GENDER DIVERSITY IN THE MANAGEMENT OF AGRIBUSINESS COOPERATIVES IN RIO GRANDE DO SUL/RS
REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.11062986
Mallmann, Lígia M.1
RESUMO:
No Brasil, várias classes sociais de diversos segmentos buscaram incentivar o cooperativismo, principalmente na área agroexploradora. No RS, o cooperativismo agropecuário encontrou melhor estrutura de mercado para o seu desenvolvimento. O presente artigo objetivou averiguar a diversidade de gêneros em cargos estratégicos (gerencias, liderança de equipe, diretoria, entre outros) nas cooperativas do agronegócio do RS. O método para realizar esta investigação constituiu-se em verificar a relação de cooperativas, junto ao sistema Ocergs/Sescoop/RS. Após elaborou-se um survey (google forms), que foi enviado, por e-mail, as cooperativas do agronegócio do RS. Conclui-se que existe a atuação da mulher em todos os cargos estratégicos nas cooperativas, isso demonstra a participação ativa por parte da mulher, porém com um percentual muito baixo, atualmente são 822 homens e 84 mulheres, 90,73% e 9,27% respectivamente. Isto mostra a grande diferença de gêneros, ou seja, o domínio masculino em cargos estratégicos, nas cooperativas pesquisadas. No entanto, já houve grandes conquistas das mulheres no mercado de trabalho, mas ainda tem muitas barreiras e desafios. Neste sentido, ainda há um campo a explorar e conquistar.
Palavras-chave: Cooperativismo; gestão de cooperativas; diversidade de gênero.
ABSTRACT
In Brazil, several social classes from different segments sought to encourage cooperativism, mainly in the agro-exploitative area. In RS, agricultural cooperativism found a better market structure for its development. This article aimed to investigate gender diversity in strategic positions (management, team leadership, board, among others) in agribusiness cooperatives in RS. The method to carry out this investigation consisted of verifying the list of cooperatives, together with the Ocergs/Sescoop/RS system. Afterwards, a survey was prepared (google forms), which was sent by email to the agribusiness cooperatives in RS. It is concluded that there is women’s role in all strategic positions in cooperatives, this demonstrates active participation on the part of women, but with a very low percentage, currently there are 822 men and 84 women, 90.73% and 9.27 % respectively. This shows the great gender difference, that is, male dominance in strategic positions, in the cooperatives researched. However, there have been great achievements for women in the job market, but there are still many barriers and challenges. In this sense, there is still a field to explore and conquer.
Keywords: Cooperativism; cooperative management; gender diversity.
RESUMEN
En Brasil, varias clases sociales de diferentes segmentos buscaron fomentar el cooperativismo, principalmente en el área agroexplotadora. En RS, el cooperativismo agrícola encontró una mejor estructura de mercado para su desarrollo. Este artículo tuvo como objetivo investigar la diversidad de género en puestos estratégicos (gerencia, liderazgo de equipos, directorio, entre otros) en cooperativas de agronegocios en RS. El método para realizar esta investigación consistió en verificar el listado de cooperativas, junto con el sistema Ocergs/Sescoop/RS. Posteriormente, se elaboró una encuesta (formularios de Google), que fue enviada por correo electrónico a las cooperativas de agronegocios de RS. Se concluye que existe un rol femenino en todos los puestos estratégicos en las cooperativas, esto demuestra una participación activa por parte de las mujeres, pero con un porcentaje muy bajo, actualmente hay 822 hombres y 84 mujeres, 90.73% y 9.27% respectivamente. Esto muestra la gran diferencia de género, es decir, el dominio masculino en puestos estratégicos, en las cooperativas investigadas. Sin embargo, ha habido grandes logros para las mujeres en el mercado laboral, pero aún existen muchas barreras y desafíos. En este sentido, aún queda un campo por explorar y conquistar. Palabras clave: Cooperativismo; gestión cooperativa; diversidad de género.
1. Introdução
Os movimentos cooperativistas iniciaram como uma forma de reação do proletariado aos problemas sociais e econômicos oriundos do capitalismo. No Brasil, várias classes sociais de diversos segmentos buscavam incentivar o cooperativismo, principalmente na área agroexploradora. De acordo com Bialoskorski (2001), o cooperativismo, no RS, desenvolveu-se de forma mais intensa, inicialmente, no setor primário da economia, devido às estruturas de mercado encontradas. O presente artigo objetivou averiguar a diversidade de gêneros em cargos estratégicos (gerencias, liderança de equipe, diretoria, entre outros) nas cooperativas do agronegócio do RS.
O método para realizar esta investigação constituiu-se em verificar a relação de cooperativas, junto ao sistema Ocergs/Sescoop/RS. Após elaborou-se um survey (google forms), que foi enviado, por e-mail, as cooperativas do agronegócio do RS. Na sequência, descreve-se o método utilizado na realização desta pesquisa. Para um entendimento do tema de estudo foi necessário a elaboração de uma fundamentação teórica sobre o cooperativismo agropecuário no RS, sendo que o mesmo, deve ser compreendido como um processo descontínuo, fundado na pluralidade de práticas sociais entre imigrantes alemães, italianos e outros grupos étnicos.
Para Forgiarini (2019) o cooperativismo é diferente de cooperativa, ou seja, o cooperativismo é a teoria econômica que cria a cooperativa, é possível entender que não faz sentido utilizar os pressupostos econômicos do capitalismo (multiplicar o capital investido) para a gestão de uma cooperativa. Desta forma, tornou-se necessário explicitar a gestão de cooperativa. Para criar uma cooperativa, é necessário que as pessoas interessadas estejam conscientes do que pretendem. O cooperado deve estar ciente de sua função de dono e usuário da cooperativa.
Antes da análise e discussão dos resultados, descreve-se sobre a diversidade de gênero no mercado de trabalho, pois é algo que impacta há muitos anos, a atividade profissional, principalmente para as mulheres. Por que durante muito tempo eram vistas como responsáveis pelos cuidados da família, totalmente dependentes do homem, que por vez, ficava responsável por trazer os mantimentos e dinheiro para dentro de casa. Apesar do crescimento da participação feminina nas organizações, a atuação da mulher no mercado de trabalho, ainda encontra barreiras e desafios.
1. Métodos
A diversidade de gênero nas cooperativas pode ser observada por meio de quatro aspectos: gênero do presidente, participação feminina nos órgãos de gestão (conselho de administração, conselho fiscal e diretoria executiva), perfil dos cooperados e pelo perfil dos colaboradores. Assim, para capturar essas variáveis que caracterizam a diversidade de gênero nas cooperativas, serão utilizadas duas estratégias.
A primeira estratégia está alicerçada em verificar junto ao sistema Ocergs/Sescoop/RS, o qual realiza anualmente pesquisa nas cooperativas, para obter informações de gestão, quadro associativo, dados financeiros, e perspectivas das entidades, sem identificação das mesmas. A segunda estratégia foi a utilização de um survey (google forms), investigando os seguintes campos: tempo de atuação da cooperativa, atuação no mercado (nacional e/ou internacional) em que a cooperativa opera, quadro funcional (homens e mulheres em cargo de liderança) gênero, faixa etária e escolaridade.
Inicial foi enviado o questionário, por meio de e-mail as áreas de desenvolvimento humano e social das cooperativas. No segundo momento foi realizado contato telefônico com agendamento para a aplicação do instrumento de pesquisa. A população da pesquisa foi composta pelas cooperativas do segmento do agronegócio do estado do Rio Grande do Sul, conforme Ocergs/Sescoop/RS (2022) totalizavam 95 cooperativas. O período de aplicações do questionário foi de março à novembro de 2023, sendo que houve 53 cooperativas que responderam e retornaram instrumento de pesquisa.
2. Fundamentação teórica
3.1 Cooperativismo agropecuário no Rio Grande do Sul
No Rio Grande do Sul/RS o cooperativismo deve ser entendido como um processo descontínuo, fundado na pluralidade de práticas sociais entre imigrantes alemães, italianos e outros grupos étnicos. Foi no ano 1902 que o padre jesuíta suíço Theodor Amstad trouxe a sua experiência cooperativista europeia para o Estado. De acordo com Bialoskorski (2001), o cooperativismo, no RS, desenvolveu-se de forma mais intensa, inicialmente, no setor primário da economia, devido às estruturas de mercado encontradas. Conforme Duarte (1986), a região da campanha do RS foi constituída pelas grandes fazendas de criação extensiva de gado, cujas terras foram doadas pela coroa portuguesa. A economia pecuarista sofreu com a falta da mão de obra escrava e a influência do capitalismo. As colônias agrícolas do RS foram constituídas pelos lotes de terras concedidas aos açorianos em 1742, e aos imigrantes alemães e italianos a partir de 1824.
Nas colônias agrícolas, existia a preocupação com a ocupação dos espaços vazios e a necessidade de produção de alimentos. Nesse sentido, de acordo com Schneider (1998), o cooperativismo agrícola aparece vinculado à necessidade de comercialização da produção excedente e de abastecimento dos centros urbanos. No RS a configuração social fragmentada e imensamente diversificada, seja pela emergência de grupos demandantes de múltiplos interesses e de diversas identidades, seja pela diferenciação que se apresenta nas novas formas de organização do processo produtivo das pequenas propriedades rurais, contrastando com a forma de produzir nas grandes propriedades rurais, fomenta o cooperativismo.
Nas três primeiras décadas do século XX, os imigrantes tiveram um papel de destaque no cooperativismo do RS porque tiveram a capacidade de desenvolver suas próprias soluções para as questões relativas a recursos financeiros. Tal fato, de acordo com Schneider (1998), marcou o cooperativismo de forma singular, porque se evidenciou como alternativa concreta para evitar a desagregação da vida cotidiana no universo econômico e nos valores sociais, culturais e políticos nas áreas de colonização. Conforme Bialoskorski (2001), após a crise nas 1980/90 as cooperativas remanescentes foram obrigadas a se adequar ao sistema socioeconômico vigente.
Semelhante ao que ocorria no Brasil, o RS manteve um considerável número de cooperativas, mostrando sua importância na dinâmica da vida social e econômica. De acordo com o Sescoop/RS (2022), no RS as cooperativas operam em diversas cadeias do agronegócio relacionada às atividades de agricultura, pecuária, extrativismo, pesca, agroindústria e ensino técnico de produção rural. A comercialização dos produtos das cooperativas agropecuárias influencia a fixação de preços nos mercados internos e internacionais. Para Forgiarini (2019) o cooperativismo é diferente de cooperativa, ou seja, o cooperativismo é a teoria econômica que cria a cooperativa, é possível compreender que não faz sentido utilizar os pressupostos econômicos do capitalismo (multiplicar o capital investido) para a gestão de uma cooperativa.
3.1.2 Gestão de cooperativas
Para criar uma cooperativa, é necessário que as pessoas interessadas estejam conscientes do que pretendem. O cooperado deve estar ciente de sua função de dono e usuário da cooperativa. As mesmas são constituídas por deliberação de seus cooperados fundadores em Assembleia Geral, com elaboração da ata de constituição, também chamada de “ato constitutivo”. Esta ata deve ser assinada por todos os fundadores, cujos nomes deverão constar da lista nominativa dos participantes da Assembleia Geral, com a indicação das quotas-partes de capital subscritas e integralizadas por cada cooperado (Sescoop/RS, 2022).
A Lei no 5.764/71 rege o cooperativismo, para celebrar contrato de sociedade cooperativa de pessoas, reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro. Em seu art. 4o, essa lei define que as cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas a falência, constituídas para prestar serviços aos cooperados.
A Lei nº 13.874/2019 da Liberdade Econômica, cuja finalidade é de desburocratizar as atividades econômicas e ampliar a segurança jurídica de quem abre um negócio. O registro automático criado pela Medida Provisória (MP) nº 876/2019 e regulamentada pelo Departamento Nacional de Registro Empresarial e Integração – DREI nº 81, foi ampliado para as cooperativas. Os atos de constituição de sociedades cooperativas poderão ser arquivados de forma automática, desde que os interessados optem pela adoção de instrumentos padrão de estatuto social e pela ata de Assembleia Geral de constituição previstos no Manual de Registro de Cooperativa (Anexo VI da IN DREI nº 81).
Conforme Sescoop/RS (2022), em uma cooperativa as decisões, como a eleição da diretoria, a escolha dos conselheiros e a definição de distribuição dos resultados são tomadas pela Assembleia Geral, que é o órgão soberano composto por todos os cooperados ou por representantes destes (delegados). Para a constituição, é necessário o número mínimo de 20 (vinte) pessoas, segundo o art. 6o da Lei no 5.764/71. A exceção fica para as cooperativas de Trabalho, produção de bens e serviços, que podem ser constituídas com o número mínimo de 7 (sete) pessoas, segundo o art. 6o da Lei no 12.690/12. O objeto social da cooperativa deve ser definido de forma clara e sucinta, de maneira a refletir exatamente as atividades da cooperativa, conforme constarem na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE).
Em uma cooperativa o número de conselheiros/diretores deve variar conforme o segmento de atuação, porte, complexidade das atividades, estágio do ciclo de vida da cooperativa e necessidade de criação de comitês. Conforme Gonçalves (2020), é recomendado é que o Conselho de Administração/Diretoria seja composto de, no mínimo, 5 (cinco) e, no máximo, 11 (onze) conselheiros/diretores, considerando-se sempre uma composição ímpar. Para ser eleitos, a Diretoria ou Conselho de Administração da cooperativa, os cooperados precisam estar em pleno gozo de seus direitos sociais, o que pressupõe que estejam em dia com o cumprimento dos seus deveres para com a cooperativa.
Conforme a lei no 5.764/71, uma cooperativa deve ter os seguintes cargos ocupados pelos seus cooperados: presidente; vice-presidente e conselho fiscal. Os demais cargos e funções serão ocupados por funcionários contratados segundo a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT e por prestadores de serviços. Podem ser previstos os seguintes funcionários efetivos para uma cooperativa: um secretário; um técnico administrativo; um ajudante geral e um motorista que fará as entregas dos produtos e movimentos de materiais da cooperativa. Cabe lembrar que, na cooperativa, todos são donos e que o presidente é apenas um cooperado, escolhido em assembleia para ocupar o cargo.
A gestão de uma cooperativa deve ser a mais democrática possível, devendo haver um sistema de decisões que conte com a participação de todos os cooperados. Para tanto, é fundamental que haja perfeita comunicação entre todos os cooperados. A maior responsabilidade cabe aos cooperados, que devem manter o espírito de pioneirismo, baseado na filosofia cooperativista. Os cargos de assessoria – contábil; jurídica; técnica e marketing – devem ser preenchidos por profissionais com formações específicas e registros em seus respectivos conselhos de classe. Sescoop/RS (2022).
Os cargos de assessoria podem fazer parte do quadro funcional da cooperativa ou ser contratados sem vínculo empregatício. As cooperativas, por intermédio de seus gestores, atuam em negociação (importação/exportação) no mercado global, nacional, regional e local. Sendo as cooperativas organizações não capitalistas, dentro de um sistema capitalista. As quais desenvolvem relações sociais e econômicas estáveis e duradouras como os seus cooperados e colaboradores, envolvendo a diversidade de gênero e gerando empregos, trabalho e renda.
3.2 Diversidade de gênero
A diversidade de gênero é algo que impacta há muitos anos o mercado de trabalho, principalmente para mulheres, que durante muito tempo eram vistas como responsáveis pelos cuidados da família, totalmente dependentes do homem, que por vez, ficava responsável por trazer os mantimentos e dinheiro para dentro de casa (DAL MAGRO, CARPES, VERGINI, & SILVA, 2018). Mesmo com o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho, a ocorrência do “teto de vidro”3 é uma consequência da estrutura existente na cultura social, esse termo é o inverso do ditado popular “o céu é o limite”, pelo fato de trazer o pensamento de que tudo é possível de ser alcançado, porém, este, tem o papel de limitar o crescimento das mulheres em uma instituição (KHOSLA, 2021).
A dificuldade da participação das mulheres, por meio da ocorrência do fenômeno “teto de vidro”, faz com que a utilização de cotas da participação de mulheres nos conselhos de administração seja uma alternativa para garantir a igualdade de gênero, afim de trazer a participação ativa em órgãos de administração e fiscalização das intituições (MORAES, 2018). Algo importante a se destacar é a obrigatoriedade de diversidade nos conselhos em alguns países como a Bélgica, Alemanha, França, Itália, Áustria e Portugal. Na situação de não possuir uma obrigatoriedade, alguns países como a Dinamarca, Suíça, Polônia, Eslovénia e outros, desenvolvem planos de ação, adotam outras medidas políticas ou realizam a autorregulação, a fim de garantir uma heterogeneidade nos conselhos (PEREIRA, 2018).
No Brasil, existe o Projeto de Lei n° 785 (2021, p. 1), do qual obriga uma participação de 30% de mulheres nos “conselhos de administração de companhias abertas, de empresas públicas, de sociedades de economia mista, de suas subsidiárias e controladas e outras companhias em que a União […] detenha a maioria do capital”, no entanto, é necessário aprovação em congresso para que a cobrança possa ser realizada sobre as empresas. Devido aos fatos, a pesquisa sobre a diversidade de gênero tem tido destaque no ambiente acadêmico nos últimos anos, pois, a posição de mulheres em conselhos de administração é questionada, a fim de verificar-se, com sua participação, desempenha mudanças organizacionais, se existe impacto no crescimento, se influencia positivamente em aspectos socioambientais ou em outros fatores relevantes aos seus stakeholders (KOITIRO & TOSHIRO, 2018).
Na literatura, é possível encontrar a discussão sobre a influência positiva e negativa referente a participação das mulheres no conselho de administração. A participação de mulheres em cargos de alta direção, participando de mecanismos de governança corporativa, como conselho de administração ou executivo, traz impactos positivos quando atrelada ao uso de ESG (Ambiental, Social e Governança), e quando ocupam ambos os cargos na mesma organização, os resultados são ainda melhores (CARDOSO, 2021). Estudos indicam que a presença de mulheres em um conselho de administração pode influenciar positivamente o desempenho das empresas de
capital aberto, conforme a (LAZZARETTI et al., 2019). Além disso, apesar do crescimento da participação feminina nas organizações, a atuação da mulher no mercado de trabalho, ainda encontra barreiras e desafios, sendo um ambiente característico do fenômeno do “teto de vidro”. Portanto, temos um campo a explorar, nas cooperativas.
3. Análiseediscussãodosresultados
O presente artigo objetivou averiguar a diversidade de gêneros em cargos estratégicos (gerencias, liderança de equipe, diretoria, entre outros) nas cooperativas do agronegócio do RS. Para isto, foi necessário verificar o tempo de atuação da cooperativa, atuação no mercado (nacional e/ou internacional) em que a cooperativa opera, quadro funcional (homens e mulheres em cargo de liderança) gênero, faixa etária e escolaridade.
A data de fundação das cooperativas é importante para ver o seu tempo de atuação no mercado, bem como, aspectos relevantes no decorrer do mesmo.
Figura 1: Data de fundação das cooperativas
Fonte: dados da pesquisa, 2023
A figura 1, demonstra que 28,29% das cooperativas foram fundadas nas três primeiras décadas do século XX. De acordo com Schneider (1998), a influencia dos imigrantes tiveram um papel de destaque no cooperativismo do RS, porque eles foram capacidades de desenvolver suas próprias soluções para as questões relativas a recursos financeiros. Este fato marcou o cooperativismo de forma singular, porque se evidenciou como alternativa concreta para evitar a desagregação da vida cotidiana no universo econômico e nos valores sociais, culturais e políticos nas áreas de colonização.
Outro ponto relevante da pesquisa, foi que na década de 1950/60, houve a fundação de 24,52% das cooperativas. Tal fato, evidencia que o cooperativismo foi uma alternativa perante a necessidade de comercialização da produção excedente e de abastecimento dos centros urbanos. Também o que chama a atenção é o número de cooperados na data da fundação das cooperativas, em média, entre as respondentes, foi de 16 cooperados. No ano de 2023 a média de cooperados por cooperativa, foi de 453 por cooperados.
Quando ao mercado de atuação das cooperativas do agronegócio no RS, grande parte realiza transações comerciais somente no mercado nacional.
Figura 2: Atuação das cooperativas no mercado internacional
Fonte: dados da pesquisa, 2023
Das 53 cooperativas pesquisadas, 23 cooperativas realizam exportações de seus produtos, ou seja 43,4%. Também foi questionado. Quando a cooperativa realiza transações internacionais, necessita adequar os seus produtos as normas/regras internacionais de cultura daquele país? E a resposta foi unanime de 100% precisam se aquedar as exigências dos clientes internacionais. Conforme Bialoskorski (2001), após a crise nas 1980/90 as cooperativas remanescentes foram obrigadas a se adequar ao sistema socioeconômico vigente, tanto no mercado nacionais e internacional.
Outro fato que cabe análise é a faixa etária dos respondentes da pesquisa, pois 64,20% ocupam cargos de líderes/diretores, conforme mostra a figura 4(quatro).
Figura 4: Faixa etária dos respondentes da pesquisa.
Fonte: dados da pesquisa, 2023
Entre os respondentes, as faixas etárias de 40 à 49 anos e acima de 50 anos, são de 56,60%, ou seja, não é um quadro de colaboradores jovens. Outro fato que chama atenção é o grau de instrução dos respondentes, 32,10% possui apenas o ensino médio e 39,60% o curso superior, ou seja, 71,70% não continuou se especializando sistematicamente.
No ano de 2023, a média de líderes por cooperativas era de 17 líderes/diretores totalizando 906. Este número de líderes/diretores encontra-se distribuído entre Diretoria Executiva, Conselho da Administração e Conselho Fiscal. Conforme explicitado na figura 3 (três).
Figura 3: líderes/diretores nos Conselhos das cooperativas, 2023
Fonte: dados da pesquisa, 2023
A figura 3 (três), demonstra que em todas os conselhos há a atuação da mulher em altos cargos executivos, porém com um percentual muito baixo, ou seja, menos de 20%. Este fato está sendo observado pela sociedade. E no Brasil, existe o Projeto de Lei n° 785 (2021, p. 1), do qual obriga uma participação de 30% de mulheres nos “conselhos de administração de companhias abertas, de empresas públicas, de sociedades de economia mista, de suas subsidiárias e controladas e outras companhias em que a União […] detenha a maioria do capital”.
Nas cooperativas pesquisadas, no conselho fiscal, concentra-se o mais percentual de mulheres 15,65% atuando e o menor percentual na diretoria executiva com 3,85%. Em todas as cooperativas do agronegócio pesquisadas, o número de líderes/gestores são o seguinte: 822 homens e 84 mulheres, 90,73% e 9,27% respectivamente. Isto mostra a grande diferença de gêneros, ou seja, o domínio masculino em cargos estratégicos, nas cooperativas.
4. Conclusão
O presente artigo teve como objetivo central averiguar a diversidade de gêneros em cargos estratégicos (gerencias, liderança de equipe, diretoria, entre outros) nas cooperativas do agronegócio do RS. As cooperativas foram uma alternativa econômica e social encontradas pelos imigrantes no RS, para manter vida cotidiana e seus valores sociais, culturais e políticos, nas áreas de colonização (SCHNEIDER,1998). Este fato foi evidenciado, que nas três primeiras décadas do século XX, 28,29% das cooperativas pesquisadas foram fundadas.
E nas décadas de 1950/60, houve a fundação de mais 24,52% das cooperativas. Tal fato demonstra que o cooperativismo foi a opção assertiva para realizar as negociações comerciais, escoamento da produção excedente e de abastecimento dos centros urbanos. Dentre as cooperativas pesquisadas, 52,81% foram fundadas entre os anos de 1911 a 1960, permanecendo atuando no mercado atualmente. Outro dado interessante é a faixa etária dos respondentes da pesquisa, pois 64,20% ocupam cargos de líderes/diretores e 56,60% se encontram na faixa etária acima de 40 anos. Também foi questionado sobre o grau de instruções dos respondentes da pesquisa, sendo que 32,10% possuem somente o ensino médio.
No ano de 2023, a média de líderes por cooperativas era de 17 líderes/diretores totalizando 906. Este número de líderes/diretores encontra-se distribuído entre Diretoria Executiva, Conselho da Administração e Conselho Fiscal. Existe a atuação da mulher em todos os cargos estratégicos, isso demonstra que a participação ativa por parte da mulher, porém com um percentual muito baixo, menos de 20%. As dificuldades encontradas pelas mulheres no mercado de trabalho são observadas em todo o mundo. Conforme Pereira (2018), os governos deveriam desenvolver planos de ação ou adotar outras medidas políticas, a fim de garantir uma heterogeneidade nos conselhos.
Portanto, apesar das mulheres participarem da gestão das cooperativas do agronegócio e ocuparem altos cargos executivos, ainda são a minoria. Atualmente são 822 homens e 84 mulheres, 90,73% e 9,27% respectivamente. Isto mostra a grande diferença de gêneros, ou seja, o domínio masculino em cargos estratégicos, nas cooperativas pesquisadas. No entanto, já houve grandes conquistas das mulheres no mercado de trabalho, mas ainda encontra-se barreiras e desafios, sendo um ambiente característico do fenômeno do “teto de vidro”. Neste sentido, ainda teremos um campo a explorar e conquistar.
2 As cooperativas têm seu próprio rito de dissolução e liquidação definido na lei no 5.764/71, no capítulo XI.
3 Teto de vidro – termo traduzido do inglês “glass ceiling“, é uma metáfora para representar as barreiras invisíveis que mulheres enfrentam ao tentar progredir na profissão (KHOSLA, 2021).
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1 Doutora e Mestre em Desenvolvimento Regional, Professora na área de Gestão e Finanças do Curso de Administração da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. Mentora da ITUNISC. e-mail: ligiamallmann@unisc.br. Pesquisa realizadas com recursos da FAPERGS.