PERCEPÇÕES REFLEXIVAS SOBRE A PRESENÇA DE PROFESSORES NA EDUCAÇÃO INTANTIL: DESAFIOS E PERSPECTIVAS

REFLECTIVE PERCEPTIONS ON THE PRESENCE OF TEACHERS IN EARLY CHILDHOOD EDUCATION: CHALLENGES AND PERSPECTIVES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10806582


Orientador: Prof. José Esaú Fernandes da Silva*
Orientadora: Prof. Wégila Eugênia Borges da Silva**
Auanni Sousa de Oliveira
Vanessa Silva de Araújo
Aurélio Rodrigues de Oliveira
Amanda de Lima Oliveira Bernardo
Agnaldo Bernardo dos Santos Júnior
Leidyane Hermínio de Souza
Roseane Maria de Oliveira Paiva
José Jaciel Gonçalo de Lima


RESUMO

Este trabalho tem como foco refletir sobre as percepções reflexivas sobre a presença de professores na Educação Infantil, explorando os desafios e perspectivas relacionados a esse tema. A pesquisa busca analisar a presença masculina no magistério da Educação Infantil, seus desafios e perspectivas, refletindo sobre como essa presença pode influenciar a qualidade do ensino e o desenvolvimento das crianças. Isto porque temos como hipótese refletir acerca da importância da presença de professores na educação de crianças pequenas, considerando a diversidade de gênero e a construção de uma educação inclusiva e igualitária. A metodologia utilizada neste estudo é de natureza qualitativa, baseada em revisão bibliográfica e análise de conteúdo de artigos, livros e documentos relacionados ao tema. Foram considerados autores renomados como Paulo Freire, Jean Piaget, Lev Vygotsky, Carlos Brandão, Heywood e Kuhlmann, que contribuíram para a compreensão da presença de professores na Educação Infantil e para o conceito de magistério reflexivo, que discute uma educação inclusiva e igualitária. 

As principais referências utilizadas nesta pesquisa abordam a formação de professores, a importância da diversidade de gênero na Educação Infantil, a reflexão crítica sobre estereótipos de gênero e a construção social da masculinidade. Destacam-se, ainda, os trabalhos de Pimenta e Ghedin (2002), que discutem o magistério reflexivo como uma abordagem pedagógica importante para incentivar os professores a questionarem suas práticas e refletirem sobre suas concepções. Ademais, de natureza qualitativa, nosso estudo se coloca como uma pesquisa participante, cujos dados coletados partiram também da aplicação de um questionário para os sujeitos participantes. Como resultados, concluímos que a presença de professores na Educação Infantil é fundamental para promover uma educação de qualidade, sob a referência do “magistério reflexivo”, quando os professores são encorajados a desenvolver uma postura crítica e reflexiva em sua prática pedagógica, contribuindo para a construção de uma educação mais igualitária e respeitosa. No entanto, ainda existem desafios a serem enfrentados, como a desconstrução de estereótipos de gênero e a valorização da diversidade na composição do corpo docente para a Educação Infantil, o que sugere um tempo de reflexões, que contemple outras e novas perspectivas para a presença de professores em turmas de crianças pequenas.

Palavras-chave: Presença de Professores. Educação Infantil. Desafios e Perspectivas.

ABSTRACT

This paper focuses on reflective perceptions about the presence of male teachers in Early Childhood Education, exploring the challenges and perspectives related to this issue. The research seeks to analyze the male presence in Early Childhood Education teaching, its challenges and perspectives, reflecting on how this presence can influence the quality of teaching and the development of children. This is because our hypothesis is to reflect on the importance of the presence of male teachers in the education of young children, considering gender diversity and the construction of an inclusive and equal education. The methodology used in this study is qualitative in nature, based on a bibliographical review and content analysis of articles, books and documents related to the topic. Renowned authors such as Paulo Freire, Jean Piaget, Lev Vygotsky, Carlos Brandão, Heywood and Kuhlmann were considered, who contributed to understanding the presence of teachers in Early Childhood Education and to the concept of reflective teaching, which discusses inclusive and equal education. The main references used in this research deal with teacher training, the importance of gender diversity in Early Childhood Education, critical reflection on gender stereotypes and the social construction of masculinity. Also noteworthy are the works of Pimenta and Ghedin who discuss reflective teaching as an important pedagogical approach to encourage teachers to question their practices and reflect on their conceptions. In addition, our study is qualitative in nature and is based on participant research, the data collected from which was also based on the application of a questionnaire to the participants. As a result, we concluded that the presence of teachers in Early Childhood Education is fundamental to promoting quality education, under the reference of “reflective teaching”, when teachers are encouraged to develop a critical and reflective stance in their pedagogical practice, contributing to the construction of a more equal and respectful education. However, there are still challenges to be faced, such as deconstructing gender stereotypes and valuing diversity in the composition of the teaching staff for Early Childhood Education, which suggests a time for reflection, which includes other and new perspectives for the presence of teachers in classes of young children.

Keywords: Presence of teachers. Early Childhood Education. Challenges and Perspectives.

INTRODUÇÃO

A Educação Infantil se constitui como uma importante etapa na formação das crianças pequenas, isto porque na primeira fase da educação básica estão estabelecidas as bases para o seu desenvolvimento integral, conforme amplamente está divulgado na BNCC (20218). Mas, afinal, de que trata a Educação Infantil? Não é recente a discussão que, hoje, demarca a escola então chamada de “pré-escolar”.

Compete-nos ressaltar que o próprio aparecimento da pré-escola no Brasil se deu sob os embasamentos da herança dos precursores europeus que inauguraram uma tradição na forma de pensar e apresentar, o que notifica uma predominância exterior à nossa realidade quando seu campo conceitual marcadamente foi gestado em nosso país. Na Europa, as instituições para crianças pequenas surgem durante a primeira metade do século XIX, como parte de uma série de iniciativas reguladoras da vida social, que envolvem a crescente industrialização e urbanização. Historicamente, no Brasil, ao transitar da área da assistência social e do direito da mulher trabalhadora para o campo educativo, as discussões em torno da garantia do atendimento em creches e pré-escolas ganham vigor na virada da década com a inclusão da Educação Infantil no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB) (BRASIL, 2007).

Em tempo, Kuhlmann (2003) registra que a Educação Infantil no Brasil se entende como a frequência regular a um estabelecimento educativo externo à família, tratando-se do período de vida escolar que atende pedagogicamente crianças entre 0 e 5 anos de idade. Assim, a criação das escolas proporcionou uma visão ampla sobre a criança dados seus níveis de sociabilidade e aprendizagens. Logo, os processos formativos, a estruturação curricular voltada para atender as necessidades das crianças, respeitando cada nível (etapa) de aprendizagem se tornou algo essencial. E, assim, bom ainda afirmar que a escola é uma instituição de caráter essencial como a família para a formação dos indivíduos em nossa sociedade, mas significativamente de educação formal.

O Curso de Licenciatura em Pedagogia, responsável pela formação de professores e professoras para a Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental, desempenha um papel essencial na preparação desses profissionais. No entanto, a presença de professores homens nesse campo ainda é bem limitada, tendo em vista que o magistério voltado para crianças é uma profissão geralmente atribuída às mulheres. Na Educação Infantil, essa concepção é ainda mais arraigada, já que a essa etapa educativa são atribuídas características de caráter maternal, como o cuidar, o brincar etc.

Sob este aspecto, sentimos a necessidade de ampliar as discussões sobre a participação do professor na sala de aula da criança pequena e, cada vez mais, faz-se preciso despertar para reflexões sobre a docência no campo do magistério voltado para homens trabalhando com crianças pequenas. Tal perspectiva, portanto, justifica nosso interesse e motivação na construção da pesquisa ora apresentada, já que compreender o lugar da figura do docente homem na sala de aula para crianças pequenas ainda é um desafio, como destacamos no finalzinho desse texto introdutório. Ainda nessa esteira, torna-se importante discutir questões de gênero e promover uma reflexão crítica sobre a formação de professores e a diversidade de gênero na educação, contribuindo para uma educação mais inclusiva e equitativa.

Além disso, o interesse pela temática também se justifica porque um dos autores deste artigo é aluno do Curso de Licenciatura em Pedagogia e teve a experiência de estudar o curso d em uma turma predominantemente feminina, quando pode observar que as discussões sobre a presença masculina no curso foram pouco exploradas e discutidas, o que consideramos uma lacuna que gostaríamos de ajudar a minimizar através deste artigo.

Logo, temos como principais questões-problema: Quais as percepções dos professores que trabalham na Educação Infantil? Como eles se sentem mediando o processo de ensino e o desenvolvimento de crianças pequenas? Quais os principais desafios e perspectivas para seu trabalho no magistério da Educação Infantil?

Diante dessa problemática, o objetivo geral deste trabalho compreende analisar a presença masculina no magistério da Educação Infantil, seus desafios e perspectivas, refletindo sobre como essa presença pode influenciar a qualidade do ensino e o desenvolvimento das crianças. Para alcançar esse objetivo, estabelecemos os seguintes objetivos específicos: refletir sobre como os professores que atuam na educação infantil analisam o seu trabalho com crianças pequenas; identificar as percepções dos professores acerca de como as crianças reagem sob a mediação pedagógica de professores homens; verificar os desafios e as perspectivas advindas da presença do professor no magistério da Educação Infantil para a qualidade do ensino e o desenvolvimento das crianças.

Para dar conta dos objetivos supracitados, realizamos um estudo bibliográfico sobre a presença de professores na Educação Infantil a fim de melhor ancorar nossas hipóteses, por isso, utilizamos autores como Paulo Freire, Jean Piaget, Lev Vygotsky, Carlos Brandão, Heywood e Kuhlmann, que discutem temas relacionados à Educação Infantil, gênero, criança, infância, formação de professores e qualidade do ensino, bem como documentos legais que fundamentam sua regulamentação e prática no Brasil, quais sejam: LDBN (9.394/96), RCNEI (1998) e BNCC (2018). De natureza qualitativa, nosso estudo se coloca como uma pesquisa participante, cujos sujeitos envolvidos nos ajudam a refletir sobre a temática levantada sobre a presença de homens em turmas da Educação Infantil.

De fato, temos por certo que a presença de homens na Educação Infantil não apenas diversifica o ambiente educacional, mas também contribui para a desconstrução de padrões de gênero arraigados em nossa sociedade. Através de exemplos positivos e relações de afeto e cuidado, os educadores masculinos podem desempenhar um papel fundamental na formação das crianças, ajudando-as a desenvolver uma consciência crítica, respeito à diversidade e igualdade de gênero desde cedo.

Ao afirmar sobre a presença de homens em turmas de crianças pequenas, caminhamos para a construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e igualitária. Por meio dessa presença, podemos romper com estereótipos de gênero e promover uma educação que valorize a diversidade e a pluralidade de experiências. Ao reconhecermos e valorizarmos o papel dos homens nessa área, estamos contribuindo para um futuro em que as crianças tenham modelos variados de referência e possam desenvolver-se plenamente, independentemente de seu gênero. Ademais, o artigo está organizado em seções e subseções que enfatizam as discussões apresentadas e suscitam a relevância de protagonizar estudos que envolvem lugares poucos discutidos na licenciatura em Pedagogia.

PONTOS SOBRE A  EDUCAÇÃO INFANTIL E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL

Este texto, já de caráter teórico, resgata brevemente importantes pontos sobre a Educação Infantil e a formação de professores no Brasil a fim de melhor inserir o leitor na discussão empreendida. Nessa seção, portanto, buscamos refletir sobre a primeira etapa da educação básica, trazendo à luz o conceito de criança e infância; além disso, destacamos discussões sobre docência, formação docente e professores na Educação Infantil.

Reflexões sobre Educação Infantil, Criança e Infância

Ao longo dos anos, a forma como a Educação Infantil foi entendida na sociedade tem passado por mudanças significativas. No século XVII, essa etapa era frequentemente negligenciada, sendo vista apenas como um espaço de cuidado e proteção, sem a devida valorização de sua importância no processo educacional. No entanto, com o tempo, a concepção de Educação Infantil evoluiu, e hoje, é reconhecida como uma fase decisiva na formação das crianças, com ênfase na aprendizagem, no brincar, na socialização e na construção do conhecimento.

A Educação Infantil é uma etapa crucial na formação das crianças, pois é nesse momento que são construídas as bases para seu desenvolvimento cognitivo, social, emocional e motor. No Brasil, como já destacamos, a Educação Infantil é destinada a crianças de zero a cinco anos de idade, e tem como objetivo promover um ambiente educacional adequado para o cuidado, a educação e o desenvolvimento integral das crianças (BRASIL, 2010, p. 84). Nesse movimento, ao garantir a formação integral, a preparação para o exercício da cidadania, aproximamo-nos de um dos maiores princípios da educação e do ensino. A Educação Infantil desempenha, por assim dizer, um papel essencial na formação global das crianças, proporcionando experiências educativas adequadas às suas necessidades, por isso, torna-se tão importante a formação de professores para atuar nessa etapa da educação, de maneira que, a priori, seja pautada em conhecimentos teóricos e práticos específicos, que considerem as peculiaridades da infância e promovam o desenvolvimento pleno das crianças.

Nesta perspectiva, a Educação Infantil, conjuntamente com o Ensino Fundamental, é elementar na garantia do processo de formação intelectual, social e crítica dos sujeitos, portanto, de sua formação integral. A primeira, enquanto nível do ensino, em suas bases legais, há que se registrar, sob um prisma linear, que a Constituição Federal de 1988 define a responsabilidade do Estado para com a educação das crianças de 0 a 6 anos em creches e pré- escolas sendo como educação não obrigatória e compartilhada com a família (art. 280, inciso IV). A Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9.394/96) denomina a instituição educacional que atende crianças de 0 a 3 anos de Creche, e a instituição que atende crianças de 4 a 5 anos de idade de Pré-escola. De acordo com a Lei no 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, o ensino fundamental passa a ser de nove anos de duração e não mais de oito, com isso as crianças de seis anos de idade deverão entrar obrigatoriamente no ensino fundamental e não mais na pré-escola. Mas, enfim, sobre quais sujeitos estamos falando, como sujeitos partícipes da sociedade?

Inicialmente, é importante considerar a concepção de criança e infância. Por isso, é bom destacar que o conceito dado à criança e à infância não são semelhantes, isto porque não há uma criança única, ao mesmo tempo em que também não há uma única infância. É através do meio sociocultural que a infância é concebida por meio de ideias, práticas e valores de uma sociedade (HEYWOOD, 2004). Assim, durante muitos tempo, as crianças foram tratadas com certo tom de “ignorância”, tanto pela sociedade quanto pela pesquisa e produção historiográfica. Em alguns aspectos, ficaram à margem em cuidados e atenção no que se refere à qualidade de vida. Por haver desconhecimento sobre as etapas de desenvolvimento físico e cognitivo inerentes à sua idade, eram constantemente tratadas como “adultos em miniatura”. Tal conceito perdurou através dos séculos e, para uma maior compreensão, tornou-se necessário um estudo histórico sobre a infância, que foi possível com as reflexões de Ariès (1981) sobre a História Social da Infância.

De fato, a análise das relações entre sociedade, infância e escola, teve início na historiografia nacional e internacional apenas a partir do século XIX, compreendendo a criança como sujeito histórico e de direitos. Assim, de acordo com o autor, o alargamento das fontes ocorrido dentro da História Social permitiu que novos sujeitos se tornassem alvo de investigações. A partir deste momento, observa-se a necessidade de entender a criança e parte deste processo se deu através do surgimento de disciplinas como a História Social da Infância (ARIÈS, 1981).

Através da publicação do seu livro “História Social da Infância e da Família”, no século XX, mais precisamente na década de 1970, iniciaram-se as mudanças historiográficas sobre o conceito de criança. E, assim, Ariès (1981) vai alertar que o sentimento de infância que até então não existia na Idade Média, não lhe dispensando um tratamento específico, próprio à consciência infantil e as suas particularidades que a diferenciavam dos adultos, precisa ser reformulado. A partir daí concepções de infância começaram a ser pensadas por historiadores europeus e americanos e, nesse movimento, a criança passou a ser compreendida no seu contexto social e econômico a partir das faixas etárias, tornando-se essencial compreendê-la a partir das suas necessidades inerentes à idade, como um período distinto da vida, algo que, até então, não havia sido feito.

Por conseguinte, ao nos referirmos às transformações advindas do surgimento desse novo olhar sobre a criança, observa-se o quanto foi importante para seu desenvolvimento e conquistas. A criança começa a ocupar um espaço social maior e novas perspectivas passaram a surgir para atender às suas necessidades na sociedade. Nessa perspectiva, com o tempo, além de se reconhecer a criança como sujeito de história e de direitos, também foi possível diferenciar os conceitos de “criança” e de “infância”.

Entretanto, seguindo nossas reflexões, Heywood (2004) e Kuhlmann (2010) propõem algumas críticas ao estudo de Ariès. Ambos consideram ser muito simplista afirmar que numa determinada época e espaço não se tinha um sentimento de infância. Para os autores, essa expressão se configura ambígua por nos transmitir “tanto a ideia de uma consciência da infância quanto de um sentimento em relação a ela” (HEYWOOD, 2004, p. 33). De fato, a concepção de infância existe em diferentes contextos, caracterizando-se por um processo dialético de idas e vindas, avanços e retrocessos, não é uma construção linear, mas tortuosa.

O autor supracitado ainda enfatiza que fatores políticos, econômicos e sociais que já aconteceram e continuam a acontecer na sociedade prefiguram transformações no modo de conceber a infância, levando ao entendimento de diferentes tipos de infância. Pois, se considerarmos que dentro de uma sociedade as crianças vivem em diferentes contextos, é mais eficaz que busquemos diferentes concepções sobre a infância em tempos e lugares diferentes.

Por sua vez, mas na mesma direção, Kuhlmann (2010, p. 22) afirma que “o sentimento de infância não seria inexistente em tempos antigos ou na Idade Média […]”, ou seja, ele pontua a relevância do estudo sobre a história da infância de forma não linear, porém, evolutiva.

É preciso considerar a infância como uma condição da criança. O conjunto das experiências vividas por elas em diferentes lugares históricos, geográficos e sociais é muito mais do que uma representação dos adultos sobre essa fase da vida. É preciso conhecer as representações de infância e considerar as crianças concretas, localizá-las como produtoras da história (Idem ibid, p. 30).

Neste sentido, temos por certo que a inserção efetiva das crianças e seus papéis variam com as formas de organização da sociedade, independente do espaço ou do tempo. “Assim, a ideia de infância não existiu sempre da mesma maneira. Ao contrário, a noção de infância surgiu com a sociedade capitalista, urbano-industrial, na medida em que mudavam a inserção e o papel social da criança na comunidade” (KRAMER, 2006, p. 14).

Voltando aos conceitos que queremos firmar neste estudo sobre criança e infância. Por isso, de um lado, ressaltamos que esta última “é entendida como período da história de cada um, que se estende na nossa sociedade, do nascimento até aproximadamente dez anos de idade” (KRAMER, 2006, p.13). Em tempo, há que se defender, ainda, o que é específico da infância: o poder da imaginação, fantasia e criação. A criança, por outro lado, como ser humano, deve ser entendido como “[…] como cidadãs, pessoas que produzem cultura e são nela produzidas, que possuem um olhar crítico que vira pelo avesso a ordem das coisas subvertendo essa ordem” (KRAMER, 1999, p. 272).

Sob a referência desses conceitos, na próxima seção, buscamos enveredar pelos caminhos que nos direcionam sobre a docência e a formação de professores a fim de entender os indícios que nos direcionam para a reflexão do lugar da presença masculina no curso de formação de professores e turmas da Educação Infantil.

Docência e Formação de Professores: o lugar da presença masculina nos cursos de formação docente e nas turmas da Educação Infantil

Como estudamos na seção anterior, não há uma única concepção de infância, uma vez que ela é social e culturalmente construída. A partir das reflexões empreendidas até agora, torna-se evidente a importância de reconhecer a criança como sujeito de direitos, produtora de cultura e detentora de um olhar crítico, o que sem dúvida precisa ser levado em conta na formação dos professores para a Educação Infantil que, no Brasil, tem evoluído ao longo dos anos, reconhecendo a importância dessa etapa no desenvolvimento das crianças e na valorização da especificidade da infância. No entanto, ainda existem desafios a serem enfrentados no que diz respeito à formação de professores para atuar nesse campo. É necessário investir em programas de formação inicial e continuada que capacitem os educadores a compreenderem as características e necessidades das crianças em idade pré- escolar, as chamadas crianças pequenas, bem como a desenvolverem práticas pedagógicas adequadas e estimulantes.

Várias são as categorias que devem ser pautadas para a formação do docente da Educação Infantil e, quando se trata do lugar da presença masculina nos cursos de formação docente e nas turmas da Educação Infantil, o desafio ainda é maior, o que é objeto de nossas discussões nesse texto.

Uma das categorias-chave na formação de professores para a Educação Infantil é a compreensão da importância do brincar no processo educativo. O brincar é uma atividade fundamental para o desenvolvimento infantil, pois, permite às crianças explorarem o mundo, construírem conhecimentos, expressarem suas emoções e interagirem com os outros. Nesse sentido, os professores precisam ser preparados para criar ambientes lúdicos e acolhedores, que estimulem o brincar livre e criativo, proporcionando às crianças experiências significativas e enriquecedoras (ALMEIDA, 2021).

A formação de professores para a Educação Infantil deve abordar também a importância da escuta atenta e respeitosa, do diálogo e da valorização das experiências e saberes das crianças. Os educadores devem ser orientados a construir relações afetivas e de confiança com seus alunos, estabelecendo um ambiente seguro e acolhedor, no qual as crianças se sintam livres para expressarem suas ideias, sentimentos e questionamentos (BRASIL/RCNEI, 1998).

Neste contexto, por um lado, é relevante destacar a importância da pesquisa e da reflexão sobre a prática pedagógica na Educação Infantil. Os professores devem ser incentivados a investigar e a aprofundar seus conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil, as teorias de aprendizagem, as metodologias de ensino e as políticas educacionais. A formação continuada, por outro lado, é tão importante quanto a inicial, uma vez que, por meio de cursos, seminários e grupos de estudo, sua prática desempenha um papel fundamental nesse processo, possibilitando a atualização dos educadores e a troca de experiências entre eles.

Nesta direção e na via formativa de docentes para a Educação Infantil, há que se ressaltar a importância de uma perspectiva inclusiva e intercultural. Os educadores devem estar preparados para lidar com a diversidade presente nas salas de aula, respeitando as particularidades de cada criança e valorizando suas identidades culturais, étnicas, linguísticas e sociais. A formação deve fornecer subsídios para que os professores atuem de forma sensível e equitativa, promovendo a igualdade de oportunidades e o respeito à diversidade (DCNEI, 2010).

Em suma, a formação de professores para a Educação Infantil no Brasil deve ser pautada em uma compreensão ampla e atualizada sobre a infância, considerando as transformações sociais e culturais. É fundamental investir em programas de formação que preparem os educadores para atuarem de forma competente e comprometida nessa etapa da educação, proporcionando às crianças experiências educativas de qualidade, que favoreçam seu pleno desenvolvimento. Como afirma Paulo Freire (1996, p. 84), “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”. Portanto, investir na formação de professores é investir no futuro.

Em tempo, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBE), Lei n° 9.394 de 20 de dezembro de 1996, Art. 62, trata sobre a formação de docentes para que atuem na educação básica, destacando que se fará em nível superior, em curso de licenciatura plena, admitida, de formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal. (Redação dada pela lei nº 13.415, de 2017). Essa lei vem tratar sobre a formação do professor trazendo seus direitos e deveres em nossas sociedades, investindo de maneira sistemática na captação e nas atuações dos profissionais de educação.

Com efeito, as discussões que tratam sobre os impactos das reformas educacionais nas políticas públicas educacionais e, pontualmente, para a formação e profissionalização docente no Brasil podem apontar (des) caminhos para transformações urgentes e necessárias. Isto porque, em 2019, homologa-se a Resolução CNE/CP Nº 2, DE 20 DE DEZEMBRO DE 2019, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC-Formação). O referido documento legal forja o necessário atendimento aos desígnios da Base Nacional Comum Curricular – BNCC (BRASIL. MEC, 2018). Seu arcabouço enfatiza o atual modelo de regulação das políticas educacionais nacionais, circunscrito no ciclo de reformas nos sistemas educacionais de países da América Latina a partir dos anos 1990.

Hoje, o documento supracitado continua sob discussões a fim de que seja revogado e um modelo mais condizente com a realidade do país para a formação docente consiga indicar caminhos mais favoráveis para uma educação de qualidade para todos/as. Mas, e sobre a figura e o lugar da presença masculina nos cursos de formação docente e nas turmas da Educação Infantil?

No curso de Licenciatura em Pedagogia do Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias, campus III da UFPB, hoje, temos 338 (trezentos e trinta e oito) estudantes matriculados, sendo deste total, 60 (sessenta) homens, conforme dados obtidos na Secretaria do Curso (maio de 2023). Essa, ao que parece, continua sendo uma triste realidade em nosso país. Por isso, temos que levar em conta que a sociedade, em geral, ainda acha estranho a presença do gênero masculino na atuação na Educação com crianças.

São evidentes os preconceitos e estigmas originários de ideias que veem a profissão como eminentemente feminina porque lida diretamente com os cuidados corporais de meninos e meninas. […] os cuidados com o corpo foram atributos das mulheres, a proximidade entre um homem lidando com o corpo de meninos e/ou meninas de pouca idade provoca conflitos, dúvidas e questionamentos, estigmas e preconceitos (SAYÃO, 2005, p. 16).

Historicamente, no Brasil, podemos falar que, na educação, os homens tiveram um papel principal como professores, logo no início dos cursos que eram tidos como iniciais, no ano de 1835. Com o passar dos anos, eles foram mudando de trabalho e abrindo mais vagas para as mulheres e, com isso, as mulheres passaram a exercer um maior papel e presença na área. O retorno desses profissionais de volta à área tem sido muito complexo, necessitando de um olhar mais acolhedor da sociedade (ALMEIDA, 2021).

A Educação Infantil, muitas vezes, é associada aos cuidados maternos e a figura da professora representa simbolicamente a presença feminina na escola. Essa visão estereotipada e arraigada na sociedade dificulta a entrada de homens nesse campo de trabalho. Apesar de algumas pesquisas abordarem esse tema, ainda persiste um forte preconceito em relação à aceitação de professores homens em contato com crianças pequenas. Nesse contexto, a escola desempenha um papel importante na desconstrução desse preconceito histórico. A escola de Educação Infantil, juntamente com seus professores e demais membros da comunidade educativa, deve ser um espaço de reflexão e desconstrução da ideia de que esse ambiente é exclusivamente feminino e de que a presença masculina representa uma ameaça ou é incompatível com a realidade. É preciso, portanto, desconstruir tal processo, por isso, importa refletir:  

A escola da educação infantil, seus professores e todos os envolvidos na unidade escolar, na rede de ensino, é espaço para se refletir na desconstrução de que esse espaço é feminino e que a presença de um homem é ameaçadora, incompatível com a realidade: um fracassado trabalhador da indústria ou do comércio que tenta a sorte num trabalho mais ‘leve’ de olhar crianças (SILVA, 2014, p. 49).

A Educação Infantil enfrenta desafios desde seus primeiros passos. Nesse contexto, a formação de professores para atuar nessa etapa da educação básica se torna um tema relevante. A presença do professor homem na Educação Infantil merece uma atenção especial, uma vez que, historicamente, esse campo foi ocupado majoritariamente por professoras mulheres. E, nesse aspecto, a presença do professor homem na Educação Infantil pode trazer consigo uma perspectiva de diversidade de gênero, rompendo com estereótipos e preconceitos que associam exclusivamente às mulheres ao trabalho com crianças pequenas (SILVA, 2014). As reflexões acerca da presença do professor homem na Educação Infantil têm sido pautadas pelo conceito de magistério reflexivo, que defende uma postura crítica e reflexiva por parte do professor na sua prática pedagógica, sobre a qual também concordamos. Pimenta e Ghedin (2002), por exemplo, destacam a importância desse conceito, que valoriza a formação continuada do professor, a análise crítica das práticas pedagógicas, a reflexão sobre as concepções de gênero e o papel do professor na construção de uma educação mais Igualitária e inclusiva. 

Almeida (1998) ressalta que a história do magistério foi marcada por uma luta para conquistar um espaço na sociedade, onde a docência foi reconhecida como um trabalho intelectual e remunerado, possibilitando às mulheres uma inserção econômica e social adequada. Nesse sentido, a presença do professor homem na Educação Infantil pode ser compreendida como um avanço na diversificação do corpo docente, rompendo com estereótipos de gênero e contribuindo para a construção de uma educação mais inclusiva.

É importante destacar que a presença do professor homem na Educação Infantil traz consigo desafios e novas perspectivas. Por um lado, pode contribuir para a diversificação do corpo docente, rompendo com a ideia de que apenas mulheres são adequadas para trabalhar com crianças pequenas. Por outro lado, é necessário considerar a importância do olhar sensível para as especificidades do desenvolvimento infantil, o respeito à cultura da infância e a valorização das características e habilidades das crianças nessa faixa etária. A presença do professor homem na Educação Infantil traz consigo desafios e oportunidades, que devem ser pensados com sensibilidade e embasamento teórico. Com efeito e, como já anteriormente destacado, a formação de professores para atuar na Educação Infantil no Brasil tem sido objeto de discussões e ações voltadas para a qualificação desse profissional. É importante que os cursos de formação de professores abordem questões relacionadas à diversidade de gênero, à valorização da cultura da infância, à compreensão do desenvolvimento infantil, à promoção de práticas pedagógicas reflexivas e à construção de ambientes educacionais inclusivos e acolhedores para todas as crianças. Questão como vem pontuando ao longo desse texto, caras à criança e à sua infância. A presença do professor homem na escola tem sido objeto de discussão no contexto do magistério reflexivo. Nesse caso, é essencial que a formação de professores para a Educação Infantil no Brasil aborda de forma significativa as questões relacionadas à presença do professor homem, promovendo uma reflexão crítica sobre os estereótipos de gênero, a construção social da masculinidade e a importância da diversidade na composição do corpo docente. Além disso, é fundamental que os profissionais da Educação Infantil, independentemente de seu gênero, sejam preparados para compreender e respeitar as especificidades do desenvolvimento infantil, promovendo práticas pedagógicas sensíveis, inclusivas e que valorizem a cultura da infância. Enfim, o magistério reflexivo, conforme discutido por Pimenta e Ghedin (2002), pode ser uma abordagem pedagógica importante, pois incentiva os professores a questionarem suas práticas, refletirem sobre suas concepções e buscarem novos olhares e caminhos na e para a Educação Infantil.

A abordagem que trata do magistério reflexivo defende uma postura crítica e reflexiva por parte do professor em sua prática pedagógica, e tem sido cada vez mais valorizada na formação de professores, embora que legalmente nada pontue sobre tais questões, uma vez que sua inserção e reconhecimento na docência é uma questão meramente cultural. Pimenta e Ghedin têm contribuído significativamente para a discussão do tema. Segundo Pimenta, “o magistério reflexivo consiste em um processo contínuo de análise, crítica e reflexão sobre a própria prática, que busca aperfeiçoar o trabalho docente e a construção de conhecimentos” (PIMENTA, 2002, p. 25). Essa abordagem estimula os professores a questionarem suas concepções, a refletirem sobre suas práticas e a buscarem uma formação continuada que promova uma educação mais inclusiva e igualitária.

No contexto da presença do professor homem na Educação Infantil, o magistério reflexivo se mostra especialmente relevante, por assim dizer. A reflexão crítica sobre as concepções de gênero e o papel do professor na construção de uma educação mais igualitária e inclusiva é fundamental. Conforme ressaltado por Heywood e Kuhlmann (2015), é necessário que os profissionais da Educação Infantil, independentemente de seu gênero, sejam preparados para compreender e respeitar as especificidades do desenvolvimento infantil, promovendo práticas pedagógicas sensíveis, inclusivas e que valorizem a cultura da infância.

Nesse sentido, a formação de professores para a Educação Infantil no Brasil tem passado por transformações. Busca-se, cada vez mais, abordar questões relacionadas à diversidade de gênero, à valorização da cultura da infância, ao desenvolvimento infantil e à construção de práticas pedagógicas reflexivas. Essa formação deve estar voltada para a promoção de ambientes educacionais inclusivos e acolhedores para todas as crianças, independentemente de seu gênero.

Portanto, a presença do professor homem na Educação Infantil traz desafios e novas perspectivas e, nessa esteira, a abordagem do magistério reflexivo incentiva os professores a questionarem suas práticas, refletirem sobre suas concepções e buscarem uma formação continuada, cujo tema é discutido há várias décadas na área da educação. Paulo Freire, por exemplo, foi um importante educador brasileiro que enfatizava a importância da reflexão crítica na prática educativa, como apresentado em sua obra “Pedagogia da Autonomia” (1996).

Ademais, nossa discussão se mostra relevante para promover uma reflexão crítica sobre estereótipos de gênero, construção social da masculinidade e importância da diversidade na composição do corpo docente. A formação de professores deve contemplar essas discussões, contribuindo para uma Educação Infantil de qualidade, que valorize a presença do professor homem e promova uma educação mais inclusiva, igualitária e respeitosa para todas as crianças.

TRAJETOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

Este artigo assume um teor de abordagem qualitativa, como já foi destacado na introdução, sob o viés da pesquisa participante, de maneira que foi utilizada como estratégia de coleta de dados, estudos bibliográficos que nos ajudaram na fundamentação teórica do tema e a aplicação de um questionário com a participação de professores que, no primeiro momento, tentamos compreender o ponto de vista de cada indivíduo que trabalha nessa área.  

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 2011, pp. 21-22).

De caráter também participativo, enfatizamos que é necessário que o pesquisador tenha compromisso e participação com o trabalho histórico, levando em conta o projeto de luta do outro, por exemplo. Para Carlos Rodrigues Brandão (1999), há novas coerências de trabalhos que estão sendo utilizados e que permitem uma nova construção de trabalho por meios técnicos e científicos viáveis que se utilizam de materiais, como relatórios de observação mesmos não científicos, leituras de documentos, questionários e observação da vida e do trabalho, no que se refere à pesquisa participante.

Logo, com a pesquisa participante, sucedeu-se um avanço significativo e importante nos dias atuais, quando existe uma compreensão ampla que o objetivo da ciência social é produzida e explicado de maneira que se torne universal quando possível, levando em conta a pesquisa do outro possibilitando meios que sirva para explicar ou fundamentar tais teorias. O pesquisador deve levar em conta também o outro pesquisador social e a existência e as diferentes possibilidades e condições de suas práticas para a produção e fundamentação desses trabalhos e teorias.

E tudo isto por quê? Porque em todos os mundos sociais todas as instituições da vida estão interligadas de tal sorte e de tal maneira se explicam através da posição que ocupam e da função que exercem no interior da vida social total. Que somente uma apreensão pessoal e demorada de tudo possibilita a explicação científica daquela sociedade. Porque, também. O primeiro fio de lógica do pesquisador deve ser não o seu. O de sua ciência. Mas o da própria cultura que investiga, tal como a expressam os próprios sujeitos que a vivem. Estava inventada a observação participante (BRANDÃO, 1999, p. 12).

E, tendo em vista que o ponto de partida desta pesquisa decorre da reflexão sobre o lugar do professor homem na Educação Infantil, a pesquisa participante se justifica como procedimento, pois, ainda de acordo com Brandão (1999, p. 52):

[…] A pesquisa participante vai procurar auxiliar a população envolvida a identificar por si mesma os seus problemas, a realizar a análise crítica destes e a buscar as soluções adequadas. Deste modo, a seleção dos problemas a serem estudados emerge da população envolvida, que os discute com especialistas apropriados, não emergindo apenas da simples decisão dos pesquisadores.

Nossa pesquisa, neste movimento, nasce a partir da problemática observada, advinda da obrigatoriedade de uma abordagem que discute o “magistério reflexivo”, em contexto totalmente voltado para a presença da docente mulher em turmas de crianças pequenas. Surge, ainda, da participação das vivências do trabalho dos professores entrevistados. Ainda sobre a pesquisa participante, Brandão (1999, p. 171) enfatiza:

É ingênuo pensar que a pesquisa participante, por ser uma pesquisa qualitativa, não pode fazer uso em determinados momentos de instrumentos típicos de uma pesquisa quantitativa, como, por exemplo, o questionário tradicional preestabelecido. Se a pesquisa for orgânica, suas técnicas e instrumentos, quaisquer que sejam, terão uma característica orgânica, isto é, ‘para e pela comunidade’.

Além disso, o questionário constitui técnica de levantamento de dados primários, dando importância à descrição verbal dos pesquisados. O questionário é um instrumento de coleta de dados muito importante para uma pesquisa, que considera a subjetividade do pesquisador e se coloca como ponte entre o objeto e o pesquisador, conforme destaca Gil (2008, p. 140) em sua definição:

[…] como a técnica de investigação composta por um conjunto de questões que são submetidas a pessoas com o propósito de obter informações sobre conhecimentos, crenças, sentimentos, valores, interesses, expectativas, aspirações, temores, comportamento presente ou passado etc.

Construir um questionário, em sua maioria não é fácil, é preciso seguir um caminho que dê possibilidade para atingir seus objetivos, isto porque há uma série de cuidados e vantagens ao escolher essa ferramenta. Para essa pesquisa, ele foi escolhido por nos permitir atingir um maior número de pessoas e por garantir o anonimato das respostas, tendo em vista que nosso intuito não é classificar cada participante, mas, sim, suscitar o que têm a dizer sobre os desafios e perspectivas em sua atuação profissional, pontualmente, no campo da docência.

Assim, os sujeitos participantes da pesquisa foram um total de 03 (três), sendo dois do município de Dona Inês/PB, um da Escola Municipal de Ensino Fundamental Pedro Davino de Araújo, localizada na zona rural, no Sítio Lagoa do Braz e outro da Escola Municipal Dr. Flávio Ribeiro; e um do município de Belém/PB da Creche Pré-Escola, localizada na zona urbana. Usaremos um código alfanumérico para nos referirmos aos professores participantes da pesquisa quando tratarmos de resultados e discussões, em seção específica que trata da análise do estudo desenvolvido.  

QUADRO 1 – Identificação dos Sujeitos.

PROFESSORESCOLAFORMAÇÃOTEMPO DEDOCÊNCIA
P1Escola Municipal Pedro Davino de AraújoPós-graduação em Psicopedagogia, especialidade em Clínica Instrucional18 anos
P2Escola Municipal Dr. Flaviano RibeiroMagistério Normal, Graduação em Pedagogia, Pós-graduação em Psicopedagogia.30 anos
P3Creche FormozinhaCursando Pedagogia04 anos

Fonte: Dados da Pesquisa, 2023.

Para fins estratégicos de reflexão dialógica, nosso percurso metodológico supõe uma seção introdutória, depois, em seções que se articulam e tratam da temática de modo a corroborar com discussões que suscitam o lugar e o papel dos professores de turmas de Educação Infantil. Ainda, trazemos os resultados e discussões de nossos diálogos com os sujeitos participantes e, por fim, nossas considerações finais que, na feitura da pesquisa, permitiu-nos entender que é preciso discutirmos mais sobre a presença do professor homem em turmas de crianças pequenas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nesta seção, preocupamo-nos em organizar as discussões que envolvem os resultados advindos do questionário aplicado com os três sujeitos envolvidos sob o respaldo da teoria estudada que, diga-se de passagem, requer nosso contínuo olhar sobre as discussões que envolvem a temática abordada. De fato, em 2009, o Ministério da Educação divulgou em alguns dados do censo da Educação do Brasil que apontava que a porcentagem de homens que estava atuando diretamente com as crianças em creches e pré-escolas era apenas de 6% e quando se trata de crianças de zero a três anos ainda é menor, é de apenas 2%. Além disso, no Brasil, dos 593 (quinhentos e noventa e três) mil docentes que atuam na Educação Infantil, apenas 3,6% são homens, segundo o Censo da Educação Básica (2020). Esse índice vai se ampliando a partir dos Anos Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio; já no Ensino Superior, a presença masculina é maioria, segundo a Revista Educação (2022).

Quando tratamos da presença do docente homem no centro da Educação Infantil é necessário enfatizar que ele também precisa possuir as mesmas condições que o profissional do sexo feminino. Logo, qualquer profissional, não importa o gênero, deve ter a formação adequada e capacidade profissional para exercer tal cargo. Assim, para aprimorar nossa discussão, organizamos as questões postas nos questionários em categorias que sistematizam os objetivos que anunciamos no início do estudo.

Isto posto, na subseção que trata das percepções do lugar do Professor Homem na Educação Infantil, vamos analisar as respostas do questionário seguindo essa orientação de categorias:

–  Área da Docência para Crianças como Profissão (questões 02, 03 e 04);

–  Lugar do Profissional Docente Homem na Educação Infantil (questões, 05, 06 e 07). Já na subseção que trata da Formação ao Mundo do Trabalho, destacamos a categoria:

–  Curso de Pedagogia e Profissionalização: desafios e perspectivas (questões 08, 09 e 10).

Uma análise sobre as percepções do lugar do Professor Homem na Educação Infantil  

Nesta subseção, serão analisadas as questões 02, 03 e 04 do Questionário aplicado, através da categoria “Área da Docência para Crianças como Profissão”. Na questão 02, solicitamos saber deles qual a maior dificuldade encontrada na área da docência em turmas da Educação Infantil e obtivemos as respostas: P1 responde que até o momento não teve dificuldades, sempre enfrentando novos desafios em parceria com as famílias e obtendo excelentes resultados; P2 menciona que alguns anos atrás, havia resistência em aceitar homens na educação infantil, indicando que essa era a maior dificuldade enfrentada. Finalmente, P3 compartilha que anteriormente trabalhava no Ensino Fundamental, mas neste ano teve sua primeira experiência na educação infantil e está amando. Embora reconheça que desafios sempre existirão, expressa um desejo maior de vencer.

Nas questões 03 e 04, questionamos: “Você sentiu dificuldade em seguir a área da docência? ” E, ainda, “Já sentiu vontade de desistir dessa área? ”, respectivamente. O que tivemos como respostas: P1 e P2 responderam de forma idêntica: “Sim”. P3, por sua vez, não sentiu dificuldade em seguir a área da docência e também não sentiu vontade de desistir dessa área.

Ao analisar as respostas supracitadas, através da categoria: “Área da Docência para Crianças como Profissão”, podemos observar diferentes perspectivas sobre a maior dificuldade encontrada na área da docência na Educação Infantil quando se trata da figura masculina. Para aprofundar a discussão, podemos recorrer a outros autores que abordam essas temáticas.

Segundo Brandão (1999), a presença de profissionais do gênero masculino na Educação Infantil pode desafiar estereótipos de gênero preexistentes e gerar resistência por parte dos pais e da sociedade. O autor destaca a importância de uma reflexão contínua sobre as práticas pedagógicas e a desconstrução de ideias pré concebidas para promover uma educação inclusiva e igualitária. No artigo “O Profissional do Gênero Masculino na Educação Infantil: Com a Palavra, Pais e Professores”, as estudiosas Lira e Bernadim (2015) destacam que a presença de homens na docência da Educação Infantil pode ser vista como uma oportunidade de ampliar a diversidade de modelos e referências para as crianças. No entanto, também apontam que há resistências e preconceitos arraigados, os quais se baseiam em estereótipos de gênero e visões tradicionais sobre o papel dos homens na sociedade.

Essas perspectivas adicionais contribuem para enriquecer o debate sobre as dificuldades enfrentadas pelos professores do gênero masculino na Educação Infantil. A presença de autores como Brandão e os resultados do estudo sobre a visão de pais e professores trazem elementos relevantes para compreender os desafios e preconceitos presentes nessa área da docência.

Na discussão sobre a maior dificuldade encontrada na área da docência na Educação Infantil, é importante considerar as diferentes experiências relatadas pelos professores. Embora P1 não tenha enfrentado dificuldades significativas até o momento, é fundamental reconhecer que cada profissional pode ter percepções e vivências únicas nesse contexto. As respostas de P2 destacam uma realidade enfrentada por muitos homens na profissão, que é a resistência inicial em aceitar a presença masculina na Educação Infantil. Essa dificuldade pode ser atribuída a estereótipos de gênero arraigados na sociedade, que associam cuidados infantis principalmente às mulheres. Essa resistência ressalta a importância de desconstruir preconceitos e promover a igualdade de oportunidades para todos os profissionais, independentemente do gênero.

P3, ao compartilhar sua transição do Ensino Fundamental para a Educação Infantil, ressalta a importância de encarar os desafios como oportunidades de crescimento e aprimoramento profissional. Essa postura positiva demonstra o comprometimento e a paixão do professor em enfrentar os obstáculos e superá-los. Ao recorrer às contribuições de Brandão (1999), é possível enriquecer a discussão ao enfatizar que a presença de profissionais do gênero masculino na Educação Infantil pode desafiar estereótipos de gênero e gerar resistência por parte dos pais e da sociedade. Ele ressalta a importância de uma reflexão contínua sobre as práticas pedagógicas, visando à desconstrução de ideias pré-concebidas e à promoção de uma educação inclusiva e igualitária.

Além disso, cabe ressaltar, conforme Lira e Bernadim (2015), a relevância de ampliar a diversidade de modelos e referências na Educação Infantil por meio da presença de homens na docência. No entanto, elas ainda ressaltam que existem resistências e preconceitos enraizados, baseados em estereótipos de gênero e visões tradicionais sobre o papel masculino na sociedade. Essa abordagem reforça a importância de um diálogo aberto e da desconstrução de preconceitos para promover uma educação mais inclusiva e equitativa.

Ao trazer essas perspectivas adicionais para a discussão, o estudo ganha maior embasamento teórico e se aproxima de uma análise mais abrangente sobre as dificuldades enfrentadas pelos professores do gênero masculino na Educação Infantil. As contribuições de Brandão (1999) e as reflexões advindas do estudo de Lira e Bernadim (2015) sobre a visão de pais e professores fornecem elementos relevantes para compreender os desafios e preconceitos presentes nessa área da docência, além de ressaltar a importância da igualdade de oportunidades e da promoção de uma educação inclusiva e diversa.

Outra categoria analisada se trata do “Lugar do Profissional Docente

Homem na Educação Infantil”, conforme as questões, 05, 06 e 07.

Nas respostas dos professores P1, P2 e P3 à pergunta 05 sobre recomendar a área de docência na Educação Infantil para outros homens, há uma variedade de opiniões. P1 expressa prazer e honra em defender a área, com amor e dedicação pelo crescimento dos alunos. P1 também menciona a gratificação de ver ex-alunos exercendo profissões. P2 responde afirmando que qualquer bom profissional pode ensinar em qualquer área, não necessariamente em uma específica. P3 concorda que é uma área recomendável, mas enfatiza que o ato de ensinar é uma vocação que requer consideração pelo tempo de aprendizagem e subjetividade de cada criança, destacando a importância de buscar metodologias que contribuam para o processo de aprendizagem.

[…] para ser professor no sistema de ensino escolar, basta tomar um certo conteúdo, preparar-se para apresentá-lo ou dirigir o seu estudo, ir para uma sala de aula, tomar conta de uma turma de alunos e efetivar o ritual da docência: apresentação de conteúdo, controle dos alunos, avaliação da aprendizagem, disciplinamento, etc. Ou seja, a atividade de docência tornou- se uma rotina comum, sem que se pergunte se ela implica ou não decisões contínuas, constantes e precisas, a partir de um conhecimento adequado das implicações do processo educativo na sociedade (LUCKESI, 1994, p. 143).

Ser profissional e estar preparado para os desafios da docência é condição essencial para a docência, independente de qual sexo seja. Na pergunta 06 sobre o preconceito dos pais em relação a homens na profissão docente na Educação Infantil, os três professores afirmam que não observam preconceito. No entanto, o autor Sayão (2005) menciona que há preconceito evidente, originado da ideia de que essa profissão é voltada para mulheres, principalmente devido à visão estereotipada de cuidar de crianças, incluindo o cuidado corporal de meninos e meninas.

Quanto à pergunta 07 sobre se os professores já sofreram algum tipo de preconceito por serem docentes da Educação Infantil, agora não mais em relação aos pais, mas de modo geral ao atuarem nesse nível do ensino básico, P1 responde que nunca sofreu; P2 afirma que não; e P3 também diz que não. Ramos (2011) menciona que quando um homem assume essa profissão, sua sexualidade pode ser questionada pela sociedade, mas as crianças estabelecem uma figura paternal com os professores, que podem auxiliar seu desenvolvimento cognitivo e emocional. O autor também destaca que, ao longo do tempo, tem havido um aumento da participação de homens na pedagogia, ajudando a desmistificar a profissão e afirmando que a capacidade do profissional é o que realmente importa, não as exigências de comportamento impostas pela sociedade.

Louro (1997, p. 89) é um dos defensores que a escola é atravessada pelos gêneros, que quando se referimos a essas instituições vêm logo o pensamento da nossa cultura de masculino e feminino e o papel a ser ocupado por cada um/uma na sociedade. Nessa concepção, a escola é simbolizada desde estrutura de comportamento de práticas, de ensino e avaliação com o intuito de construir homens e mulheres dentro e fora das escolas, iniciando-se na infância para poder atingir quem se encontra nelas ou não. Um dos pontos principais a ser destacado é que pode ser construído e, ao mesmo tempo, proporcionar aos diferentes sujeito um papel de destaque que tem como objetivo o sentimento de pertencimento a sociedade não fazendo distinção de gênero, mas tendo um papel muito importante de disciplinar na formação que tem como responsável pela função os professores (as). Para concluir essa análise, vamos à subseção que trata de nossas discussões finais.

 Da Formação ao Mundo do Trabalho: discussões finais

Nesta subseção, serão analisadas as questões 08, 09 e 10, através da categoria “Curso de Pedagogia e Profissionalização: desafios e perspectivas”. Na questão 08, foi perguntado por que os participantes escolheram a área da Pedagogia para sua profissionalização. Para P1, a escolha ocorreu por admirar alguns professores durante sua época de aluno, observando a transmissão de conhecimento em sala de aula e questionando como um aluno se tornava um leitor. Essa curiosidade despertou o interesse de P1 em buscar essa área e, segundo ele, também recebeu incentivo de sua grande amiga, Wilma Almeida, que era a primeira-dama do município na época. Ela formou grupos educativos e o convidou para participar, o que o motivou ainda mais a estudar. P2 sentiu-se chamado e apaixonou-se pela Pedagogia. Já o P3 respondeu que escolheu essa área porque se identifica com o que faz, sentindo um desejo enorme de contribuir para a sociedade com o pouco que aprendeu. Essa visão está alinhada com Paulo Freire (1996), que argumenta que a educação pode transformar as pessoas e, assim, mudar o mundo. É com esse pensamento que a sociedade pode ser transformada.

Na pergunta 09, foi questionado se os participantes sentem que são tratados de forma diferente em seus locais de trabalho por serem homens e que comentem suas respostas. P1 respondeu que não se sente tratado de forma diferente, pois um dos grandes mestres em educação, Paulo Freire, era do sexo masculino, e existem outros exemplos. Quando surgem dificuldades, é importante buscar novas direções e nunca desistir. P2 afirmou que também não se sente tratado de forma diferente, pois a equipe com a qual trabalha é muito tranquila. P3 respondeu que também não sente diferenças. Segundo Brandão (1999), há uma nova construção do trabalho no meio científico e tecnológico, o que possibilita melhorias. Isso revela uma nova visão de transformação, em que não basta apenas estar em sala de aula, mas também realizar pesquisas.

Na questão 10, os participantes foram solicitados a registrar dois desafios e duas perspectivas que observam em sua profissão. P1 respondeu que um dos desafios é lidar com alunos problemáticos, com falta de atenção e desequilíbrio educacional, em que o professor assume o papel de pai e professor. P2 mencionou que o primeiro desafio é ensinar a criança a ler; e o segundo é identificar as crianças que têm dificuldade de aprendizagem. Em relação às perspectivas, P2 espera que, ao final do ano, todos os objetivos sejam alcançados, com todas as crianças lendo e escrevendo. P3 destacou também como desafios a falta de participação ativa de alguns pais na vida escolar de seus filhos e o déficit de aprendizagem na escrita e leitura. Como perspectiva, enfatizou a importância de o educador ser o principal responsável por coordenar os processos de ensino e aprendizagem, adotando uma postura sensível e tratando os alunos com compreensão e respeito mútuos.

Os documentos da LDBN e do RNCEI garantem uma educação para todos. No entanto, ao mesmo tempo, não garantem igualdade no aprendizado, o que coloca esses problemas e desafios nas mãos dos professores, que têm grandes perspectivas.

Por vezes, a sociedade ainda trata as crianças como se fossem “adultos em miniatura”, não oferecendo um tratamento adequado. É necessária uma reflexão adequada, conforme destacado por Aries (1981), sobre o significado da infância e a importância de valorizar a criança em sua individualidade, conforme estudamos na seção teórica.

Em tempo, tanto a BNCC (2018) quanto a BNC Formação (2019) vão inferir sobre a necessidade de preparar para o “Mundo do Trabalho”, daí ambos os documentos destacam a formação para a Educação Básica, Ensino Médio e, ainda, para o Ensino Superior, quando se trata da formação docente.

Finalmente, os resultados e discussões da pesquisa destacam os motivos pelos quais os participantes escolheram a Pedagogia como área profissional, a percepção de tratamento igualitário no local de trabalho, bem como os desafios e perspectivas presentes na profissão. Eles apontam para a necessidade de promover uma educação inclusiva, com o envolvimento ativo dos pais e a superação de dificuldades de aprendizagem. Além disso, ressaltam a importância de compreender a infância como uma fase única e valiosa, que requer uma abordagem sensível e respeitosa por parte dos educadores.

Tais aspectos, por fim, contribuem para um debate acadêmico sobre a Pedagogia e suas implicações na formação e desenvolvimento das crianças, fornecendo insights relevantes para profissionais, pesquisadores e formuladores de políticas educacionais. Através dessas discussões, busca-se promover uma educação de qualidade, cuja igualdade de oportunidades colabore para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.

Diante disso, concluímos que a presença de professores do sexo masculino na Educação Infantil é fundamental para a construção de outro modelo de sociedade, conforme já anunciado. Por meio do reconhecimento de sua importância, da superação de estereótipos de gênero e da valorização da diversidade na composição do corpo docente, podemos avançar em direção a uma educação de qualidade, inclusiva e respeitosa para todas as crianças. O desafio está lançado e é responsabilidade de cada um/a de nós lutar por uma educação que promova a equidade de gênero e quebrar as barreiras que ainda limitam a participação masculina nesse campo. Juntos, podemos criar um futuro mais brilhante e promissor, no qual a igualdade de gênero seja uma realidade concreta e a presença masculina na Educação Infantil seja valorizada e encorajada.

Com efeito, é preciso reconhecer o impacto positivo que a presença masculina na Educação Infantil pode ter na vida das crianças, na desconstrução de estereótipos e na promoção de um ambiente educacional acolhedor e inclusivo. A sociedade como um todo deve se unir nesse propósito, encorajando e apoiando os homens que escolhem seguir essa vocação, para que eles possam desempenhar seu papel de forma plena e se tornarem agentes de mudança em prol de uma sociedade mais igualitária.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao adentrar a Universidade, fomos imersos em um novo mundo que nos proporcionou uma visão ampliada, com perspectivas e questionamentos que antes desconhecíamos. Contudo, deparamo-nos com uma realidade surpreendente: a escassa presença masculina no campo da Pedagogia, uma área predominantemente ocupada por mulheres. No ano de 2023, na Universidade Federal da Paraíba, Campus III, situado em Bananeiras, constatamos que apenas 60 (sessenta) homens se encontram cursando Pedagogia num universo de 338 (trezentos e trinta e oito) estudantes ativos. Essa realidade revela um equívoco enraizado na sociedade, que erroneamente associa esse curso somente ao universo feminino.

Diante deste contexto, surgiram debates e conflitos de ideias com nossos colegas, impulsionando-nos a escolher esse tema como objeto de estudo para a pesquisa de conclusão de curso (TCC) ora apresentada. Buscamos, por meio de uma investigação exploratória, promover uma reflexão crítica sobre a presença masculina na Educação Infantil, ampliando assim nosso repertório de experiências. Homens que já abraçaram essa missão de educar compartilharam suas vivências e perspectivas, enriquecendo o processo de construção do conhecimento.

O objetivo central dessa abordagem foi o amadurecimento de ideias, estimulando uma reflexão sensível e atenta à realidade cotidiana da graduação. Desejamos, assim, que essa pesquisa contribuísse para a transformação da resistência encontrada na inserção de homens em creches e pré-escolas, uma resistência perpetuada por estereótipos sociais. E, ao longo do desencadeamento do estudo, tornou-se imperativo romper com essa associação equivocada entre gênero e a função de educador.

Evidenciou-se, ao longo desta pesquisa, que o ambiente escolar passou por profundas mudanças ao longo da história, ocorrendo um notável processo de feminilização. Tal fato resultou em um cenário majoritariamente feminino nas instituições de ensino, com o consequente distanciamento da presença masculina.

Além disso, constatamos que a atuação docente na educação básica não tem recebido a valorização merecida. Essa desvalorização torna-se ainda mais evidente quando observamos as críticas direcionadas aos profissionais do gênero masculino, que frequentemente são questionados em sua capacidade de atender às demandas da área.

Dados do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), divulgados em 2010 reforçam os resultados desta pesquisa, revelando uma presença feminina superior à masculina na Educação Infantil. Dos 336.186 (trezentos e trinta e seis mil e cento e oitenta e seis) professores que atuam na primeira fase do ensino, apenas 11.430 (onze mil e quatrocentos e trinta) são homens. Apesar das dificuldades encontradas, é gratificante constatar que esses homens têm conseguido superar os obstáculos e estão alterando a percepção da sociedade em relação à sua presença na área educacional. Isso nos permite vislumbrar um futuro mais esperançoso, livre de preconceitos e no qual a igualdade de gênero seja uma realidade naturalizada.

A presença de homens na Educação Infantil desempenha um papel crucial na construção de uma sociedade mais equitativa, na qual as oportunidades profissionais não sejam divididas com base no gênero, mas sim na capacidade e vocação de cada indivíduo. É uma responsabilidade compartilhada por todas as gerações que almejam modificar essa realidade. Devemos considerar tanto os ganhos quanto as perdas ao longo da história, numa luta constante por um olhar igualitário que não faça julgamentos baseados no gênero, mas sim na competência profissional.

Embora seja um desafio árduo, é uma batalha necessária para promover uma visão mais cautelosa, menos rígida e, ao mesmo tempo, capacitada. É imprescindível que a sociedade encoraje os homens a trilharem o caminho da educação infantil com orgulho e confiança, sem medo de serem julgados. Não deveríamos permitir que a sociedade determine cargos com base no gênero, mas sim com base na capacidade individual. Esse tipo de julgamento é cruel e desnecessário em uma sociedade que busca transmitir seus ideais e perspectivas às futuras gerações, tornando-se mesquinha e preconceituosa, especialmente em um campo tão importante e subvalorizado como a Educação Infantil.

É importante ressaltar que a transformação desse panorama não se dará de forma isolada, mas sim por meio de esforços coletivos e colaborativos. É necessário que instituições de ensino, governos, país e a sociedade em geral reconheçam a importância da diversidade de gênero na educação e trabalhem juntos para criar um ambiente inclusivo em que todos os profissionais, independentemente do gênero, sejam valorizados e respeitados.

Além disso, é fundamental investir em programas de formação e capacitação voltados especificamente para homens que desejam atuar na Educação Infantil, fornecendo-lhes o suporte necessário para enfrentar os desafios e estereótipos existentes. Iniciativas que incentivem a participação masculina, como bolsas de estudo, monitorias e redes de apoio, podem contribuir significativamente para a superação das barreiras e a promoção da igualdade de oportunidades nesse campo.

Portanto, é essencial reconhecer a importância da presença masculina na Educação Infantil e buscar ativamente promover a igualdade de gênero nessa área. Somente por meio de uma abordagem inclusiva e comprometida com a diversidade poderemos construir uma sociedade mais justa e igualitária, na qual todos os indivíduos tenham igualdade de desenvolvimento e realização pessoal.

Que as reflexões e descobertas apresentadas neste estudo possam inspirar ações concretas e transformadoras, contribuindo para que homens encontrem seu lugar e sejam reconhecidos como profissionais competentes e dedicados na Educação Infantil. Que possamos trilhar um caminho em direção a uma sociedade na qual os estereótipos de gênero sejam superados e todos tenham a liberdade de seguir suas paixões e vocações, independentemente de seu gênero. A construção desse futuro começa agora e cabe a cada um/a de nós desempenhar seu papel nessa jornada.

Concluímos, por fim, que a presença de professores na Educação Infantil é fundamental para promover uma educação de qualidade, sob a referência do “magistério reflexivo”, quando os professores são encorajados a desenvolver uma postura crítica e reflexiva em sua prática pedagógica, contribuindo para a construção de uma educação mais igualitária e respeitosa. No entanto, ainda existem desafios a serem enfrentados, como a desconstrução de estereótipos de gênero e a valorização da diversidade na composição do corpo docente para a Educação Infantil, o que sugere um tempo de reflexões, que contemple outras e novas perspectivas para a presença de professores em turmas de crianças pequenas.

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*Graduanda do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal da Paraíba. Dona Inês-PB esaueff56782@gmail.com (83) 981246568
**Graduando do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal da Paraíba. Dona Inês-PB wegilaeugeniaborgesdasilvawegi@gmail.com (83) 981087424