REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10783363
Juliana de Almeida Carvalho Silva1
Luís Carlos de Oliveira Paulo2
RESUMO
Design thinking é uma proposta de metodologia ativa que enfoca a formação a partir da reflexão/ produção de soluções aplicáveis a problemas do cotidiano pelo uso de inovação, criatividade, empatia e cooperação. Desde a pandemia de COVID-19, existe necessidade de abordagens diferenciadas que possam propiciar valor na formação, uma vez que o modelo educacional vigente até então sofreu impacto durante o período de isolamento social e adoção de tecnologias na educação. Questiona-se: como o design thinking pode contribuir para ampliar as oportunidades de aprendizagem pelas metodologias ativas? A inserção de metodologias ativas na educação brasileira é uma oportunidade de se repensar alguns modelos pedagógicos, assim como o currículo, sendo o design thinking uma proposta de adoção de autonomia e criatividade na solução de problemas. Nesse contexto surgiu o objetivo da pesquisa: compreender o design thinking como proposta de metodologia ativa na educação para o contexto pós pandemia de COVID-19, que se desdobra em objetivos específicos: (i) Refletir sobre as metodologias ativas no contexto pós-pandêmico; (ii) Conhecer a abordagem do design thinking; (iii) Identificar a contribuição do design thinking na construção do conhecimento. O corpus selecionado para este estudo é o design thinking na educação pós-pandêmica de COVID-19. O arcabouço teórico que sustenta essa pesquisa são os estudos sobre design thinking na educação propostos por Fialho, Pereira e Menegali (2023), Noble (2021). A proposta encontra suporte em Paiva et al. (2016) e Moran (2018) ao refletir criticamente os conteúdos para promover nova forma de aprender com maior aproximação da realidade dos alunos e da escola. Mostrou-se que o design thinking pode contribuir para reestruturar a educação por centrar nas características individuais e no contexto presente para o desenvolvimento de soluções. Conclui-se que o design thinking traz a inovação, criatividade, empatia e cooperação como base para educar.
Palavras-chave: Design thinking. Metodologia ativa. Criatividade. Pós-pandemia de COVID-19.
ABSTRACT
Design thinking is an active methodology proposal that focuses on training based on reflection/production of solutions applied to daily problems through the use of innovation, creativity, empathy and cooperation. Since the COVID-19 pandemic, there is a need for differentiated approaches that can promote value in training, once the current educational model is experiencing an impact during the period of social isolation and adoption of technologies in education. Question: how can design thinking contribute to broaden learning opportunities for active methodologies? The insertion of active methodologies in Brazilian education is an opportunity to rethink some pedagogical models, as well as the curriculum, where design thinking is a proposal for the adoption of autonomy and creativity in problem solving. This context arose from the research objective: to understand design thinking as a proposal for an active methodology in education for the post-pandemic context of COVID-19, which unfolds into specific objectives: (i) Reflect on the active methodologies in the post-pandemic context; (ii) Know the approach to design thinking; (iii) Identify the contribution of design thinking in the construction of knowledge. The corpus selected for this study is the design thinking in education post-pandemic of COVID-19. The theoretical arcabouço that supports this research is only the studies on design thinking in education proposed by Fialho, Pereira and Menegali (2023), Noble (2021). A proposal found support in Paiva et al. (2016) and Moran (2018) to critically reflect the content to promote a new way of learning with a better approximation of the reality of the students and the school. It showed that design thinking can contribute to restructure education by focusing on individual characteristics and the present context for the development of solutions. I conclude that design thinking traces innovation, creativity, empathy and cooperation as the basis for educating.
Keywords: Design thinking. Active methodology. Creativity. Post-pandemic of COVID19.
INTRODUÇÃO
A educação básica vem sendo avaliada constantemente frente à necessidade de transformações sociais, que demandam adaptações para que se possam cumprir os objetivos educacionais de formação. Surgem nesse contexto as metodologias ativas, como forma de educação transformadora, proposta de introdução de novos métodos e modelos inovadores.
Dentre as metodologias ativas, que trazem a perspectiva de inovação na educação como forma de superar suas limitações frente a evolução da sociedade e mudanças culturais, para adequar o contexto de formação e prover maior proximidade de suas práticas com a realidade socioeconômica, política e cultural, destaca-se o design thinking como uma abordagem que enfatiza a criatividade.
A proposta do design thinking é desenvolver formas de lidar com problemas e sua complexidade para adotar soluções que podem contribuir para a superação dos desafios enfrentados por estudantes, cujo foco reside no usuário, para repensar contextos, refletir sobre as questões cotidianas e assim desenvolver soluções a partir de empatia, experimentação e cooperação.
Tal abordagem vem sendo questionada quanto à sua aplicação e contribuição para a educação básica, pois ainda representa abstração por parte de professores e gestores educacionais para sua inserção no cotidiano escolar.
Todavia, sua prática passa a fazer mais sentido na escola a partir do período pós-pandêmico de COVID-19, após a inserção de tecnologias para permitir a educação durante o período de isolamento social e pela mudança de comportamento posterior.
As tendências educacionais a partir das metodologias ativas não foram originadas pela pandemia, foram estudos e propostas fomentados pela expansão da teoria e prática educacionais, que se aplicam a um amplo espectro de justificativas direcionadas a repensar a educação no Brasil e no mundo.
Todavia, a pandemia agilizou a emergência de adoção de novos recursos e modelos educacionais compatíveis com as necessidades impostas na contingência do período de isolamento social, sobretudo na introdução de tecnologias como recursos de ensino-aprendizagem e nos modelos pedagógicos, culminando na valorização e aplicação de metodologias ativas, dentre elas o design thinking. Esta pesquisa traz como objetivo compreender o design thinking como proposta de metodologia ativa na educação para o contexto pós-pandemia de COVID-19, que se desdobra em objetivos específicos: (i) Refletir sobre as metodologias ativas no contexto pós-pandêmico; (ii) Conhecer a abordagem do design thinking; (iii) Identificar a contribuição do design thinking na construção do conhecimento.
É preciso levantar os meandros da educação em sua transformação, que não deriva da pandemia, mas que sofreu impacto desta, na forma de aprendizagem, práticas pedagógicas e que traz a nuance dos desafios já enfrentados pela educação, como argumentam Martins Filho, Gerges e Fialho (2015):
É preciso ensinar no mundo, e não mais sobre o mundo. É fundamental fazer parte do problema, em vez de simular o problema em ambientes controlados. É essencial entender que a escola não é um mundo à parte, que a sala de aula não é um lugar específico, mas um grupo de pessoas, que os problemas do mundo moldam a sala de aula e que pessoas e suas histórias e contextos são parte desse problema. Esse é um retrato do que é a educação no século XXI (MARTINS FILHO; GERGES; FIALHO, 2015, p. 582).
Posteriormente, os autores levantam a questão de aprofundamento e criação de conhecimento como base que dão ensejo a proposta de design thinking.
Não se pretende aqui mergulhar no conceito e evolução do design thinking, mas realizar breve explanação sobre sua contribuição para repensar e educação num contexto pós-pandêmico.
Para o desenvolvimento da pesquisa, utilizou-se como metodologia a pesquisa qualitativa e exploratória, realizada por revisão bibliográfica em artigos que trazem o estado da arte do design thinking e abordam o período pós-pandêmico de COVID-19. Também foi utilizada a descrição para análise dos resultados, o que permite expressar a perspectiva dos autores enquanto educadores da educação básica.
METODOLOGIAS ATIVAS NA EDUCAÇÃO PÓS-PANDEMIA DE COVID-19
A inserção de metodologias ativas na educação brasileira é uma oportunidade de se repensar alguns modelos pedagógicos, assim como o currículo, sendo o design thinking uma proposta de adoção de autonomia e criatividade na solução de problemas que se define como uma metodologia ativa.
A proposta das metodologias ativas encontra suporte em Paiva et al. (2016) e Moran (2018) ao refletir criticamente os conteúdos para promover nova forma de aprender com maior aproximação da realidade dos alunos e da escola.
O contexto escolar atual do Brasil, de pós pandemia, apresenta alunos que retornam à escola depois de aproximadamente dois anos, restritos ao ambiente do lar, muitos estudantes carentes, que além da defasagem educacional, emocional, passaram momentos de fome, quando estes se valem do lanche oferecido pela instituição de ensino. As escolas então receberam de volta alunos diferentes daqueles até o ano de 2020, com diversas lacunas. Uma das preocupações da escola é como manter o alunado engajado, despertar neles o interesse pelo aprender. A questão que se levanta e sem dúvidas tem incomodado muitos docentes é, quais formas, quais estratégias pedagógicas podem ser utilizadas na busca de despertar alunos para um aprender significativo? (ALVES; MARTINS, 2022, p. 1).
As metodologias ativas se fundamentam a partir de métodos e técnicas educacionais que direcionam o foco para o aprendizado do aluno a partir da adoção dos recursos tecnológicos em sua formação e desenvolvimento.
Para Moran (2018) a aprendizagem é um processo contínuo e ativo no cotidiano dos alunos e apresenta desafios complexos, pela mudança de parâmetros, destacando o questionamento e a experimentação na compreensão dos fenômenos que fazem parte da construção de conhecimento.
A sala de aula pode ser um espaço privilegiado de cocriação, maker, de busca de soluções empreendedoras, em todos os níveis, onde estudantes e professores aprendam a partir de situações concretas, desafios, jogos, experiências, vivências, problemas, projetos, com os recursos que têm em mãos: materiais simples ou sofisticados, tecnologias básicas ou avançadas (MORAN, 2018, p.31).
Costa e Moura (2019) avaliam a escola como processo de transformação contínuo, que se sustenta por construções e desconstruções, envolvem diversidades e ampliação de experiências de vida que precisam ser parte integrante do processo educacional.
Naedzold e Milani (2023) consideram que as metodologias ativas compreendem aprendizagens significativas pela articulação entre ações didáticas em sala de aula e postura do professor, em que há o protagonismo dos alunos na construção de seu conhecimento e a participação ativa, o que traz a necessidade de construção de formatos e estratégias para a educação, numa operacionalização única da aprendizagem.
As metodologias ativas de ensino-aprendizagem compartilham uma preocupação, porém, não se pode afirmar que são uniformes tanto do ponto de vista dos pressupostos teóricos como metodológicos; assim, identificam se diferentes modelos e estratégias para sua operacionalização, constituindo alternativas para o processo de ensino aprendizagem, com diversos benefícios e desafios, nos diferentes níveis educacionais (PAIVA et al., 2016, p. 146).
Podem ser consideradas possíveis mudanças nas abordagens de ensino e aprendizagem que não se originaram com a pandemia de COVID-19, mas se consolidaram como práticas nas escolas a partir do período de isolamento social imposto pela pandemia, pela necessidade de soluções aplicáveis que permitissem a continuidade da educação.
De um lado, as soluções adotadas a partir dos recursos tecnológicos foram questionadas ante a sua eficácia para ensinar, de outro, mostraram possibilidades de melhorar a educação, para torná-la mais efetiva por ser mais atrativa para os alunos e acompanhar a evolução das tecnologias de informação e comunicação, revelando recursos que os alunos utilizam em seu dia a dia, sendo utilizados na educação.
De outro, surgem os questionamentos sobre o modus operandi da educação, ou seja, os métodos e modelos educacionais que vêm sendo utilizados por um longo tempo e que não se apresentam mais eficazes frente às características da sociedade atual.
De acordo com as metodologias ativas, para que a aprendizagem seja relevante o papel do professor deve ser o de facilitar o processo com práticas educativas que promovam ao aluno um espaço de comportamento ativo em relação ao conteúdo, onde ele perceba significado durante o processo ensino e aprendizado, para isso, as metodologias ativas se valem de jogos e brincadeiras, gamificação, rodas de discussões, estudos em grupos, dinâmicas, sala de aula invertida etc. (ALVES; MARTINS, 2022, p. 2)
Por esse motivo a educação pós-pandemia de COVID-19 reconhece e valoriza as metodologias ativas como meio para superar desafios educacionais de formação e atualizar as formas de ensino-aprendizagem, com a mudança de enfoque do sistema educacional para os alunos e sua participação ativa no processo de ensino aprendizagem, o que é possível identificar a partir de algumas tendências educacionais a partir da pandemia:
Tecnologias de informação e comunicação na educação: a educação adotou as tecnologias de informação e comunicação para ter continuidade e tentar prevenir fragmentação durante o período pandêmico, o que se efetivou posteriormente com a continuidade do uso das tecnologias educacionais, com a integração de ferramentas e plataformas de tecnologia para ampliar a experiência da aprendizagem;
Aprendizagem híbrida: a pandemia acelerou a adoção da aprendizagem híbrida, que consiste na combinação de métodos de ensino presencial e virtual, com o ensino a distância, o que prevê atendimento a estilos e preferências de aprendizado, sendo um ensino mais flexível e que pode contribuir em interrupções futuras na educação;
Sala de aula invertida: a sala de aula invertida envolve os alunos ao conhecerem antecipadamente os materiais de aprendizagem antes da aula, permitindo a reflexão, crítica e debates, valorizando o tempo presencial de aula para discussões, levantamento de pontos de vista, realização de atividades em grupo e propostas de solução de problemas;
Aprendizagem baseada em projetos: a aprendizagem baseada em projetos promove um processo de ensino-aprendizagem essencialmente participativo, prático e significativo e, neste caso, o projeto é a principal ferramenta de trabalho quando o educador decide aplicar essa metodologia, uma vez que incentiva os alunos a trabalhar em projetos do mundo real, promovendo o pensamento crítico, resolução de problemas, colaboração e criatividade;
Design thinking: o design thinking baseia-se em ideação e experimentação, com o uso de insights e ideias para solucionar problemas, sendo um processo criativo que usa a empatia, colaboração e a inovação em sala de aula como parte da aprendizagem;
Gamificação: A gamificação envolve a incorporação de elementos semelhantes a jogos no processo de aprendizagem para torná-lo mais agradável e envolvente. Pontos, insígnias, tabelas de classificação e questionários interativos podem ser usados para motivar os alunos e aprimorar sua experiência de aprendizado;
Atividades ao ar livre: uso da educação em ambiente ao ar livre é uma abordagem que vem sendo adotada para o aprendizado, por propor mudança de ambiente e aproximação dos alunos com os recursos mais saudáveis;
Saúde mental e bem-estar na escola: o contexto pós-pandemia reflete de forma mais acentuada no apoio à saúde mental e bem-estar do aluno, a partir da preocupação com ambiente escolar e educacional com cooperação, comunidade e sensação e pertencimento do aluno;
Foco em competências socioemocionais: de forma distinta ao desenvolvimento de competências técnicas, como era estruturada a educação, a partir da reformulação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), percebe-se maior ênfase às competências socioemocionais, o que atualmente se mostra necessário à nova formação no contexto pós-pandêmico.
Estes elementos foram levantados como as principais influências da educação a partir da pandemia de COVID-19, e sustentam a proposta das metodologias ativas, que a partir deste contexto, encontram espaço para serem amplamente adotadas na escola.
As metodologias ativas se mostram como possibilidades para promover mudanças nas práticas pedagógicas de muitos profissionais, principalmente, professores, e, através delas, que esses profissionais busquem proporcionar uma aprendizagem significativa aos estudantes e agreguem o uso das tecnologias digitais as plataformas usadas com fins educacionais e, desde modo, trabalhar para que com que os estudantes possam construir novas capacidades e possam se adequar a estes novos tempos da Educação (NAEDZOLD; MILANI, 2023, p. 10).
Alves e Martins (2022) complementam mencionando que os alunos apresentaram dificuldades no retorno à escola após o período de isolamento social imposto pela pandemia de COVID-19, que traz a preocupação de escola para propiciar aprendizado que motive os alunos, o que se faz pela introdução de práticas pedagógicas que permitam o envolvimento e participação ativa destes, sendo que o engajamento e a motivação são elementos que fazem parte do desenvolvimento de competências descritas pela BNCC.
Embora haja variação do cenário da educação conforme o local onde se aplicam as metodologias ativas, percebe-se que a adoção de tecnologias, gamificação, projetos, educação híbrida são fomentados por uma perspectiva dos
“nativos digitais”, como as gerações que tem facilidade para lidar com as tecnologias de informação e comunicação e apresentam capacidade de realização de múltiplas tarefas, colocada por Presnky (2001), que entende as tecnologias na educação como atendimento às gerações atuais e futuras.
DESIGN THINKING NA EDUCAÇÃO
Brown e Wyatt (2010) trazem uma perspectiva social do design thinking que se vincula com sua inserção na educação, pois consideram como um processo de criatividade e inovação que se baseia na identificação da viabilidade de um projeto, sua perspectiva prática de aplicação e o sentido atribuído, se é reconhecido como interessante para as pessoas.
Cavalcanti e Filatro (2017) sugerem quatro etapas do design thinking para a educação:
• Compreender o problema: coleta, análise, compreensão e organização de informações sobre o problema identificado como relevante;
• Projetar soluções: brainstorming (reunião de ideias), avaliar e selecionar as melhores ideias para possíveis soluções;
• Prototipar: definição de protótipo das melhores ideias, teste, ajustamento e avaliação;
• Implementar a melhor opção: experimentação da melhor opção e revisão.
Partindo das percepções sobre a dinâmica do design thinking, adota-se a perspectiva do processo de design thinking para a educação, como uma proposta de construção conforme proposto por Brown e Wyatt (2010), conforme Quadro 1.
Quadro 1: Processo de Design Thinking para a Educação
Descoberta | Busca-se observar e coletar dados, conhecer o problema e seus objetivos, o grupo envolvido e o contexto no qual está inserido, a fim de provocar a inspiração para a geração de ideias. |
Interpretação | As descobertas se transformam em insights valiosos, visando transformá-los em oportunidades de ação, onde são selecionados e condensados, a fim de encontrar uma justificativa convincente para seguir para a fase de ideação. |
Ideação | O uso das sessões de brainstorming auxilia no pensar expansivo, sem medos, podendo render centenas de ideias valiosas. O uso de mapas mentais e de posts-its auxiliam nesta fase. É importante também, definir algumas regras como: evitar o julgamento, ser visual, etc., para que a sessão seja focada, eficiente e divertida. |
Experimentação | Dá “vida” às ideias, construindo-se protótipos, tornando tangível aquilo que se pensou, dividindo-se isso com outras pessoas.Isso oportuniza a melhorar e refinar uma ideia. |
Evolução | Tem-se o desenvolvimento do conceito no seu tempo, planejando-se os próximos passos, comunicando as pessoas que podem auxiliar na execução, documentando-se o processo, com o auxílio de lembretes que mostrem o progresso que se teve ao longo do tempo. |
Fonte: Extraído de Stumm e Wagner (2019, p. 15-16).
Noble (2020) faz uma crítica sobre as etapas do design thinking como um passo a passo para apenas serem aplicadas e obter um resultado específico, quando na verdade, é um processo de exploração e experimentação, ou seja, se delineia enquanto um processo que traz a espontaneidade como parte do processo criativo. Percebe-se que a crítica é feita no sentido de elucidar a amplitude do tema, pois as etapas e sua sequência convergem para a organização do trabalho em sala de aula e na obtenção de um produto final a partir do design thinking, portanto, integra as etapas em conjunto com as abordagens das perspectivas durante o processo. Stumm e Wagner (2019) corroboram com esta perspectiva ao considerar que o design thinking é um processo de gerar soluções a problemas que podem ser levantados em sala de aula, que incitam ao aluno para o desenvolvimento de sua aprendizagem: “Problematização dada em sala de aula, onde os alunos são desafiados a executar o processo de design thinking para alcançar um objetivo, ou, a procurar resolver problemas ou situações no próprio ambiente escolar, por exemplo” (STUMM; WAGNER, 2019, p. 14).
Bruschi et al. (2020) consideram os diferentes caminhos que podem ser trilhados no design thinking, o que prevê diferentes modos de pensar e agir, conforme Figura 1.
Figura 1: Diferentes modos de pensar do Design Thinking
Fonte: Bruschi et al. (2020, p. 159)
Bruschi et al. (2020) esclarecem que há uma integração nos modos de nortear os pensamentos, e que estes tornam uma ideia ou proposta tangível a partir da materialização ou experimentação.
Ademais, Reginaldo (2015) considera que o design thinking desempenha uma função social na formação que traz uma perspectiva integral pois percorre todas as capacidades em seu desenvolvimento, permitindo a expressão da diversidade de alunos, sendo que na abordagem de sua aplicação, o valor reside no protagonismo dos alunos no processo educativo e que, embora seja complexa a avaliação nesta perspectiva, há um modo formativo que se legitima por distintas formas avaliativas. Assim, é possível destacar que design thinking é uma proposta ampla, que se consubstancia pela prática da empatia, colaboração, criatividade e inovação, pautadas numa organização dos pensamentos e ações para se obter um resultado, o que pode produzir soluções valiosas e contribuir para uma formação mais adequada às necessidades atuais da sociedade e da escola.
DESIGN THINKING NA EDUCAÇÃO A PARTIR DA PANDEMIA DE COVID-19
Há a consideração sobre alguns aspectos que devem ser analisados para a inserção do design thinking como uma abordagem inovadora na educação nas escolas após o período de pandemia da COVID-19.
A emergência da pandemia de Covid-19, nos primeiros meses de 2020, apresentou-se como obstáculo adicional na busca por melhores resultados na educação. O estado de emergência em saúde, declarado pela OMS em 30 de janeiro de 2020 e classificado como pandemia em 11 de março de 2020 (Organização Pan-Americana da Saúde [OPAS], n.d.), terminou por levar a educação brasileira em todos os níveis ao sistema de ensino remoto. Crianças, adolescentes, jovens e adultos sofreram contingências repentinas e restritivas, impactando a rotina cotidiana, a vivência escolar ou acadêmica, que passaram a ter conexões mediadas por telas de computadores, celulares e outros dispositivos (PHILBOIS et al., 2023, p. 155).
Philbois et al. (2023) consideram que nesse contexto emergem as metodologias ativas que eram tidas como ainda incipientes, mas que traziam estratégias de ensino direcionadas à solução de problemas de forma inovadora, especificamente analisam o design thinking, que trazia escopo a valorização da produção original de conhecimento com base em técnicas inovadoras.
Noble (2021) entende que o design thinking é uma metodologia que propulsiona os processos criativos de alunos ao se caracterizar como um modelo exploratório que tem início com um pensamento colaborativo, portanto não se classifica como um método, pois é construído a partir do contexto e do foco nos elementos humanos.
São adotadas perspectivas que se complementam para compreender a dinâmica do design thinking (NOBLE, 2021; STUMM; WAGNER, 2019) e que podem contribuir para refletir sobre sua contribuição na educação pós-pandêmica:
• Trabalho colaborativo, empatia, participação ativa, inovação, criatividade; Criação por meio da prática e realização de experiências, problematização;
• Insights para solução de situações ou problemas.
Também, Bruschi et al. (2021) analisam a contribuição do design thinking para promover melhorias nos processos educativos e formativos:
[…] o Design Thinking tem muito a contribuir para a Educação por estimular a resolução de problemas, a inovação e a adoção de estratégias de ensino aprendizagem centradas nos estudantes. Como método, ele pode trazer a inovação a práticas educacionais tradicionais, além de maior significado e efetividade dos conteúdos ministrados pelos docentes, propiciando a identificação das mudanças resultantes da implementação daquilo que foi criado, adaptado e/ou estendido (BRUSCHI et al., 2020, p. 159).
Dessa forma, é possível extrair alguns aspectos significativos que elucidam a contribuição do design thinking na educação no contexto pós-pandemia de COVID19:
• Aprimoramento do processo de ensino-aprendizagem;
• Alunos são protagonistas na busca por soluções inteligentes e inovadoras para problemas ou situações específicos;
• Práticas inovadoras em educação que formam os alunos para a sociedade do conhecimento.
O contexto pós-pandêmico requer adoção de estratégias e metodologias inovadoras na educação, como proposta para contemplar o uso das tecnologias digitais, mas, sobretudo, de proporcionar um espaço de autonomia para o aluno na construção de seu conhecimento.
O design thinking é uma metodologia ativa que pode contribuir na formação pós-pandemia pela promoção de colaboração e participação ativa dos alunos na solução de problemas.
Nesta seara, pode ser uma ferramenta poderosa para repensar e melhorar o processo de aprendizagem, assim como amplia a participação do ambiente escolar de forma mais significativa, uma vez que professores, gestores educacionais e alunos podem atuar juntos para desenvolver soluções mais relevantes, engajadoras e adaptadas às necessidades da sociedade.
Desta forma, é possível considerar alguns aspectos fundamentais da abordagem do design thinking que pode ser aplicado na educação pós-pandemia, conforme Quadro 2.
Quadro 2: Abordagem do design thinking na educação pós-pandemia de COVID-19
Maior compreensão das necessidades dos alunos | identificar e entender as necessidades, preocupações e desejos dos estudantes que foram impactados pela pandemia; |
Revisão de currículos e métodos de ensino | Repensar os currículos e os métodos de ensino e adaptar às necessidades dos estudantes, com a sugestão de abordagens mais atrativas e práticas que englobam o uso de tecnologias educacionais e experiências de aprendizagem mais significativas para os alunos; |
Desenvolvimento deeducação personalizada | Uso de soluções personalizadas conforme perfil do alunado para atender necessidades dos alunos, com a criação de projetos educacionais flexíveis que levam em consideração as diferenças individuais dos alunos; |
Incentivo à colaboração entre professores e alunos | A colaboração entre professores e alunos oferece um ambiente de aprendizado mais efetivo, com a co-criação de soluções, trabalho em equipe e participação ativa dos alunos no processo educacional; |
Adoção da tecnologia de forma inovadora | Criação de soluções inovadoras a partir do uso das tecnologias na educação, promovendo também oportunidades de aprendizado; |
Prototipar e repetir | O design thinking incentiva a prototipagem rápida e a repetição contínua para testagem de ideias de forma ágil, avaliação da eficácia, ajustamento, o que traz melhorias no aprendizado; |
Consideração de questões sociais e emocionais | A necessidade formação de competências socioemocionais e os traumas emocionais que podem ter sido causados pela pandemia nos estudantes são considerados pelo design thinking a partir do desenvolvimento de programas de suporte emocional e mental, tendo como foco a saúde mental dos alunos e na oferta de auxílio para lidar com os desafios enfrentados durante esse período e, também no retorno à escola após o período de isolamento social com as mudanças que são necessárias no ambiente educacional, tais como a inserção das metodologias ativas, dentre elas design thinking. |
Fonte: Os autores
O design thinking na educação pós-pandemia é uma abordagem valiosa para desenvolvimento de soluções inovadoras e centralizadas na participação dos alunos, pois, ao colocar as necessidades educacionais e dos alunos no centro do processo, é possível transformar a educação para enfrentar os desafios emergentes e preparar os estudantes para a complexidade e incerteza que enfrentam na sociedade atual.
A discussão sobre a adoção e formato da implantação e intensificação do uso dessas metodologias deve ser inserida no próprio ambiente educacional. É importante que sejam promovidos workshops, discussões e avaliações por quem faz parte efetivamente do processo. Trata-se de uma demanda muito mais presente no período pós-retomada presencial nas escolas e universidades, em momento que devem ser registrados os avanços, desafios e perspectivas para o futuro (PHILBOIS et al., 2023, p. 171).
Também, o Design Thinking se alinha bem à aprendizagem baseada em projetos, onde os alunos têm a oportunidade de aplicar conhecimentos e habilidades em contextos reais, desenvolvendo uma compreensão mais completa e prática do que estão aprendendo. A proposta coloca o usuário (alunos, professores, funcionários e comunidade escolar) no centro do processo. Ao projetar soluções para a escola, os alunos devem considerar como sua proposta beneficiará as pessoas envolvidas. Assim, o Design Thinking valoriza o trabalho em equipe e a colaboração. Ao realizar projetos escolares com essa abordagem, os alunos aprendem a trabalhar juntos, respeitar as contribuições de cada membro da equipe e a aproveitar a diversidade de habilidades e perspectivas, o que reflete numa proposta mais adequada à educação no contexto pós-pandêmico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Design thinking é uma abordagem que pode contribuir sobremaneira na redefinição da educação pós-pandemia de COVID-19, como uma proposta que traz o foco no ser humano e seu protagonismo e trabalha aspectos subjetivos como empatia, colaboração, criatividade a partir de uma prototipagem delineada para ajudar os alunos a enfrentar desafios complexos e encontrar soluções inovadoras.
A utilização do design thinking enquanto metodologia ativa favorece a formação pós-pandemia pela promoção de colaboração e participação ativa dos alunos na solução de problemas, aliando a organização dos pensamentos, ações e soluções a partir de uma estrutura criada por etapas que são consecutivas e propiciam o trabalho com as competências individuais.
Sugere-se a realização de pesquisas aprofundadas na relação entre design thinking e outras metodologias ativas, como um continuum de processos entrelaçados que promovem a transformação integral da educação no contexto pós-pandêmico.
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1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Metodista de São Paulo – UMESP.
2 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Metodista de São Paulo – UMESP.