação e o hábito pela prática do exercício físico ao mesmo tempo (PAIVA; COSTA, 2015).

Silva, Fernandes e Palma (2014) reforçam que uso excessivo de telas tem resultado em todo o mundo um crescente número de obesidade infantil, efetivando também em baixos padrões de aptidão motora e sedentarismo, retratando os hábitos de vida da infância na atualidade. Um estilo de vida sedentário também pode prejudicar a eficácia do funcionamento e desempenho do organismo como um todo, trazendo limitações coordenativas e orgânicas, além de imperfeições posturais, desta forma, o uso dessas novas ferramentas é algo preocupante, pois, é possível ver que muitas crianças estão a cada dia se tornando indivíduos ansiosos, agressivos, angariando futuramente doenças de caráter psicocinéticas e consequentemente se tornando adultos com dificuldades multidimensionais (VILLELA; MIRANDA-MOREIRA, 2023)

Atualmente, é notório que houve mudanças no convívio familiar resultando em escassez de movimentos e falta de interação física entre crianças e adolescentes que passaram a utilizar a tecnologia várias horas por dia, provocando ansiedade e falta de equilíbrio (SIQUEIRA; FREIRE, 2019), desta forma, estimular as práticas motoras como brincar e ou praticar esportes entram nesse contexto como ponto importante para o desenvolvimento infantil integral (MENDONÇA, 2022).

Werner, Willians e Hall (2015) destacam a importância de aperfeiçoar essas habilidades e apresentam essas práticas motoras como alternativas de experiência dos movimentos de locomoção, estabilidade e manipulação de maneira gradual com finalidade de alcançar a segurança propiciando a realização de habilidades básicas até se chegar às habilidades mais complexas, enfatizando que a ginástica, os esportes e outras habilidades, de maneira geral, desempenham o papel para o dia a dia dos praticantes propiciando aquisição de movimentos integrados a fim de que seus corpos movimentem-se de maneira mais eficiente e segura

Nesta perspectiva, manter um estilo de vida ativo nesta fase merece uma valorização aprimorada, no qual desenvolve na criança a dimensão cognitiva, afetiva e motora, que estimulam a autoestima, autoconfiança, interação, formação de atitudes positivas, o trabalho em equipe, entre outros elementos para o desenvolvimento pleno, assim, as atividades lúdicas vivenciadas na infância e na adolescência se caracterizam como importantes colaboradores no desenvolvimento de atitudes e hábitos que podem auxiliar na escolha de um estilo de vida fisicamente ativo tanto hoje quanto futuramente na idade adulta (BASEI, 2008; GALLAHUE; DONNELLY, 2008).

Neste aspecto, um estilo de vida ativo na infância é de extrema importância no alcance de habilidades motoras, tendo em vista que o movimento ajusta informações a fim de promover a aquisição de um padrão maduro das habilidades motoras fundamentais, o estímulo no período do desenvolvimento psicomotor é essencial, no sentido de estimular níveis de atividade adequados que se tornam ferramentas indispensáveis para o desempenho das crianças principalmente na fase motora fundamental, neste contexto, o objetivo do presente estudo é destacar as contribuições de um estilo de vida ativo no processo de desenvolvimento motor infantil a partir da fase motora fundamental.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de um estudo de revisão integrativa, que é um método de revisão aberto, pois permite incluir bibliografia teórica com distintas abordagens metodológicas (quantitativa e qualitativa) (POMPEO; ROSSI; GALVÃO, 2009). 

Os métodos para elaboração de revisões integrativas prevêem seis etapas devidamente planejadas: (1) seleção e definição do tema (elaboração da questão problema); (2) busca bibliográfica (amostragem); (3) critérios para disposição dos estudos (coleta de dados); (4) ponderação dos estudos incluídos nos resultados; (5) discussão dos dados; (6) Considerações finais.  As categorização das análises (método) foram feitas por meio de análises de conteúdos segundo o método de Bardin (2011) que se configura em três fases: 1) Análise prévia; 2) catalogação dos dados coletados; 3) organização e interpretação dos resultados, nesta fase, os objetivos e os resumos proposto dos artigos serão sintetizados atendendo aos critérios de inclusão e exclusão, em seguida, os dados exigidos serão aparelhados em planilhas @Excel adotando a seqüência cronológica de cada publicação, com o desígnio de estabelecer os dados a fim de concretizar os resultados e discussão do estudo em questão (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).  

A pesquisa foi realizada nas bases de dados: Google acadêmico, Lilacs, Scientific Electronic Library Online (SciELO), PubMed e MEDLINE. Os descritores utilizados foram: Atividade física e habilidades motoras fundamentais; Desenvolvimento Motor; Desenvolvimento motor e atividade física; Desenvolvimento motor e Estilo de vida ativo; Desenvolvimento Motor e exercício físico; Desenvolvimento Motor e habilidades motoras fundamentais; Estilo de vida ativo e Habilidades motoras fundamentais; Exercício físico e habilidades motoras fundamentais.

A pesquisa foi conduzida por meio da seguinte questão norteadora: Um estilo de vida ativo de fato contribui para o processo de desenvolvimento motor das crianças na fase motora fundamental? Os estudos incluídos na revisão foram analisados de forma organizada analisando os objetivos propostos bem como critérios de inclusão e exclusão, permitindo a compreensão do conhecimento pré-existente sobre o tema investigado

Os critérios de inclusão foram somente os artigos de pesquisas nas temáticas disponíveis online na íntegra; em português com recorte temporal dos últimos 10 anos, isto é compreendido entre 2014 a 2024, publicados no Brasil, considerando os descritores acima mencionados e como critério de exclusão foram determinados todos os artigos repetidos nas bases de dados; sem resumos ou incompletos, pesquisas realizadas fora do Brasil e textos que não oferecem relação com os objetivos proposto, além de editoriais, artigos de revisão integrativa, sistemática e narrativa da literatura, monografias, dissertações, teses e livros textos e quaisquer publicações em outros idiomas das citadas nos critérios de inclusão, assim como publicações anteriores a 2014.  Foram excluídos também quaisquer descritores que não fazem parte deste constructo e que não atendam às características e a proposta desta pesquisa.

            Figura 01: Fluxograma analítico do levantamento bibliográfico.

3 RESULTADOS   

Abaixo apresenta os dados relativos à pesquisa, atendendo aos critérios de inclusão e exclusão, com a proposta fundamental de atender aos objetivos do estudo. As informações estão claramente classificadas por ordem cronológica e pelos seguintes critérios: autor, ano, título, objetivo, metodologia, resultados e considerações.

No tocante aos resultados, foram realizadas as análises dos 05 artigos selecionados de acordo com eixos temáticos, dividindo-os em categorias análogas. Os artigos elencados através do levantamento nas bases de dados estão representados no quadro 01, abaixo.

Quadro 1- Sínteses dos resultados em relação ao estilo de vida ativo no processo de desenvolvimento motor infantil a partir da fase motora fundamental.

AUTORTITULOOBJETIVOMETODOLOGIARESULTADOSCONSIDERAÇÕES
Arantes et al. (2014)    Influência da atividade psicomotora no desenvolvimento infantilAnalisar a influência da atividade psicomotora orientada (APO) sobre o crescimento e desenvolvimento de escolaresO estudo teve a participação de (n=60) crianças do sexo feminino e masculino com idade de (4,3±0,53 anos). Sendo (n=30) participantes de uma instituição com APO – atividade psicomotora orientada e (n=30) sem APO (Grupo controle – GC). Trata-se de um estudo descritivo de caráter transversal. A avaliação do crescimento foi realizada pela classificação do IMC/idade e para avaliar o desenvolvimento foi utilizada a Escala de Desenvolvimento Motor.  Os dados do crescimento sugerem que houve classificação normal para ambos os grupos (63.33%). Em relação aos dados do desenvolvimento do GC – Grupo Controle apresentou-se na classificação normal médio (56.66%) e do grupo que houve APO – atividade psicomotora orientada resultou em (33.33%) dados bastante significantes.  Os dados evidenciaram que as crianças que foram submetidas a APO – atividade psicomotora orientada apresentaram melhor desempenho psicomotor quando comparadas ao GC – Grupo Controle, porém, ambos os grupos obtiveram taxas equitativas de normalidade para o crescimento.
Nazário; Vieira (2014)O contexto esportivo no desenvolvimento motor de criançasComparar o desempenho motor de crianças engajadas em escolinhas esportivas com crianças inseridas apenas nas aulas de educação física..O estudo teve a participação (n=87) crianças com idades entre 8 e 10 anos, participantes de modalidades como: Ginástica Rítmica (n=20), Handebol (n=26), Futsal (n=16) e crianças inseridas nas aulas de Educação Física (n=25). Trata-se de um estudo descritivo. Para a obtenção dos dados foi realizado O teste TGMD-2 que verifica o desenvolvimento motor das crianças. O TGMD-2 é composto por 12 habilidades motoras fundamentais, sendo seis de locomoção e seis de manipulação de objetosOs resultados apontaram diferenças entre os grupos (p<0,001), sendo que as crianças que participavam apenas das aulas de Educação Física manifestaram menores níveis de desempenho motor, enquanto que as crianças engajadas em escolinhas esportivas desempenharam melhores habilidades motoras relacionadas às demandas do contexto esportivo.Os dados evidenciaram que a prática de esportes influencia tanto no nível de desempenho motor quanto na aquisição e desempenho das habilidades motoras considerando os parâmetros exigidos
Tiecher, Rodrigo; Toigo (2015)Comparação das habilidades motoras fundamentais de locomoção de crianças entre 6 e 8 anos praticantes e não praticantes de ballet  Comparar as habilidades motoras fundamentais de locomoção (caminhada, deslocamento lateral, galope, saltito, salto em altura e salto em distância) de crianças entre 6 e 8 anos praticantes de Educação Física escolar e aulas de Ballet extraclasse. O estudo teve a participação de (n=29) crianças do sexo feminino, com idades entre 6 e 8 anos, praticantes de ballet e educação física escolar.  Sendo praticantes de ballet (n= 20) e crianças praticantes de exercício físico somente nas aulas de Educação Física escolar (grupo escola – GE) (n=09). Trata-se de um estudo com delineamento quantitativo transversal.  A coleta de dados foi realizada de acordo com o método de análise Qualitativa do Movimento Humano. Para manter a fidedignidade das análises dos resultados, foram efetivadas de 6 a 8 observações por meio de filmagens das habilidades que foram analisadas qualitativamente a fim de identificar os estágios de desenvolvimento motor (estágios inicial, elementar ou maduro).Os resultados apontaram que não houve diferenças estatisticamente significativas (p>0,05) para nenhuma das habilidades motoras fundamentais observadas.  Os dados comprovaram que houve prevalência das crianças de ambos os grupos no estágio elementar.       Os dados evidenciaram a importância de um estilo de vida ativo para as crianças com foco no refinamento das habilidades motoras fundamentais, sempre gerenciadas por profissionais habilitados, os quais devem oportunizar práticas organizadas e estruturadas. Destaca-se também a importância do Ballet para o desenvolvimento motor das crianças, tendo em vista que, essa modalidade estimula o refinamento especialmente as habilidades motoras fundamentais.
Silva; Contenças Marques (2017)Avaliação do desenvolvimento motor em crianças praticantes e não praticantes de exercícios físicosComparar o desenvolvimento motor em crianças praticantes de exercícios físicos e não praticantesO estudo teve a participação de (n=30) crianças do sexo masculino, na faixa etária de 8 a 11 anos de idade. Foram divididas em dois grupos: praticantes (n=15) e não praticantes (n=15).   A coleta de dados foi realizada por meio do teste da Escala de Desenvolvimento Motor (EDM).Os resultados apontaram que as crianças praticantes de exercícios mostrou média de quociente motor geral (109,4), enquanto a média de quociente motor geral das crianças não praticantes foi (95,6) apontando uma diferença de (13.5%) entre praticantes e não praticantes.Os dados evidenciaram que o desenvolvimento motor das crianças praticantes de exercícios físicos e não praticantes encontrou-se dentro da normalidade, entretanto, as crianças praticantes mostraram-se com o desenvolvimento motor superior em relação aos não praticantes.
Ferreira et al, (2021)O volume de prática em ginástica artística influencia o desempenho das habilidades motoras fundamentaisInvestigar o volume de prática em ginástica artística no desempenho de habilidades motoras fundamentais.O estudo teve a participação de (n=22) ginastas com média de idade (8,9 ±1,54) foram divididas em grupo escola de esportes (n=11) e grupo equipe (n=11). A avaliação do desempenho motor foi realizada pelo Test of Gross Motor Development -(TGMD-2), composto por 12 itens, dividido em dois sub testes: habilidades locomotoras de locomoção e manipulação.Os resultados analisados apontaram desempenho superior do grupo equipe em habilidades fundamentais locomotoras, assim como o maior volume de prática em uma dada modalidade também pode influenciar positivamente o desempenho motor em habilidades fundamentais. Foi possível averiguar que não houve diferença entre os grupos nas habilidades manipulativas, que essa possível influência ocorre devido a especificidade da prática.Os dados evidenciaram que o volume de prática de ginástica artística pode beneficiar o desempenho de habilidades fundamentais locomotoras, mas não exatamente o de controle de objetos. Desta forma, sugere-se haver uma relação de similaridade quanto às categorias de habilidades praticadas na ginástica artística versus habilidades fundamentais desenvolvidas.

Fonte: autoria própria (2024)

4 DISCUSSÃO

Em relação aos resultados desta pesquisa, verificaram-se resultados significativos em relação ao estilo de vida ativo e desenvolvimento motor.

No primeiro estudo Arantes (2014) os dados do crescimento sugerem que houve classificação normal para ambos os grupos (63.33%), porém, aqueles que praticavam atividade psicomotora orientada – APO, resultou em (33.33%) dados bastante significativos quanto ao desempenho motor quando comparadas ao (Grupo controle – GC).

Diante do resultado acima se reforça a importância do professor de Educação Física na orientação dessas práticas que além e proporcionar momentos de estímulos a essas crianças, com exercícios e atividades bem planejadas e selecionadas, estimulam também o desenvolvimento harmonioso entre a cognição e motricidade (SANTOS, 2016).

Negreiro et al (2019) reforçam que as práticas motoras quando bem estimuladas e orientadas de forma integral, transformam o corpo em uma ferramenta de atuação dinâmica, ampliadas às capacidades de assimilação e compreensão dos educandos, formando uma criança com maior autonomia na forma de pensar e agir diante do seu grupo social e da sociedade em geral.

Em seguida no segundo estudo Nazário e Vieira (2014) quando compara o desempenho motor de crianças engajadas em escolinhas esportivas com crianças inseridas apenas nas aulas de educação física, os resultados sugerem que as crianças que participavam apenas das aulas de Educação Física apresentaram menores níveis de desempenho motor, enquanto que, as crianças engajadas em escolinhas esportivas manifestaram melhores desempenhos nas habilidades motoras relacionadas às demandas do contexto esportivo.

Sob esta perspectiva Silva, Silva e Arantes (2018) reforça que essa complexidade que envolve a fase motora fundamental, se mostra extremamente necessária apresentar aos alunos mais vivências motoras que os motivem e estimulem no alcance das habilidades motoras principalmente as habilidades motoras fundamentais, visto que, o estímulo à prática de exercícios deve iniciar o mais cedo possível a fim de propiciar novas experiências e descobertas, portanto, para acontecer à evolução da criança de forma integral as experiências motoras são de extrema importância, pois a privação do aproveitamento desse campo retarda e limita a eficiência perceptiva do sujeito (COSTA et al., 2016).

Autores como, Werner, Willians e Hall (2015) destacam a relevância de aprimorar estas habilidades e apresentam as práticas corporais como jogos e brincadeiras como oportunidades de vivências dos movimentos de locomoção, estabilidade e manipulação, de maneira gradual com finalidade de alcançar a segurança propiciando a realização de habilidades mais difíceis no futuro, aponta também, o esporte como meio de aquisição de movimentos importantes, para movimentar seus corpos de maneira mais eficiente e segura.

Porn e Steidel (2024) reforçam a inclusão do movimento como componente essencial neste processo, bem como recursos que estimulem a ludicidade por meio de jogos e brincadeiras, permitindo que as crianças cultivem o mundo ao seu redor, seja vivenciando, tocando e observando, dessa forma, é possível proporcionar para a criança aprendizados de forma divertida bem como o desenvolvimento contínuo de seus aspectos motores, cognitivos, emocionais e sociais, o que contribuirá para uma aprendizagem efetiva no tocante aos aspectos do desenvolvimento humano.

No terceiro estudo Tiecher, Rodrigo, Toigo (2015) reforçam, que não houve diferenças estatisticamente significantes para nenhuma das habilidades motoras fundamentais observadas.  Os dados comprovaram que houve prevalência das crianças de ambos os grupos no estágio elementar.

Os resultados acima evidenciam variabilidade no processo de desenvolvimento motor, onde crianças estão em uma mesma idade cronológica, porem não necessariamente com um teor de habilidade esperada para aquela faixa etária, Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), explicam pautados, no modelo teórico da pirâmide proposta, que esse fato ocorre porque o desenvolvimento motor é um processo descontínuo, isto é, um, processo que, embora tenha aspectos de fases e de estágios em sentido geral, ocorre de forma variável em sentido específico, essa descontinuidade é um processo “dinâmico”, isto é, não-linear,  que ocorre em um sistema auto-organizado, essa variabilidade pode ocorrer  perfeitamente em  crianças que podem está no estágio inicial em sua ação do tronco, no estágio elementar em sua ação do braço e no estágio maduro em sua ação da perna.

Vale ressaltar que cada criança possui um ritmo e tempo diferente um do outro, portanto, é necessário respeitar e compreender que cada ser é único e apresenta assimilação e compreensão diferente para cada atividade proposta, permitindo assim iniciar o seu desenvolvimento global respeitando sempre a sua individualidade (BARRETO, 2018).

No quarto estudo, a pesquisa realizada por Silva, Contenças e Marques (2017) apontaram que, o desenvolvimento motor das crianças praticantes de exercícios físicos e não praticantes encontrou-se dentro da normalidade, entretanto, as crianças praticantes mostraram-se com o desenvolvimento motor superior em relação aos não praticantes segundo a Escala de (DM) Desenvolvimento Motor.

O desenvolvimento motor é o processo de mudança no comportamento, relacionado com os fatores biológicos e ambientais tanto na postura quanto no movimento da criança (COSTA, 2020) e na infância esse processo torna-se relevante, visto que, há uma frequente mudança na aquisição de habilidades, sejam elas: reflexa, rudimentar, fundamental e especializada (GALLAHUE; OZMUN, 2005; ROMANHOLO, et al.; 2014; COSTA et al., 2018). 

E finalizando a última discussão Ferreira et al, (2021) afirma que o volume de prática de ginástica artística pode beneficiar o desempenho de habilidades fundamentais locomotoras, mas não exatamente o de controle de objetos.

Borges e Silva, (2018) reforçam que para que isso ocorra de maneira satisfatória, é importante considerar o nível de desenvolvimento que essa criança se encontra, inclusive se ela já possui alguma habilidade que possa ser aprimorada, portanto a faixa etária é um dos fatores para a seleção das atividades que a criança irá desempenhar, porem, não se pode desprezar suas experiência anteriores.

Com estes dados Santos (2016) conclui que, cabe ao professor de Educação Física proporcionar momentos de estímulos a essa criança, com exercícios e atividades bem planejadas e selecionadas, evitando a dissociação corpo e mente, pois deverá haver a compreensão de que estão intrínsecos nesse processo e devem estimular o desenvolvimento harmonioso entre a cognição e a motricidade.

5 CONSIDERAÇÕES

O desenvolvimento humano é multidimensional, o que trás uma complexidade muito ampla nesta abordagem, esta multidimensionalidade envolve além dos aspectos motores os aspectos cognitivos e afetivo-sociais, uma vez que, afeto, cognição e movimento são inseparáveis e fazem parte da condição humana em todas as suas etapas, da infância à velhice e em toda sua complexidade.

Desta forma, alerta-se para o nível de sedentarismo presente nas crianças atualmente, acarretado principalmente pela automatização trazida pela tecnologia, reprimindo a prática de exercícios físicos, brincadeiras ativas e lúdicas, neste contexto, as contribuições da prática de exercícios para o desenvolvimento psicomotor especialmente para o refinamento das habilidades motoras fundamentais, assim como prevenção do sedentarismo e promoção da saúde são extremamente relevantes, pois é uma ferramenta que auxilia nas progressões humanas cognitivas e motoras de modo que estimulam a manutenção de uma vida saudável estimulando aspectos de liderança, organização, ética, assim como, aprimoramento do condicionamento físico, resistência, percepções de espaço, ritmo e lateralidade principalmente na infância.

No tocante ao desenvolvimento das habilidades motoras das crianças, mantê-las ativas desde cedo foi apontado como fator indispensável para obtenção de habilidades motoras, sobretudo no refinamento das habilidades motoras fundamentais, além de promover um estilo de vida ativo e saudável, contribuindo nos âmbitos motor afetivo e social, tornando-as indivíduos adultos e auto-suficientes.

Em relação às limitações da pesquisa, observou-se um número considerável de estudos que tratam essa temática de forma generalizada, isto é, trata de exercícios, mas não especifica quais precisamente, necessita-se de estudos que tratem essa abordagem de forma mais específica, comparando quais dessas práticas de exercícios como: danças, esportes, ginástica, jogos e lutas podem de fato contribuir para o desenvolvimento dessas habilidades.

Para finalizar sugere-se que haja mais pesquisas voltadas para essa temática, embora os dados aqui sejam relevantes, recomenda-se que mais estudos sejam realizados, visando investigar outras variáveis como a importância do refinamento para as etapas seguintes do desenvolvimento motor e que esses estudos venham a contribuir como base de pesquisas e como referência para estudos futuros.

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1Acadêmica do Bacharelado em Educação Física pela Faculdade UNIFSA, Teresina (PI), Brasil. Email: fabricialopes223@gmail.com
2 Acadêmica do Bacharelado em Educação Física pela Faculdade UNIFSA, Teresina (PI), Brasil. Email: maryslaine200@gmail.com
3 Doutora em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília (UCB) e professora do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina (PI), Brasil. Email: leyla.regis@hotmail.com