EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA FERRAMENTA EFICAZ PARA O CONSUMO CONSCIENTE NO MUNDO GLOBALIZADO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10791014


Meiri Silvia Pereira


RESUMO

Um dos assuntos mais abordados pela sociedade contemporânea são as consequências do modelo de desenvolvimento econômico capitalista, em que se prioriza o lucro em detrimento da proteção do meio ambiente e de seus recursos. Assim esquecemos que o bem estar da humanidade depende de uma relação sadia com a natureza. A consequente crise ambiental fez com que diversas nações se reunissem para tentar minimizar a degradação do meio ambiente. Como uma das soluções, houve a reunião de líderes mundiais em Nova York, na sede da ONU em 2015, em que se discutiu ações visando mitigar os efeitos anteriormente citados, estabelecendo Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para a chamada Agenda 2030. No caso do consumo, foi estipulada a ODS 12, que visa assegurar o consumo sustentável, pois todo ano a qualidade de vida no planeta está mais ameaçada. A questão é global e as normas para conter o avanço deste cenário negativo, agora, ultrapassa as fronteiras e relativiza a soberania dos Estados. Por isso, tornou-se necessário existir uma regulação transnacional impondo acordos vinculantes, estabelecendo obrigações e sanções em caso de descumprimento das normas. Constata-se, portanto, que o consumo consciente e a educação ambiental são fortes aliados que viabilizam o desenvolvimento sustentável e a observância mais rigorosa da legislação e da agenda 2030.

Palavras-chave: Educação Ambiental. Consumo Consciente. Agenda 2030.

ABSTRACT

One of the issues most addressed by contemporary society are the consequences of the capitalist economic development model, in which profit is given priority to the protection of the environment and its resources. Thus we forget that the well-being of humanity depends on a healthy relationship with nature. The ensuing environmental crisis caused several nations to come together to try to minimize environmental degradation. As one of the solutions, the meeting of world leaders in New York at the UN headquarters in 2015, where action was discussed to mitigate the aforementioned effects, establishing Sustainable Development Goals (SDGs) for the so-called Agenda 2030. In the case of consumption, the 12th SDG has been laid down, which aims to ensure sustainable consumption, because every year the quality of life on the planet is more threatened. The issue is global and the rules to contain the progress of this negative scenario now transcend borders and relativise the sovereignty of States. It has therefore become necessary to have a transnational regulation imposing binding agreements, establishing obligations and sanctions in the event of non-compliance. Conscious consumption and environmental education are strong allies that enable sustainable development and stricter compliance with legislation and Agenda 2030.

Keywords: Environmental Education. Conscious Consumption. Agenda 2030.

Introdução

A mudança do paradigma produtivo trouxe significativas alterações no relacionamento do homem com o meio ambiente. O avanço da tecnologia – que permitiu o emprego em larga escala -, do marketing digital e de uma logística eficaz contribuiu para o atual cenário de produção em série. E esta produção busca atender as demandas globalizadas que aumentam cada vez mais diante da facilidade para adquirir os produtos e das formas de pagamento ofertadas.

Um novo comportamento surgiu, pois, a maioria das pessoas substituiu o ato de consumir pelo consumismo. Afinal, adquirir produtos importados, e mesmo os nacionais, tornou-se possível e acessível diante da globalização. Ocorre que, na mesma proporção em que o mercado se aquece com a multiplicação das vendas em todo o planeta, o consumo e a quantidade dos resíduos gerados também aumentam.

Surge, então, a preocupação de como preservar o meio ambiente dos descartes dos resíduos, que acontece sem um olhar voltado para o bem estar social. Há um grande avanço da globalização, e a crise ambiental segue essa mesma dimensão. Assim, tornam-se necessárias a imposição de normas internacionais e a colaboração dos países para o enfrentamento desta crise.

Nesse contexto, a ONU (Organização das Nações Unidas) elaborou a Agenda 2030, estabelecendo objetivos e metas a serem cumpridos por todos os Estados-Membros, com a finalidade de proteção do planeta terra. Destaca-se que, neste cenário de destruição da natureza, a educação ambiental é uma aliada para ajudar a minimizar os danos ao planeta.

Considerando o exposto, este trabalho tem como objetivo demonstrar os reflexos da globalização na qualidade de vida do planeta que busca o desenvolvimento econômico sem se preocupar com a preservação ambiental. Para tanto, foi desenvolvida uma pesquisa de cunho qualitativo, em que o referencial teórico será construído com a utilização das metodologias de pesquisa bibliográfica e analítica.

Desse modo, este trabalho descreverá, no primeiro item, a globalização das questões ambientais e a Agenda 2030; e, no segundo item, tratará da educação ambiental e do consumo consciente. Por fim, serão apresentadas as considerações finais.

1 Globalização das questões ambientais e a Agenda 2030

A preocupação em mudar o cenário de degradação ambiental fez com que os estados membros da ONU se unissem em conferências e encontros internacionais para discutir soluções para a proteção do meio ambiente e de seus recursos naturais. Também buscava-se evitar a ocorrência de catástrofes naturais e estabelecer metas a serem alcançadas a curto e a longo prazo.

Ao encontro disso, a regulação transnacional se faz necessária, pois normas e sanções precisam ser impostas para coibir as ações que vão em direções opostas ao do desenvolvimento sustentável. Como postulam Gomes e Mérchan1,

Há muito tempo se afirma que os problemas ambientais necessitam de uma maior e melhor regulação transnacional, pois sem acordos vinculantes, sem o desenvolvimento de sanções e penalidades e sem a precificação do carbono, os países e as grandes corporações multinacionais não irão se comprometer com o desenvolvimento de práticas e políticas que possam alterar o rumo catastrófico que as mudanças climáticas estão tomando. Além das mudanças climáticas, outros fatores de impacto ambiental local estão atrelados à atuação de corporações multinacionais, como o lixo eletrônico, cujo descarte inapropriado contamina lençóis freáticos ao redor do mundo quando seu destino é um lixão em países africanos ou asiáticos, com sérias consequências ambientais e sociais.

Assim, nota-se que a questão ambiental há muito tempo requer o comprometimento e decisões sustentáveis por parte dos Estados-nações. Na tentativa de minimizar a crise ambiental já instalada, encontros e conferências mundiais foram organizadas e aconteceram com a esperança de mudar esse cenário de degradação da natureza. Isso pode ser verificado na afirmação de Garcia2 que, ao fazer menção aos primeiros encontros ocorridos, relata:

Desta forma, ocorreram quatro grandes conferências mundiais com o enfoque no Meio Ambiente e no desenvolvimento sustentável, a primeira em Estocolmo (1972), a segunda no Rio de Janeiro (1992), a terceira em Johanesburgo (2002) e a quarta no Rio de Janeiro (2012). Todas trouxeram grandes contribuições para o desenvolvimento do Direito Ambiental no mundo, bem como paras as discussões acerca da sustentabilidade.

Observando-se os postulados supracitados de Gomes e Mérchan3 e de Garcia4, nota-se o quão imperioso e urgente é a tomada de decisões para frear o avanço da degradação ambiental proveniente do consumismo tão presente na atual vida em sociedade. Esse comportamento decorre do fácil acesso aos produtos, que, por sua vez, acontece devido à produção em larga escala nas indústrias. E essas indústrias se movimentam de acordo com os princípios de uma sociedade capitalista.

O que se torna motivo de preocupação é o fato de esse desenvolvimento econômico se sustentar colocando em risco os recursos naturais do planeta e, por isso, passa a ser um problema globalizado que requer soluções e mudanças de hábitos.

Segundo Alves5, a sociedade se depara com o fenômeno da globalização, que com o suporte da tecnologia e logísticas avançadas, sem qualquer dificuldade, consegue atender as demandas locais e aquelas que ultrapassam os limites geográficos. Prioriza-se uma produção em massa, retirando os recursos da natureza, sem se preocupar se são ou não renováveis. Também, verifica-se que não há preocupação com o descarte adequado dos resíduos sólidos gerados pela produção em série.

A facilidade em adquirir produtos e bens de serviços incentivou o consumo desnecessário. O consumidor passou a comprar produtos supérfluos, trazendo à tona a questão do consumismo, um dos pontos negativos decorrentes da facilidade que a tecnologia, a mídia e o marketing digital colocaram à disposição dos consumidores.

O consumismo, para Baudrillard6, é comparável à felicidade material, por ser efêmera, passageira e descartável. Isso porque tal comportamento se caracteriza pela vontade contínua de sempre adquirir um novo produto para substituir aquele que ainda pode ser utilizado. O autor destaca ainda que essa busca por satisfazer esses desejos leva a um círculo vicioso que tende a crescer cada vez mais.

Analisando o entendimento de Baudrillard7, nota-se que o consumismo é o caminho utilizado para se chegar à felicidade, que se evidencia quando os desejos de adquirir novos produtos são satisfeitos. Ademais, é necessário traçar as diferenças entre consumo e consumismo.

Conforme Moura8, o ato de consumir movimenta a sociedade capitalista e o consumo é reconhecido desde que seja praticado de forma consciente e responsável. Quanto ao consumismo, se analisarmos a lição de Bauman9 – que acompanha o pensamento de Baudrillard10, trata-se de um atributo da sociedade. Ele é uma característica que faz parte de um comportamento discricionário do homem. Ou seja, ele é uma escolha dos seres humanos, que de forma individualizada, exterioriza o seu querer, desejos e objetivos em adquirir determinados produtos para se satisfazer, sem se preocupar de que forma estes produtos foram fabricados. O autor enfatiza ainda que tais intenções movimentam a sociedade de consumidores, por elas estarem presentes em todos os momentos da convivência em sociedade.

Acerca do consumismo, e em consonância com o que ressaltou Baudrillard11, Moura12 adverte que apesar de o consumismo ser um caminho para a felicidade, deve se tomar cuidado e não se esquecer de que ¨o consumismo, embora possa constituir num aparente estímulo à felicidade, é capaz de provocar patologias crônicas, uma vez que a felicidade é momentânea”. Desse modo, pode-se dizer que, no consumismo, existe um excesso quando se quer adquirir algo, e, no consumo, há um equilíbrio entre a necessidade e a vontade de efetuar as compras.

Ao encontro disso, com o intuito de combater ou ao menos diminuir a questão do consumismo, e visando a proteção do planeta, foi elaborada a Agenda 2030. Este documento traça os planos de ação para as pessoas e para o planeta, na busca da prosperidade dos povos e das nações. Além de estabelecer regras e objetivos para fortalecer a paz, a liberdade, a erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões, visa também ao desenvolvimento sustentável. Para tanto, esta ação conta com a aliança e o comprometimento de todos os países e partes interessadas. Isso pode ser verificado no trecho em que a Agenda esclarece as intenções de parceria ao descrever que: “Estamos determinados a mobilizar os meios necessários para implementar esta Agenda por meio de uma Parceria Global para o Desenvolvimento Sustentável revitalizada, com base num espírito de solidariedade global”13.

Nesta nova Agenda universal, dentre outros assuntos não menos importantes, constam 17 objetivos para a viabilização de um desenvolvimento sustentável e mais 169 metas. Isso demonstra a ousadia e a dimensão deste Plano, que pretende estimular as ações para os próximos 15 anos e, assim, transformar o cenário atual e garantir a sobrevivência humana com mais dignidade.

Ao tratar das ações em relação à proteção do Planeta, a Agenda 2030 deixa claro que:

Estamos determinados a proteger o planeta da degradação, sobretudo por meio do consumo e da produção sustentáveis, da gestão sustentável dos seus recursos naturais e tomando medidas urgentes sobre a mudança climática, para que ele possa suportar as necessidades das gerações presentes e futuras14.

Percebe-se, então, que o individualismo e o egoísmo devem perder espaço diante da necessidade de combater a crise ambiental globalizada provocada pelo modelo de crescimento econômico perseguido pelos países na tentativa de obter sucesso, lucros e se destacar frente aos demais membros no mercado internacional.

Ponderando sobre esse assunto, Garcia e Cruz15 fornecem uma importante contribuição ao enfatizarem que “a colaboração e a solidariedade transnacionais também são as palavras de ordem para a sustentabilidade global. A intensificação do fenômeno da globalização apresenta desafios importantes aos Estados”.

Assim, os objetivos de acelerar o desenvolvimento econômico devem ser concretizados observando os limites impostos pela natureza, pois a Agenda 2030 dispõe expressamente que:

Prevemos um mundo em que cada país desfrute de um crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável e de trabalho decente para todos. Um mundo em que os padrões de consumo e produção e o uso de todos os recursos naturais – do ar à terra; dos rios, lagos e aquíferos aos oceanos e mares – são sustentáveis. Um mundo em que a democracia, a boa governança e o Estado de Direito, bem como um ambiente propício em níveis nacional e internacional, são essenciais para o desenvolvimento sustentável, incluindo crescimento econômico inclusivo e sustentado, desenvolvimento social, proteção ambiental e erradicação da pobreza e da fome. Um mundo em que o desenvolvimento e a aplicação da tecnologia são sensíveis ao clima, respeitem a biodiversidade e são resilientes. Um mundo em que a humanidade viva em harmonia com a natureza e em que animais selvagens e outras espécies vivas estão protegidos16.

Em observância ao estabelecido por esta Agenda, o consumo consciente e responsável deve ser considerado como uma ordem a ser obedecida e respeitada. Afinal, a questão da crise ambiental, ora debatida, já alcança uma dimensão que, ultrapassando os limites territoriais, tornou-se globalizada e ameaçadora para a continuidade da vida no planeta de forma digna e saudável, algo tão preconizado pelo Direito transnacional.

Portanto, faz-se necessário voltar a atenção da humanidade para o cumprimento das normas nacionais e transnacionais, atuando e respeitando os princípios traçados pela Agenda 2030 e demais conferências internacionais. Pois elas buscam uma aliança entre as nações para que ocorra a garantia do desenvolvimento sustentável.

2 Consumo consciente e educação ambiental

Considerando que o ato de consumir é inerente à sobrevivência humana, pois desde o nascimento até a idade mais avançada, o homem necessita consumir produtos e serviços. O ser humano já nasce consumindo e continua assim ao longo de sua existência. Esse processo de adquirir novos produtos para se satisfazer apresenta dois aspectos a serem observados quando se discute a questão do consumo. Em primeiro lugar, o aspecto é positivo, pois sabe-se que quando há consumo, há a produção de bens e serviços. Portanto, há prosperidade econômica oriunda das compras e do consumo de bens, alimentos e tecnologias presentes no mercado.

Por outro lado, observa-se que o consumo traz consequências negativas, como os problemas sociais e ambientais. Em relação aos problemas sociais, o consumo reflete seus efeitos sobre uma grande parcela da população que não tem acesso a bens e serviços básicos que permitam uma vida digna, como o acesso à água potável, à alimentação, à segurança, à habitação etc. Outro aspecto de igual relevância, são os problemas ambientais que se agravam com o descarte de produtos e embalagens de forma incorreta na natureza, comprometendo os recursos naturais como solo, rios, lençol freático e também causando a poluição do ar.

Assim, o correto é buscar o crescimento econômico e atender as demandas da sociedade consumista de forma sustentável. Neste momento, torna-se importante trazer à tona o conceito de sustentabilidade que Garcia e Souza17 definem da seguinte forma:

Sustentabilidade é o termo usado para definir ações e atividades humanas que visam suprir as necessidades atuais dos seres humanos, sem comprometer o futuro das próximas gerações. Ou seja, a sustentabilidade está diretamente relacionada ao desenvolvimento econômico e material sem agressão ao meio ambiente, ao uso de recursos naturais de forma inteligente, para que eles se conservem para o futuro.

Não longe disso, Juarez Freitas18, ao ensinar acerca do Princípio da Sustentabilidade, apresenta o conceito como um:

princípio constitucional que determina, com eficácia direta e imediata, a responsabilidade do Estado e da sociedade pela concretização direta e imediata, a responsabilidade do Estado e da sociedade pela concretização solidária do desenvolvimento material e imaterial, socialmente inclusivo, durável e equânime, ambientalmente limpo, inovador, ético e eficiente, no intuito de assegurar, preferencialmente de modo preventivo e precavido, no presente e no futuro, o direito ao bem-estar.

Está claro, então, que deve haver conscientização ambiental tanto por parte das empresas que colocam os produtos no mercado, como também por parte dos consumidores, que necessitam de fazer suas escolhas e comprar somente aquilo que é necessário. Considerando esse contexto, exige-se do consumidor hábitos saudáveis diante da urgência em proteger o meio ambiente.

Sabendo-se que o consumismo está presente no cotidiano das pessoas, Barbosa19 destaca que a sociedade contemporânea é conhecida como a sociedade do consumo, e que assim foi rotulada pelos intelectuais, jornalistas e profissionais de marketing. A globalização facilita o fornecimento dos produtos no mercado. Aliada ao avanço da tecnologia e à logística facilitada, e por meio do marketing digital e da telefonia celular, a globalização alcança a todos. Assim, todas essas facilidades colaboram para a colocação de diversos produtos à disposição dos consumidores em todos os países. Como resultado, todos têm fácil alcance aos produtos que desejam consumir. Acrescenta-se ainda que a garantia de bons preços e formas facilitadas para o pagamento também contribuem para o consumismo.

Voltando nosso olhar para a natureza, vemos que esse consumismo precisa ser controlado, pois a aquisição de produtos não termina com o seu consumo. O problema se inicia quando há a necessidade de descartar as embalagens e os resíduos, que muitas vezes não recebem a destinação ambientalmente recomendada. Outro fator preocupante é a inobservância da Lei Federal n. 12.305/2010 que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. O prazo estipulado de até quatro anos, ou seja, até o ano de 2014, para que os municípios construíssem aterros sanitários não foi cumprido. Assim, este prazo foi postergado, variando entre as datas de 02/08/2021 ao ano de 2024, prazos estipulados conforme o número de habitantes dos municípios. Mesmo assim, o que se verifica na realidade é que muitos municípios ainda não cumpriram o que legalmente foi estabelecido.

Aliado a esse fator, nota-se que políticas públicas visando o reaproveitamento dos resíduos recicláveis ainda caminham a passos lentos. Quando, na realidade, todos os municípios já deveriam ter a coleta seletiva em pleno funcionamento e a população deveria estar consciente de que necessita separar os resíduos recicláveis dos rejeitos. Para tanto, a Administração Pública necessita de desenvolver políticas públicas para educar ambientalmente a população e colocar em funcionamento os serviços de coleta seletiva.

Nesse contexto, a educação ambiental é uma forte aliada para a proteção da natureza e de seus recursos, bem como também viabiliza o consumo sustentável. Afinal, se despertará a consciência de que quanto menos resíduos produzir, mais estaremos contribuindo para a diminuição da degradação ambiental e, com isso, possibilitando uma melhor qualidade de vida para a sociedade. Como consequência, essa mudança de comportamento substitui o individualismo pela ideia de coletivo e de solidariedade, o que propicia uma qualidade de vida melhor. Por isso, Sakuno20 ressalta que “a questão do individualismo cedeu lugar ao coletivo, daí a necessidade do envolvimento de todos nas causas ambientais, o que só poderá ser obtido se realmente ocorrer a difusão da Educação Ambiental, que atuará como norte de cada conduta”.

Reforçando esse entendimento, Lemes e Kamimura21 ensinam que quando a sociedade passa a refletir sobre o quanto a humanidade depende do meio ambiente saudável para sobreviver, passa também a compreender que é necessário desenvolver pensamentos e atitudes coletivas para garantir que todos possam usufruir desse direito que é difuso, pois a todos pertencem. Pode-se dizer, então, que esse dever de cuidado para com a natureza e seus recursos é de todos, uma vez que a realidade se apresenta globalizada, fazendo com que as ações praticadas em um determinado local possam produzir seus reflexos em outro canto do planeta.

Dessa forma, a sociedade contemporânea se mostra globalizada. E isso requer a união de todos os Estados na busca incessante para a adoção de um consumo consciente. Este último se torna possível por meio de políticas públicas de educação ambiental sistematizada, a fim de que ocorram mudanças de comportamento em todas as nações, em prol da preservação do meio ambiente. Afinal, este é um bem difuso que pertence a toda humanidade.

Com pensamento similar em relação à globalização, Ansarah e Canton22 ponderam que todos têm responsabilidade e devem se preocupar com os problemas ambientais. Isso se explica na medida em que sociedade e natureza estão inseridos no mesmo meio, pois fazem parte de um mesmo ambiente. Assim, é urgente aplicar uma educação ambiental sólida e eficaz capaz de proteger a natureza das ações humanas que não priorizam um consumo consciente.

Diante deste cenário, Bensen23 narra que deve haver mudanças de comportamento por parte da sociedade consumista. Esta deve adotar posturas que levem a um consumo planejado e consciente. Ou seja, a aquisição deve ser somente do que realmente se faz necessário, preferindo comprar produtos que não prejudiquem a natureza, bem como optando por um consumo que permita a diminuição da produção de resíduos sólidos. Pois a questão do manejo sustentável dos resíduos constitui um desafio a ser vencido e enfrentado pela sociedade contemporânea24. Sobre esse desafio, Bensen25 explica que o consumo responsável merece a atuação tanto da Administração Pública como da sociedade, para que o direito de usufruir de um meio ambiente equilibrado e saudável seja garantido à população.

Nesta seara, Sakuno26 ressalta que uma das formas de enfrentar o desafio de tornar realidade o manejo ambientalmente correto dos resíduos sólidos é a educação ambiental, dizendo que:

Uma das formas de enfrentar esse desafio seria proporcionar à sociedade uma educação ambiental, capaz de mudar comportamentos em relação à diminuição da geração de resíduos sólidos para reduzir os impactos na natureza, na medida em que ocorre o entendimento de que a proteção ambiental se tornou uma das prioridades para a saúde humana.

Observando o ensinamento acima, verifica-se que a educação ambiental ganha o seu papel de destaque por ser a ferramenta apropriada para auxiliar a sociedade na mudança de comportamento e passar a ter um olhar de maior cuidado com a natureza. Além de mudar a postura da população em relação ao descarte correto dos resíduos produzidos, esta educação é capaz de substituir esse modelo de consumo empregado por uma forma consciente de consumir.

Reforçando esse entendimento, Jacobi27 oferece sua contribuição ao esclarecer que para a educação ambiental produzir um resultado mais eficaz, é preciso que, além da sociedade mudar de postura nas suas práticas sociais, necessita também fazer uma reflexão mais profunda acerca dos objetivos que se pretende alcançar para mudar o contexto atual. Visto que este contexto é caracterizado pela degradação da natureza e de seus recursos, efeito da ação daqueles que buscam o desenvolvimento econômico por meio da aceleração da produção.

Nota-se, então, que o desenvolvimento sustentável necessita da educação ambiental, que por sua vez é a base para que a sociedade passe a adotar uma forma de consumo consciente e responsável diante da natureza. Atitudes sustentáveis permitem à população o exercício da cidadania, que, fundamentada na ética e na moral, pode melhorar a qualidade de vida do planeta impondo limites para a exploração do meio ambiente. Essas afirmações encontram respaldo nos ensinamentos de Garcia D. e Garcia H.28, quando destacam que:

Deve-se ainda ter em mente que, na realidade, a sustentabilidade é uma dimensão ética, trata de uma questão existencial, pois é algo que busca garantir a vida, não estando simplesmente relacionada à natureza, mas a toda uma relação entre indivíduo e todo o ambiente a sua volta.

Neste momento, ao fazer uma reflexão sobre a importância do desenvolvimento sustentável para a garantia da dignidade da vida humana, Garcia D. e Garcia H.29, com o foco nas perspectivas da Organização das Nações Unidas em relação à sustentabilidade, ensinam que dentre os oito objetivos a serem alcançados neste milênio, um deles refere-se à garantia da sustentabilidade ambiental, ao enfatizarem que:

Assim, todas essas discussões, ponderações e premissas acabaram por resultar os oito Objetivos do Milênio: 1. Erradicar a pobreza extrema e a fome; 2. Atingir o ensino básico fundamental; 3. Promover a igualdade de gênero e autonomia das mulheres; 4. Reduzir a mortalidade infantil; 5. Melhorar a saúde materna; 6. Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças; 7. Garantir a sustentabilidade ambiental; 8. Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento. (Grifo nosso).

Desse modo, resta clara a necessidade de se preservar o meio ambiente por meio do consumo sustentável. E esta missão é um desafio que a sociedade contemporânea precisa vencer. Afinal, observando o princípio da participação, todos têm a sua parcela de responsabilidade em colaborar com os organismos internacionais na busca da melhoria da qualidade de vida no planeta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo procurou abordar a necessidade da imposição de normas transnacionais para minimizar os impactos ambientais na sociedade globalizada. Impactos decorrentes da exploração do meio ambiente e de seus recursos com a intenção voltada apenas para o crescimento econômico e a obtenção do lucro, sem se preocupar com a preservação da natureza e a saúde do planeta.

Observou-se que a produção em grande escala ocorreu e ainda ocorre para atender as demandas cada vez mais crescente dos consumidores. Estes, com a ajuda do avanço da tecnologia, do incremento da logística para o transporte de mercadorias e do marketing digital, provocam mudanças significativas no modo de consumo por parte da sociedade.

Esse comportamento consumista e a produção em larga escala, para viabilizar a oferta dos produtos no mercado, contribuíram para o aceleramento da crise ambiental. Visto que causaram o aumento da geração de resíduos sólidos durante a fabricação dos produtos e também após o consumo desses, bem como o aumento da exploração desmedida dos recursos naturais.

Ao pesquisar sobre a globalização das questões ambientais e a Agenda 2030, verificou-se que, diante do fenômeno da globalização, surgiu a necessidade do comprometimento por parte dos Estados-nações em contribuírem para a diminuição da degradação ambiental que ameaça a qualidade de vida do planeta. Por isso, passaram a fazer parte deste cenário as normas transnacionais, a agenda 2030 e os encontros internacionais em busca de soluções ambientais.

Durante o processo da elaboração do capítulo referente à educação ambiental e ao consumo consciente, para se descobrir os meios que levam à sustentabilidade econômica e ambiental, notou-se que a educação ambiental é uma aliada e uma importante ferramenta para mudanças de comportamento e redução da degradação da natureza.

Portanto, restou certa a necessidade da participação globalizada na luta em prol da proteção do meio ambiente e de seus recursos. Afinal, o desafio a ser vencido é a garantia do bem estar da humanidade, por meio da adoção do consumo consciente, que encontra como aliada a educação ambiental.


¹(2017, p 3)
²(2015, p 11)
³(2017)
4(2015)
5(2022)
6(1995)
7(1995)
8(2018)
9(2008)
10(1995)
¹¹(1995)
¹²(2018, p. 2)
¹³(ONU, 2015, s./p.)
14(ONU, 2015, s./p.)
15(2016, p. 219)
16(ONU, 2015)
17(2016, p. 75)
18(2012, p. 41 apud Garcia e Cruz, 2016, p. 205-206)
19(2010)
20(2012, p. 29)
²¹(2009)
²²(2001)
²³(2014)
24(Klein et al, 2018)
25(2014)
26(2019, p. 60)
27(2003)
28(2018, p 81)
29(2016, p. 196)

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