O INCONSCIENTE EM CENA (ENCENA): UM ESTUDO SOBRE ARTE E PSICANÁLISE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10118328


Patricia Santos1
Luíza Bernardini Ferrari2


RESUMO

Esse estudo teve como objetivo elucidar sobre a complexa relação entre arte e psicanálise, buscando explorar os fundamentos dos processos inconscientes, traçando novas articulações entre esses dois saberes. Realizou-se uma revisão de literatura narrativa para analisar o estado atual do conhecimento sobre o objetivo do estudo. A busca foi conduzida em bases de dados científicos, utilizando palavras-chave relacionadas à interação entre arte e psicanálise, como “arte”, “psicanálise”, “inconsciente” e “criação artística”. A análise dos materiais selecionados foi realizada por meio de leitura crítica e síntese dos principais conceitos e perspectivas. Os resultados obtidos destacam o diálogo entre a expressão artística e o fazer psicanalítico. Examinou-se a expressão do inconsciente através da arte; em seguida, discutiu-se a sublimação na arte, como um dos destinos da pulsão; e, por fim, explorou-se as aproximações entre a criação artística e a análise psicanalítica. Conclui-se que a arte, aos analistas, irradia com seu dizer, presenteando com a oportunidade de uma escuta singular, acolhendo o enigma da linguagem, e assim, brindando ao sujeito a chance de se expressar.

Palavras-chave: Arte; Psicanálise; Inconsciente; Criação artística

ABSTRACT

This study aimed to clarify the complex relationship between art and psychoanalysis, seeking to explore the foundations of the unconscious processes, drawing new articulations between these two knowledge. A review of narrative literature was carried out to analyse the current state of knowledge about the purpose of the study. The search was carried out in scientific databases, using keywords related to the interaction between art and psychoanalysis, such as “art”, “psychanalysis”, “unconscious”, “artistic creation”. The analysis of the selected materials was carried out through critical reading and synthesis of the main concepts and perspectives. The results obtained highlight the dialogue between artistic expression and creative doing. It examined the expression of the unconscious through art; then it discussed sublimation in art, as one of the destinies of pulse; and, finally, it explored the approximations between artistic creation and psychoanalytic analysis. It is concluded that art, to analysts, radiates with its say, presenting with the opportunity of a singular listening, welcoming the riddle of language, and thus, giving the subject the chance to express itself.

Keywords: Art; Psychoanalysis; Unconscious; Artistic creation

1 INTRODUÇÃO 

A introdução da psicanálise na história da psicologia, por meio da contribuição de Sigmund Freud, representa um marco de extrema relevância no cenário contemporâneo atual. A revolução intelectual instigada por Freud redefiniu profundamente a compreensão da mente humana, introduzindo o conceito fundamental do inconsciente, instância previamente desconhecida do aparelho psíquico. “Em uma análise, tanto o analista, em sua escuta, quanto o analisando, em sua fala, são surpreendidos com a revelação da verdade inerente ao saber inconsciente” (Jorge & Ferreira, 2002, p. 13). Na prática analítica, através da associação livre, busca-se tornar acessível o desejo inconsciente que, retorna disfarçado para a consciência através de sonhos, esquecimentos, atos falhos e sintomas (Jorge & Ferreira, 2002).

Nesse contexto, o presente artigo concentra-se na influência da Psicanálise de Sigmund Freud e sua relação com a arte e a criatividade artística, debruçando-se sobre os conceitos de inconsciente e sublimação. Este estudo busca explorar as interações fascinantes entre a teoria psicanalítica e a manifestação artística. Observando esses conceitos, torna-se evidente a individualidade do artista ao criar sua obra, de forma única, transmitindo suas impressões de vida e sua subjetividade. Entretanto, há uma divergência entre a intenção e a expressão artística, delineando assim um campo propício para o interesse pela psicanálise (Rodrigues & Castelo, 2023). Analisando esse tema, a obra de Duchamp (1965, p. 73) descreve a transmissão do subjetivo pela arte e o que ela traz consigo: “No ato criador, o artista passa da intenção à realização, através de uma cadeia de reações totalmente subjetivas.” “[…] esforços, sofrimentos, satisfações, recusas, decisões que também não podem e não devem ser totalmente conscientes, pelo menos no plano estético”.

Tal como mencionado por Freud em sua obra “Gradiva de Jensen e outros trabalhos”, (1907 [1906] /1976, p. 20):

E os escritores criativos são aliados muito valiosos, cujo testemunho deve ser levado em alta conta, pois costumam conhecer toda uma vasta gama de coisas entre o céu e a terra com as quais a nossa filosofia ainda não nos deixou sonhar. Estão bem adiante de nós, gente comum, no conhecimento da mente, já que se nutrem em fontes que ainda não tornamos acessíveis à ciência.

No âmbito desta pesquisa, surge uma pergunta fundamental: de que maneira arte e psicanálise se entrelaçam e auxiliam na compreensão dos processos inconscientes? A fim de responder essa pergunta, foram delineados objetivos específicos que englobam desde a análise da arte enquanto manifestação do inconsciente até a exploração do conceito de sublimação, tal como delineado na obra de Freud. Adicionalmente, a pesquisa se estende à investigação das afinidades entre as criações artísticas e o movimento de invenção atravessado pelo paciente na análise psicanalítica.

Em síntese, este estudo busca elucidar sobre a relação entre arte e psicanálise, explorando como a busca pela compreensão dos processos inconscientes pode ser enriquecida por meio dessa interação. Espera-se que as indagações entre as duas vertentes contribuam para um diálogo mais abrangente de forma que colaborem para o próprio fazer psicanalítico. Para isso, o desenvolvimento do trabalho está dividido da seguinte forma: inicialmente, examinou-se a expressão do inconsciente através da arte; em seguida,  discutiu-se a sublimação na arte, um dos destinos da pulsão; e, por fim, explorou-se as aproximações entre a criação artística e a análise psicanalítica.

2 METODOLOGIA

     No desenvolvimento deste trabalho, visou-se a compreensão da complexa relação entre arte e psicanálise, tendo os estudos da psicanálise como referencial teórico básico. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica narrativa, que busca uma apreensão particular do objeto de estudo, sem se preocupar com generalizações, princípios e leis (Ferrari, 2015). Foi realizada uma análise ampla da literatura existente, sem seguir uma estrutura rigorosa e replicável em termos de coleta de dados e obtenção de respostas quantitativas para questões específicas (Vosgerau & Romanowski, 2014). A metodologia escolhida envolve uma investigação aprofundada da bibliografia disponível, com o propósito de identificar insights e perspectivas abrangentes acerca da interação entre arte e psicanálise.

A escolha dessa metodologia é justificada pela inviabilidade de mensurar o objeto de estudo da Psicanálise por meio de estatísticas ou escalas quantificáveis. Para Herrmann et al. (2004), essa ferramenta não se adequa ao objeto quando são utilizados métodos quantitativos na análise da psique, sendo comparada ao uso de luvas de boxe na tentativa de compreender o funcionamento de um relógio. Preservando o caráter heurístico na construção do conhecimento, as análises realizadas por meio do método psicanalítico levam em consideração a implicação da subjetividade do analista, que se torna parte da análise e do processo de descoberta de conteúdos inconscientes incorporados na obra e que ressoam no inconsciente do analista.

Na seleção dos artigos e livros utilizados na discussão, foram adotados os seguintes critérios de inclusão: o conteúdo dos objetivos da pesquisa, a atualidade das publicações, e a qualidade das fontes acadêmicas. A busca foi realizada em bases de dados científicos, tais como Scielo, PubMed, Scopus e Google Scholar, utilizando palavras-chave relacionadas à interação entre arte e psicanálise, como “arte”, “psicanálise”, “inconsciente”, “criação artística”. Além disso, foram exploradas referências bibliográficas de artigos e livros clássicos e relevantes encontrados, a fim de identificar possíveis obras complementares.

A análise dos materiais selecionados foi realizada por meio de leitura crítica e síntese dos principais conceitos e perspectivas apresentados, gerando suporte para criação de escritos e citações sobre as teorias e fundamentações necessárias para interpretação e construção do referencial teórico. Este procedimento possibilita ao pesquisador, fundamentado na teoria psicanalítica, revelar uma das verdades presentes na cultura, embora não as esgote como verdades universais e indiscutíveis (Kobori, 2013).

3 Resultados e Discussão

3.1 A expressão do inconsciente através da arte

Nos séculos anteriores à atualidade, despertou grande interesse entre estudiosos do meio científico e integrantes do meio artístico a relação entre elaboração artística e expressão do mundo subjetivo. Nesse mesmo período, iniciaram-se os primeiros estudos sobre o tema. Essa interação tem sido amplamente explorada na atualidade, mas permanece como um tópico em constante transformação, podendo ser considerada uma forma de expressão dos conteúdos psíquicos do artista, que transmite significados através de uma linguagem própria. Alguns críticos acusam a psicanálise de ser pretensiosa ao tentar interpretar a arte, enquanto outros acreditam que ela pode enriquecer a compreensão das origens e dos mistérios do processo criativo (Biazus & Cezne, 2010; Vasconcellos & Giglio, 2007).

Jorge (2022, p.106) argumenta que o processo de análise não é uma relação dual de conexão entre analista e analisando ao contrário, é ternária, contando com a participação de outro personagem: o inconsciente.

[…] Ao elaborar a distinção entre código e mensagem no seminário as formações do inconsciente, Lacan constrói uma teoria capaz de mostrar que o analista escapa do código comum para ouvir a mensagem singular do discurso do sujeito. E nisso o analista com seu ato se aproxima do ato poético, pois se o código é o depósito de uma linguagem que visa a comunicação, a mensagem revela que esse mesmo código pode funcionar como caixa de ressonância de significações inesperadas, surpreendentes e absolutamente singulares.

Em sua obra “O poeta e o fantasiar”, Freud traz a discussão “de onde o poeta (Dichter) […] extrai seus temas” (Freud, (1908)/2015). Dessa forma, existe um olhar direcionado para diferentes ângulos da criação poética, que não busca diferenças e particularidades no criador, mas tenta encontrar na vida cotidiana o mecanismo criativo. Trechos como “toda criança brincando se comporta como um poeta, na medida em que ela cria seu próprio mundo, melhor dizendo, transpõe as coisas do seu mundo para uma nova ordem, que lhe agrada” (Freud, [1908]/2015,p.275), revelam uma conexão entre a criação do poeta com a brincadeira infantil, sendo assim, quando a expressão artística se externaliza, surge grande mobilização de afeto e ganho de prazer, no sentido de uma diminuição da tensão no aparelho psíquico.

Freud (1908/2015), também revela a relação entre a brincadeira infantil e a fantasia, elucidando que durante o processo de crescimento, a criança deixa de brincar e começa a utilizar a fantasia como uma forma de buscar prazer e realizar desejos insatisfeitos, que anteriormente eram atendidos pela brincadeira. Contudo, é necessário enfatizar que o aparelho psíquico não pode simplesmente renunciar à atividade de brincar, uma vez que seria necessário abandonar uma satisfação já experimentada. Portanto, o termo que melhor se encaixaria é o de “substituição”, pois um outro prazer precisa entrar no lugar da brincadeira para que a renúncia se torne suportável. Sendo assim, quando alguém que está crescendo deixa de brincar, nada mais faz a não ser esse empréstimo aos objetos reais; em vez de brincar, agora fantasia.

Em seu texto “Além do princípio do prazer” (Freud,1920/1996 citado por Thones & Rosa Jr, 2012), aponta que através da brincadeira é possível vivenciar experiências boas e ruins, a fim de gerenciar traumas. Através da brincadeira a criança pode reviver o fato ocorrido, mas agora  obtendo um papel de protagonista da sua história, como sendo uma forma de elaborar os traumas vivenciados (Freud,1920/1996 citado por Thones & Rosa Jr, 2012).

Nesse mesmo texto, Freud apresenta a brincadeira conhecida como fort-da, no qual ele observava seu neto brincar com o carretel, simbolizando a presença da mãe quando aproxima e a ausência quando afasta o carretel. Freud, utiliza essa repetição causada pela brincadeira para explicar posteriormente sobre a compulsão à repetição, através do ato de brincar é que a criança pode criar um significante direcionando a fantasia pulsional para outros destinos, com o desejo inconsciente de suprir a falta deixada pela mãe. O ato de brincar torna possível a realização de traumas vivenciados de forma passiva, se refere ao papel ativo do sujeito para criar sua própria fantasia (Freud,1920/1996 citado por Thones & Rosa Jr, 2012).

3.2 Sublimação na arte: um dos destinos da pulsão

No ano de 1915, Freud expôs suas teorias sistematizadas sobre as pulsões em sua obra “As pulsões e seus destinos” (Freud, (1915)/2013). Emblematicamente determinando a pulsão como “um conceito de fronteira entre o psíquico e o somático” (p.19). Sob tal aspecto, entende-se que o termo “fronteira” não determina indefinição, mas representa o cruzamento do estímulo que se origina no somático e se dirige para o aparelho psíquico.

Por pressão de uma pulsão, entende-se seu fator motor, a soma de força ou a medida de exigência de trabalho que ela representa. […] A meta de uma pulsão é sempre a satisfação, que só pode ser alcançada pela suspensão do estado de estimulação junto à fonte pulsional. […] O objeto de uma pulsão é aquele junto ao qual, ou através do qual, a pulsão pode alcançar sua meta. É o que há de mais variável na pulsão, não estando originariamente a ela vinculado, sendo apenas a ela atribuída por sua capacidade de tornar possível a satisfação. […] Por fonte da pulsão entende-se o processo somático em um órgão ou parte do corpo, cujo estímulo é representado na vida anímica pela pulsão. Não se sabe se esse processo é regularmente de natureza química ou se também pode corresponder à liberação de outras forças, por exemplo, mecânicas (Freud, 1915/2013, p. 32 – 33).

Existem quatro termos utilizados na caracterização do primeiro conceito de pulsão, são eles: fonte (Quelle), pressão (Drang), alvo (Ziel) e objeto (Objekt). O primeiro deles é a fonte da pulsão, ou seja, é o processo somático que dá origem. A pressão (Drang) seria o fator motor, ou seja, aquilo que impele. Depois disso, pode ser observado o alvo (também traduzido como finalidade, fim, objetivo ou meta), que é definido como a suspensão da estimulação na fonte e pode ser considerado como uma satisfação da pulsão (“Triebbefriedigung”), ainda que parcial. Em um último aspecto, o objeto da pulsão é “aquilo junto a que, ou através de que, a pulsão pode atingir seu alvo” (Freud, 1915/1982, p. 86 citado por Gomes, 2001), contudo, esse conceito de objeto é variável, e originalmente não estava ligado à pulsão. O objeto “é coordenado à pulsão em consequência de sua aptidão a tornar possível a satisfação” (Freud, 1915/1982, p. 86 citado por Gomes, 2001).

A ideia de impulsionar um movimento em busca de um estado de satisfação, remete ao pensamento de que um estado anterior de prazer, ou seja, um novo (im)pulso deve superar a satisfação ou pelo menos chegar a um estado semelhante ao anterior, proporcionando um equilíbrio tensional ao organismo e reduzindo o nível de energia excitatória. Ademais, Freud ([1915]/2013) determina quatro direcionamentos para os destinos da pulsão, que são eles: (1). Reversão ao seu oposto, que se divide em duas operações: mudança da atividade para a passividade e reversão de seu conteúdo; (2). Retorno ao próprio eu; (3). Recalque; e por fim a (4) Sublimação. Assim, a determinação desses conceitos se entrelaça com a atualidade, uma vez que a estruturação social acaba reprimindo diferentes formas de pulsões, que por consequência leva ao surgimento de sofrimentos psíquicos (Gomes, 2001).

No entanto, alguns argumentam que a sublimação por meio da arte oferece uma saída para a expressão dos desejos de uma maneira socialmente aceitável, ao mesmo tempo em que proporciona satisfação. A obra de arte tem o poder de influenciar os sentimentos, criando a sensação de algo real por meio da ilusão artística, oferecendo um espaço de cura ao transformar pulsões de morte em pulsões de vida, aliviando o sofrimento e tornando a vida do indivíduo viável (Silva, Viana & Souza, 2022; Figueiredo, Feitoza & Carvalho, 2012). A compreensão de Freud evidencia que por meio da arte, as energias sublimadas passam a ser direcionadas a propósitos que são valorizados na cultura, permitindo a possibilidade de alcançar uma satisfação que interage parcialmente com o ideal, obtendo assim, um prazer sustentado numa fantasia em que não houve a perda do objeto que havia sido idealizado (Mijolla-Mellor, 2010). Sendo assim, fica evidente a existência da efetividade no processo de produção artística como forma de sublimação, como demonstrado em Cruxên, 2004, p. 19:

Tal processo precisa atender às exigências de ideais que são referências a partir das quais o eu se avalia. Esses ideais compõem o ideal do eu. […]Na sublimação, o ideal do eu incita, inspira, sem deixar traços de agentes coercitivos como a censura moral ou outros inibidores.

Inicialmente, a sublimação foi proposta por Freud em “Os Três ensaios sobre a Sexualidade” (2016), como termo associado a construções fantasiosas e como defesa em relação à sexualidade, trazendo à tona a marca da dessexualização, algo fundamental na primeira fase da teoria freudiana para as realizações culturais e a normalidade individual. Portanto, a sublimação desvendava como o psíquico manejava o equilíbrio libidinal do organismo, transformando o impulso com ideal sexual em algo não sexual, que apresentava retorno social significativo ao impulso inicial. Seguindo essa concepção, Cruxên (2004, p.15) discorre que “A energia é única e sexual. A sublimação troca um fim sexual por outro ideal e social. Ela sofre uma incidência moral que legisla sobre o desejo”.

O trabalho de Jorge (2000) faz algumas referências a Freud sobre sublimação:

A sublimação é um desvio do sexual para o não-sexual – elemento que, por si só, remete à própria concepção freudiana da sexualidade. Ela é também um desvio da perversão para o social. O termo desvio surge frequentemente em Freud para falar da sublimação, e isto em idêntica proporção com que o termo afastar aparece para falar do recalque: “A essência do recalque consiste simplesmente em afastar determinada coisa da consciência, mantendo-a à distância”. O afastar está para o recalque assim como o desvio está para a sublimação: afastar-se de algo implica mantê-lo no próprio horizonte como referência, ao passo que desviar-se implica ir mais além […] A sublimação tem seu protótipo na formação reativa do período de latência (Jorge, 2000, p. 151).

A sublimação é concebida como um redirecionamento das pulsões sexuais, permitindo que essas energias sejam canalizadas para atividades não sexuais, como a investigação intelectual, atividades esportivas ou artísticas. Freud enfatiza que as atividades artísticas e intelectuais, assim como a própria ideia de civilização, são profundamente influenciadas pelo processo de sublimação, que encontra na intensidade da pulsão sexual sua principal força motriz. Destaca a importância da sublimação ao reconhecer que aquilo que é reprimido pelo artista emerge em sua obra, criando um efeito enigmático e impactante no observador. É relevante notar que, na maioria das vezes, Freud utilizava artistas e suas criações como exemplo para fundamentar o conceito, estabelecendo uma ligação íntima entre sublimação e artistas (Jorge, 2010).

Essa visão sobre a sublimação como um redirecionamento das energias pulsionais encontra ressonância na perspectiva de Pastore (2009), que a observa como uma maneira de direcionar os desejos em prol das realizações sociais e civilizacionais. Isso envolve a renúncia às perversões em sua forma mais primitiva, permitindo que sejam experimentadas por meio da expressão artística e do processo criativo. Essa abordagem não se limita apenas à revelação do que estava oculto, mas também ao ressurgimento de um sofrimento anteriormente reprimido.

Metzger (2015) acrescenta uma camada adicional à discussão sobre a sublimação como a transformação da finalidade e do objeto da pulsão em direção a objetos não sexuais, destacando as diferentes definições de sublimação encontradas nos escritos de Freud ao longo do tempo. Isso demonstra como a sublimação é uma ideia em constante evolução na teoria psicanalítica, moldando nossa compreensão das dinâmicas psicológicas e da criação artística. Coincidindo com o estudo realizado por Werneck (2022) que afirma que a sublimação encontra na criação artística um destino para a energia pulsional sexual.

A obra “Uma Lembrança da Infância de Leonardo da Vinci” (1910 /2015), contempla um dos principais exemplos de Freud em suas explicações sobre a sublimação, ao analisar a infância de Leonardo. O artista teve uma infância moldada por aspectos conturbados, marcada inicialmente pela ausência do pai e, após os 5 anos, a ausência da mãe biológica, quando Leonardo passou a viver com o pai e a madrasta. Diante dessa narrativa, Freud apresenta sua teoria sobre as possíveis influências desses acontecimentos na vida de Da Vinci, tanto em seu aperfeiçoamento como artista e intelectual consagrado, quanto nas falhas do passado que interferiam na sua vida adulta, sendo demonstrada dificuldade de concluir suas obras. Em conclusão, o trabalho de Leonardo permitiu que ele saísse de uma posição subjugada na fantasia e fosse capaz de recriar seu desejo através da obra, obtendo uma modificação subjetiva aliada à pulsão de vida. (Cruxên, 2004, p.10)

O pensamento de Freud sobre a sublimação não foi concluído, sendo considerado um dos temas mais complexos na psicanálise. Sabe-se que Freud tinha a intenção de escrever sete artigos metapsicológicos, nos quais um deles abordaria a temática da sublimação, mas isso não chegou a acontecer ou se perdeu. Contudo, alguns de seus seguidores de maior referência, como Melanie Klein e Jacques Lacan, contribuíram significativamente para o desenvolvimento desse conceito (Jorge, 2000, p. 154). A sublimação nunca deixou de ser um tema de interesse dos estudiosos da psicanálise, principalmente por ser um dos conceitos cruciais da teoria freudiana que permaneceu em aberto, sendo aperfeiçoado pelos seus seguidores. A arte, por estar em constante movimento, acompanha de certa forma esse desenrolar de descobertas e estudos, desde o momento em que Freud pela primeira vez uniu esses dois elementos na mesma frase.

3.3 Aproximações entre a criação artística e a análise psicanalítica

A conexão entre a arte e a psicanálise abre um leque de implicações que convida a perceber que ambas abordam algo que muitas vezes escapa a uma primeira observação. Tal como a psicanálise se ocupa do que se revela de forma sutil através de lapsos e atos falhos, a arte, em suas diversas manifestações, frequentemente exige uma sensibilidade aguçada para ser apreendida. Ambos os campos de estudo orbitam em torno do sujeito desejante, seja sob uma perspectiva clínica, seja a partir do próprio desejo que impulsiona o ato criativo (Autuori & Rinaldi, 2014).

A clínica psicanalítica e a atividade artística possuem uma afinidade entre elas que devem ser preservadas; ambas se entrelaçam no decorrer da vida, elaborando, (re)formulando, dando novos sentidos para os desequilíbrios da realidade, de forma autêntica, tecendo novas costuras a partir do próprio vazio.  É nesse ato de construir e tecer novos destinos que a Psicanálise é encontrada, não se limitando a descobrir o que existe no fundo do iceberg, mas sim, explorando os novos sentidos que podem ser criados e ressignificados. Tão intensamente no processo de análise quanto na arte, o processo de criação se dá a partir do vazio, da angústia e até mesmo dos desejos, e a partir daí, nasce a possibilidade de um novo caminho ser desenhado, ampliando novas possibilidades. Partindo disso, entende-se que no processo de análise não iremos tornar consciente tudo aquilo que está no inconsciente, porém através da associação livre, da fala propriamente dita torna-se possível criar novos mapas psíquicos da subjetividade humana. (Kon, 2014, p.180)

O vínculo relacionado entre a psicanálise e as artes se estabelece devido à proximidade que ambas possuem com o inconsciente, o elemento central na prática psicanalítica. Ademais, existe algo no caráter poético que instiga a psicanálise a produzir diferentes trabalhos na tentativa de compreender esse processo. Em suas observações, Freud (1976 citado em Biazus & Cezne, 2009) evidenciou a igualdade da fonte e do objeto de trabalho do psicanalista e do artista, apesar de cada um empregar o seu próprio método. Portanto, é compreensível que a teoria psicanalítica forneça insights sobre o processo de criação e suas complexidades. No entanto, em nenhum momento se estabelece um conhecimento imutável, uma vez que tanto a criação quanto a psicanálise estão sujeitas a reformulações e rupturas (Biazus & Cezne, 2009).

A criatividade está profundamente entrelaçada com a essência da existência e serve como um indicador da vitalidade do sujeito. Isso nos leva a distinguir a criatividade da criação artística, sublinhando que a última é uma consequência direta da primeira (Winnicott, 1971 citado em Biazus & Cezne, 2010). A criação envolve a dinâmica entre a pulsão de vida e a pulsão de morte, conforme estabelecido nas ideias freudianas. Seguindo essas ideias, a subjetividade se desenvolve a partir do embate entre essas duas pulsões, onde a pulsão de morte ameaça suprimir o elemento simbólico e subjetivo, enquanto a pulsão de vida age para reconstituir e preservar novas formas organizadas e não destrutivas. É desse constante dualismo no âmago do indivíduo que a criatividade floresce, abrindo caminho para que o sujeito explore diversas maneiras de ser e existir (Biazus & Cezne, 2009).

É de amplo conhecimento que a criação artística promove novas perspectivas a indivíduos que sejam acometidos por sofrimento mental, trazendo o sentido do ato criador, do fazer psicanalítico. Entretanto, o tratamento psicanalítico não se encaixaria totalmente nesse conceito, uma vez que, é exigido do psicanalista uma postura ativa, seja por meio das pontuações, das interpretações e do silêncio, mesmo levando em consideração que os modelos de psicanálise possuem objetivos distintos, com o de favorecer a catarse; traduzir o inconsciente para o consciente; na psicanálise das resistências ou ainda no colocar-se do analista como objeto das pulsões. Portanto, a arte pode de fato favorecer aqueles que apresentam interesse por ela, mas ao dar ênfase no tratamento psicanalítico, é necessário que os dois sujeitos sejam ativos no processo (Jorge, 2017).

Kon, em sua obra: “Freud e seu Duplo” (2014), deixou explícito que é impossível para o psicanalista apoiar-se nesse papel rígido para encaixar-se na regra da abordagem com intuito de interpretar o sujeito, aplicando a mesma teoria para todos os seres humanos. A criação artística possibilita experimentar através do imaginário; os psicanalistas se desprendem do papel engessado, direcionando as pulsões para as vias do ato criador. O autor aponta “ somos agora psicanalistas, que, sem nos confundirmos com o artista – pois nossa obra é outra –, podemos assumir de modo direto um parentesco com ele, podendo, assim, fazer de nossa atividade um ato criador (Kon, 2014, p.184).

4. Considerações Finais

A constituição das teorias de Freud nitidamente foi marcada pelos efeitos da arte, estando a criação artística presente em todo o percurso freudiano na construção da disciplina em que foi pioneiro. Mesmo não sendo possível esgotar completamente a temática da criação artística, seu legado foi fundamental para a questão do inconsciente. Acerca das tentativas freudianas de abordar a arte, Autuori & Rinaldi (2014, p. 318) concluem: “a arte não se deixa abocanhar por qualquer explicação, por isso mesmo nem uma das formas de descrevê-la, nem todas juntas, são definitivas”.

A arte entra no rol de técnicas e recurso para o tratamento psicanalítico, contudo, ela não pode ser empregada de maneira irrestrita, devido ao caráter psicanalítico de lidar com a especificidade do sujeito. Freud discorreu em sua obra “O mal-estar da Civilização”, como a ciência, religião e arte, de uma maneira geral, podem ser considerados organizadores psíquicos na tentativa de dar conta da pulsão por via da sublimação. Portanto, não é possível generalizar a prescrição para todas as pessoas como um meio de salvação, sendo necessária a especificidade da perspectiva psicanalítica em cada caso.

 (…) todo homem tem de descobrir por si mesmo de que modo específico ele pode ser salvo. Todos os tipos de diferentes fatores operarão a fim de dirigir sua escolha. É uma questão de quanta satisfação real ele pode esperar obter do mundo externo, de até onde é levado para tornar-se independente dele, e, finalmente, de quanta força sente à sua disposição para alterar o mundo, a fim de adaptá-lo a seus desejos. Nisso, sua constituição psíquica desempenhará papel decisivo, independentemente das circunstâncias externas. O homem predominantemente erótico dará preferência aos seus relacionamentos emocionais com outras pessoas; o narcisista que tende a ser auto-suficiente, buscará suas satisfações principais em seus processos mentais internos; o homem de ação nunca abandonará o mundo externo, onde pode testar sua força. Quanto ao segundo desses tipos, a natureza de seus talentos e a parcela de sublimação instintiva a ele aberta decidirão onde localizará os seus interesses. Qualquer escolha levada a um extremo condena o indivíduo a ser exposto a perigos, que surgem caso uma técnica de viver, escolhida como exclusiva, se mostre inadequada (Freud, 1930/2010, p. 148).

Os psicanalistas podem se servir da arte para cultivar um olhar e uma escuta sensíveis às sutilezas dos modos de subjetivação presentes na clínica. O artigo buscou apresentar que a arte pode ser tomada como expressão do inconsciente e despertar a associação livre do espectador, bem como promover o discurso particular, vindo do real, do sujeito-autor. O artista, como na análise, endereça suas palavras, escolhendo significantes de sua história particular. A arte, aos analistas, irradia com seu dizer, presenteando com a oportunidade de uma escuta singular, acolhendo o enigma da linguagem, e assim, brindando ao sujeito a chance de se expressar.

REFERÊNCIAS

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1 Acadêmica do 8° Período do curso de Psicologia do Centro Universitário – UNIVEL. E-mail: ppatriciasantos1991@gmail.com
2 Especialista, docente orientadora do curso de Psicologia do Centro Universitário – UNIVEL. E-mail:luiza.ferrari@univel.br