DOCUMENTAÇÃO PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10311101


Marinéia Nunes de Borba Martins


RESUMO

Ao falar de Educação Infantil é necessário falar em documentação pedagógica. Documentar não é mero ato de registrar, se faz necessária uma reflexão, uma análise de todo o fazer no ambiente na escola da infância, dando voz à criança, às suas experiências e vivências, respeitando sua cultura, crenças e proporcionando que tenha contato a diversidade cultural. Ao documentar todo o processo pedagógico o professor coloca a criança como protagonista de sua aprendizagem, sendo capaz de refletir sobre sua prática pedagógica, traçando novos caminhos para que os direitos garantidos de meninas e meninos sejam respeitados e cumpridos. Documentar é criar histórias, dar vida as aprendizagens maravilhosas que ocorrem dentro das escolas de educação infantil.

Palavras-chave: documentar; educação infantil; criança.

INTRODUÇÃO

Ao pensar em Educação Infantil se faz necessário pensarmos em todo o processo, dando ênfase a criança e colocando como centro do processo pedagógico. A documentação pedagógica é parte fundamental deste processo e merece atenção.

No Brasil, por muito tempo se acreditou em uma Educação Infantil, onde tinha como objetivo a preparação da criança para o ensino fundamental, onde a introdução de letras, números e por muitas vezes a escrita era exigida ou ainda uma escola de datas comemorativas, onde as atividades eram realizadas a partir de uma determinada data, acabando por passar o ano letivo inteiro correndo atrás do calendário e suas datas.

Hoje se percebe uma grande manifestação de pessoas que defendem uma educação voltada para a criança, respeitando sua individualidade e proporcionando que as experiências e vivências sejam evidenciadas em um ambiente que respeita meninos e meninas e que dão voz a suas manifestações, ouvindo-as em suas mais diversas formas de linguagens. Ao colocar a criança como centro do planejamento o adulto reflete e refaz sua prática, refazendo rotas e caminhos para que os direitos de conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se sejam contemplados de forma integral.

DESENVOLVIMENTO

A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral das crianças de zero a cinco anos, em seus mais diversos aspectos, sejam eles físicos, psicológicos, intelectuais ou sociais. A base desse processo educativo deve ser sólida, de maneira que seja garantido às crianças possibilidade se desenvolver em sua integralidade contemplada pelas legislações vigentes, onde as interações e a brincadeira sejam currículo permanente, organizando os tempos, os espaços, as materialidades e as intervenções pedagógicas com olhar atento e escuta ativa das narrativas e das experiências.

O artigo 29, da Lei de Diretrizes e Bases – LDB 9394/96 expressa o direito de meninos e meninas de todo o Brasil. A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.

Faz-se necessário acreditarmos na educação básica e neste caso mais especificamente na Educação Infantil, exercendo com comprometimento e confiança todo o processo.

Ao darmos a importância à educação, começamos a olhar para o fazer pedagógico como algo que merece nossa atenção e estudo constante.

Ostetto (2017) diz que, é urgente estar com a educação básica, falar com ela, seguir lado a lado, de mãos dadas, fortalecendo, no nosso caso, a educação infantil em sua existência, resistência e luta em defesa dos direitos das crianças.

É na Educação Infantil que ocorre o primeiro contato da criança com a instituição educacional e onde se inicia as vivências e interações com grupos sociais que não é a família. As experiências adquiridas podem marcar profundamente a apropriação do conhecimento pela criança, é neste momento que meninas e meninos criarão a visão sobre a escola, o professor e o ambiente escolar, tendo o direito de serem introduzidos em um ambiente onde sejam proporcionadas vivências e interações, salientando o brincar, o compartilhar, o experimentar de forma prazerosa com trocas de saberes entre todos os envolvidos neste processo.

Para Dahlberg, qualquer atividade pedagógica pode ser vista como uma construção social realizada por agentes humanos, na qual a criança, o pedagogo e todo o meio da instituição dedicada á primeira infância são entendidos como socialmente constituídos através da linguagem.

Neste cenário de aprendizagem, reconhecendo e dando a devida importância para a educação infantil se faz necessário uma atuação responsável e permanente do professor.

Uma das maneiras de intervir de forma positiva é através da documentação pedagógica, Para que possamos entender a documentação pedagógica se faz necessário observar a diferença entre documentar e documentação.

Para Fochi (2019), o verbo documentar é sinônimo de registrar, produzir documentos ou evidências, já substantivo documentação trata-se do documento construído a partir dos registros realizados, ou seja, do produto em si.

Assim, a documentação pedagógica é resultado de uma reflexão do fazer e do pensar pedagógico.

Ela ocorre a partir de uma pedagogia participativa, onde todos os envolvidos (criança, professor, família e escola) são peças chaves para que seja oportunizada a possibilidade de acompanhamento do desenvolvimento da criança.

Quando o professor se coloca no lugar de ouvinte e permite a criança se tornar protagonista de suas experiências e vivências, esse passa a caminhar junto com a criança e os pontos a serem considerados importantes deixa de ser visto pelo olhar do adulto, dando assim significado para as aprendizagens adquiridas por todos os envolvidos no processo.

Fochi (2018) salienta, que á medida que o professor desnaturaliza suas práticas, suas propostas com as crianças se estruturam a partir de uma consciência que qualifica a construção da prática pedagógica em que, simultaneamente, acionam e estruturam (I) a capacidade de escuta as crianças, (II) a organicidade das propostas e do próprio cotidiano no que diz respeito às demandas e necessidades dos meninos e meninas e (III) a abertura em transformar os contextos em que estão inseridos.

Documentação pedagógica é diferente de observações das crianças ou de realizar no final do semestre o parecer descritivo.

Observar e avaliar somente no final do semestre ou em momentos isolados é a prova de que o adulto não está preocupado com sua prática e tão pouco com o que a criança traz em suas experiências e vivências sejam no ambiente escolar, no seio de sua família ou na sociedade em que está inserida, não respeitando as diversas formas culturais de meninos e meninas, em contraste a tudo isso temos a documentação pedagógica que traz em seus eixos a reflexão e a escuta, onde o planejar, registrar, analisar, avaliar para se necessário (re)planejar ocorre constantemente, tendo o adulto como um observador atento e constante, juntos todos os envolvidos criam com harmonia um ambiente de troca de aprendizagem.

A atividade da criança é exercida em colaboração com seus pares e com o educador no nível de todas as dimensões da pedagogia, e muito especificamente no âmbito do planejamento, da execução e reflexão das atividades e dos projetos (FORMOSINHO,2019).

A documentação oportuniza para que pais, e todos os envolvidos possam conhecer e acompanhar todo o que é planejado e vivido dentro do ambiente da escola da infância, dando vida a todos os processos sendo através de fotos, registros, desenhos, mini-histórias ou qualquer forma em que possa expressar as diferentes linguagens expressão da criança.

Ao documentar damos vida as nossas ações e planejamentos, criamos histórias, somos coautores da vida de meninos e meninas.

CONCLUSÃO

Após leitura e reflexão sobre a documentação pedagógica na Educação Infantil, é nítido que ainda temos muito que avançar sobre o assunto. As escolas ainda trazem em seus planejamentos e na forma de ver a criança como uma preparação para o fundamental, onde o desejo do aluno não prevalece, herança essa adquirida em decorrer da nossa recente história da Educação Infantil em nosso país.

Cabe ao adulto ter o olhar para perceber a necessidade da criança e criar um ambiente propício para que os direitos de conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se sejam respeitados. Dar voz a criança e a suas expressões culturais é respeitar ela na sua individualidade e a documentação pedagógica é peça fundamental para que isso ocorra de forma satisfatória.

Ao registrar, analisar e refletir as ações e experiências adquiridas por meninos e meninas o professor reflete sua ação quanto professor e exerce a função de pesquisador evidenciando assim uma educação que respeita as mais diversas formas de infância.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº9394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 24 dez. 1996. Disponível em: <https://www.jusbrasil.com.br/>acesso em: 10 de agosto de 2020.

DAHLBERG, Gunilla. Moss, Peter. Pence, Alan Qualidade na educação da primeira infância: perspectivas pós – modernas.Porto Alegre: Penso, 2019.

FOCHI, Paulo Sergio. Mini-Histórias Rapsódias da vida Cotidiana nas escolas do observatório da cultura Infantil – OBECI. Porto Alegre: Paulo Fochi Estudos Pedagógicos, 2019.

FOCHI, Paulo Sergio. O brincar heurístico na creche – percurso pedagógico no observatório da cultura infantil – OBECI. Porto Alegre: Paulo Fochi Estudos Pedagógicos, 2018.

FORMOSINHO, Júlia Oliveira. Documentação pedagógica e avaliação na educação infantil: Um caminho para a transformação. Porto Alegre: Penso. 2019.

OSTETTO, Luciana Esmeralda. Registros na Educação Infantil. Campinas: Papirus. 2017.