A GESTÃO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10723206


Marcella Moreira1


A gestão de governança corporativa é um elemento essencial para o sucesso e sustentabilidade de qualquer organização. Trata-se de um conjunto de práticas, políticas e diretrizes que visam garantir transparência, responsabilidade, equidade e prestação de contas no âmbito empresarial. Esses princípios são fundamentais para criar um ambiente de negócios saudável, fortalecendo a confiança dos investidores, acionistas, colaboradores e demais partes interessadas.

A origem da governança corporativa remonta aos Estados Unidos como uma estratégia para conter a apropriação indébita dos acionistas pelos gestores executivos. Em outras palavras, sua concepção ocorreu como uma reação a diversos incidentes de utilização inadequada da riqueza dos acionistas por parte dos administradores. Os estudiosos caracterizam a governança corporativa como o conjunto de mecanismos pelos quais investidores externos (acionistas ou credores) se resguardam contra a expropriação perpetrada por investidores internos (executivos ou acionistas controladores). Assim sendo, a governança corporativa busca assegurar que os recursos investidos pelos acionistas não sejam dissipados por gestores executivos em atividades que não proporcionem o melhor retorno possível (Shleifer & Vishny, 1997; La Porta & Vishny, 2000).

O conceito original de governança corporativa estava vinculado ao conselho de administração, à diretoria executiva e aos acionistas que não fazem parte da gestão. Com o decorrer do tempo, a definição do tema expande-se, uma vez que as dinâmicas de poder nas organizações não se limitam ao triângulo formado pelo conselho de administração, diretoria executiva e acionistas, mas abrangem toda a sociedade na qual a empresa está inserida (Tinoco et al., 2011).

Os princípios e práticas da boa governança têm se estabelecido como ferramentas essenciais para impulsionar e gerar impactos positivos nos resultados de qualquer organização, independentemente de seu tamanho ou estrutura legal, seja ela uma entidade pública, empresarial ou do terceiro setor. Especialmente para as organizações da sociedade civil, a adoção de boas práticas de governança tornou-se crucial para assegurar a legitimidade e relevância do setor. Isso é evidente no caso de fundações e institutos empresariais, os quais, cada vez mais, precisam incorporar em seus planejamentos estratégicos e nas interações com diversos stakeholders – mantenedores, setor público, conselhos, membros, fornecedores e, sobretudo, a comunidade beneficiada – uma abordagem orientada pelos princípios fundamentais da boa governança (Yoshitake et al., 2017).

Um dos pilares da governança corporativa é a transparência, que envolve a divulgação adequada de informações relevantes sobre a empresa. Este alicerce, conforme sugere seu próprio nome, simboliza a transparência na divulgação de todas as informações a todas as partes interessadas, não se limitando apenas às informações exigidas por leis ou regulamentos (IBGC, 2015). Isso não apenas atende às exigências regulatórias, mas também promove a confiança do mercado e a tomada de decisões informadas por parte dos investidores. A transparência contribui para a redução de riscos e o fortalecimento da reputação da organização. 

A responsabilidade é outro princípio crucial. A gestão de governança corporativa implica em definir claramente as funções e responsabilidades dos membros da alta administração, do conselho de administração e de outros órgãos deliberativos. A responsabilidade corporativa engloba a responsabilidade pela sustentabilidade econômico-financeira da organização. Em outras palavras, os responsáveis pela Governança Corporativa devem ser aptos a lidar com externalidades negativas e aproveitar as positivas, considerando o modelo de negócios em termos de curto, médio e longo prazo (IBGC, 2015). A distribuição adequada de papéis e a definição de limites de autoridade são essenciais para evitar conflitos de interesse e assegurar que as decisões sejam tomadas em benefício da empresa como um todo.

Quanto ao princípio da equidade, conforme destacado pelo IBGC (2015), refere-se à aplicação do conceito de tratamento justo e igualitário para todos os membros que integram a organização. Esse tratamento deve ser guiado pelo respeito aos interesses, necessidades, direitos, deveres e expectativas desses membros. Isso inclui a proteção dos direitos dos acionistas minoritários e a prevenção de práticas discriminatórias. Assegurar que todos os stakeholders tenham voz e participação nas decisões estratégicas contribui para a construção de relacionamentos sólidos e duradouros.

A prestação de contas é o último pilar, sendo a capacidade da empresa em prestar contas pelos resultados obtidos e pelas decisões tomadas, de forma que a o ato de prestar contas tenham sido realizados de forma autêntica e clara e que os agentes de governanças atuem de forma responsável e coesa (Amaral, 2018). Isso envolve a implementação de mecanismos eficazes de auditoria, relatórios financeiros claros e a responsabilização dos gestores pelos seus desempenhos. A prestação de contas fortalece a integridade da organização e demonstra o compromisso com a eficiência e a responsabilidade.

A gestão da governança corporativa oferece uma série de vantagens que são cruciais para o funcionamento eficaz das organizações, promovendo valores como transparência, responsabilidade e eficiência em suas práticas. A gestão eficaz da governança corporativa desempenha um papel significativo no acesso a capital. Ao fortalecer a reputação da empresa e inspirar confiança nos investidores, ela facilita a captação de recursos, uma vez que os investidores tendem a favorecer empresas com sólidas práticas de governança.

Outro ponto crucial é a gestão de riscos. Aebi, Sabato & Schmid (2012) conceituam governança de riscos como os elementos de governança corporativa relacionados ao Gerenciamento de Riscos Corporativos. Ela engloba a promoção de uma cultura de riscos na organização, contando com uma estrutura organizacional que respalda a gestão de riscos, bem como mecanismos de governança para sua formalização. Em sua essência, a governança de riscos oferece suporte ao processo de integração de riscos (Lundqvist, 2015). A gestão de riscos é aprimorada por meio de procedimentos bem definidos para identificação, avaliação e gestão de riscos de forma eficiente. Isso contribui para a estabilidade e sustentabilidade a longo prazo da empresa, indo além de meros resultados financeiros imediatos.

A governança corporativa também desempenha um papel na atração de talentos qualificados. Empresas que adotam práticas éticas e responsáveis tendem a ser mais atrativas para profissionais qualificados, contribuindo para a construção de uma equipe talentosa e comprometida. Além disso, a governança corporativa estimula a inovação e o crescimento ao estabelecer estruturas de tomada de decisões ágeis e adaptáveis às mudanças no ambiente de negócios. Isso não apenas fortalece a posição competitiva da empresa, mas também promove uma cultura de inovação.

No contexto legal, a governança corporativa ajuda a garantir a conformidade com regulamentações e normas do setor, minimizando riscos legais e contribuindo para a sustentabilidade operacional. Além disso, ao fortalecer o relacionamento com diversos stakeholders, como clientes, fornecedores, colaboradores e comunidade, a governança corporativa contribui para a construção de parcerias duradouras e positivas. Além disso, ela desempenha um papel importante na valorização da marca, uma vez que uma reputação construída sobre princípios éticos e responsabilidade social pode se tornar um diferencial competitivo valioso.

Portanto, a gestão de governança corporativa é um elemento essencial para o sucesso sustentável das empresas no cenário empresarial moderno. Ao adotar e implementar práticas que promovam a transparência, responsabilidade, equidade e prestação de contas, as organizações podem construir relacionamentos sólidos com seus stakeholders, fortalecer sua reputação e garantir um ambiente de negócios ético e eficiente.

Referências

Aebi, V., Sabato, G., & Schmid, M. (2012). Risk management, corporate governance, and bank performance in the financial crisis. Journal of Banking & Finance, 36(12), 3213-3226.

Amaral, Lucas Belchior Bataglia. Análise do nível de aderência aos pilares de governança corporativa em quatro mineradoras situadas em Minas Gerais. 2018. 24 f. Monografia (Graduação em Administração) – Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal de Ouro Preto, Mariana, 2018.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa (5 ed.). São Paulo: IBGC 2015.

La Porta, R., & Vishny, R. (2000). Agency problems and dividend policies around the world. Journal of Finance, 55(1), 1-33.

Lundqvist, S. A. (2015). Why firms implement risk governance – Stepping beyond traditional risk management to enterprise risk management. Journal of Accounting and Public Policy, 34(5), 441-466.

Shleifer, A., & Vishny, R. (1997). A survey of corporate governance. Journal of Finance, 52(2), 737-783.

TINOCO, João Eduardo Prudêncio; ESCUDER, Sergio Antonio Loureiro; YOSHITAKE, Mariano. O conselho fiscal e a governança corporativa: transparência e gestão de conflitos. Revista Contemporânea de Contabilidade, v. 8, n. 16, p. 175-202, 2011.

YOSHITAKE, Mariano et al. Os pilares da governança corporativa nas organizações. Sindicato dos Contabilistas de São Paulo. 2017.


¹Com uma sólida formação em Administração de Empresas pela Universidade do Grande Rio (Unigranrio) e uma pós-graduação em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV), ele adquiriu habilidades e conhecimentos abrangentes em diversas áreas da gestão empresarial.
Sua carreira profissional é marcada por experiências significativas em empresas de grande porte, onde desenvolveu expertise em organização de processos, cadeia de suprimentos, compras internacionais e redução de custos. Ao longo dos anos, ele atuou em empresas renomadas como Globo Participações SA, L’Oréal Brasil e Smith Services, uma empresa da Schlumberger.
Na Globo Participações SA, desempenhou o papel de Comprador II, sendo responsável por contratos no âmbito da Tecnologia de Transmissão para Produção de Conteúdo: Entretenimento, Jornalismo e Esporte. Realizou análises de solicitações de contratação, negociações no mercado nacional, abertura de RFPs, elaboração de contratos e interação com clientes internos, garantindo o sucesso contínuo dos projetos.
Anteriormente, na L’Oréal Brasil, atuou como Analista de Logística de Nacionalização Plena, onde coordenou o processo de nacionalização de produtos importados da L’Oréal, desde o recebimento até a expedição, assegurando a entrega pontual dos produtos aos clientes internos. Também contribuiu significativamente para a criação do orçamento de importação e para a redução de custos operacionais. Além disso, foi sócio-gerente do Restaurante Rota Mineira, onde liderou o planejamento estratégico do restaurante, gerenciou as operações diárias e liderou uma equipe de seis funcionários. Sua experiência como empreendedor proporcionou-lhe uma compreensão abrangente das demandas e desafios enfrentados por pequenas empresas.
Ao longo da sua trajetória, desenvolveu habilidades excepcionais de negociação, análise de dados, gestão de pessoas e redução de custos. É usuário experiente de sistemas como Microsoft Office, ORACLE e SAP, além de ter fluência em inglês intermediário e português nativo.
Ela está sempre em busca de novos desafios e oportunidades de crescimento profissional, e está confiante de que sua experiência diversificada e sua paixão por excelência o tornam um profissional altamente qualificado e pronto para enfrentar os desafios do mundo empresarial atual.