CONHECIMENTO DA ENFERMAGEM SOBRE AS REAÇÕES ADVERSAS DA HEMOTRANSFUSÃO COM FOCO NA SEGURANÇA DO PACIENTE: REVISÃO INTEGRATIVA

NURSING KNOWLEDGE OF ADVERSE REACTIONS TO BLOOD TRANSFUSION WITH A FOCUS ON PATIENT SAFETY: AN INTEGRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10963194


Ilana Maria Brasil do Espirito Santo1; Clóvis Corrêa de Carvalho2; Rubenilson Luna Matos3; Luciane Resende da Silva Leonel4; Hildamar Nepomuceno da Silva5; Sueli Noleto Silva Sousa6; Rosilene da Silva Pereira7; Raquel Pereira Diniz8; Larissa Cardoso Rodrigues Pinto9; Erica Cristina dos Santos Schnaufer10; Veridiana Giselle da Rosa11; Bruno Cesar Fernandes12; Juliana Custodio Lopes13; Pamela Caroline Guimarães Gonçalves14; Erica Melina Bandeira de Rezende Costa15


RESUMO

A prática da hemotransfusão é uma parte essencial dos serviços de enfermagem, exigindo cuidados específicos para assegurar a qualidade do cuidado e, especialmente, a segurança do paciente, devido ao elevado risco de eventos adversos. O presente estudo tem como objetivo, analisar o conhecimento da enfermagem sobre as reações adversas da hemotransfusão com foco na segurança do paciente. Foi realizado uma revisão de literatura do tipo integrativa realizada nas bases de dados: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), via PubMed; Web Of Science (WOS); Index To Nursing And Allied Health Literature (CINAHAL); Literatura Latino- Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Base de Dados em Enfermagem (BDENF) via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Através dos descritores e por intermédio de operadores booleanos AND, sendo: Enfermagem AND conhecimentos, atitudes e prática em saúde AND transfusão de Sangue. Foram identificadas 151 publicações após aplicados os critérios de inclusão e exclusão, 10 estudos foram incluídos para análise. Como resultado, os estudos indicam que a presença da equipe de enfermagem desempenha um papel crucial em todo o processo de hemoterapia. Suas principais responsabilidades incluem a identificação precoce de reações adversas, o fornecimento de tratamento e o gerenciamento dessas reações, além de atividades educativas em saúde. Conclui-se que é fragilidade no que diz respeito ao conhecimento sobre hemotransfusão, seus potenciais reações adversas e os procedimentos adequados a serem adotados diante dessas situações, assim sugere-se estudos futuros que investiguem o impacto de programas de capacitação e educação continuada sobre o conhecimento e a prática dos profissionais de enfermagem.

Descritores: Enfermagem. Conhecimentos, atitudes e prática em saúde. Transfusão de Sangue.

ABSTRACT

The practice of blood transfusion is an essential part of nursing services, requiring specific care to ensure the quality of care and, especially, patient safety, given the high risk of adverse events. The present study aims to analyze nursing knowledge about adverse reactions to blood transfusion with a focus on patient safety. An integrative literature review was conducted using the following databases: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) via PubMed; Web Of Science (WOS); Index To Nursing And Allied Health Literature (CINAHL); Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS); and Nursing Database (BDENF) via Virtual Health Library (VHL). Through descriptors and Boolean operators AND, namely: Nursing AND knowledge, attitudes, and practice in health AND Blood transfusion, 151 publications were identified after applying inclusion and exclusion criteria, with 10 studies included for analysis. As a result, the studies indicate that the presence of the nursing team plays a crucial role in the entire process of hemotherapy. Their main responsibilities include early identification of adverse reactions, providing treatment, managing these reactions, and conducting health education activities. It is concluded that there is a fragility regarding knowledge about blood transfusion, its potential adverse reactions, and the appropriate procedures to be adopted in these situations. Therefore, future studies are suggested to investigate the impact of training programs and continuous education on the knowledge and practice of nursing professionals.

Descriptors: Nursing. Health Knowledge, Attitudes, Practice. Covid-19. Blood Transfusion.

1 INTRODUÇÃO

A prática da hemoterapia envolve a introdução de hemocomponentes no corpo do paciente para restaurar sua saúde, procedimento também conhecido como transfusão de sangue. Essa técnica é amplamente utilizada no Brasil, e o governo desempenha um papel crucial na garantia de sua segurança e eficácia. O governo implementou diversas medidas legais, como normas, decretos, regulamentos e resoluções da ANVISA, para padronizar e regulamentar os serviços de hemoterapia (Leite et al., 2018).

Os serviços de hemoterapia devem obedecer a diretrizes específicas para garantir a segurança e o bem-estar tanto de doadores quanto de receptores. Estas diretrizes abrangem vários aspectos, incluindo a qualificação do pessoal envolvido, a estrutura física das instalações e o sistema de gestão da qualidade. Por exemplo, o serviço deve estar sob responsabilidade técnica de profissional médico especializado em hemoterapia ou hematologia. A estrutura física deve atender a requisitos específicos para minimizar o risco de erros e garantir a boa execução das atividades, como coleta, processamento, armazenamento e distribuição de sangue (Alencar et al., 2023).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente em 2009, definindo um conjunto de seis metas internacionais com o objetivo de minimizar o risco de danos desnecessários relacionados ao cuidado em saúde. Após a implementação da aliança, o pacto mundial foi adotado no Brasil em 2013, quando o Ministério da Saúde (MS), por meio da Portaria n° 529, instituiu o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) (Ferreira et al., 2021).

Esse programa tem como meta contribuir para a melhoria da qualidade do cuidado em saúde em todas as instituições de saúde do país. Além disso, o PNSP promove e apoia a implementação de iniciativas destinadas à segurança do paciente em diversas áreas, incluindo atenção, organização e gestão dos serviços de saúde. Ele também envolve pacientes e familiares nas ações de segurança, amplia o acesso da sociedade à informação sobre o assunto e incentiva a inclusão desse tema no ensino, desde o nível médio técnico até a graduação e especialização (Lopes et al., 2020).

As atividades dos serviços de hemoterapia abrangem processos tanto pré-transfusionais quanto pós-transfusionais. No estágio pré-transfusional, o processo começa com a identificação da necessidade do componente sanguíneo, seguido pela divulgação midiática para a captação de doadores. Posteriormente, ocorrem entrevistas e exames com o doador para determinar sua aptidão, análise sanguínea, verificação da compatibilidade do material e, quando tudo está em conformidade, inicia-se a coleta, processamento, estocagem, distribuição e transfusão dos hemocomponentes e hemoderivados, além do registro e monitoramento retroativo (Vieira et al., 2021).

Os processos pós-transfusionais começam quando o receptor recebe o sangue ou componente, e incluem a avaliação de possíveis complicações, bem como a observação da melhora do paciente. De acordo com dados estatísticos do Ministério da Saúde (MS) em 2019, aproximadamente 3,2 milhões de bolsas de sangue foram coletadas, sendo que 2,95 milhões dessas foram transfundidas. Esses números indicam um alto volume de transfusões realizadas anualmente, embora nem todo o sangue doado seja totalmente utilizado (Brasil, 2020). Embora a transfusão sanguínea seja geralmente considerada um procedimento seguro, não está isenta de riscos. Portanto, é crucial que os profissionais de enfermagem compreendam os possíveis riscos associados, pois é essencial evitar impactos adversos da terapia transfusional para garantir uma assistência de alta qualidade.

Os riscos e complicações associados às transfusões de sangue podem ser classificados como imediatos ou tardios, dependendo de quando ocorrem. Riscos imediatos podem ocorrer durante ou dentro de 24 horas após o procedimento, enquanto riscos tardios podem ocorrer após este período. Alguns possíveis eventos adversos incluem reação hemolítica aguda, febre não hemolítica, reações alérgicas (leve, moderada ou grave), sobrecarga de líquidos, contaminação bacteriana, edema pulmonar não cardiogênico (TRALI), reação hipotensiva e hemólise não imune (Vieira et al., 2021).

Para minimizar esses riscos, recomenda-se a utilização de sangue de doadores compatíveis para os principais antígenos eritrocitários dos sistemas sanguíneos. Isso ocorre porque os riscos relacionados à transfusão estão geralmente associados a múltiplas reações transfusionais, tanto imediatas quanto tardias, como aloimunização, sobrecarga de ferro, reações hemolíticas, reações alérgicas e hiperviscosidade (Nascimento et al., 2023).

Considerando estes possíveis eventos adversos e a segurança na terapia transfusional, o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), mediante a Resolução n°511/2016, ressalta que é necessário e indispensável o conhecimento da equipe de enfermagem em hemoterapia, e afirma que estes profissionais poderão atuar neste campo do conhecimento, porém mediante uma capacitação profissional e assim os enfermeiros coordenadores devem ser especialistas na área. É de competência privativa do enfermeiro os cuidados de maior complexidade técnica e científica, além do planejamento, execução, coordenação, supervisão e avaliação de procedimentos que envolvem a hemoterapia nas unidades de saúde (Lopes et al., 2020).

O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), por meio da Resolução nº 511/2016, destaca a importância do conhecimento da equipe de enfermagem em hemoterapia para garantir a segurança na terapia transfusional. A resolução enfatiza que os profissionais de enfermagem podem atuar nesse campo, desde que recebam uma capacitação profissional adequada. Além disso, ressaltamos que os enfermeiros coordenadores devem ser especialistas na área. É de responsabilidade exclusiva do enfermeiro a prestação de cuidados de alta complexidade técnica e científica, bem como o planejamento, execução, coordenação, supervisão e avaliação dos procedimentos relacionados à hemoterapia nas unidades de saúde (Alencar et al., 2023).

Desta forma, o presente estudo tem como objetivo, analisar o conhecimento da enfermagem sobre as reações adversas da hemotransfusão com foco na segurança do paciente.

2 MÉTODO

Este estudo adota uma abordagem de revisão integrativa, conforme as diretrizes estabelecidas no protocolo Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) (Moher et al., 2009). Para tal, foram seguidas as etapas delineadas por Mendes, Silveira e Galvão (2008), as quais englobam: formulação da pergunta de pesquisa, busca e seleção dos estudos a serem incorporados na revisão, definição das características dos estudos, avaliação crítica para inclusão dos estudos, interpretação e discussão dos resultados, além de apresentação da revisão de maneira coesa e compreensível.

Para elaboração da pergunta de partida da pesquisa foi utilizada a estratégia PICo (P: Paciente, problema ou população; I: fenômeno de interesse; Co: Contexto) (Karino; Feli, 2012), onde paciente, problema ou população (P): enfermagem; fenômeno de interesse (I): conhecimento; Contexto (Co): Transfusão de Sangue. Contribuindo para construção dos seguintes termos: (P) – enfermagem; (I) – conhecimentos, atitudes e prática em saúde; (Co) Transfusão de Sangue. Resultando na seguinte questão: Quais os conhecimentos da enfermagem sobre o processo de hemotransfusão ?

A busca dos estudos foi realizada nos dias 6 de abrilde 2024, nas bases de dados: Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), via PubMed; Web Of Science (WOS); Literatura Latino- Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados em Enfermagem (BDENF) via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Index To Nursing And Allied Health Literature (Cinahal).

De início, para busca dos estudos foi utilizado como estratégia à combinação de descritores controlados (indexados nas bases de dados respectivas) e não controlados. Os descritores controlados foram selecionados por meio dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e Medical Subject Headings (MeSH Terms). De modo a ampliar a estratégia de busca, realizou-se a combinação dos descritores controlados e não controlados, por intermédio de operadores booleanos AND, sendo: Enfermagem AND conhecimentos, atitudes e prática em saúde AND transfusão de Sangue.

Na fase inicial, os títulos e resumos foram identificados e avaliados independentemente por dois revisores para selecionar aqueles que atendiam aos critérios de elegibilidade. Os artigos potencialmente relevantes foram selecionados através da revisão dos títulos e resumos. Se os resumos fornecessem dados suficientes ou não estivessem disponíveis, o artigo completo era recuperado e examinado para determinar se preenchia os critérios de inclusão. Discordâncias foram resolvidas por meio de discussão com um terceiro revisor. Para otimizar a seleção dos estudos, utilizou-se o software bibliográfico EndNote, que facilitou a organização e gestão das referências, assegurando uma pesquisa sistemática e abrangente.

Na etapa seguinte desta revisão, após a leitura completa de todos os estudos incluídos, foi realizada a extração de dados por meio de um instrumento adaptado, buscando informações sobre os autores, período, ano de publicação, país, base de dados, método, tamanho da amostra e instrumentos utilizados na coleta de dados, bem como as conclusões dos estudos.

O processo de extração de dados foi conduzido por dois pesquisadores utilizando o programa Microsoft Word®, com o objetivo de sintetizar as informações dos estudos incluídos na revisão. A avaliação da qualidade dos estudos primários foi realizada utilizando dois instrumentos considerados mais apropriados para os desenhos metodológicos dos estudos incluídos nesta revisão integrativa. Para avaliar a qualidade dos estudos qualitativos, foi utilizado o Critical Appraisal Skills Programme (CASP) (CAPS, 2018). Além disso, a escala Methodological Index for Non-randomized Studies (MINORS) foi empregada para avaliar os estudos não randomizados. Esta escala é composta por 12 itens, cada um pontuado de zero a dois, e foi adaptada por Slim et al. (2003).

Foram identificadas 151 publicações. Na primeira análise, 80 foram excluídos por estarem duplicados, restando 71, onde 15 foram excluídos pois não estavam disponíveis, 2 por ser dissertação ou tese e 35 por serem revisões, sendo 19 incluídos para leitura completa, sendo que 9 foram excluídos pois estavam foram da temática, restando 10 estudos incluídos. A Figura 1 representa o fluxograma do processo de busca, de acordo com o PRISMA,

Figura 1: Fluxograma do processo de identificação de referências, conforme recomendação do PRISMA. 2024

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os estudos incluídos para síntese qualitativa após o processo de leitura na íntegra estavam publicados entre os anos de 2015 e 2023. A distribuição dos anos de publicação dos artigos apresenta uma tendência dominante em 2021, com 40% dos artigos incluídos no estudo sendo publicados neste ano. Os anos de 2017 e 2019 têm uma representação igual, cada um contribuindo com 20% dos artigos, enquanto os anos de 2015, 2022 e 2023 possuem uma representação individual de 10% cada. Esta distribuição sugere uma concentração significativa de publicações em 2021, com um padrão mais uniforme observado nos outros anos analisados (Quadro 1).

Sendo que a maioria dos estudos incluídos nesta revisão foi recuperada em diferentes bases de dados, refletindo uma ampla busca na literatura. A distribuição dos artigos de acordo com as bases de dados de indexação revela uma predominância significativa de artigos indexados na Medline, totalizando 60% do conjunto de dados analisados. A BDENF e a LILACS apresentam uma representação menor, contribuindo com 20% e 10% dos artigos, respectivamente (Quadro 1).

Em relação à distribuição por país, observa-se uma diversidade geográfica dos estudos incluídos. O Brasil se destaca como o país com a maior representatividade, contribuindo com 40% dos artigos. Isso pode refletir a importância atribuída à pesquisa em enfermagem no Brasil, bem como questões específicas relacionadas à transfusão sanguínea nesse contexto. Além disso, os Estados Unidos, Irã, Japão, Gana, Índia e Canadá estão igualmente representados, indicando um interesse global na temática (Quadro 1).

Quadro 1: Caracterização dos artigos, 2024 (N=10).

TÍTULOAUTORIABASEANOPAÍSREVISTA
1Fatores associados ao conhecimento da equipe de enfermagem de um hospital universitário sobre transfusão sanguíneaTavares et al.Medline2015BrasilRev. Latino-Am. Enfermagem
2Desafios da enfermagem diante das reações transfusionaisSilva et al.BDENF2017BrasilRev. enferm. UERJ
3Saberes do enfermeiro para o cuidado no processo transfusional em recém-nascidosCherem et al.LILACS2017BrasilRevista Gaúcha de Enfermagem
4Educação permanente de equipe de enfermagem em reação transfusionalNazário et al.BDENF2019BrasilRev. enferm. UFPE on line
5Conhecimento sobre transfusão de sangue entre enfermeirosEncan et al.Medline2019Estados UnidosRevista de Educação Continuada em Enfermagem
6Avaliação do conhecimento sobre transfusão de sangue em enfermeiras iranianas de hospitais de TeerãYami et al.Medline2021IrãoMedicina Transfusional
7Uma pesquisa com enfermeiros para avaliar a prática transfusional à beira do leito por meio de sistema de identificação eletrônica: experiência em hospital universitárioNakamura et al.Medline2021JapãoMedicina Transfusional
8Práticas seguras de transfusão de sangue entre enfermeiros em um importante centro de referência em GanaBediako et al.Medline2021GanaAvanços em Hematologia
9Um estudo intervencionista prospectivo para avaliar o impacto de um ‘treinamento compacto estruturado’ no conhecimento e nas habilidades de práticas seguras de transfusão de sangue entre enfermeiros que trabalham em um instituto de cuidados terciáriosMalhotra et al.Medline2022ÌndiaMedicina Transfusional
10Compreendendo as práticas de enfermagem e as perspectivas da notificação de reações transfusionaisMiao et al.Medline2023CanadáRevista de Enfermagem Clínica
FONTE: Autores

Os estudos incluídos variam em seus desenhos metodológicos, abrangendo desde estudos observacionais transversais até estudos descritivos qualitativos. Essa diversidade metodológica permite uma compreensão abrangente das questões relacionadas ao conhecimento e práticas de enfermagem em transfusão sanguínea. Os estudos quantitativos fornecem informações objetivas sobre a prevalência de conhecimento e práticas deficientes, enquanto os estudos qualitativos exploram as percepções e experiências dos enfermeiros no contexto da transfusão sanguínea (Quadro 2).

O tamanho da amostra varia consideravelmente entre os estudos, indo de 15 a 1006 profissionais de enfermagem. Amostras maiores tendem a fornecer resultados mais representativos e generalizáveis, enquanto amostras menores podem oferecer informações mais detalhados sobre questões específicas (Quadro 2).

A análise da qualidade metodológica dos estudos revela uma variação na pontuação atribuída a cada pesquisa. Dos dez estudos examinados, a maioria demonstrou uma qualidade metodológica razoavelmente boa, com cinco estudos alcançando uma pontuação de 80%, o que sugere uma alta qualidade metodológica (Quadro 2).

Quadro 2: Análise de conteúdo dos artigos.2024 (N=10).

MÉTODOQUALIDADE METODOLÓGICAAMOSTRACONCLUSÃO
1Estudo observacional, transversal e quantitativo8209 profissionais de enfermagemA média geral de conhecimento foi de 52,66%; na Etapa Pré-transfusional correspondeu a 53,38%; na Etapa Transfusional 51,25% e, na Etapa Pós-transfusional, 62,68%. Os fatores relacionados ao conhecimento foram categoria profissional e receberam treinamento e/ou orientação para realizar o processo transfusional (p<0,01).
2Estudo descritivo com abordagem quantitativa,895 profissionais de enfermagemEntre os entrevistados, 93% foram mulheres, 80% com tempo de formação superior a 10 anos, das quais 49% nunca monitoraram transfusões de hemocomponentes ou hemoderivados. Verificou-se que 59% desconhecem o tempo máximo para a infusão do concentrado de hemácias e 76% não sabiam o tempo mínimo para realizar essa infusão. Quanto às reações adversas, 65% afirmaram saber identificá-las e 19% não souberam a conduta que deviam adotar diante de reações transfusionais.
3Estudo descritivo, exploratório, qualitativo715 profissionais de enfermagemOs enfermeiros possuem conhecimento do processo, mas não executam passos importantes, conforme a legislação, tais como: a não conferência de todos os dados contidos no rótulo da bolsa de sangue, os sinais e sintomas diante uma suspeita de reação transfusional, as condutas frente a cada reação, bem como o preenchimento da FIT.
4Estudo qualiquantitativo e explicativo,737 profissionais de enfermagemMostrou-se, pelo desempenho dos profissionais entre as avaliações do pré e do pós-teste, que o treinamento em reação transfusional se deu de maneira satisfatória, pois, de acordo com o teste estatístico utilizado, a HA das médias dos grupos serem significativamente diferentes foi aceita, sendo que o teste atingiu 82% da equipe de Enfermagem do hospital.
5Estudo descritivo transversal7171 profissionais de enfermagemOs enfermeiros necessitam de formação em serviço para melhorar o seu conhecimento sobre práticas seguras de transfusão de sangue, especificamente porque os conjuntos de transfusão de sangue são a causa mais frequente de reações à transfusão de sangue e de reações adversas associadas à transfusão de sangue.
6Estudo descritivo com abordagem quantitativa,8325 profissionais de enfermagemA maioria dos enfermeiros não possuía conhecimento em atividades pré-transfusionais. A análise também revelou que houve uma correlação significativa entre a pontuação de conhecimento e o grau acadêmico.
7Estudo descritivo transversal71006 profissionais de enfermagemA maioria dos enfermeiros (>90%) realizou a verificação do paciente por duas pessoas e a assinatura do rótulo por duas pessoas no momento da coleta das amostras de sangue. A maioria dos enfermeiros (>90%) realizou a administração de sangue a duas pessoas envolvendo uma dupla médico-enfermeiro e verificação pré-transfusional eletrônica usando um EIS antes da administração de sangue.
8Estudo descritivo com abordagem quantitativa8279 profissionais de enfermagemA pontuação média obtida em todas as quatro categorias de conhecimento sobre transfusão de sangue avaliadas foi 29, com 54% dos entrevistados pontuando abaixo da média. A pontuação geral mais alta em conhecimento foi de 53%. Isto indica que os enfermeiros tinham poucos conhecimentos sobre práticas seguras de transfusão de sangue, conforme estipulado nas directrizes clínicas para transfusão de sangue do Serviço Nacional de Sangue do Gana.
9Estudo descritivo com abordagem quantitativa8200 profissionais de enfermagemApós um mês de intervenção (fase I), os escores de conhecimento nos domínios A, B, C, D e E aumentaram significativamente no grupo de intervenção. Na fase II, após três meses de treinamento, houve melhorias significativas nos escores para todos os domínios, com exceção do domínio E, em comparação com o início do estudo.
10Estudo qualitativo descritivo725 profissionais de enfermagemO estudo revelou que as práticas de enfermagem de notificação de reações adversas relacionadas à transfusão não estão padronizadas para atender às diretrizes institucionais de notificação. Existe subnotificação de reações febris nesta instituição. Os principais conceitos descobertos incluíram os factores que afectam as práticas de notificação de transfusões dos enfermeiros, bem como as barreiras e facilitadores à notificação de transfusões.
FONTE: Autores

A análise do conhecimento da enfermagem sobre reações adversas da hemotransfusão, com foco na segurança do paciente, revela uma série de descobertas significativas. Iniciando a discussão, Tavares et al. (2015) enfatizam que fatores como treinamento e orientação são cruciais para influenciar positivamente o conhecimento dos profissionais sobre o processo transfusional, ressaltando a importância de intervenções educativas para garantir práticas seguras e minimizar riscos para o paciente.

Seguindo essa linha de raciocínio, Silva et al. (2017) destacam lacunas importantes no conhecimento dos enfermeiros, especialmente em relação aos tempos de infusão e ao manejo de reações adversas. Esses achados sublinham a necessidade urgente de programas educacionais contínuos para melhorar a competência dos profissionais e garantir a segurança do paciente durante o processo transfusional.

No entanto, Cherem et al. (2017) trazem à tona a questão da aplicação prática do conhecimento teórico, evidenciando discrepâncias entre o conhecimento dos enfermeiros e sua execução de passos cruciais, como a identificação de sinais de reação transfusional e o preenchimento adequado de formulários. Essa desconexão destaca a importância não apenas do conhecimento, mas também da aplicação efetiva desse conhecimento na prática clínica.

Por outro lado, Nazário et al. (2019) oferecem uma visão positiva ao demonstrarem que o treinamento em reação transfusional pode ser eficaz em melhorar o desempenho dos profissionais, reforçando a ideia de que investir em capacitação pode ser uma estratégia eficaz para aprimorar a segurança do paciente durante a hemotransfusão.

Encan et al. (2019) ressaltam a urgência de formação em serviço para melhorar o conhecimento dos enfermeiros sobre práticas seguras de transfusão de sangue, destacando a necessidade de uma abordagem contínua e abrangente para garantir a competência dos profissionais nesse aspecto crucial da assistência à saúde.

Para Yami et al. (2021) para garantir a segurança e eficácia das ações de enfermagem durante a hemotransfusão, é imprescindível que os profissionais possuam conhecimento técnico sólido, sejam capacitados e se mantenham atualizados constantemente. Segundo Bediako et al. (2021) um aspecto crucial é o estímulo contínuo ao aprendizado no âmbito da hemoterapia, até que toda a equipe de enfermagem demonstre total engajamento e confiança em suas responsabilidades relacionadas às unidades de hemocomponentes.

Nesse sentido, Nakamura et al. (2021) esses esforços são essenciais para minimizar possíveis danos aos pacientes. Além disso, incluem ações como a correta identificação do paciente e dos hemoderivados, monitoramento contínuo do paciente durante todo o processo transfusional para detectar precocemente quaisquer reações adversas e conhecimento adequado sobre o manuseio dos hemoderivados, a fim de evitar seu descarte indevido.

Para Tavares et al. (2015) na esfera da hemoterapia e hematologia, o papel do profissional de enfermagem é essencial para assegurar a promoção da saúde e a segurança tanto do doador quanto do receptor. Nesse contexto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estipula diretrizes específicas para os procedimentos de hemotransfusão, os quais devem ser rigorosamente observados pelos enfermeiros durante sua execução. Entre os protocolos estabelecidos, destaca-se a interrupção imediata da hemotransfusão diante de qualquer manifestação de reação adversa. Além disso, é fundamental garantir a permeabilidade do acesso por meio da administração de solução fisiológica a 0,9%. A verificação cuidadosa da identificação dos hemoderivados a serem transfundidos também é imprescindível para evitar erros de administração.

Nesse sentido, segundo Silva et al. (2017) o monitoramento constante dos sinais vitais e do estado cardiorrespiratório do paciente é uma prática essencial durante todo o procedimento. Caso ocorra qualquer sinal de reação, é imperativo comunicar imediatamente a equipe de saúde para avaliação e intervenção adequadas. Em situações em que seja necessário estabelecer um novo acesso, o enfermeiro deve realizar a punção de forma precisa e cuidadosa.

As conclusões de Malhotra et al. (2022) corroboram essas descobertas ao demonstrarem que intervenções educacionais estruturadas podem resultar em melhorias significativas nos escores de conhecimento dos enfermeiros sobre reações adversas da hemotransfusão, enfatizando a importância de programas educacionais contínuos e bem planejados para garantir a segurança do paciente. Já Miao et al. (2023) destacam desafios persistentes na padronização e notificação de reações adversas relacionadas à transfusão por parte dos enfermeiros, sublinhando a necessidade de políticas claras e diretrizes institucionais para promover uma abordagem consistente e segura no manejo de reações transfusionais.

4 CONCLUSÃO

Diante da análise sobre o conhecimento da enfermagem sobre as reações adversas da hemotransfusão com foco na segurança do paciente, fica evidente a fragilidade no que diz respeito ao conhecimento sobre hemotransfusão, seus potenciais reações adversas e os procedimentos adequados a serem adotados diante dessas situações. Essa lacuna é observada especialmente entre profissionais que realizam o procedimento sem especialização específica nessa área. Essa falta de conhecimento pode acarretar em consequências negativas para a segurança e o bem-estar dos pacientes. É essencial que todos os profissionais envolvidos na hemotransfusão, mesmo que não especializados, estejam devidamente capacitados e atualizados sobre os protocolos de segurança, identificação de reações adversas e as ações de enfermagem necessárias em cada contexto.

Os estudos indicam que a presença da equipe de enfermagem desempenha um papel crucial em todo o processo de hemoterapia. Suas principais responsabilidades incluem a identificação precoce de reações adversas, o fornecimento de tratamento e o gerenciamento dessas reações, além de atividades educativas em saúde. Destaca-se que a educação contínua é fundamental para garantir um cuidado eficaz, proporcionando conhecimento à equipe de enfermagem. No entanto, constata-se que essa área ainda apresenta deficiências com base nas pesquisas analisadas.

Sugere-se estudos futuros que investiguem o impacto de programas de capacitação e educação continuada sobre o conhecimento e a prática dos profissionais de enfermagem em relação à hemotransfusão.

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YAMI, Amir et al. Assessment the knowledge of blood transfusion in Iranian nurses of Tehran’s hospitals. Transfusion Medicine, v. 31, n. 6, p. 459-466, 2021.


1Enfermeira Assistencial- HU UFGD/EBSERH. Mestra em Ciências e Saúde-CCS / UFPI. Email: Ilanabrasy76l@gmail.com .

2Médico Oftalmologista do HUUFPI/EBSERH. Email: ccc1983@gmail.com

3Mestre em Promoção de Saude, Desenvolvimento Humano E Sociedade/ULBRA. Email: rubenilsonluna@hotmail.com

4Enfermeira Assistencial do HUUFPI/ EBSERH. Especialista em UTI- UNIPÓS. Email: lucianeresendelinda@gmail.com

5Enfermeira Assistencial HUUFPI/EBSERH. Email: hildamarsilva@yahoo.com.br

6Enfermeira Assistencial HUUFPI/EBSERH. Email: suelinoleto@hotmail.com

7Enfermeira Assistencial HUUFPI/EBSERH. Email: rosilenesilva.pereira@hotmail.com

8Enfermeira Assistencial HUUFPI/EBSERH. Email: raquelpereiradiniz@gmail.com

9Enfermeiro Assistencial do HU UFPI/EBSERH. Email: Larissa.crp@outlook.com

10Enfermeira Assistencial do HU UFGD/EBSERH. Email: ericasschnaufer@hotmail.com

11Enfermeira Especialista em Urgência e Emergência/Faculdade Cristo Redentor. Email: cassavaraveri@gmaill.com

12Enfermeiro Assistencial HU UFGD/EBSERH. Mestre em Ensino em Saúde UEMS. Email: brunoanaisafernandes@gmail.com

13Enfermeira Assistencial do HUGD/EBSERH. Email: lopes.enf.juliana@gmail.com

14Enfermeira Assistencial HUUFPI/EBSERH. Email: pamggoncalves@gmail.com

15Enfermeira Assistencial do HU UFPI/EBSERH. Email: ericambrc@hotmail.com