Ensaio acadêmico sobre Hepatite A: Atuação da equipe multidisciplinar no Brasil e importância da vacinação

Academic essay on Hepatitis A: Performance of the multidisciplinary team in Brazil and the importance of vaccination

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10120199


Priscila Castro Cordeiro Fernandes, Adriana Brito Tiburcio, Andreia Sueli Oliveira Silva, Maria Aparecida de Almeida Araujo, Jocilane Lima de Almeida Vasconcelos, Regina Gabriela Caldas de Moraes, Paulo Rogerio Ferreira Pinto, Milierne Nascimento Evangelista Souza, Nidia Helena Mareco Fernandes Dantas Amaral, Arlete Do Monte Massela Malta


RESUMO: As hepatites virais abrangem uma variedade de infecções hepáticas causadas por diferentes tipos de vírus, sendo as hepatites A, B e C as mais comuns no Brasil. Essas infecções podem variar em gravidade, indo desde casos leves até situações crônicas que causam danos significativos ao fígado. No país, o Sistema Único de Saúde implementou políticas abrangentes para o controle das hepatites virais, com foco na detecção precoce e tratamento dos pacientes. A hepatite A é mais prevalente em locais com condições econômicas precárias e saneamento deficiente, afetando principalmente crianças. No entanto, em casos raros, pode levar a complicações graves, como insuficiência hepática aguda. A transmissão ocorre por ingestão de água ou alimentos contaminados. O diagnóstico e a prevenção são fundamentais, incluindo a vacinação, que é recomendada para crianças e pode ser estendida a adultos em determinadas situações. A atenção primária desempenha um papel fundamental no rastreamento, diagnóstico e prevenção das hepatites virais. Os pacientes diagnosticados recebem tratamento de suporte para aliviar os sintomas, com hospitalização em casos graves. A prevenção da hepatite A é possível com a vacinação e medidas higiênicas, como lavagem das mãos e evitação de alimentos e água contaminados. A melhoria das condições de saneamento tem contribuído para a redução da prevalência da doença em várias nações. As hepatites virais representam um desafio significativo para a saúde pública, mas com políticas adequadas de prevenção, rastreamento e tratamento, é possível reduzir sua incidência e garantir que os pacientes recebam o cuidado necessário para uma melhor qualidade de vida.

Palavras-Chave: Hepatite A, Atenção Primária a Saúde, Programas de Imunização, Equipe multiprofissional

ABSTRACT: Viral hepatitis encompasses a variety of liver infections caused by different types of viruses, with hepatitis A, B, and C being the most common in Brazil. These infections can range in severity from mild cases to chronic situations that cause significant liver damage. In the country, the Unified Health System has implemented comprehensive policies for the control of viral hepatitis, focusing on early detection and patient treatment. Hepatitis A is more prevalent in areas with poor economic conditions and inadequate sanitation, mainly affecting children. However, in rare cases, it can lead to severe complications such as acute liver failure. Transmission occurs through the ingestion of contaminated water or food. Diagnosis and prevention are crucial, including vaccination, which is recommended for children and can be extended to adults in certain situations. Primary care plays a fundamental role in screening, diagnosis, and prevention of viral hepatitis. Diagnosed patients receive supportive treatment to alleviate symptoms, with hospitalization in severe cases. Prevention of hepatitis A is possible through vaccination and hygienic measures such as hand washing and avoiding contaminated food and water. Improved sanitation conditions have contributed to reducing the prevalence of the disease in several nations. Viral hepatitis represents a significant challenge to public health, but with appropriate policies for prevention, screening, and treatment, it is possible to reduce its incidence and ensure that patients receive the care they need for a better quality of life.

Keywords: Hepatitis A, Primary Health Care, Immunization Programs, Multidisciplinary Team

As hepatites virais

Considera-se hepatite uma inflamação do fígado que pode ser causada por várias razões, incluindo vírus, toxinas e consumo excessivo de álcool, podem ser por infecção viral, as hepatites virais são um grupo de infecções hepáticas causadas por diferentes vírus da hepatite, sendo as mais comuns as hepatites A, B e C, podendo variar de casos leves a casos crônicos, causando danos significativos ao fígado quando não tratadas, representando, assim, um sério problema de saúde pública no Brasil (CASTANEDA, 2021).

No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) implementou políticas públicas abrangentes para o controle das hepatites virais, com programas de prevenção, testagem e tratamento das hepatites, com foco na detecção precoce e no fornecimento de medicamentos antivirais eficazes para pacientes diagnosticados (DA ROCHA, 2022).

Percebe-se que a Hepatite A é observada principalmente em nações com recursos econômicos limitados e condições de higiene deficientes (CASTRO, 2020). Normalmente, a infecção decorre de forma assintomática ou provoca apenas manifestações leves durante a infância. Contudo, em situações excepcionais, pode culminar em insuficiência hepática súbita e óbito. Em regiões com padrões sanitários mais favoráveis, a exposição ao vírus da hepatite A costuma ocorrer em idades mais avançadas (SILVEIRA, 2021).

A transmissão da hepatite A

Transmitida através do consumo de água ou alimentos contaminados, a hepatite A é considerada também como marcador sanitário, representando diretamente o nível de qualidade de vida local, relacionado a sua prevalência em determinada região. Enquanto a hepatite B é transmitida por meio de fluidos corporais, como sangue e sêmen e a hepatite C é geralmente transmitida através de contato com sangue infectado (DA ROCHA, 2022). Essas infecções podem variar de leves a crônicas e têm o potencial de causar danos significativos ao fígado (BRITO, 2020).

Causada pelo vírus da hepatite A (HAV), sua transmissão necessita de uma pessoa contaminada, sendo a ingestão de água ou alimentos contaminados com suas fezes a forma de infecção, e os sintomas comuns incluem fadiga, febre, mal-estar, náuseas, vômitos, dor abdominal e icterícia (GOMES, 2020). A infecção parece conferir imunidade durante a vida toda em hospedeiros imunocompetentes (SANTOS, 2019).

O período de incubação da hepatite A é de, geralmente, de 14 a 28 dias, podendo chegar até 50 dias (DE FARIAS, 2020). Os sintomas têm início abrupto com febre na maioria dos casos, mal-estar, náuseas e vômitos. Menos frequentemente, também pode ser observado perda de apetite, anorexia, mialgia, artralgia, cefaléia, prurido e erupção cutânea, podendo ocorrer  no exame físico a hepatomegalia (OLIVEIRA, 2022).

Atuação da equipe multiprofissional na Atenção Primária à Saúde

A Atenção Primária à Saúde (APS) é formada por uma equipe multiprofissional,  composta por profissionais como enfermeiro, médico, assistente social, psicólogo, dentre outros,  e desempenha um papel importante no rastreamento, prevenção, diagnóstico e tratamento da hepatite A e outras doenças (SILVA, 2023). Todos da equipe desempenham funções como a educação em saúde, fornecendo informações sobre a hepatite A, incluindo modos de transmissão e medidas de prevenção, a pacientes e comunidades (LIMA, 2022).   

O diagnóstico das hepatites virais envolve a coleta de amostras de sangue que são testadas para a presença de anticorpos específicos ou material genético do vírus. Testes como o anti-HAV, para Hepatite A, anti-HBS, para Hepatite B; e anti-HCV para Hepatite C são usados para determinar o tipo e o estágio da infecção. Testes de função hepática, como a dosagem de enzimas hepáticas, também podem ser realizados para avaliar a saúde do fígado. Esses testes são fundamentais para o diagnóstico precoce e o acompanhamento do tratamento das hepatites (DURANS, 2021).

O rastreamento é feito principalmente com relação aos sintomas apresentados relacionados a áreas de risco, para isso, é fundamental ação em visitas domiciliares, feitas por toda a equipe, mas principalmente pelo agente comunitário de saúde. Outra medida eficaz, além da delimitação de áreas de risco, é a vacinação contra a hepatite A, indicada por todos da equipe, e de responsabilidade principalmente pelo enfermeiro, com apoio da equipe técnica de enfermagem, e todos da equipe devem apoiar e promover campanhas de vacinação (CLEMENT, 2021).

Pelo calendário preconizado atual, a vacinação contra a hepatite A é geralmente recomendada em duas doses para crianças e adolescentes. As diretrizes de vacinação podem variar de acordo com o país e a região, mas no Brasil, a primeira dose da vacina contra a hepatite A é administrada entre os 12 e 23 meses de idade e a segunda dose é geralmente administrada de 6 a 18 meses após a primeira dose. Importante salientar que campanhas de vacina para grupos-alvo podem ser realizadas dependendo de estudos epidemiológicos (OLIVEIRA, 2022).

A vacinação contra a hepatite A em crianças é altamente eficaz na prevenção da doença, sendo particularmente importante em áreas onde a hepatite A é endêmica ou em situações de surtos. Para adultos, a vacina também é recomendada em certas situações, como para pessoas que viajam para áreas de alto risco ou que têm maior probabilidade de contrair a doença. A administração da vacina em adultos pode ser feita em duas doses, com a segunda dose aplicada de 6 a 12 meses após a primeira (QUEIROZ, 2020).

Os pacientes diagnosticados com hepatite A podem receber apoio emocional da equipe, especialmente se estiverem preocupados com a doença e seu tratamento é principalmente de suporte e visa aliviar os sintomas, o que inclui repouso, hidratação adequada e evitar o consumo de álcool. Em casos mais graves, hospitalização pode ser necessária, mas a maioria dos pacientes se recupera completamente (OKANO, 2022).

Atuação das equipes da atenção secundária e terciária

As equipes especializadas da atenção secundária e terciária desempenham um papel complementar e crucial no cuidado das hepatites virais, trabalhando em conjunto com a atenção primária para garantir uma abordagem abrangente e integrada. A atenção secundária, geralmente representada por especialistas em gastroenterologia ou infectologia, assume o papel de fornecer diagnóstico mais detalhado, tratamento especializado e acompanhamento de pacientes com hepatites crônicas. Além disso, essas equipes são responsáveis por realizar procedimentos avançados, como biópsias hepáticas, quando necessário (SOUZA JUNIOR, 2019; BUELVAS, 2019).

A equipe da atenção terciária, com hospitais de referência e centros de transplante hepático, desempenha um papel fundamental no tratamento avançado de pacientes com complicações graves, como cirrose hepática descompensada ou hepatocarcinoma. Essas equipes têm a capacidade de realizar transplantes de fígado em casos críticos (CALLADO, 2021). O diálogo entre a atenção primária e as equipes especializadas é essencial para garantir uma abordagem contínua do cuidado. Isso inclui a referência de pacientes da atenção primária para a atenção secundária e terciária quando necessário, bem como a comunicação e compartilhamento de informações sobre o histórico médico e o tratamento do paciente. Essa colaboração garante que os pacientes recebam o tratamento adequado, desde o diagnóstico inicial até o cuidado especializado, sempre com o objetivo de proporcionar a melhor qualidade de vida e prevenir complicações hepáticas graves (DA SILVA, 2020).

Nos exames laboratoriais, a presença da infecção pelo vírus da hepatite A (HAV) se reflete através de um aumento significativo nos níveis de bilirrubina total, com uma predominância da fração direta da bilirrubina e elevação da fosfatase alcalina. Além disso, é observada uma prolongação do tempo de protrombina. Quando ocorrem níveis elevados de bilirrubina sem evidência de destruição de glóbulos vermelhos, isso pode indicar a presença de hepatite grave, aumentando o risco de possível falência hepática aguda (TIRELLI, 2020).

A prevenção da hepatite A

No Brasil e em outras nações em desenvolvimento, a prevalência da infecção causada pelo vírus da hepatite A (HAV) tem diminuído devido ao processo de urbanização e à melhoria das condições de saneamento nas áreas urbanas, a partir do final do século passado. A adoção de programas de vacinação em grande escala contra o HAV em diversos países, como Argentina, Bélgica, China, Grécia, Israel, Panamá, Estados Unidos e Uruguai, têm contribuído de forma significativa para a redução dos índices da doença (MARTINS, 2021).

A vacina contra a hepatite A ainda é a melhor forma de prevenção, especialmente para pessoas em grupos de risco, viajantes para áreas endêmicas e profissionais de saúde. Lavar as mãos regularmente com água e sabão, especialmente antes de manipular alimentos, é uma medida importante, além disso, evitar a ingestão de água não tratada e alimentos crus ou mal cozidos em áreas de alto risco de contaminação (ALBAN, 2021).

Conclusão

A hepatite A é uma doença evitável, e a equipe da atenção primária desempenha um papel vital no rastreamento e diagnóstico das hepatites virais. Isso inclui a realização de testes de rotina em pacientes de grupos de risco, aconselhamento sobre práticas de prevenção, encaminhamento de pacientes com resultados positivos para tratamento especializado e o monitoramento da saúde hepática. A atenção primária também desempenha um papel crucial na educação dos pacientes sobre a importância do diagnóstico precoce e na adesão ao tratamento, garantindo que as pessoas vivendo com hepatites recebam cuidados de qualidade.

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