EXPLORANDO A INTERLIGAÇÃO ENTRE TERRITÓRIO E POBREZA: UMA ANÁLISE MULTIDISCIPLINAR.

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10542524


Cláudio Marinho de Pinho Pontes1
Patrícia Maria Dusek2
Maria Geralda de Miranda3


RESUMO:

               A influência do território na dinâmica da pobreza é crucial, como destacado por estudos recentes de Duranton, Puga (2019), e Galster (2020). A geografia, distribuição de recursos e acesso a serviços emergem como elementos fundamentais na perpetuação das desigualdades socioeconômicas. A concentração de pobreza em áreas urbanas densas, discutida por Rodríguez-Pose, Storper (2020), ressalta a escassez de serviços, empregos e educação. A discrepância entre áreas urbanas e rurais, conforme apontado por Musterd, Ostendorf (2021), revela a falta de investimento em infraestrutura como fator contribuinte para a continuidade da pobreza. Políticas públicas e governança territorial, exploradas por Wilkinson, Pickett (2020), emergem como cruciais na mitigação das disparidades. Estratégias inclusivas de desenvolvimento territorial e acesso equitativo a serviços básicos são essenciais para combater as desigualdades. Este resumo enfatiza a relevância do território como determinante central da pobreza e destaca a necessidade de políticas integradas, baseadas nas complexidades geográficas, para promover equidade e inclusão social

PALAVRAS-CHAVE: Território, Pobreza , Desigualdades , Políticas .

ABSTRACT: 

           The influence of territory on poverty dynamics is crucial, as highlighted by recent studies by Duranton, Puga (2019), and Galster (2020). Geography, distribution of resources and access to services emerge as fundamental elements in the perpetuation of socioeconomic inequalities. The concentration of poverty in dense urban areas, discussed by Rodríguez-Pose, Storper (2020), highlights the scarcity of services, jobs and education. The discrepancy between urban and rural areas, as pointed out by Musterd, Ostendorf (2021), reveals the lack of investment in infrastructure as a contributing factor to the continuity of poverty. Public policies and territorial governance, explored by Wilkinson, Pickett (2020), emerge as crucial in mitigating disparities. Inclusive territorial development strategies and equitable access to basic services are essential to combat inequalities. This summary emphasizes the relevance of territory as a central determinant of poverty and highlights the need for integrated policies, based on geographic complexities, to promote equity and social inclusion.

KEYWORDS: Territory, Poverty, Inequalities, Policies.

1. Introdução

          As desigualdades socioespaciais referem-se às disparidades e diferenças que existem entre grupos de pessoas ou comunidades em termos de acesso a recursos, oportunidades e qualidade de vida, com base nas características do espaço geográfico em que estão localizados. Essas desigualdades são resultado de uma combinação de fatores sociais, econômicos e espaciais.

         Os aspectos socioespaciais consideram não apenas a distribuição desigual de recursos materiais, como renda, educação, serviços de saúde, moradia e infraestrutura, mas também aspectos culturais, identitários e de participação política.

         Os espaços geográficos podem apresentar discrepâncias significativas, onde determinadas áreas enfrentam condições socioeconômicas precárias, falta de investimento em infraestrutura, serviços públicos inadequados e acesso limitado a oportunidades, enquanto outras regiões desfrutam de melhores condições e recursos.

          Essas desigualdades podem ser observadas em níveis locais, regionais ou globais e têm impactos profundos na vida das pessoas, afetando sua qualidade de vida, bem-estar e oportunidades de desenvolvimento. A compreensão e o enfrentamento das desigualdades socioespaciais são essenciais para promover sociedades mais justas e inclusivas.

        O estudo realizado pelo Ibase, revela que 63% dos moradores do Complexo do Alemão vivem com uma renda equivalente a até um salário mínimo regional. A pesquisa, que entrevistou 2 mil residentes nas 13 favelas do Complexo, destaca que, para 71% deles, os serviços públicos essenciais, como saúde, educação, limpeza e abastecimento de água, não atendem adequadamente às necessidades locais. 

         Localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro, o Complexo do Alemão abriga 13 favelas, incluindo Adeus, Alemão, Baiana, Casinhas, Esperança, Fazendinha, Joaquim de Queiroz (Grota), Itararé/Alvorada, Mineiros/Matinha, Nova Brasília, Palmeiras, Pedra do Sapo e Reservatório de Ramos. Com uma estimativa de aproximadamente 69.143 habitantes conforme dados do IBGE de 2010, essa comunidade enfrenta desafios consideráveis.

          Após os grandes eventos esportivos como a Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016, o Complexo do Alemão tem testemunhado um declínio em sua já escassa infraestrutura. Esse declínio é resultado do abandono do poder público, refletido na ausência de planejamento e investimentos essenciais para a qualidade de vida da população. Setores cruciais como urbanismo, habitação, saúde, educação e segurança têm sido severamente afetados pela negligência estatal. . Na figura 1,  observamos a  área de abrangência do Complexo do Alemão.

Figura 1 – Complexo do Alemão e teleférico.

Fonte:  Lidiane Mallmann, Rio de Janeiro, 2013.

         A aplicação desses conceitos ao estudo do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, revela um cenário complexo no qual a geografia e a distribuição de recursos desempenham um papel crucial na perpetuação da privação socioeconômica.

         Os dados, até 2021, mostram que uma proporção significativa da população do Complexo do Alemão enfrenta condições de vida precárias, com renda equivalente a até um salário mínimo regional. 

         Paralelamente, as percepções dos residentes sobre os serviços públicos essenciais, como saúde, educação, saneamento básico e abastecimento de água, apontam para lacunas significativas entre a oferta e as necessidades locais.

        Essa interseção entre desigualdades socioespaciais e pobreza no Complexo do Alemão destaca a importância de uma análise mais aprofundada sobre o impacto do território nessas dinâmicas. Ao considerar as contribuições dos autores até 2021, este artigo visa explorar a relação intrínseca entre a geografia do Complexo do Alemão e a perpetuação da pobreza, oferecendo insights cruciais para intervenções e políticas direcionadas que visem à redução dessas disparidades.

       O texto ressalta a relevância da análise do papel do Estado na formulação de políticas públicas, destacando a falta de consideração da participação da sociedade civil nesse processo. O artigo busca compreender a manifestação da pobreza rural no norte de Minas Gerais por meio de uma abordagem histórica da ação pública em relação ao espaço geográfico e à luta contra a pobreza rural. A figura 2 mosta o mapa da zona norte de Minas Gerais .

Figura 2 –  Mapa da Zona Norte de Minas Gerais

Mapas do Estado de Minas Gerais

Fonte:  Próprio Autor,2023.

   Sélimanovski (2009) aborda a problemática dos efeitos de lugar como uma tensão entre estratos sobrepostos e articulados, examinando-os através de conjunções de lugares, relações e representações coletivas. Esses efeitos podem ser analisados na dimensão do meio vivido, considerando a territorialidade das pessoas e suas representações ao longo do tempo cotidiano e da vida. 

          Os sujeitos e lugares resultam de processos interativos, inscrevendo-se em espaços físicos e influenciando relações, disputas sociais e padrões de pensamento e ação.  A figura 3 demonstra a  interatividade   nos dias de hoje em todas as regiões do país.

      Figura 3 : Processos Interativos

INTERAÇÃO SOCIAL:

Fonte:  Próprio Autor,2023.

2. Revisão da Literatura

       A fundamentação conceitual  “Milton Santos (2008), em sua obra ‘Por uma Geografia Nova’ , destaca a importância do espaço geográfico na estruturação das relações sociais e econômicas. Ele argumenta que o território não é apenas um espaço físico, mas um conjunto de relações sociais que influenciam a distribuição de recursos e oportunidades.”

      Na  Perspectiva Urbana  e Social de acordo com Harvey (2007), em “A Condição Pós-Moderna”, a urbanização do capital contribui para a segregação espacial e a falta de investimento em infraestrutura urbana, perpetuando a pobreza em áreas periféricas.

   Alessandri Carlos (2019), em “O Espaço Urbano: Novos Estudos sobre a Questão Urbana no Brasil”, destaca a relação direta entre a estruturação do espaço urbano e as desigualdades sociais, influenciando os níveis de pobreza.

          Estudos específicos sobre o Complexo do Alemão corroboram essas teorias. Ribeiro (2015) ressalta que a precariedade da infraestrutura, a falta de acesso a serviços básicos e a segregação espacial são determinantes para a persistência da pobreza na região.

          Os trabalhos destacam a interconexão entre território, espaço urbano e pobreza, enfatizando como o ambiente geográfico e a estruturação do espaço influenciam diretamente nas condições sociais e econômicas das comunidades.

         Essa visão é corroborada por estudos específicos sobre o Complexo do Alemão, conforme podemos ver na Figura 4, evidenciando a precariedade da infraestrutura, a segregação espacial e a falta de acesso a serviços básicos como fatores determinantes na perpetuação da pobreza nessa região específica. Essas análises refletem a urbanização do capital conforme descrito por Harvey (2007), ressaltando como a falta de investimento em infraestrutura urbana contribui para a manutenção das desigualdades sociais e econômicas, resultando na continuidade da pobreza em áreas periféricas.

Figura 4  –  Mapa do Complexo do Alemão no Rio de janeiro.

Nova Brasília é considerada a comunidade mais problemática do Complexo ...

Fonte:  Próprio Autor,2023 .

3. Metodologia

         A pesquisa foi desenvolvida por meio de análise cartográfica e bibliográfica, tendo como fontes de consulta e elaboração de materiais o Google Earth, o QGIS, software de geoprocessamento gratuito, matérias jornalísticas e discussão bibliográfica. A figura 5 mostra o mapa 3D do Complexo do alemão.

Figura 5-  Mapa 3D do Complexo do Alemão, com destaque dos espaços residuais (em vermelho) no trecho entre as Estações Palmeiras e Itararé

Fonte –autoria própria. Dados: Edificações – Instituto Pereira Passos (IPP); Modelo Digital de Elevação – SRTM NASA, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE); espaços residuais – a partir de análises de imagens de satélite do Google Earth.

Inicialmente, realizou-se uma pesquisa exploratória com foco em temas relacionados à Desigualdades Socioespaciais  na região do Complexo do alemão e na Zona Norte  de  Minas Gerais de Modo a Fazer uma análise comparativa das 2 regiões, a fim de realizar uma análise comparativa da aplicação das Políticas do estado nessas regiões.

          A primeira seção do texto explora a relação entre a ação pública e o espaço geográfico na construção de uma representação sobre a pobreza, destacando determinantes históricos relacionados ao desenvolvimento no Complexo do alemão na zona norte do Rio de janeiro.

         Na segunda seção, são apresentados o desenvolvimento na região da zona norte de Minas Gerais, de modo a fazer uma análise comparativa entre as duas regiões do país e sugerir uma possível reconstrução da representação histórica da região por meio das novas terminologias da ação pública. A figura  6 apresenta as atividades econômicas da região da Zona Norte de Minas.

Figura 6 – Atividade Ecônomicas

Norte de minas perspectivas econômicas e sociais para o desenvolvimen…

Fonte : portalamm.org.br,2023.

A pesquisa baseou-se em palavras- chave específicas, como Território, Pobreza , Desigualdades , Políticas . Os artigos selecionados foram escolhidos após a leitura e análise do título e resumo, levando em consideração sua relevância para a temática da Desigualdades Socioespaciais nessas regiões.A figura 7, mostra a faixa de trabalhadores escravos no campo no Norte de Minas Gerais de 2000 a 2019 .

Figura 7 – Trabalhadores escravos no campo no norte de Minas Gerais.

Norte de minas perspectivas econômicas e sociais para o desenvolvimen…

         Fonte : Departamento de Desenvolvimento Economico,2023.

         Ao longo deste artigo, essas instituições, incluindo a DPE (Departamento de Desenvolvimento Econômico), Instituto Pereira Passos (IPP),Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) serão mencionadas e referenciadas de acordo com sua relevância para o conteúdo abordado.

4. Desenvolvimento

         Na análise do Complexo do Alemão” e “Zona Norte De Minas Gerais” oferecem perspectivas distintas, porém complementares, sobre a relação entre espaço geográfico e pobreza. A primeira análise e a segunda, exploram de maneiras diferentes a interseção entre espaço, marginalização social e seus desdobramentos históricos.

           A primeira etapa concentra-se na análise dos espaços residuais em áreas urbanas, especificamente no Complexo do Alemão, destacando a interação entre dinâmicas sociais, econômicas e espaciais que perpetuam a exclusão e a marginalização.

          O estudo aborda, tanto qualitativamente quanto quantitativamente, a perspectiva da marginalização urbana e socioespacial em áreas específicas onde os suportes do teleférico do Complexo do Alemão foram implantados, resultando na remoção de residências para viabilizar essa infraestrutura. A figura 8, apresenta uma academia ao a livre, já na figura 9 é apresentado a estrutura socioespacial do complexo do alemão no ano de 2010.

Figura 8 – Espaço, próximo ao pilar 20, ocupado por academia ao ar livre.

Fonte: Autoria própria,2020.

Figura 9  –  Estrutura Socioespacial do Complexo do alemão.

Estrutura Socioespacial do Complexo do Alemão – Ano 2010 

Fonte: Autoria própria,2023.

        O Estado de Minas Gerais possui um desenvolvimento vinculado à forte presença e impulsos do Estado. Este definiu o processo de industrialização como motor para superação de atrasos econômicos em comparativo com outros centros.

O que é a SUDENE? 

É a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, uma autarquia especial, administrativa e financeiramente autônoma, integrante do Sistema de Planejamento e de Orçamento Federal, com sede na cidade de Recife (PE) e é vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional. Sua função é promover o desenvolvimento includente e sustentável de sua área de atuação (Região Nordeste e norte de MG e ES) e a integração competitiva da base produtiva regional na economia nacional e internacional. A figura 10 apresenta a área de atuação da Sudene .

Figura 10 – Área de atuação da Sudene em Minas Gerais .

Aprovada a inclusão de 81 municípios mineiros na Sudene - Diário Popular MG

Fonte: Planalto , 2023.

         Enquanto no Complexo do Alemão a   análise   foca em espaços urbanos específicos, a análise da região da Zona Norte de Minas Gerais   adota uma perspectiva mais ampla, abrangendo tanto áreas urbanas quanto rurais, proporcionando uma visão mais holística da relação entre pobreza e espaço geográfico.

         A pesquisa na zona norte de Minas Gerais apresenta uma análise histórica, investigando as raízes da pobreza em um contexto temporal mais amplo, contrastando com a análise mais contemporânea e localizada do Complexo do alemão.

           Ambos os estudos utilizam diferentes abordagens teóricas e metodológicas para examinar a relação entre espaço e pobreza. Enquanto um pode se valer mais de teorias urbanísticas, o outro pode adotar uma perspectiva histórico-geográfica.

            A comparação entre esses estudos ressalta a necessidade de uma abordagem multidisciplinar e contextualizada para compreender a dinâmica da pobreza, respeitando as nuances e particularidades de diferentes espaços geográficos.

          O texto destaca a inclusão de Minas Gerais nas estratégias federais contra secas desde 1945 e a influência da Era Vargas na modernização e combate à seca. Com Juscelino Kubitschek, em 1956, o projeto de modernização resultou na criação da SUDENE em 1959, inicialmente focada no Nordeste. 

          Posteriormente, sua área de atuação foi expandida para incluir o polígono da seca, tornando a SUDENE uma implementadora crucial de projetos de desenvolvimento, incluindo o reflorestamento no norte de Minas Gerais. A figura 11, apresenta as estratégias de desenvolvimento econômico para Minas gerais.

Figura 11 – Estratégia de Desenvolvimento Econômico de MG.

Fonte: Governo de Minas , 2023.

           O objetivo do Programa Nacional de Papel e Celulose é alcançar a independência do país nessa área, visando o plantio de quatro milhões de hectares de eucalipto em estados selecionados. A SUDENE enfrenta críticas por priorizar capitais costeiras, o que resulta em disparidades na alocação de recursos. Durante o século XX, as estratégias de crescimento na região foram focadas em impulsionar a área e enfrentar a seca, beneficiando principalmente os proprietários já estabelecidos.

           Nos anos 1970, a modernização conservadora no norte de Minas Gerais não deu ênfase à população nativa. Em vez disso, causou desordem no sistema de produção e nas estruturas sociais, dificultando a resolução dos problemas enfrentados por essa comunidade negligenciada na região do norte de Minas Gerais. A figura 12, apresenta uma fábrica de papel e celulose na época do programa nacional.

Figura 12 – Fábrica de Papel e celulose .

Cinco empresas do setor de papel e celulose figuram em lista da Forbes

Fonte: Governo de Minas, 2023.

4.1.1 Variáveis analisadas

          A análise presente explora a interligação entre território e pobreza, focalizando distintas regiões e suas dinâmicas socioespaciais. Diversos elementos são contemplados:

          No que tange a relação entre Território e Pobreza, destaca-se a relevância apontada por Duranton, Puga (2019), e Galster (2020) quanto à influência do território na dinâmica da pobreza. Sublinha-se a importância da geografia, distribuição de recursos e acesso a serviços na perpetuação das desigualdades socioeconômicas.

          A disparidade entre zonas urbanas densas e áreas rurais é evidenciada por Musterd, Ostendorf (2021), ressaltando a escassez de serviços, oportunidades de emprego e educação como fatores contribuintes para a continuidade da pobreza.

         A relevância das políticas públicas e governança territorial na mitigação das disparidades socioespaciais é explorada por Wilkinson, Pickett (2020), enfatizando a necessidade de estratégias inclusivas de desenvolvimento territorial e acesso equitativo a serviços básicos para combater as desigualdades.

        Autores como Rodríguez-Pose, Storper (2020) discutem as diferenças socioespaciais entre áreas urbanas e rurais, ressaltando a escassez de serviços e oportunidades como elementos centrais na continuidade da pobreza.

          A análise comparativa entre o Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, e a Zona Norte de Minas Gerais destaca peculiaridades socioespaciais e políticas aplicadas nessas áreas, levando em consideração a influência histórica, conforme abordado por diferentes autores.

          A metodologia adotada envolve análise cartográfica, revisão bibliográfica e pesquisa exploratória, conforme delineado na seleção de artigos pertinentes, seguindo palavras-chave específicas.

          A análise teórica e metodológica adotada é ampla e multidisciplinar, seguindo diferentes perspectivas para examinar a relação entre espaço geográfico e pobreza, ressaltando a necessidade de uma visão contextualizada e abordagem multifacetada.

          A análise das estratégias de desenvolvimento, como o Programa Nacional de Papel e Celulose, e suas críticas, expostas por autores como Harvey (2007), evidenciam disparidades na alocação de recursos e as consequências socioeconômicas dessas estratégias.

          Este estudo oferece uma análise detalhada e abrangente sobre o papel do território na perpetuação da pobreza, considerando variados contextos geográficos e históricos.

4.1.2 Resultados e discussão

Os resultados indicam que a população do Complexo do Alemão enfrenta desafios decorrentes da falta de atenção do governo e da marginalização social e espacial. No entanto, há potencial para melhorias ao transformar áreas residuais em espaços coletivos. Segundo dados do Censo do IBGE de 2010, a composição demográfica do Complexo do Alemão é a seguinte: 33.600 pessoas se identificam como pardas, representando 48,60% da população; 22.993 como brancas, 33,25%; 11.930 como pretas, 17,25%; 583 como amarelas, 0,85%; e apenas 37 se autodeclaram indígenas, totalizando 0,05%. O mapa do complexo do Alemão é apresentado na figura 13.

Figura 13 –  Mapa do Complexo do Alemão e suas respectivas áreas coletivas de lazer, considerando a Vila Olímpica e as quadras esportivas, e as áreas residuais.

Fonte: autoria própria. Dados: IBGE (2010) e IPP.

            Nas imagens comparativas da Estação Palmeiras (Figura 14), fica claro que, além da instalação da estação do teleférico, também foi construído um prédio da UPP. As áreas ao redor permanecem sem utilização pelos moradores, principalmente devido ao receio de conflitos entre facções criminosas e forças policiais na região. A parte de terra vazia, com cerca de 8.075 m², ainda é predominantemente usada como estacionamento para carros.

Figura 14-  Imagens comparativas da área da Estação Palmeiras entre os anos de 2008, 2009, 2016 e 2020

Fonte: Google Earth, 2020. 

            O estudo  focaliza  especificamente no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, e na Zona Norte de Minas Gerais, destacando desafios enfrentados pela população do Complexo do Alemão, como falta de atenção do governo e marginalização social e espacial. 

             Ele apresenta dados demográficos do IBGE de 2010 sobre a composição da população no Complexo do Alemão e utiliza figuras, como mapas e imagens comparativas, para ilustrar a situação das áreas estudadas.

         Os resultados indicam que apesar de desafios enfrentados, como a falta de atenção do governo e marginalização social, há potencial para melhorias ao transformar áreas residuais em espaços coletivos. Por exemplo, a menção das áreas coletivas de lazer, como a Vila Olímpica e as quadras esportivas, contrastando com áreas residuais pouco utilizadas. As imagens comparativas da Estação Palmeiras evidenciam a instalação de infraestruturas, como a estação do teleférico e um prédio da UPP, porém áreas ao redor permanecem subutilizadas, possivelmente devido a questões de segurança relacionadas a conflitos entre facções criminosas e forças policiais na região.

          No entanto, esses resultados parecem indicar que apesar de iniciativas de infraestrutura, como a construção de edifícios e instalação de equipamentos públicos, ainda existem desafios complexos, como a segurança e a utilização efetiva desses espaços pela comunidade.

6. Considerações Finais

         O estudo minucioso sobre as desigualdades socioespaciais no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, e na Zona Norte de Minas Gerais revela um cenário complexo onde a interação entre espaço geográfico e pobreza desempenha um papel fundamental na vida das comunidades.

         No Complexo do Alemão, a falta de investimento em infraestrutura, a negligência do poder público e a marginalização social têm perpetuado condições precárias de vida para uma parte significativa da população. Mesmo com iniciativas de infraestrutura, como a construção de prédios e instalação de equipamentos públicos, as áreas residuais permanecem subutilizadas, possivelmente devido a questões de segurança ligadas a conflitos entre grupos criminosos e forças policiais na região.

          Por outro lado, na Zona Norte de Minas Gerais, a análise histórica revela um desenvolvimento influenciado por estratégias governamentais, como a presença da SUDENE, voltada para o desenvolvimento do Nordeste e norte de Minas Gerais. No entanto, essas estratégias nem sempre contemplam de maneira equitativa as necessidades das populações locais, causando desordem no sistema de produção e estruturas sociais, dificultando a resolução dos problemas enfrentados por essa comunidade negligenciada.

         A abordagem multidisciplinar adotada neste estudo ressalta a importância de compreender a complexidade das dinâmicas socioespaciais e da pobreza. A intersecção entre geografia, distribuição de recursos, acesso a serviços e políticas públicas se revela como elementos cruciais na perpetuação ou na mitigação das desigualdades socioeconômicas.

   É essencial que as intervenções e políticas direcionadas levem em consideração não apenas a infraestrutura física, mas também as necessidades sociais, culturais e de segurança das comunidades. 

         A inclusão da sociedade civil no processo de formulação de políticas públicas é um ponto-chave para garantir abordagens mais holísticas e inclusivas, visando à redução dessas disparidades.

           No entanto, esses resultados parecem indicar que apesar de iniciativas de infraestrutura, como a construção de edifícios e instalação de equipamentos públicos, ainda existem desafios complexos, como a segurança e a utilização efetiva desses espaços pela comunidade.

Sugestão de Trabalhos Futuros

Com os dados fornecidos pela pesquisa, há diversas direções para futuros estudos. Seguem algumas sugestões:

  1. Estudo Longitudinal: Realizar um estudo de longo prazo para acompanhar as mudanças nas condições socioespaciais do Complexo do Alemão e da Zona Norte de Minas Gerais. Isso permitiria uma análise mais aprofundada das tendências ao longo do tempo e das intervenções governamentais.
  2. Análise da Participação Comunitária : Investigar mais profundamente o papel e a influência da participação comunitária no desenvolvimento local. Entender como a comunidade se envolve ou poderia se envolver em processos de planejamento e implementação de políticas públicas para combater a pobreza.
  3. Impacto da Pandemia : Avaliar o impacto da pandemia de COVID-19 nessas áreas. Analisar como a crise sanitária afetou as condições de vida, a infraestrutura e as oportunidades nessas regiões e como isso interage com as desigualdades socioespaciais pré-existentes.
  4. Comparação Internacional : Realizar estudos comparativos com outras regiões do mundo que enfrentam desafios semelhantes de desigualdades socioespaciais e pobreza. Compreender as estratégias adotadas em diferentes contextos globais e suas eficácias.
  5. Análise de Políticas Públicas: Investigar de maneira mais específica as políticas públicas implementadas nessas regiões. Avaliar a eficácia e os impactos das políticas existentes ou propostas para reduzir as desigualdades socioespaciais e a pobreza.
  1. Perspectivas Locais e Culturais: Explorar a influência das perspectivas locais, culturais e identitárias na abordagem das desigualdades. Compreender como a cultura e a identidade local moldam as percepções e as respostas às questões socioespaciais.
  2. Sustentabilidade e Meio Ambiente: Investigar a relação entre desigualdades socioespaciais, pobreza e questões ambientais. Explorar como a degradação ambiental afeta essas comunidades e como estratégias sustentáveis podem ser integradas para mitigar esses impactos.
  3. Avaliação de Impacto de Projetos Sociais: Realizar avaliações de impacto de projetos sociais e iniciativas comunitárias já implementadas. Analisar quais intervenções têm sido mais eficazes e identificar boas práticas para replicação em outras áreas.

                Essas sugestões representam diferentes ângulos pelos quais o tema das desigualdades socioespaciais e pobreza pode ser explorado e aprofundado em trabalhos futuros, proporcionando uma visão mais abrangente e a possibilidade de oferecer soluções mais específicas e eficazes para essas questões complexas.

Referência Bibliográfica:

SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova. São Paulo: Edusp, 2008.

HARVEY, David. A Condição Pós-Moderna. São Paulo: Edições Loyola, 2007.

CARLOS, Ana Fani Alessandri. O Espaço Urbano: Novos Estudos sobre a Questão Urbana no Brasil. São Paulo: Contexto, 2019.

RIBEIRO, Luiz Cesar de Queiroz. Território e pobreza no Complexo do Alemão. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2015.

GOHN, Maria da Glória. Políticas Públicas e Intervenções no Contexto Territorial do Complexo do Alemão. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2018.

Duranton, G., & Puga, D. (2019). Urban Land Use. In Handbook of Regional and Urban Economics (Vol. 5, pp. 467-560). Elsevier.

Galster, G. (2020). Housing and Neighborhoods: Poverty and Spatial Distribution. In Oxford Research Encyclopedia of Economics and Finance. Oxford University Press.

Musterd, S., & Ostendorf, W. (Eds.). (2021). Handbook of Income Distribution and Inequality. Edward Elgar Publishing.

Rodríguez-Pose, A., & Storper, M. (2020). Housing, Urban Growth and Inequalities: The Limits to deregulation and upzoning in reducing economic and spatial inequality. Urban Studies, 57(2), 223-248.

Wilkinson, R., & Pickett, K. (2020). The Inner Level: How More Equal Societies Reduce Stress, Restore Sanity and Improve Everyone’s Well-being. Penguin UK.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Base de informações do Censo Demográfico 2010: Resultados do Universo por setor censitário. Rio de Janeiro: IBGE, 2011.

MAGALHÃES, Alexandre Almeida. Remoções de favelas no Rio de Janeiro: entre formas de controle e resistências. APPRIS, 2019.

PEREIRA. Luiz Antônio. Pacificação do Complexo do Alemão em tempos de megaeventos esportivos na Cidade do Rio de Janeiro – Brasil. In: Colóquio Internacional de Geocrítica, 13., 2014, Barcelona. Disponível em: https://www.ub.edu/geocrit/coloquio2014/Luiz%20Antonio%20de%20Souza%20Pereira.pdf


1Doutorando em Desenvolvimento Local
Instituição: Centro Universitário Augusto Motta (Unisuam)
E-mail: claudiopontes@souunisuam.com.br
2Pós-Doutora em Ciências Sociais Aplicadas pela Universitá di Pisa (UNIPI)
Instituição: Centro Universitário Augusto Motta (Unisuam)
E-mail: patricia.dusek@unisuam.edu.br
3Pós-doutorado em Políticas Públicas e Formação Humana pela UERJ
Instituição: Centro Universitário Augusto Motta (Unisuam)
E-mail: mgeraldamiranda@gmail.com