A ADESÃO AO EXAME PREVENTIVO DE CÂNCER DE COLO DO ÚTERO

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10155180


Taynara Augusta Fernandes1
Júlia Alves Polizelli2
Kamilly Victória Jacques Silva de Assis3
Luana dos Santos Silva4


1  INTRODUÇÃO

Foi apenas no século 19, com o desenvolvimento de estudos microscópicos e a consequente ampliação do conhecimento da comunidade médica acerca das células do corpo humano e suas funções, que o câncer passou a ser conceituado como um processo patológico degenerativo de um órgão. Apesar dos estudos crescentes, pouco importava se os pacientes eram atendidos em consultórios e clínicas particulares ou em instituições filantrópicas, a baixa eficácia da medicina do período fez com que a doença fosse enxergada como um mal incurável (NORONHA; PORTO; TEIXEIRA, 2012).

Em 1940, com o surgimento de gabinetes ginecológicos e instituições especializadas, foi possível ampliar as campanhas de saúde voltadas para o rastreamento do CCU e a importância do diagnóstico precoce para possibilitar um tratamento eficiente à paciente (TEIXEIRA, 2015). O câncer de colo uterino, caracterizado por um desordenado de células originadas na porção inferior do útero, atualmente é considerado um problema de saúde pública mundial, sendo no Brasil a terceira neoplasia primária mais incidente em mulheres (INCA, 2019). Trata-se de uma doença assintomática tendo como seu principal causador o Papilomavírus humano (HPV), transmitido por meio de relações sexuais desprotegidas (SILVA, 2020).

Seu rastreio ocorre a partir da realização do exame citopatológico do colo do útero (ECCU), conhecido também como “Papanicolau”, que é capaz de detectar alterações que podem desencadear mutações celulares. Trata-se de um exame de rápida execução, eficiente e com baixo custo. O exame citopatológico do colo uterino é uma estratégia eficaz para rastreio do CCU, entretanto cerca de 40% das mulheres brasileiras de todas as faixas etárias nunca realizaram o exame, em decorrência da dificuldade de acesso aos serviços das UBS e Estratégia Saúde da Família (ESF), entre outros fatores (CAMPOS, 2018).

Entre os tratamentos disponibilizados estão desde cirurgias, radioterapias até quimioterapia, para os casos mais avançados. Os efeitos primários e secundários causados pelo tratamento fazem com que seja buscado formas de manter a qualidade de vida da paciente com o menor dano possível (CORREIA, 2018). Diante disso, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) propõe a implantação de programas nacionais de controle do CCU que abrangem ações e serviços de prevenção primária, detecção precoce, tratamento e cuidados paliativos (ALMEIDA; CLARO; LIMA, 2021).

Segundo o INCA (2019; 2020), a coleta de dados regionais demonstra que o câncer de colo do útero é o primeiro mais incidente na região Norte (26,24/100 mil) do país. Não o bastante, o estado do Tocantins se configura como o terceiro, com maior prevalência de casos, possuindo ainda uma estimativa de até 220 casos para o ano de 2022. Diante da grande relevância epidemiológica dessa patologia, é evidente que se trata de uma crescente problemática de saúde pública e o seu rastreamento organizado ainda é um desafio.

Ademais, o tema em questão apresenta grande relevância de discussão para a saúde feminina. Entende-se que uma busca ativa para caracterizar o perfil sócio demográfico de mulheres em idade reprodutiva, bem como sua adesão e conhecimento acerca de exames preventivos é de suma importância para compreender o quão eficaz está o programa de rastreamento atualmente. Além de possibilitar a criação de novas e eficientes estratégias que visem não só ampliar o atendimento a essas mulheres como também levar a esse público maiores informações acerca do tema.

Portanto, este artigo busca compreender acerca do rastreamento do câncer de colo do útero nas estudantes de medicina em idade reprodutiva do ITPAC-PORTO. Além de avaliar se as acadêmicas de medicina estão realizando o rastreamento do câncer de colo do útero de acordo com as diretrizes do Ministério da Saúde, identificando o nível de conhecimento das estudantes acerca da prevenção, descrevendo o perfil sócio demográfico e a história familiar da estudante em relação ao CCU.

2   MATERIAL E MÉTODOS

 Esse projeto caracteriza-se como um estudo observacional, analítico do tipo transversal e de abordagem quali-quantitativa. Dessa forma, respeitando todas as exigências da Resolução N° 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), com auxílio de um questionário, foi realizada uma pesquisa de campo tendo como público alvo as estudantes de medicina do ITPAC-PORTO, com objetivo de analisar a adesão ao exame citopatológico para prevenção do câncer de colo do útero bem como o conhecimento dessas acadêmicas acerca da importância, finalidade e periodicidade do ECCU.

O questionário em questão contou com 16 perguntas:

  • 3 perguntas objetivas de caráter sóciodemográfico.
  • 1 pergunta objetiva para verificar em qual período da faculdade a acadêmica está.
  • 5 perguntas objetivas que visam averiguar o conhecimento das estudantes de medicina acerca da importância do tema.
  • 5 perguntas objetivas para verificar a adesão da estudante ao exame preventivo.
  • 2 perguntas objetivas para verificar se já houve casos de CCU na família.

A população em estudo foram as acadêmicas de medicina do ITPAC- PORTO, matriculadas no período de 2023/2, com uma estimativa de 471 alunas. A amostra foi baseada na margem de erro de 5% e intervalo de confiança de 95%, totalizando 162 acadêmicas.

Teve com critério de inclusão as acadêmicas do sexo feminino devidamente matriculadas no curso de medicina do ITPAC-PORTO no ano de 2023/2 com estimativa de 471 alunas. Concomitante a isso, os critérios de exclusão incluem as acadêmicas que não aceitaram participar da pesquisa ou que não assinaram o TCLE.

A coleta de dados foi realizada por meio de um questionário aplicado online via Google Forms no período de setembro e outubro de 2023/2. O link do questionário foi encaminhado, juntamente com um informativo acerca do objetivo da pesquisa, às acadêmicas de medicina do ITPAC-PORTO por meio de grupos de Whatsapp em que se encontram uma grande parte das matriculadas. 

Após atingir o número amostral, o questionário foi encerrado e então os dados foram tabulados em planilhas, sendo processados e realizado uma análise descritiva destes. Os resultados foram apresentados em forma de textos e gráficos de autoria própria.

Ressalta-se que o presente trabalho foi aprovado e liberado pelo Comitê de Ética em Pesquisa – CEP envolvendo a coleta de dados de seres humanos e registrado com o CAEE 65608222.7.0000.8075.  

3    RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa foi realizada com um total de 178 alunas. 73% das entrevistadas possuem entre 19 anos e 24 anos, sendo seguido de 21,9% de mulheres maiores  que 24 anos. 

Tabela 1: Gráfico criado pelos acadêmicos com base nas respostas das entrevistadas.

93,8% das entrevistadas são solteiras e 30,9% possuem renda familiar maior que 11 salários mínimos, demonstrando um maior poder aquisitivo entre as entrevistadas. Além disso, cerca de 16,9% possuem renda familiar maior que 5 salários minímos. No que diz respeito ao período em que se encontram as entrevistadas as respostas foram uniformes, estando entre o 1º e 8º período do curso de medicina.

No que tange a importância da realização do exame papanicolau, 99,4% das entrevistadas o consideram importante, sendo quase unâmine o reconhecimento da importância desse exame para diagnóstico de doenças.

Tabela 2: Gráfico criado pelos acadêmicos com base nas respostas das entrevistadas.

Quanto aos cuidados necessários para realização do exame, cerca de 84,3% acreditam que é necessário evitar relação sexual no dia anterior ao exame e utilizar cremes vaginais. 9% não soube responder qual tipo de cuidado é necessário para sua realização.

Em relação a finalidade da realização do Papanicolau, 91,6% respondeu que o exame serve para detectar alterações nas células do colo do útero. 49,4% acredita que o exame deve ser feito após a primeira relação sexual, contudo 37,1% acredita que o exame precisa ser feito após os 25 anos. 6,7% não souberam informar quando deve ser feito o primeiro Papanicolau. Conforme 62,4% das entrevistadas, caso não haja nenhuma alteração no resultado, o exame deve ser realizado anualmente. 26,4% acreditam que deve ser feito a cada 3 anos, e 7,3% das entrevistadas acredita que deve ser feito semestralmente. 

Tabela 3: Gráfico criado pelos acadêmicos com base nas respostas das entrevistadas.

Dito isso, 74,2% das entrevistas já realizaram o exame preventivo, sendo que 48,3% realizaram após os 18 anos, e 27% o fizeram com menos de 18 anos. Dentro das entrevistadas que já realizaram o exame 38,8% o faz anualmente; 19,1% não tem data específica para realizar; 10,1% o faz semestralmente e 7,3% o faz a cada 3 anos. 

Tabela 4: Gráfico criado pelos acadêmicos com base nas respostas das entrevistadas.

A grande maioria das entrevistadas, 39,2%, faz o exame com essa frequência devido orientação médica. Há ainda aquelas que o fazem identificam por conta própria (24,1%) e 31,9% não soube responder. Cerca de 93,8% das entrevistas não possuem histórico familiar de câncer de colo de útero, contra 6,2% que possuem esse histórico. Além disso, 84,1% das entrevistadas não soube responder o grau de parentesco das familiares que tiveram CA de colo de útero, ou seja, parentes de segundo grau.

4  CONCLUSÃO 

 O Câncer de colo uterino é considerado um problema de saúde pública devido sua rápida evolução e seu potencial de mortalidade, diminuindo assim a expectativa de vida de mulheres. Trata-se da quarta causa mais frequente de morte em mulheres, sendo portanto, causa de grande preocupação entre profissionais da saúde, devido ao crescimento lento e silencioso da doença. (DA ROCHA, 2020).

O exame preventivo conhecido como Papanicolau faz parte dos métodos utilizados para o rastreamento da doença. A periodicidade na realização do exame foi estabelecido pelo Ministério da Saúde em 1988, sendo indicado em mulheres entre 25 e 60 anos de idade. Conforme preconizado pelo MS, o exame deve ser realizado anualmente, sendo que, após dois exames consecutivos negativos, passa a ser feito a cada três anos (SANTOS, 2015).

Diante da pesquisa realizada, foi possível perceber que ainda hoje nem todas as mulheres têm conhecimento sobre os cuidados necessários para realização do exame e a partir de qual idade é indicado realizá-lo. Percebe-se ainda desconhecimento de parcela da população, sobre o tempo que deve ser realizado, pois parcela da população o faz semestralmente, não havendo indicação para tal.

O desconhecimento tanto sobre a periodicidade do exame, como sobre a finalidade do exame demonstra que mesmo em grupos com maior nível de escolaridade e poder aquisitivo, há desinformação, o que pode dificultar o rastreamento precoce dessa neoplasia. Isso resulta não somente em maiores gastos a saúde pública, pois em muitos casos a doença é descoberta já em estágio avançado, sendo necessário a realização de tratamentos mais complexos; como também diminui a expectativa de vida, devido a alta taxa de mortalidade em casos mais graves.

No que concerne a detecção precoce da doença, o exame citopatológico é fundamental para rastreamento e controle da doença. Para isso, é essencial que mulheres procurem voluntariamente as unidades de saúde para realização do exame conforme preconizado pelo Ministério da Saúde, garantindo assim que o Estado realize o rastreio e acompanhamento necessário, contribuindo assim, não somente com a promoção da saúde mas também garantindo a prevenção de agravos (CUNHA, 2021).

REFERÊNCIAS 

CAMPOS, Edemilson Antunes de. Os sentidos do Papanicolaou para um grupo de mulheres que realizou a prevenção do câncer cervical. Cadernos Saúde Coletiva; v. 26, p.

140-145, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cadsc/a/Xd7x6GYJXg4BRZM9vFG4Fcc/?lang=pt&format=html. Acesso em: 09 set. 2023.

CORREIA, Rafaella Araújo et al. Qualidade de vida após o tratamento do câncer do colo do útero. Escola Anna Nery, v. 22, 2018.

CUNHA, Amanda Guimarães et al. Papanicolau e a saúde da mulher: importância do fomento à prevenção do câncer de colo uterino. Research, Society and Development, v. 10, n. 3, p. e33310312818-e33310312818, 2021.

DA ROCHA, Marceli Diana Helfenstein Albeirice et al. Prevenção do câncer de colo de útero na consulta de enfermagem: para além do Papanicolau. Revista Cereus, v. 12, n. 1, p. 50-63, 2020.

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Incidência do Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2019. Disponível em: https://www.inca.gov.br/controle-do-cancer-do-colo-do-utero/dados-enumeros/incidencia#:~:text=No%20Brasil%2C%20excluídos%20os%20de,mulheres%20(IN CA%2C%202021). Acesso em: 09 set. 2023.

NORONHA; Claudio; PORTO; Marco; TEIXEIRA; Luiz. O Câncer no Brasil: Passado e Presente. Rio de Janeiro, 2012.

SANTOS, Alanda Maria Rodrigues et al. Câncer de colo uterino: conhecimento e comportamento de mulheres para prevenção. Revista Brasileira em Promoção da Saúde, v. 28, n. 2, p. 153-159, 2015.

SILVA, Mikaela Luz et al. Conhecimento de mulheres sobre câncer de colo do útero:

Uma revisão integrativa. Brazilian Journal of Health Review, v. 3, n. 4, p. 7263-7275, 2020.

TEIXEIRA, Luiz. Dos gabinetes de ginecologia às campanhas de rastreamento: a trajetória da prevenção ao câncer de colo do útero no Brasil. História, Ciências, Saúde, Rio de Janeiro, v. 22, ed. 1, p. 221-240, 2015. Disponível em:

https://www.scielo.br/j/hcsm/a/jB3QhTffmYww3VmjcD6SNjf/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 09 set. 2023.


1Bacharel em Ciências Biológicas, especialização em Perícia, Auditoria e Gestão, mestrado em Biodiversidade, todos pela Fundação Universidade Federal do Tocantins. 
AFYA – Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Porto – Porto Nacional – TO
Endereço: Rua 02 Quadra 07 S / N Jardim dos Ipês, Porto Nacional – TO, CEP: 77500-000 E-mail: taynara.fernandes@itpacporto.edu.br http://lattes.cnpq.br/5074691129338244

2Graduanda em Medicina- AFYA – Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Porto – Porto Nacional – TO
Endereço: Rua 02 Quadra 07 S / N Jardim dos Ipês, Porto Nacional – TO, CEP: 77500-000 E-mail: juliapolizelli@hotmail.com http://lattes.cnpq.br/8264079461226078

3Graduanda em Medicina- AFYA – Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Porto – Porto Nacional – TO
Endereço: Rua 02 Quadra 07 S / N Jardim dos Ipês, Porto Nacional – TO, CEP: 77500-000 E-mail: medicinakamilly@hotmail.com http://lattes.cnpq.br/7527583440812873

4Graduando em Medicina- UniRV – Universidade de Rio Verde – Goianésia – GO
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